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Porcos, pânico e jornalistas

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ROGER M. CAETANO

PORCOS, PÂNICO E JORNALISTAS:

UMA ANÁLISE SOBRE AS NOTÍCIAS DA GRIPE A NO DIÁRIO CATARINENSE

Palhoça 2010

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ROGER M. CAETANO

PORCOS, PÂNICO E JORNALISTAS:

UMA ANÁLISE SOBRE AS NOTÍCIAS DA GRIPE A NO DIÁRIO CATARINENSE

Monografia apresentada no curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel.

Orientador Prof. Valmir dos Passos

Palhoça 2010

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ROGER M. CAETANO

PORCOS, PÂNICO E JORNALISTAS:

UMA ANÁLISE SOBRE AS NOTÍCIAS DA GRIPE A NO DIÁRIO CATARINENSE

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo e aprovado em sua forma final pelo Curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 30 de novembro de 2010.

_____________________________________________ Orientador Prof. Valmir dos Passos

Universidade do Sul de Santa Catarina

_____________________________________________ Prof. Jaci Rocha Gonçalves, Dr

_____________________________________________ Profª. Raquel Wandelli, Msc

(4)

Dedico um dos estímulos deste trabalho ao ministro do STF, Gilmar Mendes que declarou o exercício do jornalismo não representar riscos à coletividade.

(5)

AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha mãe Lenir Dias Maurício por ter paciência até os meus 31 anos para me ver formado.

(6)

RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de avaliar as notícias sobre a gripe Influenza Pandêmica A (H1N1) vinculadas no periódico Diário Catarinense, entre os meses de abril à agosto de 2009. A justificativa do trabalho se dá pelo questionamento sobre se a cobertura feita pelo Diário Catarinense a respeito da gripe “A” considerou apenas o apelo comercial e deixou de informar bem a população tendo como base estas categorias. Para tentar responder isso foi feito uma análise das notícias e reportagens veiculadas no jornal, tendo como base os jornalistas teóricos como Traquina, Genro Filho, Arbex JR e Meditsch. Algo que será fundamental para isto são as categorias de singular, particular e universal da notícia, teorizadas por Genro Filho.

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ABSTRACT

This study aims to evaluate the news about the Pandemic Influenza A (H1N1) flu published in the journal Diário Catarinense, between the months of April to August 2009.The justification of the work is done by questioning whether the coverage done by Diário Catarinense about the flu just view the commercial appeal and failed to inform well the public. To help answer this was made a review of news and articles published in the paper, based on the journalism theorics from Traquina, Genro Filho, Meditsch and Arbex JR. Something that is essential for this are the categories of singular, particular and universal in the news, theorized by Genro Filho.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1-Box explicativo sobre a gripe ... 23

Figura 2- Transeuntes no México ... 24

Figura 3- Box explicativo sobre o contexto da gripe ... 27

Figura 4- Box explicativo sobre o contexto da gripe em geral ... 29

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 11

2 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A INFLUENZA PANDÊMICA “A” (H1N1) PANDÊMICA E SUAS “IRMÃS” ... 15

2.1 AS “IRMÃS” DO PASSADO ... 15

2.1.1 Influenza pandêmica “A” (H1N1), o bicho de sete cabeças ... 16

3 O DIÁRIO CATARINENSE COMO VEÍCULO ... 21

3.1 AS NOTÍCIAS SOBRE A GRIPE “A” ... 21

4 AS NOTÍCIAS SÃO DOENTES? ... 36

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 39

6 REFERÊNCIAS ... 41

6.1 BIBLIOGRÁFICAS ... 41

6.2 JORNAIS E PERIÓDICOS ... 41

(10)

11

1 INTRODUÇÃO

No primeiro semestre do ano de 2009, os meios de comunicação de massa colocaram sua atenção voltada para as notícias a respeito do surto da gripe H1N1. Doença esta que se espalhou rapidamente pelos quatro cantos do mundo e fazendo vítimas fatais. A cada boletim ou manchete divulgada pelos meios jornalísticos, a informação era que a gripe avançava cada vez mais e novas mortes eram contabilizadas. Quando os primeiros casos da gripe foram noticiados no Brasil, algumas escolas, universidades e repartições públicas tiveram suas atividades suspensas. Emergências de hospitais ficaram congestionadas com pessoas querendo saber se estavam ou não contaminadas pela nova doença. Era comum nos grandes centros urbanos, a visão de pessoas no seu aparente dia-a-dia usando máscaras de proteção contra agentes patogênicos.

Todo este fenômeno, que durou alguns meses e afetou a rotina de quase toda sociedade, sem contar a sobrecarga nos serviços de saúde e aconteceu sem qualquer dado científico oficial que pudesse levar a exigir um estado de alerta das pessoas e instituições. Além do fato que o cidadão comum tem as informações divulgadas de maneira comercial pelos meios jornalísticos. (CASTRO, 2010)

Nas sociedades democráticas, a função social de articuladores da informação cabe aos jornalistas. Fazer isso não é um simples ato de colher dados de forma objetiva e transcrevê-los para o veículo (Jornal, rádio, TV, internet). Antes de tudo o jornalista necessita “vender” sua matéria, captar a atenção do seu leitor, torná-lo envolvido com o assunto. Faz parte do negócio e é uma necessidade vital de mercado.

Não é nenhuma novidade, e de acordo com (TRAQUINA, 2005) que os jornais querem em primeiro lugar “vender” suas notícias e assim lucrar mais. Para (ALVES, 2003) os jornais utilizam de manchetes e títulos chamativos em suas matérias. Quanto mais dramáticas forem as palavras utilizadas, mais atenção terá do seu espectador.

E como se faz isso? Muitos são os recursos, mas podemos citar aqui a velha receita do lead ensinada nos manuais de redação jornalística. Pegue o que há de mais interessante, inusitado, curioso, chocante, dramatizador e exponha no titulo e nas primeiras linhas das matérias. No caso de qualquer doença que possa levar a letalidade, tanto faz a gripe Influenza Pandêmica A (H1N1) quanto a gripe comum, o que temos é a morte de pessoas. Não interessa se matou dez ou um milhão. A morte sempre teve valor notícia a ser usado pelos jornalistas. Junte isso em seguida com as informações de uma nova doença altamente contagiosa e temos

(11)

12 facilmente as primeiras frases de um lead muito atraente (Morte por nova doença contagiosa). Com certeza deixaremos muitas pessoas atentas.

Claro que um lead ou titulo não pode apenas existir por este caminho, é necessário expor o resto da notícia e satisfazer a curiosidade do leitor. Quem? O quê? Quando? Onde? Porquê? É o que seria respondido logo em seguida no texto, mas seria o suficiente para o bem informar?

De acordo com Genro (1987), há considerações a se fazer no texto para torná-lo bem completo de informações. Ele as separa em três categorias; o singular, o particular e o universal.

A ciência, o conhecimento teórico em geral, constitui uma dessas modalidades do conhecimento. No entanto, ao contrário de Lukács, não pensamos que o conhecimento científico fixa-se "de acordo com suas finalidades concretas", nos extremos do universal ou do singular. É a especificação crescente do objeto e a especialização do saber, movimento que ocorre paralelo e é complementar ao processo de generalização e abstração, que fornece a imagem falseada de que existe ou tende a existir um conhecimento científico cristalizado no singular. Por mais específico que seja o objeto e por mais especializado que seja o saber, o conhecimento científico aspira sempre ao universal. Ele se projeta nessa aspiração e recebe sempre sua formulação adequada com base na busca da determinação de uma pluralidade ilimitada.

As informações que circulam entre os indivíduos na comunicação cotidiana apresentam, normalmente, uma cristalização que oscila entre a singularidade e a particularidade. A singularidade se manifesta na atmosfera cultural de uma imediaticidade compartilhada, uma experiência vivida de modo mais ou menos direto. A particularidade se propõe no contexto de uma atmosfera subjetiva mais abstrata no interior da cultura, a partir de pressupostos universais geralmente implícitos, mas de qualquer modo naturalmente constituídos na atividade social. Somente o aparecimento histórico do jornalismo implica uma modalidade de conhecimento social que, a partir de um movimento lógico oposto ao movimento que anima a ciência, constrói-se deliberada e conscientemente na direção do singular. Como ponto de cristalização que recolhe os movimentos, para si convergentes, da particularidade e da universalidade.1

Genro (1987) afirma que a singularidade é uma categoria constante no jornalismo e é facilmente identificada por informações objetivas e exatas. No singular não se descreve que um homem é alto, mas sim que eles tinha por volta de 1,90m. No caso da Influenza Pandêmica A (H1N1) não se afirma que ela matou muitas ou poucas pessoas no estado de Santa Catarina, se afirma que ela matou um número X de pessoas.

1 GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo, 1987 Disponivel em < http://www.adelmo.com.br/bibt/t196-07.htm> Acessado em 20/11/2010.

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13 Ainda segundo Genro (1987)2, no universal estão contidos e dissolvidos os diversos fenômenos singulares e os grupos de fenômenos particulares que o constituem. No singular, através da identidade real, estão presentes o particular e o universal dos quais ele é parte integrante e ativamente relacionada. O particular é um ponto intermediário entre os extremos, sendo também uma realidade dinâmica e efetiva.

Portanto, é levantada a questão que norteia este trabalho, a cobertura feita pelo Diário Catarinense a respeito da gripe de 2009 considerou apenas o apelo comercial e deixou de informar bem a população tendo como base estas categorias?

A pesquisa se justifica ao se levar em conta que o jornalismo em sua essência é um serviço público e seu objetivo é informar sobre os acontecimentos a respeito da atualidade e os meios de comunicação devem ser cuidadosos quando se diz respeito a maneira como é apresentado os fatos (TRAQUINA, 2005) para não darem oportunidades de interpretações errôneas e a assim colocar em risco o bem estar da coletividade.

O método utilizado para poder responder o questionamento desta pesquisa será a análise de conteúdo das notícias a respeito da Influenza “A” Pandêmica (H1N1) publicadas nos jornais durante o ano de 2009. Considerando a grande quantidade de material disponível, será feito um recorte para limitar o corpus de análise no periódico Diário Catarinense do grupo RBS. Tal escolha leva em conta a grande tiragem do jornal e o perfil de suas matérias, mais longas e com maior espaço para contextualização de suas notícias tendo possibilidade de mais reflexão do leitor.

Como suporte teórico para tal análise, serão utilizados os estudos de Nelson Traquina em As Teorias do Jornalismo: Volume I e II, Adelmo Genro Filho com O Segredo da Pirâmide: Para uma teoria marxista do jornalismo,Eduardo Meditsch com Rádio e Pânico e José Arbex JR com Shownarlismo.

A estrutura do trabalho está distribuída em três partes: a primeira será composta por uma apresentação do que é o periódico Diário Catarinense e sua abrangência como jornal. Foi criado um corpus teórico de estudos e um breve histórico sobre a gripe Influenza A (H1N1) Pandêmica. Na segunda parte fazemos uma análise do conteúdos feitos por esse jornal para situar o leitor, avalia-se na produção de textos e títulos jornalísticos o que tem ou não valor-notícia e apelo de venda. Numa terceira parte relaciona-se as valor-notícias do periódico com as teorias do jornalismo e se confronta suas informações e clareza e interesses em jogo. Por

2 GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo. 1987 Disponivel em < http://www.adelmo.com.br/bibt/t196-07.htm> Acessado em 20/11/2010.

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14 último, reavaliaremos se há uma intenção de gerar um quadro de tensão sobre as notícias veiculadas.

Ao todo serão analisadas onze notícias e reportagens do período de 29 de abril de 2009 à 22 de agosto de 2009. Claro que nesses pouco mais de três meses o Diário Catarinense teve mais publicações a respeito, mas como o recorte inicial deste trabalho já considerava um espaço de melhor contextualização para o assunto, se optou pelas notícias que ocupavam mais páginas, como as reportagens especiais, que serão analisadas repetidas vezes.

(14)

15

2 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A INFLUENZA PANDÊMICA “A” (H1N1) PANDÊMICA E SUAS “IRMÃS”

A Influenza Pandêmica “A” (H1N1) – doença massiva e midiaticamente chamada de gripe suína foi motivo de preocupação para pessoas em diversas partes do mundo em 2009. A enfermidade, até então desconhecida por grande parte da população, provocou a morte de indivíduos em diferentes países. Pelo seu caráter de novidade e pelos óbitos que causou, a doença foi manchete em todos os veículos informativos brasileiros. Eles ofereceram ao público, diariamente, números crescentes de falecimentos e de pessoas amedrontadas pelo vírus.

O assunto era corrente em todos os veículos de comunicação de massa. Jornais, rádios, TV’s e internet. Por um breve período, foi comum ver a imagem de pessoas usando máscaras contra, contaminação no seu dia-a-dia. Algumas universidades e escolas suspendiam suas atividades alegando que estavam minimizando o aglomerado humano e assim evitando o contágio. Até mesmo entre os profissionais de saúde, aos quais é dada a prerrogativa de combater a propagação de doenças e zelar pela saúde alheia, se ouviam notícias de constantes faltas desses aos seus postos de trabalho por temerem a nova pandemia.

2.1 AS “IRMÃS” DO PASSADO

Antes de se ir diretamente às informações sobre a gripe que circulava nos noticiários de 2009, é preciso falar um pouco sobre a contextualização histórica que nossa sociedade tem sobre epidemias de gripes com diferentes nomes. O século XX foi marcado por contaminações. Pode-se fazer uma referência sobre a Gripe Espanhola que provocou entre 1918 e 1919, de 40 a 100 milhões de mortes pelo mundo e foi causada pelo vírus Influenza “A” (H1N1)3

. Também outra epidemia de grande devastação foi a Gripe Asiática de 1957e

3

ANDRADE, Cláudia Ribeiro de et al. Gripe aviária: a ameaça do século XXI. J. bras. pneumol. [online]. 2009, vol.35, n.5, pp. 470-479. Disponivel em <http://www.scielo.br/pdf/jbpneu/v35n5/v35n5a14.pdf> Acesso em 27 de setembro de 2010.

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16 1958 causada pelo vírus (H2N2) que junto com a gripe Hong Kong de 1968 e 1969 foram responsáveis por pelo menos dois milhões de óbitos4.

Em 2004, uma nova notícia assustou a população com a reincidência da Gripe Asiática também chamada de Gripe do Frango5 e a quarentena forçada em que eram submetidos profissionais de saúde na China.

O cenário até então era esse e pandemias de gripe eram algo no mínimo assustador para a maioria das pessoas. Confusões e equívocos era comum de acontecer, embora o conceito popular diga que a Influenza Pandêmica “A” (H1N1) e o vírus da gripe A (H1N1) Sazonal sejam as mesmas doenças; o ultimo já fora isolado de suínos em 1930 (REBECCA, 2009). Foi analisado que ele é geneticamente muito semelhante ao humano “A” (H1N1) e provavelmente compartilham um ancestral comum. De 1930 ao final dos anos 1990, estes vírus "clássicos da gripe suína" circularam em suínos e permaneceram geneticamente estáveis. Pouco antes de 1998, o vírus da gripe suína clássica recombinou com contemporâneo vírus humano da Influenza “A” (H3N2) Sazonal e uma linhagem americana do vírus da gripe aviária de um subtipo desconhecido. Acredita-se que resultou na geração de novas triplo-recombinantes suína “A” (H1N1) e vírus “A” (H1N2) (REBECCA,2009).

2.1.1 Influenza pandêmica “A” (H1N1), o bicho de sete cabeças

Em abril de 2009, o vírus Influenza Pandêmica “A” (H1N1) foi isolado de humanos no México e nos Estados Unidos. Até 18 de Maio de 2009, houve 8.829 casos confirmados em 40 países, resultando em 74 mortes. Este vírus Influenza Pandêmica “A” (H1N1) de 2009 contém uma combinação de segmentos genéticos que não foram relatados previamente em suínos ou no vírus de gripe humana nos Estados Unidos ou em qualquer outro lugar. Segundo os estudos, a sequência dos genes sugere que a introdução de espécies cruzadas em seres humanos foi um evento único ou vários eventos de vírus geneticamente muito semelhantes (REBECCA, 2009).

4

ANDRADE, Cláudia Ribeiro de et al. Gripe aviária: a ameaça do século XXI. J. bras. pneumol. [online]. 2009, vol.35, n.5, pp. 470-479. Disponivel em <http://www.scielo.br/pdf/jbpneu/v35n5/v35n5a14.pdf> Acesso em 27 de setembro de 2010.

5 TERRA MAGAZINE. Epidemia de gripe desperta psicose de mexicanos Disponível em <

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17 Neste primeiro momento, as autoridades de saúde mexicanas entraram em alerta, as medidas preventivas foram imediatas, chamando atenção da imprensa internacional. O trecho que segue foi publicado no dia 24 de abril de 2009 no website Estadão Online.

Autoridades da saúde no México e nos Estados Unidos tomaram medidas de emergência para conter surtos de um novo tipo de gripe suína, que matou dezenas de pessoas e levou ao fechamento de locais públicos, como escolas e museus. Países da América Latina e Europa, preocupados com o caso, estão adotando medidas preventivas.

No México, pelo menos 20 mortes foram confirmadas até a noite de ontem e outras 50 estavam sob investigação. Cerca de mil pessoas internadas apresentavam sintomas semelhantes e poderiam estar infectadas. Nos EUA, pelo menos 7 pessoas teriam sido infectadas.

Do lado de cima da fronteira mexicana, o alerta também foi imediato. Os cientistas americanos haviam confirmado oito casos de contágio no mesmo dia em que o governo mexicano havia tomado medidas de emergência. No dia seguinte à notícia, a OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma que a nova gripe tem um potencial para se tornar uma pandemia e a declara como uma emergência internacional.6 Dois dias após, o governo espanhol confirmou o primeiro caso da Europa7. No dia 30 de abril o governo chinês colocou um grupo de 40 turistas mexicanos sob quarentena no hotel onde estavam hospedados após um de seus integrantes ter sido considerado suspeito de ser portador da Influenza “A”8. No Japão, seis tripulantes de um voo foram internados após confirmado o contato com três infectados pelo vírus no dia 8 de maio de 20099. No dia seguinte, a Austrália também confirmou seu primeiro caso10.

Continuando a expansão pandêmica da nova praga pela Ásia, três dias depois a Tailândia declara seu primeiro caso de gripe11. No dia 25 de maio de 2009, a OMS declarou

6 ESTADÃO. OMS declara gripe suína como 'emergência internacional':

Disponível em:< http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,oms-declara-gripe-suina-como-emergencia-internacional,360492,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2010.

7ESTADÃO. Com caso confirmado na Espanha, gripe suína chega à Europa:

Disponível em:< http://www.estadao.com.br/noticias/geral,com-caso-confirmado-na-espanha-gripe-suina-chega-a-europa,361081,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2010.

8ESTADÃO China libera mexicanos de quarentena:

Disponível em:< http://www.estadao.com.br/noticias/geral,china-libera-mexicanos-de-quarentena,365623,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2010.

9 ESTADÃO. Gripe: Japão interna passageiros de voo com infectados:

Disponível em:< http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,gripe-japao-interna-passageiros-de-voo-com-infectados,368079,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2010.

10 ESTADÃO. Austrália e Japão confirmam primeiros casos de gripe suína:

Disponível em:< http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,australia-e-japao-confirmam-primeiros-casos-de-gripe-suina,368112,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2010.

11 ESTADÃO. Tailândia confirma seu 1º caso de gripe suína:

Disponível em:< http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,tailandia-confirma-seu-1-caso-de-gripe-suina,369428,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2010.

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18 ter registrado 12.515 casos em 46 países com 91 mortes12, fazendo a entidade declarar que pode elevar o nível de alerta para seis.

No dia 14 de julho de 2009, a Grã-Bretãnha teve sua primeira morte por gripe A13 sendo considerada a primeira morte fora das Américas. Três dias depois, o governo da Venezuela colocou em quarentena 1.230 pessoas que estavam a bordo de um cruzeiro espanhol. Após exames determinaram que três tripulantes da embarcação estivessem contaminados pela Influenza A14.

Em 22 de junho de 2009 o Colégio Farroupilha, instituição de ensino de Porto Alegre, suspendeu todas as suas atividades por uma semana como medida preventiva contra a gripe “A”. A decisão havia sido anunciada um dia depois de a Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul confirmar que um aluno da instituição foi infectado pelo vírus15. Contrariando a expectativa de atendimento da população um posto de saúde foi fechado no estado do Rio de Janeiro, após uma funcionária ter sido contaminada pelo vírus16. Com receio da propagação da gripe suína, mais três universidades decidiram suspender aulas no País. A Faculdade Cásper Líbero, a Universidade Estadual de Londrina no Paraná e a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo17.

A OMS declarou no dia 11 de junho de 2009 que a gripe “A” era uma pandemia e afirmou que o vírus estava provocando a primeira epidemia global de gripe em 41 anos. A decisão havia sido foi motivada pelo aumento dos casos de infecção pelo vírus nos EUA, Europa, Austrália, América do Sul e em outros lugares e elevando seu nível de alerta definitivamente de cinco para seis18. No dia 2 de julho do mesmo ano, a entidade afirmou que a epidemia já não podia mais ser contida19.

12 ESTADÃO. OMS registra 12.515 casos de gripe suína em 46 países:

Disponível em < http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,oms-registra-12515-casos-de-gripe-suina-em-46-paises,376494,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2010.

13 ESTADÃO. Grã-Bretanha registra primeira morte por gripe suína fora das Américas:

Disponível em < http://www.estadao.com.br/noticias/geral,gra-bretanha-registra-primeira-morte-por-gripe-suina-fora-das-americas,387263,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2010.

14

ESTADÃO. Venezuela impõe quarentena a cruzeiro com tripulantes contaminados por gripe suína: < http://www.estadao.com.br/noticias/geral,venezuela-impoe-quarentena-a-cruzeiro-com-tripulantes-contaminados-por-gripe-suina,388990,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2010.

15 ESTADÃO. Gripe: após SP e MG, RS tem aula suspensa em escola:

Disponível em < http://www.estadao.com.br/noticias/geral,gripe-apos-sp-e-mg-rs-tem-aula-suspensa-em-escola,391330,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2010.

16 ESTADÃO. Caso de gripe suína fecha posto de saúde no Estado do RJ:

Disponível em < http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,caso-de-gripe-suina-fecha-posto-de-saude-no-estado-do-rj,393134,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2010.

17 ESTADÃO. Gripe suína: três universidades suspendem aulas no País:

. Disponível em < http://www.estadao.com.br/noticias/geral,gripe-suina-tres-universidades-suspendem-aulas-no-pais,393183,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2010.

18

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19 Um fenômeno curioso foi a venda de gel antisséptico para limpeza de mãos disparar no País. O interesse pelo produto havia ganhado força com a recomendação do Ministério da Saúde de que lavar as mãos frequentemente é uma das atitudes que ajudam a evitar o contágio pelo vírus da gripe suína20. A preocupação com a gripe “A”, não parou só nisto e acabou provocando uma sobrecarga no sistema de saúde público21.

Não só ai parou o festival de excentricidades. No dia 5 de agosto de 2009, a Justiça do Paraná determinou que todos os torcedores que comparecessem ao jogo Coritiba e Santos no Estádio Olímpico Regional, em Cascave, usassem máscaras para evitar contaminação pelo vírus da gripe. A decisão havia sido tomada pela juíza Giane Maria Moreschi, da 1ª Vara Cível de Cascavel, na região oeste do Estado, ao indeferir pedido de cancelamento da partida ou a realização do jogo com portões fechados, feito pela Promotoria de Justiça, em razão do risco de contágio da doença.

A juíza determinou que o governo municipal distribuísse as máscaras para todos os torcedores que comparecessem ao estádio. Em caso do não cumprimento haveria uma multa de R$ 300 mil.22

Os fatos descritos nas linhas anteriores podem ser considerados o auge da popularidade da pandemia. Números acompanhados de decisões às vezes polêmicas por parte de autoridades. Embora fizesse pouca diferença para a população sobre qual agente patogênico estava sendo falado, o Ministério da Saúde do Brasil em seu Informe Epidemiológico Influenza Pandêmica Nº 9 de outubro de 2009 deixou claro a diferenciação entre a Pandêmica e a Sazonal em suas estatísticas (INFORME, 2009).

A partir desta edição, será utilizada a atual denominação Influenza Pandêmica (H1N1) 2009, conforme publicações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde a declaração de transmissão sustentada do vírus de Influenza Pandêmica (H1N1) 2009,

Disponível em < http://www.estadao.com.br/noticias/geral,oms-declara-que-ha-uma-pandemia-de-gripe-suina,385981,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2010.

19 ESTADÃO. OMS: 'Dispersão de gripe suína pelo mundo não pode ser contida':

Disponível em < http://www.estadao.com.br/noticias/geral,oms-dispersao-de-gripe-suina-pelo-mundo-nao-pode-ser-contida,397001,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2010.

20 ESTADÃO. Venda de gel antisséptico dispara com gripe suína:

Disponível em < http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,venda-de-gel-antisseptico-dispara-com-gripe-suina,407783,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2010.

21 ESTADÃO. Medo da gripe suína lota hospitais e postos de saúde do Rio:

Disponível em < http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,medo-da-gripe-suina-lota-hospitais-e-postos-de-saude-do-rio,404980,0.htm Acesso em 27 de setembro de 2010.

22 ESTADÃO. Torcida de futebol terá de usar máscaras antigripe no PR:

Disponível em < http://www.estadao.com.br/noticias/geral,torcida-de-futebol-tera-de-usar-mascaras-antigripe-no-pr,413966,0.htm> Acesso em 27 de setembro de 2009.

(19)

20

no Brasil, em 16 de julho de 2009, são de notificação compulsória imediata somente os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que são caracterizados por febre, tosse e dispnéia.[...]

Na China observa-se que mais da metade dos vírus detectados são de Influenza Sazonal A (H3N2) que já haviam sido identificados antes e em co-circulação com o vírus de Influenza “A” (H1N1) 2009 pandêmico.23

Mundo acima de 399.232 pelo menos 4.735

Ainda, segundo o Ministério da Saúde no Brasil, a taxa de incidência foi de 36 casos para cada 100 mil habitantes. No entanto, observa-se que a pandemia afetou com maior intensidade as regiões Sul e Sudeste, 137/100.000 habitantes e 32/100.000 habitantes, respectivamente. Dentre os estados, destacam-se o Paraná, com 277/100.000 habitantes; de Santa Catarina, com 70/100.000 habitantes; e de São Paulo, com 70/100.000 habitantes. (INFORME, 2009)

Apesar de toda comoção em torno da doença, os números revelaram uma curiosidade. Sua taxa de letalidade é baixa sendo quase igual a da gripe comum24. Por outro lado o vírus trazia complicações para gestantes e pessoas obesas devido as dificuldades respiratórias muito acentuadas. Foram os tipos de pessoas que mais preencheram o quadro de mortalidade da gripe, chamando a atenção e trazendo preocupação a grupos. Outra curiosidade é que do total de óbitos confirmados por influenza pandêmica, 41% (558/1.368) apresentaram pelo menos uma diagnostico em comum. Entre elas, as doenças crônicas respiratórias foram as mais freqüentes. (IDEM, 2009).

n % Gestante

23 SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Informe Técnico Quinzenal de Influenza: Influenza Pandêmica (H1N1) 2009 – Monitoramento da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em Hospitalizados nº 9, Pag 1-6, Disponivel em

<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/informe_influenza_setembro_2010.pdf> Acessado em20/11/2010 24 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Nota à imprensa: Disponivel em

<http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/noticias/default.cfm?pg=dspDetalheNoticia&id_area=124&CO_NO TICIA=10427> Acesso em 10 de novembro de 2010.

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3 O DIÁRIO CATARINENSE COMO VEÍCULO

Uma empresa jornalística que é obra do grupo RBS de comunicação e foi criada no Estado de Santa Catarina, o DC, como é chamado pela população catarinense, circula entre 246 municípios dos 293 existentes no estado. Sua circulação diária é de, em média, 38 mil exemplares nos dias úteis e 58 mil exemplares nos domingos, contando com aproximadamente 400 mil leitores em todo o estado.25

O Diário Catarinense é o jornal estadual líder em circulação e em leitura habitual do Grupo RBS em Santa Catarina. É o jornal mais lido do Estado e está entre os 25 jornais de maior circulação do Brasil26. O público AB possui grande participação no consumo urbano de Santa Catarina (70%)27 e na leitura do DC ( 51%)28.

Seu público principal é formado por leitores jovens: 39% estão na faixa etária que vai dos 25 aos 39 anos; 24% pertencem à faixa de idade que vai dos 15 aos 24 anos. Esse perfil de leitor jovem se reflete no ranking das seções mais lidas do periódico.29

As estatísticas não deixam dúvidas quanto a abrangência do periódico em todo estado catarinense e quem é o público que o lê. Contudo devemos considerar que ele não é o único veículo de comunicação existente na região. Embora os outros veículos de também grade poder midiático. Todos pertencentes à RBS e, portanto, partilhando o mesmo conteúdo.

3.1 AS NOTÍCIAS SOBRE A GRIPE “A”

Conforme demonstrado no capitulo anterior, o surto da gripe Influenza “A” Pandêmica (H1N1) repercutiu de maneira muito forte no cotidiano das pessoas pelo mundo, porém, o vírus é um agente invisível. As próprias autoridades de saúde afirmaram que o

25 GOLEMBIEWSKI, Carlos. Diário Catarinense: Disponível

em<www.almanaquedacomunicacao.com.br/files/others/carlosgolembiewski.doc> Acessado em 20/11/10.

26 GOLEMBIEWSKI, Carlos. Diário Catarinense: Disponível

em<www.almanaquedacomunicacao.com.br/files/others/carlosgolembiewski.doc> Acessado em 20/11/10. 27 DIÁRIO CATARINENSE. Sobre o Diário.com.br. Disponivel em

http://publicidade.diario.com.br/dc/about?uf=1< Acessado em 20/11/10. 28

DIÁRIO CATARINENSE. Sobre o Diário.com.br. Disponivel em

http://publicidade.diario.com.br/dc/about?uf=1< Acessado em 20/11/10. 29

GOLEMBIEWSKI, Carlos. Diário Catarinense: Disponível

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22 microorganismo poderia passar facilmente como uma gripe comum caso não fosse diagnosticado.

Mesmo estudando continuamente a gripe e emitindo boletins, as autoridades dificilmente poderia levar a população e instituições tomarem medidas de exceção, como aconteceu, se não houvessem agentes articulando as informações emitidas para a massa de modo que chamasse sua atenção.

O periódico Diário Catarinense não pode deixar de ser considerado um dos principais veículos de informação no estado de Santa Catarina. No dia 29 de abril de 2009 o Diário publica na capa a matéria principal do dia com a manchete “Gripe suína já atinge oito países e OMS alerta para pandemia”. O texto coloca em evidência o que há de mais “assustador” a respeito da gripe; a pandemia. O apelo comercial da notícia é óbvio. No interior do jornal, na página 4, foi publicada uma reportagem especial sobre o surto de gripe intitulada “Cresce o risco de pandemia” e seu lead traz o seguinte texto:

A gripe suína continua sua expansão. Oito países já confirmaram a doença e a Organização Mundial da Saúde (OMS) já não descarta elevar mais uma vez o nível de alerta, o que significaria o reconhecimento da eclosão de uma pandemia. – Estamos mais perto disso – admitiu Dick Thompson, porta-voz

da OMS.30

O texto inicial põe novamente em evidência a palavra pandemia, no desenrolar da reportagem nada é mencionado sobre o histórico de muitas décadas sobre a gripe (H1N1), logo deixando de contextualizar a notícia em categoria universal e deixando apenas as informações singulares.

A reportagem coloca ainda um box explicando as diferenças entre pandemia, epidemia e endemia. Na página seis há outro box chamado “O que você deve saber” tirando dúvidas sobre a gripe e lá é colocado novamente como vilão o porco ao afirmar que as pessoas podem comer carne bem cozida do animal que não haverá riscos de contágio. No entanto, comer carne mal passada pode causar contágio?

Devemos lembrar que o vírus em questão de 2009 é o Influenza “A” (H1N1) Pandêmica, está que é transmitida de humanos para humanos e não de suínos para humanos come explicado anteriormente. Ou seja, colocar a informação sobre comer ou não carne de porco só serviu para causar mais confusão e não esclarecimentos a população. Seguindo a mesma linha de confusões sobre o que a Influenza Pandêmica e a Influenza Sazonal a reportagem disponibilizou um infográfico na página seis.

30 DIÁRIO CATARINENSE. Cresce o risco de pandemia: Florianópolis,29/04/2009 Reportagem Especial.Pag-4-5

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23 Figura 1-Box explicativo sobre o contexto da gripe

Fonte: Diário Catarinense, 29 de abril de 2009.

O infográfico não define se a gripe se originou dos suínos ou se pode ser transmitida de um contato direto entre porcos e humanos. Observa-se a confusão, porém não podemos deixar de considerar que na época as autoridades não haviam esclarecido qual era o vírus que estava circulando.

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No entanto, também há o fato que o jornal foi imprudente ao fazer estas afirmações sem saber direito do que se tratava. Não é à toa que as consequências das informações logo são colocadas na mesma reportagem na página 5.

Para garantir que as exportações de carne não sejam prejudicadas pela gripe suína, o Ministério da Agricultura esclareceu ontem que a doença nada tem a ver com a produção rural. De acordo com o secretário de Defesa Agropecuária, Inácio Kroetz, produtores e consumidores brasileiros não devem entrar em pânico,porque a epidemia no México e nos Estados Unidos está bem longedo campo e dos rebanhos.– Se essa doença tiver que entrar no Brasil, será por avião, navio ou carro, por meio dos homens e não por animais – afirmou o secretário de defesa.Para unificar o discurso, o secretário da Agricultura do Estado, Antonio Ceron, e a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) estiveram reunidos ontem com Kroetz. De acordo com Ceron,os produtores estão preocupados com o futuro do mercado internacional, já que a crise econômica vinha prejudicando o faturamento. Mas o secretário catarinense afirmou que os negócios do Estado não estão sendo afetados pelo que prefere chamar de gripe norte-americana. Durante a reunião, Kroetz afirmou, ainda, que não há necessidade de tomar medidas adicionais de defesa e que as condições sanitárias do rebanho suíno estão sob controle. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína, Pedro Camargo Neto, garante que as exportações nacionais não foram atingidas. Há, porém, um atraso na consolidação de contratos futuros porque os compradores internacionais estariam aguardando a reação dos consumidores.31

No dia 30 de abril de 2009 a gripe volta a ser capa do periódico. A matéria no caderno geral ocupa uma página inteira e tem com centro do assunto o fato que o menino Edgar Hernandez, primeiro portador da Influenza Pandêmica, está em casa e passa bem. Porém, para não deixar de haver o apelo em vender a matéria, a página traz como foto principal uma multidão de transeuntes no metrô do México vestindo mascaras contra agentes patogênicos.

Figura 2- Transeuntes no México

Fonte: Diário Catarinense, 30 de abril de 2009.

A cena, mas lembra um cenário pós-apocalíptico de filmes de ficção. Não podemos deixar de considerar que o fato é inusitado e tem seu valor como notícia. Qualificando a

31 DIÁRIO CATARINENSE. Cresce o risco de pandemia: Florianópolis, 29/04/2009 Reportagem Especial.P, 4-5

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história do menino na categoria singular e a foto complementando a matéria, mas colocada em destaque como algo no particular.

Menino considerado o paciente zero está bem:

O menino Edgar Hernández, de quatro anos, conhecido como “paciente zero”, pois seria o primeiro infectado com o vírus da gripe suína no México, está saudável, “desenvolvendo suas atividades normalmente”, disse ontem o governador de Veracruz, Fidel Herrera. De dezembro de 2008 a março deste ano, um foco de doenças respiratórias agudas afetou 600 dos 4 mil habitantes da localidade de La Gloria, no município de Perote (Vera Cruz), 270 quilômetros ao leste da capital do país, onde mora Edgar. Herrera disse que esse foco esteve associado a duas frentes frias que causaram, inclusive, quedas de granizo muito fortes em Xalapa (capital de Veracruz) e Perote. Na época, as autoridades realizaram uma campanha de saúde nesse município, no qual dois menores morreram de pneumonia, e só se teve conhecimento de que Edgar tinha contraído gripe suína em abril, quando o governo enviou amostras da criança a um laboratório nos Estados Unidos. O governador disse que o menor recebeu uma mistura de amoxicilina com paracetamol, “que mantêm Edgar e seus parentes com os sistemas imunológicos intactos”.Segundo o líder local, a criança é o único caso de vírus de gripe suína em Veracruz. Herrera disse que seu governo está dando “atenção especial” ao município de Perote. Os habitantes dessa comunidade rural, na região montanhosa central do México, suspeitam que no local foi gerado o foco do vírus de gripe suína que afeta todo o país. A 10 quilômetros do lugar fica uma unidade da empresa Granjas Carroll, uma das principais criadoras de porcos. No entanto, o governo descartou essa possibilidade e disse que os porcos da empresa foram analisados e se encontram saudáveis.32

Tem-se dentro dessa reportagem, três personagens, Edgar Hernandez, a multidão de transeuntes mascarados e os suínos da Granjas Carroll. Embora o texto afaste desta vez a possibilidade de infecção por parte dos animais, ele não deixa de ligar uma coisa à outra de modo subjetivo, induzindo o leitor a pensar que os suínos podem ser os vilões da história.

No dia 11 de junho de 2009, a OMS declara que a gripe é uma pandemia e eleva o nível de alerta para o máximo (seis). O Diário Catarinense publica uma reportagem especial no dia seguinte intitulada em vermelho “Gripe A: A 1ª pandemia do século”. É um título muito chamativo, pode-se considerar, como já visto no capitulo anterior, que as epidemias de gripe não são eventos corriqueiros; por isso este valor de exceção para a notícia, torna o título o mais objetivo e direto possível. O texto principal da matéria confirma esse contexto de excessão:

No dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o mundo vive a primeira pandemia do século 21, Santa Catarina pulou para a incômoda posição de segundo lugar – junto com o Rio de Janeiro– em número de casos de gripe A no Brasil.Contabilizados os dois pacientes confirmados ontem na Capital, já são 10

32 DIÁRIO CATARINENSE. Menino considerado o paciente zero está bem: Florianópolis, 30/04/2009 Geral.P, 35.

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26 doentes no Estado. Segundo a OMS, a disseminação de casos na América do Sul foi fundamental para a declaração do nível máximo de alerta. Por enquanto, a pandemia não significa uma maior severidade do novo vírus H1N1, mas apenas a constatação de que o problema é global e atinge várias partes do mundo. Além da América do Norte, que foi o epicentro da crise, e dos países sul-americanos, os casos na Europa e na Austrália foram determinantes para a declaração da pandemia. A elevação no nível de alerta passou por trâmites diplomáticos, e a OMS foi obrigada a redesenhar os critérios para as pandemias. Com 27 mil casos em 74 países, os críticos alertam que a entidade teve de se curvar às evidências médicas. A própria OMS admitiu que a proliferação do vírus pode ocorrer por mais dois anos, e a principal preocupação agora será o impacto do novo vírus nos países pobres. Apesar do alto nível do alerta, as autoridades continuam afirmando que o poder letal do vírus é baixo. A gripe sazonal mata entre 250 mil e500 mil pessoas por ano. Até agora,apenas 144 pessoas morreram vítimas da gripe A no mundo.– Por enquanto, o que vemos é uma pandemia moderada – afirmou a diretora da OMS, Margaret Chan. Ela não tem dúvidas de que os casos da gripe vão continuar a se espalhar por todo o mundo:– O vírus irá a todos os lados do mundo – avaliou o chefe de operações da OMS, Mike Ryan. Doentes podem não ter sido detectados A Organização Mundial de Saúde teme que milhares de outros casos sequer foram detectados. Margaret admite que, em vários países, já não se pode mais saber qual a cadeia de transmissão. Por enquanto, a maioria dos casos teve sintomas leves e uma recuperação rápida.– Por isso classificando a pandemia de moderada – disse a diretora.Mas mesmo assim, os casos surpreendem.Isso porque um terço deles atingem jovens e adultos que estavam saudáveis. Apesar disso, Margaret não acredita que o mundo verá nas próximas semanas um aumento grande no número de mortes. Mas insiste que a severidade pode variar, dependendo dos sistemas de saúde.33

O texto da reportagem, traz informações bastante completas, com números objetivos de doentes pelo mundo e pelo estado de Santa Catarina. Também explica o motivo pelo qual a OMS elevou o nível de alerta para seis e declarou a doença como pandemia. Pela primeira vez, desde as primeiras notícias sobre a doença, é feita uma comparação entre a gripe pandêmica e a gripe comum e demonstra do o quanto sua mortalidade é baixa. Desta vez o Diário foi bem completo em sua função de informar. As categorias do singular, particular, e universal foram expostas no primeiro texto da reportagem. Contextualizando o leitor sobre a real situação da pandemia. Porém, a mesma reportagem trouxe o seguinte box em destaque:

33 DIÁRIO CATARINENSE. Gripe “A”. A 1ª pandemia do século Florianópolis, 12/05/2009. Reportagem Especial.P.4

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27 Figura 3- Box explicativo sobre o contexto da gripe em geral

Fonte: Diário Catarinense, 11 de junho de 2009.

Os subtítulos da esquerda do box tem uma afirmação alarmista, ao dizer que o sistema de saúde pode ficar saturado, a categoria do singular é colocada de lado, e vai apenas para a categoria do particular. Mesmo o texto que acompanha a afirmação não coloca qualquer informação adicional dentro das categorias do singular ou do universal. A outra afirmação “Última ocorrência matou 1 milhão” coloca as informações sobre as pandemias que aconteceram no século passado, categoria do universal, mas não traz as informações singulares sobre a atual gripe. O leitor que apenas olha estas afirmações poderia pensar que o mundo estaria diante de uma grande tragédia.

No dia 24 de junho de 2009, outra reportagem, que ocupa toda página 21, foi publicada, desta vez o título principal é “Cidade gaúcha decreta situação de emergência” e o texto central da matéria foi este:

A região central do Rio Grande do Sul registra uma situação inusitada desde a confirmação do primeiro caso da doença, ontem. A cidade de São Gabriel, onde vive a paciente, que está internada em estado grave em Santa Maria, decretou situação de emergência e proibiu a realização de eventos com aglomeração de pessoas. As aulas nas creches e escolas públicas e privadas também foram canceladas. A notícia de que a garota de 14 anos tem a gripe A foi dada pela Secretaria de Saúde de São Gabriel. Além dela, outras quatro pessoas com quem ela teve contato foram confirmadas como novos casos. O total no Estado é de 18 doentes, 11 apenas ontem. Segundo secretário de Saúde de São Gabriel, Paulo Fernando Forgiarini, há outros 22 casos suspeitos na

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28 cidade, que tem cerca de 58 mil habitantes. – Pela portaria, com essa confirmação, todos os outros casos passam a ser considerados positivos. Aí somos o município com mais casos no Brasil – afirmou Forgiarini, adiantando que a secretaria está encomendando mais 10 mil máscaras para atender a população local.

Em locais como no centro de atendimento ao cidadão da cidade, atendentes estão devidamente mascaradas. Pelas ruas, o uso do equipamento também se tornou comum. Apesar do clima de pânico geral, autoridades de saúde do Rio Grande do Sul classificam como exageradas as ações, que incluem o fechamento de uma escola em Porto Alegre. Em função da baixa letalidade da doença, infectologistas consideram as medidas adotadas alarmistas e temem um colapso nas emergências dos hospitais credenciados a atender os casos suspeitos. Risco de morte fica bem abaixo da gripe comum O chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Conceição, em Porto Alegre, Breno Riegel Santos, classificou o comportamento da população como “histeria coletiva”. No início, segundo ele, os alertas se justificavam, porque se sabia pouco sobre a enfermidade. Mas, passados dois meses, o médico destacou que os mais de 50 mil casos no mundo resultaram em apenas 0,44% de mortes – índice inferior ao da gripe comum, que chega a 3%. – É fundamental desfazer o estado de calamidade que se formou. Esta é mais uma gripe como qualquer outra – concluiu. O chefe da Unidade de Infectologia do Hospital de Clínicas, Luciano Goldani, argumentou que a maioria dos pacientes que morreu em função da gripe A no mundo eram pessoas já debilitadas por doenças crônicas e com a imunidade limitada: – Pessoas que têm uma vida saudável podem até contrair a gripe, mas os sintomas serão leves. 34

O Fato principal e singular do texto foi o decreto da situação de emergência na cidade. O texto também colhe depoimentos das autoridades públicas como o chefe do serviço de infectologia em Porto Alegre, Breno Riegel Santos, que forneceu estatísticas comparando a gripe A com a gripe comum. Assim colocando informações no texto na categoria universal e debatendo pela primeira vez se há motivo de alarme para a doença. Também é pego o depoimento do médico Luciano Goldani que explicou que a maioria das pessoas que morrem são indivíduos debilitados, dando melhores esclarecimentos sobre a doença.

Em resumo as categorias do singular, particular e universal foram todas expostas nessa reportagem que poderia ser bem completa se não fosse um detalhe.

A página também traz um box explicativo intitulado “Tire suas duvidas” que tem em seu topo uma dúzia de “perguntas freqüentes” sobre a gripe. As perguntas e respostas em si não trazem nenhuma informação conflitante ou incorreta sobre a gripe. O que chama atenção é o infográfico adicional que completa o box.

34 DIÁRIO CATARINENSE. Cidade gaúcha decreta situação de emergência: Florianópolis,24/06/2009 Reportagem Especial.Pag-25

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29 Figura 4- Box explicativo

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As ilustrações são uma repetição das informações da página seis da edição do Diário Catarinense do dia 29 de abril de 2009. Embora novas descobertas já haviam sido feitas sobre a influenza pandêmica A. Inclusive que ela não se da do contágio de suíno para humanos. As ilustrações dão o mesmo entendimento que é possível ser infectado permanecendo em contato com os porcos.

Na continuidade da progressão que qualquer pandemia tem, não poderia deixar de fazer suas vitimas por onde passa. No dia 28 de junho aconteceu o primeiro óbito por complicações da gripe na cidade de Passo Fundo, RS. A vitima foi um caminhoneiro que acabara de chegar da Argentina. No dia seguinte, o Diário publicou uma reportagem especial intitulada “Gripe A: Brasil registra primeira morte”.

Um caminhoneiro da cidade gaúcha de Erechim, na região do Alto Uruguai, tornou-se, às 10h30min de ontem, o primeiro caso de morte por gripe A no Brasil. Vanderlei Vial, 29 anos, morreu no Hospital São Vicente de Paulo, em Passo Fundo, 13 dias depois de apresentar os primeiros sintomas, durante uma viagem à Argentina, país que vive uma epidemia da doença. A morte ocorreu no dia em que o Rio Grande do Sul chegou a 76 casos confirmados e 97 sob suspeita. Em Santa Catarina, dois novos casos foram confirmados no fim de semana, elevando para 46 o total de pessoas infectadas com o vírus da gripe A. [...] Descrito como forte e saudável por parentes, Vial passou mais de duas semanas na Argentina[...] Ele sentiu os primeiros sintomas [...] no dia 15, segundo relato feito à família por telefone desde a capital argentina. Retornou a Erechim no dia 19. – [...] Como pode um guri forte daqueles morrer? – surpreendeu-se Alcides de Oliveira, 44 anos, tio do jovem. Conforme a Secretaria Estadual da Saúde, o caminhoneiro só buscou atendimento no dia 20, sábado. [...] A doença não é considerada grave, pois já foi confirmado que mata cerca de sete vezes menos do que a gripe comum. O problema é quando a pessoa que pega a doença já está com a saúde fraca ou demora muito para procurar ajuda médica depois que apresenta os primeiros sintomas. Quando isso acontece, a gripe pode ficar mais grave, se transformar em pneumonia e até matar. Os profissionais que trataram Vial também descrevem-no como um homem forte e se espantam com a morte. O caminhoneiro pesava 140 quilos e tinha muita massa muscular. – O Vanderlei era plenamente saudável antes do vírus. Fizemos vários exames. Infelizmente, ficou muito tempo com os sintomas antes de procurar ajuda. A doença já havia evoluído para uma pneumonia nos dois pulmões – disse Julio César Stobbe, vice-diretor médico do Hospital São Vicente de Paulo. Durante o período em que permaneceu em Erechim, o caminhoneiro teve contato com dezenas de parentes, vizinhos e familiares. Cerca de 30 pessoas próximas a ele estão sob observação – incluindo a mulher, que na sexta-feira recebeu confirmação de ter contraído a gripe.35

O título foi bem objetivo e sem particularidades. No desenrolar do texto, algo chama atenção. A vítima é descrita como jovem e saudável. Algo que apenas se encaixa na categoria do particular e torna muito subjetivo o entendimento da morte do rapaz. Nas linhas seguintes os médicos, que cuidaram da vítima, explicam que só se chegou ao estado de óbito por que houve demora em procurar ajuda e o quadro evoluiu para uma pneumonia.

35 DIÁRIO CATARINENSE. Gripe A Brasil registra primeira morte: Florianópolis,29/05/2009 Reportagem Especial.Pag-4

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Mesmo assim as afirmações que falam na categoria do particular foram as primeiras a serem expostas no texto, enquanto o singular e o universal ficaram para o fim. A leitura inicial do texto com certeza assustaria por induzir a pensar que qualquer um pode ser morto pela gripe, independente das suas condições de saúde. Dentre as notícias analisadas nesta pesquisa, fica a questão a ser feita sobre se houve certa malícia por parte do editor em tornar a notícia desta morte mais assustadora ao jogar os fatos mais particulares para o topo do texto.

No dia 17 de julho a gripe volta a ser matéria de capa com a manchete “Mortes pela gripe A sobem para 11, e vírus já circula entre pacientes no Brasil”36. Tomo a liberdade em criticar este tipo de manchete que é colocada na capa usando suas afirmações no singular e usando a palavra morte. Algo do qual, como já foi dito antes, sempre tem seu valor notícia.

Acontece que ficar contando mortos sem a devida contextualização na categoria do universal, sendo que, na citada data as autoridades de saúde já haviam divulgado a baixa mortalidade da nova gripe, em comparação com a gripe comum, só serve para uma coisa. Vender jornais com base no medo e na desinformação. Poderia muito bem ser colocada alguma estatística sobre a gripe comum na linha de apoio.

No interior do periódico, outra reportagem especial ocupando duas páginas fala sobre o quadro da doença no Brasil. O titulo é “Vírus da gripe “A” está instalado no Brasil”. E tem como foco central a entrevista coletiva que o ministro da saúde José Gomez Temporão deu no dia 16 de julho de 2009 explicando a atual postura do governo no combate à gripe. Abaixo segue um trecho do texto.

O ministro admitiu, porém, que com esta nova conduta parte dos casos leves de gripe suína não serão confirmados e, com isso, o número total de pacientes poderá ser menor do que o real.37

Chama atenção novamente o uso do termo “gripe suína”, sendo que nesta altura dos eventos as autoridades já haviam definido que o vírus em questão não se tratava da gripe suína.

No dia 18 de julho de 2009, outra reportagem especial sucede a do dia anterior, o título é “Exército entra na guerra contra o vírus da gripe A”. Em primeiro lugar, o uso da categoria do particular foi levado ao extremo ao afirmar que o exército entrou em guerra. Algo que

36 DIÁRIO CATARINENSE. Mortes pela gripe A sobem para 11, e vírus já circula entre pacientes no Brasil: Florianópolis,17/07/2009 Capa.P. 1

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37 DIÁRIO CATARINENSE. Vírus da gripe A está instalado no Brasil: Florianópolis,17/07/2009 Reportagem Especial.P. 4

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demanda uma operação grande e complexa. Não seria mais singular e objetivo dizer que o exército foi convocado para dar apoio contra a gripe A?

Mas perdoando os trocadilhos do título, o desenrolar das informações seguem no texto:

O Exército vai ajudar a partir de segunda-feira nas ações de prevenção da gripe suína em regiões de fronteira do país. Serão enviados 78 militares para 24 municípios espalhados por dez estados. A tarefa principal será distribuir folhetos com informações sobre a doença e auxiliar no preenchimento da Declaração de Viajantes, documento que passou a ser utilizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O envio dos militares atende a um pedido feito pela Anvisa. A idéia inicial é que entre dois a oito militares sejam deslocados a cidades consideradas prioritárias. Em Santa Catarina, eles estarão concentrados em Dionísio Cerqueira, na região Oeste. O objetivo das missões é ampliar a prevenção em municípios com grande fluxo de viajantes, como fronteiras do Brasil com Argentina, Uruguai e Paraguai. Também serão enviadas equipes às regiões Norte e Centro- Oeste. A previsão inicial é de que as equipes trabalhem nas regiões por um período de três meses. O Estado que vai receber o maior número de equipes será o Rio Grande do Sul, onde sete pessoas já morreram. Nove cidades gaúchas contarão com militares. Na região central gaúcha, a cidade de Vila Nova do Sul vive um surto de gripe A, admitiu ontem o secretário estadual de Saúde, Osmar Terra. De acordo com o diretor do Centro de Vigilância em Saúde do Estado, Francisco Paz, no mês de julho 503 pessoas buscou atendimento médico. Destes, 266 casos apresentavam sintomas de gripe. A população da cidade é de 4,2 mil habitantes. – Foi feita uma análise amostral do material biológico dos pacientes. Dois resultados foram positivos para o vírus H1N1 para três amostras analisadas. O que podemos considerar é que houve um surto localizado da gripe neste município – disse Paz. Em Santa Maria, também na região central gaúcha, a confirmação de duas mortes lotou postos de atendimento e popularizou o uso de máscaras cirúrgicas nas ruas. No único pronto-atendimento 24 horas públicas da cidade, os atendimentos diários passaram de 200 para 600 na última semana – 550 se queixando de sintomas de gripe.38

Contrariando as informações do título o texto explica a operação de “guerra” executada por apenas 78 militares ao longo da fronteira brasileira. Se o título é subjetivo em sua particularidade, o texto também é ao não expor que é prerrogativa do Exército o patrulhamento das fronteiras e podendo levar o leitor a pensar que foi declarado estado de emergência.39 Continuando a mesma afirmação de erros que foi mostrada na matéria anterior ao se referir à gripe como suína.

38 DIÁRIO CATARINENSE. Exército entra na guerra contra o vírus da gripe A: Florianópolis,18/07/2009 Reportagem Especial.P. 4

39CAMARA DOS DEPUTADOS. Discursos e Notas Taquigráficas: Disponivel

em:<http://www.camara.gov.br/internet/sitaqweb/TextoHTML.asp?etapa=2&nuSessao=031.4.53.O&nuQuarto= 119&nuOrador=1&nuInsercao=0&dtHorarioQuarto=17:56&sgFaseSessao=OD%20%20%20%20%20%20%20 %20&Data=09/03/2010&txApelido=RAUL%20JUNGMANN&txFaseSessao=Ordem%20do%20Dia%20%20% 20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20&dtHoraQuarto=17:56&txEtapa=Sem%2 0supervis%E3o> Acessado em 12 de novembro de 2010.

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Apesar do pragmatismo colocado nesta pesquisa, ao supor que o Diário Catarinense tratou as notícias da gripe com certo alarmismo, ao passar os primeiros momentos da novidade da pandemia, o jornal também expos as informações que davam uma melhor abrangência do quão mortal e preocupante era a doença. No dia 31 de julho de 2009 o Diário publicou uma matéria intitulada “Campanha contra gripe “A” no Oeste”. Junto à reportagem havia um box com o subtítulo “Estatísticas amenizam situação” .

Se depender das estatísticas, a gripe A vai demorar para atingir os índices de mortes de outras doenças (confira arte nesta página) não menos graves que afetam os catarinenses a cada ano. Autoridades da Saúde lembram que é considerável a quantidade de vidas perdidas por problemas do coração, diabetes, complicações do fígado, próstata, aids e até o alcoolismo. Mas enfatizam os cuidados básicos para evitar que a gripe alastre ainda mais o receio de doenças. Dados oficiais da Secretaria de Estado da Saúde sobre mortes em geral mostram, por exemplo, que a gripe comum mata 70 pessoas no Estado por mês no inverno. De gripe A ninguém morreu até hoje em Santa Catarina. Ainda não existe vacina para a gripe A. O médico e professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Alessandro da Silva Scholze, especializado em medicina familiar e comunitária, afirma ser necessária a procura por vacinação contra a gripe comum por pessoas que estão em grupos considerados de alto risco e que têm maior chance de complicação por gripe. Cita quem sofre com diabetes, insuficiência renal, problemas pulmonares e hepatites crônicas. – Não importa a idade, o ideal é que essas pessoas tomem a vacina na unidade sanitária – alerta o médico. Para o secretário estadual da Saúde, Luiz Eduardo Cherem, quem sente pânico por causa da gripe A pode ter recebido informação incorreta. A preocupação é necessária, acrescenta Cherem, se a pessoa teve os sintomas e não procurou o médico para se tratar.40

O texto deixa claro que não há motivos para preocupações quanto à gripe e tenta esclarecer a gravidade dela frente à outras doenças. Na mesma reportagem, o Diário publicou um quadro estatístico comparando a mortalidade das outras doença no estado de Santa Catarina junto à gripe.

Figura 5- Box estatistico sobre doenças Fonte: Diário Catarinense, 31 de julho de 2009.

Fica claro com o quadro estatístico que a matéria faz uma cobertura universal da doença com observações no singular e no particular. Embora o foco central da matéria seja o

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atendimento na região oeste do estado. Tanto o box quanto o quadro dão uma compreensão muito maior ao leitor.

No dia 4 de agosto de 2009 o tom de calmaria que foi colocado na matéria anterior é substituído por um alarme eminente. O DC publica uma nova reportagem especial intitulada “Gripe A: Três mortes em Santa Catarina”.

O vírus da gripe A chegou de forma mortal ao território catarinense. Em circulação e sem obedecer fronteiras, matou três pessoas desde 17 de julho. Mais 16 casos fatais estão sendo investigados. [...] A primeira morte em Santa Catarina foi de um homem de 53 anos, que morava em Concórdia, no Oeste do Estado. A segunda foi de uma jovem de 22 anos, de Tubarão, grávida de seis meses. O terceiro morador de Santa Catarina morto pela ação do vírus H1N1 também era de Concórdia e tinha 29 anos[...] O clima frio e a proximidade com áreas afetadas como Rio Grande do Sul, Paraná e Argentina colocam o Estado em uma situação de vulnerabilidade. Até ontem, eram 141 as pessoas internadas por doença respiratória aguda, que são tratados como suspeitos da gripe A. Do total, 24 estão internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Mesmo com o quadro, as autoridades de saúde no Estado garantem que não se trata de uma situação de descontrole. Para o diretor da Vigilância Epidemiológica, Luis Antonio Silva, no entanto, a partir da segunda quinzena deve crescer o número de casos de gripe A no Estado. O aumento dos infectados é uma expectativa baseada no comportamento da doença até agora. A transmissão do vírus no Estado é considerada lenta por Luis Antonio, apesar de o motivo não ser conhecido por especialistas. Ele acredita que há menor circulação do vírus no território catarinense. Isso pode ocorrer, comentou, em razão do comportamento social. Ele acredita, inclusive que a adoção ou não de medidas preventivas é que determinará o ritmo de novos casos da doença nos próximos dias. – Sabemos que haverá aumento, mas não podemos falar em números, qualquer palpite seria bobagem – disse Luis Antonio. Ontem, além das mortes em Santa Catarina, foram registradas outras 13 no Brasil, que agora conta 92 vítimas em decorrência do vírus H1N1.41

O titulo é apenas objetivo em dar a notícia, pondo numa categoria do singular. Esta objetividade continua no lead, que traz a particularidade de afirmar que a pandemia foi mortal com suas três vítimas confirmadas. desde o dia 17 de julho. Os casos fatais que estão sendo investigados também entram na contagem de mortos da notícia. As medidas tomadas pela Secretaria da Saúde são afirmadas nos primeiros parágrafos. Cada uma das três vítimas é contada no singular. O curioso é que as estatísticas que demonstram o quadro universal da pandemia são completamente esquecidas nessa matéria.

No dia 22 de agosto de 2009, outra notícia é publicada seguindo a mesma edição da que foi publicada dia 4. O titulo traz as informações “Gripe A: Em SC, 85 estão internados na UTI”.

41 DIÁRIO CATARINENSE. Gripe “A” Três mortes em Santa Catarina: Florianópolis,04/08/2009, Reportagem Especial. Pag-4

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35 Dos 548 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Santa Catarina, 85 (15,5%) estavam ontem ocupados por pessoas com gripe A. A Central de Regulação Estadual de Leitos de UTI não informou quantos dos 463 cômodos restantes estavam ocupados por pessoas com qualquer outro tipo de doença ou quantos estão disponíveis para quem tem gripe A. O número de internações pelo vírus H1N1 em UTI cresce no Estado. No dia 13, quando o primeiro levantamento foi divulgado, eram 57 internações. A coordenadora da Central de Regulação, Gladys Lentz Martins, disse que o Estado está atento à situação e, se precisar desse tipo de leito, pode pagar hospitais particulares. – Estamos trabalhando para viabilizar o máximo de leitos – destacou. A quantidade de pacientes que passaram pela UTI e receberam alta também não foi divulgada. O levantamento dos dados sobre internações é feito por telefone e depende da disponibilidade dos hospitais em repassar as informações. Por causa da evolução da gripe A, deve ser implantado um sistema online. – A implantação do sistema online não depende só da gente. Imaginamos que em três semanas vamos conseguir implantá-lo – disse Gladys. Segundo a coordenadora, a central funciona 24 horas por dia. A checagem das internações é feita de duas a três vezes por dia, por telefone. No Hospital Nereu Ramos, em Florianópolis, os leitos de UTI passaram de cinco para 10 por causa da gripe A. O aumento ocorreu em julho, segundo o diretor, Antonio Miranda. A unidade só abrigou pacientes com suspeita de H1N1. Os pacientes foram encaminhados pela Central de Regulação. De acordo com o diretor, a maior parte dos pacientes chegou à UTI do hospital com quadro clínico grave.42

O titulo é objetivo ao afirmar os números que se encontram internados nas UTI’s de Santa Catarina. Expondo a informação de maior valor sobre a notícia. No texto que discorre a matéria, as informações singulares vão sendo colocadas em sua ordem de importância e a categoria do particular sendo evitada ao máximo. O universal parece que foi procurado para ser inserido na matéria, mas segundo ela mesma expõe, faltou informações por parte da secretaria da saúde para haver uma contextualização.

42 DIÁRIO CATARINENSE. Gripe A Em SC, 85 estão internados na UTI: Florianópolis,04/08/2009Geral. Pag-19

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