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A expansão da política pública de avaliação por meio do SAEB e SINAES

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Academic year: 2021

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ANTONIA DE ABREU SOUSA UFC/CEFETCE ELENILCE GOMES DE OLIVEIRA UFC/CEFETCE TÂNIA SERRA AZUL MACHADO BEZERRA UFC elengomes@ibest.com.br

Na trajetória da educação brasileira não houve registro da implantação de sistema avaliativo, que permitissem a sistematização de dados e publicidade do quadro educacional das cinco Regiões e seus municípios. O preenchimento dessa lacuna somente ocorreu por meio da Constituição vigente, que, no seu artigo 209, condicionou a liberdade da iniciativa privada oferecer ensino à autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público (BRASIL, 1988). A Emenda Constitucional n.14/1996 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação n. 9.394/1996 permitiram a introdução de dispositivos sobre a avaliação e controle da regulação da qualidade do ensino. A este respeito merece ressalto o artigo 9º da LDB, que incumbe à União de:

V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação; VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino (...). (BRASIL, 2001, p.20).

A atribuição de organização de um sistema de informações e indicadores educacionais motivou o Governo federal a realizar censos educacionais, que serviram como base de distribuição de recursos. A Lei n. 9.424/1996, que instituiu o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério – FUNDEF – determinou a utilização da estatística para o cálculo do valor anual mínimo, tornando o censo obrigatório anualmente, sob responsabilidade do MEC.

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Atendendo a essas orientações, por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP, foram estruturados dois grandes sistemas de avaliação – o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes).

O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica

O Saeb foi criado mediante a lei n. 9.131/1995, após sucessivas medidas provisórias, com o objetivo de coletar informações sobre os alunos, professores, diretores e escolas públicas e privadas, a cada dois anos. Sua aplicação é feita em uma amostra nacional de alunos do País, resguardando percentual representativo de cada uma das 27 unidades da Federação.

Em 2003, esse exame foi realizado por 300 mil alunos, abrangendo a 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e a 3ª série do ensino médio de escolas pertencentes à rede particular e pública. Os dados do Saeb evidenciaram que, de um lado, 89% dos alunos da 8a série do ensino fundamental não demonstraram bom desempenho em relação à habilidade de leitura e que 97% não desenvolveram habilidades de resolução de problemas.

Esse quadro não se revelaria sem a existência do sistema avaliativo de âmbito nacional, daí a sua relevância. A sistemática adotada permite ao Saeb apresentar resultados que evidenciam os conteúdos nos quais os alunos demonstram deficiências de aprendizagem. Vale ressaltar que os relatórios do Saeb também sugerem medidas que contribuam para reverter essa situação, destacando-se a ênfase na capacitação de professores. A necessidade de políticas destinadas ao amparo sócio-econômico dos estudantes em situação de pobreza, entretanto, é apenas mencionada.

Vale ressaltar, no âmbito do Saeb, a criação do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem, mediante Portaria Ministerial 938/1998, cumprindo papel relevante na alimentação de informações. Atestando as competências e habilidades que se espera do aluno, o Enem contou com a adesão de 115 mil alunos em 1998, sendo que em 2005 se inscreveram 2.970.92 alunos e ex-alunos do ensino médio, representando aumento de 492% em relação a 2004. Esse crescimento, contudo, decorreu da obrigatoriedade para quem deseja se candidatar a uma vaga no Programa Universidade para Todos – PROUNI. O Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior - Sinaes

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O SINAES foi criado por meio da Lei 10.861/2004, com o objetivo de avaliar as instituições, os cursos e o desempenho dos alunos. Esta Lei também criou o Exame Nacional de Desempenho – Enade, substituindo o Exame Nacional de Cursos – ENC, chamado de Provão. Implantado em 1996, o Provão evidenciou resultados preocupantes do desempenho dos alunos de vários cursos da Graduação, desencadeando debate sobre as deficiências do ensino superior no País, tanto no meio acadêmico quanto nos Conselhos de entidades, como a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, que reclamou o fechamento de cursos deficitários e suspensão de autorização de novos cursos (OAB, 2005).

Outro aspecto desencadeado pelo mecanismo do Provão foi o desenvolvimento do caráter competitivo entre as instituições de ensino superior, que buscam aperfeiçoarem-se, a fim de ocupar melhores posições. De acordo com a escala adotada pelo MEC, os cursos classificados nos níveis A,B e C são considerados aceitáveis, ao passo que, as de nível D indicam ensino precário, não condizente com o mínimo esperado para a formação de um profissional de nível superior. Além disto, merece ressalto o fato de que os resultados do Provão foram vinculados ao processo de renovação do reconhecimento de cursos de graduação, possibilitando o uso da avaliação para fins premiativos ou punitivos. Nesta perspectiva, o MEC permitiu a renovação automática do reconhecimento dos cursos bem conceituados em três avaliações consecutivas.

O caráter de premiação e punição com o qual se revestiu o Provão foi alvo de severas críticas (CATANI; DOURADO; OLIVEIRA, 2002), sobretudo em relação ao estímulo à competição entre as instituições de ensino. O relatório do Provão de 2003, entretanto, reconheceu a sua insuficiência na orientação de políticas, na definição hierárquica dos cursos e na orientação de políticas (BRASIL, 2005). Considerando esses limites, a lei do Sinaes proíbe que os resultados do Enade sejam utilizados para fins punitivos ou premiativos.

A criação do Enade, em substituição ao Provão, resulta, em parte, da tentativa de aperfeiçoar a metodologia e o propósito da avaliação no ensino superior. Esse novo Exame tem o objetivo de aferir o conhecimento dos estudantes do primeiro e do último ano dos cursos de graduação. O resultado desse Exame comporá a nota do curso, em seu processo de reconhecimento ou de renovação, sendo considerada insuficiente como único elemento capaz de avaliar o curso, vez que não atesta condições de laboratórios, técnicas de ensino, titulação de professores, acervo bibliográfico, etc.

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Situando os Sistemas de Avaliação Nacional no contexto das Mudanças no Estado Brasileiro

A criação do sistema nacional de avaliação, na década de 1990, preenche uma lacuna na história da educação brasileira. A ênfase ao processo avaliativo, nesse momento, por outro lado, constitui indicativo da nova face assumida pelo Estado. Nesta perspectiva, articula-se à interpenetração do público e do privado. Visto desta perspectiva, a criação do Sinaes, por exemplo, vincula-se à massificação do ensino superior por intermédio da rede particular de ensino, que oferece 70,8% do total de matrículas.

A análise da política de avaliação não desconsidera o crescimento da rede particular de ensino superior e o estancamento da rede pública. O Estado brasileiro, sobretudo nos anos 1990, descentralizou suas ações e ampliou o seu poder de controle, valendo-se de mecanismos normativos e avaliativos no campo educacional, constituindo desdobramentos efetivos das modificações das suas funções, que assumem caráter nitidamente regulador.

A adesão dos alunos aos exames, no caso do Enem, decorre menos da aceitação e legitimação do instrumento do que da crescente utilização dos seus resultados por universidades brasileiras, como um dos critérios de ingresso em cursos superiores. Esse exame, portanto, constitui estratégia de indução da reforma deste ensino, embora não apresente caráter obrigatório. Além disso, conforme ressalta Sousa (1999), ao se centrar nos resultados, a avaliação individualizada nega as condições estruturais que afetam, sobretudo, a população pobre no País e prejudica os alunos oriundos das escolas que têm precárias condições de funcionamento.

Os vários instrumentos avaliativos não podem ser compreendidos por si, pois vinculam-se às mudanças econômicas e políticas mais amplas, indicando perspectivas sócio-ideológicas desses processos. Os sistemas de avaliação adotados no País confluem para a padronização e a mensuração da aprendizagem, tornando-se central no processo de reforma da educação no País. Esses sistemas avaliativos resultam de alterações nos processos de gestão e de regulação do ensino e permitem ao Estado desencadear mudanças, que resultam na diversificação e diferenciação da educação superior e, conseqüentemente, provocam impactos na cultura institucional das instituições, especialmente das universidades.

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Atualmente, encontra-se um leque de recursos normativos que adentrou o currículo, redefiniu a organização e gestão escolar e fixou a qualidade a ser obtida e seus parâmetros. Vale ressaltar que a ação normativa do MEC reforçou a regulação federal pela via da avaliação, concentrando poder decisório, de modo que o INEP tornou-se, por excelência, o órgão mensurador da educação no país. Exprime-se assim, pela via do Executivo federal, o papel regulador do Estado, permitindo a consolidação e centralização do poder decisório e da função controladora da avaliação.

Referências bibliográficas

BRASIL. Constituição República Federativa do Brasil. Brasília, Senado Federal, Centro Gráfico, 1988.

_______. Educação profissional: legislação básica. 5 ed. Brasília, MEC, 2001.

_______.Relatório do ENC 2003. Disponível em <http://www.inep.gov.br> Acesso em 10 de agosto de 2005.

CATANI, A.; DOURADO, L.F. ; OLIVEIRA, J.F. A política de avaliação da educação superior no Brasil em questão. In: DIAS SOBRINHO, J.; RISTOFF, D.I. (Orgs.).

Avaliação democrática para uma universidade cidadã. Florianópolis: Insular, 2002. p.

99-118.

OAB, Faculdades: MEC acha pouco e abre novos registros. Disponível em <http://www.oab.org.br> Acesso no dia 05 de setembro de 2005.

SOUSA, Maria Zákia Lian de. Avaliação do rendimento escolar como instrumento de gestão educacional. In: OLIVEIRA, D. A. (org.) Gestão democrática da educação: desafios contemporâneos. Petrópolis, Vozes, 1997.

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