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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

SISTEMAS DE INOVAÇÃO EM PAÍSES PERIFÉRICOS: O ARRANJO PRODUTIVO DAS EMPRESAS DE SOFTWARE EM PETRÓPOLIS

VICENTE GUIMARÃES

Dissertação de mestrado submetida ao instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Economia.

Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Cassiolato

Rio de Janeiro, Setembro de 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

SISTEMAS DE INOVAÇÃO EM PAÍSES PERIFÉRICOS: O ARRANJO PRODUTIVO DAS EMPRESAS DE SOFTWARE EM PETRÓPOLIS

VICENTE GUIMARÃES

Dissertação de mestrado submetida ao instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Economia.

Banca Examinadora:

_________________________________________

Prof. Dr. José Eduardo Cassiolato (Orientador)

_________________________________________

Profª Helena M. M. Lastres (Suplente).

_________________________________________

Prof. Renato Ramos Campos

_________________________________________

Prof. Luis Melo Martins

Rio de Janeiro, Setembro de 2005

(3)

Resumo

Este trabalho destaca a importância da inovação e conhecimento para o desempenho

competitivo de empresas, regiões e países. A análise realizada baseia-se em uma visão

sistêmica sobre os processos locais/territoriais relacionados à geração, uso, difusão,

concentração e aprendizado de conhecimentos e inovações, destacando-se os conceitos de

sistema de inovação nacionais, regionais e locais. O objetivo central desta dissertação é

analisar o Arranjo Produtivo Local de Software em Petrópolis buscando, a partir de um

enfoque sistêmico sobre a estrutura produtiva, inovativa e institucional local, compreender

os mecanismos interativos locais de aprendizado e difusão de conhecimentos e quais os

efeitos destes mecanismos para o potencial competitivo das micro e pequenas empresas da

cidade. Paralelamente pretende-se demonstrar a importância da aplicação do enfoque em

sistemas locais/nacionais países periféricos. A partir destas análises desenvolvem-se uma

série de conclusões sobre inovação, conhecimento e aprendizado objetivando as suas

aplicações em políticas que visem: desenvolvimento dos sistemas de inovação

regionais/locais e a inserção e desenvolvimento de empresas (ou conjunto de empresas) de

países periféricos em indústrias de alta tecnologia.

(4)

Abstract

(5)

Dedicatória

Aos meus pais

Olivério Marino Guimarães

&

Maria Elena Bertola Guimarães

Com amor.

(6)

Agradecimentos

A jornada de conclusão do curso de mestrado e de desenvolvimento deste trabalho foi valiosa e empolgante mas, também teve uma série de momentos difíceis e foi marcada por obstáculos aparentemente intransponíveis. Esta conquista não é fruto apenas do meu esforço pessoal, eu devo este trabalho a um conjunto valioso de amigos que ajudaram decisivamente a superar os obstáculos desta jornada.

Ao professor e orientador José Eduardo Cassiolato meus sinceros agradecimentos e minha admiração. Inicialmente pelo tempo e paciência dispensados valiosamente à análise da dissertação, em segundo lugar pelas observações, críticas (sempre construtivas) e sugestões sempre pertinentes que ajudaram a desenvolver este trabalho, em terceiro lugar pela simpatia e amizade que sempre demostrou comigo em momentos diversos durante esta período.

A professora e co-orientadora Helena Lastres, pessoa que possuo grande admiração e respeito, devo agradecer a disposição em ingressar na tarefa hercúlea de co-orientar esta dissertação. As suas opiniões foram fundamentais para incrementar e dar fluidez a linha analítica da dissertação. Seu incentivo e suas sugestões desafiadoras foram cruciais em diversos momentos do desenvolvimento deste trabalho. Gostaria de agradecer principalmente a forma sempre atenciosa e simpática de agir e de ser.

Aos professores Renato Campos e Luis Martins que gentilmente aceitaram fazer parte da banca examinadora deste trabalho.

Aos colegas da Redesist, Eliane, Paula, Marcelo, Max Santos, Fabiane, Tatiane, Gustavo, Marco Vargas, Marina e Cristina Lemos pelos momentos agradáveis de convívio.

Aos professores e funcionários do Instituto de Economia que constituem elos fundamentais desta jornada. Aos colegas do curso de mestrado, principalmente os egressos da turma de 2003, pelo companheirismo e amizade. Agradeço principalmente aos colegas Flávio Borges e Clarice Braga que participaram ativamente das discussões e debates relacionados a este trabalho.

Ao Sebrae nacional agradeço o suporte financeiro obtido através de sua brilhante iniciativa de incentivar o estudo acadêmico, através do Programa de Financiamento de Bolsas de Mestrado. Agradeço ao NEITEC do Departamento de Economia da UFSC e aos seus coordenadores os professores José Antônio Nicolau, Silvio Antônio Ferraz Cairo e Renato Campos.

A Fernanda pelo incentivo fundamental ao início de minha carreira acadêmica e principalmente pelo amor, carinho, dedicação e compreensão durante os momentos de trabalho árduo e dificuldade.

Aos empresários que gentilmente aceitaram responder às questões da pesquisa. Aos

membros das seguinte Entidades: GET, Sebrae-Petrópolis, Serrasoft, FUNPAT, LNCC,

Petrópolis Tecnópolis pela atenção dispensada e pelas informações valiosas prestadas.

(7)

SUMÁRIO

Introdução ... 1

Capítulo I - Inovação, Conhecimento, Aprendizado e Assimetrias: Uma Perspectiva Periférica ... 3

1 – Introdução ... 3

2 - Convergências e Complementariedades ... 3

2.1 – Negação do Equilíbrio Clássico ... 4

2.2 - A importância do Progresso Técnico e da Inovação ... 5

2.3 - Assimetrias Internacionais de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico.. 9

2.4 - A Nova Divisão Internacional do Trabalho ... 11

2.5 - O Enfoque Político Normativo ... 13

3 - O Enfoque sistêmico sobre inovação, conhecimento e aprendizado ... 17

3.1 - O conhecimento e seus processos de aprendizado ... 17

3.2 - Sistemas de Inovação Nacionais e Locais ... 20

Capítulo II - A Indústria de Software: Segmentação e Padrões Competitivos .... 27

1 - Características do Software ... 27

2 - Segmentos Produtivos da Indústria de Software... 29

2.1 - Software Produto: Características Produtivas e Concorrenciais... 33

2.2 - Serviços: Características Produtivas e Concorrenciais... 38

Capítulo III – A Evolução da Indústria de Software e a sua Estrutura Competitiva no Brasil ... 42

1 - Surgimento e evolução da indústria mundial de software... 42

2 - Situação Atual da Indústria Mundial de Software... 47

3 - Indústria de Software e Indústria de Hardware: Compartimentos Estanques?... 50

(8)

4 - A indústria de Software no Brasil ... 52

4.1 - Políticas públicas e o desenvolvimento da Indústria de Software no Brasil... 52

4.2 - Alguns dados sobre o desenvolvimento recente da IS no Brasil... 60

4.3 - Características Produtivas da Indústria de Software Brasileira ... 62

4.3.1 - Mercados e Demanda ... 63

4.3.2 - Estrutura Concorrencial ... 65

5 - Divisão Internacional do Trabalho na Indústria de Software – DITIS ... 68

5.1 - DITIS e seus Mecanismos de Aprendizado... 71

5.2 - DITIS e o foco de políticas em Sistemas de Inovação ... 73

Capítulo IV - O Arranjo Produtivo Local De Software Em Petrópolis ... 76

1 – Introdução ... 76 2 – Características Produtivas e Institucionais do APL ... 76

2.1 – Características Sócio-Econômicas de Petrópolis ... 76

2.2 – O desenvolvimento do Arranjo Produtivo de Software de Petrópolis ... 77

2.3 Infra-estrutura Educacional e Técnico-Científica ... 83

2.4 - As empresas locais, sua produção e seus mercados... 85

2.4.1 - Produtos e serviços ofertados pelas empresas locais ... 87

2.4.2 - Os Mercados Consumidores das Empresas do APL ... 88

2.4.3 – O emprego e as formas de ocupação da força de trabalho nas empresas do APL. ... 90

2.4.4 - Escolaridade e Capacitação do Pessoal Ocupado nas Empresas do APL ... 91

2.5 – As Externalidades Locais. ... 94

3 - Inovação, Difusão do Conhecimento e Aprendizado ... 95

3.1 A Introdução de Inovações e seus Impactos no APL ... 96

3.2 – Os Processos de Aprendizado do APL de Petrópolis ... 102

3.2.1 - Fontes de Informação e Conhecimentos para o Aprendizado ... 102

3.3 Interação e Cooperação no APL ... 109

4 – Avaliação das Políticas e Ações Implementadas ... 113

(9)

5 - Situação atual e possibilidades de desenvolvimento do APL ... 118

5.1 - Características produtivas e competitivas das empresas locais ... 118

5.2 - Principais Dinamizadores Locais ... 119

5.3 – Principais desafios e gargalos produtivos ... 122

5.4 - Sugestões de política para o APL ... 124

Considerações Finais ... 128

Referências Bibliográficas ... 134

Anexo ... 145

(10)

ÍNDICE DE TABELAS, GRÁFICOS, QUADROS E FIGURAS

TABELAS TABELA II.1 - Características Produtivas e Concorrenciais na IS - Produtos 37

TABELA II.2 - Características Produtivas e Concorrenciais na IS - Serviços 40 TABELA III.1 - Mercado de Software em Países Selecionados em 2001 48 TABELA III.2 - As 15 Maiores empresas de Software no Brasil em 2001 60 TABELA IV.1 - Instituições e Cursos de capacitação, graduação e pós-graduação 84

TABELA IV.2 - Empresas, Localização e Origem 86

TABELA IV.3 - Tipos de Produto e Segmentação de Mercado 87

TABELA IV.4 - Destino das Vendas em 2004 88

TABELA IV.5 - Destino das Vendas do APL 89

TABELA IV.6 - Evolução do Faturamento 89

TABELA IV.7 - Evolução do Emprego total 90

TABELA IV.8 - Relações de Trabalho 91

TABELA IV.9 - Escolaridade do pessoal ocupado 92

TABELA IV.10 - Vantagens da Localização no Arranjo 94

TABELA IV.11 - Introdução de Inovações entre 2002 e 2004 96

TABELA IV.12 - Atividades inovativas 98

TABELA IV.13 - Comparativo entre empresas mais inovativas e menos inovativas 99 TABELA IV.14 - Vendas de Produtos novos ou aperfeiçoados 101

TABELA IV.15 - Impactos da inovação 102

TABELA IV.16 - Fontes Internas 104

TABELA IV.17 - Fontes Externas 105

TABELA IV.18 - Fontes Acadêmicas/Científicas 107

TABELA IV.19 - Outras Fontes de Conhecimento 107

TABELA IV.20 - Fontes de Informação e Conhecimento 108

TABELA IV.21 - Principais Parceiros Cooperativos 110

TABELA IV.22 - Formas de Cooperação 112

TABELA IV.23 - Dificuldades na Operação da Empresa 114

TABELA IV.24 - Avaliação da Contribuição de Sindicatos, Associações, Cooperativas Locais

115

(11)

TABELA IV.25 - Participação em Ações Voltadas para MPEs 116

TABELA IV.26 - Avaliação das Ações Voltadas para MPEs 117

TABELA IV.27 - Políticas que poderiam contribuir para a eficiência das MPME 117

GRÁFICOS

GRÁFICO III.1 - Evolução da TI no Brasil nos anos 90 57

GRÁFICO III.2 – Fundação das Empresas TI 61

GRÁFICO III.3 - Evolução do Mercado Brasileiro de Software 62

GRÁFICO III.4 – Exportações de Software e Serviços 62

GRÁFICO III.5 - Distribuição das Vendas de Software Produto no Brasil 2002 66 GRÁFICO III.6 - Distribuição das Vendas do Mercado de Serviços de Software no

Brasil em 2002 67

GRÁFICO IV.1 - Relação entre Nível de Escolaridade e Faturamento por

Empregado 93

GRÁFICO IV.2 - Fontes de Informação ou Conhecimento - Índice médio de

importância 104

QUADROS

QUADRO III.1 – Programa Softex 59

QUADRO IV.1 – A Pesquisa de Campo e a Amostragem 85

(12)

INTRODUÇÃO

As duas últimas décadas foram marcadas pela consolidação de um novo paradigma tecnológico, este paradigma é caracterizado por uma série de inovações profundas nas tecnologias da informação e comunicação, as TICs. Esta avalanche de inovações e novos conhecimento vem gerando mudanças profundas nos campos tecnológicos, produtivos e econômicos em diversos países. Ao mesmo tempo, ocorreu o espraiamento dos processos de “globalização”, motivados por diversos fatores de ordem econômica, ideológica e geopolítica. Configura-se uma série de novas oportunidades e desafios para empresas e organizações, assim como, para o planejamento e execução de políticas públicas dentro desta nova realidade.

Destaca-se no novo paradigma a importância crescente dos ativos intangíveis da economia como conhecimento, aprendizado e capacitação. O domínio e o desenvolvimento destes ativos torna-se, cada vez mais, fundamental na nova estrutura competitiva capitalista.

Neste quadro cresce a importância de políticas que valorizem o local e as relações geradas pela proximidade territorial, a partir do ponto de vista que esta proximidade é fundamental para o desenvolvimento dos processos de aprendizado e difusão de conhecimentos. Em especial surgem novas linhas de pesquisa que buscam compreender os sistemas de inovação, destacando-se nesta dissertação o enfoque em sistemas locais, como os Sistemas Inovativos e Produtivos Locais (SPILs) e os Arranjos Produtivos Locais (APLs)

O objetivo desta dissertação é analisar o Arranjo Produtivo Local de Software em

Petrópolis, buscando, a partir de uma visão sistêmica sobre a estrutura produtiva e inovativa

local, compreender os mecanismos interativos locais de aprendizado e difusão de

conhecimentos e quais os efeitos destes mecanismos para o potencial competitivo das micro

e pequenas empresas da cidade. Paralelamente pretende-se demonstrar a importância do

enfoque sistêmico sobre a produção, inovação e conhecimento em países periféricos, a

partir destas análises, buscar-se-ão uma série de argumentos, lições e conclusões sobre

inovação, conhecimento e aprendizado objetivando as suas aplicações em políticas que

visem: desenvolvimento regional/local, inserção e desenvolvimento de empresas (ou

(13)

conjunto de empresas) de países periféricos em indústrias de alta tecnologia e o incremento das capacitações produtivas, inovativas e de aprendizado destes países.

A análise do APL, que será realizada no capítulo IV desta dissertação, será subsidiada por três capítulos. O capítulo I tem como objetivo construir uma arcabouço conceitual que servirá de base para as análises subsequentes. Este base será formada pela corrente neo-schumpeteriana, especificamente a sua corrente analítica sobre sistemas de inovação, conhecimentos e processos de aprendizagem; combinada com uma releitura do pensamento latino-americano clássico sobre desenvolvimento e inserção internacional das economias periféricas. Esta base teórica permite entender as características inovativas e concorrenciais do novo paradigma, possibilitando uma compreensão aprofundada sobre os processos de geração, uso e difusão (ou concentração) de conhecimentos e a importância do aprendizado a capacitação produtiva e inovativa de empresas, regiões e países. Esta base teórica também propicia uma compreensão sobre como estes processos impactam nas economias periféricas, principalmente na ampliação das assimetrias existentes entre o norte e o sul.

O capítulo II tem como objetivo analisar as principais características do software como produto e da sua indústria. Será dada atenção especial aos seus diversos segmentos de mercado (que possuem processos produtivos, dinâmicos e concorrenciais distintos) e as oportunidades existentes para as empresas periféricas dentro de cada segmento de mercado.

No capítulo III serão descritos o surgimento, o desenvolvimento e o estágio atual das

indústrias mundial e brasileira de software. Este capítulo também irá analisar a questão da

divisão internacional da industria de software que vêm marcado a dinâmica evolutiva e

concorrencial da IS, gerando a concentração do conhecimento chave nos países centrais e a

ampliação das assimetrias tecnológicas entre empresas situadas em países centrais e

periféricos. Estes dois capítulos serão fundamentais para a análise do APL de software de

Petrópolis principalmente para a auxiliar a compreensão do mecanismos dinâmicos desta

indústria e para avaliar o potencial competitivo da indústria local e nacional.

(14)

CAPÍTULO I – INOVAÇÃO, CONHECIMENTO, APRENDIZADO E ASSIMETRIAS: UMA PERSPECTIVA PERIFERICA

1 - Introdução

Este capítulo apresenta as bases conceituais que servirão para apoiar o objetivo central deste trabalho. Será introduzida a abordagem neo-schumpeteriana, especificamente a sua corrente analítica sobre sistemas de inovação e os seus processos de aprendizado e difusão do conhecimento; esta abordagem será combinada com uma releitura do pensamento latino-americano clássico sobre desenvolvimento e inserção internacional das economias periféricas, principalmente as contribuições de Raul Prebish. Estas duas correntes apresentam diversos pontos de convergência e podem ser consideradas complementares, na medida que é possível associar as condições estruturais dos países periféricos à análise dos processos de aprendizado e capacitação produtiva e inovativa. As principais convergências serão apontadas e analisadas no item 2.

Diversos autores brasileiros e latino-americanos contemporâneos

1

vêm utilizando conceitos e abordagens estruturalistas, cepalinas, desenvolvimentistas em suas análises sobre os impactos e desafios do novo paradigma técnico econômico – representado pela revolução das TICs – e da globalização em nossas economias. Destacam-se os trabalhos da Redesist

2

, que buscam adaptar o referencial teórico neo-schumpeteriano sobre sistemas da inovação, conhecimento e aprendizagem à nossa realidade, principalmente para analisar sistemas inovativos e arranjos produtivos locais em diversas regiões do Brasil. Os aspectos conceituais relevantes deste enfoque serão abordadas no item 3 deste capítulo.

2 Convergências e Complementariedades

O marco inicial relativo aos pontos de convergência entre a corrente neo- schumpeteriana e o pensamento latino-americano clássico sobre desenvolvimento e

1 Cassiolato, Lastres, Perez, Katz, Arocena, Sutz, Vargas, Campos, Maldonado, Scatolin, Lemos, Szapiro, Melo, Vilaschi, entre outros.

2 REDESIST – Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais. A Redesist é uma rede de pesquisa interdisciplinar sediada no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e que conta com a participação de várias universidades e institutos de pesquisa no Brasil, além de manter parcerias com outras organizações internacionais.

(15)

inserção internacional das economias periféricas pode ser sintetizada na seguinte observação: para ambas as correntes os processos de desenvolvimento econômico são caracterizados por profundas mudanças estruturais na economia. Ou seja, o desenvolvimento econômico ocorre a partir de descontinuidades (geralmente de caráter tecnológico e/ou produtivo) que afetam, e também são afetados, pela estrutura produtiva, social, política e institucional de cada nação. Portanto, o desenvolvimento econômico não é um processo linear e sequencial. Neste sentido, seria incorreto considerar os países menos desenvolvidos como “atrasados” ou entender o desenvolvimento como sendo passível de um “catch-up”. O desenvolvimento de cada nação é um processo único e depende de aspectos que envolvem suas especificidades políticas, econômicas, históricas e culturais, ocorrendo a partir de mudanças estruturais de longo prazo que geram rupturas com os padrões historicamente estabelecidos. Estes processos criam uma série de novas oportunidades, porém, ao mesmo tempo, impõe um conjunto de novos e profundos desafios, já que não são processos harmônicos, caracterizando-se por incertezas, conflitos e assimetrias.

A partir desta relação entre mudança estrutural e desenvolvimento econômico constróem-se as convergências e complementariedades entre a corrente neo-schumpeteriana e a visão estruturalista clássica. Esta dissertação propõe a existência de cinco pontos de convergência, que serão analisados nas seções seguintes deste capítulo: (i) a negação do equilíbrio clássico; (ii) a importância da inovação para o desenvolvimento das nações; (iii) as assimetrias de desenvolvimento tecnológico e econômico; (iv) a divisão internacional do trabalho e (v) o enfoque de orientação política de ambas as teorias. Estes três últimos surgem como corolário natural das duas primeiras.

2.1 Negação do Equilíbrio Clássico

A Teoria Neoclássica tem como um dos seus pilares a hipótese do equilíbrio entre

mercados e a existência de processos de convergência a este equilíbrio. As correntes neo-

schumpeteriana e estruturalista, inversamente à teoria neoclássica, têm como marco

analítico fundamental o estudo de processos assimétricos e de desequilíbrio.

(16)

A concorrência neo-schumpeteriana é um processo ativo de criação de espaços e oportunidades econômicas, e não apenas um processo passivo de ajustamento em direção a um suposto equilíbrio. Nessa concepção, concorrência implica o surgimento permanente e endógeno de diversidade no sistema econômico capitalista. O processo de crescimento interage como processo de mudança, alternando-se ao longo do tempo, produzindo a própria dinâmica de acumulação capitalista, que se move por inovações, descontinuidades e incertezas [Schumpeter (1911)]. Dosi propõe, de maneira simples e direta, que a aceitação da capacidade das firmas influenciarem o ambiente econômico, por exemplo, fixando preços ou introduzindo inovações é condição suficiente para a eliminação da possibilidade de existência da concorrência pura neoclássica. [apud. Kupfer (1996, p.5)]

A corrente estruturalista também torna clara a negação de qualquer hipótese de equilíbrio, já que toda teoria é baseada em processos de hierarquização e geração de assimetrias. Como por exemplo: as assimetrias tecnológicas entre centro e periferia, a deterioração dos termos de troca internacionais, as debilidades estruturais e o modelo de dois hiatos, todos incompatíveis com modelos com tendência a algum ponto de equilíbrio.

2.2 A importância do Progresso Técnico e da Inovação

As formulações centrais de Prebisch e dos neo-schumpeterianos incluem o progresso técnico (ou inovação) como um dos principais determinantes para o desenvolvimento econômico das nações.

Prebish negou-se a tratar o “subdesenvolvimento” como uma anomalia ou um simples estado de atraso. Para o autor, o “subdesenvolvimento” pode ser identificado como um padrão de funcionamento e de evolução específica de certas economias. O processo de desenvolvimento nas condições periféricas seria um processo diferenciado, cujos desdobramentos históricos seriam singulares à especificidade de suas experiências.

Portanto, a estrutura socioeconômica periférica determina um modo próprio de

industrializar, introduzir progresso técnico e crescer, cabendo esperar-se sequências e

resultados distintos aos que ocorrem no desenvolvimento cêntrico [ver, por exemplo,

Furtado (1961), Bielschowsky (2000), Rodriguez (2001)].

(17)

O progresso técnico seria a chave para os diferentes níveis de desenvolvimento das nações. A distribuição desigual dos benefícios do aumento da produtividade e eficiência (frutos do progresso técnico) gera as acentuadíssimas diferenças nos padrões de vida entre centro e periferia, assim como, as notórias discrepâncias entre as suas respectivas forças de capitalização [ver Prebisch, (1949.a)]. Neste sentido, conforme explicitado por Fiori (2001 a, p.46): “as colocações de Prebisch e dos demais estruturalistas possuem conotações fortemente schumpeterianas, na medida que a inovação e a difusão tecnológica ocupam o lugar central na periodização da história capitalista e na determinação, em última instância, do processo histórico de hierarquização ou dualização do sistema capitalista”.

Na visão de Prebisch a revolução industrial (e as suas profundas inovações tecnológicas e produtivas) colocou a Europa – principalmente a Inglaterra – no final do século XIX e os Estados Unidos, durante o século XX, no epicentro da economia capitalista mundial. Estes centros cíclicos impunham os padrões tecnológicos, comerciais e de desenvolvimento desiguais e hierarquizados que deram origem à periferia do sistema [ver Fiori (2001)]. Nesse processo “a iniciativa esteve com as economias que se industrializaram e geraram o progresso técnico; a acumulação rápida que nelas tinha lugar constituía o motor das transformações capitalistas. Portanto, existe uma íntima interdependência entre a evolução da tecnologia nos países industrializados e as condições históricas do seu desenvolvimento econômico” [Celso Furtado (1961) apud. Bielschowsky (2000, p.251)].

Como se sabe, a obra de Joseph Schumpeter

3

representou um importante marco evolutivo na teoria econômica no século XX. Talvez a sua principal contribuição, convergente com as formulações de Prebisch, foi a teorização sobre a relação existente entre inovação tecnológica e o desenvolvimento econômico. Segundo o autor os ciclos de desenvolvimento econômico de longo prazo são gerados por ondas de revoluções tecnológicas. O empresário ao introduzir as inovações desafia as empresas existentes, o sucesso dos empresários inovadores é imitado pelos demais, gerando uma onda de investimentos que estimula toda a economia. Neste sentido, o crescimento da economia é

3 O essencial da teoria de Schumpeter encontra-se em três trabalhos – Teoria do Desenvolvimento Econômico (1912), Business Cycle (1939) e Capitalismo, Socialismo e Democracia (1942) em sua obra The Theory of Economy Development (1912).

(18)

um processo dinâmico que depende tanto da geração e uso das inovações, quanto dos processos de difusão destas inovações

4

[Schumpeter (1911), ver ainda Cassiolato e Schmitz (1992), Tigre (1997) e Possas (2002)]

As contribuições originais de Schumpeter têm sido aprimoradas e melhor qualificadas nos últimos 30 anos por uma série de autores que pretendem explicar a dinâmica capitalista atual através da endogeinização do progresso técnico em suas análises.

De fato a abordagem neo-schumpeteriana aponta uma estreita relação entre o os ciclos de crescimento econômico e as mudanças que ocorrem com a introdução e difusão de inovações. Nesta visão os avanços (produtivos, tecnológicos, organizacionais, institucionais, etc.) resultantes de processos inovativos são fator básico na formação dos padrões de transformação da economia, bem como do seu desenvolvimento de longo prazo.

Partindo das limitações dos conceitos originais de invenção, inovação e suas formas de difusão, propostos por Schumpeter, os autores neo-schumpeterianos têm realizado importantes adaptações e desenvolvimentos. Estas modificações possibilitam uma melhor caracterização sobre os processos inovativos e os seus efeitos sobre a dinâmica econômica [ver Freeman (1994)].

Uma importante limitação na herança schumpeteriana foi a ênfase dada às chamadas inovações radicais

5

que estão associadas a grandes descontinuidades no processo econômico. Schumpeter subestimou os esforços necessários para realização de inovações incrementais, que se referem à introdução de qualquer tipo de melhoria em um produto, processo ou organização da produção, sem alteração substancial na estrutura industrial [ver Freeman (1988)]. As inovações incrementais, ao contrário das inovações radicais, ocorrem com maior frequência e provocam modificações marginais na estrutura produtiva e econômica. Muitas destas mudanças são imperceptíveis, mas nem por isso menos importantes

6

, podendo gerar: crescimento da eficiência técnica, aumento da produtividade,

4 Inovações em sentido amplo referem-se a quaisquer mudanças no “espaço econômico” no qual operam as empresas, sejam elas mudanças nos produtos, nos processos produtivos, nas fontes de matérias-primas, nas formas de organização produtiva, ou nos próprios mercados. [Possas (2002,p.418)]

5 Inovação radical refere-se ao desenvolvimento de um novo produto, processo ou forma de organização da produção inteiramente novas (Redesist, 2004, p.15). Segundo Freeman estas inovações, em Schumpeter, estão associadas à emergência de novos ciclos longos (ex: máquina a vapor, ferrovias, motor à combustão, eletricidade).

6 Estas inovações são particularmente importantes para a análise dos processos de inovação em países periféricos, onde diversos estudos empíricos comprovam a predominância deste tipo de inovação.

(19)

redução dos custos, aumento de qualidade e ampliação das aplicações de um produto ou processo. [ver Lemos (1999), Redesist (2004)].

Freeman e Perez [1988] sugerem ainda a existência, além das inovações radicais e incrementais, de dois outros processos de mudança tecnológica: novos sistemas tecnológicos e mudanças no paradigma técnico-econômico.

Os novos sistemas tecnológicos consistem em combinações de inovações que possuem grandes ramificações e impactos sobre diversos setores produtivos e que, geralmente, geram o surgimento de novos setores na economia. Como exemplo, temos a internet, a telefonia móvel e a indústria de software pacote.

As mudanças no paradigma técnico-econômico ocorrem com o desenvolvimento e difusão de novas tecnologias e/ou novos sistemas tecnológicos que possuem um grande e genérico conjunto de aplicações que impactam diretamente sobre as condições estruturais de produção em praticamente todos os setores da economia. Como exemplo, pode-se citar o motor a vapor e a eletricidade. Com relação direta com os objetivos deste trabalho, pode-se citar o amadurecimento do mais recente paradigma técnico-econômico, caracterizado pela revolução das tecnologias da informação e comunicação – TICs.

As mudanças nos paradigmas técnico-econômicos são essenciais para explicar os períodos de crescimento e de crise econômica. Os novos paradigmas alteram as fronteiras tecnológicas e criam novos conjuntos de padrões, práticas e processo produtivos, geralmente a mudança tecnológica é rápida e acompanhada por um grande nível de inércia nas instituições e organizações públicas e privadas existentes. Desta forma os períodos de crise são vistos a partir do conflito entre a emergência do novo paradigma e a estrutura institucional anterior, da mesma forma os booms econômicos estariam relacionados aos períodos em que ocorre a adaptação das instituições e da estrutura econômica e a sua interação com o novo paradigma tecno-econômico.

Talvez o ponto mais importante na visão neo-schumpeteriana é que a inovação, ao

invés de ser entendida como um ato isolado do empresário, passa a ser compreendida como

um processo complexo, interativo, de múltiplas fonte e, portanto, não linear. Neste enfoque,

(20)

a inovação consiste em um fenômeno sistêmico

7

gerado e sustentado por relações inter- firmas e por uma complexa rede de relações inter-institucionais, sendo considerada como o resultado de trajetórias que são cumulativas e construídas historicamente, de acordo com as especificidades institucionais e padrões de especialização econômica inerentes a um determinado país, região ou setor. [Cassiolato (1992)].

Assim, tanto o entendimento da inovação como sendo um processo sistêmico como a qualificação das diferentes formas pelas quais ocorrem a mudança tecnológica e os seus efeitos sobre a estrutura econômica, propostas pela visão neo-schumpeteriana, se mostram convergentes à visão estruturalista cepalina proposta inicialmente por Prebisch, no sentido em que a mudança tecnológica é o fenômeno diretamente relacionado ao processo de mudança estrutural e desenvolvimento econômico sendo, portanto, o motor da dinâmica capitalista.

2.3 Assimetrias Internacionais de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico.

No item anterior ficou clara a correlação entre inovação e desenvolvimento econômico. Portanto, à primeira vista, temos como um corolário direto que o caminho do desenvolvimento de um país pode ser trilhado com a promoção do seu desenvolvimento científico e tecnológico. Porém o processo de introdução, uso, difusão e geração de inovações em uma determinada economia, dado que ele é específico e historicamente determinado, não é independente das relações que esta economia terá com as demais.

Portanto, as possibilidades de desenvolvimento tecnológico e econômico que o país possui são influenciadas tanto pela sua estrutura interna (econômica, social e institucional) quanto pela sua forma de inserção econômica e geopolítica internacional.

Historicamente as nações que se colocaram à frente do processo inovativo tenderam a ser mais dinâmicas e competitivas obtendo melhor desempenho econômico e poder geopolítico. Desta forma estabeleceram-se linhas divisórias entre os que estão capacitados a promover ou participar ativamente da dinâmica atual de inovação e aprendizado, e aqueles que foram, ou tendem a ser deslocados e marginalizados. A origem desta dualização está no

7 Como um fenômeno sistêmico inclui o conjunto de fatores econômicos, institucionais sociais, políticos e organizacionais que influenciam o desenvolvimento, difusão e uso das inovações.

(21)

processo de difusão das inovações, que pode originar concentrações dos benefícios competitivos e econômicos do progresso tecnológico em empresas, regiões e países. Este fato já tinha sido identificado por Prebisch no final dos anos 40:

“A propagação do progresso técnico, a partir dos países de origem para o resto do mundo, tem sido lenta e irregular

8

, as novas formas de produção beneficiaram apenas uma proporção reduzida da população mundial. Assim foram se formando os grandes centros industriais do mundo, em torno dos quais a periferia do novo sistema se forma” [Prebisch, 1949.b].

Em consonância e complementarmente à afirmação de Prebisch, Freeman (1988) afirma que o hiato temporal entre inovadores e imitadores está positivamente relacionado à sustentação do fluxo de inovações pelos inovadores e à fragilidade das condições necessárias para inovar nos países imitadores. Estas “assimetrias tecnológicas” agem, ao mesmo tempo, como uma barreira dinâmica ao acesso às novas tecnologias e como um novo incentivo à inovação para aqueles que estão liderando o processo tecnológico. Desta forma, as assimetrias internacionais e históricas entre centro e periferia podem perdurar e se intensificar.

Este processo de dualização não seria alimentado somente pelo hiato temporal, mas principalmente, pela dificuldade de acesso à informação e ao conhecimento e pela ampliação constante dos limites da fronteira tecnológica. Neste sentido, quanto mais distantes da fronteira tecnológica estiverem os países periféricos maiores serão as barreiras para uma atuação inovativa em um novo padrão tecnológico.

Ainda mais grave do que as assimetrias tecnológicas são as assimetrias de

aprendizagem que implicam na impossibilidade de acessar, compreender, absorver,

dominar, usar e difundir conhecimentos. Desta forma, mesmo quando o acesso às novas

tecnologias torna-se possível, muitas vezes, não dispomos de conhecimentos suficientes

para fazer uso das mesmas. Isso ocorre porque o processo de aprendizado depende da

existência (e operação) de capacidades produtivas e inovativas, as quais, nem sempre estão

(22)

disponíveis ou suficientemente desenvolvidas. Arocena e Sutz (2004, p.8) argumentam que, neste aspecto, há uma clara separação entre Norte e Sul, as divisórias del aprendizaje são na opinião dos autores o aspecto maior da problemática atual do subdesenvolvimento. Estas condições ampliam o fenômeno do development divide representado pelas condições assimétricas de desenvolvimento econômico e social existentes entre países do centro e periferia. Neste sentido, o aprofundamento do gap econômico e social é determinado pelo gap na aquisição e uso de conhecimentos o qual delimita fronteiras cada vez mais rígidas entre economias avançadas e periféricas. [ver ainda Cassiolato (1999) Lastres e Albagli (1999), Maldonado (1999), Lastres (2004); Lastres, Cassiolato e Arroio (2005)].

Uma releitura da obra de Prebisch permite extrair as mesmas conclusões obtidas pelos autores neo-schumpeterianos. Segundo Prebisch as assimetrias do progresso técnico são o fator responsável pela diferenciação econômica e social entre países periféricos e centrais, fator determinante o conceito centro-periferia. Os imensos benefícios do desenvolvimento, frutos do progresso técnico não chegaram à periferia numa medida comparável àquela que logrou desfrutar a população dos grandes países. Daí as acentuadíssimas diferenças nos padrões de vida, assim como as notórias discrepâncias entre as suas respectivas forças de capitalização e desenvolvimento [Prebisch, 1949.a].

2.4 A Nova Divisão Internacional do Trabalho

Neste sentido, tanto Prebisch quanto os autores neo-schumpeterianos negam a hipótese dos benefícios da divisão internacional do trabalho baseada no princípio neoclássico das vantagens comparativas. Ao contrário, ambas as correntes indicam que a divisão do trabalho entre centro e periferia é caracterizada pela existência e ampliação dos hiatos tecnológicos e de conhecimento entre as nações. Estes hiatos seriam responsáveis pela exportação de produtos e serviços pelos países líderes, com características de preço e desempenho superiores, enquanto os países menos desenvolvidos ficam restritos a um padrão de produção e exportação crescentemente obsoleto e não competitivo.

A inserção da América Latina, na divisão internacional do trabalho no início do século XX, era caracterizada como exportadora de commodities primárias e importadora de

8 Meu grifo.

(23)

produtos industrializados. Esta etapa de “crescimiento hacia afuera” da América Latina marcou um tipo de inserção periférica na economia mundial tal que o avanço tecnológico provinha, sobre tudo, do exterior ou das filiais das empresas estrangeiras instaladas na região [ver Arocena e Sutz (2004), Fiori (1999)]. Prebisch considerava que esta forma de inserção provocava uma série de desequilíbrios internos (déficits na balança comercial, baixa acumulação de capital, processos inflacionários e desemprego estrutural) e apresentava a tendência de agravamento do conflito (assimetrias) centro x periferia.

O autor explicava a ampliação destes desequilíbrios com a sua tese de Tendência à Deterioração dos Termos de Troca: este tese defendia que a maior lentidão no progresso técnico dos produtos primários em relação aos industriais não estava motivando o encarecimento dos primeiros em relação aos últimos. Desta forma os centros desenvolvidos preservavam integralmente o fruto do seu progresso técnico, enquanto os países periféricos transferiam para eles uma parte do fruto do seu pequeno progresso técnico

9

.

A inserção internacional recente da América Latina, caracterizada pelas políticas liberalizantes implementadas nos anos 80 e 90, gerou na maioria dos países da região, um processo de desnacionalização e destruição da capacidade produtiva e inovativa endógena, aumentando a gravitação e a importância de interesses do capital estrangeiro. A perda de graus de liberdade na condução de política - com o aumento da subordinação política e econômica aos interesses do capital financeiro internacional e dos grandes conglomerados multinacionais - criaram uma série de constrangimentos externos à implementação de políticas que visem ampliar as exportações, desenvolver a produção nacional e a capacidade endógena de gerar conhecimento e inovação. Desta forma, o hiato-tecnológico secular entre centro e periferia se mantém, podendo inclusive se ampliar, caso a destruição ocorrida nas capacidades produtivas e inovativas não se reverta. [ver, por exemplo, Chesnais e Sauviat (2003), Katz e Cimoli (2003), Arocena e Sutz (2004)].

Pode-se dizer que o processo de inserção internacional da América Latina no início o século XXI é o mesmo do início do século XX. A participação de nossas economias na

9 Este progresso técnico no países periféricos refere-se principalmente as novas técnicas e equipamentos agrícolas (plantio, colheita, armazenamento, etc.) e de exploração de recursos naturais (novos equipamento de mineração, extração de pedras preciosas, novas técnicas de extração de minerais preciosos, etc.)

(24)

divisão internacional do trabalho pode ser caracterizada como uma reinserção periférica.

Cabe aos países, excluídos do centro da economia mundial, a especialização nas partes menos complexas das atividades produtivas, que constituem cada vez mais tipos de bens que podem ser considerados commodities, baseados principalmente em: alta escala de produção, baixo preço unitário, simplificação tecnológica e rotinização das tarefas realizadas pelos trabalhadores. A mão de obra envolvida nesse processo produtivo tem um menor custo e condições de trabalho mais precárias e flexíveis, não exigindo altos níveis de capacitação ou conhecimento. As principais atividades encontram-se concentradas nas esferas da execução, distribuição e montagem de produtos [ver, por exemplo, Marques (1999), Castro (2001 e 2003)]. Portanto, à periferia cabe participar dos fluxos de comércio internacional, predominantemente, com os mesmos tipos de produtos de um século atrás.

Neste sentido o “centro” segue não só dominando, mas, ampliando o domínio sobre as atividades produtivas intensivas em conhecimento e criatividade, notadamente estratégicas e geradoras de valor. “No centro do capitalismo, a redução da capacidade de produção intensiva em m.d.o. foi complementada pela ampliação da produção intensiva em capital e conhecimento, com valor adicionado por trabalhador mais elevado, Quase ¾ dos empregos qualificados do mundo estão nos países centrais” [Pochmann (1997, p.16)].

2.5 O Enfoque Político Normativo

As políticas de abertura econômica e inserção internacional implementadas pelos estados latino-americanos, nas primeiras e últimas décadas do século XX, foram políticas de cunho liberal que tinham como objetivo a redução da participação direta e indireta do Estado na economia, que era o agente identificado como a causa da ineficiência econômica, da inflação e dos desequilíbrios estruturais crônicos destes países.

Inversamente a esta visão, as correntes estruturalista e neo-schumpeteriana apresentam um forte caráter normativo, defendendo um papel mais ativo do Estado na condução da economia, principalmente em países menos desenvolvidos onde as frágeis condições estruturais e institucionais criam condições adversas ao desenvolvimento.

Para a corrente neo-schumpeteriana as políticas de Estado podem desempenhar um

papel chave para o desenvolvimento das nações, principalmente na indução do

(25)

desenvolvimento dos seus Sistemas de Inovação

10

. Na opinião de Arocena e Sutz os Sistemas de Inovação são “legítimos objetos de política”, destaca-se a formulação de ações estatais focadas no fortalecimento de vínculos produtivos, no estímulo dos processos de aprendizado e na criação de capacidade produtiva e inovativa. [ver Freeman (2004), Arocena e Sutz (2004)].

Na visão neo-schumpeteriana as ações estatais são particularmente necessárias em épocas consideradas de mudanças radicais, como aquelas associadas ao advento e difusão de novos paradigmas técnico-econômicos. Durante o estágio inicial de um novo paradigma tecnológico abrem-se uma série de oportunidades e desafios para as nações (principalmente as nações periféricas). Estas oportunidades serão maiores quanto maiores forem a descontinuidade do processo tecnológico e o tempo de adaptação das empresas líderes e instituições das nações centrais (que geralmente apresentam maiores graus de comprometimento com os padrões anteriores, fato que tende a gerar um maior nível de inércia às mudanças radicais).

No entanto, as maiores oportunidades existentes na fase inicial não significam necessariamente que o novo “caminho tecnológico” será totalmente “trilhado”. Para isso um país deve possuir um pool de capacitações científicas, tecnológicas e de P&D, relações sinérgicas entre empresas/academia/governo e uma estrutura institucional adequada. Ou seja, há a necessidade de algum grau de desenvolvimento e articulação sistêmica visando a capacitação inovativa e produtiva nacional, que seria o fator fundamental para um maior aproveitamento das oportunidades e/ou superação dos desafios de um novo paradigma. [ver Cassiolato e Schmitz (1992)].

Neste sentido, segundo Cassiolato (1999), existe um reconhecimento crescente da importância de políticas buscando adaptar e reorientar os sistemas produtivos e de inovação aos novos cenários. Autores neo-schumpeterianos como Freeman e Perez destacaram que a adaptação da economia tenderá a se transformar num processo lento e doloroso, em tais ocasiões o papel de políticas públicas, estimulando a promoção e renovação do processo

10 Os Sistemas de Inovação serão melhor descritos no item 3.2.

(26)

cumulativo de aprendizado, é particularmente destacado [ver Cassiolato e Schmitz (1992), Freeman e Perez (1998), Cassiolato (1999), Freeman (2004)].

Nos países periféricos a importância destas políticas públicas é exponencialmente aumentada, já que nestes países os sistemas de inovação são desarticulados e pouco desenvolvidos, existindo menores oportunidades de inserção competitiva com o surgimento e consolidação de um novo paradigma. Neste caso, as ações políticas deveriam, ao menos, ser continuamente ajustadas e reformuladas à medida que estas tecnologias evoluam, evitando a retração ou destruição do escasso potencial produtivo-inovativo destas nações.

Estas políticas também deveriam considerar a necessidade de limitar ou prevenir consequências sociais indesejáveis de qualquer nova tecnologia [ver Freeman (2004)].

Neste mesmo enfoque, Lundvall sugere que o Estado deve ser eficiente e flexível para enfrentar os desafios impostos pelo novo padrão econômico mundial promovendo e aprimorando antes de tudo o padrão de vida de seus cidadãos [Lundvall (1998) apud.

Cassiolato (1999, p.186). Ver ainda Katz e Cimoli (2003), Arocena e Sutz (2003), Lastres, Cassiolato e Arroio (2005)].

Como foi dito, para Prebisch o domínio do progresso técnico atua como fator determinante para a existência de dois grupos de países: os centrais, desenvolvidos economicamente e geradores do progresso técnico e os periféricos, subdesenvolvidos, com economias dependentes e atrasadas tecnologicamente.

A superação desta dependência tecnológica está no centro de suas sugestões de

política econômica. A absorção do progresso técnico deveria ser realizada por

investimentos nos setores mais dinâmicos e difusores do progresso técnico, setores que

teriam a liderança no processo de evolução tecnológica e, desta forma, poder-se-ia inserir

maior dinamismo nas economias periféricas. Devido às dificuldades previsíveis de

acumulação de capital e poupança, estes investimentos deveriam ser feitos

majoritariamente pelo Estado de forma direta ou indireta.

(27)

As políticas de desenvolvimento da indústria, destacadas por Prebisch

11

, não eram as únicas ferramentas de desenvolvimento do estruturalismo. Segundo Fiori (2001) os principais teóricos do estruturalismo clássico

12

defendiam a presença do Estado também no apoio a pesquisa científica e tecnológica, educação superior, criação de instituições de fomento e financiamento tanto à produção industrial quanto à produção científica: “Para o estruturalismo existia a importância do papel do Estado na construção de um sistema econômico integrado e capaz de auto-reproduzir-se, de forma relativamente endógena, graças a uma integração virtuosa entre agricultura e a indústria, ao incentivo estatal ao desenvolvimento tecnológico e à criação de um sistema econômico nacional que priorize o crescimento das forças produtivas.” (ibid. 2001 p.43).

Portanto, em ambas as correntes a política estatal deve atuar no desenvolvimento de um “sistema” que desenvolva a capacidade endógena produtiva e tecnológica. A partir desta observação, a análise da corrente neo-schumpeteriana sobre política econômica e sistemas de inovação e a sua aplicação à nossa realidade de país periférico, pode ser enriquecida com contribuições da teoria estruturalista latino americana, que há mais de 50 anos vem estudando as especificidades e características dos processos de desenvolvimento em nossos países.

Em suma, as convergências descritas anteriormente (a negação do equilíbrio clássico, a importância da inovação, as assimetrias de desenvolvimento econômico e tecnológico, a divisão internacional do trabalho e o enfoque político normativo) formam boa parte da base analítica desta dissertação. A partir desta base é possível extrair uma série de premissas que irão auxiliar as análises subsequentes.

A premissa principal é a importância da inovação para o desenvolvimento econômico e social. Em seguida está a compreensão dos processos de geração, difusão e uso de inovações, que são processos assimétricos e geradores de divergências nas capacidades inovativas, produtivas e competitivas de diferentes empresas, regiões e países.

11 Deve-se atentar para o seguinte fato, as formulações de Prebisch são focadas no setor industrial porque no início do séc.

XX o setor industrial representava o setor mais dinâmico e inovativo da economia capitalista (papel que hoje é desempenhado por outras indústrias como a micro-eletrônica, as TICs, as biotecnologias, etc.). Portanto suas proposições de política de apoio à indústria têm como objetivo final a aquisição de capacidade inovativa inerente a este setor difusor de progresso técnico.

12 Celso Furtado, Anibal Pinto, Maria da Conceição Tavares, etc.

(28)

Consequentemente, estas assimetrias atuam ampliando e consolidando a divisão internacional do trabalho, que desloca a maioria das empresas dos países periféricas para a margem dos segmentos mais dinâmicos da produção. Neste sentido, coloca-se a importância de entender estes processos para propor políticas públicas que visem o incremento do potencial endógeno produtivo-inovativo e o desenvolvimento econômico/social.

3 O Enfoque sistêmico sobre inovação, conhecimento e aprendizado.

A analise desenvolvida no item anterior pode ainda ser enriquecida com uma melhor compreensão das questões envolvidas na gênese dos processos inovativos e de mudança tecnológica, principalmente a importância dos mecanismos sistêmicos que permeiam o conhecimento e o aprendizado.

Neste sentido, com o objetivo de sustentar as análises posteriores – a indústria de software e o APL de software em Petrópolis – os aspectos conceituais relevantes sobre sistemas de inovação, conhecimento e aprendizado serão abordados brevemente nesta seção. Esta análise parte do entendimento de que o conhecimento é o ativo principal e o aprendizado o processo central na atual dinâmica competitiva capitalista [ver Johnson e Lundvall (1994)].

3.1 O conhecimento e seus processos de aprendizado

Esta dissertação assume que toda a inovação tem como base um conjunto de conhecimentos individuais e coletivos utilizados de forma criativa e eficaz. Estes conhecimentos são originados em processos de aprendizado que envolvem diversas fontes, relações, especificidades e ambientes (territorial, político, econômico, etc.). Portanto, a compreensão dos impactos da inovação sobre o desenvolvimento e a estrutura econômica, pode subsidiada pela compreensão da importância dos fenômenos relacionados ao conhecimento e seus processos de aprendizado.

Portanto, neste ponto, tornam-se necessárias algumas observações de caráter

conceitual sobre as formas de difusão de conhecimentos e os seus distintos processos de

(29)

aprendizado. Inicialmente, parte-se da premissa que todo conhecimento adquirido é fruto de um processo de aprendizado formal ou informal, implícito ou explícito.

Este trabalho considera o aprendizado como o processo de absorção e domínio de conhecimentos que possibilitam tanto o desenvolvimento de capacitações (em nível intelectual, analítico, prático e lógico) quanto à utilização destes conhecimentos (em situações rotineiras e/ou complexas) por um indivíduo ou organização.

O processo de aprendizado possui forte determinação social e ocorre por ações estratégicas coletivas e/ou individuais específicas que resultam na geração de habilidades tanto em nível organizacional quanto individual, possibilitando a aquisição e construção de diferentes tipos de conhecimentos, habilidades e competências. [ver, por exemplo, Lundvall (1992), Carlsson e Eliasson (1994), Lundvall e Johnson (2001), Campos et al. (2003), Redesist (2004)].

Os mecanismos de aprendizado se distinguem de acordo com o tipo de conhecimento em questão, que pode ser de caráter tácito ou codificado:

• O conhecimento tácito é o conhecimento que não pode ser explicitado formalmente ou facilmente transferido; refere-se aos conhecimentos implícitos a um agente social ou econômico, como as habilidades acumuladas por um indivíduo, organização ou conjunto de agentes, que compartilham atividades e linguagem comum. Nestas habilidades e conhecimentos implícitos podemos incluir: os saberes sobre o processo produtivo que não estão disponíveis em manuais, os saberes gerais comportamentais, a capacidade para resolução de problemas não codificados e a capacidade para estabelecer vínculos entre situações e interagir com outras pessoas [Lemos (1999), Redesist (2004)].

• O conhecimento codificado é o tipo de conhecimento que pode ser expresso em códigos

(escritos, numéricos, gráficos, sonoros, etc.) sendo formalizado e estruturado, podendo

ser manipulado como informação. A codificação do conhecimento é basicamente um

processo de redução e conversão que implica sua transformação em informação.

(30)

Cada uma das formas de conhecimento descritas possui processos distintos de aprendizado: o conhecimento codificado pode ser mais facilmente adquirido, devido a sua maior acessibilidade (livros, revistas técnicas, manuais, internet, etc.). No entanto, o simples acesso à informação não é garantia de acesso ao conhecimento. A decodificação das informações

13

exige um estoque prévio de conhecimentos e capacitações que disponibilizem ao indivíduo selecionar, qualificar, compreender, absorver e usar esta informação como conhecimento. Portanto, o aumento das possibilidades de codificação de conhecimentos (com o advento da revolução tecnológica das TICs) não vem produzindo efeitos significativos em termos de maior transferibilidade dos mesmos, como o conteúdo de conhecimento apresenta taxas extremamente dinâmicas de mudança, geralmente apenas aqueles que participam do processo de sua criação têm acesso ao mesmo e acompanham sua evolução dinâmica [Lundvall (1988) apud Cassiolato (1999)].

O conhecimento tácito, que não pode ser expresso em códigos formais, não é facilmente transferível e não está disponível como mercadoria, requer um tipo específico de interação social para que possa ser transferido. Na realidade, o conhecimento tácito só é compartilhado através da interação humana, nas relações realizadas entre indivíduos ou organizações em ambientes com dinâmica específica. As possibilidades de transferência de conhecimento tácito estão relacionadas à demonstração e à experiência, como na clássica relação mestre aprendiz, na qual o processo de aprendizagem depende da observação, imitação, prática e correção

14

[Gertler (2002), apud Campos et al. (2003)].

O aprendizado do conhecimento tácito envolve mecanismos de aprendizado onde existe a necessidade da proximidade territorial entre os agentes e se enfatiza a influência do

13 O processo inverso, ou seja, a codificação de conhecimentos em informações também exige um amplo conhecimento prévio sobre o assunto.

14 Os conhecimentos tácitos podem ter diferentes graus de complexidade e especificidade, quanto mais complexo e específico for o conhecimento, maior será a dificuldade no processo de aprendizagem e a necessidade de conhecimentos prévios. Como consequência muitos conhecimentos não podem ser facilmente transferidos, mesmo que exista contato pessoal. Isso ocorre porque o processo de aprendizado, principalmente dos conhecimentos do tipo tácito, está diretamente relacionado à cumulatividade de conhecimentos. Esta cumulatividade depende de uma trajetória anterior de conhecimentos que foram adquiridos, usados e difundidos formando o “repositório de conhecimentos”14 dos indivíduos e/ou empresas. Neste sentido, cumulatividade e aprendizagem são variáveis positivamente relacionadas, quanto mais conhecimento for acumulado por um determinado indivíduo mais fácil será para este indivíduo: acessar, compreender, adquirir, acumular e usar novos conhecimentos; e, portanto, mais fácil será o aprendizado. Portanto, é necessário aprender para aprender.

(31)

contexto social e a proximidade institucional

15

sobre as formas de aprendizado e compartilhamento de conhecimentos [ver, por exemplo, Vargas (2002) e Campos et alii.

(2003)].

Portanto, o processo de aprendizado pode ser qualificado como um fenômeno sistêmico, devido ao seu caráter complexo, de múltiplas fontes, interativo e dependente das especificidades do ambiente onde ocorre. Neste sentido o enfoque sistêmico, principalmente as diversas contribuições da literatura neo-schumpeteriana sobre sistemas de inovação, representa uma importante contribuição para a analise de processos de geração, uso e difusão do conhecimento e seus mecanismos de aprendizado.

3.2 - Sistemas de Inovação Nacionais e Locais

Com base nas observações anteriores e a partir do enfoque sistêmico neo- schumpeteriano pode-se introduzir o conceito de Sistema Inovação:

“A idéia básica do conceito de sistemas de inovação é que o desempenho inovativo depende não apenas do desempenho de empresas e organizações de ensino e pesquisa, mas também de como elas interagem entre si e com vários atores. Entende-se, deste modo, que os processos de inovação que têm lugar no nível da firma são, em geral, gerados e sustentados por suas relações com outras empresas e organizações. Tal abordagem supõe ainda que a capacidade de inovação deriva da confluência de fatores sociais, políticos, institucionais e culturais específicos aos ambientes em que se inserem os agentes econômicos. Logo, diferentes trajetórias de desenvolvimento contribuem para a configuração de sistemas de inovação distintos com características muito diversas, possibilitando a conceitualização de sistemas nacionais, setoriais, regionais e locais de inovação”.[Redesist (2004, p.21)]

15 Proximidade institucional refere-se ao compartilhamento de normas, convenções, valores, expectativas e rotinas que nascem da experiência comum emoldurada pelas instituições. Considera-se ainda que o contexto político e a proximidade cultural e linguística também condicionam a transferência de conhecimentos e o incremento do potencial inovativo das organizações locais. [Gertler (2001) apud. Campos (2003, p.53)]

(32)

Um Sistema de Inovação pode ser delimitado quer pelas fronteiras espaciais (sistemas nacionais, regionais ou locais), quer pelas fronteiras dadas pela natureza da tecnologia e das estruturas produtivas, reunindo recursos tangíveis (capital natural e capital produtivo) e intangíveis (capital social e capital intelectual) [Edquist e Johnson (1997), Lundvall et.alii (2001) apud. Campos (2003)].

A partir desta análise, podemos destacar inicialmente o conceito de Sistemas Nacionais de Inovação, desenvolvido por autores como Freeman (1987) Lundvall (1992) e Nelson (1993). O Sistema Nacional de Inovação é formado pelo conjunto de agentes econômicos, institucionais, sociais, políticos e organizacionais que influenciam o desenvolvimento, uso e difusão de inovações e que tem impactos diretos sobre o desenvolvimento tecnológico, econômico e social de uma nação. Os SNIs determinam em grande medida a capacidade de aprendizado de um país e, portanto, aquela de inovar e de se adaptar às mudanças do ambiente. Segundo Nelson (1993) este enfoque tem sido uma contribuição valiosa da teoria apreciativa e da pesquisa empírica à compreensão do crescimento econômico, assim como à formulação de política. [Freeman (1987), Lundvall (1992), Nelson (1993)]

O conceito de SNI vem sendo ampliado para incorporar e entender os níveis regionais e locais de difusão de conhecimentos, processos de aprendizado e capacidade inovativa, principalmente em nações menos desenvolvidas.

16

As novas políticas e instrumentos de promoção do desenvolvimento industrial e inovativo tendem, cada vez mais, a focalizar em blocos de agentes e atividades territorialmente localizadas.

O foco no estudo e análise de sistemas localizados de inovação vem sendo fortalecido nos países da América Latina, principalmente pelo entendimento de que a incipiente estrutura - científica, educacional, tecnológica, social, política e institucional – não possibilita um sistema nacional de inovação integrado e desenvolvido. “No Sul a inovação ocorre através de vínculos e interações entre atores diversos, porém estas são frágeis, episódicos e escassos” [Arocena e Sutz (2004)]. Os SNIs periféricos existem e são

16 Este assunto será melhor abordado no item 2.3 “Economia do Aprendizado e do Conhecimento”

(33)

frágeis, neste sentido, dado a heterogeneidade de nossas economias, torna-se mais fácil visualizar os sistemas locais mais dinâmicos e integrados.

Portanto, justifica-se o conceito de Sistema Local de Inovação para tratar das especificidades da inovação e aprendizado nas condições periféricas. A análise sobre sistemas localizados vem avançando muito no Brasil, destaca-se o trabalho conceitual e analítico desenvolvido sobre Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais

17

. Este conceito parte da idéia geral de que onde houver produção de bem ou serviço haverá sempre um arranjo em torno desta produção, existindo outras empresas em algum tipo de atividades relacionadas: fornecimento de matérias primas, máquinas e insumos, clientes, etc. [Cassiolato e Lastres (2003), Redesist (2004)].

Estes arranjos produtivos podem apresentar diferentes níveis de desenvolvimento e articulação. A Redesist (2004) conceitua os Sistemas Produtivos e Inovativos Locais como conjuntos de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, desenvolvendo atividades econômicas correlatas e que apresentam vínculos expressivos de produção, interação, cooperação e aprendizagem. SPILs geralmente incluem empresas (produtores, fornecedores, prestadores de serviços, comercializadoras, clientes), organizações (cooperativas, associações, sindicatos e representações) e demais organizações de formação de recursos humanos, informação, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, promoção e financiamento. Arranjos Produtivos Locais são aqueles casos que não apresentam significativa articulação entre os agentes e que, assim, não podem se caracterizar como sistemas

18

.

A formação de arranjos e sistemas produtivos locais encontra-se geralmente associada a trajetórias históricas, de construção de identidades e de formação de vínculos territoriais (regionais e locais) a partir de uma base social, cultural, política e econômica comum. A proximidade territorial gera o compartilhamento de visões e valores econômicos, sociais e culturais. Desta forma, as relações locais modelam os processos interativos, que levam ao incremento conjunto das competências produtivas e inovativas, possibilitando a obtenção de vantagens competitivas dinâmicas.

17 Ver em www.ie.ufrj.br/Redesist diversos estudos de casos sobre sistemas produtivos e inovativos locais.

18 De forma genérica no restante desta dissertação será utilizado o termo APL.

(34)

Neste sentido, a premissa adotada por esta dissertação em é a seguinte: mesmo localizadas em países periféricos com todas fragilidades inerentes (políticas, sociais, macroeconômicas, institucionais, infra-estrutural, financiamento), as MPME que interagem em seus sistemas produtivos e inovativos tornam-se mais inovativas, melhoram o seu desempenho competitivo e obtém maiores chances de sobrevivência e desenvolvimento através da criação de vantagens competitivas duradouras. [ver dentre outros: Cassiolato e Lastres (1999 e 2003), Vargas (2002), Campos et alli (2003), Redesist (2004)].

Este dinamismo ocorre devido às sinergias e articulações existentes no local que permitem o compartilhamento de dois tipos de externalidades:

(i) Dinâmicas: relacionadas ao aprendizado interativo, aos fluxos de conhecimento e cumulatividade de conhecimentos tácitos, aos mecanismos de cooperação/interação.

Os APLs, que apresentam fortes vínculos gerados pela proximidade territorial, tendem a possuir processos mais intensivos de aprendizado – formais e informais – que levam à geração, compartilhamento e socialização de conhecimentos tácitos, entre as empresas e as demais organizações locais. Estes processos são gerados na associação, cooperação e interação de empresas para realização de atividades de produção, treinamento de recursos humanos, P&D, marketing, compra e venda de produtos, solução de problemas tecnológicos/produtivos, nas relações de subcontratação verticais e horizontais, nas relações com clientes e fornecedores, etc.

Todas estas atividades incluem algum tipo de interação pessoal e levam ao compartilhamento conjunto de conhecimentos específicos à cada atividade, geralmente de caráter tácito. Quanto maiores as relações de confiança entre os agentes locais, maiores e mais constantes serão os processos interativos/cooperativos e as sinergias geradas. Estas sinergias possibilitam o incremento do estoque de conhecimentos das empresas e organizações.

(ii) Clássicas ou Estáticas: relacionados a disponibilidades de mão-de-obra (qualificada, de

baixo custo), aos mercados (locais, regionais), disponibilidade de matéria-prima, a

infra-estrutura física, a existência de uma grande firma subcontratante, as políticas

públicas e privadas de apoio, etc. Também se pode considerar de grande

importância a existência de organizações de capacitação (universidades, centros de

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