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A tutela do direito do consumidor em Cabo Verde

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Academic year: 2021

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ÂNGELO JESUS NASCIMENTO SANTOS 5c

A TUTELA DO DIREITO DO CONSUMIDOR EM CABO VERDE IJUÍ (RS) 2012

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Início contagem p

ÂNGELO JESUS NASCIMENTO SANTOS

A TUTELA DO DIREITO DO CONSUMIDOR EM CABO VERDE

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Idemir Luiz Bagatini

IJUÍ (RS) 2012

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ÂNGELO JESUS NASCIMENTO SANTOS

A TUTELA DO DIREITO DO CONSUMIDOR EM CABO VERDE

Trabalho final do Curso de Graduação em Direito aprovada pela Banca Examinadora abaixo subscrita, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Direito e a aprovação no componente curricular de Trabalho de Curso

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas

Ijuí, 12 de julho de 2012. ___________________________________________

(Idemir Luiz Bagatini – Mestre – UNIJUÍ) _________________________________________

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida, força e coragem.

Aos meus pais, João Pedro dos Santos e Antonina Miranda Nascimento, por tudo que me proporcionaram; pelas lições de amor, honestidade e dignidade; por estarem sempre ao meu lado, em todas as fases de minha vida. Amo vocês eternamente.

A minha família, pelo apoio, pelo incentivo e pelo companheirismo durante toda essa jornada.

A meu orientador Idemir Bagatini por sua

dedicação, disponibilidade, compreensão,

amizade e humanidade.

Aos professores, colegas e amigos, que auxiliaram durante minha caminhada. Em especial aos colegas mais próximos, que me acompanharam na jornada acadêmica.

À Unijuí, pelo apoio e por tudo que representa para mim!

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, um muito obrigado vindo do coração!

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Há duas formas para viver sua vida: Uma é acreditar que não existem milagres. A outra é acreditar que todas as coisas são

um milagre. Albert Einstein

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cm RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfico tem por objetivo demonstrar o surgimento das praticas consumeristas e o direito aplicado a estas, através da análise da abrangência dos direitos do consumidor em especial em Cabo Verde. Toma-se como centro irradiador, o cunho jurídico estabelecido nas relações de consumo a partir da implementação de normas protecionistas à vulnerabilidade do consumidor. Realiza-se uma abordagem panorâmica concernente ao tema, traçando um perfil histórico da evolução da sociedade Cabo-verdiana, tendo em vista diversas realidades históricas e culturais de Cabo Verde que influenciaram e influenciam a tutela do direito do consumidor no país. Em consideração à vulnerabilidade dos consumidores em relação aos fornecedores analisa-se a importância do direito do consumidor frente a temática da cidadania. Enfoca-se ainda o consumidor e a consolidação de importantes progressos no direito consumerista em Cabo Verde.

Palavras-Chave: Direito do Consumidor. Cabo Verde. Panorama Histórico.

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ABSTRACT

The present research monograph aims to demonstrate the emergence of movements consumerist and law applied to them, making an analysis of the scope of consumer rights, particularly in Cape Verde. Take as the radiating center the imprint established legal relations of consumption from the implementation of protectionist rules to the vulnerability of the consumer. Held a panoramic approach related to the theme by establishing a profile of the historic evolution of the Cape Verdean society, in view of different historical realities, socio-economic and cultural aspects of Cape Verde, which influenced the tutelage and influence of consumer law in the country . Into account the vulnerability of consumers in relation to suppliers examines the importance of the right from the consumer towards the theme of citizenship. It also focuses on the consumer and the consolidation of major advances in the right consumerist in Cape Verde.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...09

1 DIREITO DO CONSUMIDOR: ASPECTOS HISTÓRICOS...12

1.1 Evolução Histórica ...12

1.2 Breve contextualização sobre os direitos dos consumidores ...18

1.3 Finalidade do direito do consumidor na construção da cidadania ...20

2 CABO VERDE E ALGUNS ASPECTOS HISTÓRICOS: O DIREITO DO CONSUMIDOR NESSE CONTEXTO ...22

2.1 Breves Referências Históricas de Cabo Verde ...22

2.2 Cabo Verde a partir da Primeira República ...28

2.3 A constitucionalização dos direitos dos consumidores ...32

2.4 O surgimento da Lei de defesa dos consumidores em Cabo Verde ...34

3 O DIREITO DO CONSUMIDOR EM CABO VERDE. ...37

3.1 As instituições Estatais e paraestatais que protegem os direitos dos consumidores ... 37

3.2 Os Direitos básicos dos consumidores em Cabo Verde ... 40

3.3 A responsabilidade objetiva/subjetiva ... 42

3.4 A Vulnerabilidade do consumidor e inversão do ônus da prova ... 44

3.4.1 A vulnerabilidade ...44

3.4.2 A Inversão do ônus da prova ...47

CONCLUSÃO ...50

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INTRODUÇÃO

Ante a crescente complexidade das relações humanas na sociedade contemporânea, com grande enfoque ao consumismo desenfreado, onde as relações de consumo se tornam cada vez mais complexas, o direito sente-se confrontado com essa situação. Tornou-se, desse modo, imprescindível sua intervenção nas relações entre fornecedores e consumidores, na busca pelo equilíbrio nas relações consumeristas. Coube, pois ao direito regulamentar as relações de consumo como meio de efetivação da proteção do consumidor.

O tema da presente pesquisa “A tutela do direito do consumidor em Cabo Verde” apresenta como mola propulsora a seguinte problemática: Os direitos dos consumidores em Cabo Verde são protegidos e tutelados?”.

Nesse contexto, visa-se detectar possíveis vantagens da efetivação da lei de Defesa dos Consumidores (Lei 88/V/98) em Cabo Verde tendo como referência a tutela do direito do consumidor no Brasil. Cumpre destacar, a correlação entre consumo, direito e vulnerabilidade. Assim, especificada e objetivamente busca-se analisar aspectos históricos, políticos e culturais de Cabo Verde que influenciam na sua tutela dos direitos dos consumidores; constatar a percepção dos operadores do direito no que diz respeito a situação atual da tutela do direito do consumidor em Cabo Verde; verificar até que ponto a não regulamentação da Lei nº 88/V/98 compromete a tutela dos direitos dos consumidores assim como o trabalho de associações de defesa dos consumidores e examinar alguns institutos da Lei de

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defesa do consumidor no Brasil pode contribuir para excelência da lei defesa dos direitos do consumidor em Cabo Verde, como por exemplo a vulnerabilidade e a Inversão do ônus da prova.

A escolha do tema se deve a notória e crescente complexidade das relações de consumo, onde o consumidor se encontra numa situação de desvantagem em relação ao fornecedor, que ao logo do tempo se fortaleceu técnica e economicamente. O direito do consumidor, ora surge como importante meio de proteção do consumidor, ante sua vulnerabilidade na relação de consumo e sua atuação de maneira efetiva no exercício da cidadania, através da regulamentação das relações de consumo. Destaca-se, como ponto impulsionador o quadro consumerista em Cabo Verde, visto que a proteção do consumidor no país demonstra-se deficitário em relação a proteção auferida ao consumidor no Brasil.

A hipótese baseia-se na importância do direito do consumidor que se torna cada vez mais visível, pela razão do consumo ganhar cada vez mais expressividade nas sociedades contemporâneas e a efetivação da cidadania nas relações consumerista.

A abordagem do tema se dá pelo método hipotético-dedutivo, o qual é utilizado quando os conhecimentos existentes mostram-se insuficientes para explicar determinado assunto, surgindo, então, um problema, ocasionado por novos entendimentos e conhecimentos. Logo, para explicar as dificuldades expressas no problema, formulam-se hipóteses, a partir das quais se verifica se as consequências deduzidas são verdadeiras ou falsas, através de estudo com livros, enciclopédias, artigos jurídicos, internet e revistas.

O trabalho está dividido em três capítulos. No primeiro a abordagem da temática é realizada no contexto histórico das relações de consumo, abordando o direito do consumidor através da evolução histórica, contextualizando brevemente os direitos dos consumidores. Ao final, expõem-se a finalidade do direito do consumidor na construção da cidadania.

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No segundo capítulo, o consumidor tem sua abordagem delineada sob a ótica jurídica, a legislação em Cabo Verde e seus aspectos históricos em relação ao direito consumerista e suas referências de modo a explanar a constitucionalização dos direitos dos consumidores. Por fim, destaca-se a o surgimento da lei de defesa dos consumidores em Cabo Verde.

No terceiro capítulo, explora-se o direito do consumidor em Cabo Verde, seus aspectos em relação ao direito do consumidor, as instituições estatais e paraestatais que protegem os direitos dos consumidores e seus direitos básicos. Enfoca-se ao final a responsabilidade objetiva, a vulnerabilidade do consumidor e inversão do ônus da prova.

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1 DIREITO DO CONSUMIDOR: ASPETOS HISTÓRICOS

Em face do aprimoramento do conjunto de técnicas, forças produtivas e das relações de produção, a massificação do trabalho e sua crescente evolução, denotou-se a necessidade de propiciar segurança jurídica às relações humanas baseadas na estruturação social consumerista, onde a produção, a organização e o conjunto de ideias são os elementos constitutivos da nova realidade social. Ante a essa nova situação estruturada, surge em voga a necessidade de elaboração de medidas de proteção aos direitos inerentes ao consumo. A essas medidas protecionistas a relação consumerista deu-se surgimento aos direitos do consumidor.

1.1 Evolução Histórica

O direito do consumidor tem a sua base existencial enraizada na história comum da humanidade. A necessidade de consumo é inerente ao homem, sua relação com consumo é antiga, remonta a história evolutiva do homem.

A história da humanidade é a história da evolução do homem, nos seus mais variados aspectos. Em priscas eras, a necessidade obrigara o homem a ser nômade, vagando em busca de fontes de alimentos, notadamente através de caça e pesca. Quando conseguiu controlar o processo de produção de alimentos, fixou-se à terra, tornando-se sedentário.Em seguida passou a gerar sobras, e com estas passou ao comércio de mercadorias. (BATISTI, 2001, p. 151).

A esse período histórico existem momentos que servem de referência para analisar a relação entre consumir e fornecer. A Idade Média destacou-se pelo período de crescimento da classe social burguesa, através das práticas mercantilistas exercendo atividades de comercialização e troca de produtos variados entre mercadores e viajantes. Esse intercâmbio de produtos incentivou o consumo acelerado.

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Outro momento de grande destaque nessa abordagem histórica do consumo é sem dúvida, a Revolução Industrial. “A Revolução Industrial, a partir de um desenvolvimento tecnológico sem precedentes, determinou a passagem do sistema artesanal para o sistema fabril. O novo sistema mudara radicalmente a estrutura de produção.” (BATISTI, 2001, p.151).

A Revolução Industrial aumentou a capacidade produtiva do ser humano de uma forma exorbitante. A produção manual, artesanal, feita no núcleo familiar ou restrito a um número pequeno de pessoas, passa a ser uma produção em massa, em grande escala para fazer frente à grande explosão demográfica existente nesse período. Ressalta-se que essas modificações também acarretaram alterações no processo de distribuição, causando separação entre a produção e a comercialização (CAVALIERI FILHO, 2008).

Segundo Batisti (2001) a geração de uma grande quantidade de bens culminou na evolução da qualidade desses mesmos bens, o que naturalmente estimulou o consumo. Com a evolução de novas formas de produção, oriundas das novas técnicas, levaram ao surgimento de produtos novos, com finalidades diferenciadas, consequentemente trouxeram novas perspectivas ao homem, e, novas necessidades.

De acordo com Bauman (2008, p. 38):

Por toda a história humana, as atividades de consumo ou correlatas (produção, armazenamento, distribuição e remoção de objetos de consumo) têm oferecido um suprimento constante de "matéria-prima" a partir da qual a variedade de formas de vida e padrões de relações inter-humanas pôde ser moldada, e de fato o foi, com a ajuda da inventividade cultural conduzida pela imaginação. De maneira crucial, como um espaço expansível que se abre entre o ato de produção e o do consumo, cada um dos quais consegui autonomia em relação ao outro – de modo que puderam ser regulados, padronizados e operados por conjuntos de instituições mutuamente independentes. Seguindo-se à “revolução paleolítica” que pôs fim ao modo de existência precário dos povos coletores e inaugurou a era dos excedentes e da estocagem, a história poderia ser escrita com base nas maneiras como esse espaço foi colonizado e administrado.

Essa revolução veio a aumentar a capacidade produtiva do ser humano, mudando a forma de produção humana, introduzindo conceitos como produção em

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massa ou produção em larga escala. A partir de então a forma de produção nunca mais deixou de evoluir, com as novas tecnologias surgiram novos produtos, novas formas de utilização desses mesmos produtos, trazendo grandes mudanças, deixando até hoje marcas nas sociedades contemporâneas, pois, o consumo é um dos maiores signos da contemporaneidade.

Tais transformações no setor produtivo ocasionaram uma maior preocupação jurídica em face da relação consumidor fornecedor aprimorada ao longo dos tempos. Pode-se afirmar que o surgimento do direito do consumidor como um ramo do direito surgira como referência, ainda que implicitamente, já na Antiguidade no “Código de Hamurabi”, o qual demonstrou existir a preocupação de criar certas regras que, ainda que, indiretamente, visassem a proteger o consumidor (ROLLEMBERG apud FILOMENO, 2001, p. 22).

Esclarece Filomeno (2001) que também na Grécia, mais propriamente na Constituição de Atenas, de Aristóteles, havia a preocupação latente com a defesa do consumidor. Pode-se, portanto, dizer que a necessidade da proteção do consumidor, durante a antiguidade salientava sua vulnerabilidade em vários momentos, através da constatação da desigualdade do consumidor em relação ao fornecedor tornando-se o incentivo na busca comum do mínimo de proteção ao consumidor.

Diz Filomeno (2001, p. 29, grifo do autor):

Por isso mesmo é que o Código de Defesa do Consumidor [...] em última análise, cuida-se de um verdadeiro exercício de cidadania, ou seja, a qualidade de todo ser humano, como destinatário final do bem comum de qualquer Estado, que o habilita a ver reconhecida toda gama de seus direitos individuais e sociais, mediante tutelas adequadas colocadas à sua disposição pelos organismos institucionalizados, bem como a prerrogativa de organizar-se para obter esses resultados ou acesso àqueles meios

de proteção e defesa.

Essa preocupação referente à proteção do consumidor cresceu e evoluiu ao longo dos tempos, na medida em que a capacidade humana de produção aumentava, tornou-se cada vez mais visível a necessidade de criação de normas específicas de proteção da parte vulnerável na relação de consumo.

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Referente ao direito do consumidor cabe dizer que é um direito novo, assim como o direito ambiental, direito da comunicação, biodireito, entre outros. Essa nova gama de direitos despontou no século XX, períodos em que aconteceram inúmeras mudanças sociais.

De acordo com Cavalieri Filho (2008, p. 1):

O século XX foi o século dos novos direitos. Do velho tronco do Direito Civil brotaram novos ramo – direito ambiental, biodireito, direito espacial, direito da comunicação, direitos humanos, direito do consumidor e outros mais – todos destinados a satisfazer as necessidades de sociedade em mudanças. Esses novos direitos, entretanto, não surgiram por acaso; decorreram do fantástico desenvolvimento tecnológico e cientifico do século passado, abrangendo áreas do conhecimento humano sequer imaginadas.

Desses novos ramos do direito, especificadamente o direito do consumidor, decorreram das transformações trazidas a partir da Revolução Industrial, que teve o seu início na segunda metade do Século XVIII, através do aumento da capacidade produtiva das empresas, bem como, no início da fabricação em série e a revolução tecnológica, decorrente do crescente desenvolvimento técnico alcançado depois da 2° Guerra Mundial, inicialmente na América do Norte, subsequentemente na Europa Ocidental. Esses fenômenos acarretaram em profundas mudanças nas referidas sociedades.

É verdade que por muito tempo também – durante quase todo o século XIX – a industrialização não transformou profundamente as formas de consumo e que , mais tarde, Os Trinta Gloriosos que se seguiram a Segunda Guerra Mundial puderam ser qualificados assim graças a uma taxa muito elevada de poupança e investimentos; é verdade, em fim, que a necessidade a qual respondeu a produção durante esse período dizia respeito sobre tudo ao equipamento material para o lar, portanto incluía-se amplamente na moldura da sociedade industrial. É somente a partir de 1968, data guardada por sua carga simbólica, que os países da Europa ocidental começam a se juntar aos Estados Unidos numa sociedade de consumo na qual este país havia entrado bem mais cedo, principalmente depois da grande depressão e da guerra (TOURAINE, 1994, p. 152).

A Revolução Industrial ou mesmo a revolução tecnológica, mudaram a forma de produção de bens, trazendo o conceito de produção em série, bem como, introduzindo mudanças no sistema de distribuição destes, alterando a relação entre

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revendedor-adquirente, incentivando uma crescente desindividualização dos produtos, da mesma forma em relação ao consumidor.

Nesse contexto a Revolução Industrial aumentou a capacidade de produção do homem. Com a produção em massa surgiu também o processo de distribuição em massa, separando a produção da comercialização dos produtos. Antes o próprio fabricante que se encarregava da distribuição dos seus produtos, ou seja, detinha o domínio do processo de produção e distribuição. O fabricante conhecia o que vendia, e quem vendia. Entretanto, a partir da distribuição em massa, feita pelos grandes atacadistas, os comerciantes e consumidores passaram a receber produtos lacrados e embalados, sem conhecer o real conteúdo. Houve ainda mudanças no processo de contratação, ocasionando no surgimento de novos instrumentos jurídicos (contratos coletivos, contratos em massa, contratos por adesão) com o estabelecimento de cláusulas gerais prévia e unilateralmente estabelecidas pelo fornecedor, sem a participação do consumidor, ocasionando consequentemente na configuração de um quadro de vulnerabilidade do consumidor.

É importante salientar, que os remédios clássicos do direito privado da época, embasados nos princípios da autonomia da vontade, pacta sunt servanda e responsabilidade fundada na culpa, se revelaram ineficazes na proteção efetiva dos consumidores. Esse direito material tradicional se revelou totalmente ultrapassado, pois, praticamente tornava o fornecedor irresponsável pelos danos causados ao consumidor, acabando por proporcionar um ambiente propício para práticas abusivas de toda ordem, resultando em insuportáveis desigualdades técnicas, fáticas e jurídicas entre o fornecedor e o consumidor (CAVALIERI FILHO, 2008).

Os primeiros movimentos consumeristas surgiram no final do século XIX e no inicio do século XX, nos países como Inglaterra, Alemanha, França e em especial nos Estados Unidos da América, os quais sofreram um forte desenvolvimento industrial. Em Nova York, Josephine Lowell criou uma associação de consumidores que tinha como objetivo a luta pela melhoria das condições de trabalho, bem como, contra a exploração do trabalho feminino em fábricas e comércio, essa associação foi denominada de New York Consumers League.

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Surgiram nesse período várias associações de defesa dos interesses dos consumidores e de defesa das condições de trabalho.

Cavalieri Filho (2008, p. 4) colabora dizendo que:

Florence Kelley (1899) deu prosseguimento a este trabalho ao reunir as associaoções de Nova York, Boston, Chicago, Filadélfia e criar a Liga Nacional dos Consumidores (National Consumers League), com ênfase inicial nas condições de mulheres e crianças nas fábricas de algodão. A NCL, entretanto, usava a força dos consumidores direcionada para uma causa social, mais do que para defesa de bons produtos ou qualidade industrial.

Não obstante a esses movimentos, só em 1960 se pode falar em um reconhecimento do consumidor como um sujeito de direitos específicos tutelados pelo Estado. Esse marco teve início a partir da mensagem do Presidente Kennedy feita no Congresso dos Estados Unidos sobre Proteção dos direitos dos consumidores, no dia 15 de março de 1962. De uma forma sintética, as principais ideias se expressavam: no princípio de que os consumidores constituíam o mais importante grupo econômico, apesar de não ser efetivamente organizado, mas possuidor de direitos básicos na relação consumeristas, como os direitos relativos: à saúde, à informação, à escolha e ao direito de serem ouvidos.

O Presidente Kennedy entendia que o direito à saúde se consubstanciava na proteção dos consumidores contra a venda de produtos que configurassem um risco a saúde ou para a vida. No que toca ao direito de ser informado consistia na proteção do consumidor contra informações, publicidades ou qualquer prática enganosa, capaz de induzir ao erro, bem como, na proteção da garantia de recebimento dos elementos indispensáveis a uma escolha esclarecida, por serem elementos capazes de possibilitar o acesso a uma variedade de produtos e de serviços com qualidade e preços justos.

A mensagem do Presidente Kennedy é sem dúvida um marco para os direitos dos consumidores no mundo inteiro, pois, a partir desse momento se reconheceu verdadeiramente os direitos fundamentais do consumidor, nesse momento foram

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lançadas as bases dos movimentos consumeristas internacionais, acabando por tornar o dia 15 de março o dia mundial dos direitos dos consumidores.

Em 1973 à Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, na 29ª Sessão em Genebra, reconheceu os direitos básicos do consumidor, tais como à segurança, à integridade física, à intimidade, à honra, à informação e o respeito à dignidade humana dos consumidores.

A Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, através da Resolução 39/248(1985), adotou uma série de normas internacionais para proteger os direitos dos consumidores. A grande finalidade dessas normas, medidas preventivas, coercitivas e punitivas estavam na possibilidade de motivar a cooperação internacional a trabalhar na proteção ao consumidor, e para evidenciar a importância da participação dos governos na elaboração de normas de proteção ao consumidor, visando implementação de políticas de defesa do consumidor. A esse processo protecionista normativo contextualizado trata-se no próximo ponto.

1.2 Breve Contextualização sobre os Direitos dos Consumidores

Diante a frenética disposição que a sociedade contemporânea possui em relação ao consumo, depara-se cada vez mais com uma grande complexidade das relações consumeristas. Tais relações, ante o grande enfoque num consumismo desenfreado, tornam as relações de consumo cada vez mais problemáticas.

As relações sociais na atualidade passaram a ser mediadas pelo consumo, tendo-o como o meio mais próximo para atingir a felicidade. A sociedade contemporânea se espelha em hábitos e valores consumistas. Os indivíduos, em contato aos padrões impostos pelo mercado, assumem uma identidade consumista, passam a se comportar como objetos de consumo. Essa percepção também é partilhada por autores como Bauman, que chama a sociedade contemporânea de sociedade de consumidores.

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Segundo Bauman (2008, p. 71):

A "sociedade de consumidores", em outras palavras, representa o tipo de sociedade que promove, encoraja ou reforça a escolha de um estilo de vida e uma estratégia existencial consumeristas, e rejeita todas as opções culturais alternativas. Uma sociedade em que se adaptar aos preceitos da cultura de consumo e segui-los estritamente é, para todos os fins propósitos práticos, a única escolha aprovada da maneira incondicional. Uma escolha viável e, portanto plausível – e uma condição de afiliação.

Essa é uma guinada notável no curso da história moderna, um verdadeiro divisor de águas. Como Frank Trentmann descobriu ao realizar sua reveladora tentativa de reconstruir o lugar ocupado pelos conceitos de consumo e de consumidores no vocabulário usado por pensadores modernos para descrever a realidade social emergente.

Existem ainda outros temas relevantes a essa temática, entre eles os mais recorrentes em relação ao assunto do consumo no mundo contemporâneo são sem sombra de dúvida o risco que o padrão das sociedades pós-industriais trouxe para o equilíbrio ecológico. Diante da gravidade do tema, é importante frisar que mesmo com a necessidade de mudanças comportamentais diante a forma de consumir, infelizmente o padrão de consumo das sociedades contemporâneas não tende a mudar, pois, ainda continua sobre grande influência da sociedade norte-americana. É consenso que, se não for revertida a tendência de seguir o padrão de consumo dos americanos, a história da humanidade tem seus dias contados, pois, as perspectivas são as piores imagináveis.

Faz-se necessário um despertar de toda a humanidade para a questão do consumo sustentável, despertar para um consumo responsável. Mas para que isso aconteça é necessário investimento maciço na educação para todas as gerações para que se possa ter uma mudança no que toque ao modelo de consumo proposto pela grande potência.

É preciso que ocorram mudanças comportamentais embasadas a valores consumistas para valores culturais pós-materialistas. Mudanças estas que motivem a busca de um consumo responsável, sensível quanto às questões ambientais, isso principalmente nos países ricos, como, os Estados Unidos, pois, cabe a esses países, efetivar ações capazes de minimizar o quadro de degradação, bem como a aderência maciça de todos os países ao Protocolo de Kyoto, respeitando as suas diretrizes, pois mudanças na forma de consumo levariam a mudanças na forma de

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produção e em última análise, resultariam em um manejo sustentável do meio ambiente. É preciso maiores investimentos nas associações voltadas para a tarefa de regular e fiscalizar as relações de consumo.

As transformações fizeram e fazem eclodir fortes demandas sociais que deságuam no bojo do processo de legitimidade e visibilidade mediática da efetivação da cidadania as práticas de consumo. Diante disso, percebe-se que as profundas modificações estruturais, econômicas e sociais advindas da industrialização, demandam a aplicação de uma normatização direcionada a práticas éticas, sólidas e motivadoras da produção do bem estar social. A essa nova perspectiva vinculou-se a prática consumerista a implementação da cidadania, assunto a ser tratado no tópico a seguir.

1.3 A finalidade do direito do consumidor na construção da cidadania

Com as evoluções da humanidade, assim como as mudanças que aconteceram nas antigas sociedades e acontecem nas sociedades contemporâneas, o direito até então em algumas áreas não tinha acompanhado determinadas transformações, resultando em algum descompasso entre o fato social e o jurídico. Diante de tal situação coube ao direito concretizar a pretensão normativa e buscar a efetividade social. É aqui que cabem os novos ramos do direito, entre os quais enquadra o direito do consumidor.

Cavalieri Filho (2008) esclarece que a massificação da produção, do consumo e da contratação deixou o consumidor em desvantagens, na medida em que o fornecedor ganhou um maior poderio técnico, econômico e jurídico, enquanto que em relação ao consumidor a situação foi contrária, pois, o seu poder de escolha foi enfraquecido, ou até mesmo eliminado. Com o distanciamento entre consumidor e fabricante, este se tornou cada vez mais vulnerável e submisso aos contratos de adesão onde as cláusulas e condições eram preestabelecidas, acabando por ficar a mercê do fornecedor. Configurou-se, pois um acentuado desequilíbrio ou

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desigualdade de forças entre produtores e distribuidores, por um lado, e o consumidor mais frágil, por outro.

Segundo Cavalieri Filho (2008), a proteção do direito do consumidor passou a ser um desafio dos nossos tempos, e o direito não poderia ser indiferente a tal situação. É diante dessa vulnerabilidade do consumidor, que se materializa o Direito do Consumidor, razão da necessidade da tutela desse direito, com o fim de proteção do consumidor, buscando equilíbrio nessa relação a fim de garantir o exercício da cidadania. Constatada a desigualdade existente, cabe o direito buscar estabelecer uma igualdade real entre as partes na relação de consumo.

O Direito do consumidor tem uma função importantíssima na pretensão de proteger o efetivo exercício da cidadania. No entender do Bagatini (2001, p. 24) “A generalização da cidadania moderna significa que todas as pessoas, como cidadãos, são iguais perante a lei e nenhuma pessoa ou grupo tem privilégio decorrente de Lei."

Assim cabe fazer uma reflexão sobre uma ligação íntima entre a cidadania e o Direito do consumidor, pois, dentro da concepção moderna da cidadania se entende que todas as pessoas como cidadãos, são iguais perante a lei. Se todos são iguais perante a Lei, não se poderia permitir que em qualquer relação jurídica em que o Estado é também parte interessada, haja abuso e desrespeito de uma parte em detrimento da outra, cabendo ao Direito do Consumidor agir como protetor dessa igualdade garantindo assim o verdadeiro equilíbrio nas práticas consumerista e a efetiva cidadania.

Diante da riqueza do tema e da concepção histórica e culturalmente construída das práticas consumeristas conduz-se à imperatividade de que qualquer diálogo protecionista deve ser inerente às diferentes culturas, onde as normas universais de proteção ao consumidor devam ser realmente efetivas. Nesse sentido, no próximo capitulo cuidar-se-á do direito do consumidor em Cabo Verde.

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2 CABO VERDE E ALGUNS ASPETOS HISTÓRICOS: O DIREITO DO CONSUMIDOR NESSE CONTEXTO

Cabo Verde, apesar de ser um país jovem, beneficia-se de uma estabilidade política, econômica e cambial, regido por um sistema democrático assentado nos princípios da soberania popular, dos direitos e liberdades fundamentais e medidas protecionistas que refletem positivamente nos direitos do consumidor. Assiste-se no país uma crescente mobilidade da sociedade civil, através de associações de defesa dos consumidores, atuando nas vertentes de informação e educação, sensibilização dos consumidores trabalhando conjuntamente com os poderes públicos e as entidades reguladoras. Neste contexto, o Estado passa a reconhecer a proteção dos direitos dos consumidores, desde a adequação do quadro legal a mecanismos que garantam sua efetivação.

2.1 Breves Referências Históricas de Cabo Verde

Cabo Verde é um pequeno arquipélago formado por 10 ilhas (Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia, São Nicolau, Sal, Boavista, Maio, Santiago, Fogo e Brava) e mais algumas ilhotas, localizados no Oceano Atlântico, a 500 milhas da costa africana, mais precisamente da costa do Senegal. As primeiras ilhas de Cabo Verde foram descobertas, ou pelo menos, visitadas em primeiro lugar, em 1° de Maio de 1460, pelo português Diogo Gomes e pelo genovês Antonio de Nola (da Noli), ao serviço do rei de Portugal. Regressavam de uma viagem de descobrimento da costa da Guiné e, navegando ao largo, avistaram algumas das ilhas e anos seguintes, em 1462, foram avistadas por Diogo Afonso e nomeadas as restantes ilhas e ilhéus (CARREIRA, 1972, p. 5).

A colonização das ilhas, mais propriamente da ilha de Santiago, inicia-se a partir de 1462 por aventureiros portugueses, a maioria dos quais provenientes do Algarve, a que se seguiram alguns catalães, genoveses, castelhanos, judeus e degradados portugueses. As difíceis condições do solo e do clima levaram os colonos, a adotar formas diferentes de colonização em relação ao que aconteceu ao

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povoamento de outras colônias portuguesas. Em Cabo Verde a economia girava em torno da comercialização da Urzela (planta nativa), do sal, e posteriormente, cana-de-açúcar, que se encontrava em expansão na ilha da Madeira1 (CARREIRA, 1972, p. 6).

Por carta régia de privilégios de 12 de Junho de 1466, os moradores da vila de Ribeira Grande são autorizados a praticar comércio de "escravos e outras mercadorias" com as regiões da costa da Guiné. Cabo Verde tornou-se então um ponto de escala e aprovisionamento de navios, bem como um interposto de escravos que eram resgatados na costa africana, e depois trocados por mercadorias (principalmente de fio e pano de algodão), seguindo posteriormente para Europa e a América após passarem por Cabo Verde.

Dada a sua posição estratégica, nas rotas que ligavam entre si a Europa, a África e o Brasil, as ilhas serviram de entreposto comercial e de aprovisionamento, com particular destaque como antes referido, ao tráfego de escravos (ANDRADE, 1996, p. 8).

De acordo com Bispo (2008, p. 1):

Por ocupar uma situação privilegiada, na encruzilhada entre os três continentes Europa, América e África, Cabo Verde foi um entreposto importante para os portugueses no chamado tráfico negreiro. Os escravos eram capturados, e levados para o arquipélago de onde seguiam mais tarde para trabalhar nas produções de cana-de-açúcar, café e algodão no Brasil e naslAntilhas

Em Cabo Verde, foi erigida a primeira cidade construída por europeus nas colônias, a cidade de Ribeira Grande. Ficou ativa por mais de três séculos, antes que a capital fosse transferida para cidade de Praia, capital de Cabo Verde dos nossos dias.

Com a prosperidade, vieram piratas franceses, holandeses e ingleses que atacaram as ilhas inúmeras vezes durante os séculos seguintes, esses ataques prolongaram-se até ao princípio do século XVIII. A situação econômica do arquipélago agrava-se durante a dominação filipina de Portugal (1580-1640).

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No século XVIII Cabo Verde viveu um dos momentos auge da sua história, pois, adquire uma enorme importância para as navegações de longo curso que cruzam esta zona do Atlântico. Cabo Verde passa a ser um ponto de abastecimento de carvão, combustível para os navios intercontinentais que passaram a fazer escala nas ilhas. Essa retomada dos portos das ilhas se deve à revolução ocorrida na ciência, mas concretamente na área industrial.

A partir do século XVIII, a ciência sofre uma grande transformação, uma verdadeira revolução que viria a transformar as formas de produção que existiam até então, surgindo uma série de novas tecnologias que vieram a transformar a vida do homem. Essas transformações aconteceram, principalmente, na forma de produzir mercadorias e de transportá-las. Essa transformação ou inovação é denominada historicamente como Primeira Revolução Industrial.

Segundo o autor Cavalieri Filho (2008, p. 2):

Sabemos todos que a revolução industrial aumentou quase ao infinito a capacidade produtiva do ser humano. Se antes a produção era manual, artesanal, mecânica, circunscrita no núcleo familiar ou em pequeno número de pessoas, a partir dessa revolução a produção passou a ser em massa, em grande quantidade, até para fazer frente ao aumento da demanda decorrente da explosão demográfica. Houve também modificação no processo de distribuição, causando cisão entre a produção e a comercialização.

Essa mesma Revolução colocou Cabo Verde numa situação privilegiada na medida em que o arquipélago passou a ser um ponto de abastecimento de carvão, combustível para os navios intercontinentais que cruzavam o Atlântico.

De acordo com Fontes (2011, p.2):

A posição estratégica de Cabo Verde, torna-se um ponto de escala obrigatório para os navios que se deslocam de e para o atlântico sul. Devido a esse facto foram então feitos importantes investimentos no arquipélago. Entre os mais significativos destaca-se a colocação de faróis, e sobretudo a reconstrução do Porto Grande do Mindelo (Ilha de S.Vicente), para o abastecimento dos navios de carvão e óleos ( Wilson & Companhy, em 1885). A actividade portuária acabou por se tornar numa significativa fonte de receitas do arquipélago.

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Durante a primeira metade do século XIX Cabo Verde seguiu em crescimento, mesmo com a proibição do tráfico de escravos, acordados entre Portugal e Inglaterra, não se deixou tal prática, na verdade ela apenas continuou a ser feita de forma intensa e clandestina.

De acordo com Fontes (2011, p.1):

Apesar dos acordos entre Portugal e a Inglaterra para a proibição do tráfico de escravos em Bissau e Cacheu (1810), e depois a sua interdição a norte do equador (1815), não terminam com este comércio na região. Muito pelo contrário assistiu-se mesmo ao seu incremento, embora feito de uma forma clandestina. Barcos espanhóis, franceses, brasileiros, ingleses, entre outros, escalavam dos portos de Cabo Verde cheios de escravos para o Brasil, EUA, Cuba e outras lugares com bandeiras portuguesas.

O fim efetivo do comércio de escravos, na última metade do século XIX, provoca uma profunda crise nas ilhas. O desenvolvimento de plantações acaba por ter efeitos devastadores no ambiente: a destruição de enormes manchas florestais para dar origem a explorações agrícolas, agravaram as condições climáticas, resultando em períodos de seca. Com a decadência econômica e as constantes secas no árido solo do arquipélago, a emigração populacional da colônia de Cabo Verde tornou-se o principal recurso para a sobrevivência da população a partir de meados do século XIX. Essa migração populacional de Cabo Verde se agravava, tornando-se maciça no início do século XIX.

Devido a abolição do comércio de escravos agravada pela constante deterioração das condições climáticas, Cabo Verde entrou em declínio e passou a viver com base numa economia de subsistência. Secas prolongadas e epidemias continuaram a provocar milhares de mortes e uma enorme emigração. A partir de 1880, estes emigrantes já constituíram importantes comunidades permanentes nos portos baleiros dos EUA, como New Bedford, Providence, Nova Inglaterra, entre outros países.

Nesse sentido Fontes (2011, p. 2) esclarece:

Secas prolongadas e epidemias continuaram a provocar milhares de mortes e uma enorme emigração. A partir de 1880, estes emigrantes constituem já importantes comunidades permanentes nos portos baleiros dos EUA, como New Bedford, Providence, Nova Inglaterra, etc.

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Nas primeiras décadas do século XX, Cabo Verde, conhece um singular desenvolvimento cultural e educativo, o que contrastava com a sua pobreza econômica. Na década de 1950 surgiram os movimentos de independência dos povos africanos. Essa década foi marcada por uma vaga de libertação nacional na África, com as primeiras vitórias no Egito em 1952; em Bandoug em 1955; no Sudão, Marrocos e Tunísia em 1956. Em 1957, Ghana se tornou independente, seguindo essa vaga de busca da liberdade, Cabo-Verde aliou-se à luta pela libertação da Guiné Portuguesa, atual Guiné-Bissau. Dessa maneira, no início de 1956 o intelectual cabo-verdiano Amílcar Cabral fundou no exílio, em Conacri, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo-Verde (PAIGC). Esse partido foi fundado na clandestinidade por seis nacionalistas guineenses e cabo-verdianos, entre os quais o Amílcar Cabral era o promotor e ideólogo. A partir desse momento os caminhos percorridos pelo Amilcar Cabral e pelo P.A.I.G.C, foram indissociáveis, até quando Amilcar Cabral é assassinado em 20 de Janeiro de 1973, em Conacri, morrendo antes da concretização do seu sonho de Cabo Verde e Guiné-Bissau independentes. Mas deixara lançado o principio da unidade da luta dos dois países, fator que entendia ser necessário para conseguir a libertação desses países.

De acordo com Andrade (1996, p. 244):

Tratava-se, no quadro da luta da libertação nacional, de realizar a união das populações da Guiné-Bissau, a união das populações de Cabo Verde e a união dos povos dos dois países. A ideia força, unidade e luta e luta para unidade da Guiné e Cabo Verde torna-se um princípio e uma palavra de ordem mobilizadora do Partido. Mas, esta união não era concebida como um fim em si, tinha um objetivo mais imediato, expulsar os colonialistas portugueses para finalmente, construir o progresso e a felicidade de Guiné e Cabo Verde. O que não pressupunha a constituição de sociedades sem exploração do homem pelo homem.

Para que se entenda um pouco mais da formação da sociedade cabo-verdiana, se faz necessário analisar os povos que deram origem a essa sociedade, povos vindos muitas vezes de países irmãos, como Guiné Bissau. O povo cabo-verdiano ou a sociedade cabo-verdiana é uma mescla de variados povos, com origens, hábitos e culturas diferentes, o que vai possibilitar a origem de um povo com características próprias. A formação do povo Cabo-verdiano se dá através da

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miscigenação que aconteceu entre europeus livres e escravos da costa africana, se transformando num só povo, com uma identidade própria, com forma de viver muito genuína, com uma diversidade cultural, surgindo assim o crioulo como idioma ou dialeto da comunidade majoritariamente mestiça.

De acordo com Monteiro (2004, p.21):

No que respeita à formação da sociedade cabo-verdiana, ela dá-se a partir de dois grupos humanos distintos: o branco europeu, fundamentalmente português e masculino, e o negro africano, de origem étnica diversificada. Entre os oriundos da Europa encontrava-se ainda um número significativo de português, conquanto, substancialmente, um número minoritário de castelhanos e judeus, sendo os primeiros os principais compradores de escravos com destino às Antilhas. Uma vez que se encontravam impedidos de abastecer directamente no continente em consequência dos acordos entre Portugal e Espanha, mantinham pouso nas ilhas. A mulher negra figura neste cenário social fundacional como parceira quer do negro, quer do branco, do que resulta desde cedo o aparecimento de uma população mestiça nas ilhas.

Entende-se que, desse modo que a formação das características próprias do povo Cabo-verdiano, sejam reflexos da miscigenação ocorrida entre os diferentes povos que habitavam as ilhas de Cabo Verde, pois o convívio próximo e outros fatores como disparidade de gêneros se revelaram importantes para que essas características se aflorassem.

Monteiro (2004, p. 21) defende que em Cabo Verde a escravidão foi essencialmente doméstica, dada a pequena dimensão do espaço partilhado e a proximidade física entre o senhor e o escravo. Houve fatores propiciadores para a ocorrência de uma rápida mestiçagem biológica e cultural, dos quais a fragmentação étnica dos africanos e o número reduzido de mulheres européias teriam sido os mais decisivos para essa formação genuína. A cultura africana teria sido a que mais sofreu com a aculturação, pois, o fato de os influxos de novos escravos serem esporádicos e em número reduzido, na medida em que a maioria dos escravos que entravam nas ilhas eram destinado à reexportação. Nessa ótica, se poderá aceitar sem grande contestação o entendimento de que a cultura africana tenha sido a que sofreu uma descaracterização mais profunda, considerando a maior vulnerabilidade por parte do africano que vivia nas ilhas. A essa vulnerabilidade que acompanhavam os africanos, se deve acrescentar a doutrinação católica sobre os mesmos. Em

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relação aos mecanismos psíquicos que permitem uma visão estruturante da realidade, não se pode afirmar que muitos não tenham permanecido intactos. Mais propriamente, uma das grandes dificuldades com que se deparavam os evangelizadores era a de impregnar entre os escravos africanos a noção de pecado, tal como concebido pelo cristianismo, pois, tal noção era ausente nas religiões animistas.

Apesar das dificuldades que a cultura africana sofreu em Cabo Verde, pode-se afirmar que as raízes africanas pode-se mantiveram prepode-sente na cultura do povo Cabo-verdiano, pois, a cultura do povo dessas ilhas, tem na sua essência traços característicos da cultura africana, desde características presentes na língua materna de Cabo Verde, desde as danças tradicionais, músicas tradicionais, culinária tradicional, entre outros aspectos. Pode-se dizer que em Cabo Verde aconteceu uma simbiose entre a cultura europeia e a africana, resultando numa cultura muito rica e com características próprias.

Esse povo com características próprias, com traços próprios, com uma cultura própria, que tinha sua identidade própria, sente a necessidade de obter a sua individualidade, sente no dever de cuidar do seu próprio destino, assim se lança na aventura de buscar a sua soberania, os cabo-verdianos anseiam a sua Independência. Nesse sentido, o próximo ponto versará sobre a luta para a independência de Cabo Verde, bem como a formação da Primeira República, o nascimento do país como uma nação, e o surgimento do direito do consumidor nesse contexto.

2.2 Cabo Verde a partir da Primeira República

A partir da década de 1950, com o surgimento dos movimentos de independência dos povos africanos, Cabo-Verde alia-se à luta pela libertação da Guiné Portuguesa, atual Guiné-Bissau. No início de 1956 o intelectual cabo-verdiano Amílcar Cabral fundou no exílio, em Conacri, o Partido Africano para a

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Independência da Guiné e Cabo-Verde (PAIGC). Amílcar Cabral morreu assassinado em 1973, morrendo antes da concretização do seu sonho de ver Cabo Verde e Guiné-Bissau independentes.

Em 25 de Abril de 1974 aconteceu em Portugal a Revolução dos Cravos que depôs o regime ditatorial salazarista, que veio a precipitar a independência de Cabo Verde e da Guiné Bissau. Em 19 de Dezembro de 1974 foi assinado um acordo entre o PAIGC e Portugal, instaurando-se um governo de transição em Cabo Verde. Constitui-se, portanto, em Cabo Verde um Governo de transição, composto por cabo-verdianos e portugueses.

Nesse sentido elucida Varela (2011, p. 1):

Cabo Verde ascendeu à Independência a 5 de Julho de 1975, na confluência de dois factos históricos: a vitoriosa Luta de Libertação Nacional conduzida pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), fundado por Amílcar Cabral a 19 de Setembro de 1956; a Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974, desencadeada pelo Movimento das Forças Armadas Portuguesas,visando a instauração da liberdade e da democracia em Portugal.

No dia 30 de Junho de 1975 foi eleita uma Assembleia Constituinte, decorrente de uma lista única proposta pelo PAIGC, composta por 56 deputados e 72 suplentes. A lista foi aprovada em sufrágio, com a participação de 84% dos eleitores. A mesma lista recebeu 92% dos votos expressos.

A referida Assembleia proclamou a Independência da República de Cabo Verde a 5 de Julho de 1975 e promulgou a Lei sobre a Organização Política do Estado, a LOPE (Lei da Organização Política do Estado) . Essa Lei funcionou como Constituição, até a aprovação da primeira Constituição na IX sessão legislativa de 5 de Setembro de 1980, Constituição essa que entre outras modificações traz pela primeira vez a previsão de garantias dos direitos dos consumidores em Cabo Verde.

Em 1975 Cabo Verde passa a ser governado em regime de Partido único, seguindo um modelo de inspiração marxista. Dadas às fragilidades econômicas e

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por ser um jovem país procurou seguir uma postura política de não alinhamento por nenhum dos blocos políticos em que o mundo se dividia na conjuntura.

A unificação com a Guiné fracassou em 1980, devido ao golpe militar que, naquele país depôs o presidente Luís de Almeida Cabral que era irmão de Amílcar Cabral. Os integrantes da ala Cabo-verdiana do PAIGC romperam com a da Guiné-Bissau, passando a se chamar Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV), restringido sua ação a Cabo Verde. Porém, as relações diplomáticas com Guiné-Bissau foram rompidas logo em seguida, reatadas dois anos mais tarde.

A abertura política em Cabo Verde foi anunciada em 1990, estimulando as condições institucionais necessárias às primeiras eleições legislativas e presidenciais num quadro de concorrência política. Em 28 de Setembro de 1990 a Assembleia Nacional Popular aprovou a Lei Constitucional número 2/III/90, que veio a revogar o artigo 4° da Constituição de 1980 e institucionalizando o princípio do pluralismo político.

Nesse sentido esclarece Évora (2001, p.75):

A abertura política foi formalmente institucionalizada em setembro de 1990, quando a Assembléia Nacional Popular (ANP), na convocação extraordinária, removeu o Artigo 4º que reconhecia o PAICV como única força política dirigente. Essa assembleia instituiu a lei do regime jurídico dos partidos políticos, a lei eleitoral para a ANP e para Presidente da República, a lei que reconhece o direito de antena e de resposta aos partidos, entre outras. Assim, constitucionalmente, formalizou-se o direito de existência dos partidos políticos e as condições legais para ter separação entre os poderes legislativo e executivo.

A Constituição de 1990 vem com os instrumentos de viabilização das eleições democráticas e de transição de modelo de organização da vida política e social de Cabo Verde, abrindo caminho à existência de novos partidos políticos, rompendo também com o regime e o sistema de governo vigente, lançando bases para uma abertura política. Foi nesse quadro que em 1991, foi finalmente estabelecido um regime democrático. Em 13 de Janeiro deste ano, foram realizadas as primeiras eleições legislativas do país, em seguida em 17 de Fevereiro, foram realizadas as primeiras eleições presidências, onde PAICV foi derrotado nas

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eleições para a Assembleia Nacional pelo principal partido da oposição, o MPD (Movimento para a Democracia). Aristides Pereira foi também derrotado por António Mascarenhas Monteiro, antigo juiz do Supremo Tribunal, dirigia o MPD, tornando-se o novo presidente de Cabo Verde.

De acordo com Fontes (2011, p. 3):

Em 1991, foi finalmente estabelecido um regime democrático. Em Janeiro deste ano, nas primeiras eleições livres do país, Aristides Pereira foi afastado da presidência e o PAICV saiu claramente derrotado nas eleições para a Assembleia Nacional. O novo presidente, António Mascarenhas Monteiro, antigo juiz do Supremo Tribunal, dirigia o principal partido da Oposição, o MPD (Movimento para a Democracia).

Na sequência das primeiras eleições pluripartidárias realizadas no país, foi instituída uma democracia parlamentar com todas as instituições de uma democracia moderna, tendo como principais marcas: a conquistas dos direitos civis, políticos, liberdade de expressão e de imprensa, liberdade de se fazer associações, manifestações e direito a greve.

Em 1992, a Assembleia Nacional aprovou uma nova Constituição de Cabo Verde, que veio consagrar o Estado de Direito Democrático, passando a vigorar um regime de Democracia Parlamentar Pluralista.

Segundo o entendimento de Nascimento (2004, p. 10):

A constituição em questão, que assumiu plenamente o principio da soberania popular, consagrou um Estado de Direito Democrático assentes nos princípios da soberania popular, no pluralismo de expressão e de organização política democrática e no respeito pelos direitos e liberdades fundamentais. Cabo Verde reconhece e respeita, a organização do poder político, a natureza unitário do Estado, a forma republicana de governo, a democracia pluralista, a separação e independência de poderes, a separação entre a Igreja e o Estado, a independência dos Tribunais, a existência e a independência do poder local e a descentralização democrática da Administração Pública.

Hoje Cabo Verde é um país com estabilidade e paz social, goza de crédito governamentais, empresas e instituições financeiras internacionais. É dentro desse contexto que se pretende analisar o direito do consumidor, entender como e quando

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surgem as garantias desses direitos. Nesse sentido, no próximo tópico cuidar-se-á do surgimento do direito do consumidor em Cabo Verde, especificadamente o surgimento desses direitos na Constituição de Cabo Verde.

2.3 A constitucionalização dos direitos dos consumidores

Antes de entrar propriamente na constitucionalização dos direitos do consumidor em Cabo Verde, cabe frisar que se deve fazer uma análise dos fatos que antecederam ao surgimento da previsão constitucional das normas referentes aos direitos dos consumidores, fatos importantes para que o mesmo acontecesse.

Para se entender o surgimento da previsão constitucional dos direitos dos consumidores na constituição cabo-verdiana, faz-se necessário fazer uma breve recapitulação da história do país, para que se tenha a noção do caminho percorrido até então, tendo em mente a luta para a independência de Portugal, as lutas políticas que levaram a formação desse jovem país, bem como, a promulgação da primeira Constituição de Cabo Verde de 5 de Setembro de 1980 (primeira a trazer garantias aos direitos dos Consumidores em Cabo Verde).

Cabe ressaltar que o surgimento da previsão dos direitos dos consumidores na Constituição de Cabo Verde de 1980 teve grande influência positivas de alguns organismos internacionais. Nesse período Cabo Verde dava seus os primeiros passos como um país soberano e dependia da colaboração das Nações Unidas e de outros parceiros internacionais. Dentro desse contexto, em 1973 a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, na 29ª sessão em Genebra, reconheceu os direitos básicos do consumidor, tais como à segurança, à integridade física, à intimidade, à honra, à informação e os respeito à dignidade humana dos consumidores. Diretrizes essas que em 1980 se manifestam presentes na primeira Constituição Cabo-verdiana.

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A partir de então, todas as Constituições posteriores a de 1980 trouxeram expressadas as mesmas garantias constitucionais referentes à defesa dos consumidores e a mesma redação.

Atualmente vigora em Cabo Verde a Constituição de 1992, tendo como sua última revisão constitucional feita pela Lei Constitucional n° 1/VII/2010 de 3 de Maio. A Lei Constitucional n° 1/VII/2010 traz no seu artigo 81° a previsão dos direitos dos consumidores.

O art. 81° da Lei Constitucional n° 1/VII/2010, dispõe, in verbis:

Artigo 81°

(Direitos dos Consumidores)

1. Os consumidores têm direito à qualidade dos bens e serviços consumidos, à adequada informação, à proteção da saúde, da segurança e dos interesses econômicos, bem como a reparação dos danos sofridos pela sua violação de tais direitos.

2. Os poderes públicos fomentam e apoiam as associações de consumidores, devendo a lei proteger os consumidores e garantir a defesa dos seus interesses.

Da leitura do que dispõe o art. 81° da referida Lei Constitucional, existem dois pontos interessantes de serem analisados. A primeira análise vem do inciso 1, pois, se vê por parte do constituinte a preocupação em trazer os direitos básicos dos consumidores para a Constituição, bem como, a preocupação de garantir essa proteção desses direitos, não se omitindo em relação a garantia de reparação dos danos caso o consumidor tenha seus direitos violados.

A segunda análise recairia sobre o inciso 2 do mesmo artigo, pois, se constata que ele traz expressa a responsabilidade do Estado em fomentar e apoiar as associações dos consumidores, bem como, esse inciso determinou que a lei deve proteger os consumidores e garantir a defesa dos seus interesses. Desse dispositivo Constitucional se tira a conclusão que não há nele apenas uma previsão ou recomendação para que o Estado proteja os consumidores, mas sim existe um dever do Estado em proteger o consumidor e garantir a defesa dos seus interesses em forma da lei. Logo, encontra-se nesse inciso a previsão direta da elaboração da

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lei de defesa do consumidor, ou seja, a Constituição determinou indiretamente a elaboração de uma lei de defesa dos consumidores.

A Constituição traz outros dispositivos, onde feita uma analogia se aplicam a proteção do consumidor, entre outros, têm-se como exemplo, o artigo 15°, 1 da Constituição, que de forma indireta, protege o consumidor ao afirmar: “ O Estado reconhece como invioláveis os direitos e liberdades consignados na Constituição e garante a sua protecção.” Bem como o inciso 2 do mesmo artigo diz que: “Todas as autoridades públicas têm o dever de respeitar e de garantir o livre exercício dos direitos e das liberdades e o cumprimento dos deveres constitucionais ou legais.”

A essa imposição constitucional, fica o Estado vinculado ao dever de respeitar e garantir os deveres constitucionais e legais, bem como, em criar Lei que disciplinas a matéria de direito do consumidor no país. É diante desse quadro que surge a Lei de defesa do consumidor em Cabo Verde, fato que analisaremos no ponto seguinte.

2.4 O surgimento da Lei de Defesa do consumidor em Cabo Verde

A Lei surge em 31 de Dezembro de 1998, como antes exposto, tem a Constituição de Cabo Verde como uma das principais fontes para o seu surgimento, a Constituição proporcionou as condições legais para sua elaboração. Além da Constituição de 1980, existiram outras Instituições que contribuíram de forma preponderante para a elaboração da lei de proteção do consumidor em Cabo Verde.

No Ano de 1985 a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, através da Resolução 39/248, adotou uma série de normas internacionais para proteger os direitos dos consumidores. No entender de Filomeno (2001, p. 25), a Organização das Nações Unidas cria tais normas para equilibrar as relações de consumo, por entender a existência de uma disparidade de força entre o fornecedor e o consumidor, reconhecendo um grande desequilíbrio entre as partes no que

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tange a capacidade econômica, no nível de instrução e variadas formas de poderes de persuasão. Segundo o mesmo autor, a grande finalidade dessas normas trazidas pela resolução estavam na possibilidade de motivar a cooperação internacional a trabalhar na proteção do consumidor, bem como para evidenciar a importância da participação dos governos na elaboração de normas de proteção, visando implementação de políticas de defesa do consumidor. Em outras palavras, a resolução, trouxe diretrizes para uma política global de proteção dos consumidores destinada aos Estados membros, respeitando seus interesses e necessidades, dando uma maior ênfase aos Estados em desenvolvimento.

Cavalieri Filho (2008, p. 6) colabora dizendo que:

Essas normas tinham como finalidade oferecer diretrizes para países, especialmente aqueles em desenvolvimento, a fim de que as utilizassem na elaboração ou aperfeiçoamento das normas e legislações de proteção ao consumidor, bem assim encorajar a cooperação internacional na matéria, ressaltando a importância da participação dos governos na implantação de políticas de defesa dos consumidores.

Nesse contexto, do interesse das Nações Unidas em oferecer as diretrizes para países para elaboração das normas de proteção ao consumidor, surgindo uma das grandes fontes motivadoras da legislação cabo-verdiana de proteção dos direitos dos consumidores. Essa Resolução se caracteriza numa das maiores fontes para a criação da lei do consumo em Cabo Verde. Essa mesma lei de consumo em Cabo Verde tem outra importante fonte para o seu surgimento da Conferência Africana sobre a proteção do consumidor.

No ano de 1996, entre 28 de Abril a 02 de Maio, foi organizada em Harare, no Zimbábue, a Conferência Africana sobre a proteção do consumidor. Essa conferência foi organizada pela Consumers International em colaboração do Departamento das Nações Unidas para a Coordenação de Políticas e Desenvolvimento Sustentável, com recursos da União Europeia e apoio do governo de Zimbábue. A dita conferência reuniu funcionários governamentais africanos, bem como líderes e especialistas africanos de proteção ao consumidor. Segundo Allemar (2002), a Conferência trabalhou sobre as diretrizes adotadas pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1985, impelindo os países africanos a se esforçarem em

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legalizar as diretrizes dadas pelas Nações Unidas, implementando políticas de proteção ao consumidor.

Segundo Allemar (2002, p. 2):

A reunião os países africanos a aprovar e implementar políticas que levem em consideração as mudanças cotidianas oriundas da economia mundial globalizada e liberalizada. Além disso, identificou um número de áreas para atenção especial: saúde, segurança, acesso a mercadorias e serviços; medidas para auxílio a estas áreas requerem ação futura, tal como a extensão das Diretrizes das Nações Unidas para Proteção do Consumidor para incluir, por exemplo, as áreas se serviços financeiros e representação de consumidores.

Nesse contexto da relação consumerista e sua abrangência, no próximo capítulo dá-se aprofundamento ao estudo da real situação da proteção do direito do consumidor em Cabo Verde, compreendendo o estágio em que se encontram as tutelas das relações jurídicas de consumo, fazendo uma leitura da aplicabilidade das normas de proteção ao consumidor, tendo a preocupação de fazer uma análise dessas normas, bem como constatar quais as Instituições estatais e paraestatais que fazem essa proteção. Para tanto, far-se-á uma breve abordagem sobre o direito do consumidor em Cabo Verde, a estruturação em que se operam seus direitos e sua efetiva aplicação.

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3 O DIREITO DO CONSUMIDOR EM CABO VERDE

Como a maioria dos países africanos a proteção das relações jurídicas de consumo em Cabo Verde ainda se encontra em estágio inicial, sua efetivação proporciona aos poucos condições para uma eficaz tutela das práticas consumeristas. A normatização desses direitos, sob influência internacional, busca a proteção do consumidor ampliando o leque de normas de proteção.

3.1 As instituições estatais e paraestatais que protegem os consumidores

Por ser um direito embrionário, o direito do consumidor em Cabo Verde tem dado seus primeiros passos para sua efetivação. Atualmente, cada vez mais, existe uma maior consciência da sociedade sobre os seus direitos, graças ao trabalho desenvolvido pelas Associações de defesa dos consumidores e a maior mobilidade do Governo em criar condições favoráveis à implementação do direito do consumidor. Assim, a promoção e tutela dos consumidores é promovida pelo Estado e Autarquias locais, as Associações de Consumidores, o Ministério Público e o Conselho Nacional do Consumo.

É de se registrar que a existência de um conjunto orgânico e sistêmico de normas legais destinado especificamente às relações de consumo não revela senão a preocupação do Estado em adequar os institutos jurídicos à realidade de ditas relações, caracterizadas, como afirmado antes, pelo desequilíbrio, fruto da desigualdade existente entre os sujeitos que delas participam em posições antagônicas. (PAULO NETO, 2011, p. 7).

O Capítulo I, artigo 1° da Lei n° 88/V/98, nas Disposições Gerais traz a seguinte previsão: “A presente Lei aprova o regime jurídico da protecção e defesa dos consumidores, definindo as funções do Estado e das autarquias locais, os direitos dos consumidores e as intervenções das associações de consumidores.” (CABO VERDE, 1998, p. 1).

Artigo 4º

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