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Utilidade da Electrocardiografia na Avaliação da Massa Ventricular
Esquerda em Atletas: Estudo Comparativo
Abstract Introdução
A prática de exercício físico acarreta diversas mudanças a nível do sistema cardiovascular, de modo a permitir satisfazer as necessidades sobre ele impostas, e a desempenhar as suas funções com a máxima eficácia [1]. O conjunto das modificações morfológicas, funcionais e electrofisiológicas, verificadas no atleta, como resposta ao exercício físico, é conhecido por síndrome de coração de atleta
[2].
O aumento da massa ventricular esquerda (MVE) é uma das adaptações cardíacas que ocorre no atleta, em consequência do treino físico intenso e prolongado, e desenvolve-se como um processo compensatório ou adaptativo ao estímulo hemodinâmico, representando uma sobrecarga de pressão e/ou volume, dependendo do tipo de desporto praticado [3].
Existem vários exames que permitem diagnosticar a HVE, entre os quais, o Electrocardiograma (ECG) e o Ecocardiograma (Eco), apresentando o primeiro, menor sensibilidade que o segundo, para o efeito. No entanto, dada a sua maior disponibilidade, baixo custo e simplicidade de execução relativamente ao Eco, o ECG continua a ser o exame mais usado para fazer este diagnóstico [4]. Um dos motivos da limitação do ECG na detecção de HVE é o facto de serem usados critérios fixos de voltagem, que podem ser substancialmente alterados por factores extra-cardíacos como: o género, a idade, o peso e a configuração da parede torácica [5].
Por sua vez, o Eco, baseando-se em medidas anatómicas, apresenta adequada correlação entre a massa ventricular esquerda (MVE) medida e a verificada em necrópsia, tendo vindo a tornar-se o método de escolha para detectar a HVE [6].
A baixa sensibilidade de cada critério electrocardiográfico individualmente, incitou investigadores a combinarem três critérios altamente específicos, para o diagnóstico de HVE. Esses investigadores concluíram que esta combinação aumenta a sensibilidade do ECG, sem comprometimento da especificidade [7]. Outros investigadores também concluíram que o score de Perugia (que inclui os
três critérios referidos) tem um elevado valor prognóstico para o diagnóstico de HVE, quando comparado com outros critérios [8].
Assim, além de pretender confirmar a baixa sensibilidade do ECG relativamente ao Eco, no
diagnóstico de HVE, este estudo tem como objectivo, encontrar o melhor critério electrocardiográfico para detectar a HVE, em atletas.
Métodos
Uma amostra de 159 atletas (135 do sexo masculino) com idade média 14,83 + 6,14 anos (amplitude de idades 6-36 anos), foi incluída num estudo transversal (tabela I). O número médio de horas de treino semanal foi de 6,01 + 2,1. Aproximadamente metade dos atletas (49,1%) praticavam futebol, com os restantes a distribuírem-se por diversas modalidades desportivas.
Tema Livre
Castanheira J., Pereira T., Conde J.
Departamento de Ciências Imagiológicas e Bio-Sinais, Sector de Cardiopneumologia Escola Superior de Tecnologia da Saúde de
Coimbra, Portugal
Para analisar a capacidade discriminativa do ECG para a HVE, recorreu-se aos testes diagnósticos e as curvas ROC.
Resultados
Os resultados deste estudo mostraram que os critérios electrocardiográficos de amplitude são específicos mas pouco sensíveis para detectar a HVE em atletas e que, de modo global, todos apresentam baixa capacidade discriminativa para a HVE nos atletas (Figura 1 e Quadro 1).
Apesar de todos os critérios/scores electrocardiográficos analisados apresentarem baixa capacidade discriminativa para a HVE nos atletas, os melhores, no nosso estudo, foram os critérios «amplitude da onda R em V6 > 20 mm» e o de Sokolow-Lyon.
Verificou-se ainda a não existência de relação entre a duração da onda P medida no ECG em DII e o diâmetro da AE obtido pelo Eco e corrigido para a ASC (Tabela II).
A análise revelou que os diferentes critérios e scores electrocardiográficos estudados são específicos, mas pouco sensíveis para detectar HVE nos atletas e que, de modo global, estes critérios apresentam uma reduzida capacidade discriminativa. Adicionalmente verificou-se não existir relação entre a duração da onda P em DII e o diâmetro da aurícula esquerda no ECO.
Conclusão
Com a prática de exercício físico, o coração e o sistema cardiovascular sofrem diversas alterações no sentido de responderem às exigências que lhes são impostas. O aumento da MVE é uma dessas alterações fisiológicas, que se desenvolve como um processo compensatório ou adaptativo a um estímulo hemodinâmico, representando uma sobrecarga de pressão e/ou volume, dependendo do tipo de desporto praticado.
Embora o Eco permita medir eficazmente a MVE, o seu uso, na maioria da população, é limitado pelo custo e pela baixa disponibilidade. Pelo facto de ser um método não invasivo, barato e amplamente disponível, o ECG seria o exame ideal para o diagnóstico de HVE e para a monitorização continuada dos processos adaptativos do VE à prática desportiva. No entanto, o ECG é pouco sensível neste diagnóstico.
Os nossos resultados mostraram que os critérios electrocardiográficos de amplitude são específicos,
Quadro 1: Síntese das características dos vários critérios/scores electrocardiográficos
Tabela II: Relação entre a duração da onda P em DII e o diâmetro da AE corrigido para a ASC
No nosso trabalho, o score de Perugia não se revelou particularmente sensível nem específico no diagnóstico de HVE. Vários estudos efectuados, no entanto, mostram que a utilização do score de Perugia aumenta a sensibilidade do ECG para o diagnóstico de HVE, sem comprometer a
especificidade [7-8]. De referir que a população avaliada nestes estudos é constituída por indivíduos
doentes, alguns com hipertensão arterial, onde a prevalência de HVE é mais elevada.
Num outro estudo, dos critérios electrocardiográficos considerados, a duração da onda P foi o que apresentou uma correlação estatisticamente mais significativa com o tamanho da AE medido pelo Eco
[11]. Também outros investigadores verificaram que existia uma relação directa entre o grau de alargamento da AE e a sensibilidade das anormalidades da onda P nos planos electrocardiográficos frontal e horizontal [12].
Os nossos resultados, no entanto, não revelaram nenhuma relação entre a duração da onda P, medida no ECG em DII, e o diâmetro da AE, medido pelo Eco. Não esquecer, contudo, que os estudos
referidos anteriormente foram realizados em indivíduos doentes, onde as alterações das aurículas são mais evidentes.
Em suma, os resultados obtidos revelam que o ECG é pouco sensível, mas específico, para
diagnosticar a HVE em atletas. Pela sua elevada especificidade, o electrocardiograma possui um papel importante no screening em atletas. Apesar das limitações na capacidade discriminativa de todos os critérios/scores electrocardiográficos analisados, verificou-se que os melhores para detectar a HVE são o critério «amplitude da onda R em V6 > 20 mm» e o critério de Sokolow-Lyon.
Bibliografia
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10. Hutchins SW, Murphy ML, Dinh H. Recent Progress in the Electrocardiographic Diagnosis of Ventricular Hypertrophy. Cardiol Clin 1987 Ago;3(5):455-68.
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12. Waggoner AD et al. Left atrial enlargement. Echocardiographic assessment of electrocardiographic criteria. Circulation 1976 Out;4(54):553-7.
Publicaçao: Outubro de 2007
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