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Mesa-Redonda estabelecida pelo Congresso

Trabalho: Método clínico e criatividade

Autor: Thaís da Silva Pereira

Endereço: Av. Leopoldino de Oliveira, 2371, Apto. 1303- CEP: 38015-000, Uberaba- MG, Brasil.

Email: Thaissilv4@hotmail.com

Mini-currículo: Psicóloga clínica e Docente na universidade de Uberaba. Especialista em Saúde e atenção em urgência e emergência pela Universidade Federal de Uberlândia. Mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ex-membro do Laboratório de Psicopatologia Fundamental da PUC-SP e assistente na AUPPF.

RESUMO:

Este trabalho apresenta a construção de uma pesquisa através do método clínico e sua

dimensão criativa. Pensa-se que um problema de pesquisa, originado no enigma

vivenciado pelo clínico em transferência, provoca um desenrolar criativo entre o

clínico-pesquisador e o investimento libidinal em seu caso/pesquisa. A partir da noção

de criatividade desenvolvida por Winnicott, nota-se que para alcançar o viver criativo

torna-se necessário partir da ilusão de onipotência criadora, passando pela frustração de

perceber as criações pré-existentes no mundo, e então chegar à potência de criação

sobre o mundo já existente. O trabalho articula tal noção de criatividade na construção

da dissertação de mestrado “A oralidade esquizofrênica”. O percurso é relatado pela

clínica-pesquisadora desde o atendimento do caso e suas ingenuidades, passando pelos

impasses na investigação de pesquisa, suas descobertas e criações, chegando à

experiência compartilhada socialmente. Revela-se como a construção da pesquisa pelo

método clínico pode ser uma forma potente de produção de conhecimento, priorizando a

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subjetividade e valorizando as vivências clínicas elaboradas em um processo criativo de investigação.

Parte 1- Método clínico

O presente trabalho tem como base a construção da dissertação de mestrado “A oralidade esquizofrênica”, desenvolvida no âmbito do Laboratório de Psicopatologia Fundamental do Núcleo de Psicanálise do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O Laboratório foi fundado em fevereiro de 1995 sob a coordenação do Professor Manoel Tosta Berlinck,PhD., inspirado no Laboratoire de Psychopathologie Fondamentale et Psychanalyse de l’Université Paris 7 – Denis Diderot, criado pelo Professor Dr. Pierre Fédida (Berlinck, 2000).

Segundo Berlinck (2000) a psicopatologia introduz a ideia de Logos como discurso e linguagem que liga elementos, Psique, que na ótica da psicopatologia fundamental é um prolongamento do sistema imunológico, e Pathos, a ameaça externa;

é aquele ou aquilo que vem de longe e vem de fora, tomando o corpo e o fazendo sofrer, podendo instalar uma crise na psique, uma crise psíquica.

Pode-se entender, assim, a Psicopatologia Fundamental como um discurso sobre o sofrimento psíquico, que é imprescindível para o estabelecimento do humano.

O humano defende-se do pathos com o psiquíco, tornando-se desta forma, autor de um mundo de representações objetais. O humano é assim, sujeito. (...) A psicopatologia fundamental não pretende ser uma nova disciplina, mas um campo composto por múltiplas posições. (Berlinck, 2000, p. 8)

Considera-se, portanto, relevante as vivências clínicas para a pesquisa em

psicopatologia fundamental, sendo a análise de caso pelo método clínico, fundamentada

teoricamente em revisão bibliográfica, escolhida como meio de investigação desta

pesquisa.

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Magtaz e Berlinck (2012) demonstram a importância do caso clínico como ferramenta de pesquisa, utilizada frequentemente nos estudos psicopatológicos, como no material desenvolvido por Clérambault e Binswanger. Aponta-se também Freud, que iniciou a análise de casos clínicos enriquecendo as contribuições das vivências para o conhecimento, colocando o caso em um lugar além do romance, não tendo o propósito de confirmar uma teoria e sim ser observado com atenção flutuante, não se fixando em pontos isolados.

Magtaz e Berlinck (2012) dizem ainda que a análise de caso clínico não é simplesmente o relato de sessões, nem uma anamnese com descrição de sintomas e sinais, muito menos um relato de experiência bem-sucedida. Aliás, o que suscita a indagação que direciona a pesquisa seria justamente os nós da análise. A pergunta é aquela a que se apresentou na contratransferência como questão enigmática.

Assim, o objetivo do método clínico é utilizar o caso como relato daquilo que afetou o clínico em seu estado de atenção flutuante, instaurando um enigma. O surpreendente enigmático é a mola propulsora do clínico pesquisador, revelando um estado entre o que é e o que deveria ser (Magtaz e Berlinck, 2012).

Nota-se que o movimento do método clínico supõe uma passagem do clínico à ação pesquisadora, através do investimento no caso para além do que se sabe. Para isso o componente criativo torna-se fundamental, já que ele vai sustentar o envolvimento do pesquisador com a questão a fim de produzir um novo saber.

Nesta pesquisa o surpreendente enigmático é o sintoma na oralidade sob uma

forma desenfreada e desconectada de critérios. O que havia à frente da pesquisadora e

clínica era o ato de ingerir metais de um paciente esquizofrênico, e o que deveria ser era

um mínimo critério sobre o que se coloca para dentro. Este enigma suscitou esta

pesquisa e trouxe a questão. Qual a oralidade presente na esquizofrenia?

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O enigma surgiu de uma vivência, antes de passar pela questão propulsora de pesquisa, e então, se tornar experiência socialmente compartilhada.

Parte 2 - A pesquisa como caso clínico

Durante a formação na residência multiprofissional, em que me inseria como psicóloga residente em um pronto-socorro de um hospital geral, deparei-me com o paciente do caso em questão. Desde o primeiro momento, o fato de o paciente ser internado após a ingestão de objetos, sobretudo metálicos, me trazia o questionamento sobre o motivo dessa ação. No decorrer dos atendimentos, observava que o paciente, diagnosticado como esquizofrênico, revelava uma desintegração que já indicava uma ligação com a oralidade.

O enigma se fez muito claro desde o princípio, mas inicialmente continha um componente ingênuo. A ingenuidade era própria de um clínico iniciante, que se surpreende na admiração do discurso, sobretudo do esquizofrênico, com as características de um lugar de difícil compreensão. A tendência inicial era pensar na questão com a expectativa de uma elucidação neurótica da ingestão de metais, contendo justificativas claras, lógicas e propositais. Como se essa ingestão fosse um sintoma de algo recalcado, de uma relação de objeto, em que o Eu e o objeto estivessem em dimensões distintas. Compreendia-se o objeto ingerido como objeto reconhecido como outro sem, nesse momento, atentar para a natureza da esquizofrenia de negação do outro e recusa do externo como sua defesa do pathos.

Apesar do incômodo sentido em transferência, sinal do enigma da ingestão de metais, faltava o mergulho na questão sobre o que na esquizofrenia se ligava à oralidade.

O primeiro passo foi uma maior compreensão do que se entendia por

esquizofrenia. Entender as bases da sua constituição foi imprescindível para

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compreender o sintoma na oralidade. Diferenciá-la da paranoia e compreender suas manifestações, características e formas de ser no mundo, foi essencial para que fosse desenhado com maior propriedade o enigma e a construção clínica de pesquisa.

Entretanto, esse movimento de compreensão da esquizofrenia foi realizado durante todo o trabalho, revelando a complexidade do esquizofrênico e a dificuldade das quebras dos ideais do clínico, de expectativa de entendimento total e de cura. A partir do momento em que o ideal terapêutico de cura e de compreensão normativa do esquizofrênico se desfez, o trabalho pôde se estabelecer criativo, trazendo ligações que podem enriquecer a compreensão do enigma e contribuir para a construção científica no que se refere à esquizofrenia.

Contudo, eis que então surge o primeiro impasse ou frustração constituinte da pesquisa. Para a compreensão da oralidade na esquizofrenia foi necessário um maior amadurecimento da pesquisa e de caminhos tortuosos que só enriqueceram um melhor desenho do que se propõe a investigar neste trabalho. Em um primeiro momento pensou-se em um encontro da oralidade com a esquizofrenia, sob o olhar dos distúrbios da oralidade. Pensava-se poder associar e estabelecer uma ligação entre esse conceito e a esquizofrenia. Entretanto, esse conceito se coloca como manifestação da melancolia (Magtaz, 2008), sendo de ordem neurótica, especificamente uma neurose narcísica, o que envolve um avanço na relação de objeto, em que existem Eu e outro estabelecidos.

O corpo do melancólico tem, portanto, uma oralidade mais específica e clara no esquema corporal.

Disto fui alertada na qualificação de mestrado, tanto pelo meu orientador, quanto

pela professora membro da banca. Diante do meu engano e a sensação de frustração, só

me restava encontrar outra saída para meu problema de pesquisa. Para isto foi

necessário voltar na constituição esquizofrênica e entender melhor em que momento se

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dava o impasse da oralidade e da constituição de um corpo, que não era o mesmo dos distúrbios de oralidade na melancolia.

Ao voltar para a esquizofrenia e o campo da psicose, observa-se o embate do Eu com a realidade em um nível mais primário, onde Eu e outro não foram de fato diferenciados, estando em um nível autoerótico. Ainda não há o reconhecimento do outro. Tal fato se insere na lógica do esquema corporal do esquizofrênico fica prejudicado; assim, o corpo do esquizofrênico pode ser visto como “um outro corpo”.

Fala-se aqui de um corpo no qual a oralidade se inicia, mas não se elabora.

A oralidade torna-se importante por ser uma fase onde quase simultaneamente ocorrem os processos que se ligam às bases de constituição esquizofrênica. Entretanto, por não avançar na relação de objeto, deixa conseqüências na constituição do Eu, do corpo e da relação do esquizofrênico com o mundo. Pode-se então falar de uma oralidade, mas não uma oralidade neurótica com um esquema corporal pronto e bem desenhado, mas uma oralidade esquizofrênica que apresenta um corpo fragmentado se relacionando com objetos parciais e indiferenciados, dentro de uma lógica de introjeção.

A introjeção por sua vez, não comporta nenhuma representação imaginária do objeto; acrescentaria que a exclui; o que ela visa, é a negação do objeto como exterior a si; o que é alucinado é o objeto, mas enquanto interior ao corpo próprio. Eis por que o mecanismo tem uma ação desintegrante, não apenas ao nível do objeto, mas ainda em relação ao Ego: introjetar alucinatoriamente o seio, é fazer-se significante boca, ou seja, objeto parcial que exclui toda possibilidade estrutural ao nível do corpo inteiro.

(Aulagnier, 1963, p. 26)

O que inicialmente surgiu como uma confusão na pesquisa foi um elemento de

extrema importância no que se refere à construção dos desenrolares do enigma, já que

foi a partir desse ponto, que se pôde pensar de qual corpo se fala, e que oralidade era

essa. Assim, começou-se a criar o que foi chamado na dissertação de oralidade

esquizofrênica.

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Quando a oralidade esquizofrênica começou a fazer sentido, iniciou-se um alargamento da pesquisa e na transformação da vivência em experiência socialmente compartilhada, preferencialmente de forma criativa. É fundamental que a pesquisa ofereça sugestões inéditas, não só para que se torne atraente ao leitor e à comunidade científica, mas para trazer fruição à leitura, à escrita e ao desejo do pesquisador.

Encontrado o caminho da problemática da oralidade descobriu-se outros pontos relevantes na esquizofrenia, seu sintoma e tratamento, como a criatividade e a destrutividade como parâmetros de compreensão e cuidado destes pacientes. Tais capítulos já não carregavam mais a angústia de encontrar um caminho, como na fase da escrita sobre a oralidade esquizofrênica, sendo desenvolvido com mais leveza e segurança de autoria.

Parte 3- Criatividade e método clínico

Segundo Winnicott (1975), a criatividade se relaciona com o prazer de estar vivo. É um caminho de fundamental importância para o estabelecimento do indivíduo na vida em comunidade de forma ativa, tornando-o original. Porém, é importante destacar que a criatividade não surge por si só; ela contém a necessidade do bebê iludir- se como onipotente frente ao mundo, pensando que o mundo é criação sua. Neste momento é importante um outro que fomente e por vezes realize “as criações” do bebê, ou seja, aposte na sua capacidade de desejar. Assim, também faz parte a frustração, posteriormente o bebê vai se desiludindo e percebendo que o mundo já estava lá antes de ser criado por ele. Este movimento de iludir e desiludir faz com o que o indivíduo perceba que ele pode ser potente ao reconhecer o que já existia, e também ao acrescentar ao mundo de forma ativa, com criações próprias.

Esta ação criativa se encontra na pesquisa, assim como o que Magtaz e Berlinck

(2012) associam com o movimento do pesquisador, apresentando-se como um

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movimento próximo à pesquisa sexual infantil. Nota-se um similar movimento de tomada do caso como objeto investido libidinalmente pelo pesquisador, sendo, por isto, o caso do clínico pesquisador e não do paciente. Movimento de descoberta e de amadurecimento enquanto pesquisador e sua pesquisa.

Entende-se, portanto, que a criatividade é potência constituída em um processo constituído em ilusão de onipotência, frustração, consideração pelo existente, com a conseqüência de uma participação no mundo de forma produtiva. Este seria um processo de amadurecimento, o que para Winnicott (1975) só se dá a partir de um outro que faz uma função de sustentação das necessidades do individuo. Eis aqui um ponto importante no paralelo da pesquisa como movimento de criatividade. É necessário um outro, possivelmente na figura do Orientador e seu grupo de pesquisa que faça esta função de sustentação, tanto na frustração, como na aposta no orientando.

Manoel Berlinck, membros da banca e o grupo do Laboratório de Psicopatologia Fundamental foram imprescindíveis para que esta pesquisa fosse mais que um trabalho, e sim a construção de uma posição de autoria. Os comentários para cada texto escrito, os cafés e as conversas sobre a pesquisa e a clínica, os chistes e o estabelecimento de limites e de rigores de qualidade; tudo isso propicia um ambiente para o clínico sair de uma posição ingênua de saber e passar para uma condição mais madura e produtiva que é do pesquisador, aquele que não sabe e por isso cria.

Cabe a aposta no orientando, a compreensão do seu tempo e seu processo de amadurecimento, a presença e o acompanhamento, além daquela loucura necessária, parafraseando Winnicott, de acreditar que em algum momento o clínico orientando se tornará pesquisador e autor.

Colaborando para a ideia da criatividade como sinal de saúde no processo de

amadurecimento, Papalia & Old (2000), dizem que a criatividade começa com o talento,

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mas talento não é tudo. As crianças podem demonstrar potencial criativo, mas, nos adultos, o que conta é o desempenho criativo: o que e quanto uma mente criativa produz. E ainda pontuam que a criatividade compilaria capacidade de insight, análise e iniciativa, sendo o último desenvolvido com mais freqüência na vida adulta madura.

Desta forma, esta pesquisa assim se fez, entre este movimento de supor, através de uma ingenuidade curiosa, uma questão que parecia tão obscura e por isso tão interessante – ilusão de construção do mundo; que foi aos poucos desvelada, com as contribuições daqueles que já se expuseram no mar de possibilidades dentro da psicopatologia, oferecendo mudanças no rumo da pesquisa – mundo já existente/desilusão necessária; ligando o que já existia ao que se pensou, trazendo uma novidade compartilhada socialmente – ser potente, como ser ativo no mundo já existente.

Referências:

AULAGNIER, P. (1963). Observações sobre a estrutura psicótica. In: Um intérprete em busca de sentido II. São Paulo: Escuta, 1990.

BERLINCK, M.T. Psicopatologia Fundamental. São Paulo: Escuta, 2000.

MAGTAZ, A.C. Distúrbios da oralidade na melancolia. 2008, 192f. Tese (Doutorado em Psicologia Clínica). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008.

MAGTAZ, A.C; BERLINCK, M.T. O caso clínico como fundamento da pesquisa em Psicopatologia Fundamental. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental.

São Paulo, v. 15, n. 1, p.71-81, mar. 2012.

PAPALIA, D.E.; OLDS, S.W. Desenvolvimento humano. Trad. Daniel Bueno. 7.ed.

Porto Alegre: Artes médicas Sul, 2000.

PEREIRA, T. S. A oralidade esquizofrênica.109f. Dissertação (Mestrado em Psicologia

Clínica). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2015.

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WINNICOTT, D.W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

Referências

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