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AS CONTRIBUIÇÕES DOS BRINQUEDISTAS HOSPITALARES NAS CONCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

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AS CONTRIBUIÇÕES DOS BRINQUEDISTAS HOSPITALARES NAS

CONCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

KAILER, Priscila Gabriele da Luz - UEPG priscila.kailer@gmail.com MIZUNUMA, Samanta – UEPG samanta.mizunuma@hotmail.com Eixo Temático: Pedagogia Hospitalar Agência Financiadora: Não contou com financiamento

Resumo:

O presente trabalho tem como finalidade apresentar os resultados obtidos decorrentes de uma pesquisa realizada com profissionais da saúde analisando suas concepções com relação as brinquedistas que atuam em dois hospitais públicos do interior do Paraná. Estes hospitais possuem brinquedotecas em parceria com um projeto de extensão vinculado a uma Universidade pública. Quando a criança se encontra hospitalizada, a prática do brincar acaba se tornando pouco freqüente, muitas vezes isso ocorre por falta de companhia, instrumentos e motivação a criança acaba assim deixando de lado esta prática necessária para o seu desenvolvimento em virtude do seu internamento. No momento em que prática do brincar se tornou uma aliada na recuperação das crianças e adolescentes hospitalizados, e essa necessidade no desenvolvimento das crianças passou a ser reconhecida, a brinquedoteca se tornou obrigatória no âmbito hospitalar. Através do amparo legal da brinquedoteca no hospital, é possível perceber uma outra realidade. Esta pesquisa investigou um Projeto de Extensão de uma universidade pública no Paraná que possui estagiários os quais desenvolvem atividades lúdicas e pedagógicas com o intuito de propiciar situações prazerosas nos ambientes hospitalares. A metodologia utilizada foi a aplicação dos questionários com os profissionais de saúde e observações no período de um ano e três meses (março de 2008 a junho de 2009). Também foram considerados registros de diários de campo sobre as relações dos brinquedistas com os profissionais da saúde. Como resultados, foi possível constatar o reconhecimento pelos profissionais da saúde em relação à importância da existência da brinquedoteca e da necessidade de trabalho em parceria com os brinquedistas para minimizar a estadia dolorosa das crianças hospitalizadas.

Palavras-chave: Brinquedistas. Profissionais da saúde. Brinquedoteca hospitalar.

Introdução

Durante o internamento as crianças, em sua maioria, ficam afastadas por um período de tempo de várias práticas das quais estavam acostumadas como: escola, amigos, brinquedos,

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a rotina com a família, dentre outros. Essa mudança muitas vezes é repentina e ocorre de maneira traumática, tanto para a família quanto para a criança, podendo ter influência no tratamento. Pensamos que uma maneira de amenizar a estadia dolorosa do hospitalizado é a prática de brinquedotecas nos hospitais. A brinquedoteca configura-se como um espaço de humanização, pois integra as crianças, adultos, pais, e os profissionais da saúde com objetivo de proporcionar o divertimento, tanto para as crianças quanto para os adultos. Além disso, a brinquedoteca hospitalar é uma alternativa para diminuir o trauma pelo qual a criança está passando. Neste ambiente, o profissional brinquedista será um mediador entre o brinquedo e o indivíduo, proporcionando assim o brincar e vários outros aspectos positivos em seu desenvolvimento.

Esta pesquisa foi embasada em observações, registros das atividades diárias e questionários aplicados aos funcionários de dois hospitais nos quais existe o Projeto de Extensão: “Brilhar: Brinquedoteca, literatura e arte no ambiente hospitalar” vinculado a uma universidade pública no interior do Paraná. O projeto é coordenado por uma professora do Departamento de Educação e é multidisciplinar, pois envolve também professores do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino, do Departamento de Enfermagem e Departamento de Artes e Música. O projeto conta atualmente com a participação de 6 acadêmicos bolsistas e 7 acadêmicos que trabalham como voluntários. Os alunos que participam do projeto são dos cursos de Pedagogia, Letras, História e Enfermagem.

O Projeto de Extensão “Brilhar: Brinquedoteca, literatura e arte no ambiente hospitalar” teve seu inicio em outubro de 2006, após a procura da assistente social de um hospital, que buscou na universidade parceria para a implantação de uma brinquedoteca no hospital. A idéia era humanizar o ambiente hospitalar e fazer cumprir com a Lei 11.104, que vigora a obrigatoriedade de Brinquedotecas em Hospitais (BRASIL, 2005). Em 2008, o projeto firmou parceria com mais um hospital do município, ampliando assim as áreas de atuação, o atendimento às crianças e também um maior campo para os estagiários desenvolverem pesquisas e manterem contato com outros espaços em que o curso permite atuar.

As atividades do projeto são realizadas duas vezes por semana no período de manhã e tarde, alternadamente. Também são realizados encontros semanais com o intuito de organizar, planejar e discutir sobre os acontecimentos da semana, tanto na perspectiva dos problemas administrativos, de funcionamento da brinquedoteca, quanto nas questões teóricas.

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Sendo assim, através das observações, dos registros e de questionários aplicados, esta pesquisa buscou compreender a concepção dos profissionais da saúde a respeito dos processos do brincar e do educar envolvidos na brinquedoteca. Enfatizamos a seguir algumas definições para maior entendimento acerca da pesquisa.

O Brincar

É interessante destacar que está presente no Estatuto na Criança e do adolescente (BRASIL, 1990), bem como na Constituição Brasileira de 1988 (BRASIL, 1988) que o lazer é um direito da criança, sendo um dever do Estado, da família e da sociedade.

Porém, quando nos deparamos com a realidade, percebemos um evento antagônico, havendo um grande número de crianças que brincam pouco ou quase nada na sociedade. Pensamos que este fato ocorre por múltiplas situações: as condições econômicas, falta de materiais dispostos para que a brincadeira aconteça, sobrecarga de atividades extra-escolares. Muitas crianças também, desde cedo, são submetidas ao trabalho infantil e existem aquelas crianças que apresentam enfermidades graves que passam meses internadas no leito hospitalar sem contato com brinquedos e brincadeiras. Entretanto, não se pode deixar de lado o brincar e sua importância, pois são indispensáveis para a saúde em todos os seus aspectos. Segundo Negrine (1997 p. 86): “Ao brincar a criança faz uma releitura do seu contexto sócio-cultural emergente, amplia, modifica, cria e recria através dos papéis que elege para representar.”

É possível perceber que o brincar é um momento capaz de proporcionar à criança uma construção de sua visão de mundo, construir relações e compreender de uma forma simples as funções sociais. Brincar é o momento em que a criança se expressa naturalmente e é a oportunidade que ela possui de expor suas idéias, seus sentimentos e conflitos, demonstrando como é o seu mundo. De acordo com Paula (2007, p.2):

A brincadeira é para a criança a mais valiosa oportunidade de aprender a conviver com pessoas diferentes entre si, de compartilhar idéias, regras, objetos e brinquedos, superando progressivamente o seu egocentrismo característico. Sendo assim, através do brincar, ela é capaz de solucionar os conflitos que surgem, transformando sua realidade naquilo que quer, adquirindo autonomia, experiência com diversos papéis e o desenvolvimento de valores que orientam as bases para o seu comportamento e a sua personalidade.

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A brincadeira no âmbito hospitalar possui uma importância muito grande, considerando o momento de carência emocional e debilidade física em que a criança se encontra. Nesse momento, ela deve ser dirigida por uma prática que proporcione às crianças e aos adolescentes momentos de lazer e ludicidade contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e o tratamento.

Brinquedoteca

Brinquedoteca é um ambiente criado com a intenção de oportunizar lazer e ludicidade à criança. Seu espaço é constituído por brinquedos, jogos e brincadeiras, organizados para o livre acesso das crianças que a frequentam. A brinquedoteca ou ludoteca propicia a criança vários aspectos positivos ao seu desenvolvimento:

Falar sobre brinquedoteca é, portanto, falar sobre os mais diferentes espaços que se destinam a ludicidade, ao prazer, as emoções, as vivências corporais, ao desenvolvimento da imaginação, da criatividade, da auto-estima, do autoconceito positivo, da resiliência, do desenvolvimento do pensamento, da ação, da sensibilidade, da construção do conhecimento e das habilidades. (SANTOS, 2000, p.58)

Cabe destacar que brinquedoteca deve ser um ambiente atrativo, capaz de proporcionar interesse e motivação nas crianças, que transmita alegria e principalmente que condicione momentos lúdicos.

Santos (1995) destaca que existe um grande número de benefícios que as brinquedotecas podem oferecer para aqueles que freqüentam esse ambiente:

Este ambiente criado especialmente para a criança tem como objetivo estimular a criatividade, desenvolver a imaginação, a comunicação e a expressão, incentivar a brincadeira do faz de conta, a dramatização, a construção, a solução de problemas, a socialização e a vontade de inventar, colocando uma variedade de atividades que além de possibilitar a ludicidade individual e coletiva, permita que ela construa o seu próprio conhecimento.( p.8)

Ressaltamos nesse trabalho a importância das brinquedotecas hospitalares como um auxílio no tratamento de crianças hospitalizadas. A existência dessa prática permite oferecer

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aos hospitalizados jogos e brinquedos, proporcionando o divertimento em um ambiente onde o prazer do brincar não é tão comum.

Brinquedoteca Hospitalar:

No âmbito hospitalar, a brinquedoteca propicia momentos prazerosos. Neste ambiente diferente, os aspectos lúdicos e o brincar tornam proporções ainda maiores, pois oportunizam às crianças uma melhor recuperação de sua saúde.

Maia (2000) relata que o brincar oportuniza a criança a construir e a elaborar a relação eu – mundo, pois além do prazer proporcionado através do brincar, domina suas angústias, controla idéias ou impulsos. Para a autora, quando a prática do brincar não acontece no hospital, ela interrompe este processo de aprendizagem que ocorre de maneira lúdica e divertida para a criança. Durante o processo hospitalar essa interrupção ocorre mais frequentemente em virtude do tempo em que a criança passa em tratamento, podendo obter conseqüências desagradáveis na aprendizagem e no desenvolvimento.

A brinquedoteca hospitalar oportuniza a criança não ficar deprimida diante de certas situações que podem ocorrer durante tratamentos hospitalares, propiciando à criança o prazer e o divertimento, além de condições psicológicas para a criança e seus familiares com momentos de interação. Portanto, essa prática lúdica nos hospitais pode tornar o processo de internação mais ameno e menos traumático.

Amparada pela lei n°. 11.104, de 21 de março de 2005 de autoria da Deputada Luiza Erundina (BRASIL, 2005) a brinquedoteca hospitalar legitima a implantação de brinquedotecas em hospitais que oferecem atendimento pediátrico em regime de internação. Em detrimento disso, cabe destacar que há necessidade e obrigatoriedade de se tornar rotineiro a ação de brinquedistas nos hospitais, uma vez que tem como objetivo colaborar com o tratamento de crianças com problemas de saúde, amenizando os traumas causados pela situação da internação.

Em geral, todo o processo de internação é cercado por angústias e medos, que afetam tanto o emocional, quanto o psicológico das crianças. Quando o processo de internação envolve crianças e adolescentes, passa a ser muito mais assustador considerando que por muitas vezes são privados do entretenimento, ainda que se note a necessidade do ato de brincar em qualquer fase do seu desenvolvimento.

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No hospital são escassos os momentos que propiciam prazeres e brincadeiras, já que o foco é o tratamento patológico e a recuperação das crianças, deixando de lado momentos essenciais que contemplam a necessidade da criança, como por exemplo, o brincar.

Considerar a instalação de um espaço lúdico e prazeroso como a brinquedoteca hospitalar torna-se ainda mais oportuno quando há momentos de interação com a ação dos brinquedistas, que oportunizam, de forma lúdica, amenizar a estadia da criança no hospital.

Sabemos que crianças que possuem certos momentos de interação com brinquedos respondem muito melhor ao tratamento e a recuperação. Portanto, o lúdico tem fundamental importância durante a infância, ainda mais quando parte dessa etapa da vida transcorre no hospital.

Paula (2007,p.3) nos mostra a importância da brinquedoteca no hospital:

A brinquedoteca no hospital configura-se como um espaço preparado para estimular a criança a brincar, permitindo o acesso a um ambiente lúdico e uma diversidade de brinquedos, com a possibilidade do apoio de um profissional que anime e faça a mediação dessas situações de brincadeiras. Cabe salientar que pode existir o regime de empréstimo de brinquedos, principalmente quando o paciente encontra-se debilitado e impossibilitado de levantar-se da cama, às vezes por restrições médicas, para deslocar-se até a brinquedoteca.

Assim, a brinquedoteca hospitalar é um espaço onde a criança podese sentir livre para representar, brincar e demonstrar deus desejos e anseios.

O Brinquedista

Com o surgimento de brinquedotecas, houve a necessidade de capacitar pessoas a fim de trabalhar em um ambiente que propicie atividades prazerosas. Esse profissional é conhecido como brinquedista. Este profissional já possui cursos de formação capaz de qualificar seu trabalho para desenvolver atividades prazerosas na brinquedoteca, através de jogos e atividades

O brinquedista deve voltar sua atenção na interação com a criança com disposição para brincar, sendo afetuoso, valorizando atividades e tornando suas brincadeiras atrativas e sem preocupações com o tempo.

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O brinquedista é aquele profissional que trabalha com a criança, fazendo a mediação criança/brinquedo. Esta função é a mais importante dentro da Brinquedoteca e pressupõe uma formação especifica. Entende-se que o brinquedista, antes de tudo, deixa ser um educador, ou seja, antes de ser especialista em brinquedo, ele deve ter em sua formação conhecimentos de ordem psicológica, pedagógica, sociológica, literária, artística, enfim, elementos que lhe dêem uma visão de mundo e um conhecimento sólido sobre criança, brinquedo, jogo, brincadeira, escola, homem e sociedade. .

Entendemos que esse profissional deve estar preparado para se deparar com qualquer situação, podendo até mesmo transportar suas brincadeiras e jogos da brinquedoteca para um quarto hospitalar. O brinquedista deve tornar o seu momento no hospital o mais prazeroso possível, sem se preocupar com tempo.

Porém de nada adianta a brinquedoteca ser provida por brinquedos variados e jogos educativos se o brinquedista não explora e não estimula a criança a brincar. O brinquedista deve aproveitar o espaço e o horário destinado para a diversão e distração dos hospitalizados, contribuindo para diminuir o sofrimento durante o tratamento hospitalar.

É esse profissional que irá propiciar momentos de lazer e criar condições necessárias para um brincar voltado para a recuperação, levando a criança a se interessar pelo local atrativo (brinquedoteca) ou até pelas brincadeiras, deixando a criança livre para fazer escolhas e definir preferências.

Resultados

A metodologia dessa pesquisa foi qualitativa e utilizou de questionários semi-estruturados nos quais os entrevistados discorreram de maneira espontânea as respostas. Segundo Gil (1991), as entrevistas semi-estruturadas são organizadas de perguntas tanto fechadas como abertas, as quais possibilitam ao entrevistado discorrer sobre o tema proposto.

A pesquisa foi realizada em dois hospitais da cidade: um hospital filantrópico e outro hospital municipal que mantém ala pediátrica com regime de internamento. Estes dois hospitais contemplam brinquedoteca hospitalar em parceria com o Projeto de Extensão “Brilhar: Brinquedoteca, literatura e arte no ambiente hospitalar”.

Foram aplicados 10 questionários aos médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e terapeuta dos hospitais, com as seguintes perguntas:

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2. Houve alguma mudança no comportamento das crianças, com o trabalho das brinquedistas? Como era o hospital sem a participação das brinquedistas?

3. Você percebe alguma dificuldade no trabalho do hospital com a inclusão das brinquedistas? Quais?

4. Você acha que a brinquedoteca também é um lugar de aprendizagem? Como?

Através destas perguntas foram obtidas então as seguintes respostas. Para a grande maioria dos entrevistados, a brinquedoteca foi citada com um espaço para brincar, sendo importante para o desenvolvimento físico e mental das crianças. Estes aspectos estão relacionados aos argumentos teóricos sobre brinquedoteca de Cunha (1997, p.133):

É um espaço preparado para estimular a criança a brincar, possibilitando o acesso a uma grande variedade de brinquedos, dentro de um ambiente especialmente lúdico. É um lugar onde tudo convida a explorar, a sentir, a experimentar. (p.133)

Nas entrevistas foi possível notar que as respostas de duas enfermeiras estiveram próximas das afirmações de Cunha (1997) a respeito da brinquedoteca ser um ambiente destinado para o divertimento, levando a criança a interagir com o brinquedo e o brinquedista proporcionando melhoras no tratamento. Portanto, notamos que essa prática lúdica no espaço hospitalar possibilita uma sensação diferente da qual a criança não está acostumada no ambiente hospitalar.

Considerando que o foco dos funcionários do hospital é a melhora no tratamento e na medicação dos internados, certas necessidades das crianças passam a ser deixadas de lado como o brincar. Por isso, ao estar em contato com indivíduos no qual o foco é o divertimento e a alegria da criança, é possível perceber algumas mudanças. Portanto, as mudanças citadas pelos entrevistados após o contato com os brinquedistas ocorreu no fato dos profissionais perceberam as crianças mais felizes e com expectativas maiores diante do seu quadro hospitalar. Além de tudo, notaram vantagens psicológicas e físicas no desenvolvimento muscular e da coordenação motora, obtendo, assim, melhoras no tratamento.

Com as idéias apontadas por Santos (2000,p.60) podemos perceber como a brinquedoteca motiva a criança:

A brinquedoteca busca resgatar a essência do ser humano pela via da emoção. Razão e emoção são a s características principais do ser-humano, pois é um ser racional e

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emocional na mesma medida. Porém, estes dois elementos no decorrer da história, não tiveram a mesma relevância. As descobertas cientificas e tecnológicas deram ao homem grande prestígio, e por isso, a racionalidade é que foi proclamada como especificidade da dimensão humana em detrimento da emotividade.

A partir da citação notamos que a brinquedoteca configura-se como um espaço de humanização, colaborando para desenvolver os aspectos emocionais da criança e até mesmo para contribuir no processo do tratamento.

As perguntas referentes as características dos hospitais sem a participação das brinquedistas, constatou-se que muitos profissionais não conheciam sem esta prática, e alguns citaram que a recreação era realizada pelos próprios funcionários do hospital. Observou-se então que a humanização do espaço hospitalar relacionado às crianças e adolescentes hospitalizados já existia, porém não ocorria através de profissionais específicos como foi comentado por uma técnica de enfermagem em um dos questionários.

Quanto às dificuldades encontradas pelo trabalho das brinquedistas foram obtidas as seguintes respostas: que não existem barreiras quanto à prática dos brinquedistas no hospital. Os funcionários consideravam uma alegria receber esses profissionais. Eles relatavam que era um trabalho diferenciado realizado com as crianças com maior estimulação para o movimento, distração e aprendizado. Porém, comentaram que deviam ser estabelecidos horários específicos, os quais não interferissem na rotina dos hospitais, além da necessidade de se terem treinamentos para as brinquedistas sobre infecção hospitalar e entre outras problemáticas de saúde.

Contudo, notou-se que em relação às dificuldades enfrentadas pelos funcionários do hospital, após a prática dos brinquedistas, foi citada que as crianças não separavam seu momento de diversão na brinquedoteca com o momento de medicação, já que as mesmas tarefas eram exercidas por profissionais parecidos e com a mesma vestimenta.

Com isso podemos perceber a partir de Maia (2000, p. 115) quais devem ser os objetivos da brinquedoteca hospitalar:

[...] dentro dos objetivos de um Brinquedoteca hospitalar, assim como o de proporcionar condições de reflexão e instrumentalização neste âmbito à equipe hospitalar, visando também a um trabalho integrado que contemple as necessidades básicas da criança hospitalizada.

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Percebe-se assim que a brinquedoteca hospitalar auxilia no tratamento da criança, visando um trabalho conjunto entre brinquedista e funcionários do hospital, incluindo enfermeiros e médicos, pois ambos possuem o mesmo objetivo: alcançar a melhora do paciente, seja no âmbito patológico, emocional ou afetivo. Em virtude disso, a maioria dos entrevistados destacou que após a inserção das brinquedistas no hospital, as crianças se tornaram menos tímidas e maleáveis quanto ao processo de internação com expectativas maiores em relação a sua melhora, facilitando no tratamento médico.

É interessante descrever que os entrevistados destacaram várias vantagens com a inserção dos brinquedistas no hospital interagindo com as crianças, dentre elas mudanças psicológicas e físicas no desenvolvimento muscular e da coordenação motora da criança. Foi possível notar a, partir das falas, que isso não ocorria de maneira imediata. As colocações destes entrevistados evidenciaram que aqueles profissionais, os quais tiveram um contato maior com as brinquedistas, responderam com maior facilidade ao questionarmos sobre as mudanças no espaço hospitalar, relacionando sempre com o tempo que elas exerceram as brincadeiras no hospital, e também com o respeito que deve existir.

Ao serem questionados a respeito do aprendizado obtido nas brinquedotecas, os entrevistados comentaram sobre os brinquedos educativos e os momentos de contação de histórias em que a criança entra em contato com livros e narrativas. De acordo com os profissionais estes momentos oportunizam um aprendizado tanto nas questões de conhecimento, quanto na socialização. A maioria dos entrevistados reportou a fala conduzindo a aprendizagem a uma melhoria motora, ressaltando que as brincadeiras realizadas pelos profissionais da brinquedoteca seriam apenas capazes de proporcionar desenvolvimento na coordenação motora fina e grossa. A outra parte dos entrevistados reportou para uma aprendizagem sem intenção que ocorreria de forma natural e gradual, não havendo preparação por parte dos brinquedistas para essa função. Essa aprendizagem, para os entrevistados, não deveria remeter a sala de aula, considerando o hospital como um ambiente capaz de proporcionar aprendizagem utilizando o lúdico.

Goulart (1997,p. 127) nos mostra a importância do desenvolver o cognitivo em conjunto do afetivo:

[...] foi possível constatar que a interação estabelecida através das brincadeiras e dos jogos com os pacientes infantis pode interferir positivamente em seu desenvolvimento nas áreas da linguagem, da motricidade e da afetividade.

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A partir das entrevistas e das citações foi possível perceber que as brincadeiras e o lúdico ocasionam implicações positivas as quais acarretam no desenvolvimento cognitivo, afetivo e físico das crianças e adolescentes.

Considerações finais

Conclui-se com as respostas obtidas nestas entrevistas e com as observações realizadas, que está sendo criada uma relação de interação entre brinquedistas e funcionários do hospital, os quais passam a respeitar a necessidade e o direito da criança brincar mesmo ela estando em estado de internamento. Diante disso, estão sendo criados hospitais mais humanizados.

O lúdico oportuniza a criança a aprender de uma maneira prazerosa. Nota-se que a relação de mediador do brinquedista entre a criança e os brinquedos gera nas crianças e adolescentes, não somente aprendizagem intelectual, mas também mostra a importância de vários aspectos como: divisão de brinquedos, cuidados, organização da brinquedoteca, respeito, trabalho em grupo, e proporciona cidadania as pessoas que interagem de maneira socializada com os demais no hospital.

Paula (2007,p.9) em seu artigo enfatiza:

A brinquedoteca também é um espaço de aprendizagem tanto para as crianças, para os adolescentes, seus familiares, como também para adolescentes, os estagiários e para a equipe de saúde no hospital. Cada dia no hospital é uma realidade nova e diferente. Nos deparamos com situações tristes e que nos impressionam, mas também conseguimos perceber e vivenciar, através de pequenos gestos e brincadeiras novas conquistas.

O brincar é algo natural da criança inerente à ação do adulto. Durante essa prática ocorrem contribuições no desenvolvimento cognitivo da criança, tornando-se uma conseqüência positiva de uma prática prazerosa. Quando essa ação é direcionada e mediada por um adulto, acaba por beneficiar ambos, e na brinquedoteca hospitalar esse desenvolvimento cognitivo é planejado e não apenas conseqüência.

As contribuições do trabalho na brinquedoteca hospitalar são direcionadas pelos brinquedistas para as crianças e adolescentes hospitalizados, para os familiares e profissionais da saúde. As pessoas hospitalizadas, como principal foco do tratamento, são oportunizadas momentos de brincadeiras em um ambiente que atualmente vem ampliando suas funções não somente de cuidado da saúde das pessoas, mas também possibilitam divertimento. Estes

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aspectos facilitam no tratamento hospitalar. Para o brinquedista, assim como as famílias das crianças, os momentos na brinquedoteca são momentos em que as crianças e adolescentes têm a oportunidade de deixar de lado a turbulência do cotidiano, e com isso, possui implicações positivas. Os profissionais da saúde percebem as contribuições do lúdico na recuperação das crianças e consideram o brincar não apenas uma prática sem objetivos, e sim como um apoio no processo de humanizar das ações no hospital.

Por fim, percebemos que o trabalho conjunto entre os profissionais da saúde e os brinquedistas proporcionam a possibilidade de troca de experiências, aprendizagem contínua, desenvolvimento de mecanismos e métodos com maior eficácia para a melhora do ambiente hospitalar, pois ambos caminham juntos.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Lei Federal Estatuto da Criança e do Adolescente n° 8.069, de 13 de julho de

1990. Disponível em <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 17 jul. 2009.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991. MAIA, Célia Isabel Bento et al. Brinquedoteca hospitalar Shishiro Otake. In: SANTOS, Santa Marli Pires dos (Org.). Brinquedoteca: a criança, o adulto e o lúdico. Petrópolis/RJ: Vozes, 2000.

NEGRINE, Airton da Silva. Brinquedoteca: teoria e prática - dilemas da formação do brinquedista. In: Santa Marli Pires dos Santos. (Org.). Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. 1ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 83-94.

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Referências

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