ALFREDO ALVARENGA
O BRUXO MORA
AO LADO
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Conto escrito em 2017 e publicado originalmente na
Antologia “A Arte do Terror - História”, com o título
de “A Casa Do Cosme Velho” no ano de 2017
ALFREDO ALVARENGA
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O BRUXO MORA AO LADO
Rio de Janeiro: 1885.
É com o meu coração imbuído de um profundo terror que registro aqui, em palavras, todos os eventos insólitos, os quais, por meses, eu fui apenas uma testemunha impassível, e que preencheram minha mente, para sempre de terríveis pesadelos. Espero que esse relato chegue às autoridades imperiais e que, se exista alguma lei contra a heresia e a magia negra, ela seja posta em prática e livre este mundo do terrível homem que habita o Cosme Velho.
Mudei-me com minha adorável esposa para esse agradável sobrado, no qual resido, tem pouco mais de um ano. Desde a mocidade, quando fui estudar Direito, em Coimbra, residia em Portugal, onde conheci minha bela e amada, esposa lusitana.
Mas, decidi por voltar ao Brasil e encontrei no
Cosme Velho uma vizinhança discreta, tranqüila e
arborizada. Tenho, diante de minha casa, um
riachinho calmo de águas cristalinas, ladeado por
um pequeno muro de pedra. Como vizinhos, um
conjunto de aprazíveis chalés no estilo francês. Um
bairro típico de uma pequena elite que parece, à
primeira vista, estar a salvo de qualquer evento
extraordinário ou macabro; mas, por baixo dessa
aura de paz, horrores nefandos escondem-se
inefáveis a razão cientificista de nosso século.
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Os primeiros boatos de que algo assustador estava ocorrendo vieram das mucamas, e não me espantei, já que o populacho tende a ser supersticioso e medroso. Elas confabulavam, pelos cantos, que o meu vizinho de muro era um bruxo, e que ele fazia coisas indescritíveis às sombras das árvores em seu quintal. Claro que não havia dado ouvidos para as crendices tolas de serviçais ociosas e imaginativas. Mas, o destino provou que eu e minha sabedoria intelectual estávamos erradas.
Este senhor que, hoje, sei ser um adorador dos seres do abismo, sempre havia, contudo, me parecido uma figura enigmática e descolada das pessoas que vivem na digníssima Rua do Cosme Velho. Ele é miúdo, magro, com o um andar manco, mas ostentando uma barba curta e elegante, tentado se passar por alguém digno. Possui, também, uma tez mulata, indício de uma ascendência africana.
Não me entendam mal, sou um abolicionista; mas, espanta-me, mesmo assim, ver um descendente de escravos se elevar socialmente tão rápido. As empregadas também sinalizavam esse como um dos indícios de que aquele homem possuía meios indeléveis de manipular a realidade através de formas estranhas de magia.
No inverno, minha esposa adorável adoeceu
de uma moléstia terrível que a definhou de forma
desumana. Os médicos diagnosticaram seu mal
como sendo a maldita tuberculose. E os
medicamentos paliativos pareciam fracassar. As
criadas, todas forras, alegaram que a minha amada
não estava tísica, mas, na verdade, sobre a
influência terrível do feiticeiro que morava em nosso
bairro. Elas tentaram nos ajudar com amuletos,
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supostamente, mágicos e de cura; todavia, parecia que os poderes das trevas eram maiores do que os que podíamos supor.
Minha queria conjugue ainda está convalescendo, mas não tenho esperanças de que ela se cure. E foram com as emoções em frangalhos que vi, com meus próprios olhos, meu terrível vizinho, no meio da noite, esgueirar-se até o jardim, e preparar um grande caldeirão, ao qual atirou uma porção de papéis, sortilégios terríveis sem dúvida, que arderam, na noite, em uma funesta cena digna das descrições dos mais proscritos dos escritores byronianos. Fiquei em silêncio, por alguns minutos, assistindo ao bruxo em sua cerimonia nefasta, evocando demônios obscuros para seus intentos malignos. Com horror, então, me sobressaltei, quando aquele homem voltou-se para mim, com aqueles olhos detentores de uma antiga sabedoria e me fulminaram a alma.
Naquele momento, senti-me mesmerizado e
incapacitado, e temo que o bruxo, ciente de que
descobri seus segredos, tente fazer algum mal
contra mim; diante disso, creio que logo eu também
venha a definhar e falecer. Soube, por demais
vizinhos, que esse homem que aterroriza meus
sonhos, carregava grande fama e era um escritor
conhecido no Brasil por folhetins e crônicas ácidas
escritas nos periódicos da corte. Como morei no
estrangeiro, por anos, desconhecia-o. Porém, para
mim, aquele homem, mesmo sendo um escritor
afamado, é ainda um sacerdote das trevas, e espero
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que o mundo também reconheça um dia esse tal de Assis, como o Bruxo do Cosme Velho 1 .
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