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MORRO DA QUEIMADA OURO PRETO: os benefícios da categorização paisagem cultural para sua gestão

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MORRO DA QUEIMADA – OURO PRETO: os benefícios da categorização paisagem cultural para sua gestão

GOMES, CARLA NEVES ALMEIDA. (1)

1. Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Arquitetura.

Turismóloga, mestranda em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável carla_nag@yahoo.com.br

RESUMO

O Morro do Pascoal ou Arraial do Ouro Podre foi um dos primeiros arraiais da cidade de Ouro Preto, local de relevância no que diz respeito à atividade mineradora no século XVIII. A instituição dos quintos por D.João VI, cobrança de 20% sobre o total de ouro extraído, gerou uma tensão nos exploradores da mineração, resultando na Sedição de Vila Rica em 1720, em que vários revoltosos foram presos ou deportados. Entre eles, Pascoal da Silva Guimarães, comerciante, mestre de campo e minerador, um dos mais ricos do Arraial do Ouro Podre, que foi deportado para Lisboa e teve o arraial em que residia totalmente destruído. A partir de então esse local passou a ser conhecido como Morro da Queimada. Desde o momento do incêndio até os dias de hoje muito das ruínas já se perderam; no entanto ainda é possível identificar as bocas de minas e alguns elementos relativos à atividade mineradora que alí existiu séculos atrás. Logo após o incêndio, a população migrou para outras partes da cidade e o arraial ficou abandonado. No entanto, mais tarde algumas pessoas ocuparam o sítio, o que contribuiu ainda mais para a degradação desse importante patrimônio arqueológico. Em 2005 foi criado um parque arqueológico no local que visa a preservar o acervo histórico arqueológico restante, protegendo-se parte significativa da moldura paisagística do conjunto arquitetônico tombado e ampliando-se o benefício turístico, econômico e social, na busca da melhora do bem estar para a população. Sendo assim, considerando a inclusão da categoria de paisagem cultural na lista de patrimônio na UNESCO e a integração no Brasil da chancela da paisagem cultural, pela portaria nº 127, de 30 de abril de 2009, pelo IPHAN, instrumento que traz novas possibilidades para a gestão do patrimônio ao considerar os aspectos culturais e naturais em conjunto, esse trabalho tem como objetivo discutir a possibilidade de se caracterizar o Morro da Queimada como Paisagem Cultural relevante e os benefícios que essa caracterização poderia trazer para a gestão deste patrimônio cultural.

Palavras chave: arqueologia, gestão, paisagem cultural,

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1. INTRODUÇÃO

As políticas patrimoniais em todo o mundo se modificam de acordo com o a evolução do conceito de patrimônio. Em um primeiro momento considerava-se patrimônio somente os elementos materiais, no entanto, com o passar dos anos, esse conceito foi ampliado e os elementos imateriais passam a ser considerado patrimônio e cada vez mais surgem novas categorias que visam contribuir para a gestão do patrimônio cultural como um todo.

Uma das categorias mais recente é a “paisagem cultural”, que foi desenvolvida pela UNESCO no início da década de 90, combinando os aspectos materiais e imateriais e considerando as interações entre o homem e o meio ambiente natural, expõe (CASTRIOTA, 2009). No Brasil, foi estabelecido em abril de 2009, pela portaria n° 127 do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) a “Chancela da Paisagem Cultural Brasileira” que tem como finalidade contribuir para a preservação do patrimônio cultural complementando os termos da Constituição Federal.

O Morro da Queimada em Ouro Preto possui um rico patrimônio arqueológico e cultural que vem se degradando ao logo dos anos por falta de políticas de preservação adequadas. Importante pelo seu contexto histórico na fundação da cidade de Ouro Preto, pelas marcas e registros da atividade mineradora realizada no local no século XVIII, pela sua localização privilegiada, com vista para a cidade e para o pico Itacolomi, o sítio foi também alvo da ocupação urbana desordenada, o que contribuiu ainda mais para sua degradação.

Esse trabalho almeja discutir a possibilidade e os benefícios da categorização do Morro da Queimada como paisagem cultural, já que esse é um espaço que retrata a interação do homem com o com o meio natural, que deixou marcas representativas do estilo de vida e da atividade mineradora que ali ocorreram em uma determinada época.

2. O LUGAR E SUA HISTÓRIA

O arraial do Ouro Podre ou Arraial do Pascoal foi um dos primeiros arraiais da Vila Rica. O arraial se desenvolveu e foi palco do auge da atividade mineradora em Minas Gerais, é o que coloca (SOBREIRA e FONSECA, p.5, 2001):

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A cidade de Ouro Preto foi fundada e desenvolveu-se a partir da descoberta de abundantes depósitos de ouro aluvionar no final do século XVIII, tendo rapidamente se tornado o segundo maior centro populacional na América Latina e também capital da Província de Minas Gerais. O auge da corrida do ouro ocorreu durante os primeiros quartéis do Século XVIII, com intensas atividades mineradoras subterrâneas a céu aberto, em vales e encostas, principalmente na Serra de Ouro Preto, limite norte da atual cidade.

A coroa portuguesa controlava a extração e comércio do ouro além de estipular impostos relacionados a essas atividades. Com o tempo, as taxas aumentaram, foi proibida a circulação e o comércio do ouro em pó e casas de fundição foram instauradas para que o ouro fosse transformado em barras e uma porcentagem dele fosse recolhida. Essas ações resultaram na Sedição de Vila Rica, ou Revolta de Felipe dos Santos, que, em Ouro Preto teve início durante as noites de 28 e 29 de junho de 1720, é o que aponta (OLIVEIRA, 2009).

Como consequência a essa revolta, alguns revoltosos foram exilados e o Arraial do Ouro Podre, onde residia um dos revoltosos, Pascoal da Silva Guimarães, foi queimado por ordem do Conde de Assumar e ficou conhecido como Morro da Queimada.

Com o passar do tempo, o abandono das ruínas e o crescimento da população, o patrimônio arqueológico foi se degradando e a área passou por um processo de ocupação incentivado até mesmo pela Câmara Municipal. A população foi se instalando no local a partir de 1940, se adensando e circundando o perímetro urbano tombado, chegando a ser constatada a população de 4,132 habitantes registrados no censo do ano 2000 realizado pelo instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o que evidencia (MATTOS, 2007).

Partes das ruínas serviram de materiais de construção e as estruturas sobreviventes das construções anteriores serviram de base para novas construções, relata (OLIVEIRA, 2009). O autor também considera que a falta de proteção do patrimônio arqueológico do morro da queimada é um dos casos mais sérios de negligência por parte das diversas instâncias governamentais em relação ao patrimônio cultural.

Em 2003, em visita ao local, técnicos da UNESCO identificaram a preservação do Morro da Queimada como uma das medidas necessárias para diminuir a deterioração do acervo arqueológico, expõe (OLIVEIRA, 2009). Decidiu-se então trabalhar para a

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implantação de um parque arqueológico na serra de Ouro Preto que já estava previsto no plano diretor da cidade desde 1996.

O projeto do Parque Arqueológico do Morro da Queimada é coordenado pelo IPHAN, em parceria com a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Prefeitura Municipal de Ouro Preto (PMOP), gerido pelo Museu de Arte Sacra do Carmo e pela Paróquia de Nossa senhora do Pilar. Estão também envolvidos a UNESCO, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) os Ministérios Públicos, Federal e Estadual, o Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA), o Instituto Estadual de Florestas (IEF), a fundação Gorceix e algumas ONGs e instituições representativas da sociedade civil.

Sobre a implantação do Parque Arqueológico do Morro da Queimada e seus possíveis benefícios, (OLIVEIRA, 2008) destaca:

- criação de programas de escavações arqueológicas, possibilitando um conhecimento mais amplo sobre a cultura material e a história da mineração da época;

- ampliação das pesquisas arqueológicas e dos conhecimentos históricos do século XVIII;

- proteção e ordenamento das ruínas das primeiras edificações de Ouro Preto;

- criação de um museu arqueológico das cidades surgidas durante o ciclo do ouro;

- criação de uma opção diferenciada de turismo fora do circuito tradicional, contribuindo para uma permanência maior dos visitantes na cidade;

- proteção de parte da moldura paisagística do conjunto arquitetônico e urbanístico de Ouro Preto;

- melhoria da qualidade de vida e inclusão social das comunidades vizinhas, por meio da geração de emprego e renda, bem como da sustentabilidade econômica do empreendimento;

- início da consolidação do Parque Municipal e da APA Cachoeira das Andorinhas, preservando e recuperando os diversos recursos naturais existentes.

Essas ações foram determinadas a partir de uma equipe interdisciplinar que reuniu informações sobre o local através de mapeamentos, relatórios, pesquisa historiográfica e negociação com a população local. Acredita-se que muito ainda há

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que ser feito, no entanto essa foi uma maneira de sistematizar os dados para que se possam traçar diretrizes para a gestão desse território e patrimônio.

2.1 O lugar e seu patrimônio arqueológico

Segundo (SOBREIRA e FONSECA, 2001), os locais de exploração minerais que deram origem a cidade foram marcados pelas escavações, aberturas de poços, galerias, canais e pelo desmatamento. Essas atitudes deixam marcas dessa atividade no local e o tornou instável, o que pode ser percebido na Serra de Ouro Preto atualmente.

Por causa do relevo da região, o “desmonte hidráulico”, processo que aproveitava a água das chuvas ou das nascentes, era o mais comum na Serra de Ouro Preto. Ainda hoje é possível identificar estruturas de captação de água que levavam o material acumulado até algumas barragens de pedras conhecidas como “mundéus” é o que explicam (SOBREIRA e FONSECA, 2001), além de afirmar que esses trabalhos de mineração foram a primeira ação antrópica no meio físico da Serra de Ouro Preto.

Além dos “mundéus”, que são ainda evidentes nas áreas ocupadas, outros elementos da vida e da mineração no Morro da Queimada antes do incêndio podem ser identificados. É o que aponta o Levantamento Visual do Patrimônio Arqueológico do Morro da Queimada Ouro Preto- MG realizado pelo Laboratório de Arqueologia da UFMG em dezembro de 2004:

Ainda são encontradas atualmente “paredes de pedras”, evidências da ocupação original, uma imensa “cava”, provocada pelo deslocamento de sedimentos da atividade mineradora. Associadas a essas “cavas”, pode-se identificar ainda a presença de “açudes e os segmentos de canais”

utilizados no armazenamento e transporte da água que era essencial processo de extração do ouro, como já descrito anteriormente.

Além das ruínas diretamente relacionadas à atividade mineradora, há também ruínas de “currais/ pátios” cercados por muros de pedra, que se justificam pela necessidade do uso de animais para o transporte de vários tipos de artigos necessários para a vida e para a prática da mineração, já que o morro é uma área afastada do centro da cidade. Há também evidências arqueológicas de algumas “moradias”, construções de paredes espessas de pedra e

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vestígios de cantarias, uma das moradias inclusive é apontada como a casa de Pascoal Da Silva Guimarães.

O Levantamento chama atenção ainda para o “moinho de vento” localizado estrategicamente na crista do Morro, as “grutas” localizadas nos limites do Morro, apontadas, pela tradição oral, como abrigos de isolamento para as pessoas que tinham Hanseníase em uma época posterior a Revolução de 1720, mas que também cabem investigação e proteção.

Após essa análise visual, o Levantamento Visual do Patrimônio Arqueológico do Morro da Queimada Ouro Preto - MG realizado pelo Laboratório de Arqueologia da UFMG aponta também, que a necessidade de preservação dessas ruínas se justifica por remeterem a “gênese da sociedade mineira” e que a avaliação destes resquícios pode ajudar a compreender a relação da sociedade colonial e sua relação com a Metrópole Portuguesa, além de poder ampliar o conhecimento da atividade de mineração e o modo de vida das pessoas no período colonial.

3. O SURGIMENTO E A EVOLUÇÃO DA CATEGORIA PAISAGEM CULTURAL

Retomando ao início da Convenção para Proteção do Patrimônio Cultural e Natural organizada pela UNESCO em 1972, (RIBEIRO, 2007), afirma que desde essa data as categorias cultural e natural foram compreendidas de forma antagônica. Mais tarde, ao se notar a existência de bens que poderiam ser incluídos nas duas categorias, foi criada a classificação de bem misto.

Tal classificação considerava que era possível um bem ter valores culturais e naturais simultaneamente, mas não necessariamente se pensava na integração desses valores como algo relevante. A importância dada à relação dos aspectos culturais e naturais surge depois, com a discussão em torno do “desenvolvimento sustentável”, ressalta (RIBEIRO, 2007).

O autor exprime também que após essa compreensão, em diversos momentos a paisagem foi incluída nas discussões e determinações sobre o patrimônio. No entanto, somente em 1992, a UNESCO adotou a categoria paisagem cultural, tomando a própria paisagem como um bem e valorizando as relações ali existentes.

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A partir desse momento, três categorias de paisagem cultural são definidas pela UNESCO:

(i) Paisagens claramente definidas: são as paisagens criadas intencionalmente como os jardins, parques, etc.

(ii) Paisagens evoluídas organicamente: são as paisagens que se formaram através da associação do homem com o meio natural. Podem ser classificadas em duas subcategorias: Paisagem relíquia ou fóssil que se trata da paisagem que parou de evoluir, mas tem aspectos ainda visíveis;

Paisagens contínuas, que são as paisagens que sobrevivem ao tempo e ainda há evidências de sua evolução.

(iii) Paisagens culturais associativas: são as paisagens que as pessoas valorizam devido algum aspecto que elas associam a esse bem.

O reconhecimento da categoria paisagem cultural pela UNESCO deu origem a discussões e a criação de medidas de proteção para esse tipo de patrimônio em diversas partes do mundo. A Convenção Europeia da Paisagem, assinada em Florença em 2000 foi mais um salto no que diz respeito à paisagem cultural, foram estabelecidos princípios legais para direcionar as políticas em toda União Europeia.

Diferenciando da convenção da UNESCO, pelo seu caráter regional, a Convenção Europeia visa conectar a ideia de gestão da paisagem a ideia de gestão do território.

Ao longo dos anos o número de paisagens culturais reconhecidas pela UNESCO é crescente, bem como o número de inscrições na lista de tentativa. No entanto, ainda nota-se que há um número muito maior dessas paisagens localizadas na Europa, tanto as paisagens culturais inscritas quanto na lista de tentativa, (FOWLER, 2004). O autor coloca ainda que se espera que a discussão e a nomeação de mais paisagens culturais encorajem outras nomeações por partes diversas do mundo para que a cultura e o patrimônio possam ser expressos de forma diferente a de monumento.

3.1 A evolução do conceito de patrimônio e a Chancela da Paisagem Cultural no Brasil

A primeira ação de proteção ao patrimônio brasileiro foi a criação do instrumento legal do tombamento em 1937 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Na

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ocasião foram criados quatro livros do tombo, entre eles o Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico.

Ainda com a visão patrimonial mais ligada ao valor artístico do bem, nota-se que, para Mario de Andrade, a paisagem pode ser compreendida como fruto do engenho humano, sendo assim, essa é também um bem artístico que pode ser valorado e inscrito no livro do tombo, é o que esclarece (RIBEIRO, 2007).

Essa visão de paisagem como patrimônio não pode ser considerada uma categoria como a de paisagem cultural que se tem hoje, mas evidencia a preocupação, no Brasil, desde o início de suas políticas patrimoniais, com a consideração das interações entre o homem e o meio em que vive.

No entanto, apesar de haver um livro do tombo que considera a paisagem como um elemento importante, a proteção do patrimônio brasileiro foi, por muito tempo, restrita ao patrimônio arquitetônico, sendo descrita por muitos como “patrimônio pedra e cal”.

O valor artístico dos bens foi de grande importância por muito tempo, até que a ampliação do conceito de patrimônio, a partir da Constituição Federal de 1988, trouxe a possibilidade de criação de novas categorias patrimoniais para que se pudesse gerir melhor o patrimônio de acordo com suas especificidades. Duas categorias importantes foram: a categoria patrimônio imaterial, e mais tarde, a categoria paisagem cultural.

A proteção da paisagem cultural brasileira foi estabelecida a partir de um documento emitido pelo IPHAN, em abril de 2009, a Chancela da Paisagem Cultural Brasileira, que de acordo com (CASTRIOTA, 2009) define como paisagem cultural:

Art. 1°. A Paisagem Cultural Brasileira é uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores.

A Chancela tem por finalidade completar e integrar os instrumentos de proteção do patrimônio existentes na Constituição Federal, gerindo a paisagem com a parceria do poder público, sociedade civil e da iniciativa privada.

Dessa forma, em contraste ao tombamento, primeira forma de proteção do patrimônio no Brasil, em que as medidas protecionistas vinham de cima para baixo, a Chancela da Paisagem Cultural Brasileira envolve atores diversos, contribuindo para o aumento do pertencimento e para a eficácia das ações implementadas.

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4. O MORRO DA QUEIMADA COMO PAISAGEM CULTURAL

O morro da queimada representa uma porção peculiar do território com muitas marcas da interação do homem com aquele meio natural, o que vai de encontro a definição de paisagem cultural descrita pela Cancela da Paisagem Cultural Brasileira.

Trata-se de registros de uma importante fase, não só da história de Ouro Preto e de Minas Gerais, mas do Brasil como um todo, representado pela mineração. Tal atividade foi de grande importância para a região e para o país ainda na época do Brasil colônia. No entanto, as marcas deixadas pela sociedade e pela atividade mineradora da época podem nos ajudar a resgatar e compreender aspectos importantes da vida, da atividade mineradora e das relações com a família real portuguesa no século XIII.

O que tem se notado até o momento, é o descaso por parte das instituições em se preservar o patrimônio arqueológico que junto a outros aspectos formam uma paisagem cultural em potencial no Morro da Queimada em Ouro Preto.

Ações como as que vêm sendo feitas para a criação do Parque Arqueológico do Morro da Queimada, são uma forma de sistematizar os dados e exprimir de maneira mais concreta a importância desse sítio. Não muito diferente do que é feito nas diversas etapas para a inscrição de um bem como patrimônio cultural pela UNESCO, a equipe envolvida com o parque mapeou, pesquisou a história, envolveu os moradores, busca promover o turismo, entre outras ações importantes que são desenvolvidas.

Sendo assim, acredita-se que a categorização do local como paisagem cultural é relevante e pode ser feita em âmbito nacional levando em conta os esforços feitos para se compreender e preservar ao sítio, os levantamentos, diagnósticos as diretrizes traçadas, e dessa forma ter apoio do poder público de forma a gerir esse patrimônio levando em conta suas especificidades e sendo orientado e fiscalizado devidamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Morro da Queimada é um local que representa uma importante fase da história brasileira do período colonial, contendo registros sobreviventes ao tempo, testemunhas da Revolução de 1720, bem como de um importante período do Brasil colônia que foi a atividade mineradora.

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A criação do Parque Arqueológico do Morro da Queimada pode ser compreendida como um primeiro passo para que o local seja chancelado como paisagem cultural brasileira, já que muita informação sobre o mesmo foi reunida de modo a compreender melhor a dinâmica social no local no século XVIII através das marcas alí deixadas na forma de ruínas.

As etapas de pesquisa, diagnósticos e proposição de diretrizes, reúne informações importantes sobre o sítio e podem estimular e viabilizar a declaração do mesmo como patrimônio cultural brasileiro. E assim, mais tarde, com o apoio do governo, do Iphan, da sociedade civil e de outros envolvidos, pode-se iniciar a formulação de um plano de gestão consistente e um dossiê que preencha os requisitos para inscrição na lista de tentativa do Patrimônio Mundial.

A declaração por chancela se faz justificável, uma vez que, a definição de paisagem cultural englobada pelo documento que se aplica ás características do local. Uma futura indicação ao Patrimônio Mundial pode ser considerada, levando-se em conta seu valor arqueológico diagnosticado e também pelos esforços feitos para se preservar esse patrimônio.

O Morro da Queimada e suas ruínas se enquadram nas características das paisagens evoluídas organicamente relíquias ou fóssil, por apresentar elementos de um processo evolutivo que já se encerrou, mas que tem elementos materiais distintos e significantes. Essa categorização pressupõe um monitoramento e incentivo a gestão compartilhada, que já vem acontecendo no Morro desde a implantação do parque, e que só tem a ganhar com o apoio do Iphan e/ou do Patrimônio Mundial.

Expondo a importância da implantação do parque no local e ressaltando a relevância do sítio, (OLIVEIRA, 2008) encerra um dos seus trabalhos dizendo que o parque será tão importante quanto Acrópoles é para Atenas, e o antigo fórum e o palatino são para Roma. Enfatizando assim a importância do sítio por suas especificidades e também sua relevância junto a história da cidade de Ouro Preto.

Contudo, a caracterização do Morro da Queimada como paisagem cultural é considerada uma forma de impedir que se perca mais desse patrimônio, ao mesmo tempo em que, junto a outras paisagens em potencial de caracterização como paisagem cultural no Brasil, seria um marco da evolução das políticas patrimoniais no país. E dessa forma, poderia se evitar que o patrimônio de sítios como o Morro da Queimada em Ouro Preto, seja negligenciado ou se perca por causa da sua

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localização menos privilegiada em relação a outros atrativos turísticos da cidade, mas que seja complementar a eles como foi no momento da fundação da cidade.

REFERÊNCIAS

CASTRIOTA, Leonardo Barci. Patrimônio Cultural: conceitos, políticas, instrumentos.

São Paulo: Annablume; Belo Horizonte: IEDS, 2009.

FOWLER. Peter. Reviewing the Achievement: World Heritage Cultural Landscapes, 1992 – 2003. In: FOWLER. Peter. Landscapes for the world. Conserving a global heritage. London: Windgather Press, 2004. p. 177-191.

GUIMARÃES, Carlos Magno. (coord./org.) Levantamento Visual do Patrimônio Arqueológico do Morro da Queimada – Ouro Preto / MG. Belo Horizonte: Laboratório de Arqueologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, 2004.

MATTOS, Yara. Ecomuseu da Serra de Ouro Preto: arqueologia dos lugares e não lugares de uma experiência comunitária. XII Atelier do Movimento Internacional da Nova Museologia / Minon / ICOM. Lisboa e Setubal, Portugal. 2007.

OLIVEIRA, Benedito Tadeu de. The Morro da Queimada Archaeological Park. 6 th International Conference on Structural Analysis of Historic Construction. Editor: D’

Ayala & Fodde, Taylor & Francis Group. London, United Kingdom. 2008.

OLIVEIRA, Benedito Tadeu de. The Morro da Queimada Archaeological Park Projetct, Ouro Preto, MG – Brazil. Third International Congress on Construction History. Editor:

Chair on Construction History and Structural preservation on the Brandenburg University of Technology. Cottbus, Germany. 2009.

RIBEIRO, Rafael Winter. Paisagem cultural e patrimônio – IPHAN/COPEDOC. 2007.

SOBREIRA, F. G e FONSECA, M. A. Impactos Físicos e Sociais de Antigas Atividades de Mineração em Ouro Preto, Brasil. Geotecnia n° 92, p 5-28.Lisboa. Portugal. 2001.

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