OLHARES
SOBRE "CULTURA POPULAR" -
UM
BREVE HISTORICO
XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
( R E F L E C T l O N S O N
'P O P U l A R
C U L T U R A L " - A
B R I E F H I S T O R Y )
R E S E N H A D O
L I V R O
" C U L T U R A P O P U l A R
- U M A I N T R O D U Ç Ã O "
D E D O M I N I C
S T R I N A T I . T R A D U Ç Ã O D E C A R L O S S Z I A K
E D I T O R A H E D R A , S Ã O
P A U L O ,
/ 9 9 9 .
2 7 0
p A G I N A S .
qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
U m co n ceito n ad a fácil d e p en sar tem sid o , até
en tão , o d e cu ltu ra. A in d a m en o s o d e cu ltu ra p o p u lar.
A p ó s tan tas ten tativ as d e d efin ição acab ad a, p elas m ais
v ariad as co rren tes e recen tes esco las d o p en sam en to
so cial, resta-n o s ap en as u m frag m en tad o co n ju n to d e
term o s q u e m ais tem serv id o p ara to rn ar co m p licad a a
co m p reen são d o q u e v em a ser cu ltu ra em q u alq u er
u m a d e su as "v ersõ es" o u em q u aisq u er q u e sejam o s
"tip o s".
XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
É d isso q u e v ai tratar D o m in e S trin ati em seuliv ro . recen tem en te trad u zid o p ara o p o rtu g u ês,
in titu lad o "C u ltu ra P o p u lar - U m a In tro d u ção ", u m
in teressan te trab alh o p ara p esq u isad o res q u e se d ed
i-cam à área d a ed u cação , co m u n icação , so cio lo g ia,
an tro p o lo g ia o u m esm o p ara leig o s n o assu n to .
S trin ati co m eça n o s co n tan d o co rn o .já em 1 9 2 0 ,
eram v ário s o s estu d io so s q u e acred itav am n a ex
is-tên cia d e três categ o rias q u e co rresp o n d eriam , p rim
ei-ram en te, à "cu ltu ra eru d ita" o u "arte" - ln stân cia
p riv ileg iad a, co m p o sta p o r o b ras d e au ten ticid ad e ev
i-d en te. à "cu ltu ra
folk" -
o u seja, aq u ela "feita p elo p ró p rio p o v o " e d eten to ra d e u m p o d er d e su b v ersãoe, p o r fim , à "cu ltu ra d e m assa" - d eco rren te d o q u e
se co n v en cio n o u ch am ar d e "so cied ad e d e m assas".
N essa v isão , a "cu ltu ra p o p u lar" era
"folk"
em so cie-d acie-d es pré-industriais e "d e m assa" n as so cied ad es in-d u striais. n ascen d o aí o in ten so d eb ate so b re o q u e
v iria a ser essa "cu ltu ra d e m assa", resu ltad o d o ap
er-feiço am en to d e técn icas d e p ro d u ção in d u strial e d a
co m ercialização p ara u m co n su m o d e larg a escala.
U m a cu ltu ra em q u e o m ercad o d ev ia falar m ais alto .
"P ad ro n izad a", "rep eritiv a" e "su p erficial", p
as-so u a ser co n sid erad a p o r m u ito s teó rico s co m o
"b an alizan te" e "ap assiv ad o ra", em n ad a se co m p aran
-d o ao p ap el d esem p en h ad o p ela "alta" cu ltu ra o u m
es-m o p o r su a v e r s ã o f o l k . Isso p o rq u e, ap aren tem en te, u m a
v isív el fro n teira estaria sep aran d o a "alta" cu ltu ra d a
elite, d e u m lad o , e a cu ltu ra "p o p u lar" o u d e "m assa"
d o o u tro . A f o l k . q u e se caracterizaria p ela "h arm o n ia
P O R ] O C E N Y P I N H E I R O I
o rg ân ica", p elo s "v alo res au tên tico s" d e u m p o v o
(o u d e u m g ru p o ) e p elo sen tid o m o ral d o "m
éri-to co m u n itário ", seria so lap ad a p ela crescen te
o n d a d e "am erican ização " n o s m eio s d e "co
-m u n icação d e m assa". P ara d ar u m ex em p lo ,
até m esm o o jar; p o d eria ch eg ar a ser n ad a
m ais q u e o eq u iv alen te d essa ch am ad a in flu ên
-cia d a cu ltu ra "frág il" n a m ú sica.
E sse era o p en sam en to d a E sco la d e
F ran k fu rt d e P esq u isa S o cial. fu n d ad a em
1 9 2 3 . C o m su a crítica ao d esen v o lv im en to d o
cap italism o m o d ern o , a E sco la elab o ra u m a
teo ria d as "in stitu içõ es cu ltu rais",
ap ro fu n d an d o -se n o co n ceito d e "in d ú stria
cu ltu ral" p ara m o strar q u e, d e m o d o sem elh an
-te a alg o q u e M arx en u n cio u , a cu ltu ra tam
-b ém p o d eria se red u zir ao "fet ic h e " d a
"m ercad o ria". U m fetich ism o q u e era acen tu
-ad o p elo d o m ín io d o d in h eiro e q u e lev o u
M arcu se a teo rizar so b re o co n ceito d e "n
e-cessid ad es su p érflu as", o u seja: n ecessid ad es
q u e ad v in h am d o d esejo in sp irad o n o p u ro
co n su m ism o . N ad a m ais certo , en tão . q u e p en
-sar, seg u n d o A d o rn o , H o rk h eim er e M arcu se,
q u e o cu ltiv o d as "n ecessid ad es su p érflu as"
v in cu lav a-se d iretam en te "ao p ap el d a in d ú
s-tria cu ltu ral": ju stam en te essa in d ú stria q u e
p ro d u zia u m a m ú sica p o p u lar p ad ro n izad a,
"p seu d o -in d iv id u alizad a'' ap en as p o r refrõ es.
V en d o esse b rev e resu m o , é fácil p en sar
q u e, h o je, as id éias fran k fu rtian as (a g ro sso
m o d o aq u i rep resen tad as) co n stitu em ap en as
u m a ab o rd ag em en tre as d em ais. m as. n a v
er-d aer-d e, elas seriam ex trem am en te im p o rtan tes e
até in d isp en sáv eis p ara o d esen v o lv im en to d e
fu tu ro s estu d o s. O p en sam en to - fran k fu rtian o
p erm an eceria d ecisiv o m esm o em 1 9 5 0 , q u an
-d o o "estru tu ral ism o " e a "sem io lo g ia'' d esp o n
-.ial e alu n a d o P ro g ram a d e P ó s-G rad u ação em S o cio lo g ia d a U n iv ersid ad e F ed eral d o C eará .
m o d u as co rren tes q u e alcan çav am n o to
rie-estu d o s d e cu ltu ra p o p u lar.
O E .tru tu ralism o o riu n d o d a lin g ü ística d e
XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
. : w L ~ " J e e d o s estu d o s d e L év i-S trau ss - co m o s co n -" u ltu ra-" e "m ito " - rap id am en te se d ifu n d
i-m p lo d e tal ab o rd ag em seria o trab alh o d e
~ "rrf)en o E co o b re o s ro m an ces d e Jam es B o n d ,
escri-F 1 em in g , o n d e o p rim eiro ten ta m o strar q u e
• • .• • •,r.T T C > "seq ü ên cia" d e açõ es q u e p o d e v ariar, ex istin
-m an to , u m a "estru tu ra" q u e p erm an ece a m
es-m "arq u étip o s" q u e são u n iv ersais, além d e u m a
--~ · -· "'':io b in ária" fu n d am en tal en tre o b em e o m al.
P o r o u tro lad o , alg u n s se -m sp irariarn n o trab
a-B arth es e su a teo ria sem io ló g ica, fazen d o u so
erm o s co m o "sig n ifican te" (fo rm a) e "sig n
ifica-n eito ). n a ten tati v a d e lev ar a cab o a tarefa d e
lérn d a d en o taçõ es" e ch eg ar às "co n o taçõ es"
-- ig n o " (sig n ificação ). "S ig n o s" estes p resen tes
n ú m ero m eio s (tex to s, im ag en s etc.) d e ex p
res-a u ltu ra. O s "sen tid o s co n o tativ o s" o u as m en
-= en . "o cu ltas" p resen tes n a p ro p ag an d a telev isiv a
p u b licid ad e ch am ariam a aten ção d e m arx istas e
em in i tas in teressad o s em d esv en d ar a rep etição d e
o ' e "estereó tip o s" p o r trás d a "ap arên cia" d e p
a-ra . fa-rases o u im ag en s.
S im u ltan eam en te, o s estu d io so s d o assu n to
ram 'e ap ro p rian d o d o co n ceito d e "id eo lo g ia", fu n
-m en tan d o -se n a "eco n o m ia p o lítica" d e M arx e an
-_ ran d o -se, tam b ém , n a "teo ria d a id eo lo g ia" d e
Ith u sser. P o r v o lta d e 1 9 6 0 o u 1 9 7 0 , era G ch am ad o
m arx ism o estru tu ralista" q u e ap arecia co m o
rcab o u ço teó rico p ara se p en sar a cu ltu ra p o p u lar. O
_ n ceito d e "h eg em o n ia" d e G ram sci é so m ad o ao s
.m terio res e, a p artir d aí. o fem in ism o se v o lta p ara a
n v estig ação d a rep resen tação d as m u lh eres n a p ro
-a g -a n d -a , U su fru in d o as d iv ersas reflex õ es p resen tes
em trab alh o s an terio res, o fem in ism o se esp ecializa
n as fam o sas "an álises d e co n teú d o " q u e acred itam n a
ex istên cia d e u m sen tid o n ão -ex p lícito n as p ro p ag an
-d as. em iti-d o p ela im p ren sa e p ela m íd ia em g eral d e
m o d o a ser ab so rv id o p elo p ú b lico sem q u e este ten h a
consciência p o r co m p leto .
N ão tard a m u ito e lo g o ap arece u m a n o v a teo
-ria b asead a n a an álise p ó s-m o d ern a d a cu ltu ra p o p u
-lar co n tem p o rân ea. C o m m aio r ên fase n o s estu d o s d a
d écad a d e 9 0 , o p ó s-m o d ern ism o d escrev e o ad v en to
d e u m a o rd em so cial n a q u al
XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
" o s m e i o s d e c o m u n i c a -r ü o d e m a s s a e c u l t u r a p o p u l a r g o v e r n a m e m o l d a mt o d a s a s o u t r a s f o r m a s d e r e l a c i o n a m e n t o s s o c i
-a i s "(2 1 7 ) .É , n a v erd ad e, o n ascim en to d e u m a so
cie-d acie-d e to talm en te su b o rd in ad a ao s m eio s d e
o m u n icação d e m assa. U m a so cied ad e q u e o rien ta a
u a p ercep ção d a realid ad e atrav és d o s "sig n o s" d a
cu ltu ra p o p u lar e d as im ag en s v eicu lad as p elo s v ário
can ais m id iático s aí ex isten tes. E sse p ó s-m o d ern ism
lev a a u m a ên fase so b re o "estilo " - o u seja, as ap a
rên cias e d e s i g n e r acim a d e tu d o , a u m a indistinçã
en tre "arte" e "cu ltu ra p o p u lar", a u m a co n fu são o
"in co erên cia" d o sen tid o esp aço -tem p o ral e a u r
d eclín io d as "rn etan arrativ as".
O p ó s-m o d ern ism o v ai, p o rtan to , m arcar p re
sen ça n a arq u itetu ra, n o cin em a, n a telev isão , n a p ro
p ag an d a, n a m ú sica p o p , n o su rg im en to d as n o v a
p ro fissõ es d a classe m éd ia e até m esm o n a fo rm açã
d as id en tid ad es p esso ais e co letiv as. P ara o s q u e crê
em n essa ten d ên cia, n ão h á d ú v id a: o s m eio s d e co
m u n icação d e m assa i r n a s s m e d i u ) co n tro lam
"realid ad e". E o p io r: co n seg u em co m isso ero d ir a
id en tid ad es, tran sfo rm ar a cu ltu ra p o p u lar m o d ern
em "eu ltu ra t r a s h " , ex ercen d o p o d ero sa i n flu ên ci
id eo ló g ica so b re o p ú b lico em g eral.
A teo ria d a cu ltu ra d e m assa e a E sco la d i
F ran k fu rt são as p rim eiras ten tativ as d e en ten d im en n
d o assu n to , seg u id as, p o r u m lad o , p elo s trab alh o s te
ó rico s ex cessiv am en te g en eralizan tes d o estru tu ralis
m o e d o m arx ism o , e, p o r o u tro , p ela p ersp ectiv a m ai
em p írica d o fem in ism o . A o rien tação m ais recen te ten
sid o , ju stam en te, a d o p ó s-m o d ern ism o , q u e p arect
se o p o r tan to à "teo ria sistem ática" q u an to à "p esq u i
sa em p írica". O fato é q u e n en h u m a d essas ab o rd a
g en s p o d e ser co n sid erad a u ltrap assad a, elas ap en a:
rev elam q u e h á d iv ersas teo rias em circu lação , p o
isso m esm o , d iv ersas m an eiras d e co n ceb er a cu ltu r:
p o p u lar e o s m eio s d e co m u n icação , d an d o ch an ce (
alg u n s d e ex trair as co n trib u içõ es q u e ju lg ar p ertin en
tes em cad a u m a d elas .
O b v iam en te, h á in eg áv eis av an ço s n as reflex õ es
(d e u m o u o u tro m o d elo ) q u e, in d ep en d en tem en te d e
v iés ad o tad o , p erm an ecem em q u aisq u er q u e sejarr
as d iscu ssõ es. E ste é o caso d e alg u m as co n ceitu açõ e:
co m o "so cied ad e, co n su m o e cu ltu ra d e m assa". N e s
se sen tid o , p arece v aler a p en a escu tar o q u e têm
cer-to s au cer-to res a d izer so b re o lim ite d e cad a u m a d essas
ab o rd ag en s. E x p o n d o as id éias cen trais e fazen d o u m a
av aliação crítica d e cad a q u al, D o m in ic S trin ati, err
seu liv ro s u p r a c it a d o : "C u ltu ra P o p u lar U m a In tro
-d u ção ", faz u m a ex au stiv a an álise d e co m o fo i tratad a
a cu ltu ra p o p u lar d e aco rd o co m o s m ais d iv erso s p o n
-to s d e v ista, m in u n cio sam en te ex p o sto s ao lo n g o d e
2 7 0 p ág in as.
N o liv ro , o leito r tem a o p o rtu n id ad e d e co
-n h ecer u m h istó rico d o s estu d o s d e cu ltu ra e, ao
m esm o tem p o , en trar em co n tato co m u m a crítica à
teo ria d a cu ltu ra d e m assa, à E sco la d e F ran k fu rt (co m
u m a b rev e ex p licação so b re a v isão d e B en jam in
-u m a esp écie d e o u t s i d e r d a E sco la), p erceb en d o tam
b érn o s "p ro b lem as-ch av e" d o estru tu ralism o e d a
sem io lcg ia até u m a av aliação d o s lim ites d o p ó
s-m o d ern iss-m o .
M ais q u e isso , S trin ati o ferece u m b alan ço
fi-n al d e su a ifi-n v estig ação , o n d e d iscu te a id éia d o "d
is-cu rso e a cu ltu ra p o p u lar", d a "ab o rd ag em d ialó g ica"
e. p o r fim , d o ch am ad o "p o p u lism o cu ltu ral". É u m
lo n g o e d en so liv ro q u e su rg iu a p artir d o s cu rso s q u e
m in istro u n o d ep artam en to d e so cio lo g ia d a u n iv
ersi-d aersi-d e i n g lesa ersi-d e L eicester. B o m p ara se in teirar d e co m o
o tem a fo i e co n tin u a a ser tratad o . M as p o u co in
te-ressan te p ara q u em esp era sai r co m u m a d •.o •.•
XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
- - " 'r "'-acab ad a d o q u e v em a ser, en fim . "cu ltu ra
P o r m o strar as v ariad as co n cep çõ e d
as d iferen tes m an eiras d e e n t e n d ê - I o . S trin an o
-m ite q u e o leito r saia co -m a certeza d e q u e c n l" 'T l" " ? 'F - .
d eu a d istin ção b ásica en tre o p o p u lar. o eru
p o p u lar-m assa etc., se é q u e. d e fato . essa. d efiru rô
e-se ju stificam . F elizm en te, eu d iria. n ão é p o ._
d ar o liv ro co m a certeza citad a, felizm en te. p
so co n siste seu m aio r êx ito : im p ed ir q u e o lei! r
o u sim p lifiq u e q u estõ es d em asiad o co rn p lex •.• _