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RENATA DE MELO CALDAS*

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Academic year: 2021

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(1)

RENATA DE MELO CALDAS*

causas da persistente desigualdade de renda em Alagoas: uma análise de decomposição do índice Theil-T

* Mestranda em Economia – Programa de Pós-Graduação em Economia (PIMES) – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

(2)

RESUMO

ABSTRACT PALAVRAS-CHAVE

KEY WORDS

Este trabalho realizará uma decomposição do índice Theil-T para o Estado de Alagoas, cujo nível de desigualdade foi o pior dentre os estados nordestinos. Esta metodologia foi desenvolvida por Araujo, Salvato e Souza (2008), a partir de uma adaptação de Akita (2000), em cinco níveis: inter-rural/ urbano, inter-gêneros, inter-racial, inter-grupos educacionais e intra-grupos educacionais. Os dados utilizados são da PNAD de 2001 a 2006. Entre os principais resultados, encontramos que a distribuição de renda é menos desigual no Brasil como todo do que no Nordeste e em Alagoas; 33,57% da desigualdade de renda de Alagoas em 2006 é explicada pelas desigualdades educacionais; as variáveis consideradas no estudo explicam 65,12% da desigualdade de renda em Alagoas para o ano de 2006.

This paper will show a decomposition of the Theil-T level index for Alagoas, whose level of inequality was the worst among the northeastern states. The methodology used was developed by Araujo, Salvato and Souza (2008) by referencing Akita’s methodology (2000). The study measured five variables: inter-rural/urban, inter-genders, inter-racial, inter-educational groups, and intra-educational groups. The data is from the PNAD from IBGE, for the years of 2001 to 2006. The main results emphasize the areas of Brazil where the distribution of income is less disproportianate than in the Northeast and Alagoas; 33.57% of the inequality of Alagoas income in 2006 is explained by the educational inter-group inequality; the variables considered in the study explain 65.12% of income inequality in Alagoas for the year 2006.

Alagoas. Inequality Income. Decomposition. Theil-T. Alagoas. Desigualdade de renda. Decomposição. Theil-T.

(3)

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, importantes estudos foram feitos acerca da pobreza e da má distribuição de renda no Brasil, considerados por mui-tos, como um dos principais entraves enfrentados pelo país. Embora a concentração de renda tenha diminuído nos últimos anos, segundo o

IPEA (2006), esse problema ainda é bastante elevado e preocupante, quan-do nos referimos a bem-estar social. Reduções na pobreza podem ocor-rer tanto com o crescimento econômico da região/país, quanto com a redução dos níveis de desigualdade. Estudos sobre crescimento econô-mico versus desigualdade de renda apontam que esta última possui mai-or impacto sobre a pobreza em determinadas regiões, ou seja, uma pe-quena redução nos níveis de desigualdade teria um impacto muito mai-or sobre a redução da pobreza do que grandes aumentos nas taxas de crescimento econômico. Berni, Barreto e Siqueira (2007) afirmam que, quando há reduções na desigualdade, a renda dos mais pobres pode cres-cer mesmo na ausência de crescimento econômico.

Após a implantação do Plano Real, o Brasil tem apresentado um quadro de constantes quedas na desigualdade de renda, no entanto, ain-da se enquadra entre os países mais desiguais do mundo (BERNI, BARRETO,

SIQUEIRA, 2007). Um retrato ainda mais grave pode ser visto na região

Nordeste, que sempre foi considerada aquela com os piores indicadores econômicos e sociais do país. No entanto, a região foi também aquela que mostrou melhores quedas na concentração de renda nos anos mais recentes. Dentre os estados nordestinos, Alagoas foi o que apresentou, em 2006, os piores níveis de desigualdade de renda da região, segundo

Caldas e Menezes (2010).

A literatura tem mostrado a importância da variável educacional para a redução na desigualdade de renda. No entanto, com o passar dos anos, outras variáveis foram incorporadas nos estudos, como raça, gênero, região de moradia, entre outras. Com objetivo de aumentar a discussão sobre o tema e auxiliar na direção da criação de políticas públicas, o pre-sente artigo tem o objetivo de estudar em que medida essas variáveis afe-tam a desigualdade de renda em Alagoas, apontando o peso de cada uma das variáveis sobre a concentração de renda total do Estado, fazendo um comparativo com os resultados obtidos para o Nordeste e para o Brasil.

(4)

É importante lembrar que as metodologias tradicionais de esti-mação econométrica do papel da educação e demais componentes soci-ais na redução da concentração da renda entre regiões não resolvem a contento o problema de endogeneidade que, em geral, aponta viés em tais estimadores. Na tentativa de obter maior precisão desse cálculo, op-tou-se por trabalhar com a técnica de decomposição do índice T de Theil, o qual permite identificar o papel de cada característica socioeconômica na determinação da queda da desigualdade.

Para tanto, será utilizada a Pesquisa Nacional por Amostra de Do-micílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), considerados, para comparação, os anos entre 2001 e 2006. O período esco-lhido foi apontado pela equipe de pesquisadores do IPEA como o início de um período de intensa queda na desigualdade. A renda utilizada será a de todas as fontes, que inclui as rendas oriundas de aposentadorias, pensões, aluguéis e transferências.

Uma das limitações do trabalho é o fato de que a base de dados utilizada não considera o valor da produção para autoconsumo, que re-presenta uma importante parcela da renda real dos pequenos agricul-tores. Este fato, no entanto, não diminui a importância dos resultados apresentados na pesquisa.

Além desta introdução, o presente trabalho está organizado como segue. A seção dois apresenta alguns indicadores socioeconômicos para o Estado de Alagoas, enfatizando as características gerais da desigualdade de renda neste Estado. Em seguida, é descrita a metodologia de cálculo do Índice T de Theil, que será utilizado para decomposição da desigual-dade. A seção quatro irá expor os principais resultados encontrados, em que são feitas as considerações finais.

CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS DO ESTADO DE ALAGOAS

Entre os principais problemas enfrentados pelo Estado de Alagoas, de acordo com Silva (2008), podem ser citados a falta de infraestrutura e de políticas públicas de incentivo à produção, a fragilidade do sistema de educação pública, um reduzido volume de mão-de-obra qualificada e um elevado nível de concentração de renda.

(5)

Alagoas para o período de 1992 a 2004, o Estado apresentou-se como o mais pobre do Brasil, além de possuir a menor renda real média e a maior proporção de pobres. Segundo o autor, o Estado tem ficado para trás tanto em termos de capital humano quanto de infraestrutura, o que compromete seriamente as chances de reversão deste quadro no futuro.

A TAB. 1 abaixo mostra a evolução da taxa de analfabetismo do

Estado de Alagoas, do Nordeste e do Brasil, entre os anos de 2001 e 2007, segundo dados do IPEA. O que podemos inferir, a partir dos dados, é que Alagoas apresenta uma taxa de analfabetismo superior a do Nordeste durante todo o período considerado. Entre 2001 e 2007, o percentual de analfabetos em Alagoas passou de 30,64% para 25,2%, uma queda de 5,44

pontos percentuais.

TABELA 1

Evolução do Analfabetismo entre 2001 e 2007 para AL, NE e BR. (%)*

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Alagoas 30,64 31,19 30,47 29,53 29,27 26,43 25,2

Nordeste 24,31 23,43 23,2 22,48 21,96 20,78 19,98

Brasil 12,37 11,86 11,56 11,41 11,07 10,4 10,01

Fonte: Elaboração própria. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

*Nota: Percentual de pessoas de 15 ou mais anos de idade que não sabem ler nem escrever um bilhete simples.

Embora a proporção de analfabetos em Alagoas seja mais elevada do que a do Nordeste e do Brasil durante todo o período, a taxa de redu-ção foi mais acentuada. No Nordeste, a queda foi de 4,33% e no Brasil foi

de 2,36%. Esse resultado é importante no que se refere às desigualdades

regionais, pois implica uma convergência no que se refere à proporção de analfabetos, ou seja, Alagoas vem apresentando, nos últimos anos, uma melhora maior que aquela apresentada pelo Nordeste e pelo Brasil.

A TAB. 2 oferece informações a respeito da evolução do nível de

escolaridade média para Alagoas, para o Nordeste e para o Brasil, entre os anos de 2001 a 2006, de acordo com dados da PNAD. Durante o período considerado, observou-se um aumento contínuo do nível médio de anos de estudo para essas três regiões. Alagoas passou de 3,15 anos de estudo

(6)

em 2001 para quatro anos em 2006, um crescimento de 26,68%. No Nordes-te, os anos médios de estudo eram de 3,71 em 2001 e passou para 4,58 em

2006, um crescimento de 23,37%. Já a média nacional de anos de estudo era no período inicial de 4,97, enquanto em 2006 aumentou para 5,74 anos de estudos, um aumento de 15,47% entre os períodos considerados.

TABELA 2

Nível de escolaridade média para Alagoas, Nordeste e Brasil (2001 a 2006)

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Alagoas 3,15 3,28 3,46 3,57 3,70 4,00

Nordeste 3,71 3,90 4,08 4,25 4,38 4,58

Brasil 4,97 5,15 5,32 5,41 5,55 5,74

Fonte: Elaboração Própria. Dados da PNAD.

O nível de escolaridade da população alagoana é composto em sua maioria por analfabetos e pessoas com ensino fundamental incom-pleto, ambos totalizando 71% da população, sendo que 7% da população possuem ensino médio completo e apenas 3% tem formação superior

(ANDRADE et. al., 2010 apud CARVALHO, 2008). Embora Alagoas tenha

man-tido o menor nível de anos de estudos entre 2001 e 2006, a taxa de

cresci-mento para esse Estado foi maior do que para o Nordeste e para o Brasil. Uma das explicações para esse crescimento pode ser dada pela amplia-ção dos programas assistencialistas, como o Bolsa Família, direcionados à região Nordeste, principalmente àqueles estados considerados os mais pobres da Federação.

A FIG. 1 a seguir mostra de forma clara o panorama recente da taxa

de desemprego entre 2001 e 2007 em Alagoas e no Brasil, segundo dados do

IBGE. Ao contrário dos demais indicadores, a taxa de desemprego de Alagoas mostrou-se, em alguns momentos, menores do que a do país. Isso não implica necessariamente um bom indicador, mas sim se justifica pela alta vulnerabilidade a choques externos da economia Alagoana, enquanto que a do Brasil apresentou-se praticamente estável durante todo o período, passando de 10,1% em 2001 para 8,9% em 2007. Alagoas passou de 12,1%no início do período para 8,4% em 2007, apresentando maior oscilação.

(7)

FIGURA 1 − Taxa de desemprego em Alagoas e no Brasil entre 2001 e 2007 (%) Fonte: Elaboração própria. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

* Nota: Percentual das pessoas que procuraram, mas não encontraram ocupação profissional remunerada entre todas aquelas consideradas “ativas” no mercado de trabalho, grupo que inclui todas as pessoas com 10 anos ou mais de idade que estavam procurando ocupação ou trabalhando na semana de referência da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Alagoas Brasil 12 11,5 11 10,5 10 9,5 9 8,5 8

No que se refere ao número de empregos formais em Alagoas, de acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), o Estado alcançou 446,1 mil empregos formais em dezembro de 2009, correspondente a um crescimento de 4,97% em relação ao estoque de emprego de dezembro de 2008. Em termos absolutos, esse aumento correspondeu ao incremento de21,1

mil postos de trabalho, em relação ao mesmo mês do ano anterior.

A TAB. 3 oferece uma síntese da evolução do número de pessoas

ocupa-das em 2001, 2003, 2005 e 2007. O que pode ser dito é que, em termos absolutos,

o número de alagoanos ocupados entre 2001 e 2007 aumentou. No entanto, a participação no cenário nacional apresentou uma queda, passando de 1,54%

do total nacional em 2001 para 1,43% em 2007. O mesmo aconteceu com o Nor-deste quando comparado ao Brasil: o número absoluto de pessoas ocupadas aumentou, mas a proporção delas no total nacional diminuiu.

(8)

TABELA 3

Número de pessoas ocupadas entre 2001 e 2007 em AL, NE e BR (%)*

Fonte: Elaboração própria. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). * Nota: Número de pessoas que declararam estar ocupadas na semana de referência.

Outra característica importante a ser destacada diz respeito ao trabalho infantil. Segundo Urani (2005), a proporção de crianças alagoanas entre 10 e 14 anos que trabalham caiu para menos da metade entre 1992 e

2004, de 6,8% para 3,3%. Essa queda, contudo, foi menos significativa que a

observada no Brasil como um todo (de 5,3% para 1,9%) e mesmo na região Nordeste (de 8,4% para 3,5%).

A TAB. 4 nos mostra a proporção de pobres nos últimos anos para

Alagoas, Nordeste e Brasil. Mais uma vez, Alagoas apresenta um quadro mais grave do que o enfrentado pela região Nordeste que, por sua vez, apresenta pior situação que o país. Importante destacar que 2003 foi o ano no qual os três espaços geográficos considerados apresentaram maiores proporções de pobres. Alagoas, Nordeste e Brasil, apresentaram 67%, 61% e 36% de sua população considerada pobre neste ano, respectivamente.

TABELA 4

Proporção de pobres no período de 2001 a 2008 para AL, NE e BR (%)*

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Alagoas 0,65 0,66 0,67 0,65 0,60 0,57 0,51 0,50

Nordeste 0,60 0,59 0,61 0,58 0,54 0,48 0,46 0,42

Brasil 0,35 0,34 0,36 0,34 0,31 0,27 0,24 0,23

Fonte: Elaboração própria. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

* Nota: Proporção de pessoas com renda domiciliar per capita inferior à linha de pobreza. Série revista conforme reponderação divulgada pelo IBGE em 2009. 2001 2003 2005 2007 Qnt. (%) Qnt. (%) Qnt. (%) Qnt. (%) Alagoas 1.145.921 1,54 1.137.195 1,45 1.200.895 1,40 1.269.939 1,43 Nordeste 20.287.780 27,26 21.543.593 27,41 22.878.155 26,74 23.340.037 26,29 Brasil 74.411.440 100 78.591.712 100 85.564.418 100 88.762.825 100

(9)

Os dados anteriores apresentados corroboram com aqueles forne-cidos por Urani (2005) no que diz respeito ao atraso econômico e social do

Estado de Alagoas, quando comparado à região Nordeste como um todo. Infelizmente, no tocante è desigualdade de renda em Alagoas não é dife-rente. Como mostrou Caldas e Menezes (2010), Alagoas foi o que apresen-tou pior resultado entre os estados nordestinos em 2006. Tomando como base esse resultado, será feita uma breve análise das características da desi-gualdade de renda em Alagoas e, em seguida, uma decomposição a fim de verificar quais são os fatores que mais influenciam a desigualdade de ren-da nesse Estado.

A DESIGUALDADE DE RENDA EM ALAGOAS

Como pode ser observado pela FIG. 2 abaixo, o índice de Gini vem

apresentando uma tendência de queda em todo o período para o Nor-deste e para o Brasil. Essa tendência também é seguida pelo Estado de Alagoas, com exceção do ano de 2006, quando teve uma aumento de 10,8%

em relação ao ano anterior, atingindo um nível de 0,627. Como já foi men-cionado, Alagoas apresentou, em 2006, o pior índice de desigualdade de renda entre os estados nordestinos.

Fonte: Elaboração própria. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

* Nota: Mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando não há desigualdade, a 1, quando a desigualdade é máxima.

FIGURA 2 − Evolução do Índice de Gini para AL, NE e Brasil (2001 a 2008)*

0,64 0,62 0,6 0,58 0,56 0,54 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2008 Alagoas Nordeste Brasil

(10)

Marques (2009), por meio do teste de correlação de Spearman, concluiu que o grau de desigualdade de renda em Alagoas atingiu um patamar crítico, capaz de exercer influência negativa sobre o crescimen-to econômico, retardando-o ou restringindo-o. Simetricamente, pode in-dicar que o crescimento econômico do período tendeu a elevar a desi-gualdade de renda nesse Estado.

Fonte: Elaboração própria. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

* Nota: É uma medida do grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita.

A FIG. 3 oferece um panorama geral sobre a evolução da

desigual-dade da renda medida pela razão entre os 10% mais ricos e os 40% mais pobres, fazendo uma comparação entre o Estado de Alagoas e a região Nordeste. Durante todo o período, com exceção dos anos 2004-2005, Alagoas manteve essa razão superior àquela apresentada para o Brasil, ou seja, para o Estado, a razão entre a renda dos 10% mais ricos da população pela renda dos 40% mais pobres foi sempre superior (excluindo 2004 e 2005) ao mesmo indicador regional. É interessante observar nesta figura que a variável segue a mesma tendência do índice de Gini, inclusive no grande salto dado no ano de 2006.

FIGURA 3 − Evolução da desigualdade em renda familiar per capita: razão entre os

10% mais ricos e os 40% mais pobres para AL e NE (2001 a 2008)* 26 25 24 23 22 21 20 19 18 17 16 23,48 22,56 22,92 20,42 25,58 23,11 20,83 Alagoas Nordeste 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 22,93 21,85 20,83 19,5 18,7 19,41 18,76 19,11 17,92

(11)

Desta forma, pela gravidade do quadro enfrentado pela econo-mia alagoana, fica evidente a necessidade de um estudo acerca dos prin-cipais determinantes da desigualdade de renda no Estado. Em seguida, será apresentada a metodologia de cálculo para essa decomposição.

METODOLOGIA

De acordo com Hoffmann (1998), uma das principais vantagens do Índice T de Theil é que, quando comparado a outros indicadores de desigualdade, ele é mais facilmente decomposto em parcelas que podem ser agrupadas de tal forma que a soma de suas parcelas fornecem o índi-ce completo, ou seja, quando as rendas individuais são agrupadas segun-do um determinasegun-do critério, elas podem ser decompostas em uma me-dida de desigualdade entre os grupos e uma média ponderada das medi-das de desigualdade dentro dos grupos.

Neste estudo, a desigualdade de renda é calculada por meio da decomposição do índice de disparidade T de Theil em cinco níveis, de-senvolvido por Araujo, Salvato e Souza (2008), a partir de uma adaptação da metodologia de Akita (2000). A subseção seguinte mostra todas as eta-pas do processo de decomposição do índice T de Theil em cinco níveis.

Os dados utilizados no presente trabalho foram coletados a partir da

PNAD, do IBGE. Foi escolhido o Estado de Alagoas para se fazer tal análise, uma vez que o mesmo apresentou o pior índice de desigualdade de renda, apresentado pelo IBGE em 2006. Dessa forma, utilizaremos os dados para os anos entre 2001 e 2006, com objetivo de identificar os determinantes da desi-gualdade existente neste Estado. Será feita também uma comparação deste com os apresentados pela região Nordeste como um todo, assim como o Brasil. São considerados filtros da amostra as pessoas entre 15 e 65 anos de idade, com renda positiva, e com raça e nível de escolaridade declarados. A renda utilizada é a aquela de todas as fontes, que inclui, além da renda do trabalho, as aposentadorias, pensões, aluguéis e transferências.

DECOMPOSIÇÃO DO ÍNDICE THEIL-T

Com base nessa propriedade de decomposição do índice T de Theil, a decomposição aqui descrita consiste em uma adaptação da

(12)

metodologia de Akita (2000), desenvolvida por Araújo, Salvato e Souza (2008), para cinco variáveis: área de moradia (definida como rural ou

ur-bana), sexo, raça (brancos e não brancos)1 e nível de escolaridade2.

A adequação foi feita descrevendo-se o seguinte índice de Theil-T:









=

∑∑∑∑∑

N

Y

Y

Y

Y

T

irljk i l r j k ilrjk

/

ln

(1)

Onde: Yirljk é a renda do indivíduo k, da raça r, no grupo de

escola-ridade j, do gênero l, na região urbano/rural i. Ou seja, é o indivíduo levan-do-se em consideração todas as variáveis; =

∑∑∑∑∑

i l r j k ilrjk Y

Y é

consi-derada a renda agregada e =

∑∑∑∑∑

i l r j k ilrjk n

N o total da população.

A próxima equação refere-se à desigualdade de renda entre os indivíduos residentes na área i, representada pela variável

T

i, por meio

da qual podemos iniciar o processo de decomposição do índice de Theil:









=

∑∑∑∑

i i ilrjk l r j k i ilrjk i

N

Y

Y

Y

Y

T

/

ln

(2)

Sendo assim, a equação (1) pode ser decomposta em:

            +       =

N Y N Y Y Y T Y Y T i i i i i i i / / ln (3) BUR WUR BUR i i i T T T T Y Y T  + = +      =

(4) Onde =

∑∑∑∑

l r j k ilrjk i Y

Y representa o total da renda na região i;

∑∑∑∑

= l r j k ilrjk i n N

representa o total da população na região i; e

1 São considerados brancos aqueles indivíduos que se declararam brancos ou amarelos e são

considerados não-brancos aqueles que se declararam pretos ou pardos.

2 Os indivíduos foram classificados em três grupos: os que tinham de 0 a 4 anos de estudo; os que

(13)

            =

N Y N Y Y Y T i i i i BUR / / ln

A segunda etapa da decomposição do índice de Theil é obtida definindo

T

il no intuito de medir a desigualdade de renda em cada

gê-nero l na região i.









=

∑∑∑

il il ilrjk r j k ilrjk il

N

Y

Y

Yil

Y

T

/

ln

(5) onde =

∑∑∑

r j k ilrjk il Y

Y representa o total da renda do gênero l

na área i; e

N

il representa o total da população do gênero l na área i.

Sendo assim, a desigualdade de renda dos indivíduos da área i,

T

i, pode

ser decomposta como segue abaixo:









+





=

i i il il l i il il l i il i

N

Y

N

Y

Y

Y

T

Y

Y

T

/

/

ln

i i i WG BG BG il l i il i

T

T

T

T

Y

Y

T



+

=

+



=

(6) (7) e a desigualdade de renda entre as regiões rural/urbana. Além disso, podemos observar que o primeiro ter-mo da última equação representa a desigualdade dentro da região i (intra-regional),

T

WUR, que é obtido a partir de uma média ponderada dos

T

i.

Essa é a primeira decomposição do índice Theil-T em desigualdade intra-rural/urbano (TWUR), aquela que é causada dentro da área, e inter-rural/ urbano (TBUR), aquela causada pelo diferencial da área.

A desigualdade entre os gêneros l na área i é medida por:

O primeiro termo da equação (7) faz refe-rência à desigualdade observada dentro do gênero l na área i. Dito de outra forma, é uma média ponderada dos Til, que aqui chamaremos

deTWGi. Ao substituirmos o Ti da equação (7) no T da (4), obteremos:









=

i i il il i i il BG

N

Y

N

Y

Y

Y

T

i

/

/

ln

(14)









=

∑∑

ilr ilr ilrjk j k ilrjk ilr

N

Y

Y

Yilr

Y

T

/

ln

(11) Em que é o total de renda da raça r, no gênero l na área i,

N

ilr representa o total da população da raça r, no gênero l

residentes na área i. Assim sendo, as disparidades de renda existente en-tre os indivíduos no gênero l, na área i,

T

il, pode ser representada a partir

da seguinte equação:









+





=

il il ilr ilr r il ilr ilr r il ilr il

N

Y

N

Y

Y

Y

T

Y

Y

T

/

/

ln

∑∑

= j k ilrjk ilr Y Y (12) BUR l BG il i il i i T T T Y Y Y Y T i+      +             =

(8) O termo entre colchetes representa as disparidades inter e intra-gêneros observados em cada área. Dessa forma, o primeiro termo é a mé-dia ponderada para esses efeitos, utilizando as proporções da renda apro-priada pela área i como ponderador. Pode ser reescrito da seguinte forma:

BUR BG i i il i l il T T Y Y T Y Y T i +       +       =

∑∑

(9) (10) BUR BG WG

T

T

T

T

=

+

+

A equação (10) representa a equação da decomposição de Theil em três níveis. Desigualdade intra-gêneros (TWG), desigualdade inter-gê-neros (TBG) e desigualdade inter-rural/urbano (TBUR). Além disso, pode-mos decompor a desigualdade de renda em mais um nível, utilizando o primeiro termo da equação (10), que representa a desigualdade intra-gêneros, decompondo-a por raça. Definindo

ilr

T

para medir a desigual-dade de renda para a raça r no gênero l e na área i:

(15)

il il i WR BR BR ilr r il ilr il

T

T

T

T

Y

Y

T



+

=

+



=

(13) Onde









=

il il ilr ilr l il ilr BR

N

Y

N

Y

Y

Y

T

il

/

/

ln

representa a desigualdade

entre as raças nos gêneros l, nas áreas i.

Analisando a equação (12), temos que o primeiro termo represen-ta a desigualdade de renda gerada por conrepresen-ta da desigualdade dentro de cada raça no gênero l, na área i, ou seja, é uma média ponderada dos

T

ilr,

que aqui chamaremos de TWRil. Ao substituirmos o

T

il da equação (13)

no T da equação (9), obtemos: BUR BG r BR ilr il ilr i l il T T T T Y Y Y Y T + +      +             =

∑∑

(14) Observando a equação (14), percebemos que o termo entre col-chetes representa a desigualdade inter e intra-racial para cada gênero l e área i. Portanto, o primeiro termo representa uma média ponderada para estes efeitos, usando as proporções da renda apropriada pelo gênero l, na área i, como um ponderador. Pode ser reescrito da seguinte forma:

BUR BG BR i l il ilr i l r ilr T T T Y Y T Y Y T il + +       +       =

∑∑∑

∑∑

(15) BRU BG BR WR T T T T T = + + + (16)

A equação (16) nos mostra a decomposição do índice de Theil-T em quatro níveis: desigualdade intra-racial (TWR), desigualdade inter-ra-cial (TBR), desigualdade inter-gêneros (TBG) e desigualdade inter-rural/ urbano (TBUR).

Podemos decompor utilizando o primeiro componente da equa-ção (16), ou seja, as disparidades de renda que ocorrem dentro das raças.

(16)

ilr ilr ilr WE BE BE ilrj j ilr ilrj ilr

T

T

T

T

Y

Y

T



+

=

+



=

A desigualdade existente entre os diferentes grupos de escolarida-de j, na raça r, pertencente ao gênero l e à área i poescolarida-de ser mensurada a partir de:









=

ilr ilr ilrj ilrj l ilr ilrj BE

N

Y

N

Y

Y

Y

T

ilr

/

/

ln

A equação (19) representa a desigualdade de renda gerada a partir

da desigualdade dentro de cada gênero no grupo educacional j, na área i. Dito de outra forma, é uma média ponderada dos Tilrj, o qual

chamare-mos de TWEilr. Se substituirmos os Tilr da equação (19) no T da equação

(15), teremos: BUR BG BR j BE ilrj ilr ilrj i l r ilr T T T T T Y Y Y Y T ilr+ + +      +             =

∑∑∑

(19) (20)                 =

ilrj ilrj ijlk k ilrj ijlk ilrj N Y Y Y Y T / ln Onde: =

k ilrj ilrj Y

Y representa o total da renda do grupo de

esco-laridade j, na raça r, do gênero l e na área i; Nilrj representa o total da

população do grupo de escolaridade j, na raça r, do gênero l e na área i. Sendo assim, percebemos que a desigualdade dos indivíduos da raça r, do gênero l, e na área i,

T

ilr, pode ser decomposta em:

(17)









+





=

ilr ilr ilrj ilrj j ilr ilrj ilrj j ilr ilrj ilr

N

Y

N

Y

Y

Y

T

Y

Y

T

/

/

ln

(18) educacionais j. Para isso, utilizaremos a desigualdade existente em cada grupo educacional da raça r, do gênero l, e na área i, Tilrj, descrito abaixo:

(17)

Observando o termo entre colchetes da equação (20), percebe-mos que este representa a desigualdade inter e intra-grupo educacional j, para cada raça r, no gênero l e área i. Dessa forma, o primeiro termo expressa a média ponderada para esses efeitos, utilizando as proporções da renda apropriada pela raça r, do gênero l e área i como ponderador. Podemos então reescrevê-la como:

BUR BG BR BE j ilr ilrj i l r j ilrj

T

T

T

T

Y

Y

T

Y

Y

T

ilr

+

+

+

+





=

∑∑∑∑

(21) BUR BG BR BE WE T T T T T T = + + + + (22)

Esta última equação nos encaminha para nosso objetivo final, que é a decomposição do índice de Theil-T em cinco níveis: desigualdade intra-grupos educacionais (TWE), desigualdade inter-grupos educacionais (TBE), desigualdade inter-racial (TBR), desigualdade inter-gêneros (TBG) e, finalmente, desigualdade inter-rural/urbano (TBUR).

ANÁLISE DA DECOMPOSIÇÃO DO THEIL-T PARA O ESTADO DE ALAGOAS

A TAB. 5 apresenta informações sobre o Índice Theil-T para o

Esta-do de Alagoas, para o Nordeste e para o Brasil, entre os anos de 2001 a 2006. Como pode ser observada, a desigualdade de renda do Nordeste, para todos os anos considerados, é bastante superior à média nacional. No entanto, a desigualdade de renda de Alagoas não segue uma trajetória bem definida, apresentando períodos de melhora na desigualdade (como o de 2003-2005) e períodos de agravamento (2005-2006).

Entre 2001 e 2006, a tendência do índice para o Brasil permaneceu praticamente inalterada, com uma queda de 4,94% entre o primeiro e o último ano, passando de 0,667 em 2001 para 0,634 em 2006. O mesmo não pode ser dito para o Nordeste, que apresentou pequenas oscilações du-rante o período, mas em 2006 apresentou um nível de desigualdade supe-rior àquele mostrado no primeiro período. A região exibiu um leve au-mento de 2,62% entre 2001 e 2006, passando de 0,723 para 0,742. Com relação

(18)

A FIG. 4 abaixo nos permite visualizar de forma mais clara o que

vem acontecendo com a desigualdade de renda nas regiões descritas aci-ma durante o período de tempo considerado. Em 2003, o índice de Theil para Alagoas foi superior ao apresentado na região Nordeste. No

entan-to, 2006 foi o ano no qual o Estado atingiu seu pior nível (0,992).

Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD. TABELA 5

Índice Theil-T de distribuição de renda para Alagoas, Nordeste e Brasil (2001 a 2006)

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Alagoas 0,694 0,754 0,762 0,681 0,606 0,992

Nordeste 0,723 0,756 0,721 0,743 0,703 0,742

Brasil 0,667 0,664 0,648 0,640 0,636 0,634

Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD.

a Alagoas, a desigualdade mostrada pelo índice de Theil apresentou um crescimento intenso entre 2001 e 2006 (42,94%), passando de 0,694 para 0,992.

1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Alagoas Nordeste Brasil

FIGURA 4 − Índice Theil-T de distribuição de renda para Alagoas, Nordeste e

(19)

Tendo como base a metodologia desenvolvida no capítulo anterior,

a TAB. 6 descreve a primeira etapa da decomposição, que se caracteriza na

desigualdade entre as regiões rural e urbano (TBRU) e a desigualdade den-tro dessas regiões (TWRU), de forma que possamos analisar a contribuição dessa variável na desigualdade total de rendimentos.

TABELA 6

Decomposição do Índice Theil-T em dois níveis de desigualdade: intra-rural/urbano e inter-rural/urbano para Alagoas, Nordeste e Brasil

(2001 a 2006) 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Alagoas TWRU 0,638 0,691 0,710 0,632 0,549 0,923 TBRU 0,057 0,063 0,052 0,049 0,058 0,070 T 0,695 0,754 0,762 0,681 0,606 0,992 Nordeste TWRU 0,675 0,702 0,672 0,697 0,658 0,690 TBRU 0,048 0,054 0,049 0,046 0,045 0,052 T 0,723 0,756 0,721 0,743 0,703 0,742 Brasil TWRU 0,639 0,635 0,624 0,616 0,611 0,608 TBRU 0,028 0,029 0,024 0,024 0,026 0,026 T 0,667 0,664 0,648 0,640 0,636 0,634

Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD.

OBS: TWRU = Theil intra-rural/urbano; TBRU = Theil inter-rural/urbano

O TBRU do Brasil manteve-se praticamente estável durante todo o período, com redução praticamente imperceptível, passando de 0,028 do to-tal da desigualdade em 2001 para 0,026 em 2006, o que representa uma propor-ção de 4,20% do total da desigualdade no primeiro período para 4,10% no

segundo. Com relação ao Nordeste, o percentual da desigualdade explicado pelo componente região de moradia apresentou um pequeno aumento

en-tre 2001 e 2002, assim como o Estado de Alagoas. Em seguida, até o ano de 2004,

esse componente passou a representar uma parcela cada vez menor da desi-gualdade. A partir de 2004, voltou a crescer, sendo em Alagoas um crescimen-to mais acelerado do que no Nordeste, de tal forma que em 2006, a influência da região de moradia sobre a concentração de renda era de 0,070 em Alagoas

e 0,026 no Nordeste. No entanto, ambos representavam, aproximadamente,

(20)

A parte da desigualdade explicada pelo diferencial de área rural/urba-na em Alagoas passou de 8,25% em 2001, 8,37% em 2002, caiu para 6,81% em 2003,

e novamente cresceu para 7,18% em 2004, passando para 9,49% em 2005, quando atingiu maior proporção, chegando finalmente e representar, em 2006, 7,06%

do total da desigualdade. No Nordeste, a parcela referente à desigualdade entre as áreas rural/urbana passou de 6,64% em 2001 para 7,01% em 2006.

De maneira geral, o que se observa é que a contribuição da desigual-dade de renda entre as áreas rural e urbana já era bastante pequena em 2001 e permaneceu neste patamar durante todo período analisado, tanto para o Bra-sil, quanto para o Nordeste e Alagoas. Esse resultado nos fornece a informação de que essa variável não tem tanta importância na explicação da desigualdade de renda e, portanto, não deve ser o foco principal de políticas públicas.

TABELA 7

Decomposição do Índice Theil-T em três níveis de desigualdade: inter-rural/ urbano, intra e inter-gêneros para Alagoas, Nordeste e Brasil (2001 a 2006)

Ano Componente Alagoas Nordeste Brasil

2001 TWG 0,572 0,610 0,591 TBG 0,066 0,065 0,048 TBRU 0,057 0,048 0,028 T 0,695 0,723 0,667 2002 TWG 0,618 0,631 0,585 TBG 0,073 0,071 0,050 TBRU 0,063 0,054 0,029 T 0,754 0,756 0,664 2003 TWG 0,625 0,602 0,576 TBG 0,085 0,070 0,047 TBRU 0,052 0,049 0,024 T 0,762 0,721 0,648 2004 TWG 0,563 0,628 0,567 TBG 0,069 0,069 0,049 TBRU 0,049 0,046 0,024 T 0,681 0,743 0,640 2005 TWG 0,475 0,594 0,563 TBG 0,074 0,064 0,048 TBRU 0,058 0,045 0,026 T 0,606 0,703 0,636 2006 TWG 0,841 0,620 0,560 TBG 0,081 0,07 0,048 TBRU 0,07 0,052 0,026 T 0,992 0,742 0,634

Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD.

(21)

A TAB.7 anterior exibe mais uma etapa do processo de decompo-sição da desigualdade de renda total, por meio da análise dos componen-tes do índice T de Theil em três níveis (rural/urbano, intra e inter-gêneros) para Alagoas, Nordeste e Brasil.

Verifica-se que a desigualdade inter-gênero, medida pelo TBG, ex-plica um pouco mais a desigualdade de renda total do que o componen-te entre TBUR. Em Alagoas, esse componente pode explicar melhor a desi-gualdade no ano de 2005, quando atingiu 12,21% do agregado, enquanto a menor participação foi no ano seguinte, em 2006, quando representava

apenas 8,19% do total da desigualdade. Tanto no Nordeste quanto no Bra-sil, as diferenças entre as rendas de homens e mulheres aumentaram entre o primeiro e o último ano, passando de 8,99% para 9,43% no Nordes-te e de 7,20% para 7,57% no Brasil.

TABELA 8

Decomposição do Índice Theil-T em quatro níveis de desigualdade: desigualdade inter-rural/urbano, inter-gêneros, inter e intra racial para Alagoas, Nordeste e Brasil (2001 a 2006)

Ano Componente Alagoas Nordeste Brasil

2001 TWR 0,443 0,505 0,492 TBR 0,129 0,105 0,099 TBG 0,066 0,065 0,048 TBRU 0,057 0,048 0,028 T 0,695 0,723 0,667 2002 TWR 0,487 0,525 0,487 TBR 0,131 0,107 0,098 TBG 0,073 0,071 0,050 TBRU 0,063 0,054 0,029 T 0,754 0,756 0,664 2003 TWR 0,484 0,502 0,478 TBR 0,141 0,101 0,099 TBG 0,085 0,070 0,047 TBRU 0,052 0,049 0,024 T 0,762 0,721 0,648 2004 TWR 0,433 0,529 0,474 TBR 0,129 0,099 0,093 TBG 0,069 0,069 0,049 TBRU 0,049 0,046 0,024 T 0,681 0,743 0,640 continua

(22)

A TAB. 8 descreve a decomposição do índice Theil-T em quatro níveis: desigualdade inter-rural/urbano, inter-gêneros, intra e inter-raci-ais. Verifica-se que, no Brasil, a desigualdade causada pelo fator de discri-minação de raça manteve-se inalterado no primeiro e no último ano, passando por leves oscilações durante o período, mas mantendo-se em uma média de 14,8%. O Nordeste apresentou uma participação média

desse componente um pouco menor que a do Brasil (13,8%), passando de

0,105 (14,52%) em 2001, para 0,101 (13,61%) em 2006.

Em 2006, Alagoas apresentou 16,33%, sua menor participação no total da desigualdade durante o período considerado. A maior participa-ção desse componente em Alagoas aconteceu no ano anterior, quando atingiu quase 20% na participação total, indicando que ainda há uma for-te prevalência de desigualdade entre diferenfor-tes grupos raciais. A média no Estado de Alagoas é muito superior àquela encontrada no Nordeste e no Brasil, ficando em torno de 18,25%.

A próxima tabela apresenta a última etapa da decomposição pro-posta na metodologia, em cinco níveis. É possível observar a grande influ-ência da educação sobre a concentração da renda, sendo o componente TBE responsável por aproximadamente 26,66% da desigualdade total do Brasil

Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD.

OBS: TWR= Theil intra-raça; TBR = Theil raça; TBG = Theil inter-gênero; TBRU = Theil inter-rural/urbano

Ano Componente Alagoas Nordeste Brasil

2005 TWR 0,355 0,499 0,470 TBR 0,120 0,095 0,093 TBG 0,074 0,064 0,048 TBRU 0,058 0,045 0,026 T 0,606 0,703 0,636 2006 TWR 0,679 0,519 0,466 TBR 0,162 0,101 0,094 TBG 0,081 0,07 0,048 TBRU 0,07 0,052 0,026 T 0,992 0,742 0,634 TABELA 8

Decomposição do Índice Theil-T em quatro níveis de desigualdade: desigualdade inter-rural/urbano, inter-gêneros, inter e intra racial

para Alagoas, Nordeste e Brasil (2001 a 2006)

(23)

em 2006, e 28,44% da desigualdade total do Nordeste. Os valores absolutos, bem como seus percentuais sobre a desigualdade de renda total dessa de-composição são encontrados na TAB. 9.

Por meio da análise dessa tabela, percebe-se que as diferenças edu-cacionais é o fator mais importante dentre os estudados para a desigualdade de renda para todas as agregações analisadas. O componente intra-grupo educacional tem um grande peso sobre a desigualdade em todos os espaços geográficos considerados. Isso quer dizer que além de todas as variáveis apresentadas e estudadas neste trabalho, existem outras que explicam gran-de parte da gran-desigualdagran-de gran-de renda.

Dentre as variáveis estudadas, o fator inter-grupos educacionais (TBE) tem o maior impacto sobre a disparidade de renda, tanto em Alagoas, quanto no Brasil e no Nordeste. Em todos os anos considerados, Alagoas apresentou o TBE superior à media regional e nacional, indicando que a desigualdade de renda no Estado é influenciada com mais intensidade pelas diferenças educacionais dos seus moradores. De forma análoga, o Nordeste tem apresentado maiores proporções desse componente com-parado ao Brasil. Esta é uma forte indicação da negligência em relação ao sistema educacional no Nordeste, em especial, no Estado de Alagoas.

Hierarquizando os componentes que mais explicam a desigual-dade de renda no Estado de Alagoas em 2006, começando pelo que

me-nos explica até o que mais influencia, temos o componente inter-rural/ urbano, como o que menos explica a desigualdade de renda no Estado

(7,06%), seguido pela disparidade entre os sexos (8,17%), pelas

desigualda-des raciais (16,33%) e pelas desigualdades nos níveis educacionais (33,57%). E em relação ao Nordeste, o fator que menos influencia a desigualdade segue a mesma ordem dos que foram apresentados para a economia brasileira, sendo os percentuais 7,01% para desigualdade entre as áreas (rural/urbano), 9,43% para as desigualdades entre sexos, 13,61% referem-se às desigualdades entre brancos e não brancos e, finalmente, 28,44% para as disparidades na educação.

(24)

TABELA 9

Decomposição do Índice Theil-T em cinco níveis de desigualdade: desigualdade inter-rural/urbano, inter-gêneros, inter racial e inter e intra grupos educacionais

para Alagoas, Nordeste e Brasil (2001 a 2006)

Ano Componente Alagoas Nordeste Brasil

2001 TWE 0,156 22,46% 0,261 36,10% 0,284 42,58% TBE 0,287 41,24% 0,244 33,75% 0,199 29,84% TBR 0,129 18,60% 0,105 14,52% 0,099 14,84% TBG 0,066 9,44% 0,065 8,99% 0,048 7,20% TBRU 0,057 8,25% 0,048 6,64% 0,028 4,20% T 0,695 100% 0,723 100% 0,667 100% 2002 TWE 0,200 26,49% 0,274 36,28% 0,289 43,54% TBE 0,288 38,16% 0,250 33,06% 0,198 29,90% TBR 0,131 17,31% 0,107 14,13% 0,098 14,74% TBG 0,073 9,66% 0,071 9,37% 0,050 7,52% TBRU 0,063 8,37% 0,054 7,16% 0,029 4,30% T 0,754 100% 0,756 100% 0,664 100% 2003 TWE 0,182 23,91% 0,278 38,58% 0,292 45,01% TBE 0,302 39,66% 0,224 31,03% 0,186 28,72% TBR 0,141 18,50% 0,101 13,94% 0,099 15,22% TBG 0,085 11,11% 0,070 9,66% 0,047 7,28% TBRU 0,052 6,81% 0,049 6,78% 0,024 3,78% T 0,762 100% 0,721 100% 0,648 100% 2004 TWE 0,180 26,47% 0,305 41,06% 0,297 46,38% TBE 0,253 37,22% 0,224 30,15% 0,177 27,70% TBR 0,129 19,00% 0,099 13,31% 0,093 14,55% TBG 0,069 10,14% 0,069 9,27% 0,049 7,66% TBRU 0,049 7,18% 0,046 6,21% 0,024 3,71% T 0,681 100% 0,743 100% 0,640 100% 2005 TWE 0,134 22,13% 0,295 41,95% 0,300 47,08% TBE 0,221 36,40% 0,204 29,00% 0,171 26,81% TBR 0,120 19,77% 0,095 13,46% 0,093 14,57% TBG 0,074 12,21% 0,064 9,14% 0,048 7,50% TBRU 0,058 9,49% 0,045 6,45% 0,026 4,05% T 0,606 100% 0,703 100% 0,636 100% 2006 TWE 0,347 34,94% 0,308 41,51% 0,297 46,85% TBE 0,333 33,51% 0,211 28,44% 0,169 26,66% TBR 0,162 16,33% 0,101 13,61% 0,094 14,83% TBG 0,081 8,19% 0,070 9,43% 0,048 7,57% TBRU 0,070 7,06% 0,052 7,01% 0,026 4,10% T 0,992 100% 0,742 100% 0,634 100%

Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD.

OBS: TWE = Theil intra-grupos educacionais; TBE = Theil inter-grupos educacionais; TBR = Theil inter-raça; TBG = Theil inter-gênero; TBRU = Theil inter-rural/urbano

(25)

Como explorado pela literatura, pudemos confirmar a importân-cia da participação das desigualdades nos níveis educacionais em relação à desigualdade total da renda, tanto quando nos referimos ao Estado de Alagoas, quanto a nível regional e nacional. Como foi levantado no início deste trabalho, a desigualdade de renda está diretamente relacionada aos níveis de pobreza de uma região. Portanto, uma medida a ser tomada para minimizar os efeitos nocivos da pobreza de nossa população é priorizar as políticas direcionadas ao desenvolvimento do sistema educa-cional brasileiro que, infelizmente, encontra-se de forma escassa ainda nos dias atuais.

CONCLUSÕES

Este estudo teve o objetivo de compreender o papel dos compo-nentes socioeconômicos na evolução da desigualdade de renda no Esta-do de Alagoas, fazenEsta-do um comparativo com a região a qual pertence e o total nacional entre os anos de 2001 e 2006. A escolha desse Estado foi mo-tivada pelo resultado encontrado por Caldas e Menezes (2010), no qual apontavam Alagoas como o Estado nordestino que se mostrou mais de-sigual em 2006. Tal propósito foi desenvolvido com base na decomposi-ção do índice Theil-T, por meio de uma adaptadecomposi-ção da metodologia de Akita (2000), desenvolvida por Araújo, Salvato e Souza (2008), realizada em cinco níveis: inter-rural/urbano, inter-gêneros, inter-racial, inter-gru-pos educacionais e intra-gruinter-gru-pos educacionais.

Entre os resultados encontrados, observou-se que a distribuição de renda é menos desigual no Brasil como todo, do que no Nordeste e em Alagoas, com exceção de 2005, quando Alagoas atingiu um nível de desigualdade inferior ao nacional.

Na primeira etapa da decomposição verificou-se que o compo-nente inter área rural-urbana para Alagoas em 2001 era

aproximadamen-te 8,25% e apresentou oscilação, atingindo no último ano, 7,06% da

desi-gualdade total. No Nordeste, a parcela desse componente passou de 6,64%

em 2001 para 7,01% em 2006.

Na decomposição em três níveis, no ano de 2006, o componente inter-gêneros – TBG – é responsável por 7,57% da desigualdade total do Brasil, 9,43% da do Nordeste e 8,17% na de Alagoas. Na sequência, o

(26)

com-ponente intra-gênero foi decomposto em fatores intra e inter-raciais, no qual Alagoas tem participação de 16,33% do total de sua desigualdade.

Na última etapa da decomposição, os componentes intra e inter-grupo educacional foram adicionados na análise. Verificou-se que, em

2006, 26,66% da desigualdade de renda brasileira é explicada pela

desigual-dade inter-grupo educacional. E que, dentre as variáveis utilizadas neste estudo, é a mais relevante para determinar a estrutura da distribuição de renda brasileira. No Nordeste, esse percentual é um pouco maior, alcan-çando, em 2006, 28,44% da desigualdade agregada. O Estado de Alagoas,

no entanto, apresenta proporções ainda maiores, atingindo para este mes-mo ano o percentual de 33,57% desse componente.

A participação do componente intra-grupo educacional é bastan-te elevada, o que indica que exisbastan-tem outros fatores não identificados além dos que foram estudados nesta pesquisa que explicam mais da metade da desigualdade de renda tanto para o Brasil como um todo, quanto para Alagoas ou até mesmo o Nordeste. Pode-se dizer, a partir dessas infor-mações, que os componentes obtidos neste trabalho (área rural/urbano, gênero, raça e educação) quando somados, explicam,

aproximadamen-te, 65,12% da disparidade de renda em Alagoas, 58,49% do Nordeste e 53,15%

da brasileira.

Como já foi dito, esses resultados sugerem reformas que promo-vam a qualidade do sistema educacional brasileiro, sobretudo no Estado de Alagoas, onde essa variável é a que mais explica a desigualdade, espe-cialmente no que se refere ao acesso à escola. Essas políticas são impor-tantes na tentativa de minimizar os entraves causados pela desigualdade de renda sobre o bem-estar dos brasileiros. Isso sem dúvida aumentará as oportunidades de inclusão econômica e social para toda população.

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