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PALAVRAS-CHAVES: Assédio moral, proteção jurídica, dano moral.

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ASSÉDIO E O DANO MORAL

Lorena de Queiroz Moreira

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RESUMO: O presente artigo trata de assédio moral, sobre vários pontos de vista.

Neste trabalho, parte-se do entendimento que assédio moral significa agressão moral ou psicológica, implicando condutas antiéticas que expõem o assediado a situações constrangedoras, vexatórias e humilhantes, e de forma persistente e prolongada, visando excluir a vítima do ambiente. Sob a ótica jurídica o assédio moral implica violação do princípio da boa-fé, respeito, não-discriminação, etc., cuja violação gera graves consequências para o assediado, posto que fere a sua personalidade e dignidade, além de gerar problemas de saúde, desemprego e até o suicídio. O assédio moral se manifesta por meio de isolamentos, indiferenças, agressões verbais, humilhações, até denegação de serviços. O assédio moral implica flagrante violação das obrigações contratuais, e também, mostra-se como ato ilícito violador dos atributos profissionais e pessoais, posto que afeta a auto- estima, produtividade, refletindo diretamente, na vida familiar e social, obtendo resultados, desde a depressão, desemprego, e até mesmo, ao suicídio. O âmbito internacional dá grande direção para a uma possível reformulação legislativa na proteção jurídica para o assédio moral. O objetivo é demonstrar que é possível recorrer a tal proteção. A conclusão é que o Brasil busca por tal efetivação por meio dos projetos de lei em tramitação na Câmara dos Deputados. Enfim, o trabalho apresenta o instituto em seus aspectos civis, constitucionais vigentes, a fim de garantir proteção jurídica aos direitos violados quando em consequência do assédio moral.

PALAVRAS-CHAVES: Assédio moral, proteção jurídica, dano moral.

1

MOREIRA, Lorena de Queiroz. Líder de Processos do Projeto de Expansão do Tratamento

Arquivístico dos Processos dos Arquivos Intermediários Judiciais – PROPAE. Pós Graduanda em

SSA do IDP.

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INTRODUÇÃO

A prática do assédio moral tem sido objeto de diversas discussões acadêmicas e profissionais nos últimos anos. Tal situação tem possibilitado a análise do tema nos mais diversos prismas. No âmbito trabalhista, o crescente debate e a produção de estudos são reflexos da dimensão alcançada por este fenômeno.

Embora as relações de trabalho tenham sofrido muitas mudanças ao longo do tempo, o principal eixo de discussão foi, e continua sendo o aspecto econômico que envolve o mercado de trabalho - aumento da produção e/ou redução dos custos.

Dessa forma surgem às pressões para flexibilização das normas trabalhistas, maior competitividade entre os trabalhadores e maiores exigências profissionais o que, em alguns casos, ocasiona a desestruturação do ambiente laboral.

Nesse cenário de competitividade, inabilidade gerencial, diversidade cultural, distanciamento das pessoas, entre outros, abre-se espaço para vários tipos de violências físicas e morais, sendo estas últimas as mais disseminadas e difíceis de coibir.

Assim, o assédio moral configura uma forma de violação dos direitos dos trabalhadores, pois sua ocorrência fere não só as obrigações contratuais como também as garantias fundamentais asseguradas pela Constituição Federal, razão que me motivou pesquisar sobre este tema.

O assédio moral é de grande relevância social, pois apesar de relativamente recentes as discussões sobre o fenômeno, a humanidade convive com ele desde os tempos mais remotos da existência do trabalho. Além do mais, a sua incidência atinge não só os trabalhadores, como toda a sociedade.

No contexto doutrinário, são cada vez mais frequentes publicações, sobre o tema aqui delimitado. Observa-se também um grande avanço no tocante à legislação sobre assédio moral, existindo várias leis aprovadas em âmbito municipal e estadual e alguns projetos de lei no âmbito Federal, possuindo inclusive jurisprudência favorável às vítimas de assédio.

Por meio da pesquisa bibliográfica (legislação e jurisprudência), a presente

pesquisa objetiva abordar o assédio moral nas relações de trabalho, mais

precisamente o dano moral dele decorrente e sua efetiva reparação no ordenamento

vigente. Esta análise terá como espoco responder a seguinte problemática: mesmo

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inexistindo lei específica é indenizável o dano moral decorrente do assédio moral de acordo com o ordenamento jurídico vigente.

2. ENTIDADES DE SERVIÇOS SOCIAIS AUTÔNOMOS DO SISTEMA S

O sistema S, pouco conhecido pela sociedade, é constituído por organizações e instituições atinentes ao setor produtivo, com o objetivo de melhorar e promover o bem estar de seus funcionários, bem como disponibilizar uma boa educação profissional. Apesar das entidades de serviços sociais autônomos do Sistema S não serem públicas, recebem subsídios do governo.

2

A Carta Magna de 1988 prevê, em seu artigo 149, três tipos de contribuições que podem ser instituídas exclusivamente pela União: “(i) contribuições sociais, (ii) contribuição de intervenção no domínio econômico e (iii) contribuição de interesse das categorias profissionais ou econômicas.” O inciso III é que fornece o fulcro legal para a exigência de um conjunto de onze contribuições que, por motivos óbvios, convencionou-se chamar de Sistema S.

3

As receitas arrecadadas são repassadas a entidades, na maior parte de direito privado, que devem aplicá-las conforme previsto na respectiva lei de instituição. As entidades em questão são as seguintes:

 SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

 SESI – Serviço Social da Indústria

 INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

 SESC – Serviço Social do Comércio

 SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio

 DPC – Diretoria de Portos e Costas do Ministério da Marinha

 SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas

 FUNDO AEROVIÁRIO – Fundo Vinculado ao Ministério da Aeronáutica

2

O que é o sistema S, formado pelo Senai, Senac, Sesi, entre outros? LUIS.BLOG.COM.BR.

Disponível em: < http://www.luis.blog.br/o-que-e-o-sistema-s-formado-pelo-senai-senac-sesi-entre- outros.aspx>. Acesso em 25 out. 2012

3

BRASIL. Carga Fiscal 1999 - O Sistema S. Receita Federal do Brasil. Disponível em:

<http://www.receita.fazenda.gov.br/Historico/Arrecadacao/Carga_Fiscal/1999/SistemaS.htm>. Acesso

em: 25 out. 2012

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 SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

 SEST – Serviço Social de Transporte

 SENAT – Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte

A criação dessas instituições e suas fontes de receita remonta a década de 40, sendo que apenas o SEBRA, o SENAR, o SEST e o SENAT foram instituídos após a Constituição de 1988. Em regra, as contribuições incidem sobre a folha de salários das empresas pertencentes à categoria correspondente e destinam-se a financiar atividades que visem ao aperfeiçoamento profissional e à melhoria do bem estar social dos trabalhadores. Não obstantes tais contribuições decorram da legislação federal e sejam coletadas pela União, os recursos arrecadados não se destinam a atender à programação financeira do Estado.

4

Consideradas tais características, passa-se a analisar o assédio moral, seus conceitos e características, uma vez que tal comportamento está ligado à relação de trabalho e pode ser encontrado no ambiente dessas entidades sociais autônomas que integram o sistema S.

3. O ASSÉDIO MORAL

O assédio moral ou agressão psicológica é um fato social que ocorre no meio social, familiar, estudantil e, mais intensamente no ambiente do trabalho, abrangendo tanto o setor privado como a Administração Pública. Conforme alerta Maria Aparecida Alkimin, embora na atualidade tenha atraído estudos no campo da Psicologia, Sociologia, Medicina do Trabalho e do Direito, o assédio moral, tem origem histórica na organização do trabalho, tendo em vista a relação domínio- submissão entre capital e força do trabalho.

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Na verdade, essa agressão psicológica ou sofrimento invisível imposto ao assediado, que se concretiza numa “invasão progressiva no território psíquico do outro”, é um assunto que se universalizou no mundo pós-moderno, onde se conquistou a liberdade individual e de trabalho e demais direitos inerentes à dignidade humana. Todavia, por meio da implantação de novas ideologias de

4

BRASIL. Carga Fiscal 1999 - O Sistema S. Receita Federal do Brasil. Disponível em:

<http://www.receita.fazenda.gov.br/Historico/Arrecadacao/Carga_Fiscal/1999/SistemaS.htm>. Acesso em: 25 out. 2012

5

ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na Relação de Trabalho. 2.ed. rev. e atualizada.

Curitiba: Juruá, 2008. p. 37.

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produção – produtividade e competitividade -, e novas organizações da sociedade, exigindo do indivíduo aí inserido, empenho, dedicação, capacitação e, ao mesmo tempo, não raro, climas de insegurança, e pressões quanto à manutenção do emprego, leva à degradação do ambiente com consequente violência moral.

Diante disso, pode-se afirmar que a relevância jurídica do assédio moral é cristalina, pois essa prática contamina o ambiente, viola a garantia constitucional de um meio ambiente no qual o indivíduo está inserido, sadio e equilibrado, além de agredir a dignidade da pessoa humana do assediado, atingindo seus atributos pessoais, tais como, imagem, saúde, liberdade, intimidades, honra e boa fama, ingressando na seara do dano moral; enfim, apontando para uma compreensão de que o assédio moral viola direitos e garantias fundamentais tutelados pelo ordenamento jurídico constitucional (CF/88, art. 5º, inc. X).

3.1 CONCEITO DE ASSÉDIO MORAL

A explosão das discussões acerca do assédio moral no mundo está relacionada ao novo contexto de econômico mundial, fenômeno típico da sociedade atual, o assédio moral não se restringe a um local específico, mas, constitui um problema de amplitude global. Apesar disso, a forma como ele se manifesta varia de local para local, o que acaba por dificultar sua definição e estabelecer uma só terminologia. Por ser um fenômeno ainda recente em termos de visão jurídico- científica, há pouco material publicado acerca do tema.

Para Heinz Leymann, o assédio moral consiste em uma psicologia do terror, ou simplesmente, psicoterror, como ele mesmo denomina. Esse psicoterror se manifesta no ambiente de trabalho por uma comunicação hostil e não ética direcionada a um indivíduo ou mais. A vítima, como forma de defesa, reprime-se, desenvolvendo um perfil que somente facilita ao agressor a prática de outras formas de assédio moral. O estudioso afirma que a alta frequência e a longa duração das condutas hostis acabam resultando em considerável sofrimento mental, psicossomático e social aos vitimizados pelo assédio moral.

6

A psicóloga francesa Marie-France Hirigoyen conceitua assédio moral em menção do trabalho, como sendo “qualquer conduta abusiva (gesto, palavra,

6

FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. Campinas:

Russel, 2004. p. 42.

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comportamento, atitude, etc.) que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa”, ameaçando seu emprego e degradando o clima de trabalho.

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Portanto, o assédio moral, também conhecido como terrorismo psicológico ou psicoterror, é uma forma de violência psíquica praticada, e que consiste na prática de atos, gestos, palavras e comportamentos vexatórios, humilhantes, degradantes e constrangedores, de forma sistemática e prolongada

8

, cuja prática assediante pode ter como sujeito ativo o empregador ou superior hierárquico (assédio vertical), um colega de serviço (assédio horizontal), ou um subordinado (assédio ascendente), com clara intenção discriminatória e perseguidora, visando eliminar a vítima da organização do trabalho ou do ambiente social em que estiver inserido.

O dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira aponta a expressão

‘assédio’ como derivada do verbo assediar, que significa “perseguir com insistência [...]importunar, molestar, com pretensões insistentes; assaltar [...]”,

9

ao passos que a expressão ‘moral’ pode ser compreendida em seu aspecto filosófico, referindo-se ao agir ético, ou seja, de acordo com as regras morais ou normas escritas que regulam a conduta na sociedade, o ‘ser’ e ‘dever-ser’, visando praticar o bem e evitar o mal para o próximo, explicam Marco Segre e Cláudio Cohen.

10

Justificando a utilização da expressão moral, Marie-France assevera que:

A escolha do termo moral, implicou uma tomada de posição. Trata-se efetivamente de bem e de mal, do que se faz e do que não se faz, e do que é considerado aceitável ou não em nossa sociedade. Não é possível estudar esse fenômeno sem levar em conta a perspectiva ética ou moral, portanto, o que sobre para as vítimas do assédio moral é o sentimento de terem sido maltratadas, desprezadas, humilhadas, rejeitadas [...].

11

Luiz Salvador traça o conceito de assédio moral, ao expor que

7

HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-Estar no Trabalho: Redefinindo o Assédio Moral. [trad. Rjane Janowitzer] Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002 a. p. 17.

8

Ibid., p. 30.

9

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 183.

10

SEGRE, Marco & COHEN, Cláudio. Bioética. São Paulo: Edusp, 1999. p. 15.

11

HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio Moral: a violência perversa do cotidiano. 4.ed. [trad. Maria

Helena Kuhner Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002 b.

(7)

“o assédio moral é caracterizado pela degradação deliberada [...]

prevalecem atitudes e condutas negativas” dos superiores em relação a seus subordinados, “constituindo uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais” para o assediado.

12

3.2 CARACTERÍSTICAS E CONDUTAS DO ASSÉDIO MORAL

O assédio moral é evidenciado mediante uma série de condutas, sempre abusivas e agressivas, de forma mais ou menos explícita. Seja como a recusa de estabelecer comunicação, seja pela humilhação por meio da desqualificação, seja, ainda pelo isolamento, o agente assediador lança mão de procedimentos que Hirigoyen assemelha as armadilhas.

Importa ainda lembrar com Dejours uma grave utilização do assédio moral, um dos mais importantes instrumentos de destruição psicológica utilizados nos campos de concentração nazistas durante a 2ª Guerra Mundial.

13

Dessa forma, ressalta-se que “a fórmula dos sistemas totalitários não sofreu alterações nesse lapso temporal”.

14

Relembra-se que o assédio moral possui como origem o abuso de poder. O abuso de poder é entendido como a manipulação perversa, utilizada pelo assediador fazendo com que todos os subordinados ou não (quando do assédio moral horizontal), atendam a interesses seus. São nesses âmbitos que são verificadas as características da conduta abusiva e do próprio agente assediador.

Para fazer entender, Fábio Tomás de Souza e Normando Augusto Cavalcanti Júnior explicam que a atitude do grupo é preponderante para a instalação do assédio moral. Normalmente, no ambiente de trabalho, as pessoas que circulam a vítima do assédio moral assistem aos despautérios do agressor de forma passiva, a qual, na maioria das vezes, contribui para a maior depreciação da vítima que, em face dessa realidade, é levada a acreditar que realmente merece o tratamento que está recebendo.

15

12

SALVADOR, Luiz. Assédio moral: TRT da 17ª Região, reconhece que violação à dignidade humana dá direito a indenização; In: JUSTIÇA DO TRABALHO, Caderno de Direito Previdenciário:

doutrina e jurisprudência, ano 20, nº 230. Porto Alegre: HS; São Paulo: Nota Dez, fevereiro, 2003. p.

32.

13

DEJOURS, Christophe. A Banalização da Injustiça Social. [trad. Luiz Alberto Monjardim. 4.ed.

Rio de Janeiro: FGV, 2001.p. 76.

14

FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. Campinas:

Russel, 2004. p. 62.

15

SOUZA, Fábio Tomás de & CAVALCANTI JÚNIOR, Normando Augusto. O Assédio Moral no

Trabalho. Brasília: Fortium, 2006. p. 29.

(8)

Portanto, o assédio moral caracteriza-se das mais diversas formas, inclusive, iniciando-se de forma dissimulada, por meio de um controle obsessivo, que redunda em contínuas repressões disciplinares por atitudes irrelevantes. Outra tática utilizada pelo agressor é a colocação da vítima em situações de isolamento, quer físico quer pessoal.

As características do assédio moral estão condicionadas aos padrões culturais e religiosos de cada povo. Ferreira explica que por serem em algumas culturas essa espécie de violência no local de trabalho tida como conduta normal, dificulta a definição do tipo penal, quando da aceitação internacional.

16

Na verdade, poucos são os países que disciplinaram o assunto, ao contrário da proteção legal conferida aos trabalhadores contra o assédio sexual.

Segundo Gomes, a tipificação da conduta se justifica na medida em que até a saúde do trabalhador, muitas vezes, é abalada pela violência cometida por alguns empregadores ou chefes. Esclarece ainda que "aqui, nos referimos à violência que atinge o psicológico e o emocional do cidadão, é a prática temperada pela ironia, mordacidade e capricho, com evidente desvio de poder".

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4. A FUNDAMENTAÇÃO DA TUTELA E OS EFEITOS JURÍDICOS DO ASSÉDIO MORAL

A partir das consequências do assédio moral é importante saber qual a lesão por ele praticada a fim de que, a vítima possa ser devidamente ressarcida, respeitando-se os limites dos prejuízos causados, sejam estes de qualquer natureza.

Ao contrário do que possa parecer, as consequências geradas pelo assédio moral não se limitam à saúde do assediado que é vítima do processo destruidor. Os resultados atingem também a esfera social da vida do empregado, além das consequências econômicas do fenômeno sobre o assediado, o local onde ocorreu o assédio (na maioria das vezes, da empresa) e a sociedade.

Hirigoyen demonstra que o processo de assédio moral quase sempre termina com a saída da vítima do emprego num estado de saúde tão debilitado, que acaba ficando sem condições físicas e mentais para muitas outras atividades, e em

16

FERREIRA, José Carlos. Violência no Local de Trabalho. Assédio Moral. Revista Consulex, nº 227. 30 de junho de 2006.

17

GOMES, Luiz Flávio. Assédio Sexual. Revista Consulex nº 110. 15.9.2001.

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função disto, gerando consequência econômica. Os números são impressionantes:

em 36% dos casos de assédio moral a vítima é desligada do ambiente em que se deu o assédio moral (ou da empresa); em 20% destes, a pessoa é demitida devido a falhas; em 9% a demissão é negociada; em 7% é a pessoa quem pede demissão;

em 1% restante, a pessoa é colocada em pré-aposentadoria.

18

Mas as consequências econômicas não se limitam à vida do assediado.Quando o assédio ocorre na empresa, esta também acaba sentindo os reflexos desse processo na produtividade:

Há uma sensível perda de produção por absenteísmo e também pela desmotivação dos outros empregados. Um informativo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostrando o resultando de um estudo sobre a saúde mental no trabalho, publicado em 10 de outubro de 2000, comentou que as consequências do assédio moral nas empresas são percebidas nos altos custos com a baixa produtividade, na diminuição dos benefícios e na seleção e formação de pessoal substituto.

19

Nos Estados Unidos os pequenos e os grande empregadores começaram a tomar consciência de que os transtornos mentais advindos de más condições de trabalho significam elevação de custo, tanto pelos gastos médicos, como pelos afastamentos por incapacidade, apercebendo-se da relação existente entre saúde mental e produtividade. Para se ter uma idéia dos gastos, anualmente perdem-se 200 milhões de dias de trabalho nesse país.

Na Finlândia os transtornos da saúde mental já são a principal causa de pensões por incapacidade.

20

As consequências econômicas atingem também a sociedade como um todo, uma vez que mais pessoas estarão gozando de benefícios previdenciários temporários, ou mesmo permanentes, em virtude da incapacidade adquirida, sobrecarregando, muitas vezes, a Previdência Social. Hirigoyen menciona gastos como despesas de saúde por parte do seguro social, hospitalizações, indenizações de desemprego, aposentadorias antecipadas, o que, em se tratando da situação

18

HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio Moral: a violência perversa do cotidiano. 4.ed. [trad. Maria Helena Kuhner Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002, p. 120.

19

FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. Campinas:

Russel, 2004. p. 70.

20

Ibid., p. 70-71.

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econômica de um país, transforma-se em bilhões.

21

Participa da mesma opinião, Luiz Salvador.

22

Ademais, existe a consequência social gerada pelo fenômeno na vida da vítima. Com todo esse processo, o estado psicológico do assediado exposto às agressões transforma-se em uma pessoa fragilizada, irritada, sensível ou, às vezes, agressivo. O isolamento acompanha-o fora do ambiente de trabalho, não existindo mais convívio social com a família nem com os amigos. Conforme afirma Ferreira em vários relatos, quase sempre o assédio moral acarreta a desestruturação familiar. A família, assim como a vítima, desconhece as razões do conflito, repassando então as mesmas condições do assédio moral.

23

4.1. A TUTELA JURÍDICA E SUA FUNDAMENTAÇÃO

Consoante aos movimentos que vêm ocorrendo em todo o mundo, a tutela jurídica às vítimas de assédio moral no Brasil encontra-se fundamentada na maior conscientização das categorias profissionais e dos juristas e tribunais, que, por conseguinte, passaram a reconhecer o assedio moral como uma modalidade de violência que não somente ameaça a saúde física e psicológica do trabalhador, mas também a sua dignidade como pessoa humana, visto que desrespeita uma série de direitos e garantias fundamentais, findando com a sua auto-estima e retirando a sua qualidade de vida.

24

Assim, todo o ordenamento jurídico vigente demonstra preocupação em eliminar as diversas formas de discriminação, seja ele dirigido às mulheres, aos menores, aos negros; enfim, é escopo da ordem jurídica combater quaisquer discriminações que venham a surgir no trabalho. Pois bem, o assédio moral tem sua origem na discriminação, ponto de estudo e partida para estudiosos, operadores do direito e também o legislador. Nesse sentido, deve-se lembrar que o assédio moral contraria inclusive, a ordem jurídica posta e reconhecida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, que em seu artigo 23, inciso I dispõe: “Todo homem tem o

21

HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio Moral: a violência perversa do cotidiano. 4.ed. [trad. Maria Helena Kuhner Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002, p. 122.

22

SALVADOR, Luiz. Assédio Moral: TRT da 17ª Região reconhece que violação à dignidade humana da direito a indenização. Jornal Trabalhista Consulex. Brasília. Dezembro, vol. 19. nº 946. 2002. p.

6.

23

FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Op. cit., p. 71.

24

FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. Campinas:

Russel, 2004. p. 87.

(11)

direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego”.

25

Em 1995 foi publicada a Lei nº 9.029, cuja finalidade era coibir práticas discriminatórias por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar ou idade. A lei, em síntese, considera crime as hipóteses em que o empregador exige teste de gravidez, ou semelhante, para a admissão de empregados e a indução ou promoção do controle de natalidade.

Essa e outras leis prevêem a figura do assédio moral na Administração Pública. Elas traçam o conceito do fenômeno baseando-se nas definições psicológicas já comentadas. Vislumbram, também, para os agentes assediadores, sanções que vão desde curso de aprimoramento profissional, advertência e multa, até suspensão e demissão. As penalidades variam, de acordo com a gravidade e a reincidência na prática do assédio moral.

No âmbito federal, somente o projeto de alteração da Consolidação das Leis do Trabalho tem sido discutido, porém sem maiores contribuições. O projeto de lei que tem causado maiores debates é o que pretende transformar o assédio moral em crime. Trata-se do projeto de lei federal nº 4.742/2001, de autoria do deputado Marcos de Jesus (PL/Pernambuco), que inicialmente propunha inserção no Código Penal do crime de assédio moral, aqui também apresentado.

26

Destarte, o assédio moral no trabalho ameaça clara e precipuamente princípios e garantias constitucionais vigentes, bem como direitos e liberdades alcançados pelos trabalhadores na Consolidação das Leis do Trabalho, uma vez que impede o exercício de vários desses direitos em face ao terror psicológico ao que as vítimas são submetidas.

4.2 FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS

A temática que envolve o assédio moral é necessária ser analisada sob o ponto de vista constitucional, buscando esclarecer como essa agressão viola princípios como o da dignidade da pessoa humana e da valorização do trabalho.

25

APUD: FERREIRA, 2004. Op. cit. p. 87; SOUZA & CAVALCANTI JÚNIOR, 2006. Op. cit. p. 58.

26

JESUS, Marcos de. Assédio Moral no Trabalho: saiba como se defender. Projeto de Lei nº 4742,

de 2001. Brasília: Câmara dos Deputados. Coordenação de Publicações, 2002. p. 2-3.

(12)

A Constituição da República de 1988, em seu artigo 1º, dispõe sobre os fundamentos da constituição de um Estado Democrático de Direito, trazendo nos incisos III e IV, os princípios da dignidade da pessoa humana e dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, respectivamente.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui- se em Estado

Democrático de Direito e tem como fundamentos: [....]

III – a dignidade da pessoa humana;

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa [...]

Em complemento, em seu artigo 170, a Constituição Federal estabelece que

“a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social [...]”. Desta forma, não obstante em ambos os dispositivos constitucionais, o legislador claramente dispõe sobre a preocupação com a proteção à dignidade humana e a proteção ao trabalho, tais princípios há muito tem sido frontalmente desrespeitados pelo processo devastador do assédio moral.

Segundo Ferreira, a dignidade humana consiste em um verdadeiro fundamento do Estado Social de Direito, revestindo-se, portanto, de contornos e funções bem específicos, reunindo em torno de si uma série de direitos e liberdades fundamentais pendentes da sua existência.

27

Isto é, tal princípio não consiste em mera norma de conteúdo programático, mas, sim, trata-se de um dispositivo com conteúdo impositivo dotado de eficácia plena e imediata, haja vista que dele dependem vários outros princípios constitucionais, não restringindo, com isso, à proteção de direitos personalíssimos, mas ainda à proteção de direitos sociais.

Assim sendo, explicam Souza & Cavalcanti Júnior que a dignidade da pessoa do assediado é parte integrante, de uma forma geral, das finalidades da ordem econômica, posto que tal assertiva encontra-se corroborada pelo disposto no artigo 170 da Constituição de 1988. E, portanto, a exposição do assediado ao terror psicológico decorrente da prática do assédio moral, é evidente violação da dignidade humana, sendo, portanto, merecedora da devida tutela jurídica por parte do ordenamento pátrio.

28

27

FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. Campinas:

Russel, 2004. p. 93.

28

SOUZA, Fábio Tomás de & CAVALCANTI JÚNIOR, Normando Augusto. O Assédio Moral no

Trabalho. Brasília: Fortium, 2006. p. 59.

(13)

4.2.1. O Dano Moral

O assédio moral viola de forma direta e imediata os direitos individuais fundamentais, possibilitando, desta forma, o pleito por parte das vítimas do efetivo ressarcimento por dano moral. Todavia, como lecionado por Paulo Eduardo Vieira de Oliveira, o que habitualmente denomina-se dano moral, verdadeiramente trata-se de dano pessoal.

29

Assim, no assédio moral são mais precisamente os direitos essenciais da pessoa que são violados.

Em que pese à relação laboral, o dano sofrido pela vítima é pessoal, haja vista que são atacados tanto os atributos psíquicos compostos pela liberdade, intimidade, integridade psíquica, quanto os direitos morais propriamente ditos, que englobam a identidade, a honra, o respeito, a dignidade, o decoro pessoal e as criações intelectuais.

30

Desta feita, Ferreira afirma que o dano moral revela-se como a principal consequência jurídica do assédio moral, tendo em vista que tal fenômeno afronta uma série de direitos do trabalhador como pessoa humana, em especial de cunho moral.

31

Além de prever o princípio da dignidade da pessoa humana como fundamento da República e finalidade da ordem econômica, a Constituição de 1988 estabelece em seu art. 5º, incs. V e X, que trata dos direitos individuais fundamentais, a possibilidade de ressarcimento do dano moral.

32

O assédio moral, como observado, viola a dignidade do assediado – p.ex. o trabalhador -, podendo, inclusive, atingir sua intimidade - tal como visto, quando o agente assediador passa a fazer ameaças mediante telefonemas ou cartas anônimas. Tais condutas resultam em prejuízos morais e materiais para a vítima, o que certamente envolve gastos materiais com tratamentos médicos especializados e medicamentos, além da violação à honra, intimidade e dignidade, explica Ferreira.

33

29

OLIVEIRA, Paulo Eduardo Vieira de. O dano pessoal no direito do trabalho. Revista da Amatra.

Brasília, fevereiro, vol. 2, nº 8, 2002. p. 5.

30

SOUZA, Fábio Tomás de & CAVALCANTI JÚNIOR, Normando Augusto. O Assédio Moral no Trabalho. Brasília: Fortium, 2006. p. 60.

31

FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. Campinas:

Russel, 2004. p. 93.

32

Art. 5º V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; [...] X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; Constituição Federal de 1988.

33

FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Op. cit., p. 99.

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Esse entendimento foi estendido a todos os ramos do direito, portanto, não subsiste na jurisprudência, tampouco na doutrina diferenças de entendimento acerca do direito do trabalhador em pleitear a devida indenização no caso de assédio moral, visto que o terror psicológico com o qual é tratado viola a sua dignidade, atingindo a sua intimidade em face às manobras perversas do agressor.

Cláudio Armando Couce de Menezes, juiz do trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da 17ª Região, é categórico ao relacionar os efeitos jurídicos do assédio moral:

[...] talvez o mais importante efeito jurídico seja a possibilidade de gerar a reparação por danos patrimoniais e morais pelos gravames de ordem econômica (perda do emprego, despesas com médicos, psicólogos [...]) e na esfera da honra, da boa fama, do auto-respeito e da saúde psíquica e física, da auto-estima.

Nem se argumente com a ausência de previsão legal para o assédio moral, uma vez que é assegurada pela CF o respeito à dignidade humana, à cidadania, à imagem e ao patrimônio moral do obreiro, inclusive com a indenização por danos morais (art. 5º, V e X, da CF).

34

Acompanha o mesmo entendimento, Luiz Salvador, nas seguintes palavras:

Assim, o lesado por assédio moral pode pleitear em juízo além das verbas decorrentes da rescisão contratual indireta, também, ainda, a indenização por dano moral assegurada pelo inc. X do art. 5º da Lex Legum, eis que a relação de trabalho não é de suserana, é de igualdade, de respeito, de intenso respeito, cabendo frisar que a igualdade prevista no art. 5º da CF não restringe a relação de trabalho à mera relação econômica subordinada: assegura ao trabalhador o necessário respeito à dignidade humana, à cidadania, à imagem, à honradez e à auto-estima.

35

Resta compreendido que, o dano moral revela-se a principal consequência jurídica do assédio moral. Evidente que o fenômeno discutido viola uma série de direitos do trabalhador, em especial os de cunho moral. E esse tem sido também, o entendimento dos tribunais.

Além da análise das consequências morais geradas na vítima - uma vez que as consequências patrimoniais deverão ser ressarcidas por danos materiais, numericamente identificáveis -, necessária, ainda, a análise da intenção do agente assediador, bem como sua capacidade econômica. Lembra Ferreira, que a indenização do dano moral gerado deve ter um caráter pedagógico, isto é, deve

34

MENEZES, Cláudio Armando Couce de. Assédio Moral e seus efeitos jurídicos. In: Síntese Trabalhista. vol. 14, nº 162. Porto Alegre: Síntese, dez./2002. p. 19.

35

SALVADOR, Luiz. Assédio moral. Doença profissional que pode levar à incapacidade permanente e até à morte. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, nº 59, out. 2002. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3326 > Acesso em: 12 out. 2012.

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envolver quantia que seja capaz de desestimular a prática do assédio moral, mas, ao mesmo tempo, suportável ao agente assediador.

36

Mas, além do dano moral indenizável, existem outras medidas que podem ser tomadas pelo assediado, vítima do assédio moral, previstas na legislação vigente. Algumas delas, inclusive, estão dispostas na própria Consolidação das Leis do Trabalho.

4.2.2 Critérios Objetivos para caracterizar o assédio moral e aferir a indenização

Os artigos 186 e 187, CC/2002, estabelecem a responsabilidade civil por quem cause dano a outrem.

37

Relacionando os artigos citados com o dano moral trabalhista, Daniel Itokazu Gonçalvez comenta:

Aqui, sem dúvida, uma nova visão legal se faz presente, na qual não mais se admite que, pseudo protegido por um direito ao fundo, sejam cometidas arbitrariedades. [...] Uma das inovações do NCC é justamente a possibilidade, ainda que não haja prejuízos materiais, da reparação do dano exclusivamente moral, seguindo a evolução doutrinária e jurisprudencial.

38

Aplicando a essência do comentário ao assédio moral, pode-se concluir que é possível estabelecer critérios objetivos na determinação da ocorrência de processo de assédio moral, bem como na determinação da responsabilidade pelos danos sofridos, ainda que estes tenham sido puramente morais. Aceitar entendimento contrário seria sentenciar os assediados, psicologicamente mais resistentes a uma situação de indignidade humana dentro do processo de assédio moral.

Conforme já observado, as consequências físicas e psicológicas do fenômeno na saúde do assediado poderiam indicar, judicialmente, a prática do assédio moral. Torna-se, assim, evidente a necessidade de estabelecerem-se critérios objetivos na aferição da responsabilidade pelo dano moral causado nos casos de assédio moral. A esse respeito, diante do estabelecido no art. 186 do

36

FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio Moral nas Relações de Trabalho. Campinas:

Russel, 2004. p. 102.

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Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187 – Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. NOVO CÓDIGO CIVIL. Lei nº 10.406, de 10.1.2002. São Paulo: Atlas, 2002.

38

GONÇALVES, Daniel Itokazu. Aspectos relevantes do dano moral trabalhista. In: ADV

Advocacia Dinâmica. Seleções Jurídicas. Rio de Janeiro: COAD – Centro de Orientação,

Atualização e Desenvolvimento Profissional, 2003. p. 11.

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Código Civil, Daniel Itokazu ressalta que “a indenização será devida somente na concorrência de dois requisitos: violação de direito e dano, ainda que exclusivamente moral”.

39

Vale repetir que a omissão, pelo empregador ou permitidas por ele, no assédio moral, muitas vezes é mais eficaz do que a ação propriamente dita. Assim, como critérios objetivos para a verificação da ocorrência de assédio moral e da responsabilidade têm-se as condutas já delineadas como típicas do agente assediador.

Quanto à pessoa sobre a qual recairá a responsabilidade de tais danos, o entendimento é pacífico: é o empregador. A súmula 341 do Supremo Tribunal Federal não deixa dúvidas, pois dita que é presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto. Portanto, pela redação do art. 186 do Código Civil combinada com a súmula apontada, entende-se que o empregador responde de forma objetiva pelos atos causados pelos seus prepostos empregados, ou demais empregados, no exercício das atividades laborais.

CONCLUSÃO

Do mesmo modo como está ocorrendo em todo o mundo, no Brasil também se mostra presente à preocupação de profissionais de todas as áreas com o fenômeno do assédio moral. Na seara jurídica, especialistas de todo o país, assim como os mais diversos tribunais de diversas regiões, têm manifestado opiniões e decisões a respeito do tema. As categoriais profissionais e econômicas começam a demonstrar maior conscientização, reconhecendo que o assédio moral viola não apenas a saúde do trabalhador, mas sua dignidade como pessoa humana e uma série de outros direitos, destruindo assim sua autoestima e retirando toda a sua qualidade de vida.

Neste diapasão, a valorização do trabalho humano e a dignidade da pessoa humana são princípios que, apesar de encontrarem guarida constitucional, vêem-se ameaçados por um conjunto de aspectos presentes nos mais diversos contextos da sociedade atual. Tais aspectos são evidenciados pela égide da organização de trabalho, da globalização econômica, da dinamização dos mercados internacionais,

39

Ibid,.

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da supervalorização da produção e do lucro em detrimento do valor do ser humano.

Esta realidade ocasiona a deterioração da condição humana da maioria da população mundial, o que pode, infelizmente, ser facilmente constatado. É tal aspecto que fundamenta a tutela jurídica do assédio moral. Como argumento social, pode-se lembrar Margarida Barreto em sua pesquisa, sobre a importância da luta contra o assédio moral, ao afirmar que essa luta significa contribuir “com o exercício concreto e pessoal de todas as liberdades fundamentais”.

40

A tática é aplicada de modo simples: os trabalhadores que resistem a se submeter às situações indignas e aviltantes passam a sofrer uma série de retaliações por parte da empresa empregadora mediante a prática do terrorismo psicológico. O objetivo das empresas com esse tratamento é livrar-se dos trabalhadores indesejados sem arcar com as despesas advindas com sua dispensa, como verbas trabalhistas e eventuais custas de um contencioso judicial, obrigando- os a pedir demissão e a abrir mão de receber pelos seus direitos. De qualquer forma, é a empresa que lucra com o assédio moral, seja pela economia com a dispensa de trabalhadores, seja pela formação de um pessoal resignado, que está sendo ensinado a se conformar com todas as determinações da empresa, inclusive com as que versem sobre o contrato de trabalho, ainda que lhes sejam prejudiciais.

Assim, o assédio moral desvaloriza o trabalho humano, retira dele toda a sua dignidade, indo de encontro ao estabelecido na ordem jurídica vigente, tanto interna como externamente. Como bem dito no trabalho, a importância do trabalho na vida do homem e a necessidade que ele seja desenvolvido em condições dignas foram devidamente reconhecidas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. E, portanto, a partir daí, reconhecido de forma global que no trabalho deve ser aplicado o princípio da dignidade da pessoa humana.

Afinal, é por meio dele que o homem adquire uma dimensão social, engajando-se na sociedade e de forma digna obtendo por fim sua liberdade.

O assédio moral envolve, por certo e de forma definitiva, questão de ordem constitucional uma vez que viola princípios e garantias estabelecidos na Constituição brasileira. Envolve ainda, direito e liberdades há muito conquistados pelos trabalhadores, expressos tanto na Consolidação das Leis do Trabalho como em leis esparsas, impedindo o exercício de muitos deles com a alienação que é imposta à

40

In: ASSÉDIOMORAL.ORG. Fases da humilhação no trabalho. Disponível em:

<www.assediomoral.org > Acesso em: 12 out. 2012

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vítima. Envolve também, as decisões nos tribunais pátrios, pois, de uma forma muito peculiar, o tema vem sendo discutido e reconhecido por estes, antes mesmo de haver uma legislação específica que o discipline.

A atuação do Estado em regular tais situações é imperativa. E isso se dá por intermédio de uma atividade legislativa que preveja medidas protetivas, resguardando os trabalhadores dos maléficos gerados pelo assédio moral, garantindo que o exercício de seu trabalho - ou ainda outra atividade qualquer, como, por exemplo, o caso do estudante nas salas de aula, negros em qualquer ambiente: igreja, hotel; a condição do sexo ou opção sexual-, seja devidamente valorizado e sua dignidade, respeitada. Ainda que o Brasil seja carente de uma legislação específica que discipline o assédio moral de forma satisfatória, felizmente, isso não tem impedindo os tribunais de reconhecerem o fenômeno e caracterizá-lo como figura geradora de reparação dos prejuízos causados, na forma de indenização por danos morais. Desse modo, as decisões nos tribunais têm suprido as lacunas legais com a aplicação de regras e princípios constitucionais extensivos.

Soma-se a estas ações, o direito comparado, modelo para os momentos de decisão.

Seja como for, ataque de um grupo ou ataque individual, seja com intenção declarada de destruir o outro, seja de modo velado, seja para adaptar os empregados ao sistema, seja para forçá-los a deixá-lo isolado, o assédio moral tira do ser humano sua dignidade como pessoa que naquele ambiente, desejava ver sua atividade valorizada.

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Referências

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