Vamos todos no mesmo comboio, a caminho de Parte Nenhuma.
A paisagem vai demasiado rápida,tudo passa
num pequenino momento, uma demasiadamente curta eternidade.
Para onde vamos? Que haverá ao final do caminho?
Uma estação feliz? Uma tragédia?
Ou talvez um outro comboio, em direcção contrária, em alta velocidade
sobre o mesmo carril…
As árvores passam e vão-se e esquecem. Os dias também.
Uma vida, sobre o arame das horas.
Uma vida, um caminho de ferro que nunca se detém.
Vamos todos no mesmo comboio e que sabemos?
Nada.
Estamos todos en el mismo tren, en dirección a Lugar Ninguno.
El paisaje va demasiado rápido, todo pasa
en un pequeñito momento, una eternidad demasiado corta.
¿A dónde vamos? ¿Qué habrá al final del camino?
¿Una estación feliz? ¿Una tragedia?
O tal vez otro tren, en sentido contrario, a alta velocidad
en la misma pista…
Los árboles van y pasan y se olvidan. Los días también.
Una vida, en el hilo del tiempo.
Una vida, un ferrocarril que nunca se detiene.
Estamos todos en el mismo tren y ¿qué sabemos?
Nada.
ODE À EUROPA MORTA
Todas as aldeias. Todas as velhas de todas as aldeias.
Que coisa esculpiu a água na tua voz, que abstracta geometria?
Dizíamos palavras que eram a magia de todas as coisas, cambraia de ventos sobre vales, boninas, fontes que nunca
secavam.
Fora de ti, longe, o rabisco na parede dizia
que era aquele o lugar onde Paul Bowles se sentava para pensar.
The thinking spot. The seated spot.
Fora de ti, Europa que morreste.
The seated spot.
Pensar em pé tornou-se obsoleto. Viajantes, sentai-vos!
Rosseau, pede uma liteira para a Suiça!
Diógenes, cão, mantem-te na barrica!
Vós todos, filósofos, poetas, gente angustiada por tantas reverberações da mente,
vós todos a quem o pensamento assalta como ondas despedidas a cada sismo,
vós que inclinais as superfícies alinhadas e desmedrais as coisas tidas como certas, desperfilai-vos! Em sentido não! De pé nunca!
De pé jamais, como todas as vítimas da fome,
ó explorados da mente, ó corações em forma de cérebro que não pára.
O pensamento em pé faz-se estridente. Fastidioso. Monótono.
O pensamento erecto garatuja coisas perigosas á mente.
ODA A LA EUROPA MUERTA
Todas las aldeas. Todas las viejas de todas las aldeas.
¿Qué cosa ha tallado el agua en tu voz, qué abstracta geometría?
Decíamos palabras que eran la magia de todas las cosas, tejido de vientos sobre valles, lirios, fuentes que nunca se
secaban.
Fuera de ti, lejos, el garabato en la pared decía
que era ese el lugar donde Paul Bowles se sentaba para pensar.
The thinking spot. The seated spot.
Fuera de ti, Europa que moriste.
The seated spot.
Pensar en pie se ha convertido en algo obsoleto. ¡Viajeros, siéntense!
¡Rousseau, pide una litera para Suiza!
¡Diógenes, perro, mantente en tu barrica!
¡Todos vosotros, filósofos, poetas, gente angustiada por tantas reverberaciones de la mente,
todos vosotros a quienes el pensamiento arremete como ondas emitidas por cada terremoto,
vosotros que inclináis las superficies planas y desmedráis las cosas tenidas como ciertas,
desperfilaos! ¡Que nadie se quede de guardia! ¡De pie nunca!
En pie jamás, como todas las víctimas del hambre,
oh exploradores de la mente, oh corazones en forma de cerebro que no se detiene.
El pensamiento en pie se hace estridente. Tedioso. Monótono.
El pensamiento erecto esboza ideas peligrosas a la mente.
A giz partido. A cal viva. Coisas canalhas, suponho.
Suponho, digo para mim próprio. Nada de me comprometer.
Suponho.
Para vós não há círculo predestinado nos infernos.
Do primeiro ao nono, entre demónios, traidores e usurários, do limbo à morada mais cêntrica e indominável, quem mais
que vós
mereceria porém o fogo eterno por tanto pensamento que não deixa
descansar os bons espíritos, que não deixa ―sem molestá-la―
a patriarcal paz dos tempos?
Quem mereceria o pântano que cerca a pavorosa cidade de Dite, a das muralhas de fogo?
Quem, sob as Fúrias e a Medusa,
nos vastos círculos de iracundos e hereges, de traiçoeiros espíritos abrasados ao lume, de homicidas e violentadores,
de escroques, avarentos, meliantes e pérfidos, quem de esbanjadores e canalhas,
de parricidas e mesquinhos mereceria porventura mais
que vós o colmilho das cadelas ferozes e vorazes?
Todas as velhas raparigas de todas as aldeias. O vidro veloz.
Deslizámos horas a fio sem saber de nada. Morreu?
Anda por aí, ainda?
Um cadáver esquisito foi visto a passar.
Tinha duas pernas, como os homens,
uma cauda de luz e um painel de púrpura a baixar de luas mortas.
Nenhum sol lhe valia.
Nenhum luar lhe crescia entre os lábios, enquanto Lucífer devorava Cássio Longino.