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Quando o impacto é naturalizado e os outsiders procuram virar insiders 1

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Academic year: 2021

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Quando o impacto é naturalizado e os outsiders procuram virar insiders1 Winifred Knox ProfªDCSO/PGCS/UFES winknox@hotmail.com Aline Trigueiro (ProfªDCSO/PGCS/UFES aline.trigueiro@uol.com.br Resumo

A partir de uma reflexão inspirada na relação entre estabelecidos e outsiders, e por intermédio da análise das tensões entre os agentes em situação de mudança socioambiental, pretende-se neste trabalho, refletir sobre os últimos anos da experiência do desenvolvimento no Espírito Santo. Este desenvolvimento se tornou um campo idealizado repleto de retóricas que visam fortalecer o estabelecimento efetivo de políticas para implantação de grandes empresas e geração de commodities para exportação. Um desenvolvimento externo às populações residentes nos locais de instalação e implantação deste campo do desenvolvimento. A partir de uma perspectiva da antropologia e sociologia crítica ao modelo de desenvolvimento implantado, procura-se analisar as situações sociais e os efeitos produzidos na e para as populações locais, especificamente as populações pesqueiras do estado, as quais, frente às novas propostas, como a de implementação de portos, têm sido amplamente atingidas. Portanto, tomamos a situação da costa do ES como ilustração para a crítica a um modelo de desenvolvimento excludente, dissociado da participação local e do entendimento da complexidade e dinâmica desses processos que, muito além de econômicos, são sociais, ambientais, culturais e políticos.

Palavras-chave

Meio ambiente – ideologia – desenvolvimento

1 “Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os

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Introdução

Utilizamos a expressão analítica de estabelecidos e outsiders, fazendo referencia clara ao estudo de mesmo nome de Elias e Scotson, da sociologia das relações de poder (2000). Em sua pesquisa os autores observam que as relações sociais em Wiston Parva, nome da comunidade pesquisada, apesar dos dados estatísticos homogenizadores de renda, educação, ocupação, se apresentavam nas relações cotidianas com uma divisão entre dois grupos residentes. Os estabelecidos, os primeiros a se instalarem no lugar, se consideravam com mais prestígio e se articulavam para participar nas instâncias locais de poder e deliberação. Os outsiders, aqueles que haviam chegado posteriormente, eram excluídos da participação nos processos de decisão da comunidade.

Na análise dos processos de desenvolvimento localizados na região litorânea do estado do ES, onde um conjunto de grandes empreendimentos e projetos de grande escala têm sido instalados, vamos utilizar desta expressão analítica, que ao ser aplicada para a investigação das populações pesqueiras litorâneas precisará ser invertida. Visto que, no que se refere às relações de poder entre aqueles que já existiam no local, os pescadores, e aqueles que surgem posteriormente, com ou para a implantação dos projetos de desenvolvimento, estas posições de estabelecidos e outsiders se apresentarão de ponta à cabeça. Ou seja, são os que se estabelecem posteriormente nas localidades que terão uma relação mais aproximada ao que no estudo de Wiston Parva se parece com o establishment. Apesar da externalidade que estes grandes projetos têm na localidade, a forma como estes se articulam nos processos de poder nas escalas local, regional e nacional, acaba por inverter sua posição de poder externo, e resultar na produção da exclusão dos nativos residentes nos processos de participação das diversas fases deste desenvolvimento, desde o planejamento até importantes deliberações referentes aos seus territórios e seus recursos.

Queremos pensar o desenvolvimento submetendo-o a uma crítica efetiva, em primeira instância desta análise, no que concerne aos seus aspectos objetivos de realização, isto é, a relação entre aqueles residentes nos locais onde são implantados os projetos e os implementadores das redes do campo do desenvolvimento. Em segunda instância, com relação ao discurso ideológico que se constituí como um campo idealizado repleto de representações sociais que conformam o desenvolvimento como

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um tipo de aquisição evolutiva e utópica em constante expansão, neste sentido um ideal incontestável (RIBEIRO, 2008). Conferindo um poder simbólico e retórico a um discurso, uma narrativa, capaz de ser eficiente na subordinação de outra (s) lógica(s) diferente que lhe tenha contato.

Na primeira instância, cabe pensar o desenvolvimento como uma expansão

territorial (HARVEY, 2011) do capital, na busca por circulação e distribuição de

mercadoria, baixo custo de produção, alta disponibilidade de mão de obra e circulação de capital financeirizado. Na segunda instância adéqua-se pensar o desenvolvimento se instalando com a materialidade dos atores sociais, instituições, redes e consórcios, que reproduzem através de práticas discursivas e relações de poder, a sua dominação (BOURDIEU, 1989, RIBEIRO, 2008). As relações de poder se dão entre os atores sociais que possuem estruturalmente posições e relações de força diferenciadas, com cotas de poder distintamente marcadas, e ocultadas, como todo discurso ideológico.

É justamente pensando nos atores sociais, nas pessoas que são alvos destes processos, e nos multiculturais e variados aspectos que sustentam a adesão ou a resistência das mesmas à instalação dos grandes projetos de desenvolvimento que, Lins Ribeiro (2008), vai concentrar sua crítica na forma como são pensados e postos em prática os Projetos de Infraestrutura de Grande Escala (PGEs). Seriam estes projetos representativos da expansão dos sistemas econômicos sob o bojo do processo de globalização, na atualidade, conforme nos explica o autor:

Os PGEs têm características estruturais que lhes permitem ser tratados como “expressões extremas” do campo do desenvolvimento: o tamanho do capital, territórios e quantidade de pessoas que eles controlam; seu grande poder político; a magnitude de seus impactos ambientais e sociais; as inovações tecnológicas que freqüentemente criam; e a complexidade das redes que eles engendram. Eles juntam quantidades impressionantes de capital financeiro e industrial, assim como de elites e técnicos estatais e trabalhadores, fundindo níveis de integração locais regionais, nacionais, internacionais e transnacionais. Como uma forma de produção ligada à expansão de sistemas econômicos, os PGEs conectam áreas relativamente isoladas a sistemas mais amplos de mercados integrados (RIBEIRO, 2008, p. 111-112).

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Estes grandes projetos estariam marcados, sobremaneira, por redes de poder que só poderiam ser analisadas sob a égide de uma ideia de campo (BOURDIEU, 1989), um

campo de desenvolvimento. Tal como um campo, este seria habitado por atores que

disputam certos objetos, inclusive simbólicos, e cujas relações são marcadas por trocas sociais assentadas em diferenciais linguísticos e de poder.

1- Ideologia, progresso e desenvolvimento

As palavras ideologia e desenvolvimento são palavras que parecem se reerguer constantemente com novas e contínuas ressignificações. O termo ideologia, desde sua primeira utilização por De Tracy, no séc.XVIII, como ciência das ideias (ABBAGNANO, 2007), até os dias de hoje, tem sido utilizado de inúmeras maneiras, além de ter sido produzido inúmeras linhas escritas acerca do termo e suas diferentes compreensões e abordagens teóricas.

Seria uma tarefa minuciosa e extensa o levantamento destas abordagens, o que fugiria dos nossos objetivos neste momento. É necessário, no entanto, definir como nós a compreendemos e a aplicamos em nossa análise. Trabalhamos com a ideia de que em cada período sócio-histórico é produzido um conjunto de explicações sobre a realidade. Nas sociedades de classes, essas explicações tendem a representar a visão de classe dos que estão no poder, das esferas econômicas e políticas, como ideias hegemônicas, ou seja, são repassadas para as outras classes como se esta visão conformasse a forma mais exata de compreensão da realidade, uma distorção, como se referiu Marx2, e são

hegemônicas porque esta classe detém os meios e instrumentos de poder de divulgação, de legitimação da dominação simbólica, já que em geral também dominam o poder simbólico cultural. Não significa que seja a única ideologia, muito ao contrário, a ideologia hegemônica quer se tornar a única com poder de dizer o que é (Bourdieu, 1989), por isso usa de todos os meios à sua disposição, inclusive a violência simbólica e física, para desqualificar todas as outras formas de explicações sobre a realidade social vivida pelas outras classes sociais. As outras classes estão a todo momento lutando para que suas ideologias possam contrapor-se à hegemônica.

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O termo desenvolvimento tem como fundamento algumas ideias, dentre elas a ideia de progresso cujo sentido é uma daquelas ideias capazes de se renovar através das gerações. Tal frescor a habilidade de adentrar as diferentes esferas sociais, ao longo dos tempos, reverberando-se em um tipo de ideia-força capaz de organizar visões de mundo e de imprimir modos de compreender o fazer humano através da história.

Mas o que contém essa ideia que a torna algo com tamanha capacidade de trespassamento histórico e semântico? Responder a essa pergunta não é muito simples. Talvez devamos, inicialmente, nos concentrar no seu sentido básico, na sua maneira de contar o mundo, para então compreendermos melhor a sua força significativa. Desse modo, podemos entendê-la como aquele movimento lento, porém contínuo e necessário,

em direção a um futuro pensado como algo melhor.

É Nisbet (1985, p. 17) quem nos dá a base para essa interpretação ao escrever que a “ideia de progresso é a síntese do passado e a profecia do futuro.” É justamente esse ponto de conexão entre o passado e o futuro que contribui para a inserção do sentido do progresso no fluxo da história. É aí que essa ideia assume a sua forma mais expressiva: uma noção de tempo que flui de forma unilinear. Desenrola-se, daí, a “grand narrative – o ‘enredo’ dominante por meio do qual somos inseridos na história como seres tendo um passado definitivo e um futuro predizível” (GIDDENS, 1991, p. 12).

Autores como Condorcet, S. Simon, Comte e Spencer, por intermédio de suas obras, foram importantes propagadores dessa ideia de progresso. Para eles, assim como para Hegel e Marx, a história poderia ser compreendida como um movimento, contínuo e necessário em direção a um fim determinado (NISBET, 1985). Apartados da herança medieval que via no deslanchar histórico um movimento orquestrado pela Providência Divina, tais autores, apesar das peculiaridades de suas interpretações sobre a modernidade instaurada no lastro do século XVII/XVIII, contribuíram para pensar o

progresso dentro do movimento histórico. Uma história contada como encadeamento

em direção a um telos, seja o aperfeiçoamento do Espírito Humano, a Ciência, a Emancipação da Razão, a Utopia Social, etc.

Ainda em Nisbet (1985) encontramos uma interpretação de como essa ideia de progresso foi sendo paulatinamente inserida como fonte de sentido histórico e

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confundida com o seu desenrolar3. Foi no campo da produção escrita e das

interpretações teóricas que o autor buscou “identificar e alinhar, na sua devida perspectiva os principais personagens, textos, postulados, climas intelectuais e empregos ideológicos e filosóficos d[ess]a ideia [ao longo curso da história humana]” (IBIDEM, p. 9). Com base nesse arcabouço Nisbet vai delineando aquilo que seria a gênese “[d]o verdadeiro esquema das coisas, do universo e da sociedade”, ou seja, esse axioma organizador do nosso entendimento sobre o mundo.

(...) a história de tudo que de mais importante existe no Ocidente – religião, ciência, razão, liberdade, igualdade, justiça, filosofia, as artes, e assim por diante – está profundamente ancorada na crença de que o que realizamos em nossa época é, ao mesmo tempo, um tributo à grandeza do passado e ao fato dele ser indispensável, devendo-se também a confiança num futuro ainda mais radioso (IBIDEM, p. 20).

Nesse encaminhar, a história da ideia de progresso confunde-se com o próprio desenrolar da história, tornando-se expressão do avanço consistente e cumulativo da cultura humana e também do espírito humano em direção à sua realização, tendo por seus meios a razão, a ciência, o aperfeiçoamento técnico, o controle da natureza, etc. Assim essa ideia permanece (embora tenha a aparência de transmutar-se) nos conteúdos semânticos de outras noções que ganharam corpo no desenrolar da modernidade:

3 Por meio da história das ideias e até mesmo de uma filosofia da história esse autor vai reconstruindo o trançado que deu forma a essa visão de mundo que vislumbra na história humana um movimento ascendente, do passado em direção a um futuro pensado como algo melhor. As raízes desse imaginário não estariam nas transformações socioeconômicas ou epistemológicas que arrolaram os séculos XVII, XVIII e XIX, inaugurando definitivamente a sociedade ocidental moderna, conforme outros autores já propuseram. Ela teria sido

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crescimento, desenvolvimento, aperfeiçoamento, modernização, etc, acabando por se tornar o credo útil de nossa Civilização Ocidental (SZTOMPKA, 2005); o nosso ato de fé secular (DUPAS, 2006).

Não obstante, esse modo otimista de interpretar a história e o projeto da modernidade, próprio do século XVIII e XIX, teve de se confrontar também com as incongruências de sua própria expansão. De fato, a modernidade produziu benesses e uma sensação de progresso, mas igualmente gerou uma série de distorções, tais como o racismo e o darwinismo social (e suas retraduções a partir do fascismo e do nazismo), duas grandes guerras mundiais, a divisão no mundo entre desenvolvidos e não desenvolvidos, refletindo-se em uma geografia global de oposições norte-sul, o super consumo no norte, a fome no sul, e as crises ambientais.

Talvez pela rapidez como estejamos vivendo as transformações no século XXI é que novamente os questionamentos sobre desenvolvimento ressurjam com tamanha evidência de que o mundo absolutamente não parece com o mundo imaginado pelo iluminismo, e tende para algo que não se pode prever e controlar. Embora a crítica aos rumos do progresso humano vá no sentido do desencantamento de sua própria ideia, a crise da noção de progresso não impede que ela assuma outras formas de encantamento, a própria ideia de crescimento/desenvolvimento seria uma delas, assim como a de modernização.

Elias (1994) chama-nos à atenção que o conceito de desenvolvimento social traz na atualidade um estigma derivado da imagem desse desenvolvimento que predominou nos séculos XVIII e XIX. Falando sobre a necessidade de avançarmos em uma sociologia dos processos e uma teoria do desenvolvimento social que fosse capaz de captar “as correspondentes mudanças nas estruturas de personalidade das pessoas” (em afirmações universais sobre os seres humanos), então, nesse caso seria necessário “incluir uma imagem do desenvolvimento das estruturas sociais e de personalidade como quadro de referência deste estudo...” Ou seja, deste modo ele sinaliza que ao abandonarmos a ideia de desenvolvimento, corremos o risco de “recairmos em teorias estáticas, fundadas no pressuposto tácito de que somente seria possível construir teorias universais da sociedade humana com base em observações de nossa própria sociedade, aqui e agora”(p. 144-145). Importante salientar que a compreensão de desenvolvimento universal dos seres humanos em Elias é destituída de caráter teleológico, na medida em

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que esta análise do desenvolvimento não apresenta um direcionamento interno atribuído.

Deste modo, parece importante reconhecermos o quanto, do ponto de vista epistemológico, no campo científico, o debate sobre o desenvolvimento precisa ser feito, tanto como diria Burawoy (2010), para uma sociologia pública e crítica, como para avançarmos no campo teórico metodológico de forma crítica, de modo a delimitar melhor nossas investigações.

2- O campo de desenvolvimento: retóricas e idealizações

Pretende-se neste momento refletir sobre os últimos anos da experiência do desenvolvimento no Espírito Santo. Este desenvolvimento se tornou um campo idealizado repleto de retóricas que visam fortalecer o estabelecimento efetivo de políticas para implantação de grandes empresas e geração de commodities para exportação.

Trabalho interessante e de certa forma tendo sua importância (re)atualizada pelo neodesenvolvimentismo dos últimos anos de governo brasileiro, parece ser o de Limoeiro (1979) quando analisa a retórica dos discursos políticos de Juscelino Kubitscheck e Jânio Quadros, em um contexto de guerra fria, e como estes vão se utilizar da “ideologia do desenvolvimento“. O estudo mostra também como a utilização da ideia de desenvolvimento nos discursos e plataformas políticas desses governos expressa a preocupação ideológica de determinada classe para conter no Brasil, o que poderia ser o surgimento da hegemonia de outra classe.

Uma análise histórica sobre os aspectos da economia do estado nos últimos 40 anos induz a pensar o quão estruturante tem sido a questão do crescimento econômico em termos locais4, como reflexo da preocupação nacional. A ideia do crescimento

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econômico não se configura apenas em sentido objetivo – nos projetos que estão sendo encampados em todo o território do estado–, mas também em termos simbólicos. Ou seja, é possível identificar o ideal do desenvolvimento ecoando por entre as falas de distintos grupos: os agentes do planejamento, os políticos, os empresários, dentre outros grupos sociais locais; cada qual produzindo justificativas e acenando para valores e interesses próprios.

Com relação aos destacados indicadores de desenvolvimento econômico do Espírito Santo observa-se que isto têm garantido uma ampla visibilidade no cenário nacional na medida em que o PIB do estado está entre os mais altos do país, resultado dos investimentos de grande porte nas últimas décadas por grandes empresas nacionais e multinacionais, dentre elas encontram-se: a Petrobras, a Aracruz Celulose (atual Fibria), a Vale do Rio Doce, a Arcelor Mittal, etc. e também de investimentos de médio e de pequeno porte, decorrentes, ou não, dos investimentos de grande porte (IGLESIAS, 2010). Isso tem trazido inúmeras transformações para o estado, tanto no quesito econômico quanto nos quesitos sociocultural e ambiental, imprimindo mudanças nos estilos de vida de diferentes populações e alterando a paisagem e os ecossistemas de várias regiões do estado.

Segundo informação do Instituto Jones dos Santos Neves, a produção industrial do Espírito Santo obteve um crescimento acumulado de 24,92% nos primeiros 11 meses de 2010, em relação ao mesmo período de 2009, alcançando o primeiro lugar quanto ao nível de desenvolvimento entre os estados e, inclusive, em relação à média de desenvolvimento nacional, que, por sua vez, atingiu um nível de crescimento acumulado de 11,1%. Estes foram os dados divulgados pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao mês de novembro de 2010.5 Apesar de certa inconstância na

5 De acordo com a pesquisa realizada, em 2010 a indústria capixaba cresceu cerca de 25% a mais do que em 2009, alcançando uma larga vantagem sobre o segundo lugar, o estado do Amazonas, com 16,9% de crescimento acumulado. Na sequência, estão os estados de Goiás (16,8%), Minas Gerais (15,8%), Paraná (15,16%) e Pernambuco (11,2%). Ver: http://www.ijsn.es.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=818:espirito-santo-obteve-o-maior-crescimento-industrial-entre-os-estados-brasileiros-em-2010&catid=105:noticias-gerais&Itemid=294, acessado em Fev. 2011.

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manutenção de índices no que se refere a taxa de desemprego, o ES tem mantido desde 2001 uma média abaixo da nacional e da regional, com um índice no ano de 2009 de 7,9% ( média nacional foi 8,3%), mas a renda média domiciliar é muito pouco acima da nacional que basicamente segue o padrão do salário mínimo, ou seja, a média em 2009 era de R$634,46 (e a nacional R$ 624,09). O mesmo padrão segue para a renda média real. Também houve redução da pobreza de 32% em 2001 para 15% em 2009, como também do modo inverso houve aumento do que foi classificado como elite, majoritariamente brancos, e domiciliados na área urbana.

No entanto, vale salientar que enquanto o PIB do ES alcançava maiores índices, é também a partir de 2009 que o índice Gini, indicador de desigualdade social, relativo ao ES, aumenta, fruto da concentração de renda no grupo dos mais ricos para os anos vindouros, (conf. IJSN, 2011), contrariando a média nacional e regional. Relativo a educação mantém próximo da média nacional de 7,2 anos de estudo por pessoas de 25 anos ou mais. Ou seja, poderíamos dizer que a expectativa de desenvolvimento social ainda não se efetivou, e se continuar mantendo a tendência de concentração de renda dificilmente a alcançará.

Além dos dados disponibilizados pelas agências de pesquisa especializadas, há também regularidade na divulgação de informações positivas pela mídia impressa local. Merece destaque o fato de que os dois principais jornais do Estado, A Tribuna e A

Gazeta, publicam com intensidade e quantidade significativa, matérias que sinalizam

para o desenvolvimento, o progresso, a grande quantidade de empregos que serão abertos com a instalação destas indústrias, destes portos, etc., além de salário bastante acima da média nacional. Conforme notícia, a título de exemplo, do dia 7/12/2012, do jornal local, A Tribuna, lê-se na manchete de capa do jornal “9 portos vão abrir 25 mil empregos”. Na página central do jornal, a continuação da notícia ocupa duas páginas inteiras do jornal, o título inicial anuncia: “Salários de até 14 mil nos portos do Estado”. A notícia de que haverá a abertura de 25 mil empregos com a construção de nove novos portos no litoral do ES, aparece na frente da que explica que os portos custarão ao estado treze bilhões de reais. Mas não há nenhum questionamento acerca destes números, tanto a estimativa de 25 mil postos de emprego, como a avaliação de custo

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destes portos para o estado, pois não há fonte de referência ou cálculos estatísticos embasando-os. Assim como também não faz referência à produção/lucro que estes portos trarão, quem os utilizaria e para quem se deslocará o capital lucrativo. Há uma espécie de explicação/justificativa sobre os gastos que serão pagos por todos os espírito-santenses. Mas o que há de mais importante a mostrar é que a junção das duas matérias constitui um conjunto, feito para informar e além de tudo formar uma opinião claramente positiva em relação ao conteúdo da matéria. Fazendo com que a compreensão do leitor junte as duas informações e produza uma distorção de conteúdo, facilitada pelas manchetes, pela diagramação, e pelos conteúdos similares, fazendo crer que salários de 14 mil reais vão surgir em grande quantidade.

3-A naturalização dos impactos

Os procedimentos para a eficácia simbólica da retórica do desenvolvimento exigem divulgação massiva em outdoors, em revistas e jornais locais. Os grupos consorciados (RIBEIRO, 2008) contratam empresas menores, terceirizadas, para consultorias. Em um primeiro momento as consultorias são para levantamento de dados locais, normalmente nesta etapa a população nem sabe para quê ou para quem são as informações que elas cedem. Nestes levantamentos usualmente são coletadas as informações das lideranças, e possíveis opositores e resistentes ao empreendimento, no sentido de seduzirem-nos para adesão ao projeto. Em um momento posterior, as vezes já com a firma instalada, os possíveis e reais opositores vão sofrer pressão e ameaças sutis, simbólicas que podem vir a se tornarem de fato o exercício da violência física. Nesta situação estava o pescador chamado Russo, presidente da Associação em Anchieta, conforme mostra entrevista coletada e exibida no videodocumentário que fizemos “Tradições à deriva”6.

Do ponto de vista da usurpação de territórios (WOLF, 1976) e dos prejuízos aos recursos naturais e sociais nas localidades, um grupo de peritos ambientais e sociais são acionados para desenvolverem “laudos técnicos de impactos”, os denominados EIA -RIMA, exigência estatal para o licenciamento do empreendimento, mas viabilizado

6 Verificar vídeo documentário “Tradições à deriva”

https://www.youtube.com/watch?v=cu_k9ONDoEg Este vídeo foi uma realização do GEPPEDES em 2012/2013.

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financeiramente pela empresa. Essa etapa agrega mais um aspecto ao processo de naturalização dos impactos resultantes da instalação do empreendimento, pois que o uso desses laudos nas audiências públicas de licenciamento ambiental tem também a função de sobrepor o discurso técnico, ou seja, a autoridade científica, aos saberes dos grupos e das populações que terão seus espaços de vida alterados. É comum, nessas audiências públicas, por seu caráter consultivo e não deliberativo, a produção de uma visão (entre os grupos atingidos) de que ‘não há mais saída’, a decisão já vem pronta, só restando aceitar os ônus do processo.

No ES desenvolveu-se um campo onde as ONG´s para consultoria brotaram e frutificaram. Algumas têm cadeiras fixas nas demandas de determinadas empresas. Deste modo para a PETROBRAS normalmente a ONG CTA Meio Ambiente7 é

responsável pela consultoria. Existem outras, não tão grandes como esta, mas atendendo demanda igualmente importante. Estas formam o nível mais abaixo dos consórcios, mas são agregadas a eles em teias que formam redes. Elas podem atuar junto aos movimentos sociais ou a favor dos consórcios de firmas.

Existem também os próprios professores das universidades locais prestando consultoria e assessorias, fazendo laudos técnicos, através de levantamento de dados que, na maioria das vezes, sequer circula além do âmbito consultor - empresa.

Em alguns poucos casos vimos professores afirmando que ao assinarem o contrato de prestação de serviço com a empresa, estabeleceram que os dados e o relatório não teriam sigilo, ou seja, seriam utilizados em artigos científicos posteriormente. Mas não é o que acontece com os contratados recém-formados que são obrigados a assinarem uma cláusula de sigilo. No entanto também é possível uma postura comprometida com a população e acontecer vazamento de informações.

Iniciativas como a do Relatório de Atividades de campo em Anchieta (2012), realizado em parceria com a Associação de Geógrafos Brasileiros, na seção de Vitória, não são habituais e merecem ser valorizadas, visto que um relatório técnico nesses moldes tende a ser mais independente e autônomo.

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No que se refere aos laudos produzidos resultam em uma série de efeitos posteriores. Se por um lado as lideranças da localidade e a população tende a esperar dos peritos uma avaliação sobre o que vai acontecer com o seu território e seus recursos, do outro, a empresa, deseja que este laudo minore o prejuízo real que ela vai provocar, diminuindo-o. Deste modo o custo de uma possível compensação fica mais baixo. Ainda é possível que a empresa peça à aqueles a quem ela prejudica que não divulguem que se trata de uma compensação por danos provocados, alegando ferir a imagem da mesma. Assim ela faz um acordo informal negociando diretamente com os prejudicados, fato muito comum entre pescadores e PETROBRÁS, visto que os danos causados àqueles nunca chegam de fato às vias de comprovação em um laudo, salvo casos cujas causas estejam claramente relacionados à empresa, como quando há vazamento de óleo. Através destas negociações e das retóricas os consórcios e redes tentam, mostrando como as empresas se preocupam com o entorno, se tornarem insiders como se de fato tivessem a topofilia (Tuan, 1980) com o território, como aqueles que lá vivem.

Tanto a forma da empresa de pagar pelo prejuízo através da compensação, como a de pagar com uma benfeitoria para a localidade podem ser entendidos como desvios da questão central – o prejuízo causado ao meio ambiente, aos recursos naturais e à população do entorno.

Pois que, na assimetria das relações de poderes, a população percebendo sua falta de condições de alteração do fato de que foram e serão prejudicadas, capta uma

estrutura de oportunidades e a partir daí acontece uma aceitação, um sombreamento da

verdadeira questão dos prejuízos, uma espécie de “naturalização” dos conflitos, da cultura dos impactadores e de seus impactos. É como se aqueles fossem diminuídos, ou como se a produção da cultura local não fosse irremediavelmente afetada pela natureza degradada. Dá-se novamente uma espécie de externalidade da cultura em relação à natureza e a internalização de uma cultura de natureza impactada.

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Os pescadores narraram a dificuldade atual para encontrar o peixe, falam que o

peixe sumiu, que o peixe ficou mais esperto, não morde a linha facilmente, têm que se esperar mais, etc. É comum esta narrativa ser contraposta com um tempo do passado

em que tinha muito peixe e que era comum voltar com o barco lotado de peixe de uma pescaria de apenas algumas horas.

Sobre a pesca antigamente

E... onde você costumava pescar com seu pai? Por onde você ia pescar com seu pai?

Á: heim? Á eu pescava aqui perto de tubarão, ali do lado do tubarão onde a gente gostava mais de pescar em rede de espera e camarão, e dava mai, naquela época era muita fartura que tinha, você bota a rede, o, nois bota a rede, você sabe na saída da curva da Jurema ali, nois botava a rede ali, matava curvina, sarda enchova, mas era caixa não era, era fartura de peixe, você botar a rede ali não pega, botava a rede ali, bota o cercamento, e quando dava de manhã cedinho tirava, era muito peixe mas também era poucos barco entendeu?”Pescador, ES. 2012

As causas por eles levantadas variaram de acordo com as regiões, os pescadores de Vitória (Enseada do Suá) e Baía de Vitória, Ilha das Caieiras e Vila Velha, sinalizaram a intensa movimentação de navios na boca da baia, a frequente dragagem para aprofundamento e do fundo:

“nós tamo sofrendo por que tem uma draga ali que ela tá passando em cima do nosso pesqueiro, por que tá abrindo o canal na baia de Vitória ela tá abrindo de ponta a ponta, então nossas pescaria passava por ali né, então ela tá passando por cima tá quebrando todo o fundo,.... tem dois ano que a draga tá ali por cima e depois que ela for em bora demora mais dois ano pra recuperação desse terreno, é muito difícil aí o pescador tem que procurar outro lugar pra pescar, entendeu?” Pescador, ES. 2012

E

“ isso até já foi denunciado no IBAMA e o IEMA por que eles tão pegando a lama toda ali do fundo e tão, sabe que primeiro tem que ter uma pessoa do IEMA dentro é obrigatório né, mas não tem ninguém então de noite mesmo eles pega na baía de vitória e quando chega aqui na frente eles joga tudo fora, é

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quando chega lá no lugar onde tem que jogar ele já tá fazendo curva pra voltar, eles na beira ali já levanta tudinho, isso aqui os pescadores tem reclamado comigo direto, ...jogando lama em cima dos pesqueiro atrapalhando a coisa todinha...impacto ambiental é essas duas draga dentro da baía de Vitória, que tá quebrando tudo.” Pescador, ES. 2012

” lá em Aracruz tão fazendo aquele porto lá que é grande pra danar, nois não consegue parar nada, nois vai entrar com a ação e...”Pescador, ES. 2012

Para os entrevistados em Anchieta, as dragagens executadas pelas empresas Samarco também interrompem e impedem a vida marinha, como nos informa Pereira (2014).

Para os entrevistados ao norte do estado, em Regência, as pesquisas sísmicas da Petrobras são devastadoras para os recursos marinhos como já salientamos em outros trabalhos (TRIGUEIRO, KNOX, AMBOSS,2013)

Para os entrevistados de Barra do Riacho,

“Tem bastante peixe, alguns lugares aí tem bastante peixe, camarão, aqueles camarão pitu, á lá tem fartura, mas lá setembro, aquela parte de Minas ali, eles tem uma guarda florestal que bota pra quebrar... num deixa pescar não, prende o barco faz o diabo a quatro, eles vem reclamar e fala, eu olha vocês na piracema tão recebendo tão querendo pescar tem que ser preso, cês vão pescar sabendo que tão errado, se entrar entrou, se não der o que nois vamo fazer.

Assim as atividades portuárias com a movimentação de navios e as constantes dragagens são situadas como as principais causas para o desaparecimento do peixe nesta região e também como causas para o problema da perda de material de pesca como redes e outros apetrechos de trabalho. A maioria dos entrevistados em todas as regiões trabalhadas reclamou da presença muito próxima das traineiras.

Para os pescadores o defeso aparece como um problema, e não como uma solução. Isso porque eles raramente percebem o benefício produzido pelo tempo de proibição de pesca, de forma concreta através de um aumento de produtividade /extratividade do pescado na época seguinte da pesca.

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Assim podemos dizer que para eles vivendo há muito tempo das atividades pesqueiras, houve uma invenção da proibição da pesca:

“aqui nunca se bateu na baia de vitória, os pescadores jogavam sua tarrafa aqui, jogava sua redinha... Aí dai eu conversei, vem cá você sabe o que é impacto ambiental, impacto ambiental é o cara pegar três carapebinha você acha que isso é impacto ambiental, o dia que parar de passar essas draga aí os peixe voltam tudo, o problema não é rede, uma tarrafinha que o cara joga não...” Pescador, ES. 2012

No argumento utilizado parecem dizer da extra localidade que a proibição tem, ou seja, esta não se refere à proteção do período de reprodução dos recursos marinhos defendidos naquele período naquela localidade. Por isso não acreditam na eficácia da parada da extração. Com a homogeneização do período do defeso independente da geografia regional o resultado esperado com a medida decresce em sua credibilidade. Talvez também seja a falta da mesma que aumente mais as inexequibilidades da suspensão do exercício pesqueiro.

“... olha tem barco aqui, nois temos sessenta por cento dos barco não tem licença de camarão, por que eles não dão, tem mais de vinte ano que eles não dão... É a burocracia tudo aqui é ruim,...”

Dificuldades de toda sorte de exigência burocrática são relatadas. Ao que parece há uma divergência de normas e exigências entre agências fiscalizadoras, reguladoras e credenciadoras marítimas e ambientais. Somando-se ao conflito de posições, regras e normas das agências, há ainda a baixa escolaridade e a falta de acesso aos meios informativos digitalizados e disponíveis na Web. Por isso consideram um problema as dificuldades para ter a licença de pesca de camarão e para tirar os documentos que legalizam a embarcação ou mesmo a licença para pescar.

Eles reconhecem como um problema a falta de participação dos pescadores na luta pelos seus interesses, e analisam que as causas para este problema são devido a: falta de vontade dos governantes em ouvir o que eles têm a dizer/ opinar; a manipulação entre governo e políticos das questões que os envolvem; e a má gestão das colônias de pescadores, ressaltando a pouca vontade para o bem comum nas lideranças e a priorização de interesses individuais. Neste último item podemos ressaltar que têm sido

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realizado a formalização de várias Associações de pescadores e moradores nestes locais, como forma de reação ao que consideram inativismo das Colônias.

Em Vila Velha, na praia de Itapoã, em relação à participação, por exemplo, eles falaram em uma atuação dos agentes municipais para retirá-los da praia, local onde vendem os peixes, em frente ao local de moradia, desmobilizando, provocando divergência, cooptando lideranças, seja para expulsá-los de suas moradias, seja para impedi-los de vender em suas barracas de trabalho montadas na areia perto do calçamento. As ações que demonstram isso são o confisco pela prefeitura das barracas nesta área, alegando não estarem usando o material ou a mesa correta. Assim entre outras ações para impedir a atividade de venda do peixe e a presença deles ali, a especulação imobiliária do grande capital da construção civil no local se mostra intensamente presente, e o nexo estado- capital se mostra na atuação da prefeitura quando esta não realiza urbanização do pequeno trecho em que eles moram na orla da praia, visto que ao longo da praia foram instalados chuveiros, ciclovia e de outros serviços, que são interrompidos ao chegarem no ponto em que se localizam as moradias dos pescadores nesta praia.

Apontamentos finais

Pode-se concluir que na análise dos temas elencados pelos pescadores, a capacidade de mapear com clareza os problemas que circundam a atividade, fazer denúncias ao poder público, produzindo encadeamentos significativos com as suas causas. Alguns depoimentos mereceram destaque neste sentido e foram citados no artigo.

Mas longe de aceitarem a imputação que os coloca como os causadores do decréscimo pesqueiro, têm a percepção clara das causas das mudanças ambientais e de seus grandes agentes. Deste modo, eles refutam a condição a eles infligida de depredadores e infratores. Seja no discurso, seja mantendo práticas de transgressão às limitações de seus territórios de pesca.

Também sinalizam que as informações contraditórias, divergentes e conflitantes entre os diversos órgãos que tangenciam o tratamento do setor pesqueiro (Ministério da

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Pesca; IBAMA; Capitania dos Portos; IEMA; Secretaria de Agricultura, na qual o setor da pesca se encontra; as diversas secretarias ambientais; a polícia ambiental) que prejudicam muito, e fazem o mosaico institucional parecer mais caótico. O que pode ser a explicação para a baixa exequibilidade das propostas de soluções “estratégicas” presentes nos documentos oficiais, para o setor pesqueiro e menos ainda para os pescadores artesanais. Pode-se depreender que esta situação é também resultado de uma política pública pesqueira deficiente, um exemplo disso é que a proposta política de criação de uma Câmara de Assessoramento da Pesca até hoje não se efetivou em todos os municípios.

E então complementando o quadrante caótico acima referido das informações que mais confundem que informam também a organização dos pescadores regionais vai apresentar a tendência de muitas agências para a representação/proteção/credenciamento de pescadores, reproduzindo uma complexa ramificação para as atividades da pesca como as associações de moradores e de pescadores, as colônias de pescadores e duas federações de pescadores – uma coligando as associações e outra as colônias.

Os relatórios pesqueiros de uma década atrás já sinalizam as reclamações dos pescadores frente às atividades sísmicas e de movimentação de navios na área de pesca. Neste sentido, a situação tem se intensificado na medida em que mais atividades são realizadas e implementadas. As medidas compensatórias propostas pelas empresas não solucionam o problema, muito ao contrário, trazem novas dificuldades a serem contornadas como o problema antigo de gestão das associações, já que é provocado maior tensão entre as lideranças.

A presença à beira-mar de moradias, de indústrias, de portos, em quantidade muito maior, sem um investimento em infraestrutura básica e um planejamento adequado provoca grandes impactos sociais e ambientais.

É notável também que o desenvolvimento, transformado em ideologia, mascara as atividades dos principais impactadores do meio ambiente. Na análise do estudo com os pescadores é notável a inversão que acontece quando são colocados como impactadores e predadores do meio ambiente. Mesmo quando as referidas empresas citadas neste artigo reconhecem o dano ambiental, se comprometendo à compensação dos afetados, muitas vezes elas pedem para que não seja divulgado como compensação de danos, mas sim, invertendo a situação, transformando sua agência como

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politicamente correta, como agindo para o bem dos cidadãos, para produção de uma imagem, como agentes comprometidos socialmente com a população do entorno.

Neste sentido é que os pescadores são duplamente prejudicados. Nos recursos marinhos que decrescem com as atividades impactantes neste meio e com a inversão que sofrem de agentes impactados para agentes impactantes.

Resta a pergunta acerca do tipo e do sentido de desenvolvimento que se quer implantar, onde e como fazê-lo. Em primeiro lugar, o que se observa é que

desenvolvimento é ainda uma ideia geralmente restrita ao crescimento econômico que é

quantificado pelos indicadores econômicos como o PIB (ELI DA VEIGA, 2008, KLICKBERG, 2010.

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Referências

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