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OS PROBLEMAS CAUSADOS PELO LIXO MARINHO SOB O PONTO DE VISTA DOS USUÁRIOS DA PRAIA DO CASSINO - RS

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OS PROBLEMAS CAUSADOS PELO LIXO MARINHO SOB O PONTO DE VISTA DOS USUÁRIOS DA PRAIA DO CASSINO - RS

SANTOS, Isaac Rodrigues dos1; FRIEDRICH, Ana Cláudia2; MARIANO, Cristiano Vargas3; ABSALONSEN, Luciano4; DUARTE, Eliane5

Fundação Universidade Federal do Rio Grande - Comcur de Oceanologia CP 474 Rio Grande, RS 96201-900 Brasil. 1,3 e 4 Acadêmicos de Oceanologia; 2 Mestranda Engenharia Oceânica; 5 Mesrte Educação Ambiental - Dep. Física - FURG. E-mail: 1 isaacrsantos@bol.com.br

RESUMO

O controle da poluição marinha está intimamente ligado à gestão ambiental e ao processo de tomada de decisão para o gerenciamento da zona costeira. O conhecimento da percepção dos freqüentadores da Praia do Cassino sobre a realidade ambiental, neste caso, em relação aos problemas causados pelo lixo marinho, é fundamental para a elaboração de um plano de gerenciamento de resíduos sólidos e para programas de educação ambiental. O lixo marinho causa problemas para o turismo e economia, representa riscos para os freqüentadores das praias e, além disso, representa perigo para a vida marinha. O objetivo deste trabalho é avaliar o conhecimento dos usuários da Praia do Cassino sobre os problemas causados pelo lixo na praia e promover uma reflexão sobre o tema em estudo. Para isto, foram aplicados questionários padronizados e formados exclusivamente por perguntas abertas, sendo que durante e após as entrevistas havia a discussão do tema em estudo entre entrevistado e entrevistador. No total aplicaram-se 224 questionários, os quais foram considerados uma amostra significativa. As respostas à pergunta "Que tipo de

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problema ou prejuízo o lixo na praia pode causar?" foram agrupadas nas seguintes classes: (1) problemas ao ambiente (danos à flora e fauna); (2) problemas para a saúde e segurança humana; e, (3) problemas ao turismo e economia. A maioria das respostas às classes (1) e (2) foram consideradas adequadas, enquanto que em relação à classe (3) não se observou o mesmo conhecimento. Nenhum entrevistado citou os problemas mais comuns do lixo em ambiente marinho, como enredamento e ingestão de resíduos por animais. A classe (2) foi a mais freqüente entre as respostas (44%). Mais pessoas com 3º grau mostraram visão sistêmica do problema do lixo na praia, visto que 9,4% delas tiveram suas respostas classificadas nas classes 1, 2 e 3 simultaneamente, enquanto que apenas 2,3 e 2,4% das pessoas com 1 e 2° grau, respectivamente, fizeram esta associação. Na pergunta “Você já teve algum problema com o lixo na praia? O que aconteceu?” 62,9% responderam "não" e 35,7% responderam "sim". Dentre as respostas "sim" houve uma grande incidência de pessoas que tiveram ferimentos (49%) em cacos de vidro ou esporões de peixe. Por fim, cita-se a necessidade da implantação de programas de educação ambiental. Sugere-se que seja explorada a questão aqui abordada (os problemas causados pelo lixo marinho), visto que os freqüentadores mostraram interesse e receptividade durante as entrevistas e possuem pouco conhecimento sobre a amplitude dos problemas causados pelos resíduos em ambiente praial.

Palavras-chave: lixo marinho; percepção; educação ambiental. Eixo temático: Educação Ambiental e Manejo Costeiro Integrado.

INTRODUÇÃO

O artigo primeiro da Convenção sobre o Direito do Mar de 1982 define que poluição marinha “significa a introdução pelo homem, direta ou indiretamente, de substâncias ou de energia no meio marinho, incluindo os estuários, sempre que a mesma provoque ou possa vir a provocar efeitos nocivos, tais como danos aos recursos vivos e à vida marinha, riscos à saúde do homem, entrave às atividades marítimas, incluindo a pesca e as outras utilizações legítimas do mar, alteração da qualidade da água do mar, no que se

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abrangente, traduzindo adequadamente o conceito de que a principal fonte de poluição marinha está, principalmente, baseada em terra (II WORKSHOP REGIONAL SUL SOBRE O MAR, 1998).

O controle da poluição marinha está intimamente ligado à gestão ambiental e ao processo de tomada de decisão para o gerenciamento da zona costeira, fazendo-se necessário o envolvimento da sociedade nas suas diferentes formas de organização.

O conhecimento da percepção dos freqüentadores da Praia do Cassino sobre a realidade ambiental, neste caso, em relação aos problemas causados pelo lixo marinho é fundamental para a elaboração de um plano de gerenciamento de resíduos sólidos (Duarte, 1997). Também é imprescindível para a elaboração de programas de educação ambiental. O lixo marinho pode custar caro para as comunidades costeiras, seja pela perda do potencial estético e turístico e da qualidade da água das praias ou pelos custos despendidos com a limpeza pública e eventuais doenças associadas ao lixo. Além disso, resíduos no ambiente marinho estragam embarcações, matam organismos que poderiam ser explorados comercialmente (EPA 1992) e aumentam o esforço de pesca, visto que constituem peso no momento do recolhimento de redes.

Já os problemas causados à vida selvagem são vários. Eles podem ser classificados basicamente em enredamento e ingestão de resíduos. O enredamento de animais com o lixo marinho pode causar ferimentos, infecções, estrangulamento, asfixia e prejudicar a habilidade dos organismos em nadar, buscar alimento e evitar predadores. A ingestão de resíduos por animais marinhos causa inanição, sufocação, infecções e diversos prejuízos internos (EPA, op. cit.). Laist (1987) cita que o comportamento curioso e predatório de várias espécies de pássaros, mamíferos marinhos e tartarugas faz com que estes animais sejam atraídos por resíduos flutuantes. Hanni & Pyle (2000), por exemplo, observaram exemplares de pinípedes de cinco espécies enredados em materiais sintéticos, especialmente, em redes usadas na pesca de salmão na Califórnia. Zarzur (1997), encontrou plásticos no conteúdo estomacal em 9 espécies de petréis e em 1 espécie de albatroz na Praia do Cassino. Bjorndal, et al (1994) observou que 56% das tartarugas em estudo continham resíduos em seu estômago.

Além disso, existem outros efeitos que merecem ser lembrados. Baterias, resíduos agrícolas, carros, resíduos domiciliares e outros utensílios encontrados em ambientes

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marinhos são fonte de compostos tóxicos, como metais pesados e organoclorados, os quais podem ser acumulados através da rede alimentar e atingir até mesmo consumidores humanos. Resíduos flutuantes transportam uma diversa comunidade de organismos marinhos e podem introduzir espécies exóticas em lugares com interações ecológicas já estabelecidas e modificar ecossistemas. Nas praias, os resíduos podem limitar a transferência vertical de oxigênio e água e prejudicar organismos da infauna bentônica, como mariscos (Duarte, 1997). A eutrofização da areia pela matéria orgânica, possivelmente abandonada, também pode alterar as condições do ambiente (Clevering, 1999).

Estudos sobre os resíduos nas praias gaúchas são escassos e constituídos principalmente de análises quantitativas. Pianowski (1997) faz uma análise comparativa entre os resíduos superiores a 1 cm encontrados na Praia Grande e Praia da Guarita em Torres, na Praia do Cassino e na Estação Ecológica do Taim, onde constatou que toda a costa do Rio Grande do Sul está contaminada por resíduos sólidos. Mariano et al (2000) apresenta uma proposta de metodologia para a quantificação de resíduos sólidos em ambientes praiais, onde se consideram apenas os resíduos de grande porte, os quais estão associados ao maior impacto ambiental e estético. Friedrich (2000) realizou um estudo sobre a viabilidade da implantação de um núcleo de coleta seletiva de lixo na Praia do Cassino, o qual obteve grande aceitação popular. Bruno (2000), faz uma contribuição para um plano de gerenciamento costeiro com ênfase em resíduos sólidos. Este autor, questionou, entre outras variáveis, nas feiras do Rio Grande, a participação das pessoas na coleta seletiva. No Balneário Cassino, Carvalho (1999) encontrou 777 focos de disposição irregular de resíduos sólidos, sendo as construções, as podas de árvores e a inadequação no descarte de lixo reciclável as principais fontes desses focos de resíduos.

OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é avaliar o conhecimento dos usuários da Praia do Cassino sobre os problemas causados pelo lixo no ambiente marinho, no que diz respeito ao impacto ambiental e sócio-econômico, como forma de subsídio para futuras atividades de

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educação ambiental relacionadas com a temática dos resíduos sólidos. Além disso, tenta-se promover reflexão sobre o tema “lixo” nas pessoas entrevistadas.

ÁREA DE ESTUDO

A Praia do Cassino, pertencente ao município de Rio Grande -RS, situa-se na porção imediatamente ao sul da desembocadura da Lagoa dos Patos. Em relação ao aporte turístico, observa-se intenso afluxo nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro proveniente da cidade do Rio Grande, de outras cidades do interior do RS, como Bagé e Pelotas, e dos países vizinhos Uruguai e Argentina (Wetzel, 1995). Desta forma, a população chega a ser no verão 15 vezes maior do que sua população fixa (20.000 habitantes) fazendo com que a faixa de praia fique extremamente ocupada (Pianowski, 1997).

A conformação da Praia, contínua, larga e com baixa profundidade, permite que os turistas percorram sua extensão em automóveis, estacionando-os diretamente sobre o litoral. Para atender a demanda destes turistas, existem muitos vendedores ambulantes que percorrem a praia a pé ou instalam-se em lugares determinados com seus reboques. Estes vendedores comercializam principalmente sorvetes, milho verde, sanduíches, biscoitos e bebidas enlatadas ou em garrafas. Oferendas religiosas, como doces, perfumes, bebidas, velas, flores e animais são observadas na praia durante o ano inteiro, sendo que na Festa de Iemanjá (02/02) há grande intensificação destas oferendas (Wetzel, op. cit.). Nos últimos anos, tem aumentado o número de pessoas que catam latas de alumínio. Estes catadores contribuem involuntariamente com a limpeza da praia. Eles pedem as latas descartadas pelos veranistas, as recolhem das lixeiras públicas e do chão com intuito de vendê-las na cidade do Rio Grande por valores em torno de R$ 6,00/Kg.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para avaliar o conhecimento dos usuários da Praia do Cassino sobre os problemas causados pelo lixo marinho, fez-se uma caracterização do freqüentador da praia em relação ao nível de escolaridade, cidade de origem, sexo e idade e analisou-se as questões 8 e 9 do questionário (anexo).

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Os dados foram obtidos através da aplicação de questionários padronizados formados exclusivamente por perguntas abertas. Este tipo de pergunta não induz os entrevistados em suas respostas e possibilita a obtenção de dados qualitativos (Trivinos, 1992). Com o intuito de formular as perguntas e ordená-las da maneira mais adequada testaram-se questionários preliminares, os quais não foram computados nos resultados finais.

Os entrevistados eram escolhidos de maneira aleatória num determinado ponto da orla. A abordagem era feita de maneira amistosa com a identificação dos entrevistadores e explicação dos objetivos do estudo, conforme sugestão de Bastos (1999), e a entrevista era realizada somente sob a aceitação das pessoas.

O preenchimento do questionário era feito geralmente pelo entrevistador com o intuito de transcrever na íntegra as informações fornecidas. Quando o entrevistado solicitava o preenchimento do questionário, o entrevistador permitia e auxiliava na leitura das perguntas, fazendo, sempre que necessário, a complementação das respostas preenchidas com os eventuais comentários orais logo após a realização da entrevista. Também após a entrevista, era aberto um espaço para discussão e reflexão de problemas ambientais locais e globais, principalmente sobre a questão dos resíduos sólidos, onde havia interação entre entrevistado e entrevistador.

A amostragem foi realizada entre os dias 31/01/2001 e 06/02/2001. As entrevistas foram feitas na orla da Praia e em dias considerados atrativos para o lazer à beira-mar. Para obter uniformidade na amostra foram escolhidos quatro pontos distintos ao longo da orla: Terminal Turístico, Riacho do Gelo, Iemanjá e Querência. No total foram feitas 224 entrevistas e os dados foram analisados considerando que esta amostra é representativa do total de usuários da Praia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os entrevistadores foram bem recebidos pelos grupos de pessoas abordados. Muitas vezes, a pessoa abordada pedia para que outro do grupo respondesse às perguntas, mostrando um pouco de receio, porém, durante e após a entrevista todos conversavam

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sobre o assunto. Nessas conversas, foi muito citada a grande quantidade de cachorros na praia.

Considerando-se que foram entrevistadas 224 pessoas e que estas estavam geralmente em grupos, estima-se que pelo menos 600 pessoas receberam informações sobre o problema do lixo nas praias. Estas pessoas podem se tornar disseminadoras de tal conhecimento, contribuindo para o esclarecimento desta problemática. A caracterização dos usuários da praia em relação à idade, cidade de origem e escolaridade pode ser observada nas figuras 1, 2, e 3, respectivamente.

Figura 1: Distribuição da idade dos entrevistados (%).

Em relação à idade, verificou-se uma distribuição aproximadamente normal, com média e moda na faixa de 31 – 40 anos.O sexo predominante entre os entrevistados foi o feminino, a amostra foi composta por 132 mulheres (59%) e 92 homens (41%).

9,8% 3,1% 1,8% 2,2% 5,8% 28,1% 49,1% 0 10 20 30 40 50 60

Rio Grande Pelotas Bagé Porto Alegre

Uruguai Argentina Outras

31,7% 8,5% 14,7% 27,7% 13,4% 4,0% 0 5 10 15 20 25 30 35 até 20 21 - 30 31 - 40 41 - 50 51 -60 mais de 60

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Figura 2: Distribuição da cidade de origem dos entrevistados (%).

Os freqüentadores da praia são em sua maioria de Rio Grande (49,1%) seguido de Pelotas (28,1%). Os estrangeiros (uruguaios e argentinos) representaram 5% da amostra.

Os entrevistados apresentaram escolaridade muito elevada, sendo que 42,9% possuem nível superior e apenas 19,6% possuem 1º grau ou menos. O fato de que 77,2% dos entrevistados são de Rio Grande ou Pelotas, cidades onde existem três universidades, pode explicar a elevada taxa escolar dos entrevistados.

Figura 3: Distribuição da escolaridade dos entrevistados (%).

Utilizando-se as respostas obtidas através da pergunta 8 " Que tipo de problema ou prejuízo o lixo na praia pode causar?”, procurou-se identificar tendências da percepção ambiental do usuário da Praia.

As respostas foram agrupadas em classes baseadas na classificação da UNESCO (1994) para melhor compreensão e visualização dos dados. As classes obtidas foram:

1. Problemas ao ambiente (danos à flora e fauna): "poluição"; "escoamento da água"; "modifica o ecossistema e biodiversidade"; "tempo de decomposição"; "desequilíbrio"; "compromete o meio ambiente"; "danos ao meio ambiente"; "fauna"; "polui a água"; "polui a areia"; "prejudica a natureza"; "peixes"; "contaminação da água"; "poluição das dunas". 2. Problemas para a saúde e segurança humana: "ferimentos"; "acidentes"; "doenças"; "doenças de pele"; "tétano"; "micoses"; "bicho geográfico"; "malefícios à saúde de modo geral"; "insetos"; "bichos"; "perigos para as crianças"; "desconforto"; "formação de

42,9% 37,5% 19,6% 0 10 20 30 40 50

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3. Problemas ao turismo e economia: "mau cheiro"; "mau aspecto estético"; "poluição visual"; "espanta o turista"; "prejudica o trânsito"; "os resíduos podem furar os pneus"; "causa uma má impressão"; "o turista sente falta de segurança"; "dragagem do canal"; "lama"; "pesca"; "gastos"; "falta de segurança"; "entupimento de esgotos"; "atrapalha o processo de reciclagem".

Esta classificação mostra que os entrevistados têm conhecimento dos problemas causados diretamente às pessoas (saúde, segurança, turismo e economia). Embora existam algumas respostas que não estão relacionadas com o lixo marinho, como “entupimento de esgotos” e a associação da lama do Cassino com lixo, estas foram consideradas adequadas aos problemas enquadrados nestas classes.

O impacto econômico do lixo sobre comunidades costeiras foi determinado por Ballance et al (2000). Segundo este autor, a limpeza é o fator mais importante na escolha da praia, especialmente para turistas em Cape Peninsula, na África do Sul, sendo que 40% dos turistas estrangeiros e 60% dos domésticos não retornariam a praias com mais de 10 itens de resíduos por metro, o que vem a causar um grande impacto econômico nas praias sujas daquele país. Segundo Pianowski (1997), na Praia do Cassino entre outubro de 1996 e setembro de 1997 haviam 8,89 resíduos por metro em média, sendo que haviam picos superiores a 10 itens/metro no verão. Provavelmente, o impacto do lixo no turismo também ocorre no Brasil, entretanto ainda não existem dados quantitativos que mostrem esta influência. Os dados aqui apresentados mostram que apenas 28% das pessoas que já tiveram algum tipo de problema com o lixo na praia se sentiram incomodadas por este (figura 6), estas são as pessoas que potencialmente poderiam não retornar ao Cassino e escolher outro lugar para o lazer.

Em relação aos danos para a flora e fauna não se observou o nível de conhecimento das respostas enquadradas como problema de saúde/segurança e/ou turismo/economia. Nenhuma resposta associada aos problemas à vida marinha considerados “clássicos”, como enredamento e ingestão de resíduos foi citada. As respostas mais comuns eram sempre vagas, como “poluição” e “contaminação”. Isto mostra que as pessoas sabem que o lixo causa impacto ao ecossistema, mas desconhecem os processos envolvidos, ou seja, quais são os mecanismos de poluição e contaminação. Desconhecem também que ações pequenas

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e isoladas como enterrar o lixo na areia ou deixar seus resíduos na praia podem causar sérios danos ao meio ambiente.

O tratamento quantitativo das classes é mostrado na figura 4.

Figura 4: Gráfico de colunas com a relação entre escolaridade e conhecimento dos problemas do lixo marinho enquadrados nas classes, sendo: 1 - ambiente; 2 - saúde/segurança; 3 - turismo/economia.

Analisando-se a figura 4, observa-se que 9,4% das pessoas com 3º grau tiveram suas respostas classificadas nas classes 1, 2 e 3 simultaneamente, enquanto que apenas 2,3% e 2,4% das pessoas com 1º e 2º graus, respectivamente, fizeram esta associação. Esta análise permite deduzir que pessoas com 3º grau possuem uma visão sistêmica do problema do lixo na praia, ou seja, elas compreendem que o lixo não é um problema especifico para o ser humano e sim um problema que envolve diversas variáveis. Mesmo assim, considera-se que estes percentuais são muito baixos. Verifica-se que a maioria dos usuários da Praia do Cassino desconhecem a grande amplitude dos problemas causados pelo lixo na praia. Estas pessoas acreditam que o lixo é um problema apenas para o ser humano.

Foi notado que os entrevistados que tinham consciência ambiental mostravam com orgulho sua sacola com lixo e falavam do assunto com grande interesse, tendo o intuito de demonstrar o fato de que dão um destino adequado para seus resíduos.

Com a pergunta “Você já teve algum problema com o lixo na praia? O que 0% 10% 20% 30% 40% 50% 1 2 3 1 e 2 1 e 3 2 e 3 1, 2 e 3 Não Resp 1º GRAU 2º GRAU 3º GRAU

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Para efetuar o tratamento dos dados foi considerado “sim” apenas quando a própria pessoa que estava sendo entrevistada já teve problema com o lixo da praia, apesar de ter sido citado por alguns entrevistados que parentes ou amigos já tiveram ferimentos ou doenças devido a resíduos na praia.

Figura 5: Distribuição das respostas na pergunta "Você já teve algum problema com o lixo na praia?".

Na figura 5, observa-se que 36% dos entrevistados afirmaram que já tiveram algum tipo de problema causado pelo lixo marinho. Três pessoas não responderam a esta pergunta e 63% afirmaram que nunca tiveram algum tipo de problema com o lixo marinho. A grande ocorrência de pessoas que nunca tiveram algum problema com o lixo na praia mostra que os usuários em geral não se sentem incomodados com o lixo na praia ao ponto de considerar isto um problema.

As 80 respostas “sim” da pergunta 9 foram divididas nas seguintes classes: 1. Ferimentos: cortes e ferimentos em vidros, latas, material de pesca e peixes mortos. 2. Doenças: incluindo micoses, bicho geográfico, conjuntivite, alergia, infecção no

ouvido, berne e diarréia.

3. Desconforto ou incômodo: "se retirou do lugar"; "discutiu com os outros"; "limpou o lixo dos outros"; "não pode passear com os filhos"; "evitou o banho pelas fezes na água"; "criança retirou vidro do mar"; "moscas incomodaram"; "ficou aborrecido"; "estacionou o carro onde tem lixo".

Observa-se na figura 6 a grande freqüência de ferimentos com esporões de peixes, cacos de vidro ou latas. Os cacos de vidro são materiais persistentes no ambiente e de

35,7 62,9 1,3 0 10 20 30 40 50 60 70

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difícil visualização e recuperação. Na orla da Praia do Cassino, o vidro representa 9% dos resíduos (Wetzel, 1995). Considerando que o vidro é um material inorgânico, a tendência é que este percentual aumente com o passar do tempo, aumentando também o perigo para os veranistas.

Figura 6: Freqüência das classes obtidas a partir das respostas “sim” na pergunta 9.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As pessoas entrevistadas possuem pouco conhecimento sobre os problemas causados pelo lixo nos ecossistemas marinho e costeiro. Nenhum entrevistado citou problemas clássicos, como enredamento e inanição de animais marinhos. Entretanto, as pessoas ficavam impressionadas ao tomar conhecimento de tais problemas durante as discussões realizadas. Isto mostra que a interação que ocorreu durante as entrevistas foi válida como atividade de reflexão ambiental.

Por fim, cita-se a necessidade da implementação de programas de educação ambiental. Sugere-se que seja explorada a questão aqui abordada (os problemas causados pelo lixo marinho), visto que os freqüentadores mostraram receptividade durante as entrevistas e interesse em conhecer os problemas causados pelos resíduos em ambiente

49% 19% 28% 4% Ferimentos Doenças Desconforto Ferimentos e Doenças

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BASTOS, R.L. Ciências Humanas e Complexidades: projetos, métodos e técnicas de pesquisa; o caos, a nova ciência. Juiz de Fora: EDUFJF; Londrina: CEFIL, 1999. 128 p.

BALLANCE, A; RYAN P.G.; TURPIE J.K. How much is a clean beach worth? The impact of litter on beach users in the Cape Peninsula, South Africa. South African Journal of Science 96 (5) 210-213, 2000.

BJORNDAL, K. A; BOLTEN, A.B.; LAGUEUX, C. J. Ingestion of marine debris by juvenile sea turtles in Coastal Florida habitats, Marine Pollution Bulletin. 1994. 28(3) 154-15

BRUNO, M.A. Contribuições à elaboração de um plano municipal de gerenciamento costeiro: A questão dos resíduos sólidos em Rio Grande-RS. Monografia. Rio Grande: FURG, 2000. 59 p.

CARVALHO, J.B. Os resíduos sólidos no Balneário Cassino: avaliação e proposta de um sistema de manejo. Monografia. FURG: Rio Grande-RS. 1999. 70 p.

CLEVERING, O. A. The effects of litter on growth and plasticity of Phragmites australis clones originating from infertile, fertile or eutrophicated habitats, Aquatic Botany. 64(1). 1999. 35-50

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DUARTE, E.M.M.B. Plano de gerenciamento de resíduos sólidos do porto do Rio Grande: Proposta preliminar. Dissertação de Mestrado. Rio Grande-RS: FURG 1997. 248 p.

ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY (EPA). Turning the tide on trash – a learning guide on marine debris. EPA 842-B92-003. Environmental Protection Agency, Washington, DC. 1992. 77p.

FRIEDRICH, A.C., OLIVEIRA, U.G., VIERA, E. Estudo da viabilidade da implantação de um núcleo de coleta de lixo na Praia do Cassino XIII SEMANA NACIONAL DE OCEANOGRAFIA. Itajaí-SC, Anais. 2000. 59-61

HANNY, K.D.; PYLE, P. Entanglement of pinnipeds in synthetic materials et South - East Farallon Island, California, 1976 - 1998. Marine Pollution Bulletin. 2000. 40(12) 1076-1081

LAIST, D.W. Overview of the biological effects of lost and discarded plastic debris in the marine environment. Marine Pollution Bulletin. 1987. 18(6b) 319-326

MARIANO, C.V.; SANTOS, I.R; ABSALONSEN, L.; SCHILLER, R.V. Elaboração e Avaliação de um Método para Classificação e Quantificação de Resíduos Sólidos Presentes em Ambientes Praiais-Varredura. XIII SEMANA NACIONAL DE OCEANOGRAFIA. Itajaí-SC, Anais. 2000. 54-56

MOORE, S.L., GREGORIO, D., CARREON, M., WEISBERG, S.B., LEECASTER, M.K. Composition and distribution of beach debris in Orange Country, California. Marine Pollution Bulletin 42 (3), 2001. 241-245

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PIANOWSKI, F. Resíduos Sólidos e Esférulas plásticas nas Praias do Rio Grande do Sul. Monografia. Rio Grande: FURG. 1997. 78p.

TRIVINOS, A.N.S. Introdução a pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: ATLAS. 1992. 175 p

UNESCO. Marine debris: solid waste management action plan for the Wider Caribbean. IOC Technical Series 41. Unesco, 1994, 20 p.

WETZEL, L.B. Contaminação por resíduos sólidos e piche: uma perspectiva da Praia do Cassino, município de Rio Grande, RS. Monografia. Rio Grande: FURG. 1995. 113 p.

ZARZUR, S. Alimentação e ingestão de plásticos nos Procellariiformes (albatrozes e petréis) encontrados na Praia do Cassino. Monografia. Rio Grande: FURG 1995. 39 p.

II WORKSHOP REGIONAL SUL SOBRE O MAR - “REPENSANDO O MAR PARA O SÉCULO XXI, 1998”. Florianópolis-SC: UFSC. 1998. p.17

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ANEXO

1) Dados pessoais: - Idade

- Sexo

- Cidade onde mora no inverno - Escolaridade

- Profissão

2) Que tipo de lixo você costuma produzir quando freqüenta a praia? 3) O que você costuma fazer com o lixo que produz na praia?

4) Houve alguma vez em que você abandonou o lixo na praia? Se houve, por quê? 5) Você considera a Praia do Cassino suja em relação às outras praias que conhece? 6) Para você, quais as razões para haver lixo na praia?

7) Qual tua sugestão para tentar diminuir a quantidade de lixo na praia? 8) Que tipo de problema ou prejuízo o lixo na praia pode causar? 9) Você já teve algum problema com o lixo na praia? O que aconteceu?

Referências

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