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O USO DE PROJETOS DE ENSINO COMO FACILITADORES DA ESCRITA DE ARTIGOS CIENTÍFICOS

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Academic year: 2021

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O USO DE PROJETOS DE ENSINO COMO FACILITADORES DA

ESCRITA DE ARTIGOS CIENTÍFICOS

ALVES, Rozane da Silveira – UFPel SPEROTTO, Rosária Ilgenfritz – UFPel RADIN, Marley Maria Tedesco - UFPel

RESUMO

Este trabalho relata a experiência em uma disciplina do curso de Especialização em Mídias para professores da rede pública de ensino do sul do Brasil, ministrado totalmente a distância. A disciplina preparou os alunos para a escrita de um artigo científico a partir da aplicação de um projeto de utilização de mídias nas escolas, onde os alunos da especialização atuam como professores. O projeto foi desenvolvido em etapas, e em cada uma delas os alunos foram orientados a escrever um texto narrando e refletindo sobre as atividades propostas. Esses textos eram corrigidos e devolvidos aos alunos com orientações de como melhorá-los. Ao final da disciplina, os alunos reuniram os textos de cada etapa para originar um artigo científico. Muitos alunos do curso, apesar de atuarem como professores, não tinham o hábito da escrita e esta experiência lhes possibilitou reflexões e o exercício de escrita sobre suas práticas. A experiência dos alunos escreverem ao longo da execução do projeto mostrou ser uma experiência positiva, uma vez que eles não tiveram dificuldades para reunir os textos gerados em cada uma das etapas nos quais já haviam inserido referências bibliográficas e dados das entrevistas que foram efetuando ao longo do processo. Surpresos com resultados obtidos, indicaram na avaliação final da disciplina que sentiram-se capacitados para escreverem novos textos com a experiência adquirida. Embora inicialmente tenham demonstrado receio em não serem capazes de escrever um artigo científico, exigência para a conclusão do curso, constataram que com uma metodologia adequada e um bom planejamento seriam capazes de escrever o artigo final como também continuar escrevendo sobre suas práticas como professores.

Palavras-chave: Artigo científico. Mídias no ensino. Projeto de ensino.

ADIFICULDADENAESCRITAENTREOSESTUDANTESBRASILEIROS

Estudos têm mostrado a deficiência na leitura e na escrita do estudante brasileiro ao longo de sua formação. De acordo com pesquisa realizada por organização ligada ao Instituto Brasileiro de Pesquisa (IBOPE), apenas 25% dos brasileiros com idades entre 15 e 64 anos são capazes de ler, entender o que está escrito e escrever corretamente. Dos 75% restantes, 8% são analfabetos e 67% não dominam plenamente a leitura e a escrita.

Criado em 2001, o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), tem por objetivo oferecer informações sobre as habilidades de leitura, escrita e cálculo da população brasileira com idades entre 15 e 64 anos.

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Observa-se no período compreendido entre 2001 e 2011 o crescimento no percentual de pessoas que chegam ao ensino superior (de 8% para 14%), contudo, o desempenho do grupo diminuiu, pois o percentual deste grupo que atinge o nível pleno diminuiu de 76% para 62%.

Considerando essas estatísticas e também as dificuldades que os alunos enfrentam para desenvolver um artigo científico, principalmente aqueles que nunca tiveram essa experiência, procurou-se uma forma de orientar e facilitar a escrita de artigos em um curso de especialização.

OCURSODEESPECIALIZAÇÃOEMMÍDIASNAEDUCAÇÃO

O Curso de Especialização em Mídias na Educação (CEME) foi desenvolvido ao longo de 2012 pelo Centro de Educação a Distância da Universidade Federal de Pelotas (CEAD-UFPEL). O objetivo do CEME é a formação de professores da rede pública de ensino que atuam na Educação Básica. O curso integra o Programa Mídias na Educação da Universidade Aberta do Brasil (UAB).

O CEME foi desenvolvido totalmente a distância para seis cidades do sul do interior do Rio Grande do Sul, e iniciou com cerca de 300 alunos (50 alunos em cada cidade-polo), na sua maioria atuando como professores em sala de aula ou em outras atividades na escola como gestores, coordenadores pedagógicos, laboratoristas etc.

As disciplinas foram ministradas na forma intensiva, uma de cada vez, sendo que a disciplina de Projeto teve a duração de seis semanas. Os conteúdos oferecidos permitiram aos alunos aprender como trabalhar com mídias desde a preparação de materiais até a utilização desses em sala de aula. Foram utilizados referenciais teóricos nacionais e internacionais, bem como a indicação de vídeos pedagógicos. Tal procedimento objetiva oportunizar aos alunos o acesso a materiais diferenciados que estão sendo inseridos na prática de professores que operam com as Mídias digitais.

VIVENCIANDO O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

Este trabalho relata a experiência de trabalhar com os alunos em uma das últimas disciplinas do curso cuja proposta era a de criar um projeto com mídias na Educação e também resgatar os conteúdos aprendidos durante o desenvolvimento do curso. Embora os

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alunos tenham cursado especificamente uma disciplina sobre produção de textos didáticos, e alguns deles tivessem bastante desenvoltura na escrita, constata-se que muitos alunos não tinham alcançado o nível pleno, quarto e último nível de alfabetização estabelecido pelo INAF. Assim, optou-se por trabalhar a disciplina aliando a elaboração do projeto dividido em quatro etapas bem definidas e propondo que em cada etapa o aluno produzisse um texto relatando as atividades desenvolvidas: o estudo da escola e ambiente onde a escola está inserida; o estudo da turma onde foi aplicado o projeto; definição do conteúdo do projeto e da metodologia; e a aplicação do projeto.

Na primeira etapa realizou-se o estudo do ambiente onde o projeto seria aplicado: a escola e o município onde a escola estava inserida. A preocupação nesta etapa era oportunizar aos alunos exercerem uma prática de pesquisa e ouvir o que outras pessoas da comunidade escolar pensavam sobre a escola.

Freire (2007) aponta a necessidade do professor, em sua formação permanente, assumir o papel de pesquisador. Para o autor, o professor que pesquisa não demonstra uma qualidade ou uma forma de atuar que é acrescentada à de ensinar, pois a pesquisa faz parte da natureza prática do professor.

Na segunda etapa, os alunos foram orientados a estudar e pesquisar a turma onde seria aplicado/executado o projeto. Sugeriu-se que fossem realizadas entrevistas para ouvir a opinião sobre a turma: os próprios alunos, professores, bibliotecários e pedagogos que interagissem com esses alunos.

Kenski (2008b) indica que não é suficiente a habilidade técnica, o professor necessita “refletir” sobre as novas práticas que incorporam as mídias e também que sejam identificadas as fragilidades que surgem ao lidar com essas tecnologias no ambiente de trabalho. Por esse motivo, escutar os alunos e outros professores que trabalhem com a turma permitirá ao professor conhecer as opiniões dos outros envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

Na etapa 3, a escolha do conteúdo a ser trabalhado no projeto deveria considerar o ambiente da escola e da sala de aula, para que o projeto trouxesse conteúdos de acordo com a realidade daqueles alunos. Foram disponibilizados vídeos do Youtube que apresentavam experiências de professores premiados pela Fundação Victor Civita que outorga anualmente o prêmio “Educador nota dez” às melhores práticas na Educação Básica. Geralmente essas

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práticas são simples, mas causam grande impacto na comunidade escolar.

Também foram sugeridos textos que traziam relatos sobre práticas com mídias em sala de aula de professores de outras escolas e regiões, buscando motivá-los a criar seu próprio conteúdo a ser aplicado no Projeto ou mesmo adaptar ideias bem sucedidas ao ambiente da escola e da sala de aula estudada. Um dos textos sugeridos para leitura trouxe a discussão de Cysneiro (1999) sobre o que o autor denominou de “inovação conservadora”. No texto, o autor ressalta que embora a cada dia, os professores são mais influenciados pelo uso das mídias, muitas vezes utilizam essas tecnologias de forma que não exploram os seus recursos, e não mexem com a rotina da escola, do professor ou do aluno, e na realidade apesar de parecer uma mudança profunda, o que muda são apenas as aparências.

No planejamento da disciplina buscou-se nas etapas iniciais conhecer o ambiente da escola e da sala de aula, para só então, buscar-se um conteúdo para o projeto que se adequasse ao perfil da turma investigada. Essa escolha mostrou ser acertada, pois segundo Kenski (2008a), é importante conhecer a história de vida, os conhecimentos já incorporados e a motivação para aprender dos alunos, pois a diferença qualitativa no ensino ocorre quando o professor faz a adequação do processo educacional às necessidades dos aprendentes.

A quarta e última etapa, bastante esperada por todos, teve duração de duas semanas e correspondeu a execução/aplicação do projeto em sala de aula. Os alunos do curso estavam ansiosos, pois finalmente executariam tudo o que foi ouvido, sugerido, observado e pesquisado nas semanas anteriores.

ALGUNS RESULTADOS

O trabalho dedicado dos tutores que semanalmente liam os textos postados e orientavam os alunos de correções e modificações a serem feitas foi vital para o desenvolvimento da disciplina, tanto no aspecto da formatação e uso das normas metodológicas quanto na clareza da redação.

Finalmente, os alunos reuniram os textos referentes às quatro etapas iniciais, realizaram as correções orientadas pelos tutores e resolveram problemas de encadeamento na reunião dos textos. Como conclusão deste texto final os alunos acrescentaram suas próprias avaliações sobre o processo desenvolvido durante o projeto.

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Empolgados pela aplicação do trabalho em suas próprias turmas, e também pelo entusiasmo de seus alunos que participaram ativamente do processo, muitos professores superaram suas dificuldades na escrita de textos acadêmicos, conseguiram organizar o texto final, ficando bastante surpresos com a qualidade sua produção.

A metodologia utilizada, dividindo o desenvolvimento do projeto em etapas e fazendo com que os alunos fossem escrevendo sobre cada uma delas alcançou o objetivo da disciplina, pois auxiliou os alunos a enfrentarem e superarem as suas dificuldades na escrita:

Achei ótima a metodologia, fomos escrevendo por partes e no final juntamos tudo em um texto só, já com a correções. Isso deixou o projeto "leve" de ser realizado (aluna 157).

A disciplina de Projeto auxiliou os alunos na construção de estratégias para enfrentarem o último desafio do curso:

Acredito que todos, após o termino desta disciplina estamos com a impressão de estar aumentando nossa capacidade de crítica, e com vontade de fazer um artigo final realmente bom e relevante (aluno 38).

A estrutura e forma de organização do curso oportunizou intensas interações entre professores responsáveis pelas disciplinas e tutores, que conversavam frequentemente através de uma lista de discussões. Esta característica permitiu que as situações de plágio fossem tratadas por todos da mesma forma, indicando sempre o problema e apontando uma solução. Este cuidado foi percebido pelos alunos, conforme apontaram na avaliação final da disciplina.

REFERÊNCIAS

CYSNEIROS, P. G. Novas tecnologias na sala de aula: melhoria do ensino ou inovação conservadora? Revista Informática Educativa, v.12, n.1, 1999, pp. 11-24

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Editora Paz e Terra, Edição Especial, 2007.

KENSKI, V. M. Educação e Tecnologias: o novo ritmo da informação. 3ª ed. Campinas, SP: Editora Papirus, 2008a.

KENSKI, V. M. Tecnologias e Ensino Presencial e a Distância. 5ª. ed., Campinas: Editora Papirus, 2008b.

Referências

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