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Contribuição da Psicologia ao Campo da Educação nos Últimos 20 Anos, no Brasil *

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Contribuição da Psicologia

ao Campo da Educação

nos Últimos 20 Anos,

no Brasil

*

RUTH SCHEEFFER

* *

Desde os fins do século XIX, quando na Diretoria de Instrução Pública do Rio de Janeiro foi fundado o primeiro laboratório de psicologia experimental, vem a psicologia em nosso meio se desen-volvendo, em estreito interrelacionamento com o campo da Educa-ção. Consultando o estudo de LOURENÇO FILHO, A Psicologia no Bra-sil, verifica-se que o eminente mestre situa lado a lado a contribuição de médicos e educadores, pelo vulto das obras e precedência histó-rica. Convém ainda ressaltar que foi na Educação que surgiram real-mente os primeiros psicólogos brasileiros, entre os quais o próprio LOURENÇO FILHO, NOEMI SILVEIRA RUDOLFER, OFÉLIA BOISSON CAR-DOSO, ELIZA VELLOSO, IVA WAISBERG, e muitos outros, já que os

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Trabalho apresentado no painel comemorativo do XX aniversãrio da Associação Brasileira de Psicologia Aplicada.

* * Psicóloga do Instituto de Seleção e Orientação Profissional, Rio de Janeiro.

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neiros da psicologia na medicina permaneceram, predominantemente . no seu campo profissional.

Ao tentarmos analisar as contribuições da Psicologia Educacio-nal defrontamos uma dificuldade inicial, que é estabelecer os limites dessa disciplina. Tarefa nada fácil. A Psicologia Educacional engloba uma gama, extensíssima e variada de material psicológico, e os pró-prios especialistas apresentam idéias discordantes sõbre o conteúdo dessa disciplina. Tanto uma comparação ocasional quanto uma aná-lise mais apurada do conteúdo dos cursos de Psicologia Educacional, no Brasil e no estrangeiro, revelam surpreendente variedade.

Em trabalho há pouco publicado, ARRlGO ANGELINI assinala

cinco categorias em que podem ser agrupados os cursos oferecidos pelas universidades norte-americanas no campo da Psicologia Educa-cional, a saber: cursos que tratam principalmente de conhecimentos relativos ao organismo humano nos quais se incluem estudos de psi-cologia do desenvolvimento e da aprendizagem, das diferenças indi-viduais e da personalidade, bem como a psicologia dos indivíduos excepcionais; cursos relativos à psicologia das matérias escolares tais como a psicologia da leitura, da aritmética, da arte, fundamentos psicológicos do currículo; cursos referentes às técnicas, instrumentos e métodos de pesquisa, incluindo estudos sõbre construção de testes e outros instrumentos de avaliação psicológica; cursos que objetivam estudar as aplicações da Psicologia Educacional a certos problemas específicos da Educação, tais como os de orientação educacional e profissional, aconselhamento, higiene mental, psicoterapia, pedagogia terapêutica - e por fim - os cursos que têm como objetivo dar uma síntese do conteúdo de todos os aspectos mencionados anterior-mente, i.e., uma espécie de psicologia educacional, geral.

N as universidades brasileiras os principais elementos incluídos na Psicologia Educacional se referem à Psicologia Geral, do Desen-volvimento, da Aprendizagem, da Personalidade, Testes e Medidas. A Faculdade de Educação da UFRJ acrescentou ainda Introdução à Orientação Educacional e Profissional e Psicologia das Relações Humanas, no seu currículo de Psicologia da Educação.

Vejamos o que nos diz uma análise dos objetivos específicos da Psicologia Educacional. Segundo KELL Y, podem ser assim

conden-sados: dar a conhecer a natureza do educando; fazer compreender os métodos e processos científicos empregados na conquista dos fatos e princípios da psicóloga educacional; estudar princípios e téc-nicas da aprendizagem e do ensino; fazer executar métodos de medir as aptidões e o rendimento nas matérias escolares; dar a conhecer como crescem e se desenvolvem os escolares; servir de auxílio para que melhor se ajustem as crianças e para que se previnam possíveis desajustamentos.

Já LoURENÇO FILHO, num capítulo do livro Psicologia Moderna, publicado em 19531 assim sintetiza os conceitos fundamentais da

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Psicologia da Educação: o do sentido do desenvolvimento, ou marcha genética do comportamento, segundo padrões de crescimento, matu-ridade e ajustamento; o da possibilidade de se reconhecerem as me-lhores condições em que os padrões possam ser alterados ou modi-ficados, pela aprendizagem; o da tipificação e comparação das dife-renças da capacidade geral ou inteligência, e de aptidões específicas; e enfim o da possibilidade do conhecimento, em cada caso, da direção do comportamento humano num sentido de integração, ou compo-sição normal da capacidade de cada indivíduo para integração à vida social.

Alguns autores estabelecem vínculos ainda mais estreitos entre a psicologia e a educação, atribuindo à última objetivos que muito se assemelham aos da psicoterapia.

ZAVALONI, educador italiano, ex-aluno de CARL ROGERS, em sua obra Educação e Personalidade, concebe o verdadeiro problema edu-cativo como o de saber influenciar a personalidade do educando de modo a realizar nela uma completa integração e determinar assim a reorganização do comportamento total do indivíduo. O objetIvo da educação é o de lograr desenvolver, na personalidade do educan-do, a capacidade de autodeterminação, em conformidade com os valôres morais e sociais. Portanto, é evidente que o problema educa-tivo requer mais do que um conhecimento da personalidade, requer uma ação eficaz sôbre ela. Ressalta ainda ZAVALONI a característica empática, da relação educador-educando, quando diz: "É necessário

que o educador seja inteligente para mais fàcilmente evitar erros de • avaliação. Mais importante, porém, é que êle seja intuitivo, empático e psicologicamente capaz de responder à ação perceptiva do aluno, com uma reação verdadeiramente compreensiva. A psicologia do

compreender se afigura como a via mais direta e mais segura para lograr a solução do problema educativo."

Todos os objetivos mencionados são aceitáveis, porém, razoà-velmente amplos. Uma análise dos empreendimentos da Psicologia da Educação no Brasil, nos últimos 20 anos, nos conduzirá a múlti-plos setores de atividades de natureza psicológicas e correlatas. Sin-tetizá-Ia satisfatoriamente seria tarefa por demais ambiciosa, e ante-cipadamente nos penitenciamos pelas lacunas e omissões que certa-mente estarão presentes na nossa exposição.

Se nos detivermos nos fins da década dos anos 40 e início de 50, verificaremos de imediato que a emergência dos serviços de Orientação Educacional nas escolas das principais cidades do Brasil, representou uma das mais importantes contribuições da Psicologia ao campo da Educação. Por várias razões essa ocorrência pareceu-nos particularmente significativa. Primeiro, por representar uma nova perspectiva do processo educativo e dos objetivos da educação, visando ao desenvolvimento integral da personalidade do educando, fundamentada no reconhecimento das diferenças individuais e na

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importância dos aspectos emocionais do comportamento. Em segun-do lugar, por configurar como atribuição _ da escola a promoção segun-do ajustamento psicológico satisfatório do educando e pelo efeito profi-lático e multiplicador, que resultou da extensão do serviço de orien-tação às famílias dos educandos. Por fim, a utilização de técnicas psicológicas de avaliação, sobretudo na escola secundária, passou a ser realizada de forma mais ampla e abrangente, contribuindo para maior intensificação dos estudos e investigações em psicometria.

Por outro lado, a criação dos cursos de Pós-Graduação de Orien-tação Educacional, estimulou o ensino em alto nível da Psicologia Aplicada à Educação. Por exemplo, o primeiro curso dêsse tipo teve lugar na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Bento em São Paulo, em 1950, incluía no seu currículo, Psicologia Geral e Experimental, Psicologia da Criança e do Adolescente, Psicologia Diferencial e Psicologia Educacional. Programas de publicações, patrocinados por órgãos oficiais tais como de Cadernos de Orienta-ção Educacional, editados para distribuição gratuita pela CADES, bem como inúmeros artigos publicados na Revista Escola Secundária

e outras, espalharam entre o professorado de todo o país esclareci-mentos sõbre a importância da aplicação da psicologia dinâmica à situação escolar e a necessidade da escola não se contentar em ensi-nar, mas procurar conhecer e compreender o educando, nos seus vários aspectos psicológicos e na sua individualidade.

Cronologicamente, anterior à orientação educacional, é a pene-tração da Psicologia nas escolas, através do trabalho dos psicólogos • educacionais. Já nas décadas de 20 e 30, funcionavam laboratórios de psicologia ligados às Escolas Normais e de Aperfeiçoamento de Pro-fessõres, em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, cujos obje-tivos, além do ensino da psicologia eram a realização de estudos e pesquisas. Essa tradição tem se mantido e se expandido embora mais timidamente do que na Orientação Educacional. Contudo, alguns tra-balhos de alto nível têm sido feitos nessa área, quer pela renovação contínua dos programas de psicologia para a formação de profes-sõres primários, quer através de publicações de obras didáticas, como o excelente Manual de Trabalhos Práticos de Psicologia Educacional,

elaborado pela equipe de professõres do Instituto de Educação do Estado da Guanabara, ou através de programas experimentais como os que têm sido realizados pelo INEP e outros órgãos educacionais. Os últimos vinte anos testemunharam também a criação e de-senvolvimento de Serviços de Assistência Psicológica ou Psicopeda-gógica aos alunos da rêde escolar nas Secretarias de Educação dos principais Estados. Na Guanabara, os atuais Centros Distritais de Orientação Psicológica tiveram sua origem nas antigas equipes espe· cializadas, criadas por CINlRA MENEZES em 1956, no Serviço de Orto· frenia e Psicologia do Instituto de Pesquisas Educacionais, que

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mente tem o papel de órgão centralizador e difusor no campo da psi-copedagogia.

Mencionaremos ainda o trabalho desenvolvido no Rio Grande do Sul, pelo corpo de psicólogos - ali já oficialmente reconhecidos em âmbito Estadual - através de órgãos oficiais, - como o Centro de Pesquisa e Orientação Educacionais, e o Serviço de Educação Especial que realizam várias atividades de natureza psicológica, tais como orientação profissional, avaliação e psicoterapia. Em outros Estados, assistência psicológica é prestada aos escolares, em Ser-viços de Orientação Profisional como no SOSP, em Belo Horizonte, e no IDOV em Salvador. Nesse aspecto é necessário lembrar a con-tribuição do ISOP, não sômente como órgão pioneiro no campo da orientação profissional nas escolas, mas também pela divulgação e multiplicação que obteve nessa área, onde sobressai a figura ines-quecível do seu fundador EMÍLIO MIRA y LÓPEZ.

A Educação do Excepcional, iniciada em nosso país por uma psicóloga, a ilustre Profa. HELENA ANTIPOFF, tem se beneficiado con-tinuamente da contribuição da psicologia, tanto pelo trabalho direto dos psicólogos, como pela sua colaboração na formação de profes-sôres de excepcionais. Aliás, notável expansão tem se registrado nos últimos anos nessa área, através da multiplicação das Sociedades Pestallozzi e das AP AES, agora em número superior a 40, para as quais o trabalho do psicólogo será cada vez mais solicitado e impres-cindível.

Numerosos estudos e pesquisas no campo da psicologia apli-cada à educação têm sido efetuados por psicólogos, educa-dores, sociólogos e outros especialistas. Um levantamento bi-bliográfico dos últimos vinte anos indica, nesse domínio mais de 120 publicações. Predominam os estudos psicométricos em popula-ções escolares, alguns bastante extensos, descrevendo processos de padronização de testes em um ou vários Estados do país, tais como o da Bateria Fatorial do SENAC e o da forma B do DAT no ISOP. Há ainda estudos sôbre as características dos vários grupos etários, so-bretudo os pré-escolares e adolescentes, distinguindo-se nesse últi-mo grupo: a investigação efetuada no Centro Regional de Pésqui-sas Educacionais do Rio Grande do Sul, sôbre os problemas do ado-lescente brasileiro, o estudo sôbre a evolução dos fatôres intelec-tuais na adoleSCência promovido pelo SENAC e, recentemente, a elaboração, padronização e validação da primeira Bateria de Testes de Desenvolvimento Educacional, executado pelo Centro de Estu-dos de Testes e Pesquisas Psicológicas do ISOP.

No âmbito universitário, teses de doutoramento, de livre docên-cia e, para a cátedra têm enriquecido a Psicologia Educacional, com importantes trabalhos, entre os quais é justo mencionar o do Prof. HANs L. LIPPMAN da UEG, sôbre Pedagogia Existencial e o Ac(mse-lhamento do Adolescente, a do Prof. ANTÔNIO GOMES PENNA da

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UFRJ, sôbre Percepção e Aprendizagem; e, recentemente, a tese de livre docência apresentada por DINAH SOUZA CAMPOS sôbre Inteli-gência e Fatôres Culturais, na UEG, e a de doutoramento de MARIA HELENA NOVAES sôbre Organização Percepto-Motora e Aprendizagem,

na PUC, além da do Pro f. ROMEU DE MORAIS ANDRADE, na Universi-dade de São Paulo, sob o título Lateralidade e Maturidade para

Lei-tura e Escrita.

As vantagens da aplicação da psicologia à educação familiar têm sido progressivamente reconhecidas pelos pais, pela comuni-dade, em geral, o que pode ser constatado pela freqüência com que são oferecidos ao público, conferências e cursos sôbre problemas da infância e da adolescência, e pelo número significativo de publica-ções visando à orientação psicológica dos pais.

A penetração crescente da psicologia na educação é eviden-ciada a cada passo. Quer quando o maior reconhecimento das dife-renças individuais resulta no plano de criação dos ginãsios poliva-lentes, quer quando se tem notícia de novas experiências pedagó-gicas em que se põem em prãtica o estudo centralizado do aluno, ou em que a atmosfera escolar é estruturada de maneira a dar prio-ridade, em seus objetivos, ao desenvolvimento da maturidade emo-cional através da liberdade responsãvel.

A Psicologia Educacional percorreu longo caminho, e produti-vo, sem dúvida. No entanto, ainda estã longe da realização plena de suas potencialidades. Verificamos pelo exposto que os empreendi-mentos nesse campo partiram predominantemnte de educadores que, dedicando-se à psicologia, contribuíram através dela para o aperfei-çoamento do processo educativo. Justifica-se êsse fato em períodos

q~e antecederam a criação dos cursos de formação de psicólogos. É importante agora que seja tomado o caminho inverso. A educação necessita da colaboração sistemãtica do psicólogo, pràti-camente em tôdas as espécies de suas atividades. Por outro lado, na educação, o psicólogo encontra possibilidades múltiplas de auto--realização, quer seja no planejamento das pesquisas, na elaboração de testes, como integrante da equipe de Orientação Educacional, na formação psicológica dos professôres, na pedagogia terapêutica, na Orientação Profissional, no aconselhamento, na programação da ta-tarefa educativa.

Inexplicàvelmente, porém, a especialização educacional tem en-contrado pouca receptividade entre aquêles que procuram os cursos de Psicologia. Acreditamos que de uma maior compreensão por parte dos que escolhem a Psicologia como profissão, e da importância de sua participação no programa educativo, resultarão benefícios não só para a Educação, como para dar um significado mais amplo e abrangente ao trabalho do psicólogo, em nosso meio, que é o da pre-venção e da profilaxia no campo da higiene mental.

Referências

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