• Nenhum resultado encontrado

Gramática e texto. Capítulo 10. Intertextualidade. b) e) 1. (UFF)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Gramática e texto. Capítulo 10. Intertextualidade. b) e) 1. (UFF)"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

Gramática e texto

Capítulo 10

Intertextualidade

1. (UFF)

Ler bem é ouvir o que as palavras nos dizem. O que dizem as palavras quando as despimos, quando perscrutamos seu passado, suas reentrâncias, seu parentesco? Não dizem tudo, é verdade. Sempre falta à palavra outra palavra que a complemente e que a explique. Nathalie Sarraute, no livro

O uso das palavras, imagina as palavras produzindo inúmeras

ondulações. Captar essas ondulações, ler as entrelinhas, e as entreletras, é instrutivo, divertido e trabalhoso. Captá-las com outras palavras é o exercício de quem quer ler para valer. Tal esforço se renova infi nitamente.

Gabriel Perissé. Revista Língua Portuguesa.

Para compreender a passagem de língua (sistema de signos)

a discurso (produção de sentido), devem-se ler as entrelinhas, e as entreletras. Esse processo implica o conhecimento de mundo que, pela intertextualidade, enfatiza determinado desenvolvimento discursivo. Observe bem a foto e o título da seguinte notícia jornalística.

O GRITO

Repr

odução/UFF

A tucana Yeda Crusius se descontrola diante do protesto à sua porta

A governadora gaúcha Yeda Crusius (PSDB) bateu boca com

cerca de 200 professores que, na porta de sua casa, pediam seu impeachment. Irritada, Yeda acusou os professores de “torturar crianças” porque seus netos fi caram com medo de sair para ir à escola.

O Globo, 17/07/09. p.11.

Assinale a obra de arte que, pela intertextualidade, encaminha

uma determinada compreensão da foto e do título da notícia.

a) d) Repr odução/UFF Repr odução/UFF b) e) Repr odução/UFF c) Repr odução/UFF 2. (Mackenzie)

Você sabia que com pouco esforço é possível ajudar o planeta e o seu bolso? Ao usarmos a energia elétrica para aparelhos eletrônicos e lâmpadas também emitimos gás carbônico, um dos principais gases do efeito estufa. Atitudes simples como trocar lâmpadas incandescentes pelas fl uorescentes e puxar da tomada os aparelhos que não estão em uso reduzirão a sua conta de luz e as nossas emissões de

CO2 na atmosfera.

Planeta sustentável: conhecimento por um mundo melhor.

Assinale a alternativa que indica recurso empregado no texto.

a) Intertextualidade, já que se pode notar apropriação explícita e marcada, por meio de citações, de trechos de outros textos.

b) Conotação, uma vez que o texto emprega em toda a sua extensão uma linguagem que adota tom pessoal e subjetivo.

c) Ironia, observada no emprego de expressões que conduzem o leitor a outra possibilidade de interpretação, sempre crítica.

d) Denotação, pois há a utilização objetiva de palavras e expressões que destacam a presença da função referencial. e) Metalinguagem, uma vez que a linguagem adotada serve

exclusivamente para tratar da própria linguagem.

3. (Enem)

Texto I

NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho Tinha uma pedra

No meio do caminho tinha uma pedra [...]

ANDRADE, C. D. Antologia poética. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2000. (fragmento)

Repr

(2)

Texto II

Repr

odução/Enem

BAT BAT

EPA, ISTO DÁ SAMBA! APOSTO QUE VOU FICAR AQUI ATÉ

SÁBADO.

QUE AZAR. AQUI ESTOU EU

ENROLADO NUMA CORTINA. TINHA UMA CORTINA NOCAMINHO, NO CAMINHO TINHA UMA CORTINA. NUNCA ME ESQUECEREI DESTE ACONTECIMENTO, TINHA UMA CORTINA NO MEIO DO CAMINHO.

A comparação entre os recursos expressivos que constituem

os dois textos revela que

a) o texto I perde suas características de gênero poético ao ser vulgarizado por histórias em quadrinho.

b) o texto II pertence ao gênero literário, porque as escolhas linguísticas o tornam uma réplica do texto I.

c) a escolha do tema, desenvolvido por frases semelhantes, caracteriza-os como pertencentes ao mesmo gênero. d) os textos são de gêneros diferentes porque, apesar da

intertextualidade, foram elaborados com finalidades distintas.

e) as linguagens que constroem signifi cados nos dois textos permitem classifi cá-los como pertencentes ao mesmo gênero.

4. (Uerj)

IDEOLOGIA

Meu partido

É um coração partido

E as ilusões estão todas perdidas Os meus sonhos foram todos vendidos Tão barato que eu nem acredito Eu nem acredito

Que aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo)

Frequenta agora as festas do “Grand Monde” Meus heróis morreram de overdose

Meus inimigos estão no poder Ideologia

Eu quero uma pra viver Ideologia

Eu quero uma pra viver O meu prazer

Agora é risco de vida

Meu sex and drugs não tem nenhum rock ‘n’ roll Eu vou pagar a conta do analista

Pra nunca mais ter que saber quem eu sou Pois aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo)

Agora assiste a tudo em cima do muro Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia

Eu quero uma pra viver Ideologia

Eu quero uma pra viver

CAZUZA e ROBERTO FREJAT – 1988 www.cazuza.com.br

“E as ilusões estão todas perdidas” (v. 3)

Esse verso pode ser lido como uma alusão a um livro intitulado

Ilusões perdidas, de Honoré de Balzac. Tal procedimento

constitui o que se chama de:

a) metáfora. c) pressuposição.

b) pertinência. d) intertextualidade.

Capítulo 11

Os relatores: preposição e conjunção

1. (Fuvest) Em “Era a fl or, e não já da escola, senão de toda a

cidade.”, a palavra destacada pode ser substituída, sem que haja alteração de sentido, por

a) mas sim. d) portanto.

b) de outro modo. e) ou.

c) exceto.

2. (Enem)

O MUNDO É GRANDE

O mundo é grande e cabe Nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe Na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe No breve espaço de beijar.

ANDRADE, Carlos Drommond de.

Poesia e prosa. Rio de Janeiro. Nova Aguilar 1983.

Neste poema, o poeta realizou uma opção estilística: a

reiteração de determinadas construções e expressões linguísticas, como o uso da mesma conjunção para estabelecer a relação entre as frases. Essa conjunção estabelece, entre as ideias relacionadas, um sentido de

a) oposição. d) alternância.

b) comparação. e) fi nalidade.

c) conclusão.

3. (Uece)

Odeio surtos de bom-mocismo, remorsos súbitos, arrastões morais. Abomino a retórica politicamente correta, paternalismos vesgos, equívocos bem-intencionados.

Assisto pois com fastio e espanto às discussões sobre

a implantação de um sistema de cotas, na universidade, para estudantes de pele negra. No Ceará, baseado no mesmo voluntarismo míope, tramita na Assembleia projeto que garante cotas no vestibular para estudantes da escola pública. As duas propostas padecem do mesmo pecado original: pretendem remediar uma injustiça histórica através de outra.

Lira Neto. O Povo, 14/9/2001.

Sobre o termo pois, podemos dizer que tem a função de

I. marcar uma relação textual-discursiva;

II. concluir o que é enunciado no primeiro parágrafo; III. constituir um elo de coordenação entre orações. É correto o que se afi rma

a) em I e II. c) apenas em III.

(3)

4. (Uece)

“Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil. Lenhador, lavrador, pescador, vaqueiro, marinheiro, funileiro, carpinteiro. Contanto que seja digno do governo do Brasil, que tenha olhos para ver pelo Brasil, ouvidos para ouvir pelo Brasil, coragem de morrer pelo Brasil.”

FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala. 47. ed. São Paulo: Global, 2003.

A expressão “Contanto que seja digno do governo do Brasil,

que tenha olhos para ver pelo Brasil, ouvidos para ouvir pelo Brasil, coragem de morrer pelo Brasil” exprime

a) causa. b) concessão. c) consequência. d) condição.

Capítulo 12

Processos de formação de palavras

1. (UFC) Marque a opção em que os termos destacados mantêm

entre si uma relação morfológica e semântica.

a) “como oceano encapelado” – o oceano parecia o capeta

de tão furioso.

b) “o busto admiravelmente cinzelado” – O busto parecia

ter sido talhado com o cinzel.

c) “o busto (...) ergueu-se altaneiro” – o busto ergueu-se

cheio de altruísmo.

d) “A fi sionomia (...) animou-se de luz insólita” – A luz da

fi sionomia não tinha solitude.

e) “os olhos extáticos alçavam-se cheios de esplendor”

– Os olhos estavam parados, como os de uma estátua.

2. (UFC) No período: “Vim do sertão, fedelhozinho ainda,

bestaloide, mas hipersensível.”(Milton Dias), há, em

fedelhozinho, dois sufi xos de ___________, um deles expressa

ideia de _____________; em bestaloide há um sufi xo que indica __________, carregado de conotação depreciativa e, em hipersensível, um ___________ prefi xal.

Assinale a opção que preenche corretamente as lacunas do

período.

a) aumentativo, depreciação, aspecto de, superlativo. b) diminutivo, afetividade, semelhante a, superlativo. c) diminutivo, depreciação, forma de, aumentativo. d) diminutivo, afetividade, aspecto de, aumentativo. e) aumentativo, ironia, semelhante a, aumentativo.

3. (UFMG) Em que alternativa a palavra destacada resulta de

derivação imprópria?

a) Às sete horas da manhã começou o trabalho principal: a

votação.

b) Pereirinha estava mesmo com a razão. Sigilo... Voto

secreto...Bobagens, bobagens!

c) Sem radical reforma da lei eleitoral, as eleições continuariam

sendo uma farsa!

d) Não chegaram a trocar um isto de prosa, e se entenderam.

e) Dr. Osmírio andaria desorientado, senão bufando de raiva.

4. . (Enem) Leia com atenção o texto:

[Em Portugal], você poderá ter alguns probleminhas se entrar numa loja de roupas desconhecendo certas sutilezas da língua. Por exemplo, não adianta pedir para ver os ternos — peça para ver os fatos. Paletó é casaco. Meias são peúgas. Suéter é camisola — mas não se assuste, porque calcinhas femininas são cuecas. (Não é uma delícia?)

Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.

O texto destaca a diferença entre o português do Brasil e o

de Portugal quanto a) ao vocabulário. b) à derivação. c) à pronúncia. d) ao gênero. e) à sintaxe.

Capítulo 13

Conjugação verbal

1. (Unimep-SP)

“Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura

como este sorriso.”

Fernando Sabino

Assinale a série em que estão devidamente classifi cadas as

formas verbais em destaque:

a) futuro do pretérito, presente do subjuntivo.

b) pretérito mais-que-perfeito, pretérito imperfeito do subjuntivo.

c) pretérito mais-que-perfeito, presente do subjuntivo. d) futuro do pretérito, pretérito imperfeito do subjuntivo. e) pretérito perfeito, futuro do pretérito.

2. (Uece)

Ouvi dizer que é cada vez maior o número de pessoas que se conhecem pela Internet e acabam casando ou vivendo juntas uma semana depois. As conversas por computador são, necessariamente, sucintas e práticas, e não permitem namoros longos, ou qualquer tipo de aproximação por etapas. Estamos longe, por exemplo, do tempo em que as pessoas se viam numa quermesse de igreja e se mandavam recados pelo alto-falante.

Como as quermesses eram anuais, elas só se falavam uma vez por ano, e sempre pelo alto-falante. Quando fi nalmente se aproximavam, eram mais dois anos de namoro e um de noivado, e só na noite de núpcias, imagino, fi cavam íntimos, e mesmo assim acho que o vovô dizia: “Com licença”. Na geração seguinte, o homem pedia a mulher em namoro, depois pedia em noivado, depois pedia em casamento, e, quando fi nalmente podia dormir com ela, era como chegar no guichê certo depois de preencher todas as formalidades, reconhecer todas as fi rmas e esperar que chamassem a sua senha. Durante o namoro, ele mandava poemas, o que sempre funcionava, e muitas mulheres de uma certa época, para serem justas, deveriam ter casado com Vinicius de Moraes.

(4)

Substituindo “aproximavam” por “aproximassem”, tem-se

de substituir também, para manter a correlação, as formas verbais “eram”, “fi cavam”, e “dizia”, respectivamente, por: a) seriam – fi cariam – diria.

b) fossem – fi cassem – diria. c) serão – fi cariam – dirá. d) seriam – fi cariam – diz.

3. (UFMA) O verbo da oração “Os pesquisadores orientarão os

alunos” terá, na voz passiva, a forma: a) haverão de orientar.

b) haviam orientado. c) orientaram-se. d) terão orientado. e) serão orientados.

4. (UVA) Em “— Mas creia, seu Manoel, que se tamanha

desgraça...” , sobre o sujeito do verbo “creia” e a função sintática de “seu Manoel”, podemos dizer:

a) sujeito : tu / “seu Manoel” : aposto. b) sujeito: você / “seu Manoel” : aposto. c) sujeito: tu / “seu Manoel” : vocativo. d) sujeito : você / “seu Manoel : vocativo.

Capítulo 14

Textos fi gurativos e textos temáticos

1. (Enem)

E considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta, como em um prisma.

O pavão é um arco-íris de plumas.

Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos.

De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.

Considerei, por fi m, que assim é o amor, oh! Minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífi co.

BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20.ed.

O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu assim sobre

a obra de Rubem Braga:

“O que ele nos conta é o seu dia, o seu expediente de homem,

apanhado no essencial, narrativa direta e econômica. (...) É o poeta do real, do palpável, que se vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da realidade e o remédio para ela.” Em seu texto, Rubem Braga afi rma que “este é o luxo do

grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos”. Afi rmação semelhante pode ser encontrada no texto de Carlos Drummond de Andrade, quando, ao analisar a obra de Braga, diz que ela é:

a) uma narrativa direta e econômica. b) real, palpável.

c) sentimento de realidade. d) seu expediente de homem. e) seu remédio.

2. (Enem)

Eu começaria dizendo que poesia é uma questão de

linguagem. A importância do poeta é que ele torna mais viva a linguagem. Carlos Drummond de Andrade escreveu um dos mais belos versos da língua portuguesa com duas palavras comuns: cão e cheirando.

Um cão cheirando o futuro

Entrevista com Mário Carvalho. Folha de S.Paulo, 24/05/1988. adaptação

O que deu ao verso de Drummond o caráter de inovador da

língua foi

a) o modo raro como foi tratado o “futuro”. b) a referência ao cão como “animal de estimação”. c) a fl exão pouco comum do verbo “cheirar” (gerúndio). d) a aproximação não usual do agente citado e a ação de

“cheirar”.

e) o emprego do artigo indefi nido “um” e do artigo defi nido “o” na mesma frase.

• Texto para as questões 3 e 4.

3. (Enem)

A DANÇA E A ALMA

A DANÇA? Não é movimento, súbito gesto musical.

É concentração, num momento, da humana graça natural. No solo não, no éter pairamos, nele amaríamos fi car.

A dança – não vento nos ramos; seiva, força, perene estar. Um estar entre céu e chão, novo domínio conquistado, onde busque nossa paixão libertar-se por todo lado... Onde a alma possa descrever suas mais divinas parábolas sem fugir à forma do ser, por sobre o mistério das fábulas.

Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.

A defi nição de dança, em linguagem de dicionário, que mais

se aproxima do que está expresso no poema é

a) a mais antiga das artes, servindo como elemento de comunicação e afirmação do homem em todos os momentos de sua existência.

b) a forma de expressão corporal que ultrapassa os limites físicos, possibilitando ao homem a liberação de seu espírito.

c) a manifestação do ser humano, formada por uma sequencia de gestos, passos e movimentos desconcertados. d) o conjunto organizado de movimentos do corpo,

com ritmo determinado por instrumentos musicais, ruídos,cantos, emoções etc.

e) o movimento diretamente ligado ao psiquismo do indivíduo e, por consequência, ao seu desenvolvimento intelectual e à sua cultura.

(5)

4. (Enem) O poema “A Dança e a Alma” é construído com base

em contrastes, como “movimento” e “concentração”. Em uma das estrofes, o termo que estabelece contraste com solo é:

a) éter. d) paixão.

b) seiva. e) ser.

c) chão.

Capítulo 15

Tipos de texto: descrição, narração e

dissertação

• Texto para as próximas questões

5 10 15 20 25 30 40 45 .

EIa estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.

Na rua vazia as pedras vibravam de calor – a cabeça da menina fl amejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão (...)

Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na fi gura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.

Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro. A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.

Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera no mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafi nado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fi tá-Io.

Os pelos de ambos eram curtos, vermelhos.

Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento, surpreendidos. (...)

Mas ambos eram comprometidos.

Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.

A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela fi cou espantada com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com os olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina.

Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.

LISPECTOR, Clarice. “Tentação”. In: A Legião estrangeira. São Paulo: Ática, 1977. p. 69-60.

1. (Ifet) Está em coerência com o texto:

a) A paixão da menina pelo cão representa a impossibilidade da plena realização dos desejos humanos.

b) A paixão pelo cão demonstra que a menina é demente ou tola.

c) O interesse do cão pela menina designa um fato sobrenatural.

d) O impossível se concentra no fato de ambos serem ruivos. e) A tristeza e os vazios da alma de uma menina somente

poderão ser suprimidos por um cachorro.

2. (Ifet) “Ele, com sua natureza aprisionada,” (linhas 40 e 41)

dispõe-se em paralelo com:

a) “Mas ambos eram comprometidos.” (linha 33)

b) “A dona esperava impaciente sob o guarda-sol.” (linha 42) c) “O basset ruivo afi nal despregou-se da menina...” (linha 43) d) “Ela com sua infância impossível...” (linha 39)

e) “... inocência que só se abriria quando ela fosse mulher.” (linhas 39 e 40)

3. (Ifet) Em “ela suportava” (linha 5), há a sugestão de um estado

de espírito abatido pela resignação. Isso se confi rma com: a) “ninguém na rua” (linha 5) / “Sentada nos degraus” (linha 4) b) “só uma pessoa” (linha 5) / “o soluço a interrompia” (linha 7) c) “olhar submisso e paciente” (linha 7) / “o queixo (...)

conformado na mão” (linhas 8 e 9)

d) “abalando o queixo” (linha 8) / “uma pessoa esperando inutilmente” (linhas 5 e 6)

e) “de momento a momento” (linhas 7 e 8) / “o queixo que se apoiava” (linha 8)

4. (Ifet) Este texto corresponde ao conto, forma literária do

gênero narrativo. Das formas abaixo, somente uma não contempla esse gênero:

a) Romance. b) Novela. c) Saga. d) Crônica. e) Resenha.

Referências

Documentos relacionados

A) O acidente foi de pequena proporção já que não atingiu outros municípios circunvizinhos. B) A lama liberada atingiu apenas a flora da região de Brumadinho, em Minas Gerais. C)

Evento que exigiu o fim da impunidade para os Crimes de Maio de 2006 reuniu vítimas da violência policial de vários Estados e deixou claro que os massacres de pobres e jovens

17 CORTE IDH. Caso Castañeda Gutman vs.. restrição ao lançamento de uma candidatura a cargo político pode demandar o enfrentamento de temas de ordem histórica, social e política

5 — Para os efeitos do disposto no número anterior, o arrendatário deve entregar nos termos do n.º 1 do artigo 6.º do Decreto -Lei n.º 166/93, de 7 de maio, no Serviço do Centro

Não pode ser copiado, escaneado, ou duplicado, no todo ou em parte, exceto para uso como permitido em uma licença distribuída com um certo produto ou serviço ou de outra forma em

De acordo com estes resultados, e dada a reduzida explicitação, e exploração, das relações que se estabelecem entre a ciência, a tecnologia, a sociedade e o ambiente, conclui-se

No dia do teste, primeiramente foi realizado repouso em que o indivíduo permaneceu sentado durante 15 minutos, sendo que sua Frequência Cardíaca foi monitorada

O candidato estrangeiro poderá inscrever-se no concurso público com passaporte, entretanto, por ocasião da contratação deverá apresentar a cédula de identidade