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Zero, 2004, ano 19, n.3, abr.

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(1)

Curso

de

Jornalismo

completa

25

anos.

E promove dois

eventos

nacionais

(

••••••••

Florianópolis

15 de

abril

de 2004

Ano

XIX

-

N° 3

Instituto Livre

de

Jornalismo

surge pra

sacudir

debates

sobre

a

profissão

Pressões

fazem

governo

ceder

R$

4 bilhões

para

grandes

grupos

de mídia

(2)

, I

DEPENDENTE

,

..,

PRIVilEGIO

DE R 4

BllUoES

Otimismo

exagerado

e

investimentos

errados

geram

dívida

de

R$

10

bilhões

para

os

principais

grupos

de mídia

Carlos

Lessa,

presidente

doBancode DesenvolvimentoEco­

nômicoeSocial

(Bndes),

anuncioua

criação

deumalinhade

financiamentoparasocorrer

alguns

gruposda mídianacional. Ofinanciamentoseriautilizadoparaacomprade

papel

deim­

prensa e para a

substituição

das dívidas que o setor

possui

com osbancosemercados

capitais

noexterior enoBrasil. O

pedido

de

ajuda

feito

pela

Associação

Nacional de

Jornais

(ANJ)

,

pela

Associação

Brasileira deEmissorasde Rádio eTelevisão

(Abert)

e

pela

Associação

Nacional dasEditoras de Revistas

(ANER)

aobanco estatalemoutubrode2003provocoudiver­

gências

entreas empresas de

comunicação

do

país.

A

ajuda

aosetorédefendidapor

Lessa,

noentanto,elere­

vela queo

tipo

de

empréstimo

que

poderá

serfeitonãoéoque aempresa

gosta

defazer.Parao

presidente

do

Bndes,

ofinan­

ciamento paraa comprade

papel

é uma

operação

típica

de

capital

de

giro

equeobanco nãogostade

fazer,

além

disso,

as

empresas de

comunicação

têm

capital

fechado e um

"peso

muito

grande

das

personalidades

queas

dirigem".

Lessaainda

ressaltou que,caso o

pedido

fosse

atendido,

ovalor queobancoteriaque desembolsar é

muitoaltoequeoidealseriaatendê-loemparte.

O

projeto

apresentado pelaANJ, pelaAbert

e

pelaANER

nofinal de2003constavadeum

estudo com aestimativade endividamento total do setor estimadoem

R$

10bilhões. No

casodo crédito paraacompra de

papel,

as

associações

pediram R$

1,2

bilhão,

o

equiva­

lente a um ano de consumo das empresas de

jornais

e revistas. O pagamento seria em

médioprazo, trêsanos,comdoisanosdecarênciae

pagamento

semestral de

juros.

Lessa reconhece queamídia

impressa

foiumadasmais

prejudicadas,

pois,

além detersofrido

com a

desvalorização

cambiale ofrustrado crescimento

econômico,

como aumentodo

risco

Brasil,

reduziram-se oscréditosparao financiamento da

importação

do

papel

e as

empresas tiveramdecomprar à vista.

Cercade

R$

5

bilhões,

foram solicitadosaoBndes paraa

recomposição

das dívidas das

empresas. O valor

corresponde

a50%dasdívidasexistentesem31dedezembrode 2002. O prazo de

pagamento

seriade10anos.Lessadiz queo bancoéafavor do

auxílio,

mas o

assunto

foge

à

alçada

da estatale

exige

decisãoda

presidência

da

República

porsetratar

deuma

situação

"muito

especial,

muito

grave".

"Um programa desse

tipo (financiamento)

tem de sermuito bem

desenhado,

para que não

seja

instru­

mentodeinterferênciaede

manipulação.

Não

podemos

cons­

truirnada que

seja

interpretado

comofavorecimentoagrupo,

gruposou

segmento

do setor".

O

pedido

das três entidades está sendo alvo de críticas por

segmentos

do

próprio

setor.Unsconsideram queo

empréstimo

vaiafetara

independência

dasempresaseoutrosacham quevai

representar

um

privilégio

aosetor. O que todos concordamé que há pouca

transparência

nahora dasempresas de comunica­

ção

divulgarem

seus

próprios

números,

e ,

poderia

gerardúvi­

das no momento da

partilha

do

empréstimo.

Em entrevista à Folha de São

Paulo, Jorge

Nóbrega,

diretorde

planejamento

e

controle da

Globopar,

concordacom o financiamento: "Acha­ mos o

empréstimo

importante.

Asempresasseendividaramem

dólar. O câmbio

triplicou,

e areceitadosetor

caiu,

porcausada

redução

da atividade econômica. Não queremos

subsídio,

mas o

alongamento

dadívida.Seo

projeto

for

aprovado,

éclaroqueas

condições

dos créditos serão de conhecimento

público".

Dennis

Munhoz,

presidente

darede

Record,

pediu

demissão da

vice-presidência

da Abert emfevereiro de 2004

alegando

ser contrário a

liberação

de crédito do banco de fomento estatal para financiar dívidas da mídia.Umcomunicado da empresadefendeque uma

possível

linha de financiamento do Bndes deva ser utilizada parainvestimento no

próprio

negócio,

com aumento da

capacidade

de

produção

e uso de novas

tecnologias.

"Casoo

projeto seja

aprovado

como

está,

odinheiro

público

irá pagar porfalhase errosde

gestão,

em vezdeserrevertidoembenefícios diretosouindiretosà

sociedade",

protesta.

OBndes estáreticentesobreo

empréstimo

que

poderá

salvaramídia.Sefosse analisar ohistórico do

banco,

o setor

poderia perder

as esperanças com

relação

a uma

possível

ajuda.

Isso porquedurantequase40anosas

políticas

operacionais

daempresa

proibiam

qualquer

tipo

de financiamento àmídia. Em

1990,

o banco estatal passou a admitir o

fornecimento de créditosaosetormasapenas paraacompra de

equipamentos

fabricados no

país,

sendo queamaioriadosveículosde

informação dependiam

de

equipmentos

im­

portados.

Foia

partir

de 1997queasdecisões doBndescom

relação

aosetormudaram. De

janeiro

de 1998 asetembro de

2003,

obanco

emprestou

R$ 111,6

milhões aosetor.

(GT)

Precipitação

em

telefonia,

Internet

e

TV

paga

criaram

o

rombo

Ras

Nosúltimos 10anos asdívidas de

alguns

dos maiores grupos de

comunicação

noBrasil

chega­

ram a

R$

10bilhões.InvestimentosemTV porassinatura,

telefonia,

internet,novosparques

gráficos

e

ampliação

de mercado forammotivosque fizeramcomquemuitosentrassememcrise.Osetor

apostounaestabilidadedo

câmbio,

noconstantecrescimentodaeconomiae nas

previsões

sobreo

mercado

futuro,

oque de fato nãoaconteceu.Empresascomo aGlobo

Comunicações

eParticipa­ ções

(Globopar),

oGrupo Abril,oGrupoFolhae aRBSestãonotopodas quemaisdevem.

A

Globopar

-holding

dasorganizaçõesGlobo

-possui

R$ 5,6

bilhõesem

dividas,

a

maiorentreempresas de mídianoBrasil,cerca

de60%do total.

�sse

valor

.não

i?clui

asdividas

O ESTADO DE S PAULO

da

Infoglobo

- editora

dos jornaisO

Globo,

Ex- '.

tra,Diário de SãoPaulo, do Valor Econômico(

jornal

feitoemparceriacom oGrupo Folha)

-edasrádios,que não fazemparteda

Globopar.

O

principal negócio

que fezcomquea

Globopar

seendividassefoioinvestimentoemTV por

assinatura (Net Serviços,TV por satéliteeGlobosat)que durou até 1998.A

holding

poderia

estaremsituação pior,senão tivessedesistido decomprar duas empresas de telefonia celular

(TeleCelular SuleTele NordesteCelular)em

julho

de98.Ogrupoteveum

prejuízo

de

US$

547,5

milhõesem2001devidoaforte

retração

domercado

publicitário

e a

perdas

financei­ ras.ATV

Globo,

quepossuidireitos exclusivos de transmissão daCopaaté

2006,

tambémteve

prejuízo

de

US$

30 milhões por nãoconseguirrevenderosdireitoaoutrasemissoras.

O

Grupo

Abril tambémtevecomo

principal

motivode endividamentooinvestimentoem

TV por assinatura. O valor da divida da empresa é de

R$

926milhões. RobertoCivita,

presiden­

tedo

Grupo,

garanteque a

quantidade

investidanosetorfoibem maior do queadividada

empresa. "Fizum

esforço

para esqueceroquantoinvestimosnessaárea".AAbril éacionista

majoritária

da TVA(sistemade TV paga transmitidaviacaboemicroondas)efoi acionista da

DirecTV

-ex-parceriacomsóciosestrangeíros.

O

Grupo

Estadoendividou-se,entre outrascoisas,devidoaapostaemtelefonia.Ogrupo

foiacionistaminoritário da empresa detelefoniacelularBCp,queacabou vendidaaogrupo

mexicanoIelmex,em2003,

após

passar por

longa

crise. Cercade

US$

120milhões foram tomados de

empréstimos

noexteriorparainvestirnoparque

gráfico

e naBCP. Ototal da divida

chega

a

R$

384milhões

A RBSdeclarater

R$

370milhõesemdividas.

FOLHA

DE

S

.ell.

ni

'ULO

da TV por assinaturaFoiaprimeiraempresa de mídia(Net Sul)e emaentrar

telefonia,

no ramose­

gundo

Nelson

Sirotsky,

presidente

do grupo. O

ve-ículo foiacionistadatelefônicaCRT

(Companhia

Riograndense

de

Telecomunicações)

eda empresa de telefonia celularBCp,masvendeu sua

partenastelesem98epassouocontrole daNetSul paraaGloboCaboem2001para reduzir

dividas. Alémdisso,

lançou US$

175milhõesemtítulos dedividanoexterior.

O

Grupo

Folha

perdeu

dinheiro investindonos

jornaisAgora

eValorEconômico.Esti­

ma-sequeaempresadeva

R$

290 milhões.Em1995,oGrupoinvestiunainauguraçãodoseu novoparque

gráfico

quecustoucercade

US$

120

milhões,

investimento pagona

época

com recursos

próprios.

Em

96, lançou

oUOL(Universo

Online),

provedor

deacessoàinternete a Plural,

gráfica

comercialemparceriacom aeditoraamericana

Quad

Graphics.

Em1999,o GrupoFolha

lançou

o

jornalAgora

e,em2000,associou-seàs

Organizações

Globo para

publi­

car oValor Econômico.

Textos: Giselle Tiscoski

ZERO

ANO XIX- Nº

3- ABRIL2004- CURSO DE

JORNALISMO- CCE- JOR- UFSC

jornal-laboratório

do Curso de

jornalismo

da UniversidadeFederal deSanta Catarina Arte:AlexandreBrandão

Apoio:

Labfoto,

LabInfografia,

LabRádio

Colaboração: Apufsc,

Professor Lúcio

Baggio,

Professora HeloizaHerscovitz, Radiobras,RooseveltPinheiro,

Copy-writer:

Ricardo Barreto

(final),

TadeuMartins, Upiara

Boschi

Direção

de Artee de

Redação: jornalista

e

professor

RicardoBarretoSecretaria de

Redação:

GiselleTiscoski Serviçoseditoriais:

Agência

Brasil,

Agência

Senado,

AssociatedPress, CNN,

Comunique-se,Der

Spiegel,

Editor&Publisher,Folha deSão

Paulo,jornal

do

Brasil,

Los

Angeles

Times,MiamiHerald, Mirante,

Newswee,k,

National

Geographic,

ObservatóriodaImprensa,OEstadode São

Paulo,O

Globo, Slate,

TelaViva,The

Daily

News,The

Washington

Post,USA

Today Edição:

AlexandreBrandão,TadeuMartins, UpiaraBoschi

(Sêniors),

Camille

Bropp,

Fernando

Angeoletto,

Vanessa

Clasen,

Editoração

eletrônica,

produção

gráfica

e

circulação:

WendelMartinsTratamentode

imagens:

AlexandreBrandão,WendelMartins

Fotografia:

LeonardoMiranda,MarianaDauwe,Vinícius

Carvalho,

Wladimir D'Andrade Laboratório

fotográfico:

WladimirD'Andrade Textos:AnaCarolinaDionísio,CamilleBropp,Fernando

Angeoletto,

GiselleTiscoski,MarianaDauwe,Mariana

Hinkel,

NaianaOscar,

VanessaClasen,TadeuMartins,

Wellington

deCampos

Impressão:

Diário Catarinense

Redação:

Cursode

jornalismo

(UFSC-CCE-jOR),

Trindade,

CEP

88040-900,

Florianópolis,

SCTelefones:55

(48)

331-6599, 331-9490,

331-9215Fax:(48) 331-9490Sítio:www.zero.ufsc.brWebmaster: Procura-se E-mail: zero@cce.ufsc.br

Circulação:

Nacional, gratuitae

dirigida

Tiragem:

5.000

exemplares

...

MelhorPeçaGráfica

I, II, III, IV,VeXISetUniversitário-PUC-RS 88,89,90,91,92e98

-ZERO

3°Melhor

..

Jornal-laboratóriodo Brasil Expocom94

..

Melhorjornal-laboratório 1PrêmioFoca

(3)

,'r

DEPENDENTE

I/fIIIIII

,

CIDADAO

E

UE

PAGA

Diante

de

17

mil demissões

em

dois

anos,

governo

tenta

salvar 500 mil

outros

empregos

AmídianoBrasil está

chegando

aofundo do

poço. Comumadívidade

aproximadamente R$

10

bilhões,

as

principais

empresas dosetortentamse

virarcomo

podem

para burlaroscredoresetentar

prorrogarosprazos paraospagamentos.Em ape­ nasdoisanos, conforme dados do Ministério do

Trabalho,

17 mil vagas foram cortadas

pelos

veícu­ los de

comunicação

dos

principais

grupos.Nomes­ mo

período,

a

circulação

de

jornais

caiude 7,9

milhões de

exemplares/dia

para7milhões e ade

revistas caiude17,1milhões para

16,2

milhões de

exemplares/ano.

A crisepreocupaogoverno que semostra

disposto

acriarumalinha definancia­

mentoparasocorrer osetor.

Oerrodemuitas empresasde

comunicação

foi

ter

apostado

noconstantecrescimentodaecono­

miae naestabilidade do câmbiodesde meados dos anos90.Aeuforia da fase do Real fezcomqueos

veículosseendividassememdólar para

ampliar

seu

leque

de

negócios

eaumentara sua

capacidade

de

produção.

Coma

desvalorização

cambial de1999,

devidoacrise

asiática,

grande

parteda dívidacres­ ceu. Relatório do setor encaminhado ao Banco

Nacional de Desenvolvimento EconômicoeSocial

(Bndes),

garanteque 80%dovalor das dívidassão

emdólare

83,5%

temvencimentoemcurtoprazo.

O investimentoem novos

negócios

comoTVpor assinatura,

telefonia,

internete

ampliações

liderao

ranking

das dívidas.Muitosveículos decomunica­

ção imaginavam

quehaveriauma

rápida

transfor­

mação

da mídia tradicionaleapostavamna con­

vergência

com as

telecomunicações.

Um

exemplo

foi o que ocorreu com a

Glopopar, holding

das

Organizações

Globo,

que apresentaumdívida de

R$ 5,6 bilhões,

cercade60%do total nacional.O

endividamento da Globovemdosinvestimentosfei­

tosdesde1995emTVpaga. Mea

culpa

- Tantoas

empresas quearris­

caraminvestirnosetor,ogoverno, os

bancos,

os

consultores,

osinvestidorese elas

próprias

superestimaram

o

potencial

do mercadonaci­

onal.A

própria Agência

Nacional de Telecomu­

nicações

(Anatel),

errou aos estimar que em

2003 haveria10,1 milhões deassinantesdeTV

porassinatura,sendo queonúmeroreal foi de

3,5milhões.

RobertoCivita,

presidente

do

Grupo Abril,

ou­

traempresaquesedeu malcom osetordeTV por

assinatura,diz queoendividamentosedeveaocusto

do

capital

no

Brasil,

enãoa erros

estratégicos.

A

Abril fechouo

balanço

financeiro de2002com uma

dívida de

R$ 926

milhões.

É

acionista

majoritária

daTVA

(sistema

deTVpagacomtransmíssãopor

cabo epor

microondas)

efoiacionistadaDirec­

TV,viasatélite.

O otimismotambémcontaminouomercado da

mídia

impressa

noBrasil.Emdezanosforam gas­

toscercade

R$

700 milhõesnacompra derotati­

vas e na

ampliação

de parque

gráfico

- FSPeGlo­ bo.Francisco

Mesquita

Neto, o

presidente

daAs­

sociação

Nacional

de]ornais

(AN])

edo conselho

de

Administração

do

Grupo

OEstado deSãoPaulo diz que "todosos

jornais

investiramnainformati­

zação

das

redações

e nacompra de

impressoras

paraaumentara

tiragem

eter

edições

coloridas".

O

Grupo

Folha,

apesar deterinvestidoeminternet

e

gráfica

comercial,

acredita queogrosso da

dívi-da dívi-da empresaédevidoaosinvestimentosfeitosnos

jornaisAgora

eValor Econômico.Aempresa deve

R$

290milhões.

Outrofator que contribuiuparaacrisedamí­

diafoioinvestimentoemtelefonia.Comaonda de

privatizações

e aidéia dequeosetoririadominar

omercado das

comunicações

no

Brasil,

empresas comoogrupoOEstado deSãoPauloeRBSsupe­ restimaram os investimentos. ARBS foiacionista

datelefônicaCRT

(Cia.

Riograndense

de Telecomu­

nicações)

eda empresa de telefonia celularBCP. Osgastoscom acompra de

ações

das telescontri­

bui paraoendividamento da empresa que declara

dever

R$

370 milhões.O

Grupo Estado,

queapre­

sentaumadívida de

R$

384

milhões,

foiacionista

minoritário daempresadetelefonia celularBCP. O

ápice

dacrise dasempresasdecomunica­

ção

foiem2002. Sónesse ano asempresasacu­

mularam

prejuízos

de

R$

7 bilhões.A

Globopar

apresentouamaiorpartedo

prejuízo

de

R$

5 bi­ lhões.A receita

líquida

dosetorem2002foi20% menor,emvaloresreais

(descontada

a

inflação),

doqueem2000. O investimento

publicitário

teve

queda

de

R$

400 milhõesentre2000e2002. Diantedacrise muitas empresastentamrene­

gociar

asdívidas.O

Grupo

Estadoanunciounofi­ nal doano

passado

aconclusão da

renegociação

da dívida da empresa.O

longo

processo resultou

nasaída dafamília

Mesquita

doconselhoexecutivo

da empresa.A

Globopar

tentou

renegociar

adívida comtrêsfundos deinvestimentosdos EstadosUni­

dos.Noentanto, emdezembro de 2003osfundos

entraramcom a

ação

naCortede Falências doDis­ trito Sul deNova

York,

pedindo

a

intervenção

da

I

ustiça

americananoprocessode

renegociação

das

dívidascom a

holding.

Ogoverno brasileiro está

preocupado

com asi­

tuação

da mídianoPaís.Porisso,está

disposto

a

criarlinhas de financiamento. O

problema

éque hámuitascontrovérsiasentreasempresas deco­

municação

com

relação

a esse

apoio

direto doEs­

tado.Issoporque

poderia prejudicar

a

imagem

da

imprensa

noque diz

respeito

a

isenção

das infor­

mações.

Para muitos representantes do setorde

comunicação,

a

garantia

deumaboa fatia

publici­

tária

já poderia ajudar

asalvara

situação.

Pressão

e

polêmica

com

interesses

excusos

Record,

SBT

e

Rede

TV

questionam

o

financiamento,

mas

Senado

aprova

e

compra

a

briga

Depoisdetanta

pressão,

oBndesvairepassar até

R$

4 bilhões para

alguns grandes

grupos de mídia

para

ajudá-los

asairdoburaco.Adecisãoanunciada

porDareCosta,

vice-presidente

dobanco,numa au­

diênciadaComissãode

Educação

do Senadorealiza­ danodia24 demarço, está criando muita

polêmica

entreasempresas dosetor(vertexto

lado).

Odebate

giraemtomodepontos

polêmicos

como a

utilização

dosrecursosparaopagamentodedívidase afalta de

transparência

doprojeto

apresentado

pelo

bancoes­

tataldefomento.Alémdisso,

alguns

grupos defendem quea

ajuda

doBndes

poderá

afetara

independência

daimprensa.

Dare Costadeixou claronaaudiência queobanco cobrará maiscaro

pelas

linhas derefinanciamentode

dívidaseque só quemapresentarumbomprojetoserá

beneficiado.Aproposta,que estásendochamada Pró­

Mídia,

é criartrêslinhas de financiamentosendouma

para promoverodesenvolvimento,umaparaaaquisi­

ção

de

pape1

eoutraparaareestruturaçãodas dívidas.

Alinha definanciamentoparaodesenvolvimentoen­

volve

questões

como

aquisição

deequipamentos,como nocasoda TV

digital.

Alinha para comprade

papel

tem o

objetivo

de nacionalizaromaterial

comprado pelas

empresas.Nocasoda linha de refinanciamentodas dí­

vidasoprocesso serámais

complicado,

pois

irá envol­

vercredores deestruturassocietáriasdiferentes.

Oscréditos serãodistribuídosàs empresasdeco­

municação

porintermédiodeoutrosagentes finan­

ceiros. Deacordocom apropostadobanco,a

inicia-tivade utilizar

instituições

intermediáriasé parator­

nar as

transações

maistransparentese

independen­

tes.

Aliás,

independência

das empresas éumdosas­

suntosque mais preocupamosgrupos decomunica­

ção.

Issoporquecom a

ajuda

doBndesasempresas

tememque

haja

alguma contrapartida

envolvendo

exigência

nas

programações.

Noentanto,AlanFisch­

ler,gerente de

telecomunicações

daestatal, garante

que não serão

exigidos

determinadostiposde pro­

gramações.

"Não cabe aoBndes, nemfaz parte de suas

políticas,

definir,

subjetivamente,

oque éounão mais

adequado",

esclarece.

Representantesda TVRecord,SBTeRedeTV,cri­ ticaramosexecutivosdobanco duranteaaudiência noSenado,

alegando

que ele

poderia

terelaboradoo projetode

ajuda

à mídia favorecendo

algumas

em­

presas que estãomuitoendividadascomo a

Globopar

eRede Bandeirantes."Éumabsurdoo usodo dinhei­

rodo Bndes paraopagamento de

qualquer dívida",

criticouDennis

Munhoz,

presidente

daTVRecord. "O Bndes não recebepratofeito. Temosumcorpo técni­ coformadonobanco que é capaz dese

debruçar

so­

bre

qualquer questão

quesejadeinteressenacionale

elaborarumapropostasobreotema",adverte Dare Costa. Além

disso,

o

vice-presidente

da estatal enfati­ zouquetodosossetoresenvolvidos foram ouvidos.

Odebateemtomodofinanciamento doBndes para

asempresas de

comunicação

revela que, por trásde

tanta

polêmica,

com

relação

aorefinanciamento das dívidasseescondeumjogodeconcorrências.Os

gru-pos contráriosaoprojeto

(Record,

SBT eRedeTV)

nãoescondem quea

estratégia

éusar acrisefinancei­

rade

alguns

meios paracrescerem.EvandroGuima­

rães,

vice-presidente

de

relações

institucionaisdaTV

Globo,

defendeque nãose

pode

deixar queojogode

concorrênciaentreosgrupos

atrapalhe

oprojetodo

Bndes deapoiarocrescimentoda indústria nacional. "Háum

jogo

de

palavras

nessa

questão

de concorrên­

cia.Seumaempresatemdívidase

pretende

pagá-las,

certamentevaideixar de investir porumtempopara

poder

acertarcom seuscredores. Quemnãotemdí­

vida,vai investirseulucroe comisso

pode

seaproxi­ mardequem é

líder",

defende-seGuimarães.

Johnny

Saad, presidente

do grupoBandeirantes,tambémre­

bateuascríticas das empresas contráriasaofinancia­ mento, insinuandoque

algumas

emissorasobtêmre­ cursosdeorigemdesconhecida.

Paraossenadores queestavamnaaudiênciadaCo­ missãode

Educação,

oprojetode

ajuda

das empresas de

comunicação

temque sair. Osetoréconsiderado

estratégico

eimportanteparaapreservaçãoda cultura

nacional. O senadorRobertoSatumino

(PTIRJ),

autor

dorequerimento

apresentado

paraodebate,disse que oimportanteé queofinanciamentosejafeito de forma

transparenteejusta.Osenadore

jornalista

Hélio Costa (PMDBIMG)lembra queoimportanteésepreocupar com osquase 500 mil

profissionais

queosetorempre­

ganoBrasil.

Textos:

Giselle

Tiscoski

Record

ataca

empréstimo

para

a

Globo

"Éumabsurdooque estáprestesa

acontecer.O povo brasileiropoderá desembolsar atéR$4 bilhões para pagarasdívidas da Rede Globo queao longode décadasmonopolizamos

meiosdecomunicação,que estãona piorporcausada máadministração."A

reportagemda TVRecord,dojornalista RodolphoGamberini, quefoiao ar no

programaRepórterRecord do dia 1 de

abrilapresentouaRedeGlobocomo

vilãnanovela sobreofinanciamentodo

Bndes parasocorrer aalgumas grandes

empresas da mídia brasileira. Coma

reportagemintitulada Bndes: O ralo do dinheiropúblico,aemissora não

economizouacusaçõesaogoverno,ao

bancoeà concorrente.Oconteúdoe agressividadedoprogramalevouo

bancoaexigirdireito deresposta,

baseadonaLeideImprensade1967,

com mesmaduraçãoena mesmo

horárionoprazodeuma semana.

O programaAsacusaçõesvieram de

todasasformas. "Escândalo anunciado" ou"umavergonhanoar",assimo repórterdefiniuadecisão do banco

estatal de financiarasdívidas de empresas decomunicação.E não foi só isso.Durantetodooprograma não

faltaramexpressõescomo"(...)sãoos brasileirossofridosque pagam as

contasda RedeGlobo".Juntocom as acusaçõesapareceramimagensde

pessoaspobres, passandofome, chorando,sem casaenquantoo apresentadordizia "seráqueisso é

justo?".Ainda,foi feitaumacomparação

envolvendoosR$4 bilhõesque irão paraospagamentosde dívidas das

empresase oquepoderiaser feitopela

população."Comodinheiro dariapara resolverpartedosproblemasdoINSS,

comprar 35 milambulânciasou250mil

viaturas",emendava.

Asapelaçõestambémchegaramao

Senado.Isso porqueareportagem

criticouossenadoresqueparticiparam da audiência da Comissão deEducação

doSenadorealizada dia 24 demarço,

onde foiapresentadaapropostade ajudado governoàmídia. Opresidente

Lula também nãoescapou das acusações.Areportagemlembrava que

nogovernodeFernandoHenrique Cardosoosbancosforam favorecidos

com odinheiropúblicoequeagoracom

Lulaosbeneficiadossãoosempresári­ osda mídia.

Alémdisso,foram mostradosdepoimen­

tosdosrepresentantesda rede Globoe

da rede Bandeirantes feitosdurantea

audiêncianoSenado. "Cadaumfaçao

quequiser,sequiserinvestir,pagar

dívidas,comprar canarinho...", provocou

JohnnySaad,presidenteda Bandeiran­

tes sobreofinanciamento. Não faltaram críticas.

"Dinheiro

públicoparacomprar canarinho?Eassim queodinheirodo povoé tratado?". Nocasode Evandro

Guimarães, representantedas OrganizaçõesGlobo,ascríticasvieram quandodisse queaempresanãoestá contandocom odinheirodaestatal. Conformeareportagem,aGlobo

aceitou outrasajudasdo Bndescomo em

2002,quandorecebeuR$280 milhões paratentarsalvarasdívidasda

Globocabo.Ofinanciamento foi criticado

pelo TribunaldeContas da União que

notificounodia15 demarçosuaposição

contráriaaofinanciamento daGlobopar.

Nanota,oTCUpedequesetenha

cuidadoemaplicardinheiropúbliconas organizaçõesGlobo. Ocasoda TVTupi

edaManchete tambémfoi lembrado. "Por queestas empresastambémnão

foramajudadas pelo governo? Ninguém ofereceusocorro aelas".

(4)

..'I:....'l' •• ,

BERNARDO KUCINSKI

"Jornalistas

estão

mais

ligados

com

a

elite do

que

com

a

população"

De

pedra

a

vidraça.

Poucasvezes uma

frase

feita

pôde

serutilizada

comtanta

propriedade

quantono casode BernardoKucinski,pro­

fessor

doDepartamento de

jornalismo

e

Editoração

daUSp, licen­ ciadoparatrabalharna

Secretariade Comunica­

ção

de GovernoeGestão

(Secom),

onde éassessor

especial

do ministro­

chefe

LuizGushiken. Ser

responsável pela

comuni­

cação

do governo Lula

depois

deanos

fazendo

crítica da mídia éo novo

desafio

do

jornalista.

Em

entrevistaaoZero,ele

analisaa

comunicação

institucional do governotuca­ no, dosEUA,da

Inglaterra

edo governo atual. Admite

aindaestar

aprendendo

como

funciona

o

poder

por

dentroecomentaas

falhas

norelacionamento da ges­

tão

petista

com a

imprensa

eos errosdos

jornalistas.

Por

fim,

retomanovas

abordagens

sobrea

imprensa

alternatio«eacobertura de guerra.

Bernardo Kucinski

formou-se

emFísicanaUniversi­ dade de SãoPaulo,em1967,mas nunca exerceu a

atividade. Com

participação

ativana

elaboração

de

jornais

estudantis,desde cedomostrouque tinha

vocação

parao

jornalismo.

Começouacarreirano

jornal

alternatioo Amanhã do Grêmio da Faculdade de

Filosofia

daUSPe

seguiu

como umdos

protagonistas

da

imprensa

nanicanoBrasil.

Foi

correspondente

do

Opinião

no

período

emque

estavaemexílio voluntárioemLondres.NoMovimen­

to,trabalhoucomoeditor

especial

e

foi

protagonist«

no

"grande

racha" que desestruturoua

equipe

do

jornal,

emabril de 1977. Oincidente,que dividiua

equipe

foi

a

publicação

distorcida deum

artigo

de Kucinski.Poucotempo

depois,

nodia]Odemaio,o grupode

jornalistas

dissidentes de Movimento

fundou

o

jornal

Em

Tempo.

Kucinski elaborouum

projeto

editorial ousadoparaa nova

publicação,

sobo

forma­

tostandard,visandorompercom o

padrão

tablóide dominantenaimprensaaltematioa.

O

jornalista

tambémsedestacouna

grande

imprensa,

onde

foi

editor de CiênciaeVida Moderna daVeja,editor

de cadernos

especiais

da revistaExame,

correspondente

emLoudres daGazetaMercantil,

produtor

elocutorda

BBCdeLoudres,além de

correspondente

noBrasil do

inglês

The Guardianedo Latin American

Weekly

Report.

Kucinski também

participou

da

produção

dodocumentá­

rioTheconquest

of

theAmazon, paraaBBC.

Como eternomilitante do Partido dos Trabalhado­

res.foi

assessorde Luís Inácio Lula da Silvanas

eleições presidenciais

de1998edo Instituto Cidada­

nia,

organização

não-governamental

também vincula­ daao

PT.já

escreveuvários livros deeconomia,

política

e

comunicação,

noBrasile noexterior.Entre eles,destacam-se Abertura: História deumacrise

(1976),

Asíndrome daantena

parabólica:

Éticano

jornalismo

brasileiro

(1996)

eAscartasácidas da

campanha

de Lula de1998

(2000).

Esseúltimo éuma

compilação

de e-mails queo

jornalista

enviava diariamenteaLula durantea

eleição,

comentandoas

notícias dos

jornais

eTVeindicandooscaminhosa seremtomados

pela campanha.

Em1991,

publicou

sua

tesede doutorado sobotítulo

jornalistas

erevolucio­

nários- Nos

temposda

imprensa

alternatiua,uma

pesquisa

que durou oitomeses,comaté 12 horas de trabalhopordiaeque virououtrodeseuslivros. Talvezomaiscomentadoeanalisado. "Saí delacom as

costas

quebradas

euma

compulsão pelo

teclado que nuncamais terminou",lembra.

Kucinski diz que acorda todososdias às5h30 para

lerosprincipais

jornais

brasileirose

estrangeiros

e prepararumaanálise do noticiárioparao

presidente

Lula. Também

participa

de reuniões diáriasnoPalácio

do Planaltoemque são analisadasastendências da mídia, que resultamem umpaperparao

presidente.

ero- Comofoisairda

imprensa

di­ áriaedas aulasnaUSPeassumira

assessoria de

imprensa

do gover­

nofederal?

Bernardo Kuciski - Muda tudo. Primeiroparo deter contatocom os es­

tudantes apesar deteraceitadoum con­

vite para dar aulas em

Brasilia,

que não deu muito certo.

Parotambémdeescrever na

imprensa.

Eutinhaumacolu­

na naInternetque estavasetornando muito

popular.

Essa

foiaparteruim. A

parte

boa é que abriumcamponovode

aprendizado

paramim. Sãoaspectos novosdacomunica­

ção

que nãoconhecia. Por

exemplo,

como funcionaa co­

municação

a

partir

do

poder,

os

problemas

do governo para secomunicare oqueogoverno faz paratentarvendera sua

imagem.

Estafoiaparteinteressante. Eudiria até quemais

interessante que

isso,

foiumacerta

dessacralização

da

pró­

pria

idéiado

poder,

ou

seja,

você descobrircomo o

poder

funciona dentro dos corredores do Palácio. No fundo há

uma certa

decepção.

Você

percebe

que ascoisas se

decí-atarefade coordenareuni­

ficara

publicidade

e apro­

paganda

do governo fede­

ral,

incluindo asverbas de

propaganda

das empresas

estatais, ou

seja,

a propa­

ganda

institucional. Este

tipo

de

propaganda

está todocom aSecom. As em­

presas têmautonomiapara

fazerseus

planos

de propa­

ganda,

mas procuram se­

guir

uma

orientação

geral

da Secom em termos de

imagem

e de conceitosge­ rais que o governo quer

passar.

Exemplo

disso é o

Programa

Fome Zero e as

contrapartidas

sociais. Es­

sassãoidéias

gerais

queaSecomtentainduzirasempresas a

seguirem.

E do

ponto

de vista

formal,

aSecomtem que

aprovartodosos

planos

de

propaganda

e

contrapartida.

Isso

eratarefa

antiga

da

Secom,

só queeravistodeummodo burocrático.

Agora

não,

évistodeummodo

operacional.

A

Secomtambémtomou

algumas

iniciativas parauniformizar

asassessoriasde

imprensa

do

conjunto

dosistemaGoverno

-umsistema

grande,

composto

por maisde100 assessorí­

as.Nóstambémcriamosofórum dosassessores,uma

reu-Acomunicaçãodo governo FHeeratoda terceirizada. Não éa

fórmula adequada

paraum

espírito

decomunicaçãodemocrática

niãomensal queserveparatrocar

idéias,

receber

experiên­

cias e,

eventualmente,

distribuir manuais com

instruções

decomo

agir

emdeterminadas

situações.

ASecomtambém

temfeitoum

serviço

de

apoio

às assessoriasa

partir

dereu­

niões diárias dosrepresentantes daSecomcom a assesso­

riado

presidente

e com o

gabinete

do

porta-voz

da

presi­

dência.A

partir

dessa

reunião,

nósdefinimos

ações

aconse­

lháveisaosministrose ao

presidente.

ASecomtambémfaz

análises da mídia.Anteseuescreviaumaanálise

diária,

que

setornou

popular

na

Secom,

e

durou seis meses. Mas ela en­

frentou

problemas.

Acabousen­

do comentadade forma

negati­

va

pela

mídia,

como se fosse umatentativadecercear e con­

trolar a

imprensa.

Então eu

achei que não era

adequado

continuarmos

publicando.

Mas

a

Secom,

periodicamente,

faz uma análise de como a mídia

está tratando oGoverno.

Z - A

comunicação

insti­ tucional dogoverno estárecebendo muitascríticas.

O

jornalista

LuísClaudio Cunha criticouaSecom.Re­

clamouque até

hoje

não

conseguiu

falarcom omi­ nistro

José

Dirceu. Aque se devemessascríticas? O

governo estádificultandoo acessoà

informação?

BK

-Os

ministros,

especialmente

o

José

Dirceu,

tem

umacarga de trabalho

impossível

deserlevadado

jeito

que

Falta

apuração.

Se

observar,

percebe

que

a

estrutura

das

reportagens

é

feita

a

partir

de

uma

única

fonte.

Jornalistas

conversam com uma

pessoa

e

tem

a

matéria.

Acho que

virou

uma

cultura

jornalística

demdeformamuito mais

simples

do que pensamos quan­

doestamosde fora. Z

-Quais

as

principais

críticas que você fazia à

comunicação

institucional dos governos anteriores? BK - Antes não conhecia de

perto como era feita a

comunicação

deumgoverno. Possofazerumacríticaaos

governos anterioresa

partir

doque eu

passei

a

aprender

depois

quefuipara Brasília. Nós descobrimos que

prati­

camentetodaa

comunicação

do governoanteriorerater­ ceirizada. Isso é ruim porque

o

próprio

governo nãoacumu­

la

conhecimentos,

não forma

equipes,

nãohá

planos

decar­

reira e as

relações

se tornam

umpouco

promíscuas

entreco­

municação

degoverno,

agênci­

asde

publicidade

eveículosde

comunicação.

A

terceirização

não é uma fórmula

adequada

parasecriarum

espírito

deco­

municação

democráticanogo­ verno. Outro

aspecto

que eu

também

fiquei

sabendo

depois

é que tudoeravoltadopara a

figura

do

presidente,

queera oreferencial absolutopara

as tarefasde

comunicação.

Oresto, cadaministroquese

vire,

que cuidedesua

comunicação.

Z

-O que aSecretaria de

Comunicação

tem feito para mudaresses

problemas?

BK- AnovaSecomredefiniusuas

(5)

..��---�������--..---..��---..�---��--.----����--�-���--�

---��---BERNARDO KUCINSKI

mal-entendido.

Z- Recentemente você es­ tevenos Estados Unidose na

Inglaterra

para observar o

modelo de

comunicação

des­

tes

países. Qual

foia sua ava­

liação?

O que

podemos

copi­

ar e o que não devemos to­

marcomo

exemplo?

BK - Tanto

nos EstadosUni­

dos como na

Inglaterra

o quea

gente

notaé quea

comunicação

éconsideradaumaatividade

central,

uma

componente

es­

sencial da atividade dogoverno. Nada é feitosemantesana­

lisaro

aspecto

da

comunicação.

Hámuito investimentoem

comunicação,

vocêtem

pessoal

de

carreira,

staff adequa­

do, chefia, subchefia,

recursos. Osgovernos, tantonosEs­

tados Unidosquantona

Inglaterra, acompanham

atentamente

a

imprensa

pública.

Nosdois

países,

a

relação

com asocie­

dade civilsedá através dosmeiosde

comunicação,

daim­

prensacomo uma

instituição.

Vocêtemquaseumritual de

encontros entreo governo e os

jornalistas.

Sãoencontros

diáriosem

alguns lugares,

duasoutrêsvezespor semana,

emoutros.Sãocoletivase

breafings

queasautoridades têm

com os

jornalistas.

É

através disso queas

informações

de

governo vão

chegar

atéa sociedade civil e gerar matérias

jornalísticas.

As

diferenças

entrea

comunicação

dos gover­ nosdos Estados Unidoseda

Inglaterra

sãosutise

originári­

asdediferentes

regimes

políticos,

na

Inglaterra

o

parlamen­

....---�

e tarismoe nosEstados Unidoso

presidencialismo.

Além dis­

so,há tambéma

diferença

estruturalentre os

países.

A In­

glaterra

éum

país

onde há

diferenças

étnicasmuito

impor­

t; tantesentreas

regiões,

maséum

país

pequeno,

unificado,

J

sendo queos

principais jornais

estãoemLondres.Os Esta­

c, dos Unidos é

uma

federação

de

estados,

muito

grande,

pa­ recida com o

Brasil,

onde você tem estados com relativa

independência, grandes

cidades fora da

região

da

capital

e

etc.Na

Inglaterra,

como o

primeiro

ministrovaitodasema­ na ao

parlamento

e

presta

contasistoé difundido

pela

tele­ visão.Esta

prestação

decontasde governo através damídia

se dácom uma enorme

intensidade,

porque elaacontece

através do

parlamento.

NosEstados Unidoso

presidente

não

vaiaocongresso,issosóacontece

excepcionalmente.

Então

aCasa

Branca,

o

Departamento

de Estadoeatéo

Pentágono

organizam

encontrosdiárioscom

jornalistas

onde eles pres­

tamcontas,

respondem

perguntas,

dizemo queo governo

estáfazendo e o

quê

vaifazer.Emnenhum desses dois

paí­

ses seutiliza dinheiro

público

parafazer

propaganda

de go­ verno. Eles fazem

propaganda

de

algumas

operações

das

quais

ogoverno

precisa

de

apoio,

como no casode enchen­

tes,

vacinação,

mas nuncaparafazer

propaganda

do

pró­

prio

governo. Z

-Em

agosto

de2003arevista Primeira Leitura

publicou

uma matéria com o título Comissário do

povo,

na

qual

criticao seutrabalhonaSecom. Como

éconvivercom essascriticas?Eoque fazer paraman­

terumrelacionamento

amigável

com a

imprensa?

BK

-Quando

o

jornalista

agedemá

fé,

nãotemsolu­

ção.

Amelhorcoisaquese

pode

fazer éseafastar dele.E

este foi o caso dessa revista. Antes dessa

matéria,

acho

que

publicada

em

abril,

o

Mendonça

deBarros

publicou

outra, tambémnão muitopequena, sobre o boletimLei­

turada

Mídia,

emque elecriticavauma

edição

e mecri­

ticava,

discutindo inclusive minha

personalidade.

Só que ele não tinha lido amatéria. Amatériatinha sido escrita

pelo

Cláudio

Serri,

excelente

jornalista,

etinhaumafrase

queestavaemtomqueacho

inadequado

em

relação

a uma

imprensa

degoverno.Amatériadiscutiaoboicote daim­

prensaao

Programa

Fome Zero.

Achoqueo

Mendonça

de Barros

agiu

com umacerta

displicência

jornalística.

Ele não sabia que não

podia

confiarem umarepor­

tagem

deoutro

jornal.

Eleseba­ seou em uma

reportagem

do

Correio Braziliense. Cometeu

esse erro, e

depois

voltou com essa matéria do "comissário". Ele encomendou para uma re­

pórter

de

Brasília,

que disse que

pediu

uma entrevista para mim

e eu

recusei,

mas naverdadenãohouve este

pedido.

De­

pois

eudescobrique elatelefonouparaassessoriadeim­

prensa da

Secom,

quando

deveriaterentradoem contato

comigo.

Eu não tenho assessor de

imprensa

na Secom.

Todasaspessoas que queremfalar

comigo

telefonampara

mim. Foiumamatériafeita demá

fé,

com

afirmações

fal­

sas,

distorções, descontextualizações.

Depois

eu mandei

está. Dirceu está até

propondo

umadivisãoem suacargade

trabalho,

entãoelerealmente nãotem

tempo

parareceber

aspessoas, mas deveriaternaminha

opinião.

Deveriase

incutirnogoverno aidéia dequetempo dedicadoà mídia nãoé

tempo

perdido,

ao

contrário,

é

tempo

ganho,

é inves­

timento,

obrigação.

Eessacultura estáfaltandonogoverno.

Alguns

ministrostêmessa

percepção

e

postura.

Masaocon­

junto

do governo,faltaessa

posição.

Eu admito serverda­

deiraa

afirmação

deque émaisdifícil falarcomministros

nesse governo do que em governos anteriores porque

ouvi essa

reclamação

de mais deum

jornalista.

Mesmose

nãofosse

verdadeira,

ofatodessa

percepção

estardissemi­

nada,

éumacoisaruimparaogoverno.

Z

-O governoFHC editou umalei que

restringe

o acesso adocumentos

públicos,

tornando-osconfíden­

ciais.Pelotexto,eles

podem

setornar secretosinfini­

tamente. Existe

algum

projeto

para revogarestalei? BK

-Acho que existe uma iniciativa do governo para

modificarestalei. Nãoseiseestão

pensando

em umamedi­ da

provisória,

ouse

algum deputado

vaiapresentarumpro­

jeto.

Eu seiqueexisteestainiciativa. Z

-Recentemente,

o

jornalista

Ricardo Kotscho

reclamou que o governo vem investindo mais em

marketing

do queemassessoria de

imprensa. Que

rumo o governo

pretende

dar à

comunicação

ins­

titucional?

BK

-O Kotscho tem

razão,

principalmente

no que se

refereaos

primeiros

seismeses. Neste

período,

nósda

Se-que

alguns jornalistas

comete­

ram,foi

interpretar

istocomo a

criação

deumsistemaautoritá­

rio e decontroleda

imprensa,

quando

ao

contrário,

se

preten­

deesvaziaromáximo

possível

o

sistemaestatal de

comunicação

que sempre

existiu,

tirando dele

ocomponente

chapa

branca,

ou

seja,

tornando-o mais autôno­

mo,

independente,

eissoéde­

mocratizar. Idealmente

poderí­

amosaté pensarem umaRadiobrás

-apesar deserfinanciada

pelo

Estado

-que não

obedeça

anenhuma desuasdiretrizes.

Os

jornalistas

queescreverammatériasfalseandoa

política

do governonessa

área,

prestaramum

grande desserviço

à demo­

cratização

da

comunicação.

Z

-Qual

é aidéiapara oprograma de rádio do

presidente?

BK- Os

primeiros

sempre são umpouco tentativas. Na

verdade,

eunão

gosto

de programas desse

tipo.

O

presidente

secomunica muito com a

população,

ele éumexcelente comunicador. Seesseprogramareiteraroaspectovertical da

comunicação

do

presidente,

ou

seja,

ele falae aspessoases­

cutam,euacho quevaiserruim.Oidealseriaumprograma emqueo

presidente dialogasse

com a

população.

Z

-Como

surgiu

aidéia de

produzir

o boletim

LeituradaMídia?

Qual

era o seu

objetivo?

P/ta

como

se

houvesse

um

�oft$enso de que

o

Lula de

qualquer

maneira estaria

no

segundo

turno.

Na

disputa

pelo segundo lugar,

a

mídia

tinha

mais

inclinação

para

a

candidatura

do

José

Serra

Apessoaéchamadadebandidoeacusada,oque violaos

princípios

deJustiçae

transforma

amídiaemtribunal de linchamento

com,tínhamosatendência deprocurar

soluções

por viada

propaganda.

Mas

depois

de

algumas

discussões nósdefini­

mosqueo

governo

nãodeve fazer

propaganda

stricto-sen­ su. O governodeve fazer

campanhas

de

esclarecimento,

e

isso

implica

uma

mudança

de

ênfase,

ou

seja,

um usomai­

orde

operações

de

esclarecimento,

dosrecursosdo

Jorna­

lismoedas

Relações

Públicas,

e um uso menordetécnicas

de

propaganda.

Um

exemplo

dessanovamaneirade traba­

lhar com a

propaganda

é a

campanha

de esclarecimento à

opinião

pública

decomo usar omicrocrédito. Osrecursos

estão

disponíveis

e as pessoas não sabemusar porque

nãofoifeitauma

campanha

deesclarecimento.

Z

-Quais

as

principais mudanças

implantadas

na

Radiobrás

(Agência Brasil)

e noprograma de rádio

AvozdoBrasil?

BK- Na

vozdo

Brasil,

houveuma

mudança

detimbre.Ela

deixoudeserpomposae

formalística,

tornando-seumpouco

mais

fluente,

coma

linguagem

urnpoucomais

parecida

com a dasemissorascomuns.Issonapartedo

Executivo,

ado Con­ gresso nãomudouemnada.A

Agência

Brasilsetornou mais

ativa. Passouacobrirumnúmero maiordeeventoseaconteci­

mentosdasociedade

civil,

não apenasestritamenteaondevaio

presidente

e oqueaconteceucomele.Eles estãotambémbus­

candourn

jornalismo público,

que não

seja

chapa

branca. Essa éurnabusca

complicada,

enão seio

quanto

elesavançaram.

Estáhavendourn

grande esforço

da Radiobrásporum

projeto

de televisão latino-americana. ARadiobrásestátambémaper­

feiçoando

o seusistemade

clipagem

ederesenhas.Em

geral,

háurn

aprimoramento

e urna

profissionalização.

O

equívoco

BK - Este

era o boletim em que eu faziauma análise diária do trabalho da

mídia,

o queacabou

"pegando"

um

pouco

mal,

fazendocomqueeudeixasse de fazê-lo.Aidéia

original

erafazerumaanálisedosnossos

procedimentos

de

comunicação,

umaautocrítica

diária,

no sentido de aper­

feiçoar

esses

procedimentos.

Mascom o

tempo

nóscome­

çamosa

perceber

que parafazerautocríticadesses proce­

dimentos,

você

acaba,

emcerto

sentido,

dando

munição

para

queamídia

critique

aindamais

profundamente

oGoverno. Nós não devemos

bloquear

o

trabalho da

mídia,

mas tam­

bém não devemoscom nosso

trabalho dar mais

munição

a

eles. Desdeocomeço nóssem­

pretomamosocuidado dees­ creverdeformaqueessestex­

tos

-que sãode trabalhointer­

no

-vazassem na

imprensa

sem

prejuízo

ao governo.

existiaumlimite decomotra­

taras

questões.

Eu tratei mais

doserrosda mídia doquedos

dogoverno.

Aí,

aofalardoserrosda

imprensa

pega mal. Os

jornalistas

não

gostam

desercriticados.

Depois,

essesdo­

cumentos continuaram

chegando

à

mídia,

criando ainda

mais

polêmica.

Seestá

prejudicando

ogoverno, é melhor

nãofazermais. Masestáfazendofalta.Aturmaestavaacos­

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Referências

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