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A PERCEPÇÃO DE SAÚDE POR MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE NO CONTEXTO PRISIONAL: REVISÃO DE LITERATURA

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Academic year: 2021

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A PERCEPÇÃO DE SAÚDE POR MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE NO CONTEXTO PRISIONAL: REVISÃO DE LITERATURAI

Clara Gomes TestaII Dra. Girlane Mayara PeresIII

Resumo: Este estudo apresenta uma revisão integrativa da produção científica nacional sobre a saúde das mulheres privadas de liberdade no contexto prisional, a fim de conhecer a percepção das mulheres acerca da sua saúde. Buscou-se publicações nas bases de dados Scopus, PubMed, LILACS, PsycINFO, SciELO e vLEX. Através da combinação de descritores, foram encontrados 63 artigos, dos quais 9 cumpriram os critérios de inclusão previamente estabelecidos. Os resultados, cuja análise foi por meio da análise de conteúdo, foram organizados em categorias e subcategorias temáticas, sendo observado a predominância da noção biológica e da saúde física em relação aos significados atribuídos a saúde por essa população, assim como a preeminência do modelo biomédico nas ações em saúde nesse contexto. Observou-se as alterações psicossociais que o contexto prisional produz nas mulheres privadas de liberdade, assim como a utilização da religião, do trabalho e do estudo como estratégias de enfrentamento a vida no cárcere. Constatou-se a baixa produção científica da temática sobre a perspectiva da população encarcerada, o que evidencia a urgência de pesquisas nesse contexto, a fim de fortalecer as políticas públicas, o cuidado em saúde e o protagonismo das mulheres. Evidencia-se a importância de espaços institucionais e governamentais que reflitam sobre o conceito de saúde no contexto prisional.

Palavras-chave: cárcere, mulher, saúde da mulher

1 INTRODUÇÃO

A palavra “prisão” origina do verbo prehendere em latim, cujo significado é “o ato de prender”. Historicamente, o surgimento das prisões como espaços punitivos àqueles que infringem às leis é datado ao século XIX, através do surgimento da sociedade disciplinar, com o objetivo de atribuir à pena o caráter utilitarista, e não o caráter retributivo que sustentava a utilização de penas aflitivas e de castigos corporais. Segundo Foucault, “[...] a pena não mais se centralizava no suplício como técnica de sofrimento; tomou como objeto a perda de um bem ou de um direito [...]” (FOUCAULT, 1997, p. 20). O direito em questão é o direito de ir e vir de cada sujeito que, no contexto prisional, é cerceado. Dessa maneira, a prisão enquanto

I Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Graduação em Psicologia da Universidade

do Sul de Santa Catarina – UNISUL. 2020.

II Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. E-mail:

claragdot@gmail.com.

III Doutora em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Professora na Universidade do Sul

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instituição surge como uma alternativa punitiva a quem comete delitos e de reparação de danos, cujo objetivo é a reeducação do encarcerado através da privação de liberdade.

A sociedade disciplinar, constituída a partir do final do século XVIII, é baseada na criação de corpos disciplinados através de mecanismos de vigilância. Segundo Foucault (1997), os processos disciplinares sempre existiram em instituições estatais, como conventos, exércitos e hospitais, onde há um efeito da disciplina sobre os corpos através de uma distribuição espacial dos sujeitos, utilizando técnicas de encarceramento, como no caso das instituições prisionais, e de adequação rigorosa às normas. No contexto prisional, a vigilância e a punição são tecnologias de poder destinadas a educar os sujeitos, para que eles não infringissem os códigos sociais existentes e mantivessem um bom comportamento dentro da sociedade, assim como a sanção normalizadora, cujo objetivo é o adestramento deles. A incidência das tecnologias de poder sobre o corpo dos sujeitos ocorre através do controle das suas atividades e da vida cotidiana, "[...] saber onde e como encontrar os indivíduos, poder a cada instante vigiar o comportamento de cada um" (FOUCAULT, 1997, p. 123), o que implica na criação de corpos dóceis e produtivos que atenderão aos interesses de uma sociedade normatizadora.

O processo de criação de corpos dóceis utiliza-se da distribuição dos indivíduos no espaço e o controle de suas atividades, através de um regime estrito de horários, além da vigilância constante. O encarceramento distribui os sujeitos como uma maneira de obter disciplina, através da especificação de um local fechado em si mesmo e do princípio de localização imediata, cujas funções, segundo Foucault (1997), são:

(...) anular os efeitos das repartições indecisas, o desparecimento descontrolado dos indivíduos, sua circulação difusa, sua coagulação inutilizável e perigosa; tática de antideserção, de antivadiagem, de antiaglomeraçao. Importa estabelecer as presenças e as ausências, saber onde e como encontrar os indivíduos, instauras as comunicações úteis, interromper as outras, poder a cada instante vigiar o comportamento de cada um, apreciá-lo, sancioná-lo, medir as qualidades ou os méritos. Procedimento, portanto, para conhecer, dominar e utilizar. (FOUCAULT, 1997, p. 123)

Sobre o carcerário, Foucault (1997) reflete sobre a modelagem do corpo e o aprendizado de determinadas técnicas serem indutores de comportamentos, que se misturam com a fixação de relações de poder. Dessa maneira, a população carcerária é submetida ao princípio de localização imediata, cujo objetivo é a disciplinaridade através da criação de corpos dóceis.

No que diz respeito à população carcerária do Brasil, ela é estimada em 812.564 e, destes, 337.126 são presos provisórios, que ainda não passaram pelo julgamento, representando 41,56% do total da população carcerária, segundo dados atualizados em 2019 do Banco de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça (BRASIL, 2019). O número da população carcerária ainda é estimado, tendo em vista que alguns estados ainda não haviam

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fornecido dados atualizados durante a elaboração do presente projeto. Isto consolida o Brasil como a terceira maior população carcerária do mundo, sendo que a China ocupa o 2º lugar, com 1 milhão e 600 mil pessoas encarceradas, enquanto os Estados Unidos ocupam o 1º lugar, com 2 milhões 100 mil pessoas encarceradas (VALENTE, 2018).

A realidade do sistema prisional brasileiro demonstra a baixa efetivação da Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984), considerando a superlotação dos presídios e a precariedade da infraestrutura para comportar a população carcerária, inviabilizando a garantia de direitos previstos na legislação. O perfil da população carcerária no ano de 2017 reflete a desigualdade social e racial estruturantes da sociedade brasileira: mais da metade não concluiu o ensino fundamental e a população negra representa quase dois terços, configurando 67% de toda a população carcerária (BRASIL, 2019). Com base no diagnóstico da população carcerária, evidencia-se a necessidade de considerar as condições socioeconômicas dos sujeitos, cuja trajetória de vida é atravessada pela falta de oportunidades de estudo, emprego e moradia adequada, assim como as condições precárias do sistema prisional brasileiro, que, devido a superlotação e as condições desumanas do encarceramento, não funciona como um espaço de reinserção social, e sim como um agente estatal de punição racial e de classe.

No que se refere à população carcerária feminina, os dados atualizados do Banco de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça estimam que a população é de 43.185 mulheres. Cabe ressaltar que, mesmo com o significativo número de mulheres no contexto prisional, a maior parte das instituições foram construídas para guardarem o público masculino: no ano de 2017, 74,8% de todas as instituições nacionais eram destinadas exclusivamente aos homens, 18,1% destinadas a ambos os públicos com alas e/ou celas específicas para a custódia de mulheres, e apenas 6,9% destinadas somente às mulheres (BRASIL, 2019). Nessa direção, a Lei de Execução Penal prevê especificidades em relação às instalações físicas dos presídios femininos, como a presença de berçários nas instituições prisionais, para que os filhos possam ser cuidados e amamentados por, no mínimo, seis meses de idade; e a presença de seção para gestante e parturiente, assim como creche que atenda crianças maiores de seis meses e menores de sete anos, para assistir a criança enquanto a responsável estiver presa.

No que diz respeito à saúde das mulheres no contexto prisional, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) incorpora a perspectiva de gênero, enquanto uma construção sócio histórica, no planejamento de ações de saúde, cujo objetivo é possibilitar a melhoria das condições de vida, a igualdade e os direitos de cidadania da mulher, através de uma perspectiva integral de saúde. O Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário

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(PNSSP) garante, através do material informativo sobre a Legislação da Saúde no Sistema Penitenciário do ano de 2010, ações relativas à saúde da mulher:

As unidades penitenciárias exclusivas para pessoas do sexo feminino, bem como as unidades mistas, devem levar em conta as peculiaridades do atendimento em saúde a essa população, com base nas diretrizes e princípios da saúde da mulher no âmbito do SUS. (BRASIL, 2010, p. 15)

Ainda que a saúde seja um direito das mulheres com provação de liberdade, o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o sistema carcerário brasileiro produzido no ano de 2008 identificou a situação emergencial em que as mulheres privadas de liberdade se encontram, pois não há garantia do direito da mulher que é mãe de amamentar, inúmeras instituições não disponibilizam berçários e creches garantidos pela lei e há dificuldade de acesso aos produtos básicos de higiene necessários durante o período menstrual (BRASIL, 2008). Além disso, cabe apontar, que o próprio material contém somente informações acerca do direito ao acesso a métodos contraceptivos e aos direitos das mulheres gestantes, dando ênfase apenas aos fatores biológicos e reprodutivos, sem respeitar o princípio de integralidade da saúde da mulher do Sistema Único de Saúde (SUS), que pressupõe a articulação das práticas de saúde com outras políticas públicas, para que todas as necessidades da mulher sejam atendidas, repercutindo em sua saúde e qualidade de vida.

Apesar da extensão do princípio de integralidade as práticas de saúde no contexto prisional prevista em lei, os estudos de Santos et al (2017), Graça et al (2018) e Santana, Almeida, Oliveira & Bispo (2017) apontam que há um reducionismo do conceito da atenção básica nas práticas de saúde realizadas nesse contexto, configuradas por rápidas consultas médicas individuais, intervenções medicamentosas e coletas de exames laborais. Além de serem pautadas em uma concepção estritamente biológica, na maioria das instituições prisionais, a escassez de recursos humanos e materiais demonstram a fragilidade na promoção e no acesso à saúde por parte da população prisional (GRAÇA et al, 2018; MATOS et al, 2018). Dessa maneira, os estudos de Audi et al (2016a), Barbosa, Lyra & Bagni (2019), assim como Santos et al (2017) e Matos et al (2018) apontam incongruências nos dados apresentados em diagnóstico nacional em relação as ações de saúde que de fato são realizadas no contexto prisional.

Nessa linha de raciocínio, é possível identificar a limitação do acesso à saúde, no que tange aos cuidados psicossociais das mulheres privadas de liberdade nas instituições prisionais, principalmente pelo contexto, por vezes, não ser apropriado para abrigar mulheres, não disponibilizar materiais específicos que garantam os cuidados da mulher, escassez de recursos, o que promovem uma baixa qualidade de vida no contexto prisional. Nesse sentido, salienta-se

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que mesmo privadas de liberdade, as mulheres possuem o direito constitucional à saúde, entendida como o bem-estar biopsicossocial, como definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1946. Nessa perspectiva, o acesso à saúde e os demais fenômenos presentes no contexto prisional, como a precariedade, o acesso à educação e ao trabalho devem ser entendidos como questões públicas da sociedade em geral e obrigatoriedades do Estado. É necessário reconhecer as variáveis sociais presentes nesses fenômenos, para que ações preventivas e de ressocialização sejam efetivas em relação às questões de segurança pública.

A aproximação da literatura acerca da temática demonstrou a predominância do modelo biomédico de saúde no contexto prisional, assim como a associação da saúde da mulher à maternidade e a saúde materno-infantil nos estudos. Dessa maneira, percebe-se uma escassez de pesquisas que utilizem o contexto ampliado e integral de saúde. Como apontado por Fontoura e Mayer (2006), favorecer a integralidade em saúde é buscar um atendimento desfragmentado na relação dos profissionais com os sujeitos, sendo necessário uma revisão constante da concepção de saúde que se tem ao propor e executar políticas públicas. Assim, aponta-se a necessidade de pesquisas que mantenham a ampliação do conceito de saúde, como visto em Carnut (2017), enquanto uma maneira de defender e subsidiar uma produção de saúde além da lógica capitalista e exploratória dos sujeitos, recorrente não só no contexto prisional, mas na organização da sociedade moderna.

A partir dos dados apresentados, constata-se que a temática da saúde da mulher no contexto prisional necessita de pesquisas e produções que considerem a integralidade do conceito de saúde, considerando as dimensões psicológicas, sociais e contextuais, além da dimensão biológica da mulher privada de liberdade, para que as práticas de saúde no contexto prisional possam ser fundamentadas a partir dessa lógica integral. Esses dados vão ao encontro de Alcântara, Silva & Souza (2018) e Argimon, Lopes & Mello (2010), à medida que afirmam o contexto prisional como um importante campo de pesquisa para a Psicologia e a construção de políticas públicas, além da necessidade de pesquisas sobre a temática para garantir um cuidado integral para às mulheres privadas de liberdade.

No tocante às considerações aqui tecidas, esse estudo possui como objetivo geral compreender, com base na produção científica nacional e internacional, a percepção de saúde por mulheres privadas de liberdade no contexto prisional e, como objetivos específicos, identificar os significados de saúde para mulheres privadas de liberdade; identificar as práticas de saúde no contexto do sistema prisional feminino; identificar os determinantes sociais e de saúde no contexto prisional e conhecer as estratégias de enfrentamento das mulheres no sistema prisional feminino no tocante à sua saúde. 

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2 MÉTODO

A presente pesquisa caracteriza-se como uma revisão integrativa de literatura, com abordagem qualitativa. Nesse sentido, elaborou-se um protocolo de revisão (Apêndice A) seguindo as etapas de Ganong (1987). A pergunta de pesquisa é “qual a percepção de saúde por mulheres privadas de liberdade no contexto prisional na produção científica nacional e internacional?”.

Para realizar a revisão, optou-se pela busca nas bases de dados Scopus, PubMed, LILACS, PsycINFO, SciELO e vLEX, compondo duas bases de dados latino-americanas e quatro internacionais, sendo que, duas são da área da saúde, uma da Psicologia, uma do Direito e uma de abrangência geral, a fim de melhor encontrar dados sobre o contexto pesquisado. As bases de dados foram validadas por uma bibliotecária, visto que contemplaram as principais revistas internacionais e latino-americanas sobre o tema da saúde no contexto prisional brasileiro. Para a estratégia de busca, utilizou-se os descritores ("prisão" OR "prisões" OR "cárcere") AND ("mulher" AND "saúde da mulher"), assim como "Brazil" para as bases de dados internacionais, considerando o recorte do contexto nacional brasileiro, pois cada país tem legislações e políticas públicas próprias acerca do contexto prisional. Ressalta-se que houve um cuidado na escolha dos descritores e palavras-chave a fim de que eles melhor respondessem ao objetivo do presente estudo. Cabe informar que a escolha dos termos em português deu-se no sentido de delimitar para o contexto brasileiro. Assim, buscou-se artigos que contemplassem o escopo da pesquisa e respeitassem os critérios de inclusão: artigos de pesquisa, artigos empíricos, na perspectiva das mulheres em situação de cárcere privado, realizados em território brasileiro nos últimos 10 anos e publicados nos idiomas português, inglês e espanhol. Foram excluídos os artigos duplicados, assim como artigos de revisão, artigos teóricos e relatos de experiencia.

Inicialmente, após a pesquisa com os descritores referentes a temática da pesquisa nas bases de dados selecionadas, foram encontrados 63 artigos. Utilizou-se a estratégia PRISMA para representar o fluxograma da busca nas bases de dados (MOHER, 2015).

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Fonte: PRISMA 2009 Flow Diagram, adaptado pela autora.

Após a exclusão dos artigos duplicados e por meio dos critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos, obteve-se 9 artigos para análise e discussão dos dados. Os artigos selecionados foram apresentados em formato de tabela e, para melhor visualização dos dados optou-se por organizar os estudos por siglas.

SIGLA TÍTULO REFERÊNCIA ANO

A1 Saúde de mulheres no climatério em sistema

prisional

SANTOS, Rita; ALVES, Valdecyr; SANTOS, Márcia; RODRIGUES,

Diego; MARCHIORI, Giovanna. Saúde de mulheres no climatério em

sistema prisional. Cogitare Enferm. 2017 Jan/mar; 22(1): 01-08 2017 Scielo (n=11) vLEX (n=15) Lilacs (n=2) Scielo (n=4) Pubmed (n=0) Scopus (n=3) PsycINFO (n=0) vLEX (n=0) Resultados encontrados (n= 63) Artigos duplicados (n =25) Artigos incluídos (n= 9)

Verificação dos títulos e resumos (n=34) PsycINFO (n=1) Pubmed (n=3) Lilacs (n=8) Scopus (n=25) Artigos quantitativos (n=20) Artigos teóricos (n=9)

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A2 Vivências de gestantes em situação de prisão

Fochi, M. do C. S., Higa, R., Camisão, A. R., Turato, E. R., & Moraes Lopes,

M. H. B. (2017). Vivências de gestantes em situação de prisão. Revista Eletrônica De

Enfermagem, 19.

2017

A3 Health behaviors in sexual experiences of women in

prison

OLIVEIRA, Karlayne Reynaux Vieira de et al . Health behaviors in sexual experiences of women in prison. Rev.

Bras. Enferm., Brasília , v. 72, supl. 3, p. 88-95, Dec. 2019.

2019

A4 Significando o amamentar na prisão

MARIANO, Grasielly Jeronimo dos Santos e SILVA, Isília Aparecida. SIGNIFICANDO O AMAMENTAR NA PRISÃO. Texto

contexto - enferm. [online]. 2018, vol.27, n.4.

2018

A5 Mental health of incarcerated women in the

state of Rio de Janeiro

SANTOS, Márcia Vieira dos et al . MENTAL HEALTH OF INCARCERATED WOMEN IN THE STATE OF RIO DE JANEIRO. Texto contexto - enferm., Florianópolis , v.

26, n. 2, e5980015, 2017 .

2017

A6 A saúde física de mulheres privadas de liberdade em uma penitenciária do estado

do Rio de Janeiro

SANTOS, Márcia Vieira dos et al . A saúde física de mulheres privadas de

liberdade em uma penitenciária do estado do Rio de Janeiro. Esc. Anna

Nery, Rio de Janeiro , v. 21, n. 2, e20170033, 2017 .

2017

A7 Protecting factors of the mental health of incarcerated women: A descriptive-exploratory

study

SANTOS, Márcia Vieira dos et al. Protecting factors of the mental health

of incarcerated women: a descriptive-exploratory study. Online Brazilian Journal of Nursing, [S.l.], v. 16, n. 4,

p. 471-9, aug. 2018.

2017

A8 Gender in the context of sexual and reproductive rights of women deprived

of liberty

Costa, L. H. R., Alves, J. P., Fonseca, C. E. P., Costa, F. M. , & Fonseca, F. F. (2016). Gender in the context of

sexual and reproductive rights of women deprived of liberty .Enfermería

Global, 15(3), 138-175.

2016

A9 Experiences of imprisoned women about health actions

provided in the prison system

Moreira MA, Souza HS. Vivências de mulheres aprisionadas acerca das ações de saúde prestadas no sistema

Penitenciário. O mundo da Saude (Online) [Internet]. 2014

2014

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Para a análise dos dados, foi utilizado a análise de conteúdo de Minayo (2013). pois considerou os sentidos semânticos relacionados aos significantes presentes no discurso, além de considerar as variáveis psicossociais e o contexto cultural. Assim, os dados foram organizados em categorias a posteriori centras e subcategorias a partir dos elementos de análise presentes nos dados, a fim de facilitar a compreensão dos objetivos

3 RESULTADOS

Com base na análise de conteúdo, os dados coletados nos nove artigos selecionados foram divididos em três categorias a posteriori, intituladas: saúde como concepção biológica no contexto prisional; determinantes sociais e de saúde no contexto prisional; e estratégias de enfrentamento no contexto prisional. Os dados foram organizados em categorias e subcategorias, com seus respectivos elementos de análise, para melhor apresentação e análise, conforme a imagem abaixo.

Significados de saúde no contexto prisional Saúde como concepção biológica no contexto prisional

Saúde física e curativista

Ações pautadas na concepção biológica de saúde

Dificuldades do acesso a saúde no contexto prisional

Decisões institucionais Saúde como um privilégio Determinantes sociais

Precarização das ações em saúde

Determinantes sociais e de saúde no contexto prisional Alterações psicossociais nas mulheres decorrentes do contexto

Condições do contexto prisional

Repercussões fisiológicas e emocionais

Enfraquecimento das relações familiares e

sociais

Relação das mulheres com a rede social

Emoções e sentimentos decorrentes da relação com a rede social

Estratégias de enfrentamento

no contexto prisional

Religiosidade Proteção divina

Hábitos de rezar e ir ao culto Ocupação do tempo ocioso

Construção de novas narrativas

Trabalho e estudo Vínculos sociais

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Saúde como concepção biológica no contexto prisional

A categoria foi dividida em duas subcategorias: “significados de saúde para mulheres privadas de liberdade no contexto prisional“, cujos elementos de análise foram a saúde física e curativista, assim como as ações pautadas na concepção biológica de saúde; e “dificuldades do acesso à saúde no contexto prisional”, que inclui as decisões institucionais, os determinantes sociais, a precarização das ações em saúde e a saúde vista como um privilégio como elementos de análise.

Os resultados apresentados nos nove artigos selecionados demonstram o sentido biológico e curativista atribuído à saúde no contexto prisional por parte das mulheres em situação de cárcere, pois avaliam a sua saúde como ausência de doença e optam, em sua maioria, pela medicalização para tratar de sintomas físicos (A6 e A9). Nesse sentido, com a concepção de saúde como algo exclusivamente biológico, utilizam do serviço de saúde ofertado de maneira pontual, restringido a situações de queixa física (A9). Cabe destacar que, apesar dos significados atribuídos à saúde demonstrarem a forte presença da variável biológica do fenômeno, percebeu-se, de maneira unanime nos artigos, um descontentamento e descaso sobre a assistência em saúde prestada no contexto prisional.

Decorrendo da concepção biológica de saúde, as ações do serviço de saúde realizadas nas instituições prisionais são, em sua maioria, pautadas no modelo biomédico, cujo sentido é diagnosticar e tratar doenças na medida em que aparecem, como mostrado nos artigos (A3, A5, A6 e A9). Nesse sentido, evidenciou-se a importância dada à figura do médico como profissional referência em cuidado a saúde nesse contexto, restringindo as ações multidisciplinares e a atuação de demais profissionais da área da saúde, como enfermeiros e psicólogos. Em contrapartida, identificou-se a importância do papel da enfermagem quando relacionada a medicação (A5, A6 e A9), ação em saúde mais utilizada no contexto prisional, como exemplificado no trecho: “(...) eu só conheço a enfermaria pra passar pelo médico e a enfermeira... de vez em quando, quando a gente sente mal” “(A9). Nesse sentido, o uso de medicação controlada foi uma ação em saúde predominante na maioria dos artigos, como uma maneira de atender as demandas e as necessidades pessoais das mulheres, também relacionado a necessidade de manter o padrão de sono e minimizar possíveis conflitos no cotidiano da prisão (A5).

Além da noção de saúde reduzida ao caráter biológico, o contexto prisional e suas especificidades evidenciam que, para quem está em regime de privação de liberdade, a saúde foi compreendida como um privilégio, por vezes inalcançável. Os relatos acerca das ações em saúde presentes em todos os artigos escancaram as inúmeras dificuldades do acesso a saúde

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nesse contexto, como a institucionalização dos presídios (A2 e A9), os determinantes sociais da população carcerária brasileira (A3 e A9) e a precarização de recursos humanos, físicos e estruturais para realizar as práticas em questão (A3 e A9).

Para A2 e A5, o ambiente encarcerador e rígido das instituições prisionais inflige diretamente nos sujeitos inseridos nesse contexto, assim como nas práticas em saúde realizadas. Nesse sentido, as mulheres em privação de liberdade dependem das decisões institucionais para acessar os espaços em saúde e usufruir das práticas ofertadas pelos profissionais, pois necessitam da aprovação de agentes prisionais para serem levadas aos espaços em saúde mediante uma solicitação (A2 e A9), como exemplificado no trecho: ”(...) quando a gente tá sentindo alguma coisa, nós fala, aí elas [as agentes] levam a gente na enfermaria, aí o médico olha. Se precisar passar remédio, passa (...)”. Além disso, A2 e A9 elucidaram que as limitações estruturais das instituições obrigam que se busque ações em saúde fora do sistema penitenciário, resultando na descontinuidade de tratamentos. Outra variável presente no contexto prisional que inviabiliza o acesso à saúde enquanto um direito é a cobrança financeira de determinadas práticas além da oferta gratuita nas instituições (A9), como referido no trecho acerca da saúde odontológica: “(...) o atendimento com o dentista só foi pra arrancar, porque aqui não tem pra fazer tratamento, limpeza... é particular (...); (...) hoje o dentista que se encontra na casa, ele cobra, mas arrancar dente é por conta da casa”.

Sobre os determinantes sociais da população carcerária feminina no Brasil, A3 apontou a inviabilização da questão de gênero no contexto prisional, que reflete diretamente no planejamento e execução das ações em saúde nas instituições. Em relação aos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, há uma discrepância nas condições e nas frequências das visitas íntimas nas penitenciárias femininas em relação a população carcerária masculina, cujo direito a visitas íntimas é assegurado há mais de duas décadas, segundo os autores (A3). Além disso, a falta de escolaridade da maioria da população é um fator que convém à inexecução de ações em saúde pautadas nos princípios da universalidade e a integralidade, por exemplo, pois há um desconhecimento sobre os preceitos do SUS e do PNSSP, culminando na violação do direito de acesso à saúde dessa população (A9).

Destaca-se que todos os nove artigos apontaram a precarização das ações em saúde por conta da escassez de recursos humanos, físicos e estruturais que possibilitariam uma assistência mais completa da população e de suas necessidades. A9 apontou que, além da lógica queixa-conduta estabelecida nas instituições prisionais no tocante a saúde da população, há inadequação no número de profissionais da saúde, assim como nos períodos e nas condições de trabalho, como exemplificado nos recortes de trechos das entrevistas:

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“(...) a questão de médico aqui tá mal, pois é um médico só pra atender o presídio todo, aí escolhe 20 pessoas; (...) à noite, é a hora que mais precisa. Era pra ter mais enfermeira aqui, é uma enfermeira só pra tudo, quando passa mal dentro do anexo, não tem ninguém pra pegar, as meninas praticamente são arrastadas quando desmaiam e jogadas em qualquer lugar perto do lixo; (...) quando vem, diz: ‘não tem nada prescrito, eu não posso fazer nada’ (...).” (A9, p. 225)

A negligência do Estado acerca das políticas de saúde nesse contexto infere diretamente na qualidade de vida dessa população no sistema prisional (A6). Assim, evidencia-se o tamanho descaso com a população por conta da debilitação das instituições, cuja ocorrência histórica afirma que o acesso a saúde de qualidade é negado a esses sujeitos.

Determinantes sociais e de saúde no contexto prisional

A categoria foi dividida em duas subcategorias: “alterações psicossociais nas mulheres decorrentes do contexto prisional”, cujos elementos de análise foram as condições existentes no contexto prisional, assim como as repercussões fisiológicas e emocionais das mesmas; e “enfraquecimento das relações familiares”, cujos elementos de análise foram a relação das mulheres com suas redes sociais e as emoções e sentimentos decorrentes dessa relação.

Os agravantes da vida no cárcere foram apresentados em todos os nove artigos como fatores determinantes de saúde nesse contexto, cujo impacto representa a impossibilidade de construir rotinas saudáveis mediante essas condições, acarretando várias alterações na população das instituições prisionais. Sobre isso, no sistema prisional, a rotina institucional impõe os horários de alimentação, sono e demais atividades, assim como as condições em que elas se desenvolvem, agravando possíveis alterações fisiológicas nas mulheres. A1, A2, A5 e A6 relacionaram as péssimas condições estruturais das celas, assim como a falta de privacidade e o barulho alto devido ao compartilhamento, à baixa qualidade de sono e à decorrência de insônia vivenciada pelas mulheres. A alimentação é outro determinante de saúde que, no contexto prisional, tem uma pobre execução em relação aos aspectos nutricionais e as condições atreladas as refeições, gerando uma dificuldade de adaptação por parte das mulheres (A6). As consequências podem ser o aumento de peso após o confinamento (A1), ou o não suprimento das necessidades nutricionais da população (A2), o que pode resultar em diferentes complicações a longo prazo. Além disso, A5 apresentou o contato direto e constante com situações de violência como um fator determinante das de saúde dessas mulheres, de cunho físico e psicológico, assim como a violência institucional evidenciada no descaso das condições do contexto prisional.

Além das condições estruturais e a alimentação, a falta de ofertas de atividades de lazer e culturais por parte do sistema prisional acarreta uma ociosidade para a população,

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caracterizando a vivência no cárcere como um grande período de desocupação (A5 e A6). Outro fator que interfere negativamente nas condições de saúde durante o período de encarceramento é a vida sexual das mulheres que, em sua maioria, experienciam a abstinência sexual pela baixa frequência de visitas íntimas (A5).

Além de alterações físicas, as condições limitantes do sistema prisional produzem sentimentos relacionados à tristeza, solidão, abandono e revolta, caracterizados no artigo 5 como fatores comprometedores da saúde mental das mulheres. A solidão é um sentimento unanime nos relatos das mulheres, presente em todos os artigos, quando questionadas sobre a vivência no cárcere. O artigo 9 trouxe um aumento no sentimento de culpa e desvalia delas mesmas ao enfrentarem no cotidiano o descaso com essa população, que é percebido diariamente pelas mulheres, como consta no trecho: “(...) se tá aqui pra pagar, deveria também ter um atendimento melhor, pois, apesar de ter errado por estar preso, não deixa de ser humano. Estamos pagando, erramos, mas estamos aqui pra reabilitar (...).“

O enfraquecimento das relações familiares e sociais pregressas ao encarceramento também foi avaliado como um determinante de saúde das mulheres nesse contexto, apresentado nos artigos 5, 9 e 2. A interrupção completa ou a diminuição da frequência das visitas familiares é expressada nos relatos através de sentimentos de tristeza e saudade, correlata a possíveis processos de adoecimento, como relatado nesse trecho por uma das mulheres: “(...) tem muita gente que precisa que não tem visita, aí tem pessoas que adoecem mais por causa disso (...).“ Nesse sentido, com base nos artigos analisados, evidencia-se que os determinantes sociais e de saúde no contexto prisional relacionam-se à alimentação adequada, qualidade de sono, relações sociais e de trabalho.

Estratégias de enfrentamento no contexto prisional

A categoria foi dividida em três subcategorias: “religiosidade”, cujos elementos de análise foram a presença em cultos e atividades religiosas, assim como a noção de proteção divina; “ocupação do tempo ocioso”, que teve como elementos de análise o cuidado da alimentação e saúde mental, tal como a prática de exercícios físicos, rotina de estudos e de trabalho; e “construção de novas narrativas”, que inclui como elementos de análise a reconstrução do universo afetivo, refletir e ressignificar a própria vida e a homossexualidade.

Considerando as circunstâncias limitadoras do contexto prisional, a ocupação do tempo ocioso com diferentes atividades é utilizada constantemente como uma estratégia de enfrentamento as condições adversas do cárcere, como apresentado nos artigos 4, 6 e 7. Para as mulheres que se tornaram mães durante o período de encarceramento, como abordado no artigo

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4, a convivência com o filho foi um fator positivo em relação ao aumento de demandas que o cuidado da criança trouxe, pois preencheu o cotidiano difícil com outros encargos além do cárcere: “[...] parece que nem estou tão presa, o dia passa que a gente nem vê, e tanta coisa que nós fazemos com essas crianças aqui dentro”. A prática religiosa foi apresentada como uma possibilidade de enfrentamento as demandas emocionais emergentes da vida no cárcere, sendo realizada em conjunto nas celebrações ofertadas nas instituições ou como uma prática pessoal (A2 e A7).

O artigo 7 trouxe a importância da educação e do trabalho ofertado pelo sistema penitenciário como possibilidade de remissão da pena às mulheres na busca por estratégias de enfrentamento ao cárcere: “(...) o meu trabalho que me ajuda bastante aqui dentro. (M5); (...) eu lavo roupa e faço faxina, ocupo a minha mente. (M9)”. Além das atividades realizadas em função da instituição, os depoimentos apontam atividades de lazer desenvolvidas como fatores de prevenção ao adoecimento, buscando a diminuição do sofrimento psíquico durante o encarceramento, como a leitura, a vinculação com as companheiras de cárcere através da conversa, assim como a música e a televisão. O artigo 6 apresentou a busca por hábitos alimentares saudáveis, através do intermédio de familiares e amigos que fornecem tais alimentos nas visitas, e a prática de atividades físicas como maneiras de resistir e enfrentar as condições impostas nas instituições. Ressalta-se que os depoimentos demonstraram conhecimento por parte das mulheres sobre o benefício dessas atividades como preventoras do adoecimento, o que permite uma visão ampliada de saúde por parte delas (A6, A7).

Para sobreviver as condições desfavoráveis à vida presentes no cárcere, as mulheres buscam a construção de novas narrativas para si mesmas, o que envolve diferentes possibilidades. Os artigos 2 e 5 identificaram nos depoimentos a vivência na prisão como uma oportunidade de aprendizado e valorização da vida, através de um processo reflexivo por parte das mulheres: “[...] aprendi muitas coisas aqui dentro, me renovei [...] “. Vivenciar a maternidade durante o período de encarceramento também foi apontado como uma possibilidade de reconstrução afetiva que, por conta das adversidades, geralmente é quebrada, através da criação de vínculo com a criança (A4). Outro fator importante como estratégia de enfrentamento é a sexualidade das mulheres que, de maneira recorrente, optam pela homossexualidade durante o período de reclusão, a fim de reconstruir as demandas afetivas e emocionais enfraquecidas nos momentos de solidão (A3).

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4.1 Saúde como concepção biológica no contexto prisional

Os resultados apresentados acerca dos significados de saúde por parte das mulheres em situação de cárcere e as ações em saúde realizadas no contexto prisional evidenciam que o significado de saúde nesse contexto é atribuído ao sentido biológico e as ações realizadas são pautadas no modelo biomédico. Estes dados são coadunados pelos estudos de Santos et al (2017); Graça et al (2018); Santana, Almeida, Oliveira & Bispo (2017) que apontaram a prevalência das dimensões biológicas de saúde nas perspectivas das mulheres em privação de liberdade, assim como nas práticas de saúde configuradas em consultas médicas individuais e intervenções medicamentosas.

O modelo biomédico que, segundo Capra (2006), edifica a medicina científica moderna, tem como embasamento o paradigma cartesiano, cuja premissa para o entendimento do funcionamento humano é a separação do corpo e a mente, preconizando as variadas partes de um todo, de maneira mecanicista. Esse modelo conceitual relaciona o corpo e sua saúde a um bom funcionamento das partes que o integram, limitando a compreensão do corpo humano aos mecanismos biológicos presentes em seus componentes básicos, desconsiderando, por sua vez, as influências de circunstâncias não biológicas sobre os processos corporais (CAPRA, 2006).

A saúde, como um fenômeno amplamente modificado ao longo da história e a depender da cultura, configura-se, segundo Cruz (2011), como o resultado de um conjunto de determinantes históricos, sociais, econômicos, culturais e biológicos. O Estado, através das legislações que regem as ações em saúde no território nacional, preveem a necessidade de serviços de promoção e proteção da saúde, além de sua recuperação (BRASIL, 1988). Entretanto, a estrutura conceitual regente do sistema de pesquisa e da assistência em saúde é, historicamente, o modelo biomédico que, apesar da diversidade de fenômenos determinantes de saúde, centra-se nos aspectos biológicos, tornando-se, segundo Capra (2006), ineficiente em relação a promoção e a manutenção de saúde. A concepção fragmentária do modelo biomédico, segundo Cruz (2011) preconiza o processo de diagnóstico e uma intervenção de cuidado reducionista. Sendo assim, ações pautadas na abordagem biomédica alinham-se ao entendimento de Foucault (1979) sobre o controle dos corpos perante o espaço social, pois a intervenção médica ocorre sobre o plano de vida dos sujeitos, como uma maneira de controle do individual ao social. Segundo Foucault (2005), a intervenção médica se caracteriza como uma estratégia biopolítica, pois “incide ao mesmo tempo sobre o corpo e sobre a população, sobre o organismo e sobre os processos biológicos e que vai, portanto, ter efeitos disciplinares e efeitos regulamentadores“ (FOUCAULT, 2005, p. 302). Dessa maneira, há a dimensão de

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controle social iniciando na dimensão corporal, como visto nas ações regulamentadoras do contexto prisional.

Os dados apresentados evidenciam que, no contexto prisional, a concepção biológica de saúde é regente dos serviços ofertados à população carcerária e da relação que a mesma experiencia com sua própria saúde, atentando-se principalmente aos sintomas físicos e buscando curá-los de maneira imediatista. Dessa maneira, o fenômeno da medicalização aparece como a principal prática de saúde nas instituições prisionais, o que o insere no campo do biopoder, da maneira em que exerce controle sobre o corpo do sujeito e sobre a população (FOUCAULT, 2011). Segundo Cruz e Zorzanelli (2018), as instituições disciplinares, como as prisionais, encontram no fenômeno da medicalização uma possibilidade de controle sobre a população, pois interfere diretamente no plano de vida dos sujeitos, inferindo em processos de subjetivação. Os dados apresentados em A5 evidenciam justamente a relação do uso de medicamentos psicotrópicos, nem sempre com orientação médica, com a manutenção do padrão de sono e a contenção de possíveis conflitos presentes no cotidiano da prisão. Assim, evidencia-se o poder disciplinar, caracterizado por Foucault (1988) como o poder sobre o corpo-individual na produção de um corpo dócil, onde a abordagem biomédica atua por meio da noção de norma, através da medicalização de determinados comportamentos.

Além de ações em saúde pautadas em uma concepção prioritariamente biológica, os dados apresentaram os fatores dificultadores do acesso à saúde no contexto prisional: decisões institucionais, os determinantes sociais da população prisional e a precarização das ações em saúde. O acesso à saúde de qualidade como um direito, em caráter preventivo e curativo, não é a realidade da população prisional brasileira, cuja situação emergencial revela a negligência estatal e a violação dos seus direitos constitucionais (BRASIL, 2008). De que maneira é possível considerar as condições notórias do contexto prisional como dignas à possibilidade de ser cidadã, já que, segundo Foucault (1997), as instituições prisionais são aparelhos disciplinares exaustivos para além da reclusão da sociedade.

Ao pensar sobre a população prisional feminina estudada nesses artigos, faz-se importante analisar os determinantes sociais e étnicos, a falta da escolaridade da maioria da população à inexecução de ações em saúde pautadas nos princípios previstos na Lei de Execução Penal (BRASIL, 2008). Esses dados vão ao encontro da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), pois ao caracterizar os dados socioeconômicos da população negra como indicadores de saúde, evidenciou baixo nível de escolaridade e alto de pobreza (BRASIL, 2004). Dessa maneira, Foucault (1997) critica o sistema legal e judiciário acerca da dissimetria de classe e disparidade social, da maneira em que se dirige principalmente

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às classes mais numerosas e menos esclarecidas acerca dos seus direitos. Os fatores dificultadores do acesso à saúde no contexto prisional apresentados evidenciam que tal acesso é relacionado à uma condição – no caso, de classe, etnia e poder aquisitivo; e não a um direito. Infere-se o caráter de privilégio atribuído à saúde no contexto do cárcere, considerando todas as suas limitações físicas e subjetivas experienciadas pela população prisional.

4.2 Determinantes sociais e de saúde no contexto prisional

A saúde, caracterizada por Cruz (2011), como um componente das condições de vida das pessoas, é um processo complexo, decorrente do conjunto de determinantes históricos, sociais, econômicos, culturais e biológicos. Assim, como visto em Buss e Pellegrini Filho (2007), os fatores de natureza social, econômica e política na vida das pessoas produzem efeitos diretos nas condições de saúde dos sujeitos. Os dados apresentados revelam que os agravantes do contexto prisional, tanto as condições estruturais indignas e o contexto encarcerador por si só, têm repercussões fisiológicas e emocionais nas mulheres que tentam sobreviver à vida no cárcere, que impossibilitam a construção de rotinas minimamente saudáveis nesse contexto.

As péssimas condições estruturais das instituições prisionais, como a superlotação, e o regime de horários das atividades impostos institucionalmente acarretam alterações fisiológicas experienciadas pelas mulheres, assim como produzem efeitos em suas subjetividades através de repercussões emocionais. Como visto em Foucault (1997), as técnicas punitivas das instituições prisionais são pensadas na ordem do corporal, indo além da privação de liberdade – que, por si só, já é um sério agravante de saúde, incluindo a redução alimentar, privação sexual, regime estrito de horários, controle constante de suas atividades, ociosidade e a distribuição espacial dos sujeitos. Tais condições do contexto prisional, aqui denominadas de determinantes sociais e de saúde, têm como objetivo a produção de corpos dóceis, cuja justificativa é o mito da ressocialização àquelas que cometeram algum tipo de delito (FOUCAULT, 1997). As repercussões das condições do encarceramento nas mulheres que o vivenciam são inúmeras, afetando diretamente sua saúde, evidenciando como, de acordo com Foucault (2002), as práticas jurídicas são determinantes na subjetividade do sujeito, pois interferem diretamente nas relações humanas. Assim, como visto em Foucault (1997) a função real das instituições prisionais é a reprodução da própria ilegalidade que se busca combater, atuando como depósitos de corpos trancafiados, marcados por processos de modulação que inferem diretamente em suas subjetividades, também enclausuradas em suas possibilidades.

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De maneira subjetiva, a condição de reclusão e isolamento social, com base nas condições apresentadas, favorece o sofrimento psíquico das mulheres em situação de cárcere, através da ruptura e o enfraquecimento das relações familiares e sociais. Somado a isso, a negligência estatal com a população prisional refletida na violência institucional foi apontada por Foucault (1997), na medida em que produz o efeito contrário a uma possível ressocialização, ocasionando sentimentos de inadequação às injustiças experienciadas no cárcere:

“O sentimento de injustiça que um prisioneiro experimenta é uma das causas que mais podem tornar indomável seu caráter. Quando se vê assim exposto a sofrimentos que a lei não ordenou nem mesmo previu, ele entra em um estado habitual de cólera contra tudo que o cerca; só vê carrascos em todos os agentes da autoridade: não pensa mais ter sido culpado; acusa a própria justiça.” (FOUCAULT, 1997, p. 294)

Tais repercussões emocionais apresentadas nos dados revelam a ineficiência dos métodos coercitivos e escancaram, cada vez mais, a falha do sistema prisional brasileiro como um dispositivo ressocializador e preventivo.

Apesar da legislação referente ao sistema prisional abranger as variáveis necessárias para uma possível reintegração social e valorização do sujeito além do delito cometido – como o acesso à saúde, trabalho e educação previsto na Lei de Execução Penal (BRASIL, 2004), a realidade do processo de institucionalização revela experiências de “existência-sofrimento dos sujeitos” (LIMA et al, 2013). Como visto em Carnut (2017), o cuidado integral de saúde dos sujeitos, que considera os determinantes sociais e de saúde da população carcerária, é o que permite um avanço na conquista da cidadania da mesma, a medida em que possibilita condições de vida e de saúde no contexto prisional que visam sua ressocialização.

4.3 Estratégias de enfrentamento

Os dados apresentados evidenciam os diferentes mecanismos desenvolvidos na busca pela sobrevivência e superação das condições adversas do cárcere, que se manifestam no âmbito individual, mas também em práticas coletivas no contexto prisional. A religiosidade e a ocupação do tempo ocioso com atividades educativas, de lazer e de trabalho caracterizam-se como os mecanismos de enfrentamento das mulheres, caracterizados por Lima et al (2013) como suporte emocional na busca por um breve alívio do sofrimento experienciado no cotidiano prisional.

De maneira predominante, evidencia-se a presença da religiosidade no processo de enfrentamento do encarceramento, que, segundo Dalgalarrondo e Moraes (2006), fornece sentido para as dificuldades enfrentadas pelos sujeitos, contribuindo para a reconstrução da auto

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imagem diante situações tão desestruturantes como no contexto prisional. Como as práticas religiosas detém uma dimensão coletiva, também agem como possibilidade de fortalecimento de vínculos sociais dentro das instituições, o que também é considerado uma modalidade de enfrentamento aos sentimentos de solidão nas vivencias prisionais (LIMA et al, 2013). Outro mecanismo de enfrentamento é a ocupação do tempo ocioso com atividades educativas e laborais, que produzem efeitos positivos nas mulheres e caracterizam-se como mantenedores essenciais para o fortalecimento da saúde mental nesse contexto. Lima et al (2013) atribui ao trabalho a função terapêutica de construção de esperança durante as vivencias prisionais, através do seu potencial ressocializador, como visto em Foucault (1997), que caracterizou o trabalho como uma das peças essenciais da socialização progressiva dos detentos, assim como a educação.

Entende-se a prática desses mecanismos de enfrentamento como possibilidades de cuidado em saúde alternativas a concepção biológica, analisando essa relação também através das dimensões subjetivas, sociais e contextuais. De acordo com Lima et al (2013), a prática desses hábitos representa a possibilidade de minimizar as experiencias de sofrimento e os efeitos paralisantes que o cárcere ocasiona, visando acarretar menores danos à saúde mental dessa população. Planejar e realizar ações desse cunho, em um contexto tão limitador, é atuar além da recuperação de saúde, mas também como prevenção e promoção, respeitando a multidimensionalidade desse processo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa, cujo objetivo era compreender a percepção de saúde por mulheres privadas de liberdade no contexto prisional, considerou os dados publicados acerca dessa população e a sua relação com saúde, bem como as práticas de saúde realizadas nesse contexto, para teorizar quais sentidos são atribuídos a esse fenômeno.

Diante do exposto, evidenciou-se que, na relação das mulheres privadas de liberdade com a sua saúde nesse contexto, há a predominância da concepção biológica e das dimensões físicas, tendo maior ênfase nas repercussões fisiológicas que o cárcere produz. O modelo biomédico, regente das relações de uma sociedade capitalista historicamente construída no paradigma cartesiano, exerce um poder muito forte na compreensão de saúde e em como ocorre a organização e a atuação nesse campo. Dessa maneira, evidencia-se que a função das ações em saúde estritamente biológicas e medicalizantes, inscritas na dimensão do corporal, são utilizadas como técnicas regulamentadoras dos sujeitos e, consequentemente, dessa população.

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Em relação as repercussões fisiológicas e emocionais do contexto prisional nos sujeitos, compreende-se que os delineadores sociais, étnicos e de gênero dessa população representam, por si só, determinantes sociais e de saúde que, nesse contexto, são somados aos agravantes do cotidiano. As péssimas condições institucionais, as limitações naturais a um processo de reclusão social e a violação dos direitos dessa população tem como efeito o contrário da ressocialização utopicamente esperada de um cumprimento de pena. Soma-se a isso, ao fato de que as próprias mulheres precisam construir suas estratégias de enfrentamento e sobrevivência frente ao contexto prisional em que vivem. Tais estratégias de enfrentamento, principalmente a religião e o trabalho, oferecem possibilidades de uma maior qualidade de vida nesse contexto a essas mulheres, porém, também são atividades que produzem a docilização dos corpos, como as demais medidas coercitivas do contexto prisional.

Com base nos estudos analisados, ressalta-se que está ocorrendo uma violação de direitos das mulheres com privação de liberdade. Aponta-se que o fracasso das instituições prisionais já é um fenômeno conhecido pela sociedade, devido a um sistema caótico a nível nacional, assim como os índices de criminalidade crescentes, o que exige, urgentemente, a aplicação de políticas públicas, sobretudo de saúde, para às mulheres no contexto prisional. Além disso, a reorganização desse modelo asilar, perpassa pelos determinantes sociais e pela construção de espaços institucionais psicossociais, como a realização de atividades educativas e laborais com caráter terapêutico e ressocializador como alternativas de enfrentamento as condições extremamente adversas que tais população são submetidas.

Ressalta-se que, tendo como alicerce os estudos analisados, as políticas públicas de caráter educativo e integrativo, que poderiam garantir um cuidado para essa população mediante contexto tão indigno, raramente são realizadas da maneira que são propostas. Por conta disso, aponta-se a necessidade de debruçar-se sobre a temática, a fim de proporcionar um melhor planejamento e cumprimento de ações de garantias de direitos a essa população. Compreender e atuar em saúde tendo como alicerce uma noção integrativa é ceder espaço as demais variáveis componentes desse fenômeno.

Mediante os resultados obtidos, constatou-se que há número escasso de publicações científicas, no cenário brasileiro, sobre a saúde das mulheres privadas de liberdade na perspectiva delas. Assim, ressalta-se a necessidade de produções científicas na temática que busquem evidenciar a realidade dessas mulheres através das suas próprias falas e vivências. Além disso, infere-se a urgência de pesquisas que utilizem um conceito integral de saúde, preconizando as variáveis psicossociais presentes nesse fenômeno, para que o planejamento e

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realização de ações em saúde para a população carcerária ultrapasse as dimensões biológicas e corporais.

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ZORZANELLI, RT; CRUZ, MGA. The concept of medicalization in Michel Foucault in the 1970s. Interface (Botucatu). 2018; 22(66):721-31.

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APÊNDICE A – PROTOCOLO DE REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

PERCEPÇÕES SOBRE SAÚDE DE MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE NO CONTEXTO PRISIONAL: REVISÃO INTEGRATIVA

I. RECURSOS HUMANOS: Acadêmica: Clara Gomes Testa Orientadora: Girlane Mayara Peres

II. PARTICIPAÇÃO DOS PESQUISADORES:

Pesquisa em bases de dados previamente selecionadas, seleção dos artigos para os estudos, análise dos dados, tabulação e redação dos resultados.

III. VALIDAÇÃO EXTERNA DO PROTOCOLO:

Alessandra (Bibliotecária da Universidade do Sul de Santa Catarina) IV. PERGUNTA:

Quais as percepções de saúde por mulheres privadas de liberdade no contexto prisional? V. DESENHO DO ESTUDO:

Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura com abordagem qualitativa. Serão seguidas as etapas de acordo com Ganong (1987):

1. Seleção da pergunta de pesquisa;

2. Definição dos critérios de inclusão e exclusão dos estudos; 3. Seleção da amostra;

4. Representação dos estudos selecionados em formato de tabelas, considerando as características em comum;

5. Análise crítica dos resultados, identificando diferenças e conflitos; 6. Discussão e interpretação dos resultados;

7. Apresentação clara a evidência encontrada.

Será utilizado a estratégia PRISMA para representar o fluxograma da busca pelo objeto de estudo nas bases de dados (MORE, 2015).

Os dados serão analisados pela análise de conteúdo de Minayo (2014). VI. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO DOS ARTIGOS:

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1. Artigos publicados nos idiomas português, inglês e espanhol; 2. Artigos de 2009 a 2019;

3. Artigos empíricos. 4. Artigos de pesquisa.

5. Artigos na perspectiva das mulheres em situação de cárcere privado. 6. Artigos realizados em território brasileiro.

VII. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO DOS ARTIGOS:

Serão excluídos estudos que estiverem duplicados e estudos cujos conteúdos não

correspondam ao escopo da pesquisa. Também serão excluídos artigos de revisão, artigos teóricos e relatos de experiencias.

VIII. ESTRATÉGIAS DE BUSCA DOS ARTIGOS (Pesquisa avançada):

A estratégia de busca será realizada nas bases de dados listadas abaixo com base nos descritores selecionados e relacionados ao assunto:

Base de dados:

Scopus, PubMed, LILACS, PsycINFO, SciELO e vLEX. Descritores:

("prisão" OR "prisões" OR "cárcere") AND ("mulher" AND "saúde da mulher") + “Brazil” para as bases de dados internacionais.

IX. COLETA DOS DADOS DOS ARTIGOS:

A busca dos artigos será realizada através do acesso às bases de dados supracitadas de forma individual, não sendo pré-definida uma base para início e/ou término.

Todos os trabalhos encontrados atendendo os critérios de busca serão submetidos à próxima etapa deste protocolo.

A coleta nas bases de dados será realizada no mês de Maio de 2020. X. SELEÇÃO DOS ESTUDOS:

A coleta e organização dos estudos serão realizadas a partir de pastas de arquivos nomeadas com os títulos das bases de dados.

Os estudos serão selecionados e armazenados a partir da leitura dos títulos e resumos para que sejam determinados os objetos de análise aprofundada.

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A partir dessa primeira etapa, como indica a Revisão Integrativa, os dados serão sistematizados em tabelas com respectiva leitura criteriosa dos estudos e organização dos dados através de numeração e título.

XI. AVALIAÇÃO CRÍTICA DOS ESTUDOS:

Será realizada uma releitura dos materiais pré-selecionados com avaliação crítica e sistematização dos dados em categorias temáticas.

XII. INFORMAÇÕES A SEREM EXTRAÍDAS DAS PRODUÇÕES Referência completa do artigo

Título do artigo Autores

Ano de publicação Objetivo da pesquisa Método

Reflexão dos artigos Resultados da pesquisa Conclusões

Referências

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