Sebenta 2013|2014
Joana Bencatel
População
Definição em sentido lato - conjunto de indivíduos de uma espécie numa área definida. Os indivíduos de uma população podem ou não reproduzir-se com outros grupos dessa espécie em outros locais.
Unidade biológica ao nível da integração ecológica onde é significativo falar em taxa de natalidade, taxa de mortalidade, razão de sexos e estrutura etária quando se descreve as propriedades da unidade (Cole 1957).
Vida selvagem (wildlife)
1,5 milhões de espécies descritas na Terra.
Vertebrados compreendem apenas cerca de 3% do total e os vertebrados terrestres menos de 2%.
Contudo, políticos, opinião pública e a investigação em ecologia ainda lida desproporcionalmente com os vertebrados, sobretudo com as aves e os mamíferos.
Mas as coisas estão a mudar e as pessoas cada vez mais dão valor à conservação de toda as espécies.
A maioria dos conceitos da Biologia Populacional podem ser aplicados a todos os taxa.
Gestão (management)
Sentido pejorativo na mente de alguns, evocando manipulação?
É verdade que, em último caso, na maior parte das vezes, são os humanos e as ações humanas que são geridas, não os animais por eles mesmos;
Conservação – repetitivo em relação ao termo Gestão?
Gestão – termo que diz respeito aos resultados aplicados da biologia das populações, desde a determinação e interpretação de tendências populacionais, para regular a exploração, passando pela avaliação da viabilidade de espécies em perigo, até aos efeitos da predação em espécies presa.
Influência de uma espécie (qualquer uma) na sua comunidade e ecossistema é uma função da sua densidade local, da sua área de distribuição, e do impacto per-capita de cada membro da população.
Virtualmente qualquer problema com a conservação da vida selvagem tem como origem, pelo menos em parte, o crescimento da população humana (em termos de número
2013/2014 2 absoluto e distribuição) assim como o impacto per-capita dos humanos como fortes atores/intervenientes no estado global.
Gerir populações de animais selvagens é realmente uma questão de gerir fatores antropogénicos.
Crescimento da população humana
Crescimento a pique no último milénio devido especialmente a: • Melhor higiene e nutrição
• Revolução industrial • Agricultura global
A quebra no século XIV representa as mortes que se deveram à peste bubónica.
A quebra na taxa de crescimento da população mundial entre 1959 e 1961 ter-se-á dado devido “Grande Salto para a Frente” (Great Leap Forward) na China, que resultou na morte prematura de mais de 20 milhões de pessoas devido a fome.
Em 2012 a população mundial tinha 7 mil milhões de pessoas, com um crescimento de 7 milhões por ano, 200 mil por dia e 8500 por hora.
Mas os recursos são limitativos para a espécie humana, tal como para outras espécies. Nenhuma espécie pode crescer indefinidamente.
Algumas previsões apontam para estabilização nos 10 mil milhões, no final do século 21. A biologia das populações pode ajudar a elucidar como algumas alterações em algumas taxas vitais humanas, como o número de filhos por mulher, a idade da primeira reprodução, ou a sobrevivência em diferentes idades, influenciarão as mudanças na população.
Mudanças em parâmetros populacionais, como os descritos a seguir, podem acarretar variações futuras:
• Aumento da idade das mulheres aquando da 1ª gravidez o Maior importância da carreira
o Maior educação
• Aumento da sobrevivência e declínio na fertilidade – alteração na estrutura etária da população.
Efeito do momento: • Efeito não imediato
• Dá-se por alteração de certos parâmetros
• Continua a haver mulheres em idade reprodutiva que têm filhos
Impactos humanos na vida selvagem através de outros efeitos
para além do tamanho da população
A influência global de qualquer espécie sobre a sua comunidade e ecossistema é uma função não só de números mas também da interação per-capita (ou por indivíduo). Os humanos estão cada vez mais exigentes e consomem cada vez mais.
2013/2014 3 Extração e utilização de energia aumentaram assustadoramente e afetaram profundamente o ambiente global e outras espécies, direta e indiretamente.
Maior percentagem da população mundial a viver em meio urbano; número de pessoas por habitação a diminuir → número de habitações a aumentar → maior quantidade de energia e recursos utilizados.
Humanos são fortes intervenientes.
Taxas de extinção de outras espécies
Excluindo os peixes, os restantes vertebrados terrestres (mamíferos, aves, répteis e anfíbios) são menos de 2% das espécies de eucarióticos descritas.
Taxa atual de extinção entre aves e mamíferos = 0,5 espécies por ano.
33 a 333 vezes mais elevada do que a esperada pela informação disponível: 0,015 a 0,0015/ano. Tendo em conta os valores históricos de extinção, nesta altura devia haver uma taxa de extinção muito menor.
Portanto, existem razões filosóficas e utilitárias para darmos importância à perda de espécies e de diversidade genética, assim como à perda de serviços ecológicos, de que dependem outras espécies e a nossa.
Muitas ações de conservação desenvolvidas nos últimos anos têm mostrado sucesso. A intenção aqui é instruir-vos e dar-vos algumas ferramentas para que seja possível melhorar a situação.
Humanos e a exploração sustentável
Nem todas as espécies são negativamente afetadas por todas as atividades humanas. Algumas espécies tornaram-se muito abundantes.
Os humanos exploraram um grande número de espécies sem efeitos negativos.
O estudo dos efeitos da exploração de populações de vertebrados selvagens e da regulação dessa exploração tem raízes mais profundas no tempo do que qualquer outro tópico em ecologia aplicada.
Exemplo do canguru na Austrália; caçado (aumentou em abundância) - versus exploração de carneiros - versus valor turístico deste símbolo da Austrália
Resumindo:
Espécies exploradas e espécies não exploradas em declínio são movidas por processos ecológicos similares, e a história da exploração cinegética segue em paralelo e ultrapassa a conservação de espécies não exploradas.
Portanto, a conservação de espécies exploradas está inseparavelmente relacionada com a conservação de espécies não exploradas.
2013/2014 4 Ecologia, biologia da conservação e biologia das populações convergiram e entreajudam-se para a utilização do conhecimento biológico, dados e modelos para nos ajudar a compreender e gerir as interações entre os humanos e as outras espécies.
Aves
Em Portugal Continental já terão sido registadas cerca de 429 espécies de aves em estado selvagem
A este total devem ser adicionadas as espécies da categoria D (13 espécies), que são contabilizadas separadamente
Espécies de ocorrência regular no estado selvagem: cerca de 300. • Continente: 274
• Açores: 34 • Madeira: 50
Habitats e algumas aves correspondentes em Portugal
Estepes
• Em Portugal não existem verdadeiras estepes, mas existe um habitat com características muito semelhantes, “criado” pela agricultura extensiva
o Culturas cerealíferas • Planícies alentejanas • Sul do país
• Sazonalidade bastante marcada
• “Ao longo dos últimos séculos muitas espécies incluindo aves, mamíferos, repteis, anfíbios e insectos adaptaram-se a este habitat formando um ecossistema que está dependente da manutenção da atividade agrícola tradicional”
(
http://www.lifeesteparias.lpn.pt/Especies-e-Habitat/Habitat/Content.aspx?tabid=2380&code=pt) ! Espécies
• Abetarda (Otis tarda
)
o Uma das espécies mais emblemáticas do Alentejo
o A mais pesada das aves europeias, e a maior ave que temos em Portugal
o Machos maiores que as fêmeas o Plumagem castanha
o Pescoço esbranquiçado
o Pouco comum e com uma distribuição muito localizada
2013/2014 5 o extensões abertas e dificilmente
tolera aproximações de pessoas a menos de um quilómetro
o Espécie seja sobretudo residente o Migrações entre Norte de África e
Sul da Europa
• Sisão (Tetrax tetrax)
o Pescoço característico (macho) " Negro
" Riscas brancas o Ave mais pequena o Dimorfismo sexual
" Fêmea acastanhada, sem o pescoço característico
" Macho tem uma das primárias mais curta que as restantes • Dá origem ao silvo característico quando a ave voa
o Ambos os sexos apresentam uma enorme mancha branca nas asas, em voo
o É uma espécie essencialmente residente, mas no Inverno pode formar bandos de até varias centenas de aves
• Tartaranhão-caçador (Circus pygarus) o Ave de rapina
o Nidifica no solo
o Machos têm uma ou duas barras transversais pretas debaixo das asas o Fêmeas de difícil distinção das de
outras espécies o Pouco abundante
o Nidificante estival (reproduz-se no verão)
o Migradora, presente no país a partir de meados de Março até Setembro o Está ausente durante o período de Inverno
• Cotovia-de-poupa (Galerida cristata) o Passeriforme
" Pequena o Nidifica no solo
o Pequena poupa característica o Plumagem em tons acastanhados o Razoavelmente comum
o Residente
" Presente em Portugal durante todo o ano. • Perdiz-vermelha ou perdiz-comum (Alectoris rufa)
o Emblemática na Península Ibérica o Também existe no sul de França o Espécie cinegética
o Aspeto de galináceo
2013/2014 6 o Plumagem é composta por tons de
cinzento, preto, branco e ruivo
o Garganta branca orlada de negro, o ventre ruivo, o bico vermelho e as patas vermelhas.
o Relativamente comum em todo o país, residente e que pode ser observada em Portugal durante todo o ano
• Codorniz (Coturnix coturnix) o Migradora
o Mais pequena que a perdiz
o Facilmente localizável pelo seu canto o Muito difícil de observar
o Pequena e rechonchuda o Padrão ocre malhado
o Macho tem uma facha preta na garganta, enquanto a fêmea é mais avermelhada na garganta
o Listras no dorso e flancos em ambos os sexos
o Ocorre como invernante, sobretudo nas zonas húmidas do sul, mas é uma espécie maioritariamente estival, encontrando-se no nosso território principalmente entre Março e Outubro
o Distribui-se de forma esparsa de norte a sul do país
• Francelho ou Francelho-das-torres ou Peneireiro-das torres ou Peneireiro-de-dorso-liso (Falco naumanni)
o Ave de rapina, falcão o Migradora
o Símbolo de projetos de conservação " Esteve à beira da extinção em
Portugal
" Hoje é um ícone o Insectívora
o Ausência de pintas pretas na parte superior das asas, coberturas azuladas, retrizes centrais mais alongadas e unhas brancas
o Embora seja bastante raro a nível nacional, é localmente comum, chegando a formar colónias com algumas dezenas de casais
o Nidifica em edifícios arruinados e alimenta-se nos campos agrícolas
o Migrador precoce, que chega geralmente em Fevereiro e parte em Julho ou Agosto
Fragas/Escarpas/Penhascos
• Grifo ou abutre-fouveiro (Gyps fulvus) o Muito grande, maior que as águias o Voa grandes distâncias planando o Plumagem acastanhada
o “Dedos” das asas facilmente visíveis o Gregário, forma frequentemente
2013/2014 7 o Tonalidades castanho-cremes das coberturas, pescoço claro e extremidade
das asas claramente revirada para cima.
o Em Portugal nidificam algumas centenas de casais de grifos
o A espécie está presente no nosso país ao longo de todo o ano, mas efetua movimentos amplos fora da época de reprodução, surgindo então noutras zonas do território
• Águia-real (Aquila chrysaetos)
o A maior das águias portuguesas o Ocorrem em zonas inóspitas do interior o Tonalidade pálida da nuca
" Pode ir do castanho claro ao dourado quase branco
o O tom dos adultos é no geral escuro
o Os juvenis e imaturos exibem “janelas” brancas nas asas e uma banda branca larga na cauda
o Espécie ameaçada
o águia-real é rara e de distribuição muito localizada, quase exclusivamente restringida ao interior do território, encontrando-se sobretudo nos vales encaixados e pouco acessíveis
o Ocorre durante todo o ano, sendo mais fácil
a sua observação no início da Primavera, quando efectua as paradas nupciais.
• Cegonha-Negra (Ciconia nigra) o Rara
o Protegida o (anilhada)
o Pernas longas e vermelhas o Bico longo e vermelho o Padrão preto com reflexos
esverdeados
o Branca no abdómen o Bastante tímida e bastante
sensível à perturbação o Ameaçada sobretudo
devido a perda de habitat
o Nidificante, sendo sobretudo estival, ocorre também um pequeno contingente invernante, este último, quase exclusivamente na metade sul do território.
o Ocorre em maior número a partir de finais de Fevereiro até Setembro o Durante o Inverno, é bastante rara, havendo algumas observações
dispersas pelo Alentejo, geralmente na proximidade de açudes ou albufeiras
• Falcão-peregrino (Falco peregrinus)
2013/2014 8 o Asas largas, cauda curta, barrete escuro e patas amarelas
o Pouco comum
o Frequenta sobretudo zonas rochosas, onde constrói o seu ninho
o No Outono e no Inverno também pode ser observado a caçar em meio urbano ou em zonas húmidas costeiras.
o Está presente em Portugal durante todo o ano.
Floresta
• Pombo-torcaz (Columba palumbus)
o Alguns residem em zonas urbanas o Presente em Portugal durante todo o ano o No Outono/Inverno, vêm indivíduos do Norte
da Europa
o O maior dos nossos pombos • Rola-brava (Streptopelia turtur)
o Migradora
" Chega em Março-Abril " Parte em Setembro o Colar típico de adulto
o Tendência regressiva desde há várias décadas
• Gaio (Garrulus glandarius) o Corvídeo
o Da família das pegas e gralhas
o Apanha bolotas e esconde-as em buracos o Penas das asas azuis
o Bigode escuro
o Bem distribuído de norte a sul do território o Também pode ser visto em meio urbano
o Espécie residente, observado durante todo o ano • Pica-pau-malhado-grande (Dendrocopos major)
o Hábitos florestais o Difícil observação
o Mancha vermelha na nuca, nos machos o Residente em Portugal
• Coruja-do-mato o Rapina
o Característica do nosso mato o Hábitos estritamente noturnos o Tom acastanhado
o Asas relativamente curtas e arredondadas o Canto característico
o Residente em Portugal
o Particularmente comum nos extensos montados de sobro e azinho e em certos pinhais maduros
2013/2014 9 • azul (Parus caeruleus) e
Chapim-real (Paru s major) o Passeriformes
o Muito pequenos e muito ativas o Distribuem-se por todo o território o Ocorrem durante todo o ano
Matos e sebes
• Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) o Passeriforme
o Temos populações residentes o Também vêm algumas migradoras • Papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca)
o De passagem em Portugal
• Toutinegra-de-barrete-preto (Sylvia atricapila) o Dimorfismo
" Macho com barrete preto • Cartacho-comum • Cartacho-nortenho o Migradora • Melro-preto o Turdídeo • Tordo-comum
o Já foi muito rara
o Está a aumentar de abundância o Espécie cinegética
• Pintassilgo • Poupa
o Migradora
• Estrelinha-de-cabeça-listrada
o Ave das mais pequenas que temos • Coruja-das-torres
o Mais ligada ao meio urbano • Andorinha-dos-chaminés
o Juvenis à frente o Ligada ao meio urbano • Rola-turca
o Ocorre em todo o país e nos Açores o Ligada ao meio urbano
• Pardal-comum
o Ligada ao meio urbano •
2013/2014 11
Mamíferos terrestres em Portugal
INSECTIVORA
1. Ouriço-cacheiro, Erinaceus europaeus
2. Musaranho-anão-de-dentes-vermelhos, Sorex minutus 3. Musaranho-de-dentes-vermelhos, Sorex granarius 4. Musaranho-de-água, Neomys anomalus
5. Musaranho-de-dentes-brancos, Crocidura russula
6. Musaranho-de-dentes-brancos-pequeno, Crocidura suaveolens 7. Musaranho-anão-de-dentes-brancos, Suncus etruscus
8. Toupeira-de-água, Galemys pyrenaicus • Rara
• Mais comum no interior norte 9. Toupeira, Talpa occidentalis
CHIROPTERA
Morcegos (27 espécies) • Rinolophus (4) • Myotis (7) • Pipistrellus (5) • Hypsugo (1) • Eptesicus (1) • Nyctalus (4) • Barbastella (1) • Plecotus (2) • Miniopterus (1) • Tadarida (1)LAGOMORPHA
Coelhos, lebres (manchas pretas nas pontas das orelhas), picas (não temos cá). Não são roedores.
Objetos de exploração cinegética.
1. Coelho-bravo, Oryctolagus cuniculus 2. Lebre, Lepus granatensis
RODENTIA
Roedores, micromamíferos Ratos, esquilos, etc.
2013/2014 12 (14 espécies)
1. Esquilo, Sciurus vulgaris
2. Rato-dos-lameiros, Arvicola terrestris 3. Rata-de-água, Arvicola sapidus 4. Rato-de-Cabrera, Microtus cabrerae 5. Rato silvestre Microtus arvalis
6. Rato-do-campo-de-rabo-curto, Microtus agrestis 7. Rato-cego, Microtus lusitanicus
8. Rato-cego-mediterrânico, Microtus duodecimcostatus 9. Rato-do-campo, Apodemus sylvaticus
10. Ratazana, Ratus rattus
11. Ratazana-de-água, Ratus norvegicus 12. Rato-caseiro, Mus domesticus 13. Rato-das-hortas, Mus spretus 14. Leirão, Eliomys quercinus
• Espécie rara • Difícil de observar
ARTIODACTYLA
(6 espécies)
Mamíferos com algum porte.
Todos alvo de exploração cinegética 1. Javali, Sus scrofa
2. Veado, Cervus elaphus • Maior que o corço 3. Corço, Capreolus capreolus
• Hastes pequenas características • Mais pequeno
4. Gamo, Dama dama
• Tamanho intermédio • Hastes espalmadas 5. Muflão, Ovis ammon
6. Cabra-montês, Capra pyrenaica
• Foi extinta em Portugal mas está a voltar, vinda de Espanha
CARNIVORA
(13 espécies) • Canidae
o Lobo-ibérico, Canis lupus signatus o Raposa, Vulpes vulpes
• Felidae
o Lince-ibérico, Lynx pardinus o Gato-bravo, Felis silvestris
2013/2014 13 • Viverridae
o Geneta, Genetta genetta • Herpestidae
o Sacarrabos, Herpestes ichneumon • Mustelidae
o Doninha, Mustela nivalis o Arminho, Mustela erminea o Toirão, Mustela putorius o Fuinha, Martes foina o Marta, Martes martes o Texugo, Meles meles o Lontra, Lutra lutra
o Visão-americano, Mustela vison
Comportamento
O comportamento de aves e mamíferos é uma componente essencial para a gestão e conservação das suas populações, podendo ter efeito em alterações de abundância e a nível espacial e temporal das espécies.
Dependem e variam com:
• Ritmos diários ou circadianos o Atividade diária
o Referem-se às atividades dos animais que exibem um padrão de regularidade de cerca de 24 horas.
o Exemplos:
" Fêmea de Coiote (Canis latrans) tem uma taxa de movimento muito maior à noite, estando praticamente quieta entre o amanhecer e anoitecer.
" Codorniz em cativeiro • …
2013/2014 14 • Ritmos circanuais
o Exemplos
" Cartaxo-comum (Saxicola torquata)
• Tem o tamanho dos seus testículos aumentado sempre na mesma época, quando os dias começam a ficar mais longos o Isto deve-se provavelmente a ter a época de
reprodução nessa altura, pela primavera
• Na altura em que os dias atingem o pico do seu “tamanho”, o tamanho dos testículos começa a reduzir
• Podemos ver também que as mudas se dão após a suposta época reprodutiva, dando-se a muda das penas de voo antes das penas do resto do corpo
• (Molt- muda)
" Ciclo anual do Pato-real (Anas platyrhynchos) • Indivíduos migradores
• A maioria dos indivíduos tenta reproduzir-se quando tem 1 ano
2013/2014 15 • É possível ver no esquema que cada “ação” é feita numa
altura específica do ano
• Têm a época de reprodução e de muda bem definidas, que coincidem com os meses de maior disponibilidade de alimento
• Na altura de maior escassez os indivíduos dispersam
• Comportamento territorial • Comportamento gregário
o Agregação de grupos de animais
o Ex: quando há pouca água, havendo só uma fonte, vários animais, mesmo predadores e presas, juntam-se nessas áreas, pondo outros comportamentos de lado
• Seleção de habitat • Dispersão (juvenil) • Migração
Migração
• Movimentos regulares de e para áreas de reprodução • Comum nas Aves
• Existe
o Migração latitudinal ! Norte-Sul o Migração altitudinal
2013/2014 16 • Vias migratórias ou corredores migratórios – unidades de gestão
• É mais raro observar migração nos mamíferos o Algumas espécies morcegos migram o Migrações altitudinais são mais comuns Exemplo:
• Galinhola (Scolopax rusticola)
o Em Portugal continental a Galinhola só está presente durante o Outono e Inverno mas nos arquipélagos dos Açores e Madeira é residente
o Através da distribuição das recuperações de anilhas no estrangeiro de galinholas anilhadas em França, é possível ter uma noção dos percursos feitos por estas aves.
o Foi identificado um fluxo Feno-escandinavo e um fluxo oriental
o Também no Norte da Península Ibérica é recuperado uma quantidade notável de anilhas
Conectividade migratória
• http://www.environment.ucla.edu/ctr/research/Inf-Diseases/migratory_connectivity.html
• Conectividade migratória – termo usado para descrever a relação entre populações de animais (especialmente aves) e locais geográficos, em diferentes alturas do ano
• Em geral, as populações de uma espécie migratória usarão uma das quatro principais rotas migratórias entre locais de reprodução e locais de invernada. • Várias populações da mesma espécie podem usar as mesmas rotas migratórias,
havendo um rota migratória usada mais intensamente – conectividade forte – ou podem usar rotas migratórias diferentes, praticamente sem sobreposição –
2013/2014 17 concetividade fraca (difusa).
• Marcadores como o uso e a composição de isótopos estáveis em tecidos animais podem determinar a origem geográfica de indivíduos ao longo das rotas migratórias e essa técnica também tem sido acoplada a anilhagem.
• Estudos de conectividade migratória são particularmente úteis para o desenvolvimento de estratégias de conservação, monitorização de doenças transmitidas por aves e para a compreensão de genética de populações, fluxo génico e especiação.
2013/2014 18
Comportamento reprodutivo
Aves
Muitas vezes, durante a época reprodutiva os animais (normalmente os machos) tornam-se mais conspícuos (mais fáceis de detetar), tornam-sendo possível obtornam-servá-los mais facilmente. Comportamentos como vocalizações, voos de exibição, etc, facilitam a tarefa.
Esta é uma altura em que se aproveita para fazer contagens – avaliação da abundância.
Codorniz
• Fasonídeo
• Difícil de observar • Vem dos Açores
• Permanece entre a vegetação
• O canto é uma manifestação importante dos machos na época de reprodução • Machos ajudam-se uns ao outros a arranjar fêmeas
• Não são muito territoriais
• Os cantos podem ajudar a calcular a abundância no período máximo de atividade Técnica:
• Usa-se um mapa onde se regista
o Os percursos/transectos feitos a pé
o Marca-se os sítios onde se ouviu os machos
• Deve-se fazer 2 passagens nos mesmos transectos e registar nas duas vezes, as vocalizações ouvidas
• Na 2ª passagem a pessoa faz uma vocalização ou usa um chamariz eletrónico para fazer a vocalização
• Machos que permaneçam no mesmo local, vocalizam na 1ª e na 2ª vez. • Faz-se todos os anos
• Chega-se a um valor final do nº de machos numa determinada zona • Pode-se calcular
o Nº de machos a vocalizar por quilómetro
o Nº de aves/hectare
" Necessidade de outras ferramentas
• Exemplo de um registo de machos ao longo de um percurso (Lagoa, São Miguel)
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Narceja-‐comum
• Gallinago gallinago
• Frequentam zonas húmidas • Limícola
• Bico, pescoço e patas compridos • Barriga branca
• O seu voo, irregular e ziguezagueante é, geralmente, denunciado por um «tchuak» seco e tenso a fazer lembrar uma bota da borracha a sair da lama • A estimativa da sua abundância é também feita na
época de reprodução
• Invernante comum, ocorre sobretudo entre Setembro e início de Abril.
Galinhola
• Scolopax rusticola
• Espécie ligada ao meio florestal • Muito difícil de observar
• Machos, na época de reprodução, ao fim do dia ou de manhã, voam com um voo muito característico e fazem um piar muito audível
• Limícola
• Da mesma família das narcejas
• Bico forte e comprido e uma cauda curta, sendo as suas asas compridas e arredondadas
• Barriga malhada
No tipo de censo referido antes, só conseguimos contabilizar a parte masculina da população.
Se soubermos a razão machos/fêmeas em cada espécie, podemos estender os valores à população total ! Índices de Abundância
Pode calcular-se o nº de contactos com as aves dentro de um período de tempo. Quantos mais os registos, mais elevado será o índice.
Compara-se frequentemente índices de vários anos.
É importante haver padronização das condições em que as contagens são realizadas (período do ano, condições climatéricas, etc.), de forma a poderem ser feitas comparações com mais confiança.
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Comportamento territorial
Território – parte do domínio vital (home range). Tamanho varia muito entre espécies. Domínio vital pode incluir partes que são partilhadas com outros indivíduos rivais, mas o território é exclusivo.
Territórios impõem um limite ao tamanho da população reprodutora. Exemplo: Suricata
• Num mapa podemos distinguir as áreas:
o Domínio vital de um ou mais grupo (a cinzento) o Fronteiriças do Território
o Centrais do Território
• As áreas são calculadas por registo de observações de indivíduos
• Recorre-se ao uso de dados de localização geográfica e programas GIS/SIG (Sistema de Informação Geográfica)
• Determina-se a distribuição espacial e distingue-se a variação da intensidade de ocupação das várias zonas
• Na imagem podemos ver que as tocas para reprodução (estrelas) estão mais concentradas nos núcleos dos territórios e a latrinas partilhadas (cruzes) estão nas zonas mais fronteiriças das áreas vitais dos vários grupos.
Dispersão (juvenil)
Em muitas espécies os juvenis abandonam os domínios vitais em que foram criados e procuram novos locais.
Efeitos:
• Manutenção da variabilidade genética da espécie • Repovoamento de áreas com poucos indivíduos
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Censos -‐
Avaliação da abundância
Os métodos de censo ajudam-nos a quantificar a abundância das populações. Isto é importante porque:
• Nos permitem expressar com clareza qualquer informação sobre a abundância das espécies: sempre será mais informativo indicar que há 3, 30 ou 300 indivíduos numa população do que dizer que há "poucos", “bastantes" ou "muitos“;
• A quantificação permite-nos incorporar o poder analítico e modelador da estatística no estudo dos fatores que determinam a abundância das espécies (um dos
objetivos do estudo das populações);
• O conhecimento do número de indivíduos de uma população pode ser fundamental numa perspetiva conservacionista (há tamanhos críticos abaixo dos quais as populações colapsam) ou aplicada (deve saber-se quantos indivíduos existem numa população para estimar quantos podem ser capturados).
Resumindo, o cálculo das abundâncias é importante para: • Conhecer as espécies
o Descobrir o efeito populacional e a distribuição da população • Gerir
• Explorar • Conservar
Existem vários métodos de censo.
População
Objeto de estudo das técnicas de censo.
Os censos realizam-se em lugares e momentos concretos, pelo que é importante a delimitação temporal e espacial da nossa unidade de estudo – população.
Algumas definições:
• ODUM (1972) - População é um grupo de organismos da mesma espécie, que ocupa um lugar determinado e apresenta características próprias inexistentes nos indivíduos (densidade, natalidade, emigração e migração).
• KREBS (1972) - População é um grupo de organismos da mesma espécie que ocupam um espaço particular num determinado momento. As fronteiras de uma população tanto no tempo como no espaço serão vagas e ficarão estabelecidas na prática pela arbitrariedade do observador.
• MARGALEF (1974) - População é um coletivo definido arbitrariamente no que diz respeito ao tempo e espaço.
Definição de Odum será a melhor, considerando os censos, limitando o que estamos a analisar.
2013/2014 22 Técnicas de censo visam estudar a população, que deve ser delimitada com cuidado. Distinções importantes:
• População fechada
o Aquela que é previsível que não haja emigração nem imigração, natalidade e mortalidade durante o período de realização do censo
• População aberta
o O contrário da anterior e
• População acessível
o Controlada pelos métodos de censo o O que conseguimos contactar
o Ex: no caso da codorniz só detetamos os machos que cantam • População real
o Cujos efetivos se pretende delimitar
Frequentemente a população acessível é só uma porção da população real.
Distribuição dos animais no espaço
Bases estatísticas da amostragem
Normalmente será impossível contar todos os animais. Por isso, o que é feito é uma amostragem.
Amostragem - subdivisão da área ocupada pela população em unidades de amostragem N
Amostra – conjunto de unidades de amostragem em que a espécie foi realmente amostrada – n
Exemplo 1:
• A área ocupada pela população (área branca delimitada) foi dividida em 15 unidades de amostragem (conjunto de todos os quadrados), ou seja, N=15
• A amostra (quadradinhos pretos) foi obtida de 4 unidades de amostragem, ou seja,
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Parâmetros estatísticos
Média aritmética:
! x N = tamanho da população xi = nº de indivíduos na unidade de amostragem i
n = número de unidades de amostragem recenseadas N = número total de unidades de amostragem
Resultados em cada unidade de amostragem podem não ser idênticos, devido a: • Imprecisão dos métodos
• Distribuição não uniforme da população
• Heterogeneidade entre as várias unidades de amostragem
Isto coloca em questão a fiabilidade da média obtida e o cálculo do tamanho da população. Assim, é importante avaliar a dispersão dos valores.
O melhor será calcular o intervalo de confiança, isto é, dizer que a população está entre tanto e tanto.
Parâmetros mais utilizados para avaliara a dispersão dos valores: • µ - Média real da população ! - Média da amostra
• σ2 – Variância real da população !s2 – Variância da amostra
o Variância - indica a dispersão dos valores do parâmetro que se está a medir na população (ex: nº de animais/ha)
• Desvio padrão amostral (s) – representa a distribuição dos valores. Corresponde à média das médias
s= s!
! Para o Exemplo 1: • n=4
• N=15
• Nº de indivíduos em cada unidade de amostragem: 10, 15, 11, 17 • Média da amostra ! =!"!!"!!!!!"! =!" ! = 13,25 • Variância da amostra ! s!=(!"!!",!")!!(!"!!",!")!!(!!!!",!")!!(!"!!",!")! !!! = !",!" ! = 10,917 • Desvio padrão ! 𝑠 = 10,917 = 3,30
2013/2014 24 A média caracteriza bem a amostra?
Erro padrão da média = !
!
Erro padrão quantifica o quão confiantes estamos de que a média estimada esteja próxima da média real.
Quanto maior for o tamanho da amostra (n), menor será o erro padrão e maior será a confiança de que a média estimada esteja próxima da média real.
Coeficiente de covariação (CV) = !×100
O coeficiente de covariação expressa a variação relativamente à média (neste caso em percentagem)
! Para o Exemplo 1: • n=4
• =13,25 • s=3,30
• Erro padrão da média =!,!"! = 0,825
• Coeficiente de covariação ! CV =!",!"!,!" ×100 = 24,9%
Tipos de distribuição e modelos que as caracterizam
• Distribuição uniforme ou regularo Variância (σ2) < média (µ)
o Distribuição binomial positiva • Distribuição ao acaso
o Variância (σ2) = média (µ)
o Distribuição de Poisson
• Distribuição contagiosa (em agregados) o Variância (σ2) > média (µ)
o Distribuição binomial negativa
Deve ter-se em conta a questão da escala. Para isso será necessário fazer um estudo prévio e ter um know-how prévio.
Em diferentes escalas podemos ter tipos de distribuição diferentes.
2013/2014 25 k – parâmetro indicativo do grau de agregação da população; (quanto menor for k, maior o grau de agregação)
k pode ser calculado utilizando vários procedimentos: • Método aproximativo muito simples:
a) quando o número de unidades de amostragem é elevado (n>50)
b) quando o número de unidades de amostragem é pequeno (n<50)