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CONFRONTAR AS CONSEQUÊNCIAS SOCIOECONÓMICAS DA COVID-19 EM ANGOLA

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CONFRONTAR

AS CONSEQUÊNCIAS

SOCIOECONÓMICAS DA

COVID-19 EM ANGOLA

Perspectivas e respostas políticas para

uma crise multidimensional em evolução

(2)

Nelson T. Eduardo, Liliana D. Sousa e Pauline Koch, em conjunto com o PNUD por Lorenzo Mancini. Foram recebidos comentários de Edo Stork, Olivier Lambert, Guillemette Sidonie Jaffrin, Vivek Suri, Philip Schuler, José Novais Félix e Andrea Antonelli.

(3)

Resumo 4 1. Impacto da COVID-19: Principais canais de

transmissão

e vulnerabilidade 5

1.1 Impactos Económicos e Financeiros da COVID-19 na Economia Angolana 5

1.2 Impactos socioeconómicos da COVID-19 12

2. Respostas de políticas públicas. 19

3. Recuperação económica: Previsão de base e factores

de risco 24

4. Recomendações para as políticas públicas 26

Anexo: Indicadores de alta frequência do impacto da

(4)

Resumo

Com as fortes medidas sanitárias adoptadas, a

propagação doméstica da COVID-19 em Angola tem

sido limitada até à data. No entanto, o impacto da

pandemia na economia Angolana foi severo, sendo

a queda do preço do petróleo o principal canal

de transmissão. A crise da COVID-19 exacerbou a

contracção económica pré-existente combinada com

a protecção social limitada que expõe as pessoas

mais vulneráveis a maiores adversidades.

A falta de espaço fiscal e a disponibilidade limitada de financiamen-to limitaram a capacidade do governo para responder à crise. As autoridades adoptaram as transferências monetárias como uma medida chave para aliviar a pobreza, juntamente com várias inicia-tivas para apoiar a economia real. Para proteger os pobres durante a crise, é fundamental reforçar as transferências monetárias para a protecção social e expandir a elegibilidade. Ao responder à crise, o Governo deve abordar os mais vulneráveis devido às desigual-dades e à pobreza multidimensional. As medidas para preservar o emprego e o rendimento devem ser priorizadas com principal re-alce para as mulheres e os jovens. Garantir a disponibilidade de alimentos também é fundamental para apoiar as populações mais vulneráveis. Ao promover a produção agrícola, a crise da COVID-19 pode ser uma oportunidade para fomentar as capacidades e a di-versificação económica.

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1.1 Impactos Económicos e Financeiros da

COVID-19 na Economia Angolana

1. A pandemia da COVID-19 está a afectar Angola directa-mente, mas também tem um grave impacto indirecto na economia Angolana através do seu impacto no mercado global do petróleo. A COVID-19 está a ameaçar a saúde dos Angolanos; no entanto, a pandemia está também a afectar a economia Angolana, com consequências negativas para o em-prego e a pobreza. A pandemia em si é provável que seja um choque temporário, mas os baixos preços do petróleo podem durar mais tempo, com efeitos permanentes para o país. A re-sposta à perda de receitas petrolíferas exige um ajustamento fiscal, uma maior eficiência do lado da despesa e um reforço das receitas não petrolíferas. A satisfação das suas grandes necessidades de financiamento representa um desafio para o governo, dado o já elevado peso da dívida, a baixa liquidez nos mercados financeiros domésticos e a restrição no acesso aos mercados financeiros globais. A reestruturação da dívida com credores bilaterais, inclusive no âmbito da Iniciativa de Sus-pensão do Serviço da Dívida (DSSI), e o acesso a empréstimos

de instituições multilaterais proporcionam a muito necessária liquidez a curto prazo. Os preços do petróleo deverão perman-ecer relativamente baixos, uma vez que a oferta potencial de petróleo permanecerá grande e a procura deverá permanecer moderada, talvez nunca recuperando as trajectórias de cresci-mento do passado, à medida que os países transitam para fon-tes de energia renováveis.1

2. A pandemia da COVID-19 está a agravar a dinâmica reces-siva que a economia Angolana atravessa desde o final de 2015. O ano de 2020 será o quinto ano consecutivo com um crescimento económico negativo. Antes da pandemia, Angola já enfrentava desafios para restaurar o crescimento devido ao continuado fraco desempenho do sector petrolífero e aos efei-tos colaterais para o sector não petrolífero. Entre 2016 e 2019, o PIB real diminuiu 5,6% cumulativamente. O sector petrolífero, que representou cerca de 30% do PIB2, 60% das receitas fiscais

1 Perspectiva do Banco Mundial para os mercados de produtos de Abril de 2020. Um choque como nenhum outro: O impacto da COVID-19 nos mercados dos produtos. http://pubdocs.worldbank.org/en/558261587395154178/CMO-April-2020-Special-Focus-1.pdf

2 Fonte: INE, Contas Nacionais.

1. Impacto da COVID-19: Principais canais de transmissão

e vulnerabilidade

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e mais de 90% das exportações em 2019, tem sido o motor da recessão devido ao declínio do preço do petróleo, campos de petróleo em maturação e reduzidos níveis de investimento. A pandemia da COVID-19 e a nova crise do petróleo por ela de-sencadeada aprofundarão ainda mais a perda de rendimento nacional. Para superar a dependência do petróleo, a transição para um modelo económico mais diversificado, que já era uma prioridade antes desta crise, torna-se ainda mais urgente. 3. A transmissão da COVID-19 em Angola tem sido limitada,

embora tenha acelerado nos últimos meses. Os casos con-firmados de COVID-19 excediam os 13.000 a 16 de Novembro (cerca de 40,6 por 100.000 habitantes) com uma taxa de mor-talidade de aproximadamente 2,4%.3 O número de casos foi muito baixo inicialmente, com menos de 300 casos no total descobertos até ao final de Junho, embora tenham aumenta-do rapidamente desde então. A capacidade para fazer testes à COVID-19 aumentou, mas o número total de testes RT-PCR feitos até agora permanece abaixo dos 200.000. O governo de-clarou o estado de emergência no dia 27 de Março e adoptou fortes medidas de mitigação. No dia 26 de Maio, foi declarado o estado de calamidade, substituindo o estado de emergên-cia, e algumas restrições foram reduzidas, permitindo a retoma gradual das actividades económicas, embora o número de ca-sos tenha aumentado.

3 Fonte: Universidade Johns Hopkins, https://coronavirus.jhu.edu/map.html

4. O principal impacto da crise da COVID-19 até Outubro tem sido via o sector petrolífero. A queda do preço do petróleo impulsionou uma dinâmica recessiva na economia Angolana e no aumento da pressão nas contas fiscais e na dívida do Gover-no. Os preços do petróleo começaram a cair logo no final de Ja-neiro devido a preocupações com a disseminação da COVID-19 na China. Esse declínio foi acelerado no início de Março, quan-do a COVID-19 se espalhou globalmente e os países produtores de petróleo não conseguiram chegar inicialmente a um acordo sobre os cortes na produção. Desde que chegaram a um acor-do em Abril, a OPEP e alguns grandes produtores de petróleo não-OPEP (OPEP +) reduziram o fornecimento de petróleo em

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9,7 milhões de barris por dia. Esta redução, combinada com uma recuperação incipiente da procura de petróleo devido ao relaxamento das medidas de contenção nos principais merca-dos importadores (principalmente a China), reverteu parcial-mente a queda do preço do petróleo em meados do ano. O preço do petróleo Brent, referência relevante para as expor-tações de petróleo de Angola, recuperou de US$25 por barril em Abril para cerca de US$ 40 entre Julho e o início de Novem-bro. A produção de petróleo bruto em Angola diminuiu para menos de 1,2 milhões de barris por dia de Julho a Setembro, em comparação com uma média de 1,4 milhões de barris por dia em 2019.4

5. O preço do petróleo tem um impacto directo na receita pú-blica e na capacidade do governo de honrar o serviço da dívida. Em 2019, as receitas relacionadas com o petróleo rep-resentaram mais de 60% das receitas do Governo Central (GC).5 Com um preço médio do petróleo de US$ 65 por barril em 2019, o GC atingiu um excedente fiscal estimado em 0,8% do PIB.6 Em resposta ao choque do petróleo, o orçamento do GC para 2020 foi revisto, utilizando um preço médio do petróleo de US $33 por barril este ano. Com a redução do preço do petróleo quase pela metade em relação a 2019 e tendo em conta os custos em

4 Fonte: OPEP, relatório mensal sobre o petróleo, Outubro de 2020. 5 Fonte: Lei do Orçamento 31/20.

6 Fonte: Lei do Orçamento 31/20. Os dados são estimativas preliminares do Ministério das Finanças.

grande parte fixos da produção de petróleo a curto prazo, a rentabilidade dos produtores de petróleo Angolanos diminuiu muito, levando a uma queda drástica nas receitas do Governo com o petróleo. A produção de petróleo em Angola também tem diminuído continuamente devido ao baixo investimento e à maturação dos campos de petróleo. Estas tendências são amplificadas pelo impacto da COVID-19, que levou a uma sus-pensão sem precedentes da exploração de petróleo pelas

em-20 10 0 -10 -20 -30 -40 -50 -60 -70 3/2020 4/2020 5/2020 6/2020 7/2020 8/2020 9/2020 10/2020 11/2020

Fonte: Google https://www.google.com/covid19/mobility/

Retail and Recreation

Transit Stations

MOBILIDADE DA COVID-19 (VARIAÇÃO PERCENTUAL DA LINHA DE BASE, DIÁRIA E MÉDIA DE 7 DIAS)

Figura 1. Declínio na mobilidade das comunidades em Angola durante a COVID-19

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presas petrolíferas.7 O governo projectou que as receitas do petróleo diminuirão de 13,0% do PIB em 2019 para 9,3% do PIB em 2020.8 Apesar do alívio da dívida, as necessidades de finan-ciamento do orçamento em Angola permanecem grandes, es-timadas em cerca de 18% do PIB para 2020, e projectando-se que possam diminuir para cerca de 11% do PIB em 2021 no cenário base de uma recuperação dos preços e da produção do petróleo.9 As principais agências de classificação (por exemplo, Fitch Ratings e S&P Global Ratings) baixaram a classificação de crédito de Angola devido ao aumento contínuo das vulnerabil-idades macro fiscais.

6. Os impactos financeiros materializaram-se rapidamente e foram seguidos por perturbações significativas na econo-mia real. Como reacção à queda do preço do petróleo, os mer-cados financeiros começaram a colocar a avaliação da dívida soberana de Angola a níveis de riscos elevados, impedindo o acesso aos mercados de dívida soberana. O rendimento dos Eurobonds em circulação atingiu o pico em Abril em mais de 30% (valor de cerca de 50 cêntimos por dólar), antes de reduzir para valores mais moderados na faixa de 10% a 15% em Julho (80 a 90 cêntimos por dólar americano). Como resultado, as

au-7 A exploração do petróleo em Angola evapora-se à medida que a COVID-19 obscurece as reformas históricas. 20 de Maio de 2020. https://www.reuters. com/article/us-global-oil-angola-insight/angolas-oil-exploration-evaporates-as-covid-19-overshadows-historic-reforms-idUSKBN22W0OZ

8 Fonte: Lei do Orçamento 31/20.

9 Fonte: Relatório da equipa do FMI, Setembro de 2020

toridades decidiram participar no DSSI e iniciaram negociações bilaterais com credores oficiais quanto à necessidade de re-estruturar as dívidas existentes e de obter novos financiamen-tos.10 A redução das receitas do petróleo e a crise fiscal terão repercussões importantes na economia não petrolífera, assim como as restrições à mobilidade e à actividade económica im-postas para evitar a disseminação da COVID-19. Os sectores inicialmente mais afectados foram o do petróleo, construção, pesca e transportes.11 A redução da actividade na economia real é reflectida pelos dados de mobilidade fornecidos pelo Google, indicando uma redução de mais de 50% nas activi-dades de retalho, lazer e transportes públicos em Abril e Maio, embora tenha recuperado parcialmente nos meses seguintes. 7. A conta corrente deverá entrar em défice devido à

repenti-na perda de receitas das exportações petrolíferas. A redução das receitas do petróleo reflectiu-se na queda do saldo da conta corrente para um défice de US$0,1 mil milhões no primeiro se-mestre de 2020, em comparação com um excedente de US $1,9 mil milhões no mesmo período de 2019.12 No segundo trimestre de 2020, o petróleo e gás representaram 95,5% do total das ex-portações. As receitas das exportações de petróleo diminuíram 40% (US $13,9 mil milhões) nos primeiros dez meses de 2020 em

10 Fonte: Ministério das Finanças. Disponível em: https://www.minfin.gov. ao/PortalMinfin/#!/sala-de-imprensa/noticias/7677/actualizacao-sobre-a-estrategia-de-gestao-da-divida-publica

11 Ver: INE, Contabilidade Nacional, III trimestre 2020. 12 Fonte: BNA (via Haver Analytics)

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relação ao mesmo período de 2019.13 Como resultado, a conta corrente deverá passar de um excedente de 5,7% do PIB em 2019 para um défice de 1,3% do PIB em 2020, apesar de uma redução significativa nas importações.14 Em resposta ao choque externo, o Kwanza depreciou 41,2% face ao dólar norte-americano em Setembro (face à média de 2019), para além das depreciações de 34% e 31% verificadas em 2018 e 2019 respectivamente. Em termos reais efectivos, a moeda angolana depreciou 28% em Se-tembro de 2020 (face à média de 2019), tornando a produção na-cional do sector não petrolífero angolano mais competitiva face às importações.15 Apesar do ajuste da taxa de câmbio, as reser-vas internacionais diminuíram, com as reserreser-vas líquidas caindo para US$ 9 mil milhões a 5 de Novembro de 2020, de US$ 11,7 mil milhões no final de 2019.

8. A flexibilidade das taxas de câmbio permite que Angola possa ter uma política monetária adequada, no entanto, o aumento da inflação limita as possibilidades de estímulos mon-etários de apoio a uma economia em recessão. A prolongada depreciação do Kwanza (73% desde a passagem para uma taxa de câmbio flutuante no início de 2018), traduz-se numa pressão crescente sobre os preços dos bens transaccionáveis numa economia Angolana dependente das importações. A inflação

13 Fonte: Ministério das Finanças de Angola e EIA (via Haver Analytics)

14 Fonte: Perspectivas de Macro-Pobreza do Banco Mundial para Angola, Outubro de 2020.

15 Fonte: Bruegel. https://www.bruegel.org/publications/datasets/real-effective-exchange-rates-for-178-countries-a-new-database/

aumentou de 16,9% no final de 2019 para 23,8% em Setembro de 2020 e deverá terminar o ano em cerca de 25%,16 enquanto o agregado monetário M2 registava um crescimento anual de 30% em Setembro de 2020.17

9. Atrair investimentos estrangeiros directos (IED) no sector não petrolífero continua a ser um desafio. Os fluxos líqui-dos de IDE para Angola mantiveram-se negativos nos últimos três anos, principalmente devido a desinvestimentos no sec-tor petrolífero - devido a grandes repatriações de receitas por parte de empresas-mãe estrangeiras e quedas na produção de petróleo que afectaram os novos investimentos. Os fluxos de IED não petrolíferos aumentaram em 2019, mas permanecer-am limitados a 0,7% do PIB. No segundo trimestre de 2020, os fluxos de IED no sector não petrolífero diminuíram para US$ 32,2 milhões, de US$ 160,5 milhões no quarto trimestre de 2019, principalmente devido a uma redução significativa de IED de Portugal e da Rússia em 2020.18

10. Partes do sector bancário tiveram de ser fortalecidas antes mesmo da crise da COVID-19. Em Dezembro de 2019, o Banco Nacional de Angola (BNA) publicou o resumo de uma Avaliação da Qualidade dos Activos (AQR) referente ao período findo em

16 Fonte: Lei do Orçamento 31/20. 17 Fonte: BNA, 2020.

18 Fonte: BNA, 2020. Relatório da Balança de Pagamentos e Posição de Investimento Internacional. Iº trimestre de 2020. Nota: os dados não estão desagregados por subsector.

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31 de Dezembro de 2018. O AQR, que cobriu 13 bancos rep-resentando 92,8% do total de activos bancários, concluiu que a maior parte do sector bancário é robusto e está bem capi-talizado. No entanto, alguns grandes bancos registaram insufi-ciências de capital significativas, concentrando-se 96% das ne-cessidades de recapitalização em dois bancos públicos (Banco de Poupança e Crédito, BPC e Banco Económico). No contexto actual, a exposição dos bancos ao sector do petróleo e outros negócios que estão a ser negativamente afectados pela crise pode ter um impacto na sua rentabilidade, estabilidade e in-termediação. Os empréstimos em situação de incumprimen-to (crédiincumprimen-to malparado) mantiveram-se a um nível de 34,5% em Maio de 2020, essencialmente inalterados desde Setembro de 2019, e concentrados em dois grandes bancos públicos.19, 20 11. A crise da COVID-19 afectou negativamente as empresas.

Embora a mobilidade quase tenha recuperado para níveis pré-pandémicos em Setembro, a crise tem impactos

significa-19 O rácio médio global entre os NPLs e o endividamento bruto é inferior a 4%. Outros países da África Subsaariana com índices elevados são a Guiné Equatorial (27,2%), Chade (25,8%), República Centro-Africana (22,9%) e o Gana (21,6%). Fonte: Banco Mundial 2019. Os empréstimos em situação de incumprimento estão a aumentar em muitas economias da Europa e da África Subsaariana. (https: //datatopics.worldbank.org/world-development- indicators/stories/non-performing-loans-are-increasing-in-many-european-and-sub-saharan-african-economies.html)

20 Desde Setembro de 2019, a Recredit, um veículo de recuperação de “maus activos” criado pelo governo em 2017, assumiu mais de 80% dos NPLs do BPC. Isso ajudou a reduzir o índice geral de incumprimento sobre o endividamento bruto do sector para 22,3% no mês de Junho. Espera-se que uma nova lei das instituições financeiras, actualmente em preparação, estabeleça uma base mais sólida para a supervisão do sistema bancário.

tivos nas empresas privadas e no emprego. Um inquérito feito a 625 pequenas e médias empresas formais pelo Banco Cen-tral (BNA) mostrou que até Agosto, 15,4% das empresas tin-ham suspendido temporariamente as actividades e que 0,6% tinham encerrado definitivamente.21

12. O mercado de trabalho Angolano sofreu o impacto negativo da pandemia, embora o índice de emprego urbano pareça ter recuperado no terceiro trimestre.22 A COVID-19 reduziu

21 Fonte: BNA, 2020. Resultados do Inquérito sobre o Impacto da Covid-19 nas PME’s Referente a Agosto.

22 Ver: ILO, 2020. Monitor ILO: COVID-19 e o mundo do trabalho. 6ª edição. Setembro de 2020.

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significativamente o emprego, embora grande parte dessa re-dução pareça ser temporária, limitada ao segundo trimestre, quando grande parte da economia urbana estava parada. A taxa de emprego geral23 da população com 15 anos ou mais desceu para 59,7% no terceiro trimestre de 2020, apenas ligeiramente inferior aos 60,9% para o mesmo trimestre de 2019. Além disso, cerca de 2% dos empregados disseram que estavam ausentes do trabalho, principalmente devido à COVID-19.24 No segundo trimestre, o emprego diminuiu nas áreas urbanas e aumentou nas áreas rurais. Ainda assim, no terceiro trimestre, a taxa de emprego aumentou 11,9 pontos percentuais ano a ano nas áreas urbanas (de 50,3% em 2019 para 62,2% em 2020), tendo diminuí-do nas áreas rurais (de 76,7% para 57,4%). A taxa de emprego dos homens (48,5%) era inferior à das mulheres (76,1%). A taxa de emprego dos jovens (15 a 24 anos) aumentou ligeiramente para 36,9% (de 35,8% atrás).25 O emprego e a educação dos jov-ens exigem uma forte atenção política, uma vez que 65% da pop-ulação Angolana terá entre 15 e 24 anos em 2021.26 Também é fundamental enfrentar as desigualdades de género no mercado

23 Definida como a percentagem da população em idade activa de um país (com 15 anos ou mais) que está empregada.

24 Fonte: INE Folha de Informação Rápida _ Inquérito ao Emprego em Angola _ III Trimestre 2020. Os números para o desemprego em Angola não diferenciam entre quem realmente está à procura trabalho e quem está disponível mas não está à procura. Isto traduz-se em taxas de desemprego muito elevadas, inconsistentes com a maioria das comparações internacionais. As taxas de emprego, no entanto, são consistentes.

25 Fonte: INE Folha de Informação Rápida _ Inquérito ao Emprego em Angola _ III Trimestre 2020.

26 Fonte: INE. Projecções para a população 2014-2050.

de trabalho, já que as mulheres carregam o pesado fardo de es-tar entre as trabalhadoras da linha de frente contra a COVID-19 e estão também mais expostas ao trabalho doméstico não re-munerado.27

13. Com muitas instituições educativas fechadas devido à pan-demia, a percentagem de jovens que não trabalha nem estuda aumentou significativamente, para 32,5% (de 23,5% atrás), com 29,6% dos homens e 35,2% das mulheres nesta categoria.28 Neste contexto, o Governo reviu o Plano de Acção de Promoção da Empregabilidade (PAPE) que visa beneficiar directamente 83.000 jovens entre 2019 e 2021, com um orça-mento de Kz 21 mil milhões para o triénio.29

14. Existem desigualdades salariais significativas entre os sec-tores e os géneros. O salário médio em 2019 era de Kz 47.223 por mês, com uma disparidade salarial não ajustada entre homens e mulheres (Kz 61.727) e mulheres (Kz 28.917) supe-rior a 50%. Os salários médios das mulheres eram infesupe-riores aos dos homens em todos os sectores da economia. Em média, os salários dos trabalhadores independentes (Kz 24.506) eram os mais baixos em comparação com os do sector privado (Kz

27 Ver: i) UN, 2020. Resumo da política: o impacto da COVID-19 nas mulheres; e ii) PNUD, 2020. A desigualdade de género e a crise da COVID-19: Perspectiva do Desenvolvimento Humano.

28 Fonte: INE, 2020. Indicadores de emprego e desemprego. Inquérito ao Emprego em Angola. Relatório anual de 2019, Iº trimestre de 2020 e IIº trimestre de 2020. 29 Fonte: Lei do Orçamento 31/20.

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48.127) e do sector público (Kz 138.012).30 Embora a inflação tenha subido acima de 20%, a última revisão do salário mínimo ocorreu no início de 2019.

1.2 Impactos socioeconómicos da COVID-19

15. Angola tem elevados níveis de vulnerabilidade socioeco-nómica à crise emergente da pandemia da COVID-19 e à queda dos preços do petróleo. Prevê-se que os choques com-binados da COVID-19 e do petróleo possam aprofundar a

re-30 Fonte: INE, 2020. Indicadores de emprego e desemprego. Inquérito ao Emprego em Angola. 2019

cessão em Angola, que está em curso desde 2016. Com uma queda projectada do PIB de 4% em 202031, a pobreza aumen-tará ainda mais. Os efeitos imediatos do colapso dos preços do petróleo e da pandemia da COVID-19 são sentidos de for-ma for-mais aguda nas áreas urbanas através de ufor-ma redução dos rendimentos do trabalho devido à perda de empregos e à redução das horas de trabalho, assim como ao aumento dos preços dos alimentos importados.

16. Os efeitos socioeconómicos da COVID-19 irão dificultar os esforços de Angola no combate à pobreza. De acordo com as estimativas do Banco Mundial, a pandemia da COVID-19 poderá empurrar cerca de 88 a 115 milhões de pessoas em todo o mundo para a pobreza extrema, 28,26 a 40 milhões das quais na África Subsaariana.32 As projecções para o impacto da crise da COVID-19 na pobreza em Angola são provisórias dev-ido aos limitados dados existentes. As últimas projecções do Banco Mundial sugerem que a taxa de pobreza pode aumentar de 53,6% em 2019 para 56,4% em 2020, com o número absolu-to de Angolanos a viverem abaixo da linha de pobreza

internac-31 Perspectiva Macro da Pobreza em Angola, Outubro de 2020. http://pubdocs. worldbank.org/en/873551492188150493/mpo-ago.pdf

32 Fonte: Banco Mundial. 2020. Pobreza e prosperidade partilhada 2020:

Reversões da fortuna. Washington, DC: Banco Mundial. https://openknowledge. worldbank.org/bitstream/handle/10986/34496/9781464816024.pdf. De acordo com as estimativas mais recentes do AfDB, o número de Africanos empurrados para a pobreza extrema devido à COVID-19 ser ainda maior, com estimativas entre 28,2 e 49,2 milhões. (AfDB. 2020. Perspectiva da Economia Africana. Suplemento – Entre a COVID-19. https://www.afdb.org/sites/default/ files/documents/publications/afdb20-04_aeo_supplement_full_report_for_ web_0705.pdf)

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ional de US$ 1,90 PPP por dia a aumentar cerca de 1,5 milhões, totalizando 18,5 milhões.33

17. A pandemia está a pressionar os trabalhadores informais. Antes da pandemia da COVID-19, o emprego informal na agri-cultura - 5 milhões de pessoas - era maior do que no sector não agrícola - 2,4 milhões de pessoas - com o trabalho feminino in-formal generalizado, sendo 4,3 milhões dos 7,4 milhões de tra-balhadores informais em Angola do sexo feminino (Figura 2).34 O emprego informal aumentou para 79,6% do emprego total no terceiro trimestre de 2020, em comparação com a média de 74,5 % em 2019. Isso corresponde a cerca de 600.000 pessoas a mais no emprego informal, quase 8 milhões de pessoas no to-tal. No mesmo trimestre, o emprego informal era de 92,3% nas áreas rurais e 66,0% nas áreas urbanas, 89,5% para as mulheres e 69,6% para os homens.35 O emprego informal no sector não agrícola aumentou para 58,4% no terceiro trimestre de 2020, em comparação com um valor médio de 52,2% em 2019, o que pode estar associado a um aumento da informalidade nas

áre-33 Perspectiva Macro da Pobreza em Angola, Outubro de 2020. Os dados mais recentes sobre a pobreza são os do inquérito domiciliário IDREA 2018; as taxas de pobreza de 2019 e 2020 são projectadas com base nesta fonte de dados.

34 Fonte: INE, 2020. Indicadores de emprego e desemprego. Inquérito ao Emprego em Angola. 2019.

35 Fonte: INE, 2020. Indicadores de emprego e desemprego. Inquérito ao Emprego em Angola. IIIº trimestre de 2020.

as urbanas.36 Neste contexto, o Governo aprovou o Programa de Reconversão da Economia Informal (PREI) e uma estratégia de transição da economia informal para a formal, que visa pro-mover a formalização das unidades económicas informais. 18. A crise da COVID-19 está a ameaçar a segurança alimentar

e os meios de subsistência. Cerca de metade (53,1%) da pop-ulação empregada em 2019 trabalhava na agricultura e pesca, 59,2% das mulheres em comparação com 46,9% dos homens. Ainda assim, cerca de 94,4% dos trabalhadores agrícolas tinham empregos informais, principalmente como trabalhadores

famil-36 Fonte: ibidem. Nota: não há dados sobre o emprego informal na agricultura para o terceiro trimestre de 2020.

Fonte: INE, 2020. Indicadores de emprego e desemprego. Inquerito ao Emprego em Angola. 2019

Figura 2. Proporção da população empregada com 15 anos ou mais de idade que tem um emprego informal (2019)

Fonte: INE, 2020. Indicadores de emprego e desemprego. Inquerito ao Emprego em Angola. 2019 94,4 93,6 95,0

52,2

38,3

69,9

Angola Men Women Angola Men Women Agriculture Non-agriculture

AGRICULTURA NÃO-AGRICULTURA

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iares ou autónomos com rendimentos médios muito baixos.37 Uma forte seca atingiu as províncias do sul de Angola no ano passado. Como resultado, cerca de 562.000 pessoas viviam em crise de insegurança alimentar ou pior (IPC Fase 3 ou superior) entre Outubro de 2019 e Fevereiro de 2020.38 Esta situação foi agravada pelo aumento dos preços globais dos alimentos, uma vez que o Índice de Preços dos Alimentos da FAO (FFPI) aumen-tou gradualmente desde Junho de 2020.39 Os preços dos alimen-tos e bebidas também aumentaram em Angola, subindo 30,5% ano-a-ano em Setembro,40 colocando uma maior pressão sobre as famílias com baixos rendimentos que tendem a destinar uma grande parte dos seus rendimento à alimentação.41

19. O impacto da COVID-19 na saúde e educação ameaça exac-erbar a pobreza multidimensional. Em 2015-2016, 54,0% dos Angolanos viviam em pobreza multidimensional de acordo com o Índice de Pobreza Multidimensional de Angola (IPM-A), que foi adoptado como a medida nacional de pobreza

multidimension-37 Fonte: INE, 2020. Indicadores de emprego e desemprego. Inquérito ao Emprego em Angola. 2019

38 Fonte: WFP. 2020 Global Report on Food Crisis. Nota: a Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC) refere-se à diferenciação entre os diferentes níveis de gravidade da insegurança alimentar aguda, classificando as unidades de análise em cinco fases distintas: (1) Mínimo/Nenhum, (2) Stressado, (3) Crise, (4) Emergência, (5) Catástrofe/Fome.

39 O Índice de Preços dos Alimentos da FAO (FFPI) é uma medida da variação mensal dos preços internacionais de um cabaz de produtos alimentares. 40 Fonte: INE, Índice de Preços no Consumidor Nacional. Folha de Informação

Rápida.

41 Ver também: UN, 2020. Resumo das Políticas O Impacto da COVID-19 na Segurança Alimentar e Nutricional. Junho de 2020.

al.42 Nas áreas rurais, quase nove em cada dez pessoas viviam na pobreza multidimensional (87,8%) em comparação com 35% nas áreas urbanas, com desigualdades significativas entre Luanda e as outras províncias.43 Além disso, em 65 dos 164 municípios de Angola, mais de 90% da população vivia na pobreza multidimen-sional em 2014.44 Os impactos da COVID-19 na saúde, educação e emprego ameaçam exacerbar essas privações. O MPI-A consti-tui uma ferramenta política chave para monitorizar as tendên-cias da pobreza multidimensional e pode ser actualizado com os resultados da próxima pesquisa demográfica e de saúde (IIMS). 20. A desigualdade aumentou na última década e continuará

a ser um grande obstáculo para impulsionar uma recuper-ação económica inclusiva pós-pandemia.45 A estimativa de 2018 do coeficiente de Gini é de 51,3 (com base na distribuição do consumo).46 Entre 2008 e 2018, os 20% mais ricos da popu-lação aumentaram a sua participação no rendimento nacional de 59,4% para 63,3%. Por outro lado, os 20% mais pobres da população ficaram com apenas 2,3% do rendimento nacional

42 Fonte: INE, 2020. Pobreza multidimensional em Angola. Julho de 2020. O MPI-A considera dezasseis indicadores de privações relacionados com quatro dimensões da pobreza: saúde, educação, qualidade de vida e emprego. Com base no IIMS do INE 2015-2016.

43 Fonte: ibidem

44 Fonte: INE, 2019. Pobreza Multidimensional nos Municípios de Angola. Com base nos censos de 2014.

45 Ver também: UN, 2020. Combatendo a pandemia da desigualdade: um novo contrato social para uma nova era. Julho de 2020.

46 Fonte: Banco Mundial. 2020. Avaliação da Pobreza em Angola. https:// openknowledge.worldbank.org/handle/10986/34057

(15)

troduzido em 1990.50 As simulações projectam um declínio acentuado no desenvolvimento humano em todo o mundo em 2020, principalmente liderado pela contracção económica global e pelo encerramento de escolas como sendo um grande obstáculo à educação. No Relatório de Desenvolvimento Hu-mano (HDR) 2019, Angola classificou-se em 149º entre um total de 189 países com uma pontuação média no Índice de Desen-volvimento Humano (IDH) de 0,574.51 No entanto, a contracção económica prolongada irá minar a componente rendimento do desenvolvimento humano. A COVID-19 também exacerbou as desigualdades de género em todo o mundo, incluindo entre os trabalhadores da linha de frente, cuidados não remunerados e trabalho doméstico, dificuldades económicas com um viés em relação ao género e violência com base no género. Antes da crise da COVID-19, o valor do IDH feminino para Angola era de 0,546 em contraste com 0,605 para os homens, colocando-se entre os países com uma igualdade média-baixa.52 Como re-sultado de um esperado menor desenvolvimento humano, An-gola poderá enfrentar uma nova crise nos resultados do capital humano, que já estava abaixo em relação aos países semelhan-tes.

50 Fonte: UNDP, 2020. A COVID-19 e o Desenvolvimento Humano: Avaliar a crise, prever a recuperação.

51 Fonte: UNDP, 2019. Relatório sobre o Desenvolvimento Humano 2019. Além do rendimento, além das médias, além de hoje: Desigualdades no desenvolvimento humano no século 21.

52 Fonte: ibidem.

em 2018, em comparação com 3,2% em 2008. Como resulta-do, a pessoa média no quintil mais elevado (os 20% superior) tinha um rendimento médio que era quase 31 vezes superior ao de uma pessoa no quintil inferior (20% inferior), ver fig. 3.47 De acordo com o Base de dados de Desigualdade Mundial, em 2017, os 10% do topo receberam 48,9% do rendimento nacion-al, enquanto 1% do topo ficaram com 15,2% do total.48 A in-flação sustentada que Angola tem vivido desde 2016 (de cerca de 100% em valor acumulado) corroeu o poder de compra da população mais vulnerável na base da pirâmide social.49

21. Globalmente, o desenvolvimento humano pode diminuir este ano pela primeira vez desde que o conceito foi

in-47 Fonte: INE, 2020. Relatório sobre a Pobreza em Angola (IDR).

48 Fonte: Base de dados sobre as desigualdades no Mundo. Disponível em: https://wid.world/country/angola/

49 Fonte: INE, Índice de Preços no Consumidor Nacional. Folha de Informação Rápida.

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22. Antes da pandemia, o investimento em capital humano de Angola já era insuficiente, com um aumento da taxa de raquitismo. A pontuação no Índice de Capital Humano (HCI) do país é de 0,36, o que significa que se poderá esperar que uma criança nascida hoje em Angola poderá ter apenas uma taxa de produtividade de 36% quando entrar no mercado de trabalho em comparação com a que poderia ter se tivesse recebido cuidados de saúde e educação ideais. A pontuação de Angola está abaixo da média regional de 0,40 para a África Subsaariana, e bem abaixo do nível esperado tendo em conta

Figura 3. Percentagem do rendimento nacional, por grupo de rendi-mentos (2008 - 2018)

Fonte: INE. IBEP 2008-2009; IDR 2018-2019; IDREA 2018-2019

3,2% 2,3% 6,9% 5,9% 11,6% 10,3% 18,9% 18,2% 59,4% 63,3%

2008

2018

Lowest 20%

Second 20%

Third 20%

Fourth 20%

Highest 20%

3,2% 2,3% 6,9% 5,9% 11,6% 10,3% 18,9% 18,2% 59,4% 63,3%

2008

2018

Lowest 20%

Second 20%

Third 20%

Fourth 20%

Highest 20%

Inferiores 20%

Terceiros 20%

Superiores 20% Segundos 20%

Quartos 20%

o PIB per capita de Angola. Embora a pontuação agregada de Angola no HCI tenha permanecido inalterada no relatório de 2020 em relação à edição de 2018, a taxa de raquitismo esti-mada aumentou 9 pontos percentuais, de 29% para 38%.53 O aumento da pobreza, as restrições fiscais e a interrupção da aprendizagem causada pela crise da COVID-19 ameaçam en-fraquecer ainda mais o capital humano de Angola.

23. O sistema de protecção social continua fragmentado e tem sido afectado por uma redução progressiva das despesas orça-mentadas nos últimos anos.54 Os actuais gastos com protecção social são fracamente direccionados e amplamente ineficaz-es, pois são limitados a grupos específicos (por exemplo, apo-sentados do sector público, veteranos de guerra) e não chegam à maioria dos necessitados. Os subsídios atribuídos aos preços dos combustíveis e aos serviços públicos, por exemplo, repre-sentaram cerca de 64% dos gastos totais com a protecção so-cial entre 2010-2017, mas beneficiaram principalmente os mais abastados. As despesas com a protecção social diminuíram sig-nificativamente de 11% do total das despesas públicas em 2015 para 5% em 2018.55 No geral, o sistema de protecção social do país não está bem alinhado com as necessidades de uma

pop-53 Banco Mundial. 2020. Actualização do Índice de Capital Humano 2020: Capital Humano em tempos de COVID-19. http://hdl.handle.net/10986/34432

54 Fonte: Base de dados online do Ministério das Finanças sobre o orçamento do estado.

55 Fonte: Banco Mundial. 2020. Avaliação da Pobreza em Angola. https:// openknowledge.worldbank.org/handle/10986/34057

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ulação jovem e crescente, com altos níveis de pobreza multidi-mensional e desigualdades espaciais, de género e de geração significativas. A cobertura pela segurança social continua a ser limitada: no final de 2019, o Instituto Nacional da Segurança Social (INSS) tinha 177.690 empresas registadas e 1,8 milhão de segurados56, em comparação com uma população economica-mente activa de 16,3 milhões no mesmo ano.

56 Fonte: MAPTSS, Boletim Estatístico do Trabalho Estruturado e Segurança Social. IVº trimestre de 2019. Nota: inclui os sectores público e privado.

Fonte: Instituto Nacional de Estatística de Angola. Banco Mundial.

Figura 4. Crescimento real do PIB

Fonte: Banco Mundial. Notas: ver tabela 1.

Figura 5. Taxas de pobreza e PIB real per capita

Real GDP Oil sector Non-oil sector

12 6 6 3 0 -3 -6 -9 -12 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 100 80 60 40 20 0 51000 49000 47000 45000 43000 41000 2019 2020 2021 2018 2022

PIB real Sector não-petrolífero PIB real Taxas de pobreza (%)

Taxa de pobreza para rendimentos superiores-médios

Sector petrolífero Taxa de pobreza para

rendimen-tos baixos-inferiores

TAXAS DE POBREZA E PIB REAL PER CAPITA (KZ, CONSTANTE) TAXAS DE POBREZA (%)

(18)

2017 2018 2019 2020 e 2021 f 2022 f

Crescimento real do PIB, a preços de mercado constantes -0,1 -2,0 -0,9 -4,0 3,2 3,0

Consumo privado 2,9 -3,4 -2,1 -1,5 2,1 2,3

Consumo da administração pública 0,3 -1,7 -1,6 -6,6 -0,5 3,8

Investimento bruto de capital fixo 3,0 -5,5 -1,0 -2,4 2,0 5,0

Exportação de bens e serviços 24,5 -7,6 0,8 -6,8 6,1 2,2

Importações de bens e serviços 11,2 -16,0 0,0 -2,9 2,1 2,9

Crescimento real do PIB, a preços de factor conatantes -1,0 -3,5 -1,2 -4,0 3,2 3,0

Agricultura 0,5 -7,7 -5,5 -3,9 1,8 2,9

Indústria -3,2 -5,8 -2,8 -5,0 4,6 2,2

Serviços 2,1 0,7 1,8 -2,7 1,5 4,0

Inflação (Índice de Preços ao Consumidor) 29,8 19,6 17,1 21,7 17,8 14,5

Balança das transacções correntes (% do PIB) -0,5 7,0 5,8 -1,3 0,1 0,9

investimento directo estrangeiro líquido (% do PIB) -7,2 -6,1 -2,0 1,7 1,4 1,7

Saldo fiscal (% do PIB) -4,3 2,7 0,8 -2,8 -0,1 1,0

Dívida (% do PIB) 69,3 89,0 109,3 120,3 107,5 93,8

Saldo primário (% do PIB) -1,0 7,2 6,0 4,0 6,1 6,7

Taxa de pobreza global ($1,9 em 2011 PPP)a,b 51,8 53,6 56,4 56,4 56,5

Taxa de pobreza rendimentos baixos-médios ($3,2 em 2011 PPP)a,b 73,2 74,4 76,8 76,8 76,9

Taxa de pobreza rendimentos altos-médios ($5,5 em 2011 PPP)a,b 89,3 90,0 91,3 91,3 91,3

Notas: e = estimativa; p = previsão

(a) Cálculos baseados em 201 8-IDREA. Dados reais: 201 8. Previsão actual: 201 9. As previsões são de 2020 a 2022. “(b) Projecção usando a distribuição neutra (201 8) com pass-through = 1 com base num PIB per capita em constante LCU. “

Fonte: Banco Mundial, Pobreza e Equidade e Macroeconomia, Comércio & Práticas Globais de Investimento

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24. O governo Angolano agiu rapidamente para limitar a prop-agação da COVID-19 no país. O governo impôs restrições às viagens internacionais e domésticas e determinou o distancia-mento social como parte do estado de emergência que durou de 27 de Março a 26 de Maio. Nos termos do subsequente es-tado de calamidade, as restrições foram gradualmente reduzi-das. No entanto, de acordo com o “índice de estringência”, uma medida de restrição geral dos mandatos governamentais rel-acionados com a COVID-19, Angola manteve-se um dos países mais restritivos de África.57

25. O Governo de Angola adoptou medidas imediatas para at-enuar o impacto negativo da COVID-19 nas empresas.58 O Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) abriu uma linha de crédito de Kz 26,4 mil milhões para financiar a compra de produtos agrícolas e de pesca produzidos localmente. O BDA também aprovou uma linha de crédito de Kz 13,5 mil milhões para financiar a compra de sementes melhoradas, fertilizantes e pesticidas por empresas agrícolas nacionais, assim como um crédito adicional de Kz 750 milhões para financiar a

modern-57 O índice de estringência é uma medida composta com base em nove indicadores de resposta, incluindo encerramento de escolas, de locais de trabalho e proibições de viagens, redimensionados para um valor de 0 a 100 (100 = mais estrito).

58 Decreto Presidencial 98/20.

2. Respostas de políticas públicas.

Angola Botsuana Camarões Costa do Marfim RD do Congo Egipto Etiópia Gana Quénia Marrocos Moçambique Nigéria Ruanda Senegal África do Sul Zâmbia Zimbabué

Figura 6. Índice de estringência, países Africanos seleccionados (Janeiro - Outubro de 2020)

Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out.

Fonte: Banco Mundial, baseado em Thomas Hale, Sam Webster, Anna Petherick, Toby Phil-lips e Beatriz Kira (2020). Oxford COVID-19 Government Response Tracker, Blavatnik School of Government. (ver nota de rodapé 57).

Portuguese legend:

sem dados

0 1

20

40

60

80

100

English legend:

no data

0 1

20

40

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80

100

Portuguese legend: sem dados 0 1 20 40 60 80 100 English legend: no data 0 1 20 40 60 80 100 Sem dados

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ização e a expansão das cooperativas agrícolas e pesqueiras nas províncias. O Fundo Activo de Capital de Risco Angolano (FACRA) vai desembolsar Kz 3 mil milhões para apoiar os in-vestimentos de capital pelas cooperativas nos sectores da agri-cultura e pescas. O FACRA também irá disponibilizar uma linha de crédito de Kz 4 mil milhões para apoiar as instituições de microfinanças, escolas agrícolas e bancos de crédito agrícola para financiar jovens e mulheres empresárias que investem na agricultura, pecuária, pesca, turismo e cultura, reciclagem de lixo, serviços de formação vocacional e desenvolvimento de software. O Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Agrário (FADA) prevê a abertura de uma linha de crédito de Kz 15 mil milhões para financiar a agricultura familiar, com uma taxa de juro não superior a 3%. Por fim, o Governo acelerou a imple-mentação do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) no valor de US$2 mil milhões lançado em 2019 para in-vestir em escolas, unidades de saúde, infra-estruturas e outras iniciativas nos 164 municípios. De acordo com o Ministério da Administração Territorial, a execução do PIIM é actualmente de 10,3% da sua dotação total para 2020.59

26. As transferências monetárias foram adoptadas como uma medida chave para aliviar a pobreza. Com o apoio do Banco Mundial, o Governo estabeleceu um registo de protecção social

59 Fonte: Governo de Angola. Resumo dos Projectos PIIM. Actualizado a 22 de Outubro de 2020. Disponível em: https://piim.gov.ao/

infopublica?fbclid=IwAR37v_IgZP92ztt-RfJlO3h-5v_8jCKuE6pae_N3-KeRu-IbyUT84d9Njl8#!/

e um programa de transferências monetárias para proteger os mais vulneráveis. As fases piloto deste programa, denominado “Kwenda”, estão actualmente em curso em vários municípios com cerca de 5.800 famílias a receberem as transferências em Outubro de 2020. O Governo prevê expandir este programa, com o objectivo de atingir 1,6 milhões de famílias beneficiári-as até ao final de 2021. Cada família receberá Kz 8.500 por mês, o que representa em média 26% do consumo dos pobres (equivalente a cerca de US$ 54 em PPC de 2019).60 O projecto é financiado por um empréstimo de US$320 milhões do Ban-co Mundial, mais US$100 milhões de recursos governamentais. Além disso, foi lançado o programa de transferências mone-tárias “Valor Criança” com o objectivo de beneficiar as famílias com crianças menores de cinco anos. Na sua primeira fase, até Dezembro de 2020, o programa deve beneficiar 20.000 crianças de 14.000 domicílios em seis municípios. Cada família deve re-ceber Kz 5.000 por mês por criança.61

27. Foi adoptada uma nova regulamentação para obrigar as instituições financeiras a concederem créditos para apoiar a produção de 54 bens essenciais que estão em défice na pro-dução nacional incluídos no Programa de Apoio à Propro-dução,

60 Utilizar a Medida PPP do Projecto de Comparação Internacional: https://data. worldbank.org/indicator/PA.NUS.PPP?locations=AO

61 O programa foi desenvolvido pelo Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, com um financiamento da União Europeia - inicialmente de €9 milhões - e assistência técnica do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

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Diversificação das Exportações e Substituição de Importações (PRODESI).62 Desde 2019, o PRODESI desembolsou Kz 166,7 mil milhões dos quais: Kz 145,1 mil milhões através das medidas do BNA definidas pelo Aviso 10/2063; Kz 6,8 mil milhões pelo Pro-jecto de Apoio ao Crédito (PAC); Kz 14,3 mil milhões com as me-didas para mitigar os impactos económicos da COVID-19; e Kz 0,5 mil milhões de outras medidas de apoio financeiro.64 Será dada prioridade ao crédito para as pequenas e médias empre-sas (PMEs) e cooperativas agrícolas.65 O BNA abriu uma linha de crédito de Kz 100 mil milhões para a compra de obrigações do tesouro, detidas por PMEs.66 O BNA também aprovou um período de graça de dois meses para os reembolsos de crédi-tos para os mutuários para aliviar a sua situação durante a pan-demia. Por último, o Ministério das Finanças autorizou a recap-italização do Fundo de Garantia de Crédito FGC com a emissão de Kz 40 mil milhões em títulos do tesouro. Até 3 de Novembro,

62 Fonte: BNA, Aviso 10/2020. Ver também: i) Aviso do 4/2019 e Aviso 7/2019 do BNA; ii) Decreto Presidencial 23/19. O crédito total concedido para apoiar o PRODESI deverá ser de pelo menos 2,5% do valor dos activos líquidos de um banco no final de 2019.

63 O Aviso 10/20 do BNA obriga as instituições financeiras a alocarem pelo menos 2,5% do seu valor patrimonial líquido no final de 2019 para fornecer crédito para apoiar a produção dos bens essenciais incluídos no PRODESI. Disponível em: https://www.bna.ao/uploads/%7B1fe88ac0-fa72-41a0-adc9-c284a6fa8cb4%7D.pdf

64 Fonte: Ministério da Economia e Planeamento. Relatório semanal. 3/11/2020. 65 Fonte: BNA, Instrutivo 06/2020. O custo total do crédito não pode exceder 7,5%

por ano

66 Fonte: BNA, Instrutivo 06/2020.

o FGC emitiu dezassete garantias de crédito, totalizando Kz 25 mil milhões.67

28. O Governo concluiu uma revisão intercalar do Plano de De-senvolvimento Nacional 2018-2022 (PDN). No primeiro se-mestre de 2020 a execução média do PDN 2018-2022 foi de cerca de 44%.68 A revisão intercalar é uma oportunidade chave para avaliar o progresso vis-à-vis das metas estabelecidas pelo PDN, incluindo um melhor alinhamento entre os programas e os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). É de referir que Angola lançou a Plataforma ODS, que é concebida como um fórum nacional para promover o diálogo sobre os ODS, incluindo o Governo, a sociedade civil, o sector privado e o meio académico. Angola apresentará a sua primeira Revisão Nacional Voluntária (RNV) no Fórum Político de Alto Nível sobre o Desenvolvimento Sustentável (HLPF) das Nações Unidas em 2021.

29. No contexto macro-fiscal restrito da COVID-19, a Assem-bleia Nacional aprovou uma revisão do orçamento para 2020. Mais de metade (55,9%) das despesas orçamentadas para 2020 é destinada a operações da dívida pública, incluindo amortizações. Parte desta elevada percentagem é explicada pe-las taxas de juros elevadas da dívida de Angola. Estão entre as

67 Fonte: Ministério da Economia e Planeamento. Relatório semanal. 3/11/2020. Ver também: Angop, Executivo disponibiliza AKz 7 milhões para os micro-négocios. 22/09/2020.

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mais elevadas da África Subsaariana, reflectindo a baixa confi-ança dos credores, dado o grande nível de endividamento de Angola. As despesas orçamentadas para o serviço da dívida foram reduzidas para Kz 7.525 mil milhões para 2020 - 23,6% do PIB - de Kz 9.699 mil milhões orçamentados no mesmo ano, reflectindo o alívio da dívida externa concedida a Angola pelos seus credores.69 A dívida pública deverá aumentar de 109,2% do PIB em 2019 para 122,8% do PIB em 2020, mas deverá recuar para 112,5% do PIB em 2021.70 O serviço da dívida deve exceder 120% das receitas totais em 2020.71 As alocações para a saúde e educação para 2020 aumentaram em termos nominais e como percentagem do orçamento total, para 6,07% e 6,5%, respecti-vamente. A alocação para a protecção social diminuiu de 15,4% do orçamento total em 2012 para 3,1% do orçamento em 202072, devido a uma redução progressiva dos subsídios para o com-bustível e a electricidade. O Orçamento Geral do Estado para 2021 está actualmente em discussão na Assembleia Nacional. 30. O Governo aprovou uma reforma fiscal, aumentando a

pro-gressividade do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares e reduzindo o imposto sobre o rendimento das empresas. O imposto sobre o rendimento pessoal (IRT) foi re-visto com uma isenção de impostos para todos os rendimentos

69 Fonte: Lei 31/20 do Orçamento e do Ministério das Finanças. 70 Fonte: Relatório do FMI para o País 20/281, Setembro de 2020. 71 Fonte: Lei do Orçamento 31/20.

72 Fonte: Lei 31/20 do Orçamento e do Ministério das Finanças.

do trabalho abaixo de Kz 70.000 por mês (em comparação com o limite anterior de Kz 34.450) e taxas mais elevadas para os rendimentos mais elevados.73 O imposto sobre o rendimento das empresas (Imposto Industrial) foi reduzido de 30% para 25%. O imposto foi reduzido para 10% para a agricultura, pes-ca, silvicultura e pecuária, com uma isenção para a indústria da madeira. Bancos, telecomunicações, seguros e empresas petrolíferas angolanas são tributados em 35%.74 Os impos-tos sobre o consumo de carros de luxo importados e cigarros

73 Fonte: Lei 28/20, 22 de Julho 2020. 74 Fonte: Lei 26/20, 21 de Julho 2020.

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também foram aumentados, com a receita fiscal geral estima-da em 0,3% do PIB.75

31. O Governo aderiu à Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) e negociou a reformulação do perfil da dívida a longo prazo com alguns dos seus parceiros importadores de petróleo. Na qualidade de País Menos Avançados (PMA), Angola é elegível para a DSSI anunciada pelo G20 em Abril de 2020. Espera-se que o país saia da situação de PMA em Feverei-ro de 2021. No entanto, o Governo decidiu participar no me-canismo da DSSI e solicitou aos seus pares soberanos que ne-gociassem a suspensão do serviço da dívida em empréstimos bilaterais oficiais. O Governo também chegou a acordos sobre a reformulação do perfil da dívida fora da DSSI com dois dos seus maiores credores.76 O Ministério das Finanças declarou que não prevê a necessidade de se envolver em negociações de uma nova restruturação da dívida com os credores além das que já estão em curso77, mas também reconheceu que, se surgirem riscos imprevistos, pode ser necessário um alívio adi-cional da dívida.78 A extensão da moratória da dívida propor-cionada pela DSSI para além da sua duração inicial (até ao final

75 Fonte: Relatório do FMI para o País 20/281, Setembro de 2020. 76 Parceiros não divulgados.

77 Fonte: Ministério das Finanças, disponível em: https://www.minfin.gov. ao/PortalMinfin/#!/sala-de-imprensa/noticias/7677/actualizacao-sobre-a-estrategia-de-gestao-da-divida-publica

78 Fonte: Memorando sobre Políticas Económicas e Financeiras, Anexo I no Relatório do FMI para o País 20/281, Setembro de 2020.

de 2020), até meados de 2021 proporciona a Angola um alívio adicional da dívida a curto prazo. O Fundo Monetário Internac-ional (FMI) concluiu a terceira revisão do seu programa com An-gola, libertando US$ 1 mil milhões para desembolso imediato. O FMI também aprovou um aumento do programa em US$ 765 milhões. O desembolso total até agora atingiu os US$ 2,5 mil milhões, com um acesso a financiamentos totais no valor de US$ 4,5 mil milhões para o programa de três anos.79

32. As autoridades continuaram a fazer progressos no progra-ma de privatizações (PROPRIV). O PROPRIV, que é implemen-tado com o apoio da Cooperação Financeira Internacional (IFC), o braço para o sector privado do Grupo Banco Mundial, inclui 195 empresas públicas em vários sectores com uma previsão de serem privatizadas até 2022.80 O contexto da COVID-19, in-cluindo as restrições de viagens e maior incerteza financeira e macroeconómica, apresenta novos desafios para a imple-mentação do programa. No entanto, a companhia petrolífera nacional Sonangol abriu um concurso público para a venda das suas participações em nove empresas privadas. A privat-ização da seguradora estatal ENSA está prevista para este ano, também através de um concurso público. Também foi anuncia-da a privatização do Banco de Comércio e Indústria (BCI).

79 Fonte: Relatório do FMI para o País 20/281, Setembro de 2020. 80 Fonte: Decreto Presidencial 250/19.

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33. Angola deverá sofrer uma recessão profunda em 2020, seguida de uma recuperação gradual projectada. O sector petrolífero, que representou cerca de 30% do PIB em 201981, deverá ter uma contracção de 6,8% em 2020.82 O declínio da economia do petróleo resultará numa perda de receitas para o governo e para partes do sector privado.83 No segundo tri-mestre de 2020, o PIB real caiu 8,8% ano a ano, principalmente devido à contracção do sector do petróleo, mineração, con-strução, pesca e transportes. As indústrias transformadoras ti-veram uma contracção de 4% depois de terem crescido 10% no primeiro trimestre de 2020.84 O Índice de Produção Industrial (IPI) teve uma melhoria no primeiro trimestre de 2020 numa base trimestral, devido à expansão da produção de bens de

81 Fonte: INE, 2020. Nota de Imprensa. Produto Interno Bruto. IVº trimestre de 2019.

82 Fonte: Banco Mundial (2020) Perspectiva Macro da Pobreza para Angola, Outubro de 2020.

83 Fonte: Banco Mundial (2020) Perspectiva Macro da Pobreza para Angola, edição do Outono de 2020.

84 Fonte: INE, 2020. Nota de Imprensa. Produto Interno Bruto. IVº trimestre de 2019.

3. Recuperação económica: Previsão de base e factores de risco

consumo, principalmente alimentos e bebidas.85 No entanto, os dados para os próximos trimestres serão fundamentais para avaliar os impactos da COVID-19 na indústria transformadora. Com repercussões do fraco sector do petróleo, a contracção fis-cal e o impacto das medidas de mitigação da COVID-19, o sector não petrolífero deverá ter uma contracção de 2,6% em 2020, re-sultando numa contracção geral do PIB de 4,0% em 2020.86 Em 2021, espera-se que a economia recupere, crescendo 3,2%87, impulsionada principalmente por uma recuperação do sector petrolífero, partindo do pressuposto de que os cortes de pro-dução ao abrigo dos acordos OPEP + deverão ser eliminados gradualmente. Esta projecção num cenário base assume uma recuperação da actividade económica global em 2021, apoian-do pelo menos uma modesta subida apoian-dos preços apoian-do petróleo com níveis de produção mais elevados.

85 Fonte: INE, 2020. Folha de Informação Rápida do Índice de Produção Industrial. Iº trimestre de 2020.

86 Fonte: Banco Mundial (2020) Perspectiva Macro da Pobreza para Angola, edição do Outono de 2020.

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34. O choque do preço do petróleo aumentou significativa-mente as necessidades líquidas de financiamento de Ango-la, ao mesmo tempo que cortou o acesso aos financiamen-tos do mercado internacional. Prevê-se que as receitas do petróleo de Angola sofram uma redução de cerca de 50% em termos de dólares em relação a 2019. Dada a elevada depend-ência do GC das receitas do petróleo, isso implica uma perda de cerca de 3,2% do PIB em receitas fiscais em 2020 em relação ao que era esperado antes do choque da COVID-19. Com as receit-as não petrolíferreceit-as também afectadreceit-as pela crise da COVID-19 e a recessão a elas associada, o défice orçamental deverá atingir 2,8% do PIB em 2020.88 Dado o recente aumento nas taxas de juros das Eurobonds das obrigações governamentais, Angola perdeu o acesso aos empréstimos nos mercados de capitais internacionais. Os mercados financeiros domésticos têm uma limitada capacidade para absorver mais dívida soberana. As-sim, Angola terá de recorrer ao saque de activos ‒ incluindo US$ 1,5 mil milhões já retirados do seu fundo soberano89‒ e ao financiamento ao abrigo do programa do FMI para fazer face às necessidades de financiamento a curto prazo.

35. A projecção do cenário base está sujeita a consideráveis riscos. A contínua fraca procura global por petróleo, agra-vada pela incerteza sobre as condições futuras do mercado do

88 Fonte: Estimativa do Banco Mundial com base nos dados do Ministério das Finanças.

89 Fonte: Ministério das Finanças. Disponível em: http://www.ugd.minfin.gov.ao/ PortalDivida/#!/sala-de-imprensa/artigos/7432/press-release

petróleo, representa uma séria ameaça para as perspectivas económicas de Angola. Uma pandemia prolongada com sev-eras restrições às principais economias em 2021 ou mais pode resultar numa queda ainda mais profunda e duradoura do preço do petróleo, agravando o impacto negativo na economia Angolana. Os riscos nas projecções fiscais e da sustentabilidade da dívida pública são elevados e dependem principalmente da profundidade e duração da pandemia da COVID-19 e do futuro dos mercados globais do petróleo.

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36. A pandemia não afecta todas as pessoas da mesma forma: Aqueles que já estão em risco de ficarem para trás sen-tirão os impactos mais fortes da COVID-19. Esta crise está a revelar a urgência de que a protecção social garanta uma co-bertura universal num contexto de informalidade generaliza-da e crescente que deixa milhares de trabalhadores expostos a vulnerabilidades socioeconómicas. A pandemia aumenta as desigualdades de géneros já existentes, que exigem grande atenção em todas as políticas, incluindo uma abordagem ba-seada nos direitos humanos.90 A implementação de progra-mas de transferência monetárias, como o programa Kwenda, pode ser um elemento importante para a protecção dos po-bres e vulneráveis. A experiência internacional durante a crise da COVID-19 demonstrou que ter um grande registo social e um programa de transferência monetárias em vigor permite que os governos reajam rapidamente a choques económicos, expandindo o alcance das transferências monetárias e au-mentando os seus volumes, fornecendo assim uma tábua de salvação para as populações vulneráveis.91

90 Ver também: UN, 2020. COVID-19 e Direitos Humanos: estamos todos juntos nisso. Abril 2020.

91 Ver por exemplo a experiência no Brasil: http://documents1.worldbank.org/ curated/en/152381594359001244/pdf/Main-Report.pdf

37. Na saúde, as políticas de curto prazo devem dar prioridade à disponibilidade de equipamentos para a COVID-19, garan-tir a coordenação dos doadores da plataforma e aumentan-do a capacidade de prevenção, diagnóstico e tratamento. A curto prazo, o país deve comprometer-se a manter actualizadas as estimativas das necessidades e inventários de equipamen-tos e materiais necessários para tratar a COVID-19 e fazer com que isso seja uma plataforma para a coordenação de doadores. Foi feita uma avaliação inicial sob a liderança do Ministério da Saúde em parceria com o Banco Mundial, o Programa Mundial de Alimentos (PMA), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Este exercício identificou as necessidades de equipamentos e materiais do país para a luta contra a COVID-19, para gerir os casos e para tratamentos de terapia intensiva. O país deve con-tinuar a aumentar a sua capacidade de prevenção, diagnósti-co e tratamento, incluindo da malária, tuberculose e HIV/AIDS. Com base nos investimentos feitos para a COVID-19, o Gover-no pode fortalecer a preparação geral do sistema de saúde, aquisições e capacidade de resposta a médio prazo, especial-mente na área de operacionalização de processos e compra de

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materiais e equipamentos92 De um modo geral, a Agenda para 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e os ODS fornecem uma estrutura abrangente para abordar sistematicamente os determinantes sociais da saúde.93

38. Na frente social, deve ser dada prioridade ao apoio imedia-to para preservar o emprego e os rendimenimedia-tos. Esse apoio deve ser limitado no tempo e bem direccionado para os mais vulneráveis. À medida que a emergência de saúde diminui, o governo pode apoiar a recuperação económica com medidas adicionais para ajudar o sector privado a recuperar, incluindo crédito, reorganização de empresas em dificuldades, melhoria do clima para os investimentos e promoção da concorrência, e apoio às empresas para poderem aceder a novos mercados ou desenvolver novos modelos de negócios. A promoção de serviços financeiros digitais, incluindo dinheiro móvel, pode permitir que as plataformas digitais e o empreendedorismo criem novos empregos. O Governo poderá também consider-ar aumentconsider-ar o apoio à produção de bens essenciais, especial-mente alimentos no âmbito do PRODESI, e abrir a elegibilidade para negócios viáveis noutros sectores que possam ter sido

92 Uma das áreas que tem que ser fortalecida é o mercado comercial de medicamentos no país, que actualmente está pouco regulamentado. Como consequência, os preços são elevados e estão em circulação muitos medicamentos adulterados.

93 Os Estados Membros da OMS adoptaram a Declaração Política do Rio na Conferência Mundial sobre Determinantes Sociais da Saúde em Outubro de 2011 no Rio de Janeiro. Os determinantes sociais da saúde são as condições em que as pessoas nascem, crescem, trabalham, vivem e envelhecem, e o conjunto mais amplo de forças e sistemas que moldam as condições da vida diária.

afectados pela crise. As linhas de crédito e o apoio à liquidez ao sector privado podem ser canalizados através dos bancos privados sólidos bem estabelecidos em vez de bancos públicos. Além disso, compreender e solucionar os desafios das linhas de crédito existentes para o sector privado poderá ajudar a melhorar a sua aceitação. Será necessária uma combinação do crédito com as intervenções do lado da procura que fortaleçam as capacidades das empresas para aumentar o fluxo de projec-tos financiáveis.

39. O emprego informal e juvenil necessita de maior atenção política. Os formuladores de políticas devem adoptar pro-gramas activos para o mercado de trabalho relacionados com o PAPE, incluindo um sistema mais forte de Educação e For-mação Técnica e Profissional (EFTP). Poderão ser introduzidos incentivos fiscais para os programas de aprendizagem para encorajar os empregadores a treinar e contratar jovens com experiência profissional limitada, especialmente mulheres jov-ens. São necessárias parcerias mais fortes entre os centros de EFTP públicos e privados e as associações empresariais para adequar a formação vocacional às necessidades do mercado de trabalho. Os parceiros internacionais de desenvolvimento também podem contribuir para impulsionar os investimentos na modernização da infra-estrutura de EFTP. Estas acções de-vem ser coordenadas e integradas com as iniciativas em curso do Governo para a economia informal. Por exemplo, as micro-empresas informais podem receber incentivos para formalizar

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os seus negócios, obtendo acesso à protecção social e certifi-cação de qualificertifi-cação para os seus trabalhadores. O acesso ao crédito por parte dos jovens empresários deve ser garantido. Os programas de obras públicas constituem uma ferramenta adicional para promover a criação de empregos directos, por exemplo, fomentando as actividades de mão-de-obra intensi-va e manufactura no âmbito do PIIM. Essas intervenções de-vem estar alinhadas com a política urbana voltada para a in-clusão social, especialmente nos bairros informais nas áreas urbanas. Por fim, é crucial melhorar a desagregação dos dados sobre a economia informal e fazer estudos sobre os impactos da COVID-19 para compreender melhor os impactos sociais da pandemia.

40. Estabilizar os preços dos alimentos e garantir a disponibil-idade pode ajudar a evitar uma crise nutricional. Os preços dos alimentos aumentaram significativamente, dada a elevada procura global e o impacto inflacionário da depreciação da taxa de câmbio num contexto em que muitos dos bens alimentares comercializados no mercado são importados. O encerramento das fronteiras, a especulação e a interrupção das cadeias de abastecimento de produtos agrícolas podem ter um impacto ainda maior na segurança alimentar dos pobres, especialmente nas áreas urbanas. Muitas famílias rurais não têm qualquer tipo de segurança alimentar e têm que comprar alimentos du-rante a estação de escassez. Por isso, essas famílias são muito sensíveis aos aumentos dos preços dos alimentos nos últimos

meses. São necessárias políticas para garantir o abastecimento fiável e consistente dos produtos agrícolas e alimentícios bási-cos aos mercados e monitorizar os seus preços para evitar a escassez de alimentos e/ou o surgimento de intermediários e comerciantes que se aproveitam da crise. Para isso, as medidas para garantir que as cadeias de abastecimento permaneçam operacionais e que as novas restrições políticas não impeçam o acesso aos bens básicos e fluxos de trabalho sazonais são uma grande prioridade, mesmo que isso exija uma triagem especial e autorizações de segurança sanitária. Também são necessárias ajudas à produção alimentar de emergência e o apoio à produção doméstica de bens básicos para a prevenção da COVID-19 (por exemplo, sabão e máscaras). O Plano Inte-grado 2020-2022 para acelerar a Agricultura Familiar e a Pesca pode ser uma oportunidade para responder a essas necessi-dades.94 A agricultura familiar tem um grande potencial para contribuir não apenas para a segurança e resiliência alimentar, mas também para a promoção da diversificação económica através de ligações a jusante e a montante com as indústrias transformadoras, especialmente com a indústria de alimentos e bebidas. Ainda assim, é necessário um maior apoio aos pe-quenos agricultores para os ajudar a aproveitarem as cadeias de valor globais agroalimentares, incluindo os serviços de ex-tensão agrícola, formação vocacional, produção de sementes e fertilizantes e tecnologias digitais.

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41. Garantir o abastecimento de água, o saneamento e serviços de higiene é uma parte fundamental da resposta à pan-demia. O Banco Mundial está a trabalhar com o Governo para apoiar os serviços de abastecimento de água (ou seja, água canalizada) para fortalecer a capacidade de manter o serviço em face de uma epidemia, com planos de contingência, repa-rações, apoio, etc. Além disso, a Empresa de Água de Luanda (EPAL) tem vindo a mobilizar camiões-cisterna para o abastec-imento de água grátis em locais públicos e em áreas sem li-gações de abastecimento.

42. Para financiar as despesas, o Governo deve contar o mais possível com os recursos concessionais. Serão necessários empréstimos para responder às grandes necessidades de fi-nanciamento face à redução das receitas do petróleo, mas estes devem ser concessionais na medida do possível (por ex-emplo, no programa do FMI e de credores multilaterais ou bi-laterais que oferecem financiamento a taxas de juros baixas e prazos longos). A falta de espaço fiscal e a disponibilidade limitada de financiamento limitaram a capacidade do governo para responder à crise. É por isso importante reduzir os gas-tos públicos ineficientes, por exemplo, em subsídios para os combustíveis, e reorientá-los para a protecção social e os in-vestimentos em capital humano. O governo também deve con-tinuar os seus esforços para aumentar as receitas fiscais não petrolíferas, para reduzir a sua dependência fiscal do sector petrolífero. Para apoiar as populações mais vulneráveis, o

gov-erno deve agir rapidamente para permitir que os pagamentos digitais aumentem os pagamentos da protecção social e expan-dam a elegibilidade.

43. O Governo não deve perder de vista o plano de reformas estruturais. Criar a base para um modelo de crescimento não baseado no petróleo e impulsionado pelo sector privado tor-nou-se ainda mais urgente perante a actual crise. Para isso, são necessárias reformas estruturais que possibilitem o crescimen-to do seccrescimen-tor privado e da concorrência. Isso inclui reformas de empresas estatais e de outros monopólios, e dos preços da en-ergia e dos serviços públicos.

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Indicadores de alta frequência do impacto

da crise da COVID-19 na economia

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