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Simpósio Gênero e Políticas Públicas Universidade Estadual de Londrina 27 a 29 de maio de Grupo de Trabalho: GT5 Gênero, Corpo e Sexualidades

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Simpósio Gênero e Políticas Públicas

Universidade Estadual de Londrina

27 a 29 de maio de 2014

Grupo de Trabalho: GT5 – Gênero, Corpo e Sexualidades

A fantástica fábrica de bonecas: breve ensaio sobre prostituição

travesti em Guarapuava/Pr

Autor@s: Rafael Bozzo Ferrareze:

Mestrando do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário da Unicentro, graduação em Serviço Social na Unicentro. E-mail: rafaelferrareze@hotmail.com

Briena Padilha Andrade:

mestranda do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário da Unicentro, graduação em enfermagem na Unicentro. E-mail: briena3@gmail.com

Thalita Rafaela Neves:

mestranda do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário da Unicentro, graduação em enfermagem na Unicentro. E-mail: nevesthalita@hotmail.com

Luana de Oliveira:

mestranda do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário da Unicentro, graduação em enfermagem na Unicentro. E-mail: luanafrassetto@yahoo.com.br

Rafael Siqueira de Guimarães:

Professor Adjunto do Departamento de Psicologia, do Programa de Pós Graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário e do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Estadual do Centro-Oeste. E-mail: rafaorlando@gmail.com

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2 A FANTÁSTICA FÁBRICA DE BONECAS:

BREVE ENSAIO SOBRE PROSTITUIÇÃO TRAVESTI EM GUARAPUAVA/PR Rafael Bozzo Ferrareze (*)1

Briena Padilha Andrade Thalita Rafaela Neves

Luana de Oliveira Rafael Siqueira de Guimarães Resumo

Este trabalho é um relato de experiência vivenciado em meios as travestis na cidade de Guarapuava/PR. Nosso intuito acerca deste foi tentar entender melhor a prostituição travesti em meio a noite e como suas identidades são formadas e moldadas em meio a esses espaços. Vale salientar aqui que este breve ensaio reúne a fala de algumas travestis que gentilmente nos ajudou através de entrevistas a entender melhor estes contextos vivenciados pelas mesmas.

PALAVRAS-CHAVE: Prostituição, Travestis, Territórios, Identidade.

Apresentação da proposta de trabalho

Este ensaio é fruto de uma investigação realizada na Avenida Manoel Ribas na cidade de Guarapuava/PR, este local dá acesso a entrada e saída do município, tornando-se assim, um potente ponto de prostituição frequentado tanto por travestis como por prostitutas mulheres. A proposta de trabalho neste campo surgiu em meio a uma atividade do mestrado, intitulada PIEC – Projeto de Exploração Investigatória na Comunidade, onde ao final da disciplina os alunos deveriam apresentar um relatório da aplicação investigativa feita em meio a um público na comunidade.

Escolhemos falar sobre prostituição e travestis, por se tratarem de nossos temas de dissertação no mestrado, sabendo que através do projeto e deste primeiro contato realizado com essas profissionais colheríamos diversas informações relevantes para este, e teríamos um contato inicial com este campo, que muitas vezes se mostra fechado ou de pouco acesso à comunidade.

Prostituição travesti

1 Possui graduação em Serviço Social pela Universidade Estadual do Centro-Oeste. Mestrando do

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3 Sabemos que falar sobre prostituição seja de mulheres ou de homens é algo que encontra ainda, em meio ao seio da sociedade cristã, branca e patriarcal certo desconforto. Temos que mencionar que em meio a esta sociedade são aceitos apenas comportamentos binários, ou seja, se é homem identifica-se como tal e se for mulher da mesma forma. Porém ao falarmos sobre as travestis entendemos que as elas não se encontram nem no masculino e nem no feminino, estas como dizem não são nem homens nem mulheres, são travestis (BERUTTI, 2008). Sendo assim, como aceitar ou compreender um indivíduo que foge do dito “normal” perante a uma comunidade? Como gerir políticas públicas e sociais a um público que podemos dizer, flutuante? Estas e outras perguntas advindas do pensamento social ressoam em meio á dor, preconceito, violência e humilhação vivenciadas pelas travestis. (GARCIA, 2008) reforça essa indagação:

Se não há o seu reconhecimento enquanto sujeitos, pelo próprio fato de não ocuparem um local definido nos “catálogos” identitários reconhecidos na sociedade brasileira, torna-se evidentemente difícil sua inclusão como um segmento significativo nesse espaço público. (GARCIA, 2008 p. 248)

A comercialização do sexo é uma prática exercida por algumas pessoas, e vista popularmente como a profissão mais antiga da humanidade (CECCARELLI, 2008) é uma atividade que traz consigo, marcas pelas diversidades sejam de: locais, práticas, regras e consumidores, gerando diferentes possibilidades para a construção de uma identidade e comportamento travestis em meio à sociedade. Pesquisas atuais através de diferentes meios como: mídias, estudos, campanhas, cada vez mais, vêm tentando não apenas compreender, mas mostrar e informar a realidade das chamadas minorias sociais ou dos “guetos”,2

no intuito não somente de uma convivência pacífica com estes, como também mostrar a todos que toda e qualquer pessoa é portadora tanto de deveres como de direitos como é visto no art. 5º da Constituição Federal do Brasil de 1988. “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, [...]”. Independente de seu gênero, sexo ou estilo de vida. Retomando o pensamento sobre guetos, Zygmunt Bauman nos mostra que um gueto, comina o confinamento espacial com o fechamento social, podendo dizer que seus fenômenos conseguem ser ao mesmo tempo territorial e

2Expressão utilizado por Bauman em seu livro, Comunidade: a busca por segurança no mundo atual,para representar as minorias sociais.

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4 social onde se misturam a proximidade com a distância física como a proximidade com a distância moral. A homogeneidade dos de dentro, em contraste com a heterogeneidade dos de fora. (BAUMAN, 2003).

A prostituição entendida como troca de favores sexuais, segundo Cecarelli (2008), ainda é vista como uma escolha de vida fácil e imoral por grande parte da sociedade, que pensam que tais profissionais não possuem objetivos, planos e porque não dizer sonhos, vivenciando esta rotina de trabalho apenas por prazer, descartando muitas vezes, que tal labor é a única forma encontrada, momentaneamente, para sua sobrevivência, ou ainda, para aumentar a renda de seus familiares. Beritti (2008, p. 845), faz menção a este pensamento quando diz:

[...] está longe o dia em que a venda do sexo não será entendida como um ato sujo, feio, profano, pecador, imoral, mundano e danoso à ordem social. [...] Os estigmas são diversos, alguns são até evitados em nossa comunicação diária, mas revelam com acuidade o imaginário social e o processo de estigmatização por que passam as prostitutas (BARRETO, 2012, p.6).

O termo travesti segundo Berutti (2008), deriva do verbo transvestir, ou transformar. Algo que é muito característico deste público são os nomes, vestimentas e outros aspectos femininos, bem como o uso de hormônios e silicone tendo como intuito alcançar formas femininas, impostas como perfeitas, ao exemplo de: seios fartos, quadris largos, pernas torneadas e o fundamental, glúteo avantajado. É sabido que mesmo com todas as características física e esteticamente femininas, as travestis não se consideram ou se identificam como mulheres, elas são como afirma Berutti (2008,p. 847) “homens que ardentemente desejam homens, e que se modelam e se aperfeiçoam como um objeto de desejo para esses homens”. A que se mencionar também que as travestis não desejam mudar seu sexo biológico, ou seja, passar pelo processo de resignação sexual, estas convivendo bem com sua genitália (PELÚCIO,2005).

Como citado em nosso título, Pelúcio (2005, p. 5) refere-se ao termo “boneca”, com sendo outra forma de se referenciar as travestis, utilizado primeiramente pelos t-lover’s (homens que se relacionam com essas bonecas) em chats virtuais e pelo público LGBT (lésbicas gays bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros).

Processos da identidade travesti e trabalho na noite

Não apenas as bibliografias como as próprias travestis que conversamos nos disseram que para se tornar uma travesti, há que se passar por alguns processos de

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5 mudanças identitárias, não basta apenas se vestir de mulher, para ser uma travesti afirma Jennifer Coline, uma de nossas entrevistadas, você precisa tomar hormônios e injetar silicone. Pelúcio (2005),reforça a ideia de Jennifer quando em seus estudos menciona Claudinha Delavatti, (travesti já falecida) que também dizia: “travesti que não toma hormônio não é travesti, pensa que é carnaval e sai fantasiado de mulher”.

Sheila Zagonel, também nossa entrevistada, nos explica os processos de transformação travesti. “Primeiro você se assumi para a família como sendo apenas gay, logo começa todo o processo. Você passa a utilizar uma vez ou outra roupas femininas, deixar o cabelo crescer, e em seguida a tomar escondida hormônios. Nessa fase sua família já percebe que você está virando uma travesti e muito provavelmente te coloca para fora de casa. A última é, eu acredito, a mais difícil, é a fase da siliconinação. Nessa etapa a travesti já está fora de casa, convivendo com outras e fazendo programas, é onde não se tem como voltar atrás, procuramos uma bombadeira (geralmente uma travesti mais velha que possui as técnicas de aplicação do silicone industrial) e começamos a bombar os peitos e os quadris. Pronto, já se é uma travesti”.3

Pelúcio (2005), afirma também que ser travesti é algo contínuo e sem fim, nunca se encerra. Ferreira (2009), nos mostra através de uma ideia de Benedetti (2000), o quão significante e importante é para as travesti este processo de transformação identitárias.

A transformação do corpo é um processo inerente à construção da identidade desse segmento social. Ele é o marco fundamental que permite diferenciá-los de outros indivíduos que compõem a diversidade do universo sexual, notadamente no que se refere aos gays, aos transformistas, às drag queens e às cross-dressers (CDs), ou ainda, distingui-los entre as transexuais.

Conversando com outra travesti na avenida Manoel Ribas, pudemos entender o porque a rua, ou no caso a avenida que tornou-se de suma importância para estas. Larissa nos dizia que foi na rua que se tornou verdadeiramente travesti. É neste espaço que ela pode trocar experiências sobre cosméticos, modo de andar, se vestir e até mesmo os macetes tanto para chamar a atenção dos clientes como para se defender em meio a noite. Benedetti (2000), diz que o espaço da prostituição é um dos principais lugares sociais de construção e aprendizado do feminino entre as travestis. A entrevistada ainda relata, que apesar de ter passado pelos processos de transformação, só

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6 sentiu-se travesti, quando começou a ir para a rua e prostituir-se, conseguindo assim o seu próprio sustento.

Pudemos observar que são nestes espaços que as travestis reforçam suas belezas, seus sucessos ou insucessos na ingestão de hormônios e de silicones, e que é também nesses locais que suas relações sociais se pautam e se afirmam enquanto travestis observado também por, Pelúcio (2005).

Na avenida [...] elas testam o sucesso de seus esforços de transformação, “dando close” – exibindo-se e esnobando as outras - , fazem, amizades aprendem a ser travesti a partir das trocas de informações e da observação. Nos territórios da prostituição elas namoram, encontram e fazem amigas, compram roupas, aprendem técnicas corporais importantes, além, é claro, de ganhar seu “aqué” (PELÚCIO, 2005, p. 224).

É nesses locais que a travesti pode exibir-se, manter a sociabilidade, e porque não dizer, mostrar o seu lado boneca.

Conclusão

Assim podemos dizer que seja ruas, avenidas ou travessas, a identidade travesti atrela-se a este lugar, pois é nestes cenários que elas reforçam e se mostram para a sociedade como tais. O texto de Benedetti (2000), intitulado “A batalha e o corpo: breves reflexões sobre travestis e prostituição” nos traz a reflexão de que os territórios de prostituição afirmam a identidade travesti, pois constituem um lugar de sociabilização, aprendizado e troca entre elas e a comunidade, mesmo para aquelas que frequentam esporadicamente esses locais. (BENEDETTI, 2000 p. 18)

A pesquisa nos possibilitou ainda refletir, que as travestis não frequentam a avenida Manoel Ribas apenas para batalhar, mas para se socializarem umas com as outras e com a sociedade que as cercam. A exclusão que sofrem muitas vezes traz estes lugares como sendo o único disponível, para fazerem amizades, conversar e como elas mesmas dizem contar os incidentes de seus cotidianos. A sociedade caminha em passos lentos para uma socialização com este público, pois hoje vemos que as travestis já aparecem em diversos programas televisivos ou em revistas que não possuam conotação pornográfica. Finalizamos como uma citação de Pelúcio (2005), de que Talvez, em alguns anos, as ruas, sejam do Brasil ou de outro país, não serão os únicos locais onde as travestis poderão se constituir como pessoas, tornando estes quem sabe uma opção e não mais uma necessidade. Ou seja, talvez daqui há alguns anos essas bonecas poderão

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7 circular livres, sem que tenham que conviver com olhares engessados e preconceituosos.

Referências

BAUMAN, Z. 1925 - Comunidade: a busca por segurança no mundo atual / Zygmunt Bauman; tradução Plínio Dentzien. - Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

BENEDETTI, M. A batalha e o corpo: breves reflexões sobre travestis e prostituição. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2000.

BERUTTI, E.B. Travestis: retratos do Brasil. Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2008.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: Texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 19888 – Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de edições Técnicas, 2008.

CECCARELLI, P.R. Prostituição – corpo como mercadoria. In: Mente & Cérebro – Sexo, v. 4 (edição especial), 2008.

FERRERIA, R.S. Ainformação social no corpo travesti (Belém, Pará): uma análise sob a perspectiva de Erving Goffman. Ci. Inf., Brasília, v. 38, n. 2, p. 35-45, maio/ago. 2009.

GARCIA, M.R.V. Prostituição e atividades ilícitas entre travestis de baixa renda. Universidade de São Paulo. Cadernos de Psicologia do trabalho, v. 11 n. 2, pp. 241-256, 2008.

PELÚCIO, L. Na noite nem todos os gatos são pardos: notas sobre a prostituição travesti. Cadernos Pagu p. 217-248, 2005.

PELÚCIO, L. - SBS – XII Congresso Brasileiro de Sociologia. GT 17- Sxualidade, Corporalidades e Transgressões: Sexualidade, gênero e masculinidade no mundo dos t-lovers: a construção da identidade de um grupo de homens que se relacionam com travestis. Fevereiro e Abril de 2005.

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