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Gastronomia, cultura e comunicação: percepções do público sobre tastemade Brasil e o caderno de receitas da vovó

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUÍ

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, HABILITAÇÃO: PUBLICIDADE E PROPAGANDA

CAROLINA BIGOLIN PIZZUTTI

GASTRONOMIA, CULTURA E COMUNICAÇÃO: PERCEPÇÕES DO PÚBLICO SOBRE TASTEMADE BRASIL E O CADERNO DE RECEITAS DA VOVÓ

Ijuí 2018

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUÍ

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, HABILITAÇÃO: PUBLICIDADE E PROPAGANDA

GASTRONOMIA, CULTURA E COMUNICAÇÃO: PERCEPÇÕES DO PÚBLICO SOBRE TASTEMADE BRASIL E O CADERNO DE RECEITAS DA VOVÓ

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social, do Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação Publicidade e Propaganda.

Orientadora: Nilse Maria Maldaner.

Ijuí 2018

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CAROLINA BIGOLIN PIZZUTTI

GASTRONOMIA, CULTURA E COMUNICAÇÃO: PERCEPÇÕES DO PÚBLICO SOBRE TASTEMADE BRASIL E O CADERNO DE RECEITAS DA VOVÓ

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social – Publicidade e

Propaganda da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

Data de aprovação: ___/___/___

Banca Examinadora: ________________________ Nilse Maria Maldaner

Banca Examinadora: ________________________

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AGRADECIMENTOS

A meus familiares pelo apoio e incentivo durante todo o período de faculdade. Aos amigos, que com sua parceria, encontros e risadas, me ajudaram a tornar este momento mais leve.

À minha orientadora Nilse Maria Maldaner que sempre esteve disposta a ajudar e fazer com que meu trabalho de conclusão se concretizasse.

Aos colegas da Rádio Unijuí FM, em especial a minha chefe Cláudia, que desde o início da faculdade me proporcionou oportunidades na vida profissional e me apresentou desafios que me fizeram crescer, e também ao colega Douglas pela ajuda que prestou ao meu trabalho sempre sugerindo melhorias e me incentivando a prosseguir.

Ao Andrei, meu namorado, pelo apoio e companheirismo e principalmente pela paciência.

Dedico esta conquista a todos que fizeram parte desta jornada. Agradeço as oportunidades que tive e a tudo que aprendi em cada uma delas. Aguardo ansiosa pelo futuro.

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RESUMO

A busca pela alimentação saudável, a produção de seus próprios alimentos e o resgate das receitas de família tem ressignificado o ato de comer. Tradicionalmente, a alimentação era considerada apenas um ato de satisfação das necessidades básicas do homem e a sua produção consistia na reprodução das receitas tradicionais geralmente conservadas nos cadernos de receitas. Neste contexto, surgem novos termos associados à alimentação: a gastronomia, a cultura e a comunicação. O objetivo geral deste trabalho foi analisar o público que recebe e busca pelos conteúdos da página do Facebook da Tastemade Brasil, identificando e compreendendo de que forma a mídia produz conteúdos culturais. A pesquisa contou com questionário online e também pesquisa bibliográfica que nos permitiu constatar que os hábitos e costumes vem mudando, especialmente nas gerações mais novas.

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ABSTRACT

The search for healthy food, the production of their own food and the rescue of family recipes has re-signified the act of eating. Traditionally, food was considered merely an act of satisfying man's basic needs and its production consisted in the reproduction of the traditional recipes usually kept in the recipe books. In this context, new terms are associated with food: gastronomy, culture and communication. The general objective of this work was to analyze the audience that receives and searches for the contents of the Facebook page of Tastemade Brasil, identifying and understanding how the media produces cultural content. The research had an online questionnaire and also bibliographic research that allowed us to verify that habits and customs have been changing, especially in the younger generations.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Receitas do Facebook da Tastemade Brasil ………... 37

Figura 2 - Apoiadores da Tastemade Brasil ………... 39

Figura 3 - Apoiadores da Tastemade Brasil 2 ………. 39

Figura 4 - Apoiadores da Tastemade Brasil 3 ………. 40

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Relação de participantes por Estado………...…... 44

Quadro 2 - Aplicativos e programas usados para salvar receitas…………... 48

Quadro 3 - Respostas relacionadas à questão 17………... 56

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Perfil de gênero……….. 43

Gráfico 2 - Relação de pessoas que gostam de cozinhar……….. 44

Gráfico 3 - Pessoas que acompanham programas, sites ou blogs de gastronomia………. 45 Gráfico 4 - Pesquisas na internet………. 45

Gráfico 5 - Aplicativos usados para ver receitas………... 46

Gráfico 6 - Páginas e blogs de gastronomia……….. 47

Gráfico 7 - Pessoas que salvam suas receitas preferidas ………. 48

Gráfico 8 - Pessoas que já fizeram receitas da internet ………. 49

Gráfico 9 - Relação de pessoas que trocam ou não receitas pela internet... 49

Gráfico 10 - Pessoas que possuem caderno de receitas………. 50

Gráfico 11 - Relação de pessoas que anotam receitas no caderno………... 51

Gráfico 12 - Pessoas que conhecem a Tastemade Brasil………... 51

Gráfico 13 - Receitas feitas da Tastemade Brasil………. 52

Gráfico 14 - Grau de dificuldade para a produção da receita……….. 52

Gráfico 15 - Formato preferido para acompanhar receitas………. 53

Gráfico 16 - Relação de pessoas que marcam conhecidos nos vídeos da Tastemade Brasil………. 53 Gráfico 17 - Pessoas que compartilham receitas próprias……….. 54

Gráfico 18 - Como você faz para compartilhar receitas com outras pessoas ……….... 54 Gráfico 19 - Gastronomia é cultura……….. 56

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ………. 11

1 - GASTRONOMIA E CULTURA ………... 14

1.1 - Alimentação como marca de uma cultura………. 17

1.2 - História da alimentação……….. 19

1.3 - As receitas que marcam histórias e são passadas de geração em geração.. 20

1.4 - A gastronomia e a socialização………. 22

2 - COMUNICAÇÃO E GASTRONOMIA ………. 25

2.1 - Comunicação de massa………. 26

2.2 - A evolução dos meios de comunicação……….. 29

2.3 - As redes sociais como influenciadores digitais………. 32

2.4 - Páginas de gastronomia………. 35

3 – TASTEMADE BRASIL E AS PERCEPÇÕES DO PÚBLICO PESQUISADO.. 41

3.1 - Metodologia……….. 41

3.2 - Análise de Dados……….. 42

3.2.1 - Perfil dos participantes e consumo de mídias ………...……... 42

3.2.2. Análise sobre a Tastemade Brasil……….………... 50

3.2.3. Análise da Relação Gastronomia e Cultura………...……...…. 54

4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ………. 59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………. 63

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INTRODUÇÃO

A gastronomia, cada vez mais, tem sido objeto de atenção das pessoas. Garantir uma alimentação saudável, resgatar a história da família por pratos tradicionais ou ainda pelo prazer de preparar seu próprio alimento são aspectos que trazem a tona o sentido simbólico da alimentação. Nesse sentido, novas expressões vão sendo incorporadas ao dia a dia: cozinha gourmet, cozinha saudável, dietas low carb, cozinha prática, entre outros termos, e passam a influenciar no modo de vida das pessoas.

A escolha deste tema busca entender como a internet revolucionou a vida das pessoas, os novos hábitos e costumes que vão sendo incorporados no relacionamento humano. Propõem analisar a influência dos meios de comunicação na gastronomia e na cultura, trazendo a ressignificação do ato de cozinhar e de preservar as receitas de família. Quando propomos um olhar sobre o caderno de receitas, propomos uma análise sobre como as pessoas se adaptam às novas formas de comunicação, de preservar costumes e cultivar hábitos e como isso afeta a cultura de um povo.

A definição sobre o tema desta monografia, também se deu por observar que mesmo com toda a presença da tecnologia e das mídias digitais, ainda na minha família mantemos costumes que foram ensinados por minha avó e pensando nisso tive interesse em pesquisar para saber se outras pessoas também mantêm tradições de família, como o caderno de receitas, almoços no fim de semana com todo mundo reunido.

Por isso, acredita-se ser relevante fazer uma imersão na cultura, na mídia, na gastronomia e nas relações que se estabelecem e também sua influência no cotidiano das pessoas. Buscar compreender as grandes mudanças que as mídias sociais estão provocando na vida das pessoas, no comportamento, nas escolhas, inclusive na linguagem, são objetos de pesquisa, reflexão e construção de novos conhecimentos. Em tempos de expressiva evolução na tecnologia, nas formas de comunicação e interação entre as pessoas é preciso ressignificar nossas aprendizagens.

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12 Assim, a gastronomia é um dos temas que tem grande veiculação nas redes sociais. De acordo com o site Alaska Marketing Digital (2018)1, alguns sites de gastronomia estão entre os maiores influenciadores digitais com milhões de seguidores, atingindo seguidores em muitas redes sociais como Facebook, Instagram, entre outros.

No Brasil, um dos grandes influenciadores digitais na Gastronomia é a Tastemade Brasil. Sua página no Facebook contabiliza mais de 16.5 milhões de fãs, e seu YouTube contabiliza 45.500.877 visualizações totais desde 2013, com mais de 713 mil inscritos. No Instagram eles contam com 2.4 milhões de seguidores (Alaska Marketing Digital)2. Com estes expressivos números, podemos verificar a

influência de um site no cotidiano das pessoas e o poder que a mídia exerce na sociedade atual.

Nos dias atuais, as redes sociais se tornaram uma mina de ouro para os mais variados setores. O volume de mensagens que circula nesses ambientes permite observar como o público expressa opiniões sobre eventos, produtos, serviços, opiniões políticas, estado emocional e humor do seu autor, além de oferecer oportunidades sem precedentes para resolver problemas em uma grande variedade de campos (...) (AGGARWALL apud SILVA e STABILE, 2016, p. 31).

O objetivo geral é analisar o público que recebe e busca pelos conteúdos da página do Facebook da Tastemade Brasil, identificando e compreendendo de que forma a mídia produz conteúdos culturais. Os objetivos específicos abordam questões sobre a relevância que estes conteúdos têm, nos aspectos em que a gastronomia pode ser um meio de socialização e produção de cultura, além do mais, buscar saber se as páginas de gastronomia, principalmente a Tastemade Brasil podem ser consideradas influenciadoras digitais, averiguar as práticas em relação ao uso do conteúdo (re)configurando os modos de utilizar e guardar as receitas, significados que o ato de cozinhar atribui a vida das pessoas e de que forma são introduzidos os merchandising de marcas apoiadoras.

Ao propor este tema, pretendemos aprofundar as análises aqui apresentadas, com base em referências bibliográficas. Apresentamos também uma consulta à bibliografia relacionada ao tema, principalmente nas áreas de

1Dados disponíveis no seguinte link: https://marketingconteudo.com/influenciadores-de-gastronomia-do-brasil/ Data de acesso: 09/08/2018.

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13 comunicação, publicidade, marketing, gastronomia e cultura. Além de realizar uma pesquisa de campo, com levantamento junto ao público através de um questionário online, o qual foi respondido por um total de 314 pessoas.

O capítulo 1 traz a abordagem dos conceitos de Gastronomia e Cultura e da ressignificação destes conceitos na vida das pessoas. A gastronomia propõe um novo olhar sobre a alimentação. O resgate do prazer, da apreciação e dos elementos culturais implicados no ato de produzir o alimento. Além disso, serão abordados outros aspectos da gastronomia na vida do homem. A alimentação como marca de uma cultura, a história da alimentação no decorrer dos anos, as receitas que marcaram histórias e foram passadas de geração em geração e também como a gastronomia é usada como uma forma de socialização.

No capítulo 2, o tema tratado é a comunicação e sua relação com a gastronomia. Propõe-se refletir sobre a influência que os meios de comunicação exercem nas pessoas conhecendo um pouco mais sobre os meios de comunicação de massa. Faremos um breve histórico da evolução dos meios de comunicação e do seu papel em cada época da história. A seguir nos meios digitais iremos discutir sobre a internet como influenciadora digital e como os hábitos pessoais vão mudando com estas influências. Também serão analisadas as páginas de gastronomia, da Tastemade Brasil, como se apresentam e como atingem um grande número de seguidores. O enfoque principal será dado a página do Facebook, que possui uma variedade de conteúdos e milhares de seguidores.

Já no capítulo 3, iremos apresentar a pesquisa que foi realizada em relação à comunicação, cultura e gastronomia feita em forma de questionário. Inicialmente apresentamos a metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa e logo após tratamos sobre questões específicas com a análise dos dados do questionário, avaliação das respostas dos participantes da pesquisa sobre a Tastemade Brasil e a suas percepções da relação entre a gastronomia e cultura.

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1 - GASTRONOMIA E CULTURA

O conceito de gastronomia teve origem na Grécia. A palavra gastronomia vem do grego antigo “gastros”, que quer dizer estômago e “nomia” que quer dizer conhecimento. Em 1995, o francês Brillat-Savarin, de acordo com Tucherman (2010), renovou o valor da gastronomia e das discussões referentes a esta linguagem em sua obra “Fisiologia do Gosto” que traz reflexões importantes sobre o prazer de comer e cozinhar.

A partir daí este termo vem sendo usado constantemente, na perspectiva de traduzir a paixão pela cozinha, pela produção de alimentos e pelo prazer de saborear uma deliciosa refeição. Logo, a gastronomia passa a ser considerada de fato um aspecto cultural na atualidade, tendo até mesmo uma Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet, 8.313/91), que inclui gastronomia e cultura alimentar como beneficiárias da política de incentivo fiscal.

A gastronomia é que nos sustenta, do nascimento ao túmulo, que faz crescer as delícias do amor e a confiança da amizade, que desarma o ódio, facilita os negócios e nos oferece, na curta trajetória de vida, o único prazer que não se acompanha de fadiga e ainda nos descansa de todos os outros (TUCHERMAN, appud Brillat-Savarin, 1995, 2010, p. 316).

A gastronomia ressignificou o ato de comer. Trouxe consigo um novo olhar sobre a preparação dos alimentos, a forma de apresentá-los e mais ainda a maneira como se degusta uma boa refeição. A ressignificação destes atos, trazem consigo a proposta de resgatar valores, histórias e consequentemente de revisitar a cultura de cada povo expressa na alimentação. Assim, podemos dizer que a arte de combinar os ingredientes com os temperos, os rituais de preparar e servir, os prazeres do convívio à mesa expressam as nossas heranças culturais e definem, juntamente com outros fatores, a nossa identidade.

Importante destacar, que o conceito de cultura também tem sido atualizado. Derivada da palavra latina cultura, seu conceito adquiriu novos significados em diferentes épocas e países da Europa. Os primeiros usos da palavra preservaram seu sentido original, que se referia a cultivar ou cuidar de algo. Porém, a partir do século XVI até o século XIX o conceito de cultura passou a abranger mais significados, entre eles o cultivo de grãos e da mente, histórias da humanidade,

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15 entre muitas outras definições. Thompson diz: “Nessas histórias, o termo ‘cultura’- é geralmente usado no sentido de cultivo, melhoramento e enobrecimento das qualidades físicas e intelectuais de uma pessoa ou de um povo” (THOMPSON, 1990, p.169).

Assim então, a cultura por sua vez, expressa as tradições, crenças e costumes de um determinado povo. São vários os significados para a definir cultura. Aqui vamos trazer o conceito de Thompson, que diz: “A cultura pode ser vista como o conjunto inter-relacionado de crenças, costumes: formas de conhecimento, arte, etc., que são adquiridos pelos indivíduos enquanto membros de uma sociedade particular e que podem ser estudados cientificamente. (THOMPSON, 1990, p.171). Cultura trata sobre cultivar algo, seja a história de um povo, de um lugar, o cultivo de um alimento ou a preparação de um prato. Além do mais, trata sobre vivenciar e apropriar-se de heranças sociais e históricas repassadas de uma geração para outra. A cultura faz parte de nosso dia a dia da vida em sociedade. Ao nos relacionarmos com diferentes tipos de pessoas, aprendemos diferentes costumes, ouvimos novas histórias, novas expressões e assim então, conhecemos novas culturas. Portanto, ela significa também um movimento dinâmico que passa por adaptações e ressignificações.

Ao analisar a cultura, entramos em emaranhadas camadas de significados, descrevendo e redescrevendo ações e expressões que são já significativas para os próprios indivíduos que estão produzindo, percebendo e interpretando essas ações e expressões no curso de sua vida diária (THOMPSON, 1990, p.175).

Podemos dizer que cultura é também apropriação. Quando alguém se interessa por determinados costumes, passa a se apropriar deles, e muitas vezes, cria adaptações que se encaixem no seu estilo de vida, no seu tempo e lugar. A cultura é dinâmica, ou seja, pode ser preservada ganhando novos significados. Conhecer outros costumes e hábitos é importante para que assim possamos aprimorar técnicas, e compreender, os hábitos alimentares de outros países, novos pratos que são cultivados por um povo ou por determinada etnia.

Segundo o Professor do Instituto Federal Farroupilha, Fernando Melo, Gastronomia e Culinária possuem significados diferentes, sendo:

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16 A Culinária de uma localidade é o conjunto das suas técnicas de preparo, das matérias-primas regionais, das receitas criadas ao longo da história, dos utensílios utilizados, da forma de comer e de tudo mais que se insira neste contexto. (...) A Gastronomia é, portanto, uma ciência humana que se firma na discussão e na prática da inter relação do Homem (técnica) com a Natureza (matérias-primas), realizada em torno da culinária, com o objetivo de potencializar o prazer do comer e a busca incessante pela excelência das preparações.3

Assim, a gastronomia, pode ser entendida como uma das linguagens que expressa a cultura de um povo. É um termo que abrange a culinária, os materiais usados na sua produção e todos os aspectos culturais que são a ela associados. Cada vez mais, ela tem sido objeto de atenção das pessoas e muito se discute hoje sobre esse espaço que a gastronomia e a culinária4 têm conquistado, representando um grande histórico cultural da vida do homem ao longo do tempo.

Nos últimos anos tem havido um crescente interesse em apresentar a gastronomia em diferentes plataformas, como redes sociais, programas de televisão e até mesmo na literatura, meios estes que passaram por muitas mudanças desde o período onde a alimentação era feita a partir do que se conhecia de nossas origens. Foram deixados para trás alguns dos costumes que se tinha, pois na civilização humana o homem desempenha um papel de criar, descobrir e elaborar coisas para conseguir sobreviver.

A história da alimentação abrange, portanto, mais do que a história dos alimentos, de sua produção, distribuição, preparo e consumo. O que se come é tão importante quanto quando se come, onde se come, como se come e com quem se come. As mudanças dos hábitos alimentares e dos contextos que cercam tais hábitos é um tema intricado que envolve a correlação de inúmeros fatores (CARNEIRO, 2003.)

Na antiguidade a alimentação e as bebidas eram supervalorizadas, sendo que banquetes e festas marcavam grandes eventos de uma comunidade. Estes eventos manifestavam importantes momentos políticos e também religiosos, passando ao longo do tempo por mudanças, perdendo alguns dos traços histórico– culturais. Hoje em dia, oferecer um jantar a alguém não representa um grande evento social, mas sim um momento de confraternização entre um grupo de pessoas. Talvez por isso, algumas dessas práticas ganharam novos significados.

3 Texto disponível em: http://adegagourmet.blogspot.com/2011/08/culinaria-ou-gastronomia.html Data de acesso: 30/11/2018.

4 Apesar da diferenciação apresentada, usaremos neste trabalho os termos gastronomia e culinária como equivalentes.

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17 Em consequência dos avanços das tecnologias e da globalização, o homem teve a necessidade de mudar muitos de seus hábitos. Em um mundo onde a rotina de todos está muito mais corrida, com horários rigorosamente estabelecidos para trabalhar, levar filhos na escola, passear com o cachorro, ir a academia... as comidas rápidas e baratas tomam um enorme lugar na alimentação da sociedade.

Os fast-food são práticos e geralmente têm preços acessíveis e são gostosos. No entanto, esse tipo de comida não é indicado para consumo diário, pois são alimentos repletos em gorduras hidrogenadas, açúcares, sódio e muitas calorias. Especialistas da área da saúde e nutrição indicam inclusive, que a causa de grande parte dos casos de obesidade se devem ao consumo constante desses lanches.

A nova realidade pode ser compreendida com um único e incontestável fato: no mundo todo, o número de obesos superou o de indivíduos com baixo peso. Simultaneamente, a disponibilidade crescente de alimentos altamente calóricos e pobres em nutrientes está gerando um novo tipo de desnutrição, caracterizada por um número cada vez maior de pessoas com sobrepeso que, ao mesmo tempo, tem uma nutrição precária. (JACOBS e RICHTEL. The New York Times. Dezesseis de Setembro de 2017).

Ao analisarmos a expressão “se você cozinha, você sabe o que está consumindo” podemos observar que cozinhar vai muito além do simples fato de estar preparando seu próprio alimento, mas que se trata também dos ingredientes que serão usados e que temperos serão acrescentados à receita. Se fizermos uma breve comparação dos costumes que nossos avós tinham com os que temos hoje, raramente fazemos uma receita totalmente natural, sem usar produtos industrializados, enquanto nossos avós cultivavam hortas que proporcionaram quase todos ingredientes necessários para fazer sua comida. Na sociedade contemporânea, se tornou um hábito e uma praticidade ir ao supermercado comprar molho de tomate, entre outros muitos produtos processados e enlatados.

1.1 - Alimentação como marca de uma cultura

Cozinhar é uma ação cultural. A comida carrega a nossa história, nossas crenças e nossas lembranças. Representa um conjunto de fatores culturais próprios de uma família, de uma região e de um país, caracterizados na maneira peculiar que cada um utiliza para preparar seus alimentos. Cada lugar tem seus próprios

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18 costumes, e eles dizem muito sobre a cultura em que sua população está inserida, como afirma Millán:

O comportamento relativo à comida revela a cultura em que cada um está inserido. É na alimentação humana que se materializa a estrutura da sociedade, que se atualiza a interação social, sócio ambiental e as representações sócio-culturais dos que têm em comum uma mesma cultura. A abstração conceitual da cultura se concretiza no prato (MILLÁN apud IKEDA, 2004, p. 289-292).5

Estes costumes derivam de vários fatores, sejam eles ambientais, econômicos, geográficos e até mesmo históricos de um lugar. O Brasil é um dos maiores países do mundo, tendo no total 26 estados, divididos em 5 regiões, cada uma com suas tradições, muitas delas repassadas de geração em geração. Na gastronomia temos uma boa representação dos contrastes culturais na vida da sociedade brasileira. No Sul, temos o churrasco, no Nordeste o acarajé e o vatapá, no Amazonas frutas que são cultivadas e exportadas para todos os cantos do país e os grandes centros que englobam todas estas culturas, representando um pouco de cada lugar.

O Rio Grande do Sul pode ser citado como exemplo dessa grande diversidade cultural. Costumes de etnias como a alemã, italiana, polonesa, sueca, austríaca, portuguesa, espanhola, se mesclam advindas de um intenso processo migratório. A alimentação se dá como marca de uma cultura justamente pelo fato de que, mesmo saindo de seu país de origem, estas receitas e costumes são mantidas, quase como um ritual. Muitos dos pratos que consumimos têm origem nestes países, dos quais as pessoas migraram para o estado. Da Itália vieram as massas: macarronada, pizza, lasanha, da Alemanha, a salsicha, salada de batata e a cerveja, e assim muitos outros pratos que hoje consumimos. São heranças culturais trazidas por outros povos e que passaram a fazer parte da vida do povo gaúcho.

Assim, podemos ver como a cultura de um povo vai se constituindo, como novos costumes, crenças e valores vão sendo incorporados e como estes conhecimentos são passados de geração em geração.

5 Disponível no artigo Alimentação e Cultura:

https://www.ucs.br/ucs/eventos/seminarios_semintur/semin_tur_6/arquivos/13/Alimentacao%20e%20 Cultura%20Preservacao%20da%20Gastronomia%20Tradicional.pdf

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1.2 - História da alimentação

A história da alimentação aconteceu paralela a história e evolução do homem. Antigamente, a espécie humana era selvagem e sobrevivia com o que a natureza ofertava como alimento, frutas, folhas e raízes e mais adiante iniciaram-se novas práticas, como a caça e a pesca, ou seja, o homem passou a consumir também carnes selvagens.

Com o passar do tempo e com muitas mudanças os homens evoluíram de selvagens primitivos e caçadores à agricultores, portanto, passaram a cultivar seu alimento que antes era coletado da natureza, incluindo a criação e domesticação de animais. O desenvolvimento da agricultura deu marco à civilização, que com sua expansão incentivou o homem a buscar novas terras para produção agrícola. Deste modo, o homem passou a ter a segurança de que se cuidasse de suas plantações, teria alimento para o resto do ano.

Entretanto, a evolução humana não estacou no homem agricultor que buscava novas terras para seus cultivos. No século XVIII houve a revolução industrial, que teve grande influência nos hábitos de alimentação da população. Com novas oportunidades de empregos nas indústrias, tanto homens quanto mulheres começaram a trabalhar fora de casa e por consequência disso muitas famílias passaram por mudanças em seus costumes alimentares. As comidas já não eram mais totalmente cultivadas e preparadas em casa, o consumo de congelados e alimentos gordurosos tiveram aumento na procura desses trabalhadores. Tudo por conta da correria que a vida da era industrial causou.

Assim como a revolução industrial mudou muitos dos costumes alimentares e facilitou alguns atos relacionados a gastronomia, ela também afetou, de certa forma, o que o homem sabia fazer. Com tantas máquinas e aparelhos que substituem o trabalho humano, algumas vezes as pessoas deixam de adquirir novos conhecimentos sendo cativadas pelas facilidades tecnológicas. Algumas receitas básicas que nossas avós faziam não foram conservadas, a maioria das pessoas não sabe fazer ou não tem paciência para realizar todos os passos da receita, ou então não lembram, ou sequer conhecem.

Os simples utensílios de cozinha também passaram por substituições. Colheres de pau foram trocadas por colheres de silicone, panelas e fornos de barro não são mais vistos com tanta frequência quanto nos anos setenta. Hoje existem

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20 inúmeros tipos de colheres, facas específicas para cada tipo de corte, panelas dos mais diversos materiais, cheias de tecnologias, que supostamente melhoram a preparação das comidas e aparentemente fazem coisas mágicas. Entretanto, como afirma Wilson, “À medida que novas tecnologias surgem, há sempre alguém que garante que os velhos hábitos eram melhores” (WILSON, 2013, p.16).

Além dos utensílios, as maneiras de como preparar a comida também mudaram, Wilson lembra, em “A história da invenção na cozinha”, que “Até há cerca de cem anos, a manutenção do fogo era uma das principais atividades humanas (WILSON, 2013 p.17)” Hoje o fogão e os fornos elétricos tomam posse dessas ações, as pessoas não precisam mais ficar uma manhã toda preparando sua fogueira para assar ou cozinhar seu alimento, as tecnologias da cozinha possibilitam que grandes refeições sejam preparadas em apenas algumas horas.

Os micro-ondas e a comida pronta oferecem a liberdade de nos alimentarmos acionando apenas alguns botões, o que não se constitui um grande avanço, se perdermos toda a compreensão do que significaria sabermos cozinhar uma refeição. Por vezes, contudo, é preciso uma nova tecnologia para nos fazer apreciar as antigas (WILSON, 2013, p. 17).

Acredita-se que toda a tecnologia relacionada à gastronomia veio para favorecer os cozinheiros, mas é importante ressaltar que em consequência disso muitas das tradições e rituais da comida e de como prepará-las foram realmente deixados no passado. Então, talvez seja necessário hoje, não esquecermos nossa história e do que nos foi ensinado sobre nossa cultura em relação a gastronomia e também do que ela representava para nossos avós. É importante apreciar costumes antigos e de alguma forma tentar mantê-los vivos.

1.3 - As receitas que marcam histórias e são passadas de geração em geração

Pela culinária podemos conhecer um pouco das tradições e da cultura de uma família ou de um povo. As receitas nos permitem decifrar emoções, lembranças e histórias. Quando se alimentam, as pessoas, além de suprir suas necessidades vitais, expressam seus modos de vida, suas crenças, e seus valores.

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21 Antigamente as receitas eram repassadas de uma vizinha para a outra, de mãe para a filha, e não havia passo a passo. Sabia-se apenas os ingredientes que eram ditos, em muitas das situações era necessário conviver por muito tempo ao lado de quem conhecia as receitas para aprender a fazer a comida fielmente ao prato original. Era pela observação e pela repetição que as receitas eram preservadas nas famílias. Com o passar do tempo, as pessoas começaram a registrar estas receitas e, junto com elas, preservar aspectos importantes da cultura familiar. Por estes registros, era possível conhecer muito sobre a produção e consumo de alimentos, evolução nos gostos, relações de classe e gênero envolvidas no preparo dos pratos e assim por diante.

Durante muito tempo, as famílias produziram registros de sua história e preservaram as tradições culinárias pelo caderno de receitas. Muito mais do que uma preparação, a receita expressava de forma tangível um modo de vida, um modo de fazer, um modo de manter viva a memória de seus antepassados. “O bolo da vovó Ana”, a “Salada da tia Maria”, Pão da Mãe” são títulos das receitas que se encontram vivas ainda em muitos cadernos de receitas. Receitas que são carregadas de lembranças, memórias de sabores e histórias em que compartilhamos bons momentos em família.

A socióloga Rosa Belluzzo em seu livro “Cozinha dos Imigrantes - Memórias e Receitas nos diz:

Os livros e velhos cadernos de receitas, permitem analisar modelos alimentares de uma época, a transformação histórica dos gostos por intermédio das receitas. São velhos testemunhos dos hábitos alimentares, da diversidade geográfica e da sociologia dos gostos (BELUZZO, 1998). Assim, os cadernos de receitas, durante muito tempo, tornaram-se importantes instrumentos de preservação cultural. Mas e agora? Esta história se perdeu? Ou foi ressignificada? Como são “guardadas” as receitas de família?

Temos, em função das avós, ainda como um exemplo da preservação dessas receitas. Quando pensamos em como são “guardadas” essas receitas de família, logo nos vem à mente a avós. Elas são as grandes responsáveis por repassar estas pequenas “histórias” adiante. Elas ensinam a seus netos receitas que eram de sua mãe, ou então receitas que ela aprendeu quando era jovem. Bolachas que eram preparadas para o Natal, bolos que eram feitos para os lanches

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22 da tarde… Avós ensinavam receitas, ensinavam pôr a “mão na massa”, mas o melhor de tudo: nos ensinam a valorizar nossos alimentos e a aprender preparar nossa própria comida. Hoje este papel de ensinar e valorizar alimentos não são exclusivos das avós, nem das mães e talvez, de ninguém da família. Existem atualmente muitos programas de culinária e diversas páginas em redes sociais que cumprem muito bem com esta função de ensinar a valorizar os alimentos, instigar as pessoas a cozinharem seus próprios alimentos, dão dicas de como utilizar melhor os temperos e utensílios na cozinha, ou até mesmo inspirar as pessoas a terem suas próprias hortas, cultivar seus próprios temperos.

1.4 - A gastronomia e a socialização

É indiscutível a importância que a socialização, a partir da comunicação, tem para a sociedade humana, pois é através dela que há troca de informações, que se expressam ideias, opiniões, desejos. É também por meio dela que se cria laços com outras pessoas e outras culturas. Com o passar dos anos a comunicação passou por várias mudanças e evoluções, transitou entre a fala até o surgimento de novas mediações. Da mesma maneira, aconteceram transformações na forma como a alimentação é tratada, tendo novos costumes e aprimoramento de técnicas. Portanto, compreendendo a importância da comunicação e da socialização na vida da sociedade humana, passamos a pensar em como a gastronomia pode servir como meio socializador.

Desde as mais antigas formas de comunicação gestual e do uso da linguagem até os mais recentes desenvolvimentos na tecnologia computacional, a produção, o armazenamento e a circulação de informações e conteúdo simbólico têm sido aspectos centrais da vida social (THOMPSON, 1995, p. 19).

Antigamente a cozinha era o coração da casa, o lugar onde a família ficava unida, geralmente era o maior cômodo da casa, maior mesmo que a sala. No período da industrialização a forma como as pessoas se alimentavam mudou, e consequentemente estes comportamentos relacionados à socialização durante os almoços e jantares, também mudaram. Hoje, as pessoas estão buscando se reconectar com alguns destes costumes, a cozinha está voltando a ser um espaço

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23 de socialização e união. Passou a ser usada mais vezes durante o dia e não apenas para comer. Muitas vezes a cozinha serve como espaço de bem-estar, o lugar perfeito para tomar um cafezinho e conversar com os amigos.

O ato de cozinhar, vai muito além de simplesmente preparar uma refeição, ela também é um meio de socialização entre as pessoas. Carneiro afirma que “de todas as esferas da cultura material, a alimentação é uma das que mais se infiltra em todos os níveis da vida social (CARNEIRO, 2003).

Krznaric (2013, p. 291) diz que “satisfazer a fome de outrem é satisfazer sua necessidade humana mais básica, mas é também uma forma sublime de autodoação. Ou seja, cozinhar vai muito além de simplesmente servir uma refeição para alguém, é doar tempo, dar atenção, conversar e compartilhar ideias. A alimentação promove momentos importantes para a socialização e acaba satisfazendo algumas das necessidades básicas da humanidade que é a de se comunicar, mas principalmente a de se expressar.

A alimentação é, após a respiração e a ingestão de água, a mais básica das necessidades humanas. Mas como "não só de pão vive o homem", a alimentação, além de uma necessidade biológica, é um complexo sistema simbólico de significados sociais, sexuais, políticos, religiosos, éticos, estéticos etc (CARNEIRO, 2003)

A comunicação permite que as pessoas consigam se reconectar com suas raízes, mas permite também que elas consigam prospectar coisas novas. Assim como na gastronomia as receitas podem ser feitas da forma clássica ou num estilo mais moderno, o processo comunicativo também pressupõe troca de informações, na dinâmica da preservação, transformações e adaptações.

Ao contrário do que muitos acreditam, a gastronomia e a comunicação estão cada vez mais ligadas, trabalhando cada vez mais juntas, como afirma a Doutora Helena Jacob:

Há culinária, gastronomia, panelas e receitas por todos os lados: na televisão, nos jornais, nas revistas, no rádio, nas livrarias, na publicidade, nas bibliotecas. Não queremos dizer aqui que cresceu a importância da alimentação, mas certamente cresceu o poder de sua comunicação (JACOB, 2013, p.114).

Portanto, assim como afirma Jacob, não é só a importância da alimentação que cresceu, mas sim a valorização que a comunicação proporcionou a este meio. Esta que se baseia na troca de informações e tem por objetivo tornar algo em

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24 comum entre pessoas. Além do mais, a comunicação é um processo de interação social, sendo desde o princípio fundamental para a vida humana.

Pode-se pensar também na evolução dos meios e mediações da comunicação para então se tornar o que é hoje, além de analisar de que forma ela contribui na socialização de uma população. É interessante pensar que a comunicação é a grande responsável pela produção de uma série de conteúdos que alcançam hoje grandes números de pessoas.

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2 - COMUNICAÇÃO E GASTRONOMIA

A palavra comunicação é derivada do latim communicare, que significa partilhar, participar algo, tornar comum. Pode ser definida também como um processo de interação social. A comunicação é essencial para o homem e para a vida em sociedade. Desde o princípio, quando o homem sentiu necessidade de unir-se e organizar-unir-se, a comunicação foi fundamental, pois ela é uma ferramenta de instrução, integração e desenvolvimento a partir da troca de informação entre indivíduos, ou pode ser usada como definiu Thompson: “Comunicação como um tipo distinto de atividade social que envolve a produção, a transmissão e a recepção de formas simbólicas e implica a utilização de recursos de vários tipos (THOMPSON, 1989, p. 25)”.

Para haver o processo de comunicação é necessário que tenha um emissor e um receptor. O emissor é responsável por emitir uma mensagem, o receptor por decodificar e interpretar a mensagem. A comunicação pode se realizar pela linguagem escrita ou falada, pela linguagem de sinais, pelos comportamentos e atitudes, entre muitas outras formas. A comunicação antes de tudo é a capacidade de interagir com o outro utilizando estas diferentes formas de expressão.

A comunicação, nessas circunstâncias, teria como função principal estabelecer uma relação multidirecional e dinâmica entre os diversos elementos envolvidos, desde a emissão até a recepção das mensagens (VICENTE, 2009, p. 22)

Pode-se questionar: qual é a relação entre comunicação e gastronomia? O que essas duas áreas têm em comum? E a resposta, de fato, surpreende. Elas têm tudo a ver. A comunicação é uma das necessidades básicas do homem, já que partindo dela há a socialização entre pessoas. Compreender a relação entre esses dois campos de conhecimento é fundamental para entender a forma como a gastronomia é vista hoje, e de onde partiram os conceitos conhecidos atualmente.

A explosão de tipos de meios de comunicação no século XX nos permite, pela primeira vez, apreender a relação entre a forma e o conteúdo, entre o meio e a mensagem, entre a engenharia e a arte. Um mundo governado exclusivamente por um único meio de comunicação é um mundo governado por si mesmo. Não se pode avaliar a influência de uma mídia quando não se tem com que compará-la” (JOHNSON, p.15, 1997).

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26 As relações entre sociedade e mídia produziram novos significados também para a gastronomia. Além de mostrar novas formas de como a culinária tem sido vista, apresenta inovações no modo de como pode ser explorada como conteúdo comunicacional.

Levando em consideração que hoje existem áreas específicas da comunicação com foco na gastronomia, talvez seja interessante analisar de que forma estes conteúdos são produzidos e qual seu intuito. Dar mais visibilidade à esta área? Introduzir a gastronomia num patamar cultural mais reconhecido?

O que se propaga sobre a gastronomia diz muito sobre o conhecimento que as pessoas têm sobre o tema. Atualmente existem canais e programas de culinária que ganharam lugar no dia a dia da rotina de quem assiste TV, acompanha páginas no Facebook e no Instagram, que são quase como revistas digitais, completas e cheias de receitas, dicas, vídeos e muitos outros conteúdos muito bem produzidos.

Assim, o tema gastronomia também passa a ser alvo dos meios de comunicação de massa. O termo comunicação de massa é usado para expressar audiência massiva, ou seja, um grande número de pessoas que são atingidas por estes meios. A televisão e a internet são as principais plataformas responsáveis por atingir milhões de pessoas, sabendo que grande parte da população tem acesso a essas mídias. Houve um grande período onde a comunicação de massa tinha como concepção um perfil de receptores passivos, os quais não tinham condições de questionar o conteúdo que estava sendo recebido.

Dessa forma, é de grande relevância compreender quais foram as mudanças referentes à tecnologia e aos formatos de comunicação, no processo comunicativo, principalmente em relação aos receptores, que deixaram de ser passivos, tornando-se participativos. A cultura de um indivíduo indiferente ao que era divulgado, deu espaço à pessoas que buscam pela interação e que fazem questão de muitas vezes contestar e dar seu ponto de vista em relação aos mais diferentes assuntos.

2.1 - Comunicação de massa

A comunicação de massa é a responsável por disseminar informações a partir dos meios massivos, os mais conhecidos são: televisão, jornal, rádio, revistas e, mais recentemente, a internet. Esta comunicação abrange todas as populações a partir de uma rede fundamental, característica da comunicação de massa. O

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27 emissor codifica uma mensagem e a transmite ao receptor através de um meio/canal, que permite que a informação chegue a estes receptores que têm o papel de decodificá-la e que podem dar um feedback aos conteúdos recebidos.

Inicialmente a comunicação de massa era conhecida e julgada por induzir as pessoas a acreditarem fielmente em tudo o que era noticiado e divulgado, sem nenhum questionamento, totalmente passivos perante às notícias e informações, entretanto, com o passar do tempo, coisas importantes relacionadas à comunicação de massa mudaram, portanto o significado de “massa” no contexto comunicacional se tornou um pouco equivocado.

Devemos abandonar a ideia de que os destinatários dos produtos de mídia são espectadores passivos cujos sentidos foram permanentemente embotados pela contínua recepção de mensagens similares (THOMPSON, 1998, p. 31).

Atualmente, os meios de comunicação de massa têm como objetivo sim alcançar o maior número de pessoas, emitindo conteúdos que se responsabilizam por entreter, informar e “educar” um público específico que busca por conteúdos de seu interesse. Mesmo sendo um meio de massa que alcança milhões de pessoas simultaneamente, o receptor tem espaço e voz, como afirma Thompson (1998, p.31): “os receptores têm capacidade de intervir e contribuir com eventos e conteúdo durante o processo comunicativo”. Além disso, a comunicação de massa implica também na mercantilização das formas simbólicas, ou seja, há uma valorização econômica dos conteúdos que são vinculados a comunicação de massa. De forma mais objetiva, podemos dizer que o receptor de alguma forma, seja ela direta ou indireta, paga para estar recebendo esses conteúdos.

Sabemos da ambivalência presente nas relações comunicativas, em especial as que são mediadas pela mídia. Ao mesmo tempo em que precisa preservar os valores sociais, precisa ser inovadora e ousada, pois este é um elemento fundamental para atrair maior público. No entanto, em nosso país a mídia tem um aspecto particular que precisa ser considerado: a maioria dos veículos de comunicação é constituída por empresas privadas e, como tal, defendem interesses econômicos de quem controla o capital. Compreender os fatores implícitos numa mídia não isenta, implica em estar atento às informações que são veiculadas e que se apresentam como verdadeiras. É preciso estar atento para as informações que

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28 chegam até nós e que tentam mudar crenças e valores e consequentemente nosso comportamento.

Juan Manoel Moran (1994), um estudioso dos meios de comunicação, nos diz que é complexo analisar os meios de comunicação, uma vez que para a maioria das pessoas eles representam a modernidade, a novidade, o fascínio, o lazer, ou seja, apresentam uma dimensão positiva e representam um modo de vida desejável. Para ele, é preciso “problematizar o que não é visto como problema e desideologizar o que só é visto como ideologia” (MORAN, 1994, p.16). É preciso, assim, educar para a comunicação porque essa formação ajuda a “compreender as novas codificações, as sutilezas da imagem, da música, da articulação entre o verbal, o visual, o escrito, (...) as articulações comerciais, empresariais, financeiras e políticas do complexo de comunicação” (MORAN, 1994, p.16)

Os meios de comunicação de massa possibilitam fornecer informações úteis e importantes para toda a população e podem também influenciar nos modos de pensar, de agir e de consumir assim como nos possibilitam ampliar nossos horizontes, abrir os olhos para o mundo. Nesta perspectiva, é necessário que o indivíduo social desenvolva um pensamento crítico e reflexivo sobre todas as informações, e consiga desvendar os elementos que são utilizados para persuadir a população, fazendo uma seleção das informações que realmente são relevantes e significativas e que estão de acordo com seus valores e crenças.

O sentido que os indivíduos dão aos produtos da mídia varia de acordo com a formação e as condições sociais de cada um, de tal maneira que a mesma mensagem pode ser entendida de várias maneiras em diferentes contextos (THOMPSON, 1998, p. 42).

Portanto, como afirma Thompson, as mensagens emitidas podem ter vários entendimentos, onde cada indivíduo irá interpretá-las de acordo com seu conhecimento, seus hábitos e também sua cultura. O receptor irá se apropriar do conceito que mais fizer sentido para sua vida e do que mais corresponde às suas vivências. São vários os fatores que podem modificar o entendimento de um sujeito.

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2.2 - A evolução dos meios de comunicação

Antigamente encontrávamos receitas em colunas de jornais, em revistas e no rádio. Mas atualmente estes meios dividem espaço com mídias mais atuais. Analisando as mudanças que elas passaram, inicialmente tendo os meios tradicionais como mediações para a maneira como as pessoas interpretavam e se relacionavam com o mundo, agora ampliados por uma era digital onde as relações sociais também se modificaram, é de grande relevância estudar como as pessoas se adaptam às novas formas de comunicação e de que maneira estes novos meios afetam o comportamento dos indivíduos diante destas transformações que podem ser consideradas também, culturais.

Um novo sistema de comunicação que fala cada vez mais uma língua universal digital tanto está promovendo a integração global da produção e distribuição de palavras, sons e imagens de nossa cultura como personalizando-os ao gosto das identidades e humores dos indivíduos (CASTELLS, 1999, p.40).

A história dos meios de comunicação nos possibilita entender a história e a evolução do comportamento humano. Evolução esta que ocorreu em grande parte, devido ao desenvolvimento das economias e das sociedades à sua volta. Tudo começou com a descoberta da escrita.

A comunicação de nossos antepassados era baseada na fala e em símbolos que serviam para testemunhar a existência do ser humano e além disso, transmitir seus conhecimentos. Desde a pré-história o homem se utilizava da natureza para fazer seus registros, aproveitando materiais como pedras, galhos, barro, madeira, etc.

Aproximadamente no ano 3.500 a.C. os Sumérios inventaram a escrita, o que possibilitou ao homem o registro de forma segura e sem alterações de conteúdo, preservando fatos históricos e acontecimentos. Assim então foram surgindo os primeiros registros escritos, como atas e pergaminhos, que antecederam a escrita tipográfica6.

6 Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-elementos-teoria-pequisa-comunicacao-media.pdf, Elementos de teoria e de pesquisa da comunicação e da mídia, p. 131.

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30 Com o crescimento econômico e a expansão do comércio no período do Renascimento, as artes e as ciências fizeram crescer a necessidade de informações mais detalhadas sobre o que acontecia nas cidades, o que obrigou a invenção de equipamentos capazes de imprimir materiais informativos em grandes quantidades. E assim a inovação da tipografia proporcionou à sociedade uma nova forma de explorar social e economicamente um meio de comunicação.

O acesso à informação foi fundamental na maneira como as pessoas pensavam e agiam além de que, permitiram preservar as memórias dos povos que deixaram de lado seu caráter oral e passaram para memória escrita. Ao longo dos anos, o desenvolvimento e a melhor qualidade dos registros impressos se deram graças à evolução das tecnologias de informação e comunicação, nascimento das agências de notícia, imprensa e a evolução dos transportes.

O surgimento do rádio foi em 1896, mas inicialmente não tinha o formato conhecido hoje, pois transmitia apenas sinais. A massificação deste meio se deu apenas em 1927, considerando que a Primeira Guerra Mundial limitou bastante a difusão do rádio. O rádio foi fiel companheiro de muitas pessoas durante um grande período de tempo, pois além das informações que disponibilizava sobre notícias, tinha programas destinados a cada um de seus públicos, como programetes especiais para as mulheres, dicas de receitas, rádio novelas, dentre muitas opções para seus ouvintes.

Também nos anos 20, surgiram as primeiras televisões, com pouca qualidade de imagem e baixo número de pessoas atingidas, já que, inicialmente as transmissões eram pequenas. As grandes transmissões, que já atingiam maior número de pessoas, começaram em 1939. Após a Segunda Guerra Mundial, período onde existiram grandes avanços tecnológicos e econômicos, a televisão acabou se popularizando. Mesmo que com transmissões em preto e branco, esse meio assumiu um papel muito importante na vida das pessoas.

O aparelho de TV tomou boa parte do lugar do rádio e passou a ser o eletrônico mais presente nas residências. A televisão tornou-se o principal meio de comunicação do século XX. Ela foi e continua sendo parte do lar e dos hábitos diários de praticamente toda sociedade. Além disso, é ainda um dos principais meios de informação, lazer e entretenimento, tendo capacidade de atingir todas as idades e todos os públicos.

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31 Todos esses processos de evolução dos meios, da tecnologia e da comunicação foram importantes, mas talvez seja relevante reforçar a revolução que a internet causou em todo mundo. Com a chegada desse universo cibernético os consumidores precisaram se adequar e foi necessária uma adaptação à nova realidade e velocidade das informações, para uma clientela ávida por informações a todo momento. Como afirma Jenkins: “A convergência representa uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos (JENKINS, 2006, p. 29-30).

As informações que antes circulavam de forma mais lenta, agora são divulgadas praticamente em tempo real. Os conceitos de tempo e espaço ganham uma nova conotação. A velocidade como circulam as informações afetaram também o modo de vida das pessoas e, em especial, os modos de pensar, de agir, e de construir as relações sociais.

Novas tecnologias, novas mídias, cada vez mais convergentes pelo mecanismo da digitalização, estão transformando o tempo e o espaço sociais e culturais. Esse novo mundo não para: 24 horas de noticiário, 24 horas de serviços financeiros. Acesso instantâneo, em todo o globo, à World Wide Web. Comércio interativo e sociabilidade interativa em economias e comunidades virtuais. Uma vida a ser vivida on-line. Canais e mais canais. Escolhas e mais escolhas. Televisão como balas sortidas (SILVERSTONE, 1999, p.46).

Mesmo com o surgimento da internet e com o grande espaço que ela ocupa na vida das pessoas, a televisão não foi deixada para trás. Internet e televisão são aliadas. Jenkins afirma: “Novas tecnologias midiáticas permitiram que o mesmo conteúdo fluísse por vários canais diferentes e assumisse formas distintas no ponto de recepção (JENKINS, 2006, p. 38)” Por mais que cada um dos canais trabalhe conteúdos de diferentes maneiras, juntos esses meios conseguem fazer com que os conteúdos alcancem maior número de pessoas, em diferentes plataformas.

Quando se fala da evolução dos meios de comunicação, é importante considerar a evolução dos aparelhos que mediam essas interações. Inicialmente o jornal, o rádio e a televisão eram os principais meios de comunicação e também os que tinham mais credibilidade em transmitir informações. Entretanto, atualmente essas são plataformas consideradas tradicionais e dividem espaço com outros meios. O mais reconhecido e utilizado em todas as partes do mundo, sem dúvidas,

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é a internet/web. Logo, além dos meios de comunicação terem sido “renovados” e modernizados, os aparelhos também evoluíram. Rádios, jornais e televisões dividem espaço com computadores e smartphones.

Segundo pesquisas do IBGE7 (2016) no Brasil são mais de 100 milhões de pessoas que têm acesso a internet. Apontada também pela pesquisa do Pnad C8,

94,6% dos internautas usam serviços conectados para enviar mensagens de texto, vídeos, fotos e áudios através de aplicativos de bate-papo9. Ou seja, o uso das

redes sociais é predominante atualmente, levando em consideração que mais de 90% das pessoas que participaram da pesquisa afirmaram utilizar as redes para esta finalidade.

Todas essas ferramentas da autocomunicação de massas são frutos da expansão da internet, que rompeu com as fronteiras espaciais, ampliou-as para globais e possibilitou as interações sociais por meio de espaços virtuais. A autocomunicação de massas difundiu a interação com muitas pessoas no ambiente virtual e dão às pessoas autonomia para escolher e compartilhar conteúdos com demais usuários da rede (MOLINA, 2013, p. 112).

Estas interações e conexões são possíveis porque a internet é constituída de redes que proporcionam um ambiente comunicativo, sem barreiras, permitindo ao usuário à criação de infindáveis conteúdos. Cada conteúdo, gerado a partir do interesse pessoal do usuário, vai alimentando esta rede e criando laços de comunicação com quem se interessa pelo mesmo conteúdo. Assim, o conteúdo sobre gastronomia, cresce de maneira significativa nas redes sociais. Para além das simples trocas de receitas, os vídeos, as viagens, os roteiros culturais de gastronomia impulsionam o mercado da culinária e ainda possibilitam a interação com diferentes lugares do mundo. Já que, assim como afirma Shirky: “Vivemos pela primeira vez na história, em um mundo no qual ser parte de um grupo globalmente interconectado é a situação normal da maioria dos cidadãos (SHIRKY, 2010, p.27) ”.

É neste contexto que as empresas têm buscado espaço. Sempre atentas aos conteúdos mais acessados nas redes, elas acabam por encontrar na internet, um espaço para ampliar a comercialização de seus produtos e para se fazer presentes na vida dos consumidores. A mídia em geral e os influenciadores digitais, ocupam neste campo, um espaço fundamental para que as empresas atinjam seus objetivos.

7 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 8 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua

9 Dados Disponíveis em: https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/brasil-tem-116-milhoes-de-pessoas-conectadas-a-internet-diz-ibge.ghtml Data de acesso: 14/11/18.

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2.3 - As redes sociais como influenciadores digitais

Você sabe o que são influenciadores e qual o papel deles na mídia? Atualmente este termo tem sido muito recorrente especialmente nas mídias digitais. Um influenciador “é uma pessoa ou um grupo de pessoas que produzem conteúdos, sejam vídeos ou fotos, em diferentes tipos de canais e conseguem alcançar um grande número de pessoas, assim encantando e influenciando o comportamento de um determinado segmento da população”.10

Cada vez mais as mídias sociais11 têm influenciado a vida das pessoas. A internet, tem como uma de suas características ser um território livre, ou seja, permite que qualquer pessoa com acesso à rede possa acompanhar e, consequentemente, expressar sua opinião. Kotler diz que, “no mundo on-line, as mídias sociais redefiniram o modo como às pessoas interagem entre si, permitindo que desenvolvam relacionamentos sem barreiras geográficas e demográficas. (KOTLER, 2017, p. 24)

Em consequência disso, é crescente o número de pessoas e grupos que acabam por atrair a atenção das pessoas por tratar de temas e emitir opiniões que agradam o público. Na sua maioria os influenciadores têm nichos segmentados, alguns falam sobre moda ou viagens, enquanto outros falam sobre gastronomia e/ou cultura, entre outros assuntos.

Inicialmente a grande maioria dos influenciadores não planejava exercer este papel, tinham o objetivo de usar suas redes sociais apenas para expressar seus interesses, paixões, sua opinião sobre determinados assuntos… porém, as pessoas foram acompanhando a suas publicações, se identificando com suas opiniões e seguindo suas postagens. Suas redes cresceram e acabaram por influenciar um grande número de pessoas. Os patrocinadores, muito atentos a esta influência, começaram a investir em publicidade e consequentemente aumentar ainda mais o número de seguidores e o alcance das publicações. As redes sociais passaram suas redes e conexões como espaços de mídia e de interlocução com seus seguidores.

10 Citação do site Marketing de Conteúdo, disponível em: https://marketingdeconteudo.com/tipos-de-influenciadores/. Data de acesso: 18/09/2018.

11 Mídia refere-se a qualquer meio de comunicação, como jornal e TV, serve também para designar imprensa. Redes Sociais, segundo RECUERO: “Os sites de redes sociais seriam uma categoria do grupo de softwares sociais, que seriam softwares com aplicação direta para a comunicação mediada por computador. (RECUERO, 2009, p.102) ”. Ou seja, são serviços criados com o propósito de facilitar as relações sociais.

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34 Para isto, se utilizam de uma linguagem adequada para este público, conseguindo assim atingi-los e atrair sua atenção com propagandas de forma sutil e certeira, os famosos publiposts.

O prazer em Você também pode brincar disto não reside apenas no fazer, reside também no compartilhar. A expressão “conteúdo gerado por usuários”, a marca atual para atos criativos feitos por amadores, na verdade, descreve atos não apenas pessoais, mas também sociais (SHIRKY, 2010, p.22-23).

Toda ação realizada na internet pode ter um efeito poderoso sobre um produto ou uma marca, por isso o papel do influenciador é tão importante, pois ele é um fator decisivo ao auxiliar o consumidor a decidir se vai ou não comprar determinado serviço ou produto e também ao mobilizar preferência por determinadas marcas. Um anúncio pode ser “pulado”, excluído ou até mesmo bloqueado nas redes sociais, no entanto, a opinião de um influencer conhecido pode tomar proporções que não passam em branco. Como afirma Kotler (2017, p.57), “com avaliações e análises de produtos na internet, outras pessoas podem facilmente descobrir a melhor opção disponível”. Além disso, Kotler diz que:

O papel deles de influenciar os outros está ligado ao desejo de estar sempre conectado e contribuir. Os netizens são conectores sociais. Sabemos que os netizens adoram se conectar. Quando eles conversam entre si, as informações fluem. Sob anonimato, correm menos riscos e, portanto, sentem-se mais confiantes para interagir e participar de conversas on-line. Na internet, seus nomes de usuário e avatares são suas identidades (KOTLER, 2017, p. 55)

Mas como funciona o trabalho de um influenciador? O profissional que assume o papel de influencer, vive sua vida produzindo conteúdos, o dia todo. A expectativa em relação à ele é que deve haver conteúdos publicados em suas redes sociais todos os dias, pelo menos três vezes por semana vídeos novos postados em seu canal do Youtube e além disso, devem sempre estar atentos ao que seu público pede. Por sua reputação digital, os influenciadores funcionam como uma espécie de conselheiros. A sua indicação é valiosa, e sua opinião inspira confiança. Estas dicas inspiram milhares de pessoas, ou até mesmo milhões, e se caracterizam pela espontaneidade, pelo relato de suas experiências.

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35 Há hoje uma cultura de participação, onde não apenas os influenciadores têm papel importante em inspirar pessoas, mas onde o próprio usuário compartilha suas experiências com os outros. Shirky afirma:

Nós, coletivamente, não somos apenas a fonte do excedente; somos também quem determina seu uso, por nossa participação e pelas coisas que estamos esperando uns dos outros quando nos envolvemos em nossa nova conectividade (SHIRKY, 2010, p.31)

Portanto, as redes sociais atualmente, sem dúvida alguma, podem ser consideradas uma das mediações mais influentes do mundo. Elas dão espaço a canais e pessoas que vivem para nos influenciar, apresentar marcas e produtos, ensinar novas práticas, receitas, como fazer você mesmo, enfim, uma variedade incontável de conteúdos. Páginas de gastronomia por exemplo, criam publicações interativas para seus seguidores, sabendo assim suas preferências e quais conteúdos podem ser produzidos a partir do gosto de seus apreciadores, quais receitas eles esperam ver, etc.

2.4 - Páginas de gastronomia

Entendendo o universo cibernético e o papel dos influenciadores nesta era onde a internet é um dos principais meios de comunicação do século XXI, as redes sociais abriram espaço para os mais diferentes assuntos. A gastronomia por exemplo, teve crescimento considerável nos últimos anos, ganhando mais espaço em canais e programas de televisão, mas também em páginas do Facebook, canais no Youtube, Instagram, entre outros.

Muitas páginas de gastronomia podem ser citadas como influenciadoras digitais, tendo um papel de protagonismo na vida das pessoas. Quando alguém compartilha uma receita que achou deliciosa, um produto que fez a diferença em sua cozinha, ou até mesmo uma dica de como usar melhor alguns utensílios de cozinha, esse conteúdo passa a ser referência para muitas outras pessoas.

Na gastronomia ganham destaque na maioria das vezes aqueles que possuem autoridade no assunto. A autoridade vem do conhecimento que o influenciador tem no segmento em questão. Muitos influenciadores possuem seus

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36 próprios sites, canais no Youtube, blogs… Como exemplo, iremos apresentar uma das páginas que exerce influência na vida de pessoas.

A Tastemade é uma rede de empresas que produz conteúdos, principalmente vídeos, que foi criada para uma geração de pessoas incluídas na era digital. Com temas que tratam sobre gastronomia e viagem, a proposta da marca é permitir que seus usuários tenham acesso à estes conteúdos, considerando que a Tastemade está presente nos smartphones, em Smart Tvs e outras plataformas.12 A história da criação da rede gira em torno de 3 três fundadores: Larry Fitzgibbon, Joe Perez e Steven Kydd, fundada em 9 de abril de 2012, na cidade de Santa Mônica (Califórnia), nos Estados Unidos.

Os cofundadores tinham como proposta conectar pessoas através de conteúdo e tecnologia, e foram bem sucedidos em sua proposta, já que atualmente os aplicativos e a plataforma da Tastemade atendem a uma audiência de mais de 100 milhões de espectadores mensalmente, em vários idiomas em todo o mundo.13 O Brasil foi o primeiro país a receber um estúdio da Tastemade fora dos Estados Unidos, em 2013. Sua vinda para o país foi devido a grande audiência que o Tastemade tinha no Brasil e também por ser um grande mercado para receber a empresa.

A Tastemade Brasil segue os padrões da Tastemade. Sendo uma página que produz conteúdos relacionados à gastronomia e cultura. São vários programetes, vídeos, fotos e matérias que alimentam suas redes sociais. As mídias digitais que mais tem seguidores são o Facebook e o Instagram. A Tastemade Brasil possui atualmente mais de 16 milhões de curtidas em sua página do

Facebook e 2,8 milhões seguidores no Instagram14. Ou seja, a Tastemade Brasil tem um alcance muito grande de pessoas, produzindo apenas conteúdos sobre gastronomia. Vídeos de comida, dicas de jantares, lanches e almoços, passo a passo de uma receita, dentre muitos outros temas.

Na página do Facebook, a descrição de quem é a Tastemade Brasil diz se

tratar de uma “Comunidade global de quem ama comida e viagem”15, temas muito

12 Informações sobre a Tastemade disponíveis em: https://www.tastemade.com.br/sobre Data de acesso, 02/12/2018.

13 Dados disponíveis em: https://www.tastemade.com.br/biografias Data de acesso 30/11/2018 14 Disponível em: https://marketingconteudo.com/influenciadores-de-gastronomia-do-brasil/ Data de acesso: 02/08/2018.

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