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Panorama da influenza A pandêmica H1N1 em suínos: situação atual e avaliação dos riscos

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Panorama da influenza A pandêmica H1N1 em suínos: situação atual

e avaliação dos riscos

Panorama of pandemic influenza A H1N1 in swine: current situation

and risk assessment

Luís Gustavo Corbellini¹, Fernanda Marks¹,² & Bernardo Todeschini¹,³

I. INFLUENZA A

1.1 Influenza Suína

II. VÍRUS DA INFLUENZA A PANDÊMICO H1N1 (2009)

2.1 Influenza A pandêmico H1N1 (2009) em suínos

III. AVALIAÇÃO DOS RISCOS DA INFECÇÃO POR INFLUENZA A PANDÊMICO H1N1

EM SUÍNOS NO SUL DO BRASIL

3.1 Probabilidade da ocorrência da doença através da transmissão do homem ao suíno 3.2 Avaliação das consequências da ocorrência da doença na população suína

IV. CONCLUSÃO

V. REFERÊNCIAS

RESUMO

A influenza é uma doença infecto-contagiosa causada por um vírus RNA envelopado da família Orthomyxoviridae, gênero Influenzavirus, sendo classificado em três tipos, A, B e C. Influenza A é o único tipo de vírus identificado em aves e mamíferos e apresenta diversas variantes. Uma característica da epidemiologia do vírus influenza A é a transmissão entre as espécies. Uma pandemia em humanos causada por um novo subtipo de influenza A, influenza A H1N1 (2009) pandêmico (p) pH1N1, iniciou no primeiro trimestre de 2009, com infecções humanas em aproximadamente 213 países e causando pelo menos 16.226 mortes. No período de abril de 2009 a fevereiro de 2010 foram registrados junto a OIE 37 focos de influenza pH1N1 em suínos em 20 países, dos quais nove relataram indício da transmissão homem-suíno. O objetivo deste trabalho foi o de realizar uma análise de risco qualitativa da probabilidade de introdução do pH1N1 em granjas de suínos no sul do Brasil pela transmissão homem-suíno e qual seria a magnitude das consequências de tal introdução. A avaliação do risco de introdução utilizou escala nominal de seis níveis preconizada pela OIE, cujos estágios são denominados: insignificante, muito baixa,

1 Laboratório de Epidemiologia (EPILAB VET), Faculdade de Veterinária da UFRGS. Porto Alegre, RS, Brasil. 2 Laboratório de Virologia, Faculdade de Veterinária da UFRGS. Porto Alegre, RS.

3 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Serviço de Sanidade Agropecuária da Superintendência Federal de Agricultura no

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baixa, fraca, moderada e alta. A magnitude das consequências utilizou escala nominal de seis níveis com os seguintes estágios: insignificante, muito baixa, baixa, moderada, alta e extrema. O risco da introdução do vírus na população suína no sul do Brasil através do homem foi avaliado como alto em virtude do elevado número de casos em humanos e da alta densidade de granjas nesta região que, por sua vez, aumenta a interação homem-animal. As consequências biológicas foram avaliadas como moderadas, em função das probabilidades de tal introdução ocorrer e causar alta mobilidade e de se tornar endêmica na população suína; a magnitude das consequências para a saúde pública foi considerada de moderada a alta, em função da endemia do pH1N1 em suínos resultar num aumento da probabilidade de surgimento de um novo rearranjo do vírus. As consequências econômicas foram avaliadas como baixa a moderada, considerando a probabilidade de redução de consumo de produtos de origem suína e do baixo risco de transmissão associado aos mesmos e das recomendações internacionais para a não imposição de barreiras ao comercio com países nos quais existe notificação de focos. É importante que as autoridades ligadas à saúde animal e humana e os setores produtivos relacionados desenvolvam uma estratégia coordenada de comunicação dos riscos de um resultado positivo nos suínos, direcionando esforços para manter um nível apropriado de sensibilização sobre a infecção aos envolvidos na cadeia e de esclarecimento para o público em geral quanto aos reais riscos associados.

Descritores: Análise de Risco, Influenza A, Influenza Pandêmica H1N1, Suínos.

ABSTRACT

Influenza is a contagious disease caused by a virus RNA enveloped belonged to the family Orthomyxoviridae, genus Influenzavirus, being classified in three types, A, B and C. Influenza A is the only type of viruses identified in birds and mammals and presents several variants. An epidemiologic characteristic of the virus Influenza is the transmission among the species. A pandemic in humans caused by a new Influenza subtype A, Influenza H1N1 (2009) pandemic (p) pH1N1, began in the first quarter of 2009, causing human infections in around 213 countries and at least 16.226 deaths. From April 2009 to February 2010, 37 focuses of Influenza pH1N1 in swine from 20 countries were registered in OIE, of which nine had evidence of human-swine transmission. The objectives of this study were to evaluate the risk of introduction of the pH1N1 in swine farms in the south of Brazil through the transmission from human to swine and its consequences. A qualitative scale of probability recommended by OIE containing six levels denominated insignificant, very low, low, slight, moderate and high was used to evaluate the risks; for the magnitude of consequences, terms used were: insignificant, very low, low, moderate, high and extreme. The risk of introduction of pH1N1 into the swine population in the south of Brazil through the human was considered high because of the high number of human cases and high density of farms in this area that in turn, increases the interface human-animal. The biological consequences were considered moderate, in function of the probability of such introduction happens, which would cause high morbility, and the likelihood of becoming endemic in the swine population; the magnitude of the consequences for the public health was considered moderate to high, because endemic infection of pH1N1 in swine can increase the probability of emerging a new rearranged virus. The economical consequences were considered low to moderate, taking into account the low probability of reduction in consumption of swine products and the low risk of transmission through the consumption of meat and the international recommendations of not imposing barriers to the trade in countries where pH1N1 swine outbreaks were notified. It is important that animal and human health authorities and related productive sectors develop a coordinated strategy of risk communication in case of a positive result in swine, addressing efforts to maintain an appropriate level of sensibilization about the infection to the productive chain and to elucidate about the real associated risks to the population.

Key-words: Risk Analysis, Influenza A, Pandemic H1N1, Swine.

I. INFLUENZA A

A influenza é uma doença infecto-contagiosa causada por um vírus RNA envelopado da família Orthomyxoviridae, gênero Influenzavirus. O vírus da influenza é classificado em três tipos, A, B e C. Influenza A é o único tipo de vírus identificado em aves e mamíferos e apresenta diversas variantes. Ele possui duas glicoproteínas de superfície que funcionam como determinantes antigênicos e/ou função de ligação na célula do hospedeiro, conhecidas como hemaglutinina (HA) e neuraminidase (NA). Devido à variabilidade antigênica encontrada nessas

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glicoproteínas, o vírus da Influenza A é classificado em diversos subtipos. Já foram identificados 16 subtipos de HA (H1-H16) e 9 subtipos de NA (N1-N9) do vírus influenza A em aves e mamíferos [5].

Uma característica importante da epidemiologia do vírus influenza A é a transmissão entre as espécies, que normalmente resulta em infecções transitórias caracterizadas por disseminação limitada, embora possa se estabelecer no novo hospedeiro [5,11]. O número de subtipos de influenza A que se adaptaram em mamíferos é limitado. Em equinos, apenas dois subtipos foram encontrados (H7N7 e H3N8) e em suínos os subtipos mais comumente encontrados são o H1, H3, N1 e N2. Em seres humanos, três subtipos de H e dois subtipos de N (H1-3 e N1-2) circulam desde 1918 [5].

As passagens em diferentes espécies podem resultar em rearranjos de segmentos do genoma entre classes de vírus específicos de cada espécie (“antigenic shift”), resultando num novo subtipo antigenicamente distinto. Além desta característica, a natureza fragmentada do material genético do vírus influenza induz repetidas mutações durante a replicação (“antigenic drift”), principalmente nas glicoproteínas de superfície HA e NA [4,11]. O surgimento de vírus com propriedades antigênicas distintas, em que uma determinada população não tenha imunidade, é responsável pelo surgimento de epidemias ou pandemias. Pandemias de influenza A em humanos ocorreram nos anos de 1918-1919 (gripe espanhola), 1957 e 1958 causadas pelos subtipos H1N1, H2N2 e H3N2, respectivamente [6,11]. A mais devastadora das pandemias da história ocorreu em 1918, causando a morte de mais de 40 milhões de pessoas em menos de um ano [6].

1.1 Influenza Suína

A influenza suína é uma infecção viral causada pelo vírus da influenza suína (VIS) que pode ocasionar problemas respiratórios caracterizados por tosse, espirro, descarga nasal, febre, letargia e redução do apetite. A doença é altamente contagiosa e pode acometer todos os animais de uma granja, com mortalidade geralmente baixa. O vírus replica nas células epiteliais de todo trato respiratório, principalmente na mucosa nasal, traqueia e pulmões. A infecção é transitória e o vírus é eliminado nas secreções durante no máximo 7 dias pós-infecção [11]. A transmissão ocorre através do contato com secreções contaminadas, como descarga nasal e aerossois decorrentes da tosse e espirro. A severidade da infecção está relacionada à colonização do vírus no trato respiratório inferior; infecções no trato respiratório superior resultam em doença com sinais clínicos leves ou infecção subclínica [16].

Os subtipos mais frequentemente identificados em suínos incluem o clássico e o aviário H1N1, os rearranjos (r) rH3N2 e rH1N2. Outros subtipos identificados na população suína incluem rH1N7, rH3N1 e os aviários (av) avH4N6, avH3N3 e avH9N2 [15] e o altamente patogênico avH5N1 [3]. Comparados com outros hospedeiros do vírus influenza, suínos estão mais próximos aos humanos com relação à origem das influenzas, já que os mesmos subtipos (H1N1, H3N2 e H1N2) estão circulando em suínos e humanos [11]. Apesar das influenzas circulantes em humanos e suínos terem a mesma origem, eles não são 100% genética e antigenicamente idênticos.

A doença causada pelos VIS pode ocorrer de duas formas: epidêmica ou endêmica [15]. Na forma epidêmica, que surge quando um agente infeccioso é introduzido numa população suscetível (ou seja, na ausência de anticorpos), o vírus é transmitido rapidamente para todas as fases de produção de uma unidade, sendo que os suínos se recuperam rapidamente desde que não haja complicações por infecções bacterianas secundárias. Na forma endêmica, os sinais clínicos são menos óbvios e não são todos os animais que demonstram os sinais clínicos típicos da infecção. As taxas de morbilidade podem atingir 100% dos animais suscetíveis enquanto que a mortalidade geralmente é baixa. O impacto econômico primário está relacionado ao atraso do desenvolvimento que resulta no aumento do período de alojamento.

No sul do Brasil, já foi identificado a presença de anticorpos contra os subtipos H1N1 e H3N2 em amostras de soros [1], e a presença do vírus em amostras de suabe nasal de suínos em fase de crescimento [2]. Neste último trabalho, três amostras foram consideradas positivas para influenza A através dos testes de Hemaglutinação e PCR, indicando a possível presença do vírus nos rebanhos de suínos na região.

II. VÍRUS DA INFLUENZA A PANDÊMICO H1N1 (2009)

Uma pandemia causada por um novo subtipo de influenza A, conhecido como influenza A H1N1 (2009) pandêmico (p) pH1N1, iniciou no primeiro trimestre de 2009 e até o momento da elaboração deste artigo já infectou pessoas em mais de 213 países, causando pelo menos 16.226 mortes [18]. A partir dos casos humanos confirmados

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nos Estados Unidos, estima-se que tenham ocorrido entre 1,8 – 5,7 milhões de casos naquele país entre abril e julho de 2009 [10]. No período sazonal da influenza humana no hemisfério sul (de abril a setembro de 2009), houve predominância de infecção pelo pH1N1, sendo responsável por mais de 90% dos casos em humanos na Argentina [9]. No Brasil foram confirmados de abril a novembro de 2009, 30.055 casos de Síndrome Respiratória Aguda (SRAG) associados a algum tipo de influenza, sendo que o pH1N1 foi responsável por 93% destes casos [12].

O atual vírus pH1N1 (A/California/4/2009-like H1N1) parece ter sido originado de um rearranjo genético quádruplo de seis segmentos do vírus triplo-rearranjo H1N1 circulante em suínos desde 1998 na América do Norte (que contém genes de vírus suíno H1N1 clássico, H3N2 sazonal humano e H1N1 aviário) com os genes da NA e da matriz (M) de vírus de origem aviária que circulam nos suínos desde 1979 isolados da Europa e Ásia (linhagem H1N1 suíno da Eurásia) [11]. A composição genética do pH1N1, aliada aos dados históricos, indica que os VIS são extremamente suscetíveis ao rearranjo com outros VIS bem como com os vírus da influenza aviária e humana [17]. Devido à similaridade do pH1N1 com outros VIS, a ocorrência da doença em suínos já era esperada [17], fato que se concretizou com a primeira notificação de um foco do pH1N1, ocorrido em 21 de abril de 2009, em granjas de suínos no Canadá [14] e posteriormente na Argentina [9].

2.1 Influenza A pandêmico H1N1 (2009) em suínos

Entre o período de abril de 2009 e fevereiro de 2010, 37 focos de influenza pH1N1 em suínos em 20 países foram registrados junto a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE);1 indício da transmissão homem-suíno foi

relatado em nove dos 37 focos (24%), em dois focos não havia sinal de pessoas doentes antes do surto e nos 26 restantes a fonte de infecção não havia sido descoberta ou estava sob investigação. Dos 20 países afetados, nove (incluindo países competitivos como Dinamarca e Austrália) proíbem a vacinação. Aparentemente, nenhum país tem planejado medidas específicas de controle para infecção, sendo a quarentena e restrição de movimento os procedimentos mais comumente realizados frente a um foco. Os sinais observados eram leves e constituíam-se basicamente de tosse, redução do apetite e febre e foram observados em todas as categorias (porcas, leitões na maternidade, crescimento e terminação). Em poucos dias todos os animais recuperavam-se, sendo que a mortalidade registrada foi muito baixa (apenas 3 dos 37 focos registraram mortalidade variando de 0,1% a 0,5%). A morbilidade média foi de aproximadamente 11%, podendo atingir até 90% dos animais suscetíveis. As maiores taxas de morbilidade ocorreram em uma granja de ciclo completo na Argentina (30%), uma unidade produtora de leitões na Itália (30%) e em duas granjas de ciclo completo, uma na Finlândia (84,2%) e outra no Reino Unido (90%). A população média total nestas granjas era de 3.196 animais variando de 950 a 5.586 suínos.

No surto registrado na Argentina, a morbilidade observada foi de 30% nos leitões com mais de 40 dias de idade e de 15% nos leitões em fase de crescimento/terminação alojados em 8 galpões [9]. Os sintomas, caracterizados por tosse, dispneia, descarga nasal, febre e inapetência iniciaram na creche em 15 de junho de 2009 e dois dias depois apareceram nas unidades de crescimento/terminação, perdurando por aproximadamente uma semana. Dos animais necropsiados (n = 5), todos apresentavam áreas de consolidação crânio-ventral que ocupavam de 5 a 60% da superfície dos pulmões. A principal lesão microscópica observada foi caracterizada por bronquiolite necrosante e espessamento da parede dos alvéolos devido à infiltração de leucócitos [9]. A infecção experimental em suínos de 10 semanas de idade através da inoculação intranasal do pH1N1 (amostra A/Regensburg/D6/09/H1N1) resultou em eliminação do vírus um dia pós-infecção e sintomas de intensidade leve característicos de influenza suína [7]. Neste mesmo experimento, suínos postos em contato com os animais inoculados desenvolveram a infecção de forma similar. Conclui-se, desta forma, que os suínos são suscetíveis ao pH1N1 e que podem transmitir a infecção para outros suínos.

III. AVALIAÇÃO DOS RISCOS DA INFECÇÃO POR INFLUENZA A PANDÊMICO H1N1

EM SUÍNOS NO SUL DO BRASIL

Para avaliação dos riscos, os seguintes termos de probabilidades, recomendados pela OIE (2006) [13], foram utilizados: insignificante (o evento teoricamente não ocorreria), muito baixa (muito improvável que o evento

1 Dados compilados de notificações sobre doenças emergentes (A/H1N1) enviadas à OIE entre 02/05/2009 e 25/01/2010 (http://

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ocorra), baixa (improvável que o evento ocorra), fraca (possível que o evento ocorra a uma probabilidade baixa), moderada (possível que o evento ocorra a uma probabilidade alta), alta (altamente provável que o evento ocorra). Para a avaliação da magnitude das consequências da ocorrência do pH1N1 em suínos, os termos utilizados foram: insignificante (as consequências derivadas da introdução do agente são insignificantes), muito baixa (as consequências derivadas da introdução do agente são mínimas), baixa (as consequências derivadas da introdução do agente são muito baixas), moderada (as consequências derivadas da introdução do agente são moderadas), alta (as consequências derivadas da introdução do agente são severas) e extrema (as consequências derivadas da introdução do agente são catastróficas).

3.1 Probabilidade da ocorrência da doença através da transmissão do homem ao suíno

Os suínos têm receptores no trato respiratório que podem se ligar aos vírus de origem suína, humana e aviária. Consequentemente, os suínos são chamados de “hospedeiro de mixagem” para o desenvolvimento de novos subtipos quando vírus de origem suína, aviária e/ou humana sofrem rearranjo nos suínos [5]. Casos esporádicos da transmissão do VIS para humanos já foram registrados, principalmente em pessoas que tinham contato próximo com suínos. Os sintomas apresentados eram típicos da influenza humana sazonal, sendo raro os casos de morte [11]. A capacidade de transmissão dos VIS entre humanos é limitada, diferentemente do que vem acontecendo com pH1N1. O contrário também ocorre, já que existem diversos relatos da transmissão do vírus da influenza, incluindo os subtipos H1N1 e H3N2, do homem para os suínos [16]. Embora ainda não comprovado, relatos de focos do pH1N1 em suínos parecem estar relacionados com casos de influenza humana. Estes indícios de transmissão homem-suíno, associado à origem do pH1N1 (oriundo de rearranjo de vírus que circulavam em suínos), indicam que o vírus provavelmente possa ser introduzido na população suína através do homem.

No Brasil, as maiores taxas de incidência de SRAG causada pelo pH1N1 ocorreram na região sul, acometendo 66,2 pessoas a cada 100.000 habitantes entre abril e novembro de 2009 [12], com o pico de incidência em julho. O risco da introdução do vírus na população suína no sul do Brasil através do homem é alto em virtude do elevado número de casos humanos e da alta densidade de granjas nesta região que, por sua vez aumenta a interação homem-animal. Seguindo esta lógica, os meses do pico da epidemia em humanos no Brasil (julho – agosto de 2009) é o período mais provável de ter ocorrido à transmissão para os suínos.

3.2 Avaliação das consequências da ocorrência da doença na população suína

As consequências da introdução do pH1N1 em suínos podem ser avaliadas sobre um aspecto biológico e de saúde pública (consequências diretas) e aspectos econômicos (consequências indiretas). Com relação aos aspectos biológicos, com a introdução do vírus pH1N1 numa população totalmente suscetível haveria uma morbidade alta dentro de uma granja e, provavelmente, seria transmitido rapidamente para outras granjas de uma região visto a verticalidade do sistema de produção, suscetibilidade da população suína brasileira a este subtipo e a densidade de granjas. Como na maioria dos relatos os animais se recuperaram dentro de uma semana, as perdas econômicas para o produtor seriam pontuais e estariam relacionadas aos gastos com medicamentos e piora da conversão alimentar. A infecção, respeitando as incertezas, poderia se tornar endêmica na população suína. Existem casos de transmissão de influenza humana H3N2 que se estabeleceram na população suína [16]. Dessa forma, a principal consequência direta estaria relacionada à saúde pública, pois se o pH1N1 se tornar endêmico nos suínos, aumentará a probabilidade de surgimento de um novo rearranjo, fato que antecede ao surgimento de epidemias e pandemias. É possível que pessoas se infectem através do contato direto com os suínos, podendo desenvolver sintomas de gripe. O vírus pH1N1 não tem se mostrado mais virulento para humanos do que a influenza sazonal, sendo que a taxa de mortalidade na população em geral continua baixa [11]. Tal consideração, no entanto, envolve dificuldades éticas de mensuração no que concerne à estimação de valores pecuniários de vidas humanas e de prejuízos à qualidade de vida.

As consequências econômicas indiretas estão relacionadas aos embargos sanitários e à diminuição do consumo doméstico de carne suína. Este último poderia causar um impacto econômico moderado caso não haja uma estratégia de comunicação que sensibilize os consumidores sobre os riscos reais desta infecção através do consumo de produtos de origem suína. De fato, o risco de infecção através do consumo de produtos contaminados é insignificante. Os vírus da influenza geralmente se limitam ao trato respiratório de suínos e não são detectados na carne, mesmo durante a fase aguda da doença. O tratamento térmico normalmente utilizado para cozinhar a carne suína (70° C) inativa o vírus e outros patógenos potencialmente presentes nos produtos crus [16]. Embora a infecção

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pelo pH1N1 cause sinais clínicos variáveis em diferentes espécies animais, as evidências até o momento não sugerem que tenha um impacto significante para a saúde animal, visto a rápida resolução do quadro clínico e a baixa mortalidade observada nas granjas afetadas. A resposta frente à detecção de um foco deve ser proporcional ao risco que uma determinada doença oferece aos seres humanos e animais e, desta forma, é recomendado que medidas de controle como abate não sejam realizada quando um foco do pH1N1 é detectado nos animais [8]. Também se recomenda que medidas restritivas ao comércio não sejam tomadas contra os países que estão tendo surtos do pH1N1 em animais [8]. Um resumo da avaliação das consequências encontra-se na tabela 1.

IV. CONCLUSÃO

O novo vírus pH1N1 (2009) se disseminou rapidamente na população humana no ano de 2009. O suíno é suscetível à infecção e pode transmiti-la para outros suínos e provavelmente aos seres humanos. Porém, a importância dos suínos na epidemiologia da doença está relacionada principalmente às possibilidades de rearranjo e surgimento de novos subtipos que possam ser transmitidos aos humanos e desencadear uma nova pandemia. Neste caso, a magnitude das consequências para saúde pública poderia ser alta. Desta forma, os riscos da introdução da doença na população suína no sul do Brasil não são insignificantes e as tendências direcionam para o desenvolvimento de sistemas de monitoria e vigilância epidemiológica e virológica da influenza suína com o objetivo de acompanhar a evolução do vírus que pode preceder uma pandemia. Nesse sentido, a sensibilidade do sistema de vigilância é fortemente influenciada pelo grau de envolvimento do setor produtivo suinícola, no que tange à tempestividade e fundamentação das notificações de suspeitas. É importante que as autoridades ligadas à saúde animal e humana desenvolvam uma estratégia coordenada de comunicação dos riscos de um resultado positivo nos suínos. A estratégia de comunicação deve direcionar esforços para manter um nível apropriado de sensibilização sobre a infecção aos envolvidos na cadeia e para o público em geral para não criar preocupações desnecessárias [8].

V. REFERÊNCIAS

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www.ufrgs.br/favet/revista

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Tabela 1. Avaliação das consequências da introdução do vírus da influenza A pandêmico H1N1 (2009) na população suína no sul do Brasil através de pessoas infectadas.

Cenários Probabilidade do Tipo de Magnitude das

cenário ocorrer consequências consequências

Infecção não é Fraca Não se aplica

transmitida

Infecção dissemina Moderada Biológica Baixa

em uma granja Saúde Pública Baixa

Econômica Muito baixa - Baixa

Disseminação para Alta Biológica Moderada

diversas granjas Saúde Pública Moderada - alta

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