Controle social no SUS:
participação nos
Conselhos de Saúde
Cristina Câmara Capacitação em advocacy e controle social Salvador, 21 a 25 de set. 2010
Formas de controle social
Conferências de Saúde Conselhos de Saúde Audiências Públicas Comissões de ética Manifestações públicas Somente as duas primeiras são obrigatórias para todo o País, Manifestações públicas Observatórios sociais Ouvidorias Consultas públicas Ação popularAção civil pública etc.
todo o País,
criando um sistema de controle social no SUS
Controle social :
definição clássica
“
Por controle social se entende o conjunto de meios de intervenção, quer positivos quernegativos, acionados por cada sociedade ou grupo social a fim de induzir os próprios membros a se conformarem às normas que a caracterizam, de
conformarem às normas que a caracterizam, de impedir e desestimular os comportamentos
contrários às mencionadas normas, de restabelecer condições de conformação, também em relação a uma mudança do sistema normativo.” (Bobbio et al., 1992)
Controle social
SUS: formulação de estratégias e controle da execução das políticas públicas de Saúde, por parte da sociedade
A concepção de controle social no SUS A concepção de controle social no SUS
pressupõe dois conceitos: participação e
Atendimento integral Descentralização das ações e políticas de saúde
Diretrizes do SUS
Constituição Federal – Da Saúde
Participação da comunidade
Participação da comunidade
Um dos pilares do SUS
Interfere nas políticas de Saúde
A Legislação Federal (CF, art.198, inciso III e Lei 8.080-90, Art. 7º, inciso VIII) estabeleceu as Lei 8.080-90, Art. 7º, inciso VIII) estabeleceu as normas gerais que orientam a participação da
comunidade na gestão do SUS por meio das Conferências e dos Conselhos de Saúde
Participação
“O indivíduo propõe-se a interagir com o outro, num convívio que democratiza os espaços
comuns (públicos) em qualquer âmbito – familiar, afetivo, cultural, econômico ou familiar, afetivo, cultural, econômico ou político.” (Escorel e Moreira, 2008)
Do micro (relações familiares) ao mais macro, no qual se pretende intervir nas leis e políticas que regulam a sociedade
Participação
Intrínseca à sociedade – contradições; relações indivíduo-coletividade; papel mais ou menos ativo de quem participa
Valorização de contatos, espaços e fóruns
públicos (comum a todos e diferente do lugar públicos (comum a todos e diferente do lugar que nos cabe dentro dele)
Ponto de partida: o indivíduo que busca intervir em uma situação concreta e histórica em que vive, atuando como sujeito social
Participação
Sujeito (individual e coletivo) que participa em determinado espaço (p. ex.: Conselho ou
Conferência) relacionado à instituição que se quer influenciar para modificá-la de modo a
atender seus interesses. Isto ocorre no interior de cada cultura, que caracteriza e é
caracterizada por um momento histórico numa sociedade específica.
Quem participa?
É preciso identificar os sujeitos que participam numa situação concreta
Isoladamente ou em grupo?
Participação direta ou por representantes?
Participação voluntária, condicionada, forçada e/ou
As instâncias de participação
Dependem do regime político da sociedade na qual se inserem
Propósito: permitir que os sujeitos atuem em conjunto
Papel: reunir estes sujeitos; definir estratégias para debater objetivos contraditórios; submetê-los a um processo de escolha; direcionar sua
atuação para instituições que regulam as relações sobre as quais se pretende intervir
Instituições permeáveis à participação, valorizam o espaço público e reconhecem a importância do debate
As instâncias de participação
Quando a instituição cria a instância de
participação, tende a ser mais reconhecida e legitimada
Entretanto, podem ser instâncias meramente formais, uma estratégia de esvaziar o processo formais, uma estratégia de esvaziar o processo participativo, ou uma forma sutil de negar-lhe legitimidade
Por sua vez, uma rede de oposição forte acaba tendo de ser reconhecida, mas, também pode gerar boicotes
Democracia
A participação social é a base constitutiva da democracia, que é uma forma de governo
Modelo clássico: Assembléia do povo (Rousseau)
Séc. XIX: democracia representativa ou Séc. XIX: democracia representativa ou
parlamentar
Leis elaboradas pelo conjunto dos representantes
eleitos
Sufrágio universal (pressupõe direitos políticos e
Democracia
A democracia garante o direito de participar, mas não estabelece mecanismos e processos para tal. São necessárias mobilizações e ações coletivas. Direta Direta Plebiscito Referendo Iniciativa popular Representativa Eleições
Conselhos de Saúde
breve histórico
A participação na Saúde não começou com o SUS. Nas décadas de 70 e 80 existiram outros tipos de Conselhos:
Comunitários Comunitários Populares
Administrativos
Influência da Conferência de Atenção Primária em Saúde de Alma-Ata (1978)
Conselhos de Saúde
breve histórico
1983: Ações Integradas de Saúde (AIS) previam a participação da população nos colegiados de
gestão, que eram as Comissões Interinstitucionais de Saúde (estaduais, municipais e locais)
de Saúde (estaduais, municipais e locais)
1987: Sistema Unificado e Descentralizado de
Saúde (SUDS) previa a participação de entidades comunitárias, sindicais e gremiais em instâncias consultivas (e não deliberativas) do seu processo de implementação [lacunas na representação]
Conselhos de Saúde
breve histórico
Conselhos de Saúde integram o conjunto dos ‘conselhos gestores’ (CF 1988)
Desde 1986, o Relatório da 8ª Conferência Nacional de Saúde propôs a reformulação do Nacional de Saúde propôs a reformulação do sistema de saúde brasileiro
Garantia do controle do novo sistema pelos usuários Criação de Conselhos de Saúde compostos por
representantes eleitos pela comunidade (usuários e prestadores de serviços)
Conselhos de Saúde
breve histórico
Os Conselhos Municipais aparecem como ‘instâncias participativas’ externas ao poder
público, de controle (pelos usuários) do sistema de saúde e de todas as etapas de seu ciclo de políticas saúde e de todas as etapas de seu ciclo de políticas A 8ª Conferência sistematizou as recomendações
do projeto de Reforma Sanitária, levado à
Assembléia Nacional Constituinte para disputar com outras propostas
Conselho Nacional de Saúde
1937: Criação do Conselho Nacional de Saúde (CNS) através da lei 378
Atribuição: Assessorar o então Ministério da
Educação e Saúde, em conjunto com o Conselho Nacional de Educação
Nacional de Educação
Colegiado formado por especialistas em assuntos de saúde pública, com caráter consultivo e
Conselho Nacional de Saúde
Até 1974, funcionamento irregular e inexpressivo, quando um decreto presidencial define melhor
objetivos, funções e estrutura compatíveis com a “modernização conservadora”
ausência de participação da sociedade predominância médica
maior representação de instituições militares com o
papel de legitimador da política predominante
1976: CNS como uma espécie de coletivo de câmaras técnicas
Conselho Nacional de Saúde
1977-8: portarias estabelecem estrutura técnica e administrativa do CNS, como órgão consultivo com atribuições normativas
Entre 1970 e 1990, o CNS teve pouca importância na formulação e acompanhamento da política de na formulação e acompanhamento da política de Saúde
1990: Conselhos de Saúde são deliberativos e
podem influenciar diretamente na formulação de políticas de saúde. O novo CNS baseia-se nos princípios e diretrizes do SUS
O novo CNS
É composto por diversos segmentos da sociedade
Pode analisar e deliberar sobre assuntos de
saúde pública, através de resoluções que devem ser adotadas pelo Ministério da Saúde
ser adotadas pelo Ministério da Saúde
Pode manifestar-se sobre a Política Nacional de Saúde
Propor a convocação e organizar a Conferência Nacional de Saúde
O novo CNS
2002 – composição do CNS:
Ministro da Saúde era o presidente nato do CNS 32 conselheiros titulares
2006: decreto 5.839 muda a composição do CNS
CNS
48 conselheiros titulares
Primeira eleição para presidente do CNS
• representante da Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Seguridade Social, reeleito por eleição direta para o período 2007-2009
Composição paritária
50% de usuários
Sindicatos de trabalhadores
Movimentos comunitários na saúde Associações de bairros
Associações de Portadores de Patologia Associações de Portadores de Patologia Associações de Portadores de Deficiência 25% de trabalhadores da Saúde
25% de prestadores de serviço e gestores
Paridade proposta na Resolução 33/1992, ratificada pela Resolução
333/2003 do CNS e nas recomendações da 10ª e da 11ª Conferências Nacionais de Saúde
Composição atual do CNS
48 conselheiros titulares e seus respectivos suplentes
24 representantes de entidades e movimentos sociais
de usuários SUS
12 segmentos de profissionais de saúde
10 entidades nacionais de profissionais de saúde
2 comunidades científicas (Cebes (1976) Abrasco (1979) 2 comunidades científicas (Cebes (1976) Abrasco (1979)
2 entidades de prestadores de serviço
2 entidades empresariais da área da saúde 8 gestores
6 Federais (4 MS, 1 MTE e 1 MPS) 1 Estadual (CONASS)
1 Municipal (CONASEMS)
o Abrasco = Associação Brasileira de Saúde Coletiva
Regulamentações
Lei 8.080 de set.1990 regulamenta o SUS, mas os artigos sobre a participação da comunidade e do financiamento foram vetados pelo presidente
Collor
Lei 8.142 de dez.1990 (Art.1º. – parágrafos 1 a Lei 8.142 de dez.1990 (Art.1º. – parágrafos 1 a 5), regulamenta a participação da comunidade. Reeditou o artigo vetado, relativo à
obrigatoriedade da existência de Conselhos Municipais, Estaduais e Federal e ampliou a autonomia dos mesmos ao prever regimentos internos elaborados pelos conselheiros.
Regulamentações
Resolução n.33, de 23 de dez. 1992, do Conselho Nacional de Saúde, que faz recomendações para a constituição e estruturação de Conselhos
Estaduais e Municipais de Saúde
Resolução n. 333, de 4 de nov. 2003, do Resolução n. 333, de 4 de nov. 2003, do
Conselho Nacional de Saúde, que aprova diretrizes para criação, reformulação,
estruturação e funcionamento dos Conselhos de Saúde
Alguns números
Há Conselhos de Saúde em todas as Unidades da Federação
Em 17 anos, foram criados mais de 5.700 Conselhos nos 5.564 municípios brasileiros São cerca de 72.000 conselheiros
20% a mais do que os cerca de 51.000 vereadores no
País (TSE 2008)
São cerca de 36.000 usuários do SUS, indicados por quase 28.000 entidades da sociedade civil
Conselhos Municipais e
dinâmicas políticas
Políticas públicas são setoriais e subnacionais Processos desiguais entre os municípios
brasileiros
Quanto menor o município, maior sua Quanto menor o município, maior sua
vulnerabilidade política, ou talvez hajam
elementos comuns menos visíveis nas grandes cidades (!?)
Concentração no poder Executivo, apesar da participação e descentralização previstos na CF 1988
Conselhos Municipais e
dinâmicas políticas
Importância na periodicidade das reuniões Dependência e desorganização funcional
Institucionalização dos Conselhos amplia de fato a arena política. Amplia e diversifica o número a arena política. Amplia e diversifica o número de atores que participam do processo decisório
O mandato dos conselheiros deve ser definido no regimento interno e não deve coincidir com o
mandato do Governo Estadual, Municipal, do Distrito Federal ou do Governo Federal
“Monitoramento e apoio à gestão
participativa do SUS”
Pesquisa iniciada em 2007 – ENSP e Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do MS
Amostra: 5.463 CMS, que contam com 72.184 conselheiros titulares, sendo 36.638
representantes de usuários do SUS (Moreira e representantes de usuários do SUS (Moreira e Escorel, 2009)
5.463 CMS = 98% dos 5.564 CMS existentes Dimensões analisadas (total 18 variáveis):
Autonomia Organização Acesso
“Monitoramento e apoio à gestão
participativa do SUS”
Autonomia (parte física, equipamentos, recursos humanos e financeiros)
Piores resultados nacionais, entre as 3 dimensões
analisadas analisadas
Exceção - variável “linha telefônica”
Menos pior – “acesso à Internet”, a despeito da
existência de computador
Piores resultados – recursos financeiros e recursos
“
Monitoramento e apoio à gestão
participativa do SUS”
Organização (existência de instâncias internas e a realização de capacitação e reuniões)
Dois piores desempenhos: “capacitação de
conselheiros” e “comissões permanentes” conselheiros” e “comissões permanentes”
Resultados positivos: “reuniões mensais em 82% dos
CMS” e “não foram canceladas por falta de quórum em 66% dos CMS”
“
Monitoramento e apoio à gestão
participativa do SUS”
Acesso (retrata a possibilidade de todos os
conselheiros concorrerem ao cargo de presidente e da população participar do cotidiano dos Conselhos)
Dimensão com melhores resultados
83% com “reuniões abertas à população” 83% com “reuniões abertas à população”
74% com “população com direito à voz nas reuniões” Mais de 70% dos CMS elegem seus presidentes
Presidente – resultado negativo. Só em 7 municípios
entre 1.000.001 e 2.000.000 de hab. (grande porte), os gestores não são os presidentes dos CMS
Em resumo
Número de conselheiros (municipais e estaduais) = indicado pelos plenários dos Conselhos e das Conferências (10 a 20)
Participação paritária: 50% de entidades de usuários do SUS
Regimento interno próprio
Critérios para a participação das entidades com assento no Conselho: representatividade,
abrangência e complementaridade do conjunto de forças locais, de acordo com as
Em resumo
Representantes no Conselho são indicados por escrito por sua organização ou fóruns próprios e independentes
O mandato dos conselheiros não pode coincidir com o do Executivo (governo municipal)
2 anos de mandato
Os segmentos presentes no Conselho de Saúde são escolhidos para representar a sociedade
como um todo
A função de conselheiro é considerada de relevância pública
Como participar de um Conselho?
Conhecer o regimento interno do Conselho
Porto Alegre - http://www.conselhodesaude.poars.nom.br/
(não traz regimento)
Prefeitura de Belo Horizonte
http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?app=cm s
Procurar saber o calendário das reuniões Procurar saber o calendário das reuniões
Se dirigir à Secretaria Executiva dizendo que a Associação gostaria de participar como
observador
Identificar se há um Fórum de Patologias, ou
entidades reconhecidas que atuam no movimento de saúde e/ou como conselheiro
Referências
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CORREIA, M.V.C. Desafios para o controle social: subsídios para
Referências
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