NOTÁVEIS DA MINHA “TERRA”
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Carolina Beatriz Ângelo, médica e feminista portuguesa, foi a primeira mulher a votar em Portugal, nas eleições realizadas para a Assembleia Nacional Constituinte, no dia 28 de maio de 1911.• O código eleitoral determinava o direito de voto a “todos os portugueses maiores de vinte e um anos, à data de 1 de maio do ano corrente [1911], residentes em território nacional, compreendidos em qualquer das seguintes categorias:
• 1.º Os que souberem ler e escrever;
• 2.º Os que forem chefes de família.
• Com formação superior e chefe de família, sendo viúva, Carolina Beatriz Ângelo reunia as condições para votar, uma vez que a lei não especificava que apenas os cidadãos do sexo masculino tinham capacidade eleitoral.
Carolina Beatriz Ângelo
Município da Guarda
Débora Pacheco, 9ºD,
Escola Carolina Beatriz Ângelo - Guarda
Biografia
Nasceu na Guarda e licenciou-se em Medicina em 1902. Nesse mesmo ano contraiu matrimónio com o seu primo, Januário Barreto, com quem partilhou a profissão e os ideais republicanos.
Foi pioneira na prática cirúrgica em Portugal e dedicou-se à ginecologia. Em 1907, já claramente conotada com os círculos republicanos de Lisboa, Carolina Beatriz Ângelo foi iniciada na Loja Humanidade da qual viria a ser Venerável.
Junto a outras companheiras de luta formou o quarteto de liderança desta ala feminina da Maçonaria em Portugal, grupo que veio a assumir-se como elite de um certo feminismo republicano, nem sempre encontrando eco no republicanismo português dominado por homens com pouca sensibilidade para as revindicações feministas, à época em pleno desenvolvimento não só em Portugal mas um pouco por todo o mundo ocidental.
Formação Académica
Durante a sua infância, Carolina Beatriz Ângelo, cresceu num ambiente familiar liberal. O seu pai e avô materno apoiavam o Partido Progressista e estavam ligados à atividade jornalística da região, permitindo-lhe estudar e ingressar no Liceu da Guarda, em 1891, onde concluiu os estudos primários e secundários.
Fixando-se com a sua família em Lisboa na última década de oitocentos, prosseguiu o seu percurso académico e ingressou na Escola Politécnica e na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, onde concluiu o curso de Medicina em 1902. Apesar de ser a única mulher na sua turma, Carolina Beatriz Ângelo foi bem recebida pelos seus colegas, mantendo a sua relação de amizade com os futuros cirurgiões Fernando Matos Chaves, Jorge Marçal da Silva e Senna Pereira até ao fim da sua vida. Pela mesma ocasião, conheceu pela primeira vez o seu primo e colega Januário Barreto, com quem viria a casar. Teve como professores José António Serrano, José Curry da Câmara Cabral, Manuel Vicente Alfredo da Costa, Francisco Augusto de Oliveira Feijão, Ricardo Jorge e Miguel Bombarda, com quem veio a trabalhar anos mais tarde.
Casamento
A 3 de dezembro de 1902, com 24 anos, Carolina Beatriz Ângelo casou na Igreja Paroquial de Santa Justa e Santa Rufina, em Lisboa, com Januário Gonçalves Barreto Duarte, natural de Aldeia do Souto, Covilhã, médico, ativista republicano e um dos fundadores da “Liga Portugeza de Foot-Ball”.
O seu irmão, Viriato Ângelo, funcionário público, também casaria pouco depois com a sua
prima, irmã de Januário, Maria José Barreto Duarte. Do seu casamento, nasceu apenas uma
filha: Maria Emília Ângelo Barreto. Anos mais tarde, Maria Emília tornou-se professora de
filosofia do Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho e casou-se, a 26 de setembro de 1932, com o
professor Humberto de Matos Fagundes, natural de Angra do Heroísmo.
Carreira Profissional
Na sua carreira médica destaca-se o facto de em 1903 ter apresentado a sua dissertação inaugural
“ Prolapsos Genitaes (Apontamentos) ”, iniciando a sua prática como a primeira cirurgiã
portuguesa, feito notável que contrariava a tendência fortemente sexista dos blocos operatórios
da época. Tornar-se-ia então na primeira mulher portuguesa a operar no Hospital de São José,
sob a direção de Sabino Maria Teixeira Coelho. Pouco depois começou a trabalhar ainda no
Hospital Psiquiátrico de Rilhafoles, sob a orientação de Miguel Bombarda, e dedicou-se à
especialidade de Ginecologia, com consultório particular na baixa lisboeta, na Rua Nova do
Almada.
Falecimento
Em julho e agosto de 1911 queixou-se de extremo cansaço, “tenho trabalhado muito”… da sua luta, dos dias inteiros a discutir e a pensar, e talvez por isso, redigiu “uma declaração para ser enterrada civilmente, a qual seria tornada pública no ano seguinte ”.
Tomou igualmente providências sobre o futuro da filha de oito anos, Maria Emília Ângelo Barreto, pedindo aos membros da sua família que lhe “sobrevivam, que se dispensem do convencional luto” e que "não obriguem a menina a pôr luto pela mãe".
No dia 3 de outubro de 1911, pelas 2 horas da manhã, apenas 4 meses após ter votado, Carolina Beatriz Ângelo morreu de síncope cardíaca derivada de miocardite, em sua casa, com apenas 33 anos de idade.
Dizem os relatos de então que se sentiu mal durante a viagem de elétrico, enquanto regressava à sua residência na Rua António Pedro, freguesia de São Jorge de Arroios, após estar presente numa reunião política com outras feministas da Associação de Propaganda Feminista.
Foi sepultada num jazigo particular no Cemitério dos Prazeres. Deixou como testemunhos para a posteridade duras críticas à República e aos republicanos.