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CONDUÇÃO EM ESTADO DE EMBRIAGUEZ SANÇÃO ACESSÓRIA

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 593/12.0PEAMD.L1-9 Relator: MARIA DO CARMO FERREIRA Sessão: 17 Janeiro 2013

Número: RL

Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: RECURSO PENAL Decisão: NEGADO PROVIMENTO

CONDUÇÃO EM ESTADO DE EMBRIAGUEZ SANÇÃO ACESSÓRIA

SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO

Sumário

I- A suspensão da pena acessória ou sua substituição por caução de boa conduta, só se encontra prevista para as sanções acessórias do Código da Estrada.

II- O regime ali previsto, de suspensão da execução da sanção acessória de inibição de conduzir do artigo 141.º do Código da Estrada, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 114/94, de 3 de Maio, na redacção que lhe foi conferida pelo Decreto-Lei n.º 44/2005, de 23 de Fevereiro, apenas é aplicável às contra- ordenações graves.

III- A unidade da pena (principal e acessória) exige que a suspensão da sua execução não possa cindir-se (sendo que para a pena de multa é seguro não poder a mesma ser suspensa) e também a finalidade do instituto da suspensão (aludido no artigo 50 do C.P.) não tem aplicação no âmbito da pena acessória, que não serve as finalidades da reintegração social do agente, mas tão só a sua dissuasão da prática da infracção a que se reporta.

Texto Integral

Acordam, em conferência, na 9ª. Secção Criminal do Tribunal da Relação de Lisboa.

I-RELATÓRIO.

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No processo sumário supra referenciado, do Juízo de Pequena Instância Criminal do Tribunal da Amadora, foi julgado o arguido – Da..., identificado nos autos a fls. 6,[1] tendo ali sido proferida sentença onde foi lavrada a seguinte Decisão:

“O Tribunal decide julgar a acusação procedente, por provada e, em consequência:

a) Condenar o arguido Da... pela prática, em autoria material e na forma consumada, de um crime de condução de veículo em estado de embriaguez p.

e p. pelo artigo 292.º, n.° 1 e 69°, n.° 1, alínea a), ambos do Código Penal, na pena de 90 (noventa) dias de multa à razão diária de (€7,00 (sete euros), o que perfaz o montante global de (€630,00 (seiscentos e trinta euros);

b) Condenar o arguido Da... na pena acessória de proibição de conduzir veículos motorizados, pelo período de 4 (quatro) meses (art. 69°, n. ° 1, al. a) do C.P.), devendo proceder à entrega da respectiva carta, na secretaria deste tribunal ou em qualquer posto policial que a remeta àquela, no prazo de dez dias, após o trânsito em julgado da presente decisão, sob pena de, não o fazendo, ser determinada a apreensão da mesma (cf art. 500°, n. °2 e 3, do C.P.P.) e de incorrer na prática de um crime de desobediência.

c) Condenar o arguido Da... no pagamento das custas do processo, fixando-se a taxa de justiça em (meia,) UC [ arts. 344° n. º2 al. c) ,513° e 514°, n. º 1, ambos do Código de Processo Penal, e art. 8°, n. ° 5, do Regulamento das Custas Processuais, com referência à Tabela III a este anexa)].

Inconformado, o arguido Da...veio interpor recurso da referida sentença, com os fundamentos constantes da motivação de fls. 53 a 57, com as seguintes:

Conclusões (que se transcrevem).

a) Nas circunstâncias espácio temporais referidas, o ora arguido conduzia de forma moderada.

b) Tendo-lhe sido aplicada uma pena de multa no valor global de 630€, a qual não é pelo mesmo contestada.

c) Sendo-lhe igualmente aplicada a sanção acessória de inibição de condução, pelo periodo de 4 meses.

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d) Sucede que o arguido é comerciante, proprietário dum restaurante, necessitando, por consequente, diariamente de se deslocar ás grandes superficies comerciais para desta forma abastecer o seu restaurante.

e) Acresce que o arguido é um condutor cuidadoso, não tendo posto em perigo com a sua condução o trafego rodoviario.

f) Não tendo antecedentes criminais pela pratica deste tipo de crimes.

g) Confessou integralmente e sem reservas os factos, mostrando-se cooperante para a descoberta da verdade.

h) O arguido tem a seu cargo quatro filhos, três deles menores, sendo este o garante do sustendo do lar.

i) A taxa de alcool no sangue era de 1,28g/l, portanto muito próxima do minimo legal, 1,20g/l, revelando culpa ligeira e negligência do arguido.

j) Sendo a sanção acessória de inibição de condução pelo periodo de 4 meses excessiva para a culpa do arguido.

k) Tendo-lhe sido aplicada, tal sanção acessória deve a mesma ser suspensa na sua execução.

1) No caso sub judice, a simples censura do facto, a ameaça da inibição de condução e a prestação da caução de boa conduta, se o venerado

desembargador a considerar necessária, bastam para a realização de forma adequada e suficiente das finalidades da punição de prevenção geral e prevenção especial.

Nestes termos farão V. Exas. Ilustres Juizes Desembargadores a Sã, Serena e Acostumada Justiça.

O Ex.m.º Magistrado do Ministério Público, respondeu a fls. 64 a 67, defendendo que:

(transcreve-se).

Com o pedido formulado do modo supra descrito, constata-se que o recorrente se conforma com os factos e sua qualificação jurídica, bem como com a

natureza e medida concreta da pena principal em que foi condenado, sendo que apenas discorda da medida concreta da pena acessória de proibição de conduzir, que considera excessiva e que a mesma deverá ser suspensa na sua

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execução, eventualmente sujeita a caução de boa conduta, pelo que, ao abrigo do disposto no artigo 403°, n°1 do Código de Processo Penal, o âmbito do presente recurso se encontra limitado a estas questões.

O Ministério Público considera que ao recorrente não assiste qualquer razão devendo o recurso ser improcedente.

Estabelece o disposto no artigo 69°, n° 1, do Código Penal, que “É condenado na proibição de conduzir veículos com motor por um período fixado entre três meses e três anos, quem for punido:

a) Por crime previsto nos artigos 291º ou 292°,”

Face às consequências advenientes da prática de crimes em estado de

embriaguez, o legislador entendeu que devia sancionar o agente também com uma pena acessória, consistente na inibição de conduzir, pelo período de três meses a três anos.

Penas acessórias são aquelas que só podem ser pronunciadas na sentença condenatória conjuntamente com uma pena principal, sendo que como pena acessória tem em vista complementar uma outra pena, a principal.

A aplicação de uma pena acessória tem, assim, como pressuposto formal, a condenação do arguido numa pena principal por crime cometido no exercício da condução e como pressuposto material, a circunstância de, consideradas as circunstâncias do facto e a personalidade do arguido, o exercício da condução se revelar especialmente censurável.

“A pena acessória de proibição de conduzir veículos com motor assenta no pressuposto formal duma condenação do agente numa pena principal por crime previsto nos artigos 291.º ou 292.º do Código Penal, ou por crime cometido com utilização de veículo e cuja execução tiver sido por este facilitada de forma relevante, sendo que, dentro do limite da culpa, desempenha um efeito de prevenção geral de intimidação e um efeito de prevenção especial para emenda cívica do condutor imprudente ou leviano, cumprindo, assim, as penas acessórias uma função preventiva adjuvante da pena principal” (Figueiredo Dias, Direito Penal Português - As Consequências Jurídicas do Crime, 1993, p. 165).

In casu, o arguido foi condenado pela prática do crime de condução de veículo em estado de embriaguez, encontrando-se a conduzir um veículo automóvel, com uma TAS de 1,28 gramas por litro de sangue.

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Face à factualidade considerada provada nos autos, encontram-se, no caso vertente, integralmente reunidos os pressupostos de que depende a aplicação ao arguido da pena acessória da proibição de conduzir veículos a motor por um período de três meses a três anos, pelo que o Tribunal “a quo” não poderia deixar de condenar o arguido na sanção acessória, cuja aplicação se mostra obrigatória.

No que respeita à determinação da medida concreta da pena acessória, terá a mesma de ser fixada dentro da moldura penal abstracta — com um mínimo de três meses e um máximo de três anos — de acordo com a culpa e as exigências de prevenção (geral e especial), bem como a todas as circunstâncias que

depuserem a favor ou contra o arguido (artigo 71° do Código Penal), fazendo- se, por isso, o mesmo raciocínio que se fez para graduar a pena principal.

Assim, a sanção acessória é concretamente determinada em função da culpa do agente e das exigências da prevenção especial e geral.

No caso vertente, são elevadas as exigências de prevenção geral, devido à frequência com que ocorrem situações como a dos presentes autos e ao sentimento de insegurança que criam na comunidade, sendo premente e necessária a reafirmação da validade e eficácia das normas jurídicas violadas pela recorrente.

Em face da factualidade dada como assente na sentença ora em crise, consideramos que são medianas as exigências de prevenção especial.

O grau de ilicitude e de culpa é mediano, sendo que o arguido conduzia com uma taxa de álcool de 1,28 g/l no sangue.

Contrariamente ao alegado pelo recorrente, muito embora o mesmo nunca tenha sido condenado por conduzir em estado de embriaguez, certo é que já foi condenado por três vezes por condução de veículo sem habilitação legal, ilícito da mesma natureza do que está em causa nos autos, pois que atentam contra a segurança rodoviária.

Tudo ponderado, somos de opinião que a aplicação de uma proibição de

condução de veículos motorizados pelo período de 4 (quatro) meses é, atenta a sua moldura abstracta de três meses a três anos, adequada e equilibrada, podendo contribuir de forma válida e eficaz para fazer sentir ao arguido/

recorrente o que esperam de si, enquanto condutor, os seus concidadãos, fazendo-o entender que a condução de veículo sob influência do álcool representa um perigo para a comunidade, o qual deve ser evitado.

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No que concerne à suspensão da pena acessória ou sua substituição por

caução de boa conduta, tal só se encontra previsto para as sanções acessórias do Código da Estrada, o que não se verifica no caso, pelo que nesta parte também deverá improceder o recurso, por falta de fundamento legal.

Efectivamente, a suspensão da execução da sanção acessória de inibição de conduzir só está prevista no Código da Estrada, quanto a contra-ordenações graves, não estando pensada tal figura para as penas acessórias, como aquela que foi aplicada no caso vertente.

Assim, porque nada encontramos que nos mereça censura na sentença ora recorrida, deve-se negar provimento ao recurso, confirmado-se in totum a mesma sentença.

Neste Tribunal o Ex.m.º Procurador-Geral Adjunto emitiu o seu parecer.

Cumprido o disposto no artº 417º, nº2 do C.P.P., não houve resposta do arguido.

Cumpridos os vistos, procedeu-se a conferência.

Cumpre conhecer e decidir.

II –MOTIVAÇÃO.

O âmbito dos recursos encontra-se delimitado em função das questões

sumariadas pelo recorrente nas conclusões extraídas da respectiva motivação, sem prejuízo, no entanto, das questões que sejam de conhecimento oficioso, como se extrai do disposto no artº 412º nº 1 e no artº 410 nºs 2 e 3 do Código de Processo Penal.

Uma vez que o recurso versa apenas questão de direito, entendemos que se pode prescindir da transcrição da sentença por uma questão de economia processual.

Com efeito, o recorrente refere expressamente, que se conforma com a condenação pela prática do crime de condução em estado de embriaguez e com a pena principal que lhe foi aplicada (al. a e b das conclusões).

A questão que coloca em recurso prende-se apenas com a medida da pena acessória, que o recorrente quer ver suspensa na sua execução, ainda que com prestação de caução de boa conduta [al.l) das conclusões] ou então diminuída na sua duração.

Conhecendo.

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Adiante-se desde já que se não vislumbra a existência de qualquer dos vícios previstos no art.º 410º- 2 do C.P.P., pelo que cumpre decidir a questão

colocada, começando pela parte que respeita à medida concreta da pena acessória.

A determinação da pena acessória deve operar-se mediante recurso aos critérios gerais constantes do art. 71º do C.P. (cfr. Ac. do S.T.J. de 121 de

Novembro de 1986, in BMJ nº 361, a pág. 239), seguindo a graduação da pena acessória os mesmos critérios legalmente exigíveis para a fixação da pena principal, tendo, no entanto, em consideração que a finalidade a atingir pela pena acessória se centraliza mais na vertente da prevenção especial ou seja na necessidade de influir sobre a personalidade do agente e não na vertente da prevenção geral, esta com uma finalidade ou objectivo reflexo ou mediato.

A pena acessória é uma pena complementar e pressupõe a condenação do agente num crime com a correspondente aplicação da pena principal[2]. É aplicável a crimes rodoviários e a crimes cometidos no exercício da condução ou com a utilização de veículos motorizados conforme requisitos aludidos no artigo 69 nº. 1 do C.P.

Na politica criminal de defesa dos bens pessoais e sociais e dos valores da segurança rodoviária, bem jurídico protegido pela incriminação das condutas em apreço, o legislador tem procurado obstar a um incremento da

sinistralidade em que o país tem vindo a teimar em não perder a dianteira relativamente aos demais países europeus.

Por isso, a pena acessória tem, além do mais, um carácter dissuasor, com vista a evitar que os condutores ingiram elevadas quantidades de álcool quando conduzem.

No caso.

Importa, observar como o Tribunal recorrido veio a determinar a medida da pena acessória, que será fixada dentro da moldura penal abstracta – com um mínimo de três meses e um máximo de três anos – de acordo com a culpa e as exigências de prevenção (geral e especial), bem como a todas as

circunstâncias que depuserem a favor ou contra o arguido (cfr. art. 71º do Código Penal), fazendo-se, por isso, o mesmo raciocínio que se fez para graduar a pena principal.

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Assim, ponderadas as circunstâncias atinentes à culpa e às necessidades de prevenção, designadamente a existência de antecedentes criminais do

arguido, (tem registo de 4 condenações, sendo 3 delas por crime rodoviário de condução sem habilitação legal) o facto de ter actuado com dolo directo, o arguido conduzia com uma taxa de álcool no sangue de 1,28 g/l, muito

superior ao máximo permitido por lei ( mais do dobro do permitido que é 0,5) e do ponto de vista de prevenção geral, os elevados índices de sinistralidade no nosso País, provocados justamente por condutores que ingerem bebidas alcoólicas com TAS igual ou superior a 1,2 g/l, considera-se justa e

proporcional a imposição ao arguido da proibição de conduzir veículos a motor por um período de 4 meses, servindo esta na sua medida para que o arguido procure interiorizar a necessidade de conformação da conduta posterior servindo como efeito dissuasor da conduta assumida, capacitando o arguido da necessidade de refrear qualquer impulso de ingestão de bebidas alcoólicas sempre que tenha que conduzir.

Pelo que se não pode concordar com o recorrente quando alega que a TAS que apresentava estava próxima do mínimo legal de 1,20 g/l revelando culpa

ligeira e negligência do arguido.

Este mínimo considerado pelo arguido é aquele que se reporta ao momento em que a conduta passa a ter carácter penal, pois muito antes dessa TAS, a conduta da condução sob efeito do álcool é já punida ( desde 0,5g/l) embora esse comportamento assuma cariz ainda não penal (é meramente

administrativo, como contra-ordenação punido com coima e inibição do exercício da condução).

Primeiro porque resulta da matéria provada que o arguido agiu de forma livre, voluntária e consciente e bem sabia que conduzia na via pública após a

ingestão de bebidas alcoólicas (elemento intelectual do dolo) e que “tal conduta era criminalmente punida” (elemento emocional do dolo) o arguido, ainda assim, (sabendo que não podia conduzir na via pública após a ingestão de bebidas alcoólicas sabendo que não podia conduzir sob o efeito do álcool exerceu a condução automóvel. O elemento emocional do crime de condução sob o efeito do álcool não exige que o agente saiba a exacta taxa, mas apenas que ao actuar da forma que actuou teve a consciência de que se encontra sob o efeito do álcool, admitindo pelo menos como possível (dolo eventual) que a quantidade de álcool que ingeriu o faz incorrer num o ilícito criminal.

Como refere o Prof. Germano Marques da Silva em Crimes Rodoviários, pág.

61, “o crime é doloso sempre que o agente, tendo consciência do seu estado,

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pratica a condução de veículo rodoviário. Se o agente não tinha consciência do seu estado, por erro indesculpável, o crime é-lhe imputado a título de

negligência. O dolo e a negligência têm como elementos de referência no art.

292 a consciência do estado de embriaguez e não a ingestão das bebidas alcoólicas”.

Ora, em face da factualidade provada se tem de concluir que o arguido praticou o crime na sua forma dolosa.

Depois, porque são valores tutelados pela incriminação contida no artigo 292º do C.P., a segurança da circulação rodoviária, das pessoas, da sua vida, da sua integridade física e até dos seus bens.

E que a condução em estado de embriaguez é um crime de perigo comum abstracto: “Trata-se de uma infracção de mera actividade em que o que se pune é simplesmente o facto de o agente se ter disposto a conduzir na via pública sob o efeito do álcool, existindo apenas uma presunção empírica, de que a situação é perigosa em si mesma, ou seja, que na maioria dos casos em que essa conduta teve lugar demonstrou ser perigosa sob o ponto de vista de bens jurídicos penalmente tutelados”, cfr. Paula Ribeiro de Faria, in

Comentário Conimbricense do Código Penal, II.

Reparemos que o artigo 69º do C.P. na redacção da Lei n.º 77/2001 de 13/7 – agravou de modo significativo, a pena abstracta da mencionada pena

acessória, alterando-a, no seu limite mínimo, de 1 mês para 3 meses e, no seu limite máximo de 1 ano para 3 anos.

Ou seja, a opção do legislador plasma uma inequívoca direcção político- criminal que reconhece que as finalidades da punição, atenta a reconhecida pouca eficácia da pena de multa, se conseguem, neste tipo de delito

rodoviário, essencialmente, através da aplicação da pena acessória de

proibição de condução, sendo essa a parte que invariavelmente mais toca no âmago do prevaricador.

Cabe ainda dizer que não há nenhuma circunstância jurídica que fundamente uma relação entre a determinação concreta da medida da pena e a taxa de álcool no sangue verificada numa concreta situação, mas «o diferencial existente em relação ao patamar inicial da TAS impõe uma diferença em relação ao limite mínimo da pena acessória» (cfr. Acórdão da Relação de Coimbra de 5 de Março de 2000- http:www.dqsi.ptl).

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Também «só em casos pontuais e devidamente comprovados pode haver

“benevolência” na aplicação da pena acessória de inibição de conduzir

veículos motorizados» (in Acórdão da Relação de Coimbra de 7 de Novembro de 2001- http:www.dgsi.jtl).

Ou seja, no caso, nada aponta no sentido de uma diminuta ilicitude ou culpa na prática do crime de condução em estado de embriaguez já que a confissão é de fraco valor atenuativo porque o arguido é surpreendido em flagrante delito e o facto de o arguido/recorrente necessitar da carta de condução para a sua actividade profissional não revela uma menor premência de aplicação da pena acessória de inibição de conduzir, porquanto não serviu para dissuadir o mesmo de conduzir no estado de embriaguez em que se encontrava;[3]

Não vemos razão, em face de todos os factores atinentes com os parâmetros de prevenção que se deixaram expostos supra, razão para alterar a decisão, que, a nosso ver, está em conformidade com a jurisprudência que se vem fixando e da qual citamos, a título exemplificativo:

- Ac. da RE de 20.01.2004, proc. 1880/03-1, disponível in www.dgsi.pt, que confirmou a decisão que aplicou ao arguido, que apresentava uma TAS de 1,79 g/l, uma inibição de conduzir pelo período de 6 (seis) meses;

- Ac. da RG de 28.05.2007, proc. 598/07-2, disponível in www.dgsi.pt, que confirmou a decisão que aplicou ao arguido, que apresentava uma TAS de 1,56 g/l, uma inibição de conduzir pelo período de 6 (seis) meses;

- Ac. da RL de 08.06.2005, proc. 0446667, disponível in www.dgsi.pt, que confirmou a decisão que aplicou ao arguido uma inibição de conduzir pelo período de 4 (quatro) meses, apresentando ele uma TAS de 1,27 g/l;

- Ac. da RL de 12.09.2007, proc. 4743/2007-3, disponível in www.dgsi.pt, que aplicou ao arguido uma inibição de conduzir pelo período de 10 (dez) meses, sendo ele primário, e apresentando uma TAS de 1,95 g/l;

- Ac. da RL de 17.06.2004, proc. 4316/2004-9, disponível in www.dgsi.pt, que aplicou ao arguido, que apresentava uma TAS de 2,07 g/1, uma inibição de conduzir pelo período de 18 (dezoito) meses,

- Ac. da RL de 15.02.2003, proc. 5627/2003‑5, disponível in www.dgsi.pt, que confirmou a decisão que aplicou ao arguido, que apresentava uma TAS de 1,56 g/l, uma inibição de conduzir pelo período de 6 (seis) meses;

(11)

- Ac. da RL de 30.10.2003, proc. 6500/2003-9, disponível in www.dgsi.pt, que confirmou a decisão que aplicou ao arguido, que apresentava uma TAS de 1,26 g/l, uma inibição de conduzir pelo período de 6 (seis) meses.

Vejamos agora a questão da suspensão da execução da pena acessória requerida pelo recorrente.

Não tem qualquer fundamento legal este pedido.

Na verdade, a suspensão da execução da sanção acessória de inibição de conduzir só está prevista no Código da Estrada em relação a contra-

ordenações graves, não estando cominada para as penas acessórias, como aquela que foi aplicada no caso.

Ao que supomos esta posição é uniformemente sufragada pela jurisprudência, de que são exemplos: Ac. R. C. de 17/01/01, Col. Jur. 1-50, Ac. R. C. de

29/11/00, Col. Jur. V - 50; Ac. R.C. de 14/06/2000, Col. Jur. III - 53; e ainda Ac.

R. P. de 28/01/04, Col. Jur. 1-206). [4]

Aliás, o regime ali previsto, de suspensão da execução da sanção acessória de inibição de conduzir do artigo 141.º do Código da Estrada, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 114/94, de 3 de Maio, na redacção que lhe foi conferida pelo Decreto-Lei n.º 44/2005, de 23 de Fevereiro, apenas é aplicável às contra- ordenações graves.

Para a proibição de conduzir prevista na Lei Penal, não existe norma que tal preveja. Com efeito, a unidade da pena (principal e acessória) exige que a suspensão da sua execução não possa cindir-se (sendo que para a pena de multa é seguro não poder a mesma ser suspensa) e também a finalidade do instituto da suspensão (aludido no artigo 50 do C.P.) não tem aplicação no âmbito da pena acessória, que não serve as finalidades da reintegração social do agente, mas tão só a sua dissuasão da prática da infracção a que se

reporta.

O mesmo cabe dizer quanto à fixação de caução de boa conduta, apenas prevista para o regime das contraordenações.

É que são sanções de natureza diversa- para a contra-ordenação, de natureza administrativa- e para o crime-, daí também o seu regime diverso.

III – DECISÃO.

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Nos termos e pelos fundamentos expostos, acordam os Juízes da Secção Criminal desta Relação em negar provimento ao recurso, mantendo a decisão recorrida.

Custas pelo Recorrente, fixando-se a taxa de justiça em 3UCs.

Lisboa, 17/Janeiro/2013

(Acórdão elaborado e integralmente revisto pelo relator – artº 94º, nº 2 do C.P.Penal)

(Maria do Carmo Ferreira)

(Cristina Branco)

______________________________________________________

[1] T.I.R.

[2] Direito Penal Português, pág. 93 e 157- Prof.Figueiredo Dias.

[3] o Tribunal Constitucional - Ac. n.º 440/2002, de 23 de Outubro, publicado no D.R., II Série, de 29 de Novembro - já teve oportunidade de se pronunciar sobre a sanção inibitória de conduzir, tendo não julgado inconstitucional a norma constante do artigo 139º do Código da Estrada, aprovado pelo Decreto- Lei n.º 114/94, de 03 de Maio, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 2/98, de 03 de Janeiro, por não violar o princípio constitucional do direito ao trabalho.

[4] Na doutrina, nesta linha citamos Germano Marques da Silva- Crimes

Rodoviários, pena Acessória e Medidas de Segurança, pág. 28: “…ainda que a pena principal seja substituída ou suspensa na sua execução, o mesmo não pode suceder relativamente à pena acessória de proibição de conduzir.”

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