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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIAS, CONTABILIDADE E SECRETARIADO EXECUTIVO CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS PAULO ANDRÉ ALMEIDA LOPES

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIAS, CONTABILIDADE E SECRETARIADO EXECUTIVO

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

PAULO ANDRÉ ALMEIDA LOPES

IMPACTOS DO PRONAF SOBRE A REDUÇÃO DA POBREZA NO CEARÁ, ENTRE 2000 E 2012

FORTALEZA

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PAULO ANDRÉ ALMEIDA LOPES

IMPACTOS DO PRONAF SOBRE A REDUÇÃO DA POBREZA NO CEARÁ ENTRE, 2000 E 2012

Monografia submetida à Coordenação do Curso de Graduação em Ciências Econômicas, da Universidade Federal do Ceará, com requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientador: Prof. Dr. José de Jesus Sousa Lemos

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca da Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade L855i Lopes, Paulo André Almeida.

Impactos do PRONAF sobre a redução da pobreza no Ceará entre 2000 e 2012 / Paulo André Almeida Lopes – 2015.

86 f.: il

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade, Cursos de Ciências Econômicas, Fortaleza, 2015.

Orientação: Prof. Dr. José de Jesus Sousa Lemos.

1.Agricultura familiar 2.Crédito agrícola 3.Pobreza – Ceará I. Título

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PAULO ANDRÉ ALMEIDA LOPES

IMPACTOS DO PRONAF SOBRE A REDUÇÃO DA POBREZA NO CEARÁ, ENTRE 2000 E 2012

Monografia submetida à Coordenação do Curso de Graduação em Ciências Econômicas, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas.

Os Professores membros da Banca Examinadora atribuíram por unanimidade nota Dez (10,0), o que proporcionou a aprovação da Monografia com esta média.

Aprovada em 2 de junho de 2015.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. José de Jesus Sousa Lemos (Orientador) Universidade Federal do Ceará – UFC

Prof. Dr. Luiz Artur Clemente da Silva Universidade Federal do Ceará – UFC

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AGRADECIMENTOS

À minha mãe, que sempre foi um exemplo de força, coragem, determinação e inspiração para superar as dificuldades. A meu pai, que sempre esteve presente nos ensinamentos e me trouxe inspiração para formação do meu caráter e na minha carreira.

Agradeço também aos meus irmãos, Pamela e Pedro Victor, e a minha namorada, Sara Leite, pelos incentivos, força, confiança, paciência e auxilio nos momentos mais difíceis. Aos meus colegas do curso de Economia e amigos que de alguma forma contribuíram para a minha graduação. Ao meu orientador, Jose Jesus de Sousa Lemos, que com toda o seu conhecimento e experiência, me guiou para a conclusão desse trabalho.

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RESUMO

O objetivo desta pesquisa é analisar a evolução e os impactos dos recursos do PRONAF na redução da pobreza no estado do Ceará e também na área colhida das principais culturas, no período de 2000 a 2012. Na discussão teórica estudou-se a evolução dos conceitos de crescimento, desenvolvimento econômico, desenvolvimento sustentável e desenvolvimento rural sustentável, finalizando com uma explanação sobre a pobreza e exclusão social e as suas dimensões. O trabalho ainda aborda, em capítulos separados, sobre os conceitos de agricultura familiar no Brasil e as políticas de crédito rural destinadas a esse público. Os procedimentos metodológicos envolvem uma análise comparativa, visando verificar a evolução do PRONAF no decorrer da série, e um estudo empírico de natureza econométrica, que mediante o uso de dados de séries temporais, busca verificar se há efeitos positivos do montante de recursos do PRONAF sobre o Índice de Exclusão Social (IES) e na área colhida das principais culturas do Ceará e dos outros estados que compõe a região Nordeste. Na análise dos resultados, verificou-se que o crédito rural do PRONAF no Brasil vem expandindo o número de contratos e o montante de recursos de 2000 a 2012. A região Nordeste foi a que obteve maior expansão no período. Verificou-se também que ainda há desigualdade na distribuição de recursos quando comparado à região Sul e Sudeste, mesmo sendo perceptível sua diminuição. Os estados da região Nordeste também apresentaram crescimento, tanto no número de contratos quanto no volume de recursos, estando boa parte desses concentrados na Bahia, Ceará e Maranhão. Através do modelo econométrico, conclui-se que há relação estatisticamente significativa entre o crédito do PRONAF e o IES da maioria dos estados nordestinos, estando o Ceará dentre esses. Já quanto a relação entre o crédito do PRONAF e a área colhida das principais culturas, os efeitos foram negativos em maior parte dos estados, inclusive no Ceará, significando que o crédito do PRONAF pode não estar surtindo o efeito desejado na produção agrícola devido, possivelmente, a não contribuição de outros fatores, como os efeitos climáticos, a falta de assistência técnica e de infraestrutura e, ainda, o mau uso dos recursos por parte dos agricultores.

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ABSTRACT: The objective of this research is to analyze the evolution and impacts of PRONAF resources in reducing poverty in the state of Ceará and also in harvested area of major crops, from 2000 to 2012. In the theoretical discussion has studied the evolution of the concepts of growth, economic development, sustainable development and sustainable rural development, ending with an explanation of poverty and social exclusion and its dimensions. The work also deals, in separate chapters, on the concepts of family farming in Brazil and rural credit policies to the public. The methodological procedures involve a comparative analysis, in order to verify the evolution of PRONAF throughout the series, and an empirical study of econometric nature, that by using time series data, search check for positive effects of the amount of PRONAF resources on the Social Exclusion Index (HEI) and harvested area of major crops of Ceara and other states that make up the Northeast. In analyzing the results, it was found that the rural credit PRONAF in Brazil has been expanding the number of contracts and the amount of resources 2000 to 2012. The Northeast region was the one with greatest expansion in the period. It was also found that there is still inequality in the distribution of resources compared to the South and Southeast, even though his noticeable decrease. The states in the Northeast also showed growth in both the number of contracts and in the volume of resources, with much of this concentrated in Bahia, Ceará and Maranhão. Through the econometric model, it is concluded that there is a statistically significant relationship between credit and PRONAF IES most northeastern states, with the Ceará among these. As for the relationship between credit PRONAF and the harvested area of major crops, the effects were negative in most states, including Ceará, meaning that the PRONAF credit may not be having the desired effect on agricultural production due, possibly , except contribution of other factors, such as climatic effects, lack of technical assistance and infrastructure and also the misuse of resources by the farmers.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BNB - Banco do Nordeste do Brasil BACEN – Banco Central do Brasil

CMMD - Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento DAP - Declaração de Aptidão ao PRONAF

FAO - Food and Agriculture Organization

FETAEP - Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná IBGE – Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística

IES - Índice de Exclusão Social

IGP-DI – Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MAA - Ministério da Agricultura e do Abastecimento MDA - Ministério de Desenvolvimento Agrário

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MCR - Manual de Crédito Rural

PAM - Pesquisa Agrícola Municipal PIB – Produto Interno Bruto

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio PNRA - Programa Nacional de Reforma Agrária

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PNCF - Programa Nacional de Crédito Fundiário

SAF - Secretária de Agricultura Familiar SDR - Secretaria de Desenvolvimento Rural

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SRA - Secretaria de Reordenamento Agrário

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Número de contratos e montante do crédito rural do PRONAF no Brasil, por modalidade e ano fiscal – Período 2000 a 2012

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Evolução dos recursos destinados ao Crédito Rural e ao PRONAF no Brasil - 2000 a 2012

Gráfico 2 – Número de contratos e montante (R$ mil) do crédito rural do PRONAF no Brasil, por região – 2000 a 2012

Gráfico 3 – Montante (R$ mil) do crédito rural do PRONAF no Brasil, por região – 2000 a 2012

Gráfico 4 – Número de contratos do crédito rural do PRONAF no Brasil, por região – 2000 a 2012

Gráfico 5 – Participação (%) no montante do crédito rural do PRONAF no Brasil, por região – 2000 a 2012

Gráfico 6 – Participação (%) no número de contratos do crédito rural do PRONAF no Brasil, por região – 2000 a 2012

Gráfico 7 – Número de contratos e montante (R$ mil) do crédito rural do PRONAF na região Nordeste, por UF – 2000 a 2012

Gráfico 8 – Montante (R$ mil) do crédito rural do PRONAF no Nordeste, por UF – 2000 a 2012

Gráfico 9 – Número de contratos do crédito rural do PRONAF no Nordeste, por UF – 2000 a 2012

Gráfico 10 – Participação (%) do crédito rural do PRONAF no Nordeste, por UF – 2000 a 2012

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LISTA DE QUADRO E GRÁFICOS

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 12

1.1. Justificativa ... 12

1.2. Problema ... 13

1.3. Objetivos ... 13

1.3.1.Objetivo Geral ... 13

1.3.2.Objetivos Específicos ... 14

1.4. Hipóteses ... 14

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 15

2.1. Crescimento e Desenvolvimento Econômico ... 15

2.2. Desenvolvimento Sustentável ... 16

2.3. Desenvolvimento Rural Sustentável ... 18

2.4. Pobreza e exclusão social ... 19

2.5. Agricultura Familiar ... 21

2.6. Políticas de Crédito Rural ... 23

2.7. Programa Nacional do Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF ... 25

2.7.1.Surgimento ... 25

2.7.2.A expansão do PRONAF e suas modificações ... 26

2.7.3.Objetivos e diretrizes... 28

2.7.4.Linhas de atuação ... 29

2.7.5.Público-Alvo ... 30

3. METODOLOGIA ... 32

4. RESULTADOS ... 36

4.1. Resultados do PRONAF no Brasil e Grandes Regiões ... 36

4.2. Resultados do PRONAF nos Estados da região Nordeste ... 45

4.3. Impactos dos Recursos do PRONAF na Região Nordeste e seus Estados ... 53

5. CONCLUSÃO ... 56

REFERÊNCIAS ... 59

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Justificativa

No Brasil, o meio rural era visto historicamente como um local atrasado, o que levou ao longo dos anos o desinteresse tanto da população urbana como da rural pelo campo (Ziger, 2014). Este pensamento, somado à marginalização da agricultura familiar, passaram a contribuir para o aumento no nível de pobreza e exclusão social. Somente na década de 90 o Governo Federal reconheceu a importância da implantação de políticas de desenvolvimento econômico e social direcionados para o campo.

Contudo, mesmo havendo esse reconhecimento, ainda se pode perceber que a zona rural comporta um elevado nível de pobreza e exclusão social, principalmente quando se fala da região Nordeste.

O nível de vida precária e sofrida dessas famílias acaba por ser o retrato do abandono do governo quanto à oferta de serviços essências, como água, saneamento básico, educação, saúde, segurança alimentar e renda monetária (Lemos, 2012).

Sem as mínimas condições de vida, essas famílias acabam por não ter alternativas que alimentem o desejo de permanência na zona rural, passando, assim, a migrarem para os grandes centros urbanos, em busca de uma vida digna e de qualidade. Mas na realidade, o que ocorre com essas pessoas ao chegarem em seus destinos é a marginalização, resultando na elevação dos níveis de desemprego, subemprego, aglomeração em favelas e outros problemas recorrentes no Brasil (Lemos, 2012). Essas questões podem ser consideradas como verdadeiros gargalos, quando buscamos aferir um desenvolvimento econômico e social que atinja desde o nível local ao nível nacional.

Os agricultores familiares são os que mais sofrem com esses problemas devido, principalmente, à falta de recursos para manter a atividade produtiva agrícola ou não-agrícola. Em grande parte, isso acarreta na miséria e na migração destes para os centros urbanos, causando, deste modo, limitações no crescimento econômico do país.

Diante desse contexto, as políticas de crédito rural surgem como uma forma de estimular a produção agrícola através de investimentos em avanços tecnológicos, melhorando a estrutura das propriedades e possibilitando a modernização rural, além de impactar na geração de trabalho e renda. Se somado aos projetos de inclusão social, o crédito rural pode também proporcionar maior qualidade de vida, prolongar a permanência

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12 Destarte, em 1996, nasce o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que busca o desenvolvimento rural por meio do financiamento da produção agrícola. De acordo com o Manual de Crédito Rural (MCR, 2014),

O PRONAF destina-se a estimular a geração de renda e melhorar o uso da mão de obra familiar, por meio do financiamento de atividades e serviços rurais agropecuários e não agropecuários desenvolvidos em estabelecimento rural ou em áreas comunitárias próximas (Res 4.107).

Com forte participação no total de estabelecimentos agropecuários do país, a agricultura familiar representa 84,4% deste total, mas atingindo somente 24,3% da área ocupada. Quando se fala de pessoas ocupadas, a agricultura familiar retém mais de 12 milhões de pessoas, representando 74,4% do total de pessoas ocupadas no setor agrícola. Mesmo com menor área para cultivo, a agricultura familiar tem uma elevada representação no fornecimento de alimentos básicos para o mercado interno: a mandioca (87%), feijão (70%), milho (46%), café (38%), arroz (34%), trigo (21%) e soja (16%) (BRASIL, 2006).

Analisando esses números, pode-se ter uma noção da pertinência da agricultura familiar no Brasil e justificar o surgimento de diversas pesquisas buscando identificar os benefícios gerados por essa política e quais os entraves para a geração de resultados ainda mais expressivos dos que foi observado no Censo Agropecuário realizado no ano de 2006.

Fundamentado nisso, este estudo tem como objetivo analisar a evolução dos recursos aplicados no PRONAF, bem como sua distribuição entre os estados da Região Nordeste, principalmente no Ceará, e os impactos gerados na produção agrícola e na diminuição da exclusão social.

1.2. Problema

O estudo trabalhou com a seguinte problemática: como se comportou a evolução dos recursos do PRONAF e sua distribuição e quais seus efeitos na produção agrícola e na exclusão social no estado do Ceará, no período de 2000 a 2012?

1.3. Objetivos

1.3.1. Objetivo Geral

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13 1.3.2. Objetivos Específicos

Em termos específicos a pesquisa objetiva:

a. Quantificar as evoluções dos totais de contratos e dos recursos transferidos para os estados do Nordeste, “vis a vis” estados do Sudeste e do Sul entre os anos de 2000 e 2012;

b. Desmembrar os contratos em suas modalidades de investimento e custeio, naquele período de avaliação;

c. Aferir a relação entre os volumes monetários de PRONAF transferidos para o estado do Ceará com a área produzida de alimentos na região;

d. Aferir o impacto do acesso aos recursos do PRONAF no estado do Ceará sobre indicadores de bem-estar social e econômico, no período sob investigação;

1.4.Hipóteses

O estudo trabalha com as seguintes hipóteses:

 O crescimento da disponibilidade de recursos para o crédito rural deve promover melhoria de bem estar nos estados do Nordeste, mas as regiões Sudeste e Sul continuarão captando mais recursos, tanto em termos absolutos como relativos, comparativamente ao Nordeste. Portanto, a hipótese subjacente é que o PRONAF não contribuiu para redução das desigualdades inter-regionais.

 Dentro dessas possibilidades, considera-se que devido ao crescimento do crédito do PRONAF no Ceará, a região elevou a área colhida nas culturas tradicionais do perímetro, como a mandioca, milho, feijão e arroz.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Esta seção está dividida em seis partes: na primeira, é realizada uma discussão sobre crescimento e desenvolvimento econômico, continuando, na segunda e na terceira, com os conceitos de desenvolvimento sustentável e desenvolvimento rural sustentável; na quarta, uma explanação sobre a pobreza e exclusão social; na quinta, uma abordagem sobre a agricultura familiar; e finalizando, na sexta, falando sobre as polícias de crédito rural.

2.1.Crescimento e Desenvolvimento Econômico

Antigamente, a acumulação de riqueza era vista como um fator primordial para melhoria dos padrões de vida de uma sociedade. Os mercantilistas podem ser tomados como exemplo desse pensamento, pois primavam pelo elevado estoque de metais preciosos, maximização das exportações e minimização das importações, definindo, assim, o desenvolvimento da nação através da riqueza.

A partir dessa vertente, nasceu o conceito de crescimento como sinônimo de desenvolvimento e a definição de países desenvolvidos e subdesenvolvidos. A utilização integral dos seus fatores de produção disponíveis, como terra e mão de obra, acaba por definir o nível de desenvolvimento de uma nação, onde as nações desenvolvidas se distinguem das subdesenvolvidas devido o melhor aproveitamento desses fatores (Souza, 2005).

O crescimento é mensurado através de indicadores de quantidade, que medem o incremento da produção econômica. Ou seja, o PIB, PIB per capita, renda agregada, renda per capita, a evolução da produção industrial ou agrícola, da produtividade e dos fatores de produção são exemplos de instrumentos que demonstram a expansão física de uma economia (Lemos, 2012).

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15 O conceito de desenvolvimento, para Schumpeter (1997, p. 74), não pode ser explicado somente pelo crescimento econômico, pois os aspectos econômicos mantinham uma relação fundamental com aspectos não-econômicos ou “históricos”. Assim ele elucida que

[...] o desenvolvimento econômico não é um fenômeno a ser explicado economicamente, mas que a economia, em si mesma, seu desenvolvimento, é arrastada pelas mudanças do mundo à sua volta, e que as causas e, portanto, a explicação do desenvolvimento deve ser procurada fora do grupo de fatos que são descritos pela teoria econômica.

O desenvolvimento econômico incorpora aspectos de maior abrangência, com características qualitativas. Considera-se o acesso a ativos sociais, como a água encanada, saneamento, coleta de lixo, educação, como alguns dos fatores que promovem o desenvolvimento econômico. Lembrando que os indicadores de crescimento são de fundamental importância para que uma nação atinja um elevado nível de desenvolvimento, já que através da elevação do padrão de renda familiar os mesmos terão acesso a bens e serviços desejados, resultando numa elevação do bem-estar social (Lemos, 2012).

Desenvolvimento econômico é, conforme Sandroni (2003, p. 169), o

“crescimento econômico (aumento do Produto Nacional Bruto per capita), acompanhado pela melhoria do padrão de vida da população e por alterações fundamentais na estrutura de sua economia”.

2.2. Desenvolvimento Sustentável

A alta preocupação com o crescimento econômico acabou por ocultar problemas relacionados ao meio ambiente. O elevado nível de poluição, o desmatamento de florestas, a extinção de algumas espécies de animais, o esgotamento da água potável e de outros recursos necessários para a vida são uns dos principais impactos gerados por esse crescimento, afetando diretamente as pessoas, tanto no presente quanto no futuro.

Desta maneira, emerge um termo de desenvolvimento mais completo, que tem como finalidade gerar o bem-estar social em prol do ser humano, a partir do melhoramento sinérgico de indicadores econômicos, sociais e ambientais. O desenvolvimento sustentável busca reduzir os impactos gerados por esse crescimento desenfreado a partir da preservação do meio ambiente e dos recursos naturais escassos, possibilitando, assim, continuidade da vida no planeta.

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16 Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, com o título de “Nosso Futuro Comum”. Na concepção deste,

O desenvolvimento sustentável procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais.

Na perspectiva de Sachs (1993), há cinco elementos fundamentais para efetivação do desenvolvimento sustentável: sustentabilidade social, econômica, ecológica, espacial e sustentabilidade cultural.

a) Sustentabilidade Social - Busca reduzir substancialmente as desigualdades sociais. Ou seja, atender não só as necessidades materiais, mas também as não-materiais, levando, assim, o indivíduo ao acesso às necessidades básicas e a uma melhor qualidade de vida;

b) Sustentabilidade Econômica – Visa aumentar a produção e a riqueza social, alocando e gerindo mais eficientemente os recursos naturais renováveis e não-renováveis;

c) Sustentabilidade Ecológica – Compreende a utilização dos recursos naturais com um mínimo de deterioração do meio ambiente e preservar as fontes de recursos energéticos e naturais com vista a atender as próximas gerações; d) Sustentabilidade Espacial – Pressupõe evitar a concentração geográfica

exagerada de populações, atividades e de poder. Busca uma relação equilibrada cidade-campo através de políticas de desenvolvimento rural, que reduzem o exôdo-rural;

e) Sustentabilidade Cultural – Significa respeitar as especificidades de cada ecossistema, de cada cultura e de cada local.

Com uma visão aperfeiçoada de desenvolvimento econômico, Sachs (1993) ainda complementa seus pensamentos, sugerindo que os novos paradigmas do desenvolvimento devem ser norteados pelos seguintes princípios:

i. A solidariedade com as gerações futuras;

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17 iii. Envolver a população através da participação para a construção do

desenvolvimento;

iv. Buscar preservar os recursos naturais e o meio ambiente como um todo; v. Garantir as pessoas uma vida social digna, com emprego e remuneração

descentes, seguridade social, segurança pessoal e a preservação dos valores culturais; e, por fim,

vi. Possibilitar o acesso à educação de qualidade a todos.

Na concepção do IBGE (2004, p. 101), o “desenvolvimento sustentável

procura integrar e harmonizar as ideias e conceitos relacionados ao crescimento econômico, a justiça e ao bem-estar social, a conservação ambiental e a utilização racional

dos recursos naturais”.

Com um direcionamento para a questão ecológica e inserido na visão empresarial, na óptica de Sandroni (2003, p. 170), o desenvolvimento sustentável é definido como

Conceito que pertence ao campo da ecologia e da administração e que se refere ao desenvolvimento de uma empresa, ramo industrial, região ou país, e que em seu processo não esgota os recursos naturais que consome nem danifica o meio ambiente de forma a comprometer o desenvolvimento dessa atividade no futuro.

2.3. Desenvolvimento Rural Sustentável

Mesmo ocorrendo variações, a definição de desenvolvimento rural não perdeu sua essência, destacando, principalmente, a melhoria do bem-estar das famílias rurais. Com a elevada difusão do termo desenvolvimento sustentável, surge a definição de desenvolvimento rural sustentável na década de 1980 (Navarro, 2001).

Devido essa fusão de termos e definições entre o desenvolvimento sustentável e o desenvolvimento rural, Navarro (2001, p. 89) deixa claro que:

Embora muitos autores e instituições pretendam atribuir a esta [desenvolvimento sustentável] um sentido politicamente mais consequente do que a anterior (desenvolvimento rural), incorporando noções, por exemplo, de equidade social ou, mais ambiciosamente, atribuindo alguma suposta relação entre formas de

organização social das famílias rurais mais pobres, fruto de “conscientização”, e

desenvolvimento rural sustentável, o foco central, neste caso, é bastante claro e mais limitado.

Com a integração desses termos, Lemos (2012, p. 54) diz que “o

desenvolvimento rural sustentável deve ser entendido como um conjunto de ações sinérgicas capazes de incrementar a qualidade de vida das populações rurais, ao tempo que mantêm intacta a base dos recursos naturais renováveis, ou não-renováveis”.

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18 É fácil perceber, através de diferentes manifestações hoje, que os termos agricultura e desenvolvimento sustentáveis indicam um anseio a um novo paradigma tecnológico que não agrida o meio ambiente, servindo para explicitar

a insatisfação com a agricultura convencional ou “moderna”.

Daí surge a importância do desenvolvimento rural sustentável, que vem com o objetivo de proporcionar qualidade de vida a essas famílias da zona rural através do acesso a serviços essenciais, renda, ocupação, somada a sustentabilidade ambiental.

2.4. Pobreza e Exclusão social

Antigamente, quando os países ricos buscavam o crescimento econômico com o foco na expansão da produção, percebeu-se que essa riqueza não estava sendo irradiada para grande parcela da população, o que acabou por acarretar um elevado contingente de pobreza e marginalização social. Os países subdesenvolvidos foram os mais afetados, pois além de sofrerem com a expansão da pobreza, também apresentaram uma elevada desigualdade social (Rocha, 2006).

A partir disso, veio à tona uma problemática já antiga: a pobreza. Inicia-se um processo de discussão sobre o assunto com a finalidade de definir um conceito e estudar forma de mensuração para, assim, combatê-la.

Para Rocha (2006, p. 9), “pobreza é um fenômeno complexo, podendo ser definido de forma genérica como a situação na qual as necessidades não são atendidas de

forma adequada”. Ele ainda complementa dizendo que “é essencial especificar que necessidades são essas e qual o nível de atendimento pode ser considerado adequado”.

Assim, a definição relevante de pobreza está ligada não só ao padrão de vida, mas também à forma de atendimento das diversas necessidades nas mais variadas situações socioeconômicas. Por fim, Rocha (2006, p. 9-10) conclui que “ser pobre significa não

dispor dos meios para operar adequadamente no grupo social em que se vive”.

Já na visão do Banco Mundial (1990), é importante distinguir a pobreza da desigualdade. A pobreza está relacionada com o padrão de vida absoluto de uma parcela da população. Já a desigualdade, é identificada pelos padrões de vida relativos de toda a população, não excluindo, assim, a possibilidade de existir pobreza, mesmo em sociedades com baixa desigualdade. Por fim, o Banco Mundial (1990, p. 26) define pobreza como a

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19 também devem ser somados a “outras medidas como nutrição, expectativa de vida, mortalidade infantil e índices de matrícula escolar”.

Numa nova perspectiva, o Banco Mundial define uma condição única de pobreza. Esta está atrelada a uma renda monetária mínima, onde traça, assim, uma linha de pobreza, cujo o seu valor é definido no decorrer do tempo, e distingue os pobres e não-pobres (BANCO MUNDIAL, 2007, apud LEMOS, 2012).

Já considerando uma perspectiva distinta da anterior, a definição de pobreza, fundamentada pela economia política, parte do princípio de uma disputa entre grupos sociais distintos pelo domínio não só dos meios de produção, mas de tudo que possa gerar riqueza e, assim, elevar o padrão de renda. Dessa forma, a pobreza é definida de acordo com resultado do conflito social, que define o grupo dominante – que detém os ativos gerados pelas atividades econômicas – e os dominados – que ficaram submetidos a exploração (Lemos, 2012).

Em outra perspectiva, Sheng Reed (1996, apud LEMOS, 2012, p. 64) aborda que a pobreza é determinada historicamente, sendo resultado das disputas e “conflitos sociais pela posse dos ativos, seja eles ativos produtivos, ativos ambientais, ativos sociais

ou ativos culturais”. A pobreza é resultado desses conflitos, onde o grupo dominante

concentra a riqueza, o poder, os ativos sociais e ambientas, privando, assim, o grupo dominado do acesso a estes e, consequentemente, do bem-estar. Essa concentração de ativos gera desigualdades de acesso para alguns grupos, acarretando na sua exclusão e, dessa forma, nas condições inadequadas de obter bem-estar social e uma vida digna.

Mas na interpretação de Lemos (2012, p. 65),

...a solução do problema requer uma mudança nas relações sociais, isto é, requer uma mudança na forma e nos processos em que os grupos sociais ganham e mantêm o controle sobre os ativos produtivos, sociais e ambientais.

Na ótica da teoria neoclássica, segundo Lemos (2012), existem três perspectivas para entender a pobreza: a de rendimentos, necessidades básicas e capacidade. Referente aos rendimentos, o indivíduo é considerado pobre quando possui renda monetária insuficiente para obter uma determinada quantidade de alimentos, localizando-se, assim, abaixo da linha de pobreza.

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20 E, por fim, a perspectiva de capacidade, onde existem uma visão mais holística de pobreza, somando todas as dimensões abordadas anteriormente mais a integração social e política. Lemos (2012, p. 66) diz que essa “perspectiva de capacidades concilia as noções de pobreza absoluta e de pobreza relativa, haja vista que a privação relativa de rendimentos

e de bens pode conduzir a uma privação absoluta das capacidades mínimas”.

Através dessas diversidades de termos, pode-se perceber o quão complexo é falar sobre pobreza, já que a sua definição aborda as mais variadas dimensões. Em alguns casos, a pobreza é sinônimo de exclusão social, dependendo da abordagem teórica.

2.5. Agricultura Familiar

No Brasil, a discussão sobre o conceito de agricultura familiar é recente e traz concepções distintas no meio científico, governamental e de políticas públicas. Os primeiros autores a abordarem sobre o assunto foram Abramovay (1982) e Veiga (1991), seguindo uma linha de pensamento com abordagem social e diferenciada do conceito tradicional que vigorava no passado (Guanziroli; Sabatto; Vidal, 2011).

Nesse ponto de vista, Abramovay (1998, p. 146) define agricultura familiar

como “aquela em que a gestão, a propriedade e a maior parte do trabalho vêm de

indivíduos que mantêm entre si laços de sangue ou de casamento”. Prosseguindo nessa

óptica, o autor deixa claro que esta definição não é universal, podendo variar de acordo com sua finalidade prática, como acontece, por exemplo, para fins de atribuição de crédito ou aferição de dados estatísticos. Não obstante a expressão não pode se distanciar dos atributos básicos - gestão, propriedade e trabalho familiar - que consolidam essa classe social (Abramovay, 1998).

Na abordagem tradicional, a expressão “agricultura familiar” acabou sendo

sinônimo de “pequena produção”, “produção de baixa renda”, “unidade de subsistência”,

“agricultura não comercial”, revelando a sua importância no âmbito social, mas

inexpressíva no âmbito econômico (Abramovay; Pikety, 2005)

Em 2000, o convênio entre a Food and Agriculture Organization (FAO) e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), solicitado pela MDA,

(23)

21 Com base nos dados do censo agropecuário de 1995/96, elaborado pelo IBGE, o estudo faz um vasto levantamento de informações estatísticas abrangendo todo o território nacional, servindo como uma importante ferramenta para o poder público na elaboração e avaliação de políticas públicas voltadas para o fortalecimento dessa classe de produtores rurais (Cardim; Guanziroli, 2000).

Sabendo da heterogeneidade existente no meio rural, onde os agricultores demonstram perfis diversificados definidos de acordo com o ambiente físico, ambiental econômico e outros, o documento classifica os produtores adotando uma tipologia simples, definindo, assim, não somente o universo da agricultura familiar, mas também o da agricultura não-familiar ou patronal. (Cardim; Guanziroli, 2000).

Então, segundo o estudo da FAO/Incra (2000), a agricultura familiar é definida através das seguintes características (Cardim; Guanziroli, 2000):

a) A direção dos trabalhos do estabelecimento deve ser exercida pelo produtor; b) O trabalho familiar deve ser superior ao trabalho contratado;

c) A área total dos estabelecimentos familiares deve atender a um limite máximo 15 módulos fiscais, definido pelo INCRA de acordo com a região. Na óptica legal, a Lei 11.326, de 24 de julho de 2006 (BRASIL, 2006) define o agricultor familiar como um produtor que exerce atividade agropecuária no meio rural e atende, simultaneamente, aos seguintes requisitos:

I. Não possui área maior do que quatro módulos fiscais;

II. Utiliza preponderantemente mão de obra da própria família em seu estabelecimento;

III. Possui renda familiar originada primordialmente de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento;

IV. Dirige com sua família o estabelecimento.

(24)

22 Comparando as duas definições, percebe-se que o documento da FAO/Incra tem maior amplitude quanto a área dos estabelecimentos, definida por 15 módulos fiscais, abrangendo os agricultores de tamanho médio. No caso da Lei, por delimitar 4 módulos fiscais, ocorre a restrição do território, enquadrando somente os pequenos produtores rurais (Guanziroli; Sabatto; Vidal, 2011).

Com uma concepção de agricultura familiar distinta da adotada pelo Estado, Navarro e Pedroso (2014, p. 8-9) tecem críticas em relação à definição predominante desse segmento social no Brasil. De acordo com os mesmos, a Lei de 2006 restringe o agricultor na contratação de funcionário externos e ainda os limita a produzir somente na atividade agropecuária.

Os autores também frisam que a segmentação dos agricultores não acontece

conforme a intenções iniciais, já que a expressão “familiar” abrange quase todos os

estabelecimentos. Além disso, a busca pela universalização do termo é definida por eles como inviável, pois há uma alta diferenciação entre os produtores, dificultando, portanto, a existência de similaridades entre eles. Por último, dizem que a expressão teve um excesso de ideologização, acabando por desconsiderar a vida real dessas famílias responsáveis pela pequena produção rural e também suas dificuldades corriqueiras, especialmente, no que concerne a sua inserção na lógica econômica dominante na atividade (Navarro; Pedroso, 2014).

Assim, por meio dessas diferentes linhas de pensamento ideológico sobre a agricultura familiar, pode-se identificar a obscuridade para a definição de um termo num formato holístico. As constantes mudanças nas legislações e também nas normas de enquadramento do crédito rural são provas dessa complexidade. O caso do PRONAF serve como exemplo, já que a cada lançamento do Plano Safra acontecem modificações quanto a esses enquadramentos.

2.6. Políticas de Crédito Rural

(25)

23 um caos econômico e social. Segundo Buainain et al. (2007, p. 7, apud RAMOS; JUNIOR, 2010, p. 13),

Os agricultores enfrentam, mais do que os empreendedores de outros setores, dificuldades especiais para capitalizar-se com recursos próprios e, por isso, dependem da disponibilidade de crédito, em quantidade e condições adequadas, para financiar os investimentos e a produção corrente.

Desta forma, surge em 1965, por intermédio do Governo Federal, o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), que busca oferecer apoio ao setor agropecuário por meio de políticas de crédito rural. Os agricultores seriam beneficiados com a disponibilização de crédito com taxas de juros e condições de pagamentos diferenciadas. Com isso, o crédito rural tornou-se um dos principais instrumentos de apoio ao setor (Ramos; Martha Junior, 2010).

Ressalta-se que o SNCR foi criado com intuito de financiar a modernização dos complexos agroindustriais formados na época. Com isso, acabou por marginalizar ainda mais os pequenos agricultores que não conseguiam se integrar nesse sistema (Souza; Caume, 2008).

Devido à crise macroeconômica, no fim da década de 70 e início da década de 80, o Estado teve que adotar uma política fiscal restritiva, passando, assim, a reduzir sua intervenção no setor agrícola por intermédio da diminuição da oferta de crédito e elevando as taxas de juros internos. Estas medidas prejudicaram principalmente o agronegócio, que teve que buscar recursos financeiros por outros meios. De posse da tecnologia e integrado ao mercado, o agronegócio passou a receber menos apoio do Estado, que transferiu seus esforços para o público que vinha sendo alijado até o momento, a agricultura familiar (Souza; Caume, 2008).

Atualmente, o agronegócio e a agricultura familiar vem sendo beneficiados pelas políticas de crédito rural, que obtém recursos destinados especificamente a essas classes. As regras, finalidades e condições desse crédito estão estabelecidas no Manual de Crédito Rural (MCR), elaborado pelo Banco Central do Brasil. Essas normas são seguidas por todos os agentes que compõem o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), como bancos e cooperativas de crédito (MAPA, 2014).

De acordo com o Manual de Crédito Rural (MCR), os objetivos desse crédito são:

(26)

24 b) Favorecer o oportuno e adequado custeio da produção e a comercialização de

produtos agropecuários; c) Fortalecer o setor rural;

d) Incentivar a introdução de métodos racionais no sistema de produção, visando ao aumento da produtividade, à melhoria do padrão de vida das populações rurais e à adequada defesa do solo;

e) Propiciar, através de crédito fundiário, a aquisição e regularização de terras pelos pequenos produtores, posseiros e arrendatários e trabalhadores rurais; f) Desenvolver atividades florestais e pesqueiras;

g) Quando destinado a agricultor familiar ou empreendedor familiar rural, nos termos da Lei nº 11.326, de 24/7/2006, estimular a geração de renda e o melhor uso da mão-de-obra familiar, por meio do financiamento de atividades e serviços rurais agropecuários e não agropecuários, desde que desenvolvidos em estabelecimento rural ou áreas comunitárias próximas, inclusive o turismo rural, a produção de artesanato e assemelhados.

Os recursos do crédito rural têm como finalidade o custeio, investimento ou comercialização da produção agrícola. Os créditos ao custeio são disponibilizados com o intuito de financiar as despesas corriqueiras do ciclo produtivo, como a compra de insumos, colheita e armazenamento da produção. Já os créditos de investimento visam ser aplicados em bens ou serviços duráveis, como máquinas, tratores e outros. Por fim, os créditos de comercialização são destinados a fase pós-colheita, onde buscam "a adoção de mecanismos que garantam o abastecimento e levem o armazenamento da colheita nos períodos de queda de preços" (MAPA, 2014).

2.7.Programa Nacional do Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF)

2.7.1. Surgimento

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, conhecido como PRONAF, é considerado a principal política pública do Governo Federal que apoia o desenvolvimento da agricultura familiar no país. O programa foi instituído por meio do Decreto Presidencial nº 1.946, datado de 28 de julho de 1996, com finalidade de

“promover o desenvolvimento sustentável do segmento rural constituído pelos agricultores familiares, de modo a propiciar-lhes o aumento da capacidade produtiva, a geração de empregos e a melhoria de renda” (BRASIL, 1996)

(27)

25 Através do PRONAF, o Estado passou a reconhecer e legitimar a categoria

social “agricultor familiar”, que antes não obtinha uma definição certa e era chamada de diversos termos, como agricultores de subsistência, pequenos produtores e outros. De acordo com Cazella, Mattei e Schneider (2004, p. 2), a formulação do programa só foi efetivada pelo Governo Federal devido a luta dos trabalhadores rurais por melhorias nas condições de trabalho:

Em larga medida, pode-se afirmar que o PRONAF foi formulado como resposta do Estado às pressões do movimento sindical rural, realizadas desde o final da década de 1980. O programa nasceu com a finalidade de prover crédito agrícola e apoio institucional aos pequenos produtores rurais que vinham sendo alijados das políticas públicas até então existentes e encontravam sérias dificuldades de se manter no campo.

Segundo Silva (1999, p.6), o Estado só sustentou a criação do PRONAF devido o reconhecimento da capacidade de absorção de mão-de-obra por parte da agricultura familiar, que reflete no combate aos problemas sociais urbanos provocados pelo desemprego rural. Ou seja, o favorecimento de políticas públicas direcionadas a agricultura familiar trazem benefícios diretos para esta classe e indiretos para a sociedade da zona urbana.

Em 1994, a FAO (Food and Agriculture Organization) realizou, associada ao INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), estudos que definiram o conceito de agricultura familiar, acabaram por nortear o surgimento de novos estudos e a formulação de políticas públicas direcionadas aos diferentes grupos de agricultores familiares. Pode-se sustentar que esse trabalho serviu de base para as primeiras formulações do PRONAF (Mattei, p. 12, 2005).

2.7.2. A expansão do PRONAF e suas modificações

Após a luta da classe de trabalhadores rurais em busca de melhorias no setor agropecuário e, por conseguinte, o surgimento do PRONAF, o Governo Federal passou a atuar na expansão do programa no território nacional. A princípio, as principais medidas tomadas ocorreram através de modificações e aprimoramentos nas diretrizes, processos operacionais e na estrutura organizacional e financeira do programa.

(28)

26 (SAF), o PRONAF passou a integrar esses órgãos. Com essas modificações, a SAF passou a ser responsável pelos diversos programas voltados para agricultura familiar, inclusive com as linhas de atuação do PRONAF. Essas modificações trouxeram maior visibilidade social e espaço no governo federal para agricultura familiar, que há pouco era uma classe alijada das políticas públicas no país (Schneider, Mattei e Cazella, 2004).

A partir do Plano Safra da Agricultura Familiar 2007/2008 citado por Aquino e Schneider (2010), pode-se observar outras mudanças no programa. Naquele ano, o PRONAF passou a adotar uma nova finalidade, conforme é definido no Manual de Crédito

Rural (MCR): “destina-se a estimular a geração de renda e melhorar o uso da mão de obra familiar, por meio do financiamento de atividades e serviços rurais agropecuários e não agropecuários desenvolvidos em estabelecimento rural ou em áreas comunitárias

próximas”. Somado a isso, houve mudanças no que concerne à ampliação do seu público-alvo, estendendo o crédito rural aos agricultores assentados da reforma agrária e crédito fundiário, extrativistas, pescadores artesanais, remanescentes de comunidades quilombolas e povos indígenas. Ocorreu ainda a diversificação da linha de ação, que criou o PRONAF Agroindústria, PRONAF Semiárido, PRONAF Jovem, PRONAF Mulher e outros, com o intuído de financiar as necessidades de grupos específicos (Aquino e Schneider, 2010).

Como pode ser visto, o programa passou a beneficiar a atividade não-agropecuária, passando, portanto, a abranger os serviços relacionados ao turismo rural, produção artesanal, agronegócio familiar e outras prestações de serviços no meio rural que sejam compatíveis com a natureza da exploração rural e com o melhor emprego da mão de obra familiar (BACEN, 2014).

Por último, podem-se citar as alterações ocorridas no âmbito financeiro, que aconteceram por meio da redução das taxas de juros, oferta de descontos, seguro-safra e ainda prazos e carências dilatados. Essas medidas foram tomadas visando incentivar a adesão do crédito e facilitar o seu pagamento.

Por intermédio do Plano Safra da Agricultura Familiar, com periodicidade anual, são apresentadas as modificações ocorridas para o ano-safra. Geralmente, as mudanças expostas ocorrem nos grupos e modalidades, onde são revisados os valores da taxa de juros, estipulação de carência e prazos e ainda a definição de outras regras de enquadramento, como a elevação da renda mínima por grupo.

(29)

27 importante salientar que as mudanças adaptaram o programa, buscando beneficiar as diferentes classes agricultores familiares através do acesso ao crédito como forma de gerar emprego, renda e qualidade de vida para a zona rural.

2.7.3. Objetivos e diretrizes

De acordo com o documento de criação do PRONAF (1996, apud SILVA, 1999, p.6-7), o objetivo geral do programa é "propiciar condições para o aumento da capacidade produtiva, a geração de empregos e a melhoria da renda, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e a ampliação do exercício da cidadania por parte dos agricultores familiares". Como objetivos específicos, que complementam o programa, Silva (1999, p. 7) enumera cinco itens:

(1) Ajustar políticas públicas à realidade da agricultura familiar;

(2) Viabilizar a infraestrutura rural necessária à melhoria do desempenho produtivo e da qualidade de vida da população rural;

(3) Fortalecer os serviços de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar; (4) Elevar o nível de profissionalização de agricultores familiares, para lhes propiciar novos padrões tecnológicos e de gestão; e

(5) Favorecer o acesso de agricultores familiares e suas organizações aos mercados de produtos e insumos.

Conforme o Decreto nº 3.508, de 14 de junho de 2000 (BRASIL, 2000), as ações do programa são norteadas através das seguintes diretrizes:

a) melhorar a qualidade de vida no segmento da agricultura familiar, mediante promoção do desenvolvimento rural de forma sustentada, aumento de sua capacidade produtiva e abertura de novas oportunidades de emprego e renda; b) proporcionar o aprimoramento das tecnologias empregadas, mediante estímulos à pesquisa, desenvolvimento e difusão de técnicas adequadas à agricultura familiar, com vistas ao aumento da produtividade do trabalho agrícola, conjugado com a proteção do meio ambiente;

c) fomentar o aprimoramento profissional do agricultor familiar, proporcionando-lhe novos padrões tecnológicos e gerenciais;

d) adequar e implantar a infraestrutura física e social necessária ao melhor desempenho produtivo dos agricultores familiares, fortalecendo os serviços de apoio à implementação de seus projetos, à obtenção de financiamento em volume suficiente e oportuno dentro do calendário agrícola e o seu acesso e permanência no mercado, em condições competitivas;

e) atuar em função das demandas estabelecidas nos níveis municipal, estadual e federal pelos agricultores familiares e suas organizações;

f) agilizar os processos administrativos, de modo a permitir que os benefícios proporcionados pelo Programa sejam rapidamente absorvidos pelos agricultores familiares e suas organizações;

g) buscar a participação dos agricultores familiares e de seus representantes nas decisões e iniciativas do Programa;

h) promover parcerias entre os poderes públicos e o setor privado para o desenvolvimento das ações previstas, como forma de se obter apoio e fomentar processos autenticamente participativos e descentralizados;

(30)

28

2.7.4. Linhas de atuação

Citando o Manual de Operações do PRONAF, Cazzella, Mattei e Schneider (2004 p. 3) descrevem que o programa se apoia em quatro linhas de atuação, englobando o financiamento da produção de atividades rurais, o financiamento de infraestrutura e serviços municipais, a capacitação e profissionalização dos agricultores familiares e o financiamento da pesquisa e extensão rural.

Diante disso, apresentam-se os objetivos destes:

I. Financiamento de infraestrutura e serviços municipais – visa a implementação, ampliação e modernização da infraestrutura necessária ao fortalecimento da agricultura familiar buscando um maior escoamento da produção, acesso a novas tecnologias e inserção competitiva.

II. Financiamento da produção da agricultura familiar – crédito rural – objetiva financiar o custeio ou investimento das atividades produtivas rurais desenvolvidas pelos agricultores familiares por meio de linhas de crédito específicas.

III. Capacitação e profissionalização dos agricultores familiares e técnicos – busca desenvolver as habilidades dos agricultores, técnicos e outros atores por intermédio capacitação visando aumenta a organização do processo produtivo e a eficácia na gestão da propriedade.

IV. Financiamento da pesquisa e extensão rural – tem o intuito de financiar pesquisas para o desenvolvimento de novas tecnologias que possam elevar a produtividade no setor.

Mesmo com a definição dessas linhas de atuação que norteiam o programa, é notório que o PRONAF, desde o princípio, concentrou seus esforços para crédito rural –

PRONAF Crédito.

(31)

29 familiares mais carentes. Quanto ao PRONAF Crédito, a situação é o oposto. Os recursos destinados a esta linha de atuação têm maior expressão, mas são distribuídos numa lógica de liberação concentradora, beneficiando as regiões com agricultura familiar mais integralizadas à economia e segregando os agricultores mais necessitados das demais regiões. Isso tudo acaba por limitar a efetividade da atuação do PRONAF, gerando menores impactos no desenvolvimento rural (CORRÊA, 2007).

4.1.5. Público-Alvo

Em relação à delimitação do público-alvo, os agricultores familiares são divididos em modalidades ou grupos. Esses trabalhadores são beneficiados de diferentes formas devido às suas especificações, justificando, assim, a existência de critérios exclusivos para o enquadramento destes no programa.

A “Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP)” é o instrumento responsável por habilitar essas famílias para a condição de beneficiária do PRONAF, enquadrando-as conforme os grupos pré-estabelecidos. A DAP poderá ser adquirida através de entidades credenciadas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), como o órgão oficial de assistência técnica do Estado ou pelo sindicato dos trabalhadores rurais nos municípios.

Baseado na Cartilha de Orientação do PRONAF no Plano Safra 2012/2013 da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná (FETAEP) esse enquadramento acontecerá através da apresentação da DAP ativa, atendendo aos seguintes critérios:

a) explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário, comodatário, parceiro, concessionário do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA) ou beneficiário do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) permissionário de áreas públicas;

b) residam no estabelecimento ou em local próximo, considerando as características geográficas regionais;

c) não detenham, a qualquer título, área superior a quatro módulos fiscais, vizinhos ou não, quantificados conforme a legislação em vigor;

d) obtenham, no mínimo, 50% da renda bruta familiar da exploração agropecuária e não agropecuária do estabelecimento;

e) tenham o trabalho familiar como predominante na exploração do estabelecimento, utilizando mão de obra de terceiros de acordo com as exigências sazonais da atividade agropecuária, podendo manter empregados permanentes em número menor que o número de pessoas da família ocupadas com o empreendimento familiar;

f) tenham obtido renda bruta anual familiar de até R$160 mil, incluída a renda proveniente de atividades desenvolvidas no estabelecimento e fora dele, por qualquer membro da família;

(32)

30 conformidade com os critérios acima, os pescadores artesanais, aquicultores, silvicultores, extrativistas, integrantes de comunidades quilombolas rurais, povos indígenas e demais povos e comunidades tradicionais.

Abaixo segue uma tabela contendo os grupos e linhas existentes no programa e seus públicos-alvo:

Quadro 1 - Público-Alvo e Condições Operacionais dos Grupos e Linhas do PRONAF (Julho/2012)

Grupos Público-Alvo

Grupo A

Agricultores assentados pelo Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA), beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) e reassentados em função da construção de barragens

Agricultores familiares adimplentes (1)

Grupo A/C Agricultores familiares assentados pelo Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA) e beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) Grupo B Agricultores familiares com renda bruta anual familiar de até R$ 10 mil

Grupo C Agricultores familiares titulares de DAP válida do grupo C, emitida até 31/03/2008, os quais, até 30/06/2008, ainda não tinham contratado as 6 operações de custeio com bônus

Grupo Renda Variável (PRONAF

Comum) Agricultores familiares com renda bruta anual acima de R$ 10 mil e até R$ 160 mil

Linhas Especiais Público-Alvo

Agroindústria Agricultores familiares enquadrados nos grupos A, A/C, B e PRONAF-Comum e suas cooperativas e associações PRONAF Mulher Mulheres agricultoras, independente do estado civil, integrantes de unidades familiares enquadradas no PRONAF- Comum PRONAF Jovem Jovens agricultores e agricultoras familiares maiores de 16 anos e com até 29 anos, pertencentes a famílias enquadradas nos Grupos A, A/C, B e PRONAF-Comum (2)

PRONAF

Semiárido Agricultores familiares enquadrados nos Grupos A, A/C, B e PRONAF-Comum

PRONAF Agrinf

Pessoas físicas que sejam agricultores familiares titulares de DAP e Cooperativas ou associações constituídas de agricultores familiares, que tenham, no mínimo, 70% de seus participantes ativos na condição de agricultores familiares enquadrados no PRONAF Empreendimentos familiares rurais.

PRONAF

Agroecologia Agricultores familiares enquadrados nos grupos A, A/C, B e PRONAF-Comum PRONAF Floresta Agricultores familiares enquadrados nos grupos A, A/C, B e PRONAF-Comum PRONAF ECO Agricultores familiares enquadrados nos grupos A, A/C, B e PRONAF-Comum

PRONAF

Seca 2012 Agricultores familiares enquadrados nos grupos A, A/C, B e PRONAF-Comum Fonte: Adaptado pelo autor de acordo com as informações do BNB, 2014.

(33)

31

3. FONTES DOS DADOS E METODOLOGIA

O estudo fundamentou-se em pesquisas bibliográficas voltadas a área de teoria do desenvolvimento econômico, desenvolvimento sustentável, desenvolvimento rural, pobreza e exclusão social e o crédito rural, buscando uma explanação teórica para elucidar a importância dos recursos do PRONAF no desenvolvimento rural e na redução da exclusão social. Nessa abordagem teórica e conceitual serão utilizadas como fonte de pesquisa livros, monografias, teses, dissertações, artigos e endereços eletrônicos que contém informações relevantes ao tema em estudo.

No que concerne aos métodos quantitativos, primeiramente será realizada uma análise comparativa dos dados secundários do PRONAF, visando avaliar o comportamento do número de contratos e montante de recursos deste programa no período de 2000 a 2012. Ressalte-se que essas variáveis são subdivididas por modalidade de crédito, podendo ser de custeio ou investimento. Outro ponto importante é que os valores do crédito do PRONAF foram deflacionados pelo IGP-DI de 2013.

Com base nos dados brutos extraídos das fontes secundárias, foram construídas tabelas de distribuição de frequências absolutas e relativas, figuras e gráficos. Para estabelecer comparação entre o valor médio dos contratos transferidos para cada estado, os montantes de recursos foram divididos pelo total dos contratos ano a ano. Desta forma foi possível comparar não apenas a evolução dos créditos recebidos, mas a sua magnitude. A hipótese subjacente é que quanto mais carente o estado, menor o valor médio dos contratos, o que tende a agravar as desigualdades interestaduais, embora amenize os problemas de pobreza entendida como exclusão social, conforme definição de Lemos (2012).

A análise comparativa, mencionada anteriormente, foi dividida em três recortes: o panorama nacional, regional e estadual. No nível nacional, foi feito um levantamento da evolução das variáveis no período em questão, visando explicitar a situação atual do crédito rural e do PRONAF no país. No nível regional, utilizou-se o método anterior e o confrontamento dos dados na tentativa de mensurar a situação nordestina em relação as regiões Sul e Sudeste. Por fim, no nível estadual, buscou-se verificar a situação cearense comparando com os estados que compõem a região Nordeste e ainda medir os efeitos desses recursos do PRONAF no nível de exclusão social no Ceará.

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32 de Lemos (2012), calculados a partir dos dados do Censo Demográfico (2000 e 2010) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) (2001 a 2009). Com base em dados secundários extraídos da PNAD, foi estimado o IES para os estados nordestinos e a própria região somente nos anos de 2011 e 2012, de acordo com a metodologia de Lemos (2012). Através desse indicador de desenvolvimento econômico, que mede a porcentagem da população excluída no âmbito econômico, social e ambiental, pode-se mensurar se o comportamento do crédito do PRONAF tem impactos significativos na sua redução. A equação de definição do IES é dada da seguinte forma:

IES = P1. PASSEDUC + P2. PASSECON + P3.PASSAMBI (1)

Nessa equação (1), o P1, P2 e P3 são os pesos estimados através do método multivariado de análise fatorial. A variável IES é explicada por três variáveis:

 PASSEDUC é o passivo de educação que, por sua vez, afere o percentual da população maior de quinze anos que se declarou analfabeta no Brasil, regiões, estados e municípios;

 PASSECON é o passivo econômico, que mede o percentual da população que sobrevive em domicílios cuja renda total domiciliar varia de zero a, no máximo, dois salários mínimos. Isto proporciona uma renda “per capita” familiar de aproximadamente 0,3 salário mínimo;

 PASSAMBI é o passivo ambiental que é estimado da seguinte forma:

PASSAMBI = P4. PRIVAGUA + P5. PRIVSANE + P6. PRIVLIXO (2)

Já nessa equação (2), o P4, P5 e P6 são os pesos, que são estimados por análise multivariada. A variável PASSAMBI é composto por três variáveis, que são:

 PRIVAGUA, que mensura o percentual da população que sobrevive em domicílios sem acesso a água encanada, com ao menos um ponto de água dentro de casa;

(35)

33  PRIVLIXO é o percentual da população que sobrevive em domicílios que não têm acesso ao serviço de coleta sistemática de lixo, direta ou indiretamente.

Buscando aferir também os impactos do crédito do PRONAF na produção agrícola nordestina e nos seus estados, foi utilizado a soma da área colhida, em hectares, de arroz, feijão, mandioca e milho. Essas culturas alimentícias foram escolhidas devido serem as mais relevantes na produção agrícola familiar nordestina e nos financiamentos do PRONAF, de acordo com o Anuário Estatístico de Crédito Rural do Banco Central do Brasil (BACEN) (2012). Os dados de área colhida, em hectares, foram retirados da Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) do Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2000 a 2012. Sabe-se que estas culturas são muito vulneráveis à instabilidade climática que prevalece no Nordeste. Assim, espera-se que o acesso ao crédito rural possa, de alguma forma amenizar ou contornar esses problemas.

Em seguida, após a mensuração e coleta desses dados, foi utilizado o método de regressão linear simples,com o intuito de mensurar os impactos da alocação de recursos do PRONAF na produção agropecuária e no IES do Nordeste e seus estados. Abaixo, seguem os modelos econométricos que serão utilizados para mensurar esses impactos:

𝐼𝐸𝑆𝑈𝐹 = ∝0+ ∝1 𝐿𝑛(𝑃𝑅𝑂𝑁𝐴𝐹𝑈𝐹) (3)

𝐿𝑛(𝐴𝑅𝐸𝐴_𝐶𝑂𝐿𝐻𝑈𝐹) = ∝0+ ∝1 𝐿𝑛(𝑃𝑅𝑂𝑁𝐴𝐹𝑈𝐹) (4)

Na equação (3), temos como variável dependente o 𝐼𝐸𝑆𝑈𝐹, que representa o IES mensurado na região Nordeste ou nos seus estados no período de 2000 a 2012, e como variável independente o 𝐿𝑛(𝑃𝑅𝑂𝑁𝐴𝐹𝑈𝐹), que significa o valor do crédito no PRONAF contratado na mesma região ou estados no mesmo período.

Já na equação (4), a variável dependente passa a ser o 𝐿𝑛(𝐴𝑅𝐸𝐴_𝐶𝑂𝐿𝐻𝑈𝐹), que mede o total de área colhida, em hectares, dos principais produtos alimentícios na região Nordeste ou nos seus estados, no intervalo de 2000 a 2012, e como variável independente o 𝐿𝑛(𝑃𝑅𝑂𝑁𝐴𝐹𝑈𝐹). Vale salientar que foram calculados o 𝐿𝑛 das variáveis 𝐴𝑅𝐸𝐴_𝐶𝑂𝐿𝐻𝑈𝐹 e 𝑃𝑅𝑂𝑁𝐴𝐹𝑈𝐹 , com o intuito de obter o retorno dos impactos em porcentagem.

(36)

34 analisar se o crédito do PRONAF vem apresentando efeitos positivos na área colhida de alimentos e na redução da exclusão social.

Os dados da pesquisa tiveram como fonte a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Anuário Estatístico de Crédito Rural do Banco Central do Brasil (BACEN), Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

(37)

35

4. RESULTADOS

Nesta seção, primeiramente, foram quantificadas as evoluções dos totais de contratos e dos recursos transferidos para os estados do Nordeste, “vis a vis” estados do Sudeste e do Sul entre os anos de 2000 e 2012 como forma de compreender o comportamento temporal dessas variáveis e também desmembrar os contratos em suas modalidades de investimento e custeio naquele período de avaliação.

No segundo tópico, foi aferido a relação entre os volumes monetários de PRONAF transferidos para os estados do Nordeste com a área produzida de alimentos na região.

E por fim, no terceiro tópico, que investigamos o impacto do acesso aos recursos do PRONAF nos estados do Nordeste sobre indicadores de bem-estar social e econômico, no período em análise.

4.1.Resultados do PRONAF no Brasil e Grandes Regiões

A cada ano o Governo Federal vem expandindo a disponibilidade de recursos para o crédito rural como forma de financiar o desenvolvimento do setor agropecuário. E como ele, o PRONAF vem apresentando um desempenho similar desde a sua criação, comprovando, assim, a relevância da agricultura familiar perante o Estado.

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36 Gráfico 1 – Evolução dos recursos destinados ao Crédito Rural e ao PRONAF no Brasil - 2000 a 2012

Fonte: Elaborado pelo autor conforme dados do Anuário Estatístico de Crédito Rural (vários anos) – Banco Central do Brasil.

Nos anos fiscais de 2000 a 2012, conforme os dados da Tabela 1, o PRONAF totalizou R$ 132,3 bilhões, sendo este valor distribuídos em 19,4 milhões de operações contratadas, chegando a um valor médio de R$ 6,7 mil por contrato. No decorrer desse período, o PRONAF manteve uma tendência de crescimento, podendo ser identificada uma elevação significante no volume de recursos contratados, mesmo após apresentada medidas visando a suspensão de crédito nos municípios com inadimplência superior a 10%, conforme Portaria 105 de 23/11/2007 do MDA. Somente nos períodos de 2002 e 2007

ocorreram uma retração de 3,8% e 5,4% no volume de recursos contratados, respectivamente, quando comparado ligeiramente ao período anterior (TABELA 1).

Já o número de contratos, conforme o Tabela 1, obteve comportamento distinto do volume de recursos. Como pode ser visto ao longo da série, de 2000 a 2006, essa variável obteve crescimento contínuo, atingindo, em 2006, o valor máximo da série, 2,5 milhões de operações. Nos anos posteriores, houve redução no número de contratações, chegando a atingir, em 2008, o patamar 1,5 milhões de contratos efetivados. Em 2012, o indicador apresentou leve crescimento, fechando o ano com 1,8 milhões de operações realizadas, mas ainda muito aquém do resultado apresentado em 2006. Mesmo assim, percebe-se que há evolução no número de contratações, presumindo que mais agricultores familiares teve acesso ao crédito.

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37 políticas de desenvolvimento rural, onde vem ofertando mais crédito visando financiar a produção agropecuária e atingir o maior número de agricultores familiares.

Numa análise da distribuição dos recursos por modalidade, de 2000 a 2012, cerca de R$ 73,2 bilhões foram destinados ao crédito de custeio das safras, representando 55,4% do total de recursos acumulados do PRONAF, e R$ 58,9 bilhões ou 44,6% foram alocados para crédito de investimento. Vale ressaltar que, de 2000 a 2008, os recursos do PRONAF tinham como principal destino o crédito de custeio. A partir de 2009, o crédito de investimento passou a ter maior representação quanto ao total de crédito contratado no ano, permanecendo nesse posto até o último ano da série. No ano de 2012, R$ 7,4 bilhões foram contratado na modalidade de investimento e R$ 15,8 bilhões na de custeio, tendo representação de 54,5% e 45,5%, respectivamente (TABELA 1). Isso mostra, nos últimos anos, uma maior relevância da modalidade de investimento frente a de custeio.

No que se refere à distribuição de contratos por modalidade, o comportamento ocorreu de forma similar a dos recursos. Do ano de 2000 a 2012, a modalidade de custeio acumulou um total de 20,5 milhões de contratos (52,1%), enquanto a de investimento somou 18,9 milhões (47,9%). Grande parte da concentração dos contratos de custeio se deu devido seu desempenho nos anos de 2000 a 2004. De um total de 1,6 milhões de contratos no ano de 2000, 1,5 milhão de contratos (90,1%) concentrou-se no financiamento do custeio da safra. Já nas operações de investimento, somente 164,4 mil ou 9,9% dos contratos se destinavam a essa modalidade.

A partir de 2005, ocorreu uma inversão nessa estrutura, e os contratos voltados para investimentos passaram a representar 58,9% do total ou 2,6 milhões de contratos naquele ano. Nesse mesmo ano, os contratos de custeio tiveram participação de 41,1% do total, o que equivale a 1,8 milhões de contratos. É notório que o crescimento de contratos no país teve maior influência devido ao crescimento abrupto das operações de investimento firmadas a partir desse ano.

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Tabela 1 – Número de contratos e montante do crédito rural do  PRONAF no Brasil, por  modalidade e ano fiscal – Período 2000 a 2012
Gráfico 2 – Montante (R$ mil) do crédito rural do PRONAF no Brasil, por região – 2000 a  2012
Gráfico 4 – Montante (R$ mil) do crédito rural do PRONAF no Brasil, por região – 2000 a  2012
Gráfico 5 – Número de contratos do crédito rural do PRONAF no Brasil, por região – 2000  a 2012
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