SHMmensus: monitorização da integridade estrutural via
aplicação web
Helena Figueiras
1Carlos Rodrigues
2Carlos Félix
3Joaquim Figueiras
4Resumo
A monitorização da integridade estrutural tem vindo a ganhar importância no acompanhamento do desempenho das infraestruturas da engenharia civil. Começam, por isso, a proliferar os casos de estruturas monitorizadas com recurso aos mais modernos sistemas de medição automática. Acumulada ao longo de vários anos, a experiência do CONSTRUCT-LABEST e da NewMENSUS estende-se a várias pontes e edifícios em construção e em operação, com políticas de conservação proativa com base na monitorização estrutural.
Tem-se, no entanto, verificado que o contributo dos sistemas de monitorização para o acompanhamento destas obras só se torna efetivo se estiver associado a meios que viabilizem o acesso aos respetivos resultados em tempo real e com indicadores de fácil análise. Mais ainda, devem ser capazes de alertar as entidades envolvidas assim que sejam detetados cenários anómalos no sentido de promover a tomada de decisões consentâneas. Esta comunicação apresenta uma estratégia baseada numa aplicação informática, denominada SHMmensus, acessível remotamente através da internet, desenvolvida especificamente para consulta e gestão dos resultados da monitorização estrutural em tempo real. Mostram-se as suas potencialidades recorrendo a quatro casos ilustrativos de diferente natureza. Palavras-chave: monitorização estrutural; aplicação informática; resultados em tempo real; vigilância e alerta;tomada de decisões.
1. INTRODUÇÃO
Para uma gestão mais eficiente do património construído, a permanente recolha de informação específica sobre o estado efetivo das estruturas revela ser fundamental. Só assim pode ser racionalmente avaliada a condição das obras, efetivado o seu diagnóstico e projetadas, em consonância, as intervenções necessárias. Para o efeito, exige-se a recolha criteriosa de informação. Observa-se que, quanto melhor e mais vasta for a informação recolhida in situ e quanto mais eficazes forem os métodos de diagnóstico aplicados, mais eficientemente, isto é, comportando menores custos e conduzindo a melhores desempenhos, poderão ser planeadas e executadas as intervenções necessárias.
1NewMensus, Lda e CONSTRUCT, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto; e-mail: helena.figueiras@newmensus.pt CONSTRUCT, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto; e-mail: carlos-rodrigues@outlook.com
2 CONSTRUCT, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto; e-mail: carlos-rodrigues@outlook.com
3 NewMensus, Instituto Politécnico do Porto, Instituto Superior de Engenharia e CONSTRUCT, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto; e-mail: carlos.felix@newmensus.pt
4NewMensus, Lda e CONSTRUCT, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto; e-mail: joaquim.figueiras@newmensus.pt
Numa ótica tradicional que vai proliferando até aos dias de hoje, a avaliação da integridade estrutural tem sido realizada, na grande maioria dos casos, através de inspeções periódicas, conforme se ilustra na Fig. 1 (a). Estas inspeções, de natureza predominantemente visual ou, nalguns casos, comportando ensaios pontuais, podem seguir procedimentos e frequências muito dependentes da legislação local, do dono de obra e da sua disponibilidade técnica e financeira.
Apesar de hoje em dia existir uma experiência sedimentada na interpretação dos resultados das inspeções, têm sido apontadas várias falhas relacionadas com a sua capacidade em detetar precocemente danos estruturais. O facto de se basearem em processos mormente empíricos justifica muitas dessas falhas, pelo que muitas anomalias não são visualmente detetadas e muitas das anomalias detetadas estão já associadas a estados avançados de degradação cuja reparação acarreta esforços acrescidos.
Concomitantemente, a transmissão da informação de forma concentrada, aparecendo geralmente congregada em relatórios periódicos, dificulta a sua análise efetiva e compromete a utilização dessa informação para a tomada de decisões em tempo útil.
Tendo por base o panorama apresentado, a monitorização estrutural vem criar novas perspetivas na recolha de informação estrutural (ver Fig. 1 (b)). Destaca-se o potencial da monitorização estrutural para:
i) avaliar o desempenho de novos materiais e/ou novos sistemas estruturais; ii) detetar em tempo-real eventuais deficiências estruturais, danos ou acidentes;
iii) avaliar a condição estrutural imediatamente após acidentes ou solicitações extraordinárias; iv) auxiliar no planeamento sustentado de intervenções, tais como trabalhos de reabilitação e de
reforço estrutural, em função das necessidades efetivas da estrutura;
v) avaliar a eficácia das intervenções de manutenção e reforço realizadas ao longo da vida útil da estrutura;
vi) quantificar ações reais intervenientes na estrutura, tais como o tráfego, a ação do vento e outras solicitações excecionais;
vii) verificar os pressupostos de cálculo com potencial benefício na melhoria dos critérios de análise e no dimensionamento de estruturas semelhantes no futuro.
(a) (b)
Figura 1 – Comparação entre: (a) o procedimento de inspeção visual e (b) acesso contínuo aos resultados da monitorização estrutural.
Sistemas de monitorização bem concebidos e corretamente instalados têm demonstrado capacidade para recolher indicadores efetivos relativamente ao estado das estruturas. Passou a ser possível executar autonomamente diagnósticos relativamente ao estado de integridade da obra de forma a aferir a necessidade de intervir na estrutura. A implementação de planos de monitorização estrutural veio, por isso, alterar o paradigma da gestão e conservação proactiva das infraestruturas, interferindo positivamente no prolongamento da sua vida útil, na redução dos custos de manutenção e na sua utilização em condições de segurança eficientemente controladas e otimizadas.
2. SHMmensus: FERRAMENTA WEB PARA CONSULTA E GESTÃO DE RESULTADOS Tem sido explorado o conceito de monitorização da integridade estrutural (Structural Health
Monitoring) assente na capacidade de ter sistemas completos, capazes de detetar e alertar sobre a
presença de danos e/ou anomalias no sistema estrutural. Combina-se, para o efeito, a medição de diferentes grandezas representativas do comportamento da estrutura e do seu meio envolvente com a aplicação de técnicas e algoritmos de análise específicos [1] e [2].
Do ponto de vista experimental, pretende-se que um sistema de monitorização seja capaz de proceder à medição das principais grandezas que caracterizam a resposta da estrutura com o máximo rigor possível. O rápido crescimento a que se assistiu ao longo das duas últimas décadas no que diz respeito à tecnologia que rodeia os sensores e os sistemas de aquisição de dados veio alargar o leque de opções e aumentar o grau de fiabilidade e autonomia dos respetivos sistemas de medição (ver Fig. 2).
Figura 2 – Tecnologia associada à monitorização de estruturas: sensores e equipamento de aquisição. No entanto, para as entidades responsáveis pela gestão e conservação das infraestruturas, mais do que as medições isoladas, torna-se imprescindível o acesso a indicadores capazes de traduzir de forma efetiva e expedita o estado da estrutura. Considera-se também importante que esta informação esteja atualizada e seja disponibilizada em tempo útil. Só assim se poderá ter um diagnóstico atualizado e se poderá conceber uma estratégia de conservação proativa, tomando medidas oportunas.
Neste contexto, foi concebida e desenvolvida a plataforma SHMmensus, uma ferramenta informática, baseada na web, para consulta e gestão de resultados da monitorização estrutural. De forma abrangente, esta ferramenta procura integrar, num acesso centralizado, um conjunto de obras e resultados orientados relativos à monitorização da integridade estrutural. Qualquer utilizador, devidamente credenciado, passa a ter acesso remoto a esta informação, em tempo real e em qualquer lugar com ligação à internet. Na Fig. 3 ilustra-se o ambiente do SHMmensus. Disponibiliza-se uma série de meios gráficos que permitem a consulta de resultados de forma interativa. As ferramentas envolvidas revelam-se versáteis para a manipulação de séries temporais de diferente dimensão. Nos respetivos gráficos, pode-se alternar entre as diferentes grandezas medidas, assim como operar com a sua escala (‘zoom’) ou com o período representado (‘pan’). Vistas tabulares, permitem ainda a consulta de todos os registos e a sua exportação para ficheiros externos.
Mais categórica é, no entanto, a inclusão de algoritmos de cálculo e indicadores que visam incrementar o nível da informação disponibilizada. Nesse sentido, no SHMmensus, podem ser incluídos, por exemplo, resultados com compensação dos efeitos operacionais e ambientais e quadros resumo com estados de alerta. Diferentes critérios podem ser usados para definição dos respetivos limites de vigilância e alerta. Complementa-se esta funcionalidade, com a capacidade de geração e envio automático de mensagens de aviso sempre que qualquer situação anómala é detetada.
As funcionalidades desta aplicação estendem-se ainda à monitorização e caraterização de eventos especiais, tais como passagens de veículos pesados e pegas de fogo, bem como à vigilância de parâmetros de durabilidade de estruturas de betão.
Figura 3 – Diferentes vistas da consulta de resultados no SHMmensus.
3. Casos de obra ilustrativos
Ao longo deste capítulo, apresentam-se, de forma breve, alguns casos ilustrativos das valências da monitorização estrutural suportada pela ferramenta SHMmensus, enquanto ferramenta de auxílio à gestão, em tempo real, das respetivas obras. De forma criteriosa, abrangem-se os seguintes casos: • Monitorização estrutural, em serviço, de uma ponte reabilitada de alvenaria;
• Monitorização estrutural de obra em estado crítico de conservação; • Monitorização estrutural de obras novas durante a fase de exploração; • Monitorização especial de ações excecionais e outros eventos.
Serão apresentados os objetivos e as características essenciais dos respetivos planos de monitorização. Destacar-se-á a forma como os resultados estão disponíveis e podem ser explorados no auxílio à gestão dessas obras. O papel da aplicação SHMmensus será ilustrado, identificando as valências mais relevantes para cada propósito.
3.1 Caso 1 – Monitorização estrutural de uma ponte reabilitada de alvenaria
O presente caso é ilustrativo da utilidade da monitorização estrutural numa obra, que faz parte do património histórico. Invoca-se o caso de uma ponte em arco de alvenaria de pedra reabilitada para serventia do Metro do Porto.
A estrutura original é composta por uma sequência de arcos de alvenaria de pedra de altura considerável, conforme se mostra na Fig. 4. Respondendo à necessidade de alargamento do respetivo tabuleiro para circulação do metro, sobre esta estrutura passou a apoiar um novo tabuleiro de betão armado que contacta com a estrutura primitiva por intermédio de uma base constituída por uma camada de agregados de enchimento. A ligação entre os dois componentes estruturais processa-se, de forma pontual, por intermédio de perfis metálicos inseridos na zona dos pilares de alvenaria.
Aquando da reabilitação da obra, foi concebido e implementado um sistema de monitorização estrutural para acompanhamento futuro do comportamento da estrutura durante a sua nova fase de serviço. São objetivos principais deste sistema: i) avaliar a eficiência da ligação entre a alvenaria e o novo tabuleiro de betão; ii) acompanhar a atividade de fendas observadas na alvenaria de pedra; iii) vigiar o comportamento da estrutura ao longo do tempo e detetar eventuais anomalias estruturais.
Para o efeito, o sistema de monitorização engloba a instrumentação de sete secções distribuídas ao longo da estrutura (ver Fig. 4 (b)). Destaca-se a medição de temperaturas no meio ambiente e no betão, a medição de deslocamentos relativos nas juntas de dilação presentes nos encontros, a medição de deslocamentos verticais relativos entre a estrutura de alvenaria de pedra e o tabuleiro de betão e a medição da abertura de fendas patentes na estrutura de alvenaria de pedra. Todo o sistema, baseado em
sensores elétricos, opera de forma contínua e automática, com aquisições globais horárias e envio dos resultados para um servidor externo.
A aplicação web SHMmensus funciona como charneira entre a obra e as entidades responsáveis pela sua gestão. Numa primeira instância, pretende-se que o utilizador consiga ter, de uma forma rápida e expedita, uma perspetiva global do estado da estrutura e dos seus sensores. A vista de entrada remete para a Fig. 4 (b), onde, por intermédio de um código de cores e símbolos (verde, amarelo e vermelho), é percetível o estado de cada grandeza monitorizada. Neste caso, vigoram limites de dispersão estatística aplicados tendo em conta o histórico dos registos. Situações de desvio originarão estados de alarme em consonância com a sua magnitude.
Figura 4 – SHMmensus: (a) apresentação da estrutura e respetiva instrumentação (b) quadros resumo com indicadores relativos ao estado da estrutura e dos sensores.
Figura 5 – SHMmensus: resultados sob a forma de gráficos e tabelas.
A fase seguinte de acompanhamento dos resultados compreende a consulta de gráficos e tabelas com todos os registos medidos na estrutura ao longo do tempo. Trata-se de uma análise direta que permitirá facilmente detetar tendências no comportamento da estrutura ou mesmo descontinuidades em caso de danos súbitos. Apresentam-se, na Fig. 5, duas vistas dessa consulta. No caso, estão representados os deslocamentos relativos das juntas de dilatação da ponte. Salienta-se a extensão do período de
observação que, neste momento, ultrapassa já os cinco anos de monitorização contínua, praticamente sem falhas. É, como previsto, neste registo, notória a influência dos ciclos sazonais de temperatura sobre o movimento da junta.
3.2 Caso 2 – Monitorização estrutural de obras em estado crítico de conservação durante o processo de reabilitação
Este segundo caso remete para uma ponte na região centro de Portugal, construída entre 1976 e 1979, desenvolvendo a rede viária em torno da albufeira da Barragem da Aguieira então em construção. Destaca-se o facto da ponte apresentar atualmente um estado de conservação crítico e estar, por isso, a ser substituída por uma nova ponte. No decorrer de diversas inspeções efetuadas ao longo da última década, foram sendo identificadas anomalias significativas. Estas anomalias estão, na generalidade, associadas a reações expansivas do tipo álcalis-sílica no betão dos pilares e encontros, com particular evidência nas zonas imersas e nas que estão sujeitas a molhagem-secagem, em função dos níveis de água de exploração da albufeira. Assinala-se a observação generalizada de fendilhação com abertura progressiva.
O objetivo do programa de monitorização desenvolvido para esta obra passa por acompanhar o comportamento da estrutura, auxiliar na avaliação das condições de segurança e na deteção de eventuais danos. As grandezas consideradas relevantes observar para atingir os objetivos em causa são, para além da temperatura, as rotações no topo dos pilares e os deslocamentos dos aparelhos de apoio em juntas de dilatação [3]. Em obra, a respetiva rede de sensores está centralizada num equipamento único de leitura e de aquisição de dados, através do qual se processa, de forma programada, minuto a minuto, a interrogação do sinal dos sensores. De forma programada, ao longo do dia, os dados registados são enviados para um servidor externo, que se considera sincronizado com a obra, centralizando a informação das várias obras. O processamento dos dados dá-se então no servidor externo, sob os ficheiros provenientes da obra, combinando as operações de importação dos dados, tratamento, conversão e armazenamento numa base de dados específica. À semelhança do caso anterior, todos os registos das grandezas medidas estão disponíveis em gráficos interativos. A título de exemplo, na Fig. 6 (a) mostra-se a consulta das rotações do Pilar P5 durante um período de dois meses, onde estão bem patentes os ciclos diários.
(a) (b)
Figura 6 – SHMmensus: resultados das rotações medidas no pilar P5: (a) sem qualquer compensação e (b) com compensação dos efeitos ambientais.
Para a deteção de alterações no comportamento das estruturas, indiciadoras de eventuais alterações na condição estrutural, recorre-se, neste caso, a modelos preditórios estatísticos baseado em regressões
lineares múltiplas. Consegue-se prever o comportamento de cada estrutura, inferido nas grandezas estruturais observadas, com base na ponderação linear das grandezas ambientais também medidas. O desvio entre o medido e a previsão é objeto de análise ao longo do tempo (Fig. 6.b)). Espera-se que um eventual aumento deste indicador, que se associa a uma incapacidade do modelo estatístico prever a resposta da estrutura, possa revelar alterações no comportamento da estrutura. Por este motivo, este indicador constitui também a base dos níveis de alerta amarelo e de alerta vermelho implementados. Conforme consta no protocolo de apoio, para cada grandeza medida, dentro de cada obra, preconiza-se a existência de dois níveis de alarme correspondentes às situações de alerta amarelo e vermelho. A Fig. 7 ilustra a implementação dos respetivos níveis de alerta na aplicação informática que compõe o sistema. Em tempo real, torna-se assim possível ter um panorama geral do estado da estrutura representado numa tabela resumo (Fig. 7 (a)) ou nos gráficos individuais de cada parâmetro medido (Fig. 7 (b)). A obtenção de estados anormais está ainda associada ao envio automático de mensagens de alerta para as entidades envolvidas.
Os respetivos limites de alerta são acompanhados pelas equipas projetistas e pelos responsáveis pela gestão das estruturas [4]. O alerta amarelo está associado a um desvio ligeiro do comportamento da estrutura relativamente ao estado de referência. Depois de despistada qualquer situação anómala com o sistema de medição, a evolução do comportamento da estrutura após a sua ocorrência deverá ser acompanhada com grau redobrado de atenção. Já o alerta vermelho reflete, em princípio, alterações significativas no comportamento da estrutura. Este deve implicar a realização de estudos complementares com vista à avaliação da condição efetiva da estrutura.
(a) (b)
Figura 7 – SHMmensus: (a) indicadores relativos aos estados de alerta e (b) visualização dos limites.
3.4 Caso 4 – Monitorização estrutural de obras novas durante a fase de exploração
Nas obras de grande dimensão, a necessidade do controlo do comportamento estrutural durante a sua vida útil e a recolha de indicadores relativos à sua durabilidade começa a ser cada vez mais frequente. A obrigatoriedade destes sistemas emerge no seio dos principais projetos de normas internacionais e, por inerência, tem vindo a ser integrado no caderno de encargos das principais obras.
Este exemplo aponta para o Viaduto do Corgo que apresenta uma extensão total de 2796 m e foi concluído em 2013, permitindo a passagem de uma nova autoestrada na região de Vila Real. O complexo e extenso projeto de monitorização estrutural destina-se a acompanhar quer o processo construtivo, quer
o ciclo de exploração em serviço [5]. Durante as várias fases de construção, procurou-se avaliar o comportamento da estrutura, de forma a validar tanto o modelo de cálculo adotado no projeto da estrutura, como o processo construtivo. O acompanhamento do faseamento construtivo permitiu ainda estabelecer um referencial de comportamento da estrutura, fundamental para interpretar posteriores campanhas de avaliação da condição estrutural da obra. No final da construção, o sistema de monitorização foi posto em pleno funcionamento visando avaliar a resposta da estrutura em serviço, ao longo dos anos subsequentes. Por esta via, procura-se conseguir a deteção oportuna e eficiente de alterações no seu comportamento associadas a eventuais danos ou deficiências nos elementos estruturais. Mais uma vez, se associam uma série de limites de alerta e vigilância relativamente a desvios admissíveis face ao comportamento de referência da estrutura.
Dada a dimensão da estrutura e o carácter da avaliação pretendida, a caracterização experimental é feita por amostragem, tendo sido escolhidas duas zonas de intervenção. Tendo em conta o carácter permanente e duradouro desta instalação, destaca-se a necessidade de se ter de recorrer a um conjunto de sensores diversos com rigorosos requisitos de desempenho. Respondendo aos objetivos essenciais que regulam esta monitorização, estabeleceram-se os seguintes alvos:
• avaliação da deformação de secções da estrutura (pilares e tabuleiro); • avaliação da rotação de secções de pilares, dos mastros e do tabuleiro; • estimativa dos deslocamentos horizontais do topo dos mastros;
• determinação da tensão nas diagonais no interior do tabuleiro (zona atirantada); • avaliação da força instalada nos tirantes;
• deteção de eventuais rotações de maciços de fundação;
• avaliação das flechas (deslocamento vertical relativo) do tabuleiro; • avaliação dos movimentos das juntas de dilatação;
• caracterização das condições meteorológicas que envolvem a estrutura.
(a) (b)
Figura 8 – SHMmensus: (a) evolução do movimento de uma junta e (b) da rotação do tabuleiro e sua comparação com as temperaturas na estrutura e na envolvente.
Para consulta remota dos resultados deste sistema de monitorização, particularmente exigente face ao número de sensores envolvidos, recorre-se, de igual forma, à plataforma SHMmensus. As funcionalidades previstas são, na generalidade, comuns às apresentadas para o conjunto dos casos anteriores. Destaca-se a presença de quadros de alarme e o acesso a gráficos e tabelas com o registo atualizado dos sensores. O sistema está também preparado para gerar mensagens automáticas que divulga pelas entidades competentes caso seja detetada qualquer anomalia.
A título ilustrativo, na Fig. 8, está representada a evolução de duas grandezas selecionadas. Mostra-se o deslocamento de uma junta de dilatação (Fig. 8 (a)) e a rotação do tabuleiro (Fig. 8 (b)) numa determinada secção. Neste caso, realça-se a possibilidade de se confrontar graficamente (em baixo) todas as grandezas mecânicas medidas com temperaturas representativas da estrutura, previamente selecionadas.
3.5 Caso 5 – Monitorização de ações excecionais e outros eventos
Este último caso transporta para a monitorização e avaliação do comportamento estrutural de uma ponte em arco de betão simples, com cerca de 78 m de vão e 20 m de flecha, construída em 1940 [6]. A solicitação excecional motivada pela realização de trabalhos, na proximidade da ponte, para construção de uma barragem, motivaram a instalação de um sistema para monitorização contínua do seu comportamento, bem como para caracterização das ações excecionais e seus efeitos.
Este sistema caracteriza a evolução temporal das deformações do arco, mede as deformações devidas à passagem de veículos com peso superior a um valor limite previamente imposto (com uma frequência de aquisição igual a 50 Hz) e regista as deformações associadas à ocorrência de explosões para escavação em rocha durante a construção da barragem (com a mesma frequência de aquisição). A instrumentação adotada envolve o recurso a transdutores de deformação no arco e num dos tramos simplesmente apoiados do tabuleiro, bem como a transdutores de temperatura no arco e no tabuleiro simplesmente apoiado e para medição da temperatura ambiente. De forma esquemática, assinalam-se na Fig. 9 as respetivas seções instrumentadas.
Figura 9 – Secções instrumentadas e disposição dos sensores em cada secção.
(a) (b)
Figura 10 – SHMmensus: (a) monitorização de eventos relativos à passagem de veículos pesados e (b) a pegas de fogo.
Para além das grandezas diretamente medidas, ocorre neste sistema a estimativa de outros parâmetros relevantes. Refere-se a avaliação do peso dos veículos, o cálculo de curvaturas no arco e a estimativa do valor dos deslocamentos da estrutura deformada. Um grupo de extensómetros instalados no tramo simplesmente apoiado (secção T-T1, na Fig. 9) constitui um sistema de deteção de eventos, que permite identificar a passagem de veículos pesados, acionando a gravação de resultados associados a esse evento. Além disso, estes extensómetros fornecem uma estimativa aproximada do peso do veículo, assim como uma indicação da sua posição transversal durante a passagem. No excerto presente na Fig. 10 (a) mostra-se uma listagem de eventos associados à passagem de veículos pesados, onde de forma totalmente interativa se pode consultar as a evolução das grandezas medidas, sob a forma de linhas de influência, durante a passagem de cada veículo. Um procedimento de ativação expedita permite também recolher janelas de amostragem durante a ocorrência de pegas de fogo associadas ao desmonte de rocha na vizinhança da ponte. O registo de um desses eventos está ilustrado na Figura 10 (b). Pode assim ser controlada a influência sobre a estrutura destas solicitações excecionais, assim como se poderá despistar o eventual surgimento de deformações residuais em secções críticas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, procurou-se evidenciar as potencialidades da monitorização estrutural no auxílio à conservação e à gestão de obras de arte. Considera-se que o avanço das tecnologias patentes nos mais diversos componentes, desde os sensores até à consulta final, passando pelos meios de comunicação e pelos modelos de cálculo, vieram efetivar a monitorização da integridade estrutural fornecendo uma poderosa ferramenta de apoio à decisão. Os quatro casos invocados atestam, em diferentes contextos, a sua utilidade. Consubstanciando as valências da monitorização da integridade estrutural, apresentou-se um software dedicado – SHMmensus – baseado nas novas tecnologias de informação, acessível remotamente através da internet e desenvolvido especificamente para consulta e gestão dos resultados em tempo real. Na aplicação, concentram-se várias obras monitorizadas cujos resultados e especificidades foram também invocados para ilustrar o presente artigo. Para além do traçado de gráficos com as séries temporais monitorizadas, na aplicação incluem-se módulos de análise e indicadores representativos da condição da estrutura. Salienta-se a capacidade de geração automática de estados de vigilância e alerta no caso de desvios relativamente a um qualquer estado de referência. Esta aplicação estende-se ainda à monitorização e caraterização de eventos especiais, tais como passagens de veículos pesados e pegas de fogo, bem como à vigilância de parâmetros de durabilidade de estruturas de betão.Promove-se, por esta via, a adoção de políticas de conservação proativas, mais realistas e intrinsecamente mais económicas e seguras, para um conjunto diverso de obras de arte com diferentes requisitos.
REFERÊNCIAS
[1] Aktan AE; Helmicki AJ; Hunt VJ. (1998) Issues in health-monitoring for intelligent infrastructure. Journal of Smart Materials and Structures. 7:5.
[2] Farrar CR; Worden K. (2007) An introduction to structural health monitoring. Philosophical Transactions of the Royal Society a-Mathematical Physical and Engineering Sciences. 365:1851, pp. 303–315.
[3] IC; NewMENSUS. (2013) Plano de Monitorização Estrutural da Ponte de Foz do Dão. [4] TRIEDE. (2014) IP3 - Ponte de Foz do Dão. Monitorização Estrutural – Limites de Alerta.
[5] Félix C; Rodrigues C; Faria R; Figueiras J; Afonso L; Barata V. (2012) Conceção e Implementação do Sistema de Monitorização Estrutural do Viaduto do Corgo. BE2012 - Encontro Nacional Betão Estrutural 2012. Porto.