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Políticas educacionais em tempos neoliberais: a reposição do dualismo educacional na sociedade contemporânea

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Academic year: 2021

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Guaramiranga – Ceará

POLÍTICAS EDUCACIONAIS EM TEMPOS NEOLIBERAIS: A REPOSIÇÃO DO

DUALISMO EDUCACIONAL NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA1

Márcia Gardênia Lustosa Pires2

Universidade Federal do Ceará – gardenialustosa@yahoo.com.br Tânia Serra Azul Machado Bezerra3

Universidade Federal do Ceará – taniasamb@yahoo.com.br Enéas Arrais Neto4

Universidade Federal do Ceará – eneas_arrais@hotmail.com Elenilce Gomes de Oliveira5

Centro Federal de Educação Tecnológica – elengomes@bol.com.br Antônia de Abreu Sousa6

Centro Federal de Educação Tecnológica – antonia@cefetce.br

Introdução

Este ensaio traz uma discussão inicial sobre a educa-ção e sua vinculaeduca-ção com alguns aspectos políticos e eco-nômicos da sociedade contemporânea, notadamente, com as políticas educacionais que se evidenciam a partir das teses neoliberais. Assim, objetivamos instigar uma reflexão sobre o papel que a educação assume nesse momento his-tórico e sobre as exigências de elevação do nível de escolarização, bastante relevantes no atual estágio de acu-mulação de capital. Como enfatiza Gohn (2002:95) “a edu-cação ganha importância na nova conjuntura da era da globalização, porque o elevado grau de competitividade ampliou a demanda por conhecimentos e informação”.

Nesse sentido, articulando-se com o pensamento de Frigotto (2003) pode-se afirmar que a sociedade atual passa por “uma crise mais geral do processo civilizatório, materi-alizada de um lado pelo colapso do socialismo real e, de outro lado pelo esgotamento do mais longo e bem sucedido período de acumulação capitalista”(Idem, p. 59). Antunes (2003), por sua vez, adverte que o capitalismo em resposta a sua própria crise iniciou:

(...) um processo de reorganização do capital e de seu sistema ideológico e político de dominação, cujos contornos mais evidentes foram o advento do neoliberalismo com a privatização do estado, a desregulamentação dos direitos do trabalho e a desmontagem do setor produtivo estatal, da qual a era Thatcher – Reagan foi a expressão mais forte; a isso se seguiu também um intenso processo de reestruturação da produção e do trabalho, com vis-ta a dovis-tar do capivis-tal do instrumenvis-tal necessário para

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tentar repor os patamares de expansão anteriores (p. 31).

Pode-se identificar, em consonância com o pensamen-to de Silva (1994:12), “o papel estratégico que tem a educa-ção no projeto neoliberal”. Evidencia-se um projeto que procura, entre outros aspectos, atrelar a educação aos obje-tivos de preparação para o mercado de trabalho. Nesse intere, o âmbito educacional passa a ser vinculado a um ideal de formação para o trabalho.

Em continuidade a análise das transformações enfren-tadas pela sociedade contemporânea, percebe-se que a edu-cação no Brasil e em grande parte do mundo mantém vínculo direto com as relações econômicas determinantes da atual fase de reprodução do capital. As transformações ocorridas nas últimas décadas, decorrentes em grande parte, pelo esgotamento do modelo fordista de produção e regulação social e pelo avanço tecnológico, posicionam a educação como um mecanismo para a ascensão social. Como acentua Cláudia Mattos Kober (2004):

Poucas idéias têm hoje a força consensual daquela que vincula educação, emprego e desenvolvimento. A saber, o investimento em educação geraria retor-nos, em termos de produtividade para as empresas, de conseqüente desenvolvimento econômico e bem-estar social para o país e de aumento de renda e pos-sibilidade de inserção social para o indivíduo(p.7).

O fator básico de desequilíbrio social, o desemprego estrutural7, se alastra corroendo a classe trabalhadora e

passa a depositar na educação a responsabilidade de solu-ção para a empregabilidade. É exigido o aumento da quali-ficação, passando pela educação básica do profissional. Isso tudo no intuito de atender a um perfil que vai demandar um “novo trabalhador” que deve ser apto a lidar com as novas demandas do mundo do trabalho e dos avanços tecnológicos. Cabe destacar, nesse contexto de análise à realida-de educacional brasileira, que o acesso ao saber é assegu-rado pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, Nº 9394/96. Todavia, apesar de constituir significativo avanço sob o aspecto his-tórico, a educação não tem se mostrado comprometida com o desenvolvimento pleno da intelectualidade dos sujeitos. O que se expressa é uma política de ensino que privilegia o atendimento imediato aos interesses do mercado. Confor-me Confor-mencionado nos ParâConfor-metros Curriculares Nacionais – PCNs, Ensino Médio:

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(...) o desenvolvimento das competências cognitivas e culturais exigidas para o pleno desenvolvimento humano passa a coincidir com o que se espera na esfera da produção. O novo paradigma emana da compreensão de que, cada vez mais, as competên-cias desejáveis ao pleno desenvolvimento humano aproximam-se das necessárias a inserção no proces-so produtivo” (Brasil, 1999).

A exemplo disso pode ser citada ainda a experiência recente da gradativa substituição das instituições técnicas de ensino médio e profissionalizante pelos Centros Fede-rais Tecnológicos – CEFETs8, a partir da implementação da

Lei 8948/94, como a concretização desse processo.

Assim, considerando os dispositivos legais que nor-malizam a educação – Constituição Federal de 1988, Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96, PCNs, dentre ou-tros mecanismos que legitimam o processo educacional na contemporaneidade, pode-se questionar: que perfil de polí-tica pública de educação se expressa na sociedade contem-porânea? A que interesses atendem os modelos de educação implementados na sociedade atual?

Importa enfatizar que as leis, diante do contexto neoliberal, parecem expressar uma intencionalidade de es-timular uma educação desvinculada da formação integral dos indivíduos, quando claramente legitima a separação entre o intelectual e o operacional. Tal fato pode ser obser-vado a partir do Decreto Lei 2208/97, que impõe a reforma da educação profissional, extingüindo o ensino médio inte-grado ao técnico. Pode-se perceber que essa reforma pare-ce contribuir para a perpetuação de um propare-cesso histórico, cada vez mais freqüente, de rebaixamento da educação dos trabalhadores. Torna-se assim necessário, repensar as pro-postas que acabam por repor o dualismo estrutural da edu-cação, como uma marca indelével no capitalismo.

Portanto, pensar as Políticas Educacionais conduz a uma reflexão acerca dos desafios existentes na forma de organização social historicamente construída em nossa so-ciedade, na qual a educação que se apresenta é resultado de uma construção secularizada e burguesa, que reflete o atendimento as demandas da sociedade capitalista.

Em Tempos Neoliberais

Nesse segundo momento é relevante uma abordagem histórica e conceitual acerca das “teses” neoliberais imple-mentadas no Ocidente, no intuito de perceber sua origem e

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os fatores que as tornam importantes à hegemonia capita-lista. Para tanto, a partir da contribuição teórica de Karl Marx, Adair Ângelo Dalarosa, Perry Anderson, entre outros, pri-meiramente voltemos ao liberalismo, isso porque, neo sig-nifica novo, então antes de adentrar ao recente voltemos ao antigo conceito político-econômico baseado na liberdade das relações financeiras em detrimento da restrição estatal:

O liberalismo é uma filosofia política que defende os princípios do modo de produção capitalista e se fun-damenta na liberdade individual, na propriedade privada dos meios de produção e na liberdade de ação do capital em relação ao trabalho e ao Estado. (DALAROSA, 2001, p.198)

Essa teoria econômica, de acordo com a explicitação de Dalarosa, originou-se na história moderna, constituindo-se como uma superação ao mercantilismo – modelo capita-lista inicial de reação ao feudalismo – o qual baseava-se na incontestável intervenção do Estado na economia. O libera-lismo teve como importante teórico o economista escocês Adam Smith, contemporâneo da Primeira Revolução Indus-trial e da conseqüente ascensão da burguesia inglesa, este defendia a idéia de que os vínculos econômicos e sociais deveriam acontecer sob a “mão invisível do mercado”. O pensamento liberal baseava-se no culto ao individualismo e depositava nas relações comerciais, o bem-estar social de-fendendo que a economia deveria ser regida pela livre con-corrência e, o Estado por sua vez, assumiria o papel de escudo dos interesses da mais nova fase de expansão do capital: “A bandeira do liberalismo clássico erguia-se apoi-ada no mastro do laissez-faire e do laissez-passer (“deixe fazer, deixe passar”)” (DALAROSA, 2001, p.198).

Desse modo, diante do aprimoramento das forças pro-dutivas, tendo-se a eclosão do capitalismo industrial o libera-lismo econômico instalou-se como suporte para a ideologia da classe dominante: a burguesia industrial e comercial. O princí-pio do individualismo ganhou nova roupagem, foi trocado por liberdade, o Estado foi isento de responsabilidades sociais em nome das disputas mercadológicas (livre concorrência) e para a classe trabalhadora mais uma vez restou a pior parte do pro-duto, denunciava Marx (2004) nos manuscritos econômico-fi-losóficos, onde este concentra seu pensamento filosófico “na crítica da economia política de Adam Smith:

Esses interesses (econômicos) livremente abando-nados a eles próprios...devem necessariamente

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en-Guaramiranga – Ceará

trar em conflito; eles não têm outro árbitro que não a guerra, e as decisões da guerra dão a uns a derro-ta e a morte, para dar aos outros a vitória... é no conflito das forças opostas que a ciência procura a ordem e o equilíbrio: a guerra perpétua é, segundo ela, o único meio de obter a paz; essa guerra cha-ma-se concorrência (2004, p.37).

O mundo do capitalismo ocidental se serviu dessa política econômica baseada em um Estado mínimo, até a eclosão da segunda Guerra Mundial (1945), acontecimento que intensificou a forte crise econômica iniciada na depres-são financeira de 1929, entre outros fatores de ordem pro-dutiva, desencadeou um déficit na economia das grandes potências capitalistas e nações aliadas. O momento exigia mudanças para o restabelecimento econômico dos referi-dos países, fez-se necessária uma postura intervencionista por parte do Estado. Assim, inaugura-se mais um movimento cíclico do capital em busca da retomada de sua expansão, como medida, segundo Perry Anderson (1995), adota-se a teoria do economista inglês John Maynard Keynes que de-fendia a intervenção estatal para a recomposição da estabi-lidade no setor financeiro. De fato, a referida posição foi assumida por grande parte dos Estados em crise, implementando-se o keynesianismo.

Diante dessa nova perspectiva, o Estado foi mais uma vez utilizado como meio para assegurar o domínio do capi-tal. A intervenção na economia constituiu-se como uma maneira de sustentar os interesses da propriedade privada com fundos públicos, o fortalecimento estatal favoreceu de forma indiscriminada a acumulação capitalista que implementou sensivelmente as forças produtivas. Fato este que mais tarde deu origem a uma nova revolução tecnológica.

O keynesianismo é assim, considerado por Chesnais (1996), como a idade de ouro do capitalismo, pois se efetivou como uma fase de notório crescimento e recuperação dos lucros; acrescenta esse o autor:

Alguns dos elementos constitutivos dessa fase remon-tam aos anos 20, mas ela nasce verdadeiramente das relações políticas (nacionais e internacionais) e das instituições (sindicatos fortes, Estado social) consti-tuídas ao fim da Segunda Guerra Mundial (p.14).

Percebe-se, então, que o relativo “conforto social” proporcionado pela teoria de Keynes, instalada essencial-mente nas potências capitalistas da Europa, não se tratava

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de uma “dádiva premiada” da nova fase capitalista. Pelo contrário, foi à forma encontrada para combater a crise de superprodução e o forte movimento operário estimulado por interesses socialistas. Esse ciclo capitalista constituiu-se, segundo Antunes, como mais um período expansionista do capital, ocorrido logo após um intervalo de crise. Assim o foi, algumas décadas marcadas por um promissor crescimen-to econômico (recuperação dos lucros), que favoreceram o avanço das forças produtivas capitalistas. Porém, contribui Antunes (2003): “Após um longo período de acumulação de capitais, que ocorreu durante o apogeu do fordismo e da fase keynesiana, o capitalismo, a partir dos anos 70, come-çou a dar sinais de um quadro crítico” (p. 29).

Referido quadro, ainda com base em Antunes, foi in-dício de uma crise capitalista bem diferente das demais. Para esse autor os elementos centrais foram: a queda da taxa de lucros, que entre outros fatores, foi ocasionada por aumen-tos salariais, conquistados através de lutas sociais; o esgo-tamento do modo de produção taylorista/fordista, ocasionado por uma drástica redução do consumo que, por sua vez, era resultado direto do desemprego estrutural9; o

gradativo crescimento da esfera financeira, que começou a ganhar espaço em detrimento do capital produtivo (em cri-se), abrindo espaço prioritário para o capital especulativo, implementando uma fase de internacionalização;e,por fim, adicionando-se a esses elementos uma notória expansão tecnológica, a completa desregulamentação do mercado, a flexibilização produtiva, dentre outros fatores, inaugurou-se a considerada crise estrutural do capital. (Ver Antunes, 2003: 30)

Em resposta, a essa crise que vai além da conjuntura e que abala estruturalmente o modo de produção capitalis-ta, revelando aspectos destrutivos e imensamente contra-ditórios, deu-se início, segundo Antunes (2003) a:

(...) um processo de reorganização do capital e de seu sistema ideológico e político de dominação, cujos contornos mais evidentes, foram o advento do neoliberalismo, com a privatização do Estado, a desregulamentação dos direitos do trabalho e a desmontagem do setor produtivo estatal (p. 31).

Ou seja, restringiu-se o tamanho do Estado, achatan-do com ele os investimentos sociais na tentativa de repor a expansão dos lucros de interesses privados. Temos então, o advento do neoliberalismo – uma política econômica que se baseia em um Estado mínimo (DALAROSA, 2001) – fato que

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nos remete, em alguns aspectos, ao liberalismo clássico do século XVIII. Na verdade, segundo Perry Anderson (1994), as teses neoliberais já vêm sendo discutidas desde o perío-do de “glória” capitalista propiciada pelo keynesianismo. De acordo com esse autor:

Foi uma reação teórica e política veemente contra o Estado intervencionista e de bem-estar. Seu texto de origem é o Caminho da Servidão, de Friedrich Hayek, escrito já em 1944. Trata-se de um ataque apaixonado contra qualquer limitação dos mecanis-mos de mercado por parte do Estado, denunciadas como uma ameaça letal à liberdade, não somente econômica, mas também política (1995, p. 09).

É nesse contexto de crise política e econômica, vivenciado pela versão brasileira do neoliberalismo, que nos deslocaremos de um aspecto geral para elementos mais específicos. No tópico seguinte, discutiremos, de forma ini-cial, o impacto do neoliberalismo no setor educacional. O objetivo é apresentar dados peculiares, revelados em nossa realidade que possam exemplificar os aspectos teóricos até aqui discutidos.

Políticas Neoliberais de Educação sob a Lógica do capital na Década de 90

Os novos processos sociais decorrentes da reorgani-zação do capitalismo em escala mundial e mais especifica-mente da doutrina neoliberal, trouxeram implicações significativas para a organização socioeconômica e política em nosso país, notadamente, para a educação. Evidente-mente a estratégia neoliberal de conquista hegemônica tem no campo educacional um lugar privilegiado. Para Sousa (1995) “o que está em jogo não é apenas uma reestruturação neoliberal das esferas econômica, social e política, mas uma reelaboração e redefinição das próprias formas de represen-tação e significação social” (p.13). Frigotto (2003) corrobo-rando com essa idéia afirma:

Os efeitos do economicismo na política educacional reforçado pela ideologia do regime militar, se expres-saram, negativamente, de várias formas: pelo desmantelamento da escola pública e reforço da educação como “negócio”; pelo dualismo que mate-rializava uma quantidade e qualidade de serviços educacionais diversos para as classes trabalhado-ras e classe dominante; pelo tecnicismo e

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fragmen-Guaramiranga – Ceará

tação que diluíram e esmaeceram o processo de co-nhecimento; pela proletarização do magistério pú-blico etc. (p. 19).

Dentre os diversos aspectos observados na socieda-de contemporânea diante da subordinação da educação a lógica privada do capital, merece destaque à tese do Esta-do Mínimo trazenEsta-do a regulação da educação pelo merca-do. A intenção é tomar as escolas como um mercado para os produtos da cultura de massa e utilizá-la ainda como um canal de transmissão da doutrina liberal, conforme mencio-nado por Silva10 (1995) quando afirma que tal fato se

evi-dencia na utilização de escolas estatais como mercado para produtos didáticos e paradidáticos.

É relevante mencionar na perspectiva neoliberal ou neoconservadora de educação sua intenção de ajustar o processo educativo às necessidades do atual padrão de acu-mulação capitalista. Tal fato traz no plano teórico as cate-gorias sociedade do conhecimento, qualidade total, flexibilidade, participação, formação abstrata e polivalente, utilizadas para expressar a proposta de educação deman-dada pelo capital. Conforme ressalta Silva (1995) a chama-da Gestão chama-da Qualichama-dade Total (GQT) em educação é um exemplo claro de que a estratégia neoliberal na educação, não se contenta apenas em orientar a educação institucionalizada para as necessidades da indústria e do mercado, mas que tentará reorganizar a própria escola.

Frigotto (1995) destaca o Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, Organização Internacional do Trabalho – OIT e organismo regionais e nacionais a eles vinculados como os grandes mentores de uma veiculação de novos ideais capi-talistas que trazem em seus objetivos a proposta de valori-zação da educação básica geral para formar trabalhadores “com capacidade de abstração, polivalentes, flexíveis e cri-ativos (p. 42)”.

Assim, considerando o atual estágio da sociedade ca-pitalista e a relação da educação com a produção material e com a produção ideológica, torna-se imperativo compreen-der que direcionamentos isso traz para as políticas educaci-onais. Dessa forma, como explicitado por Frigotto (2003):

Na perspectiva das classes dominantes, historica-mente, a educação dos diferentes grupos sociais de trabalhadores deve dar-se a fim de habilitá-los téc-nica, social e ideologicamente para o trabalho.

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Tra-Guaramiranga – Ceará

ta-se de subordinar a função social da educação de forma controlada para responder às demandas do capital (p. 26).

Nesse sentido, ao situarmos esse momento histórico em que se impõem as idéias neoliberais nos diversos âmbitos da sociedade, notadamente no cenário educativo, com medidas de adequação do ensino ao atendimento das necessidades do mercado e exigências elevação do nível de escolarização, faz-se mister refletir sobre os modelos de políticas públicas de educação que vêm sendo implementadas, considerando a edu-cação em sua imbriedu-cação com o capitalismo.

Considerações Finais

A freqüente necessidade de atendimento as deman-das da produção se concretiza nos esforços para que se cri-em, na sociedade contemporânea, modalidades de educação destinadas a atender as exigências do mercado. Assim, ve-rifica-se a implementação de propostas como a Educação de Jovens e Adultos – EJA, com o propósito de elevar a escolarização dos trabalhadores. A crescente oferta de cur-sos para o segmento social que precocemente abandonou a escola, é um exemplo da forma diferenciada do trabalhador exercer o seu direito à educação em nossa sociedade. Como afirma Santos (2005) a dualidade do ensino,

configurada em uma escola profissionalizante para as classes populares e uma escola propedêutica para a elite volta à cena, trazendo na bagagem um distanciamento maior das possibilidades de educação de qualidade para os filhos de trabalhadores (p. 10).

Tal fato evidencia a existência de um modelo de edu-cação que contribui para a perpetuação das desigualdades sociais, numa espécie de reposição do dualismo estrutural da sociedade capitalista que reproduz a divisão de classe. Como explicitado por Gramsci (1978:118) a divisão da esco-la em clássica e profissional foi um esquema racional que destinou a escola profissional às “classes instrumentais”, e a clássica para as classes dominantes e intelectuais.

Com efeito, percebe-se que historicamente o dualismo educacional sempre esteve presente nos processos de escolarização da classe trabalhadora. A civilização moder-na é um exemplo disso, quando com o desenvolvimento da indústria, instala-se a separação entre o ensino intelectual e o técnico.

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Dentre as alternativas pensadas pelo projeto político neoliberal que precariza cada vez mais, do ponto de vista qualitativo, a educação do povo trabalhador, figura o pro-grama de Alfabetização Solidária que atua desde 1997 nos municípios brasileiros que apresentam os maiores índices de analfabetismo. Este programa divulga ter como missão a ampliação da oferta de educação para os jovens e adultos analfabetos, afirmando ainda ser essa ação imprescindível para a inversão dos indicadores sociais no Brasil e no mun-do (www.fe.usp.br). Nas mais recentes propostas políticas de educação que se propõem a elevar o nível de escolarização das grandes massas, situa-se o Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e Ação Comunitária – Projovem, lançado pelo Governo Fede-ral em novembro de 2005.

Ao considerarmos o Projovem em seu aspecto políti-co políti-compensatório, situado no quadro das Políticas Neoliberais, pode-se afirmar que este, enquanto proposta de educação aligeirada – de ensino fundamental e “qualifi-cação” profissional em apenas 01 (um) ano, aliado a uma experiência de ação comunitária – revela aspectos que si-nalizam a existência de uma proposta política de educação para a juventude que legitima as formas de rebaixamento da qualificação do trabalhador.

Dessa forma, a relevância de tais questionamentos se justifica pelo fato de se buscar uma análise das presen-tes formas de escolarização que são ofertadas na contemporaneidade através de programas, projetos e pro-postas de política pública que se efetivam como experiênci-as de educação no Brexperiênci-asil. Portanto, este artigo expressa uma preocupação com a oferta diferenciada de educação para a classe trabalhadora que se evidencia na sociedade contem-porânea, como um reflexo da divisão de classes sociais na educação. Que modelo de educação é destinado aos traba-lhadores em nossa sociedade?

O esforço teórico desse estudo se justifica, então, pela necessidade de se discutir as políticas públicas de educa-ção de forma a evitar que se perpetue um processo cada vez mais freqüente de rebaixamento da educação dos tra-balhadores. Assim, considerando que as atuais propostas de políticas públicas de educação refletem um modelo de escolarização que contribui para perpetuação das desigual-dades de classe, questionamos: que política pública dará conta de uma educação que verdadeiramente contribua para a emancipação humana e que possa contribuir para uma transformação social?

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NOTAS

1 Este escrito foi elaborado a partir dos estudos e pesquisas

efetivadas no LABOR – Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho e Qualificação Profissional – sendo os au-tores citados integrantes do mesmo.

2 Assistente Social/UECE, mestranda em Educação

Brasilei-ra (UFC), bolsista do CNPq; gardenialustosa@yahoo.com.br.

3 Pedagoga, mestranda em Educação Brasileira (UFC),

bol-sista da FUNCAP; taniasamb@yahoo.com.br.

4 Doutor em Educação Brasileira (UFC), Coordenador do Núcleo

Trabalho e Educação e do LABOR; eneas_arrais@hotmail.com.

5 Pedagoga, doutoranda em Educação Brasileira (UFC),

Pedagoga do CEFET-CE; elengomes@bol.com.br;

6 Pedagoga, Mestre em Educação brasileira (UFC), Pedagoga

do CEFET-CE; antonia@cefetece.br.

7 Nota de esclarecimento: o desemprego constitui-se

atual-mente como um fenômeno estrutural, por estar relacionado à eliminação da participação direta do trabalhador na pro-dução em detrimento da utilização de máquinas “inteligen-tes” (autômatas). Sendo também o capitalismo atingido em essência uma vez que a atual crise enfrentada estremece as bases da sociedade produtora de mercadorias, segundo es-tudiosos marxistas da atualidade (como Mészáros).

8 A Educação Profissional Tecnológica de graduação e de

pós-graduação oferecida a quem haja concluído o ensino médio (LDB, 1998), tem caráter eminentemente operacional (produ-tivo) que se diferencia do aspecto acadêmico (pesquisa), é mais direcionada para o saber fazer e norteada no sentido de capacitar tecnólogos para o mercado de trabalho.

9 Índice de desemprego ocasionado pela perda de

centralidade do trabalhador no ato laborativo, em virtude da expansão tecnológica, sob a égide capitalista. Fenôme-no diferenciado dos índices de desempregados em outras fases de expansão do capital, por parecer irreversível e, por-tanto, de caráter estrutural, diante da nova organização so-cial do trabalho.

10 Referido autor afirma ainda que essa tendência se

expres-sa também nas operações de fundações como a Fundação Victor Civita e a Fundação Roberto Marinho, ligando educa-ção e mercado. Outro exemplo citado é no campo da informática, pois as escolas servem como forma de expan-são e de lucros para a comercialização de produtos da in-dústria da informática.

Referências

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