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Traços fonológicos na perda da marca morfológica de plural no português

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Academic year: 2021

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Traços fonológicos na perda da marca morfológica de plural no português

brasileiro

Thaïs Cristófaro-Silva (UFMG-KCL)

Christine Guedri (UFMG-UT)

Leonardo Almeida (UFMG)

Um dos traços que se observa no português brasileiro é a perda da marca de plural (Naro &

Scherre (1997),(2003)). No caso dos nominais observa-se que a marca morfológica de plural é preservada num referente - que é tipicamente um artigo definido ou indefinido – e os substantivos e adjetivos que seguem o artigo não possuem marca de plural: ''os meninos bonitos'' e ''os menino bonito'' ou ''uns dias chuvosos'' e ''uns dia chuvoso''. A perda da marca de plural ocorre em susbtantivos e adjetivos cujo plural é regular e formado pela adição do morfema (-s) como em ''os meninos bonitos'' e ''os menino bonito'' ou nos plurais irregulares do português: metafonia (''uns dias chuvosos'' e ''uns dia chuvoso''); plural em (ão): ''os leões'' e ''os leão''; ''os irmãos'' e ''os irmão'', ''os capitães'' e ''os capitão''); L-final (''os anéis'' e ''os anel'') e R-final (''as cores'' e ''as cor'') e S-final (''os meses'' e ''os mês''). Este artigo investiga em particular a perda da marca de plural deste último grupo: S-final. Um experimento foi realizado para avaliar este fenômeno com o objetivo de se avaliar o detalhe fonético inerente à perda da marca de plural nestes casos. Mais especificamente a hipótese formulada é de que a perda de material segmental correspondente a marca morfológica de plural deixa traços fonológicos na representação lingüística. Observamos que nos casos em que o plural não ocorrreu (''os mês'') houve o alongamento da vogal tônica da palavra e a fricativa final também é alongada: [me:s:] (em oposição a forma singular [mes]). Medidas acústicas são apresentadas para corroborar a hipótese testada. Finalmente, uma proposta de avaliação dos demais casos de perda de plural nominal irregular é formulada.

(1) Abordagem tradicional da natureza das representações lingüísticas: informações redundantes são excluidas das representações. Uma única representação expressa as generalizações. As formas lingüísticas que são de fato atestadas nas línguas surgem através da operacionaldiade de mecanismos lingüíticos (regras ou restrições). Representação única.

(2) A sociolingüística incorpora a dimensão social observável nas comunidades de fala à análsie lingüística (Labov (1972, 1994)). Contudo, a idéia de representação única e de mecanismos lingüísticos que propiciam a alteração das representações únicas continua a ser admitidos.

(3) Abordagem da Lingüística de Uso quanto a natureza das representações lingüísticas: informações redundantes estão presentes nas representações. As representações lingüísticas são múltiplas e interelacionadas em redes que conectam informações fonológicas, semânticas, morfológicas, etc.

(4) A Fonologia de Uso (Bybee (2001)) formula que as representações lingüísticas sejam múltiplas e interconectadas. Há grande interação entre so diversos níveis da Gramática. A categorização desempenha um papel crucial na organização do componente lingüístico ao agrupar e separar unidades de processamento. As freqüências de tipo (type) e de ocorrência (token) desempenham papel importante na categorização (Pierrehumbert (2001, 2003)). As representações múltiplas apresentam gradualidade fonética indicando a natureza gradual das mudanças sonoras.

(5) O item léxico é a unidade de mapeamento e processamento (e também unidades lingüísticas independentes).

(6) O caráter gradual da representação fonológica pode ser extendido para outros níveis da Gramática? (7) Perda da marca de plural nominal no português brasileiro (Scherre (1987, 1991, 1998, Scherre & Naro, (1995, 2003))

a. “os meninos bonitos” > “os menino bonito” b. “uns dias chuvosos” >“uns dia chuvoso” c. Metafonia: “os r[O]stos” > “os r[o]sto”

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d. ÃO>ões, ãos, ães: “os leões” and “os leão” e. L-final: “os anéis” > “os anel”

f. S-final: “os meses” > “os mes”

Although a number of works looked at plural loss in different varieties of BP from a morphological and syntactic point of view, little has been said about the phonological consequences related to it.

(8) Este trabalho avalia a consequencia da perda da marca de plural no continum da fala: fonologia.

(9) Níveis de representação: fonética e fonologia. O caráter gradual da representação lingüística.

(10) Estudo de casos do tipo (7f): S-final: “os meses” >“os mes”

a. perda da marca de plural é categórica ou gradual? b. evidência oriunda do sinal acústico

(11) Perspectiva teórica:

a. Usage-Based Phonology (Bybee, (2000), (2001) (2003)). b. Exemplar Models (Pierrehumbert, (2001), (2003)). c. Articulatory Phonology (Browman & Goldstein (1992)).

d. Fonologia de Laboratório (Ladd, Beckman & Pierrehumbert (2000)) (12) Experimento:

a. Dados de falantes de Belo Horizonte b. 4 homens e 4 mulheres

c. Idade: menos que 25 anos e mais que 40 anos d. Ensino médio concluido ou ensino superior

(13) Palavras selecionadas:

vogal monossílabo dissílabo

i X (xis) nariz e vez chinês E dez vies a gás rapaz o Kôs arroz ç voz Queiróz u luz capuz (14) Fatores estruturais a. Monossílabou-dissílabo

b. Tipo da vogal:[a,e,E, i,o,ç,u]

c. estilo: elicitação, leitura de lista e leitura de texto.

(15) Casos de lenição: ocorre uma (vogal alta+sibilante) como marca de plural [is] OU não ocorre a

marca de plural.

(16) Análise experimental: propriedades acústicas da palavra, duração da vogal tônica, duração da

sibilante.

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(18) Os resultados indicam que a perda da marca de plural [-is] propicia a junção de duas fricatives:

(mes+is > mezis > mezs). A fricative final tem caracteristicas de vozeamento e de desvozeamento. A vogal primária é mais longa quando há perda da marca de plural.

(19) Dificuldade de transcrever tais dados com símbolos do IPA: “meses’ [me:zs•] para o plural e “mês”

[mes] para o singular?

(20) Formas com lenição: 336 tokens coletados para formas de plural para três estilos de fala diferentes.

(14 palavras para 8 participantes= 112 tokens x 3 estilos de fala). Total de formas com lenição é de 30.5% (101/336) dos casos examinados.

(21) Distribuição da lenição em relação ao tipo da vogal: palavras com qualquer vogal do português pode ter

lenição da marca de plural

Vowel Monosyllable Polysyllable Total

/i/ 5 9 14 29,1% /e/ 8 9 17 35,4% /E/ 6 9 15 31.2% /a/ 7 8 15 31.2% /ο/ 7 5 12 25,0% /ç/ 9 6 15 31,2% /υ/ 6 7 13 27,1% Total 48 53 101

(22) Distribuição da lenição em relação ao estilo de fala:

Reading a list Elicitation Reading in

Context 17/112 15.2% 34/112 30.4% 49/112 43.8%

(23) Lenição e freqüência de ocorrência:

% de

Lenição

Token

frequency

% de

Lenição

Token

frequency

i X(xis) 20,8 0 nariz 37,5 143 e vez 33,3 81220 chinês 37,5 3841 E dez 25,0 0 vies 37,5 25 a gás 29,2 1979 rapaz 33,3 3255 o Kôs 29,2 0 arroz 20,8 2 ç voz 37,5 4919 Queiróz 25,0 0 u luz 25 3076 capuz 29,2 103

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Xis Dez Kos Queiroz Arroz Vies Capuz Nariz Gas Luz Rapaz Chines Voz Vez 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 Frequencia % o f Le ni çã o % of Lenitição x Frequencia

Acredita-se que o conhecimento do cérebro humano a respeito da frequência de ocorrência das palavras se dá de forma logarítmica(ref. Linguística Probabilística). Sendo assim, podemos agrupar a frequência das palavras utilizadas em 4 grupos diferentes: palavras inventadas, palavras com log da frequência < 1, palavras com log de frequência >= 1 e < 8 e palvras com log de frequência > 8.

Invented Log < 1 Log >=1 e <8 Log >= 8 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3

0.35 Probabilidade de Lenição X Log da Frequencia

Log da Frequencia

Probabilidade de Leniç

ão

(24) Gradualidade inerente as representações: Os resultados deste trabalho sugerem que a perda da marca de plural em palavras terminadas em (s) - como ''mês, luz, etc.'' – é foneticamente gradual e deixa marcas ou traços na representação lingüística (sinal acústico): alongamento da vogal tônica e vozeamento parcial na fricativa final. Os símbolos fonéticos disponíveis pelo IPA não são suficientes para caracterizar tais propriedades. A seguir temos 3 espectogramas da palavra “Chineses”, no primeiro a marca do plural está presente, no segundo ele praticamente desapareceu e no terceiro não é mais possível identificá-la.

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Time (s) 0 1 0 5000 Frequency (Hz) 0 1000 2000 3000 4000 5000 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 Time (s) 0 0.8 0 5000 Frequency (Hz) 0 1000 2000 3000 4000 5000 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 Time (s) 0 0.6 0 5000 Frequency (Hz) 0 1000 2000 3000 4000 5000 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 Time (s) 0 1 0 5000 Frequency (Hz) 0 1000 2000 3000 4000 5000 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 Time (s) 0 0.8 0 5000 Frequency (Hz) 0 1000 2000 3000 4000 5000 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 Time (s) 0 0.6 0 5000 Frequency (Hz) 0 1000 2000 3000 4000 5000 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 Time (s) 0 1 0 5000 Frequency (Hz) 0 1000 2000 3000 4000 5000 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 Time (s) 0 0.8 0 5000 Frequency (Hz) 0 1000 2000 3000 4000 5000 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 Time (s) 0 0.6 0 5000 Frequency (Hz) 0 1000 2000 3000 4000 5000 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6

(25) Medidas relatives ao alongamento das vogais e das fricatives:

T-test prova que a vogal e as fricativas das formas de plural com lenição são mais longas que vogais tônicas e fricativas das formas no singular.

H0: “Plural vowels and fricatives are longer than singular vowels and fricatives”

Singular(ms) Plural(ms) p-value

Vowels 0,177(0,077) 0,189(0,060) 0,89

Fricatives 0.206(0.101) 0,258(0,099) 0,99

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(26) Formas com e sem lenição:

• Difficult to characterize lenited forms with IPA symbols

• Segmental loss affects the whole word (in this case expressed in the lengthening of the vowel and the fricative: By bee (2001)).

• Acoustic analysis contributes to a better understanding of gradual implementation of phonological variation and change.

(27) Future Research

a. Evaluate other plural losses in BP:

normal plural : “os patos'' and ”os pato” the ducks metaphony: “os r[O]stos” and “os r[o]sto” the face ão-alternation: “os leões” and “os leão” the lions final-l: “os anéis” and “os anel” the rings

b. Integration of theories of phonology, morphology and syntax.

Referências

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