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FORMAÇÃO DE PROFESSORES E O TRABALHO COM OS TEMAS TRANSVERSAIS ORIENTAÇÃO SEXUAL E MEIO AMBIENTE: PELO PRISMA DAS CONCEPÇÕES DOS ALUNOS.

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Academic year: 2021

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DAS CONCEPÇÕES DOS ALUNOS.

*Maristela Zamoner Organização Não Governamental Ação Consciência Resumo

A formação do professor está diretamente relacionada à qualidade do trabalho docente que realiza. Os Temas Transversais foram propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais, PCN (1998), devendo ser abordados em todas as disciplinas. No entanto, sabe-se que muitos professores graduaram-se antes do advento dos PCN e naturalmente não tiveram formação para o trabalho com Temas Transversais. Esta situação reflete-se nas concepções dos alunos, podendo então ser percebidas desta forma. Temas Transversais como Orientação Sexual e Meio Ambiente, prescindem conhecimentos específicos e seu trato inadequado pode ser perigoso. Foram entrevistados 234 alunos do ensino fundamental e médio a respeito de suas concepções que refletem a ação docente. Observou-se que 85,3% dos alunos ainda entende que a orientação sexual deve ocorrer em aulas de Ciências ou de Biologia. Os professores que mais desenvolvem projetos de orientação sexual são os professores de Ciências ou Biologia. A maioria dos alunos nunca fez nenhum trabalho de orientação sexual. No entanto, observa-se que há um crescimento do percentual de alunos que realizaram trabalhos de orientação sexual de quinta série em diante. Em relação à educação ambiental observa-se situação semelhante, a maioria dos alunos (69,0%) entende que o assunto deve ser trabalhado nas disciplinas de Ciências ou Biologia. As concepções dos alunos do ensino fundamental e médio revelam que há problemas com a formação dos professores das diversas disciplinas para o trabalho com os Temas Transversais: Orientação Sexual e Meio Ambiente. Os professores da maioria das disciplinas não trabalham estes assuntos e os que o fazem acabam cometendo erros por falta de conhecimento específico, é o que vemos em eventos de meio ambiente como gincanas e projetos de orientação sexual que tem resultados contrários aos esperados.

Palavras-chave: orientação sexual, meio ambiente, formação de professores.

Introdução

A formação do professor está diretamente relacionada à qualidade do trabalho docente que realiza.

__________________________________________________________________ *Coordenadora de Capacitação. maristela@cc.org.br

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Os Temas Transversais foram propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais, PCN (1998), devendo ser abordados em todas as disciplinas.

No entanto, sabe-se que muitos professores graduaram-se antes do advento dos PCN e naturalmente não tiveram formação para trabalhar os Temas Transversais. Esta situação reflete-se nas concepções dos alunos, podendo então ser percebidas desta forma. Temas Transversais como Orientação Sexual e Meio Ambiente, prescindem conhecimentos específicos e seu trato inadequado pode ser perigoso (Zamoner, 2004).

Segundo a Organização Pan Americana de Saúde (1989) a atenção ao grupo de adolescentes é necessária, devido, principalmente, à sua composição numérica, à freqüência cada vez maior da gravidez na adolescência, dos acidentes, da violência, do uso de tabaco, álcool, drogas, inalantes, além dos problemas de saúde mental. A adolescência é marcada pela desidealização das figuras paternais e pela preocupação com as roupas, com o cabelo, com as erupções na pele, com a linguagem, entre outras coisas, simbolizando a busca por uma identificação com o grupo de pares (Meira, 1996). Segundo Louro (1998), na escola a sexualidade é apresentada de maneira relacionada com a família e a reprodução, seu pleno exercício deve ocorrer no casamento e os filhos são sua conseqüência sendo que as práticas sexuais não reprodutivas são deixadas de lado ou são tratadas com receios e medos. A mídia, por sua vez, exerce um papel de educadora informal (Fischer, 1996). O estudo do corpo em sala de aula (geralmente na 7a série do ensino fundamental) é fragmentado (Santos, 1997). O trabalho com a orientação sexual realizado sem profundo conhecimento e seriedade pode atingir objetivos contrários aos almejados.

Há um reconhecimento da comunidade ligada aos setores educacionais de que a Educação Ambiental é necessária para se alcançar o ideal de sociedades sustentáveis. Nesse sentido a preparação de professores com competência para atuarem como agentes de mudança tem sido considerada prioritária (UNESCO-UNEP, 1988; Tilbury, 1992; Fien & Rawling, 1996). Há também um amplo entendimento de que tal formação é bastante complexa face ao conhecimento, atitudes e habilidades exigidos para se alcançar a variedade de objetivos e metas da Educação Ambiental. Entre os vários obstáculos encontrados na adoção de mudanças na prática escolar Fien & Rawling (1996) e Robottom (1987) apontam: i) a idéia equivocada de que Educação Ambiental é tema somente para aulas de Ciências e Biologia; ii) as limitações decorrentes dos aspectos infra-estruturais, tais como falta de recursos didáticos específicos, tempo para preparação coletiva de novas propostas metodológicas e grande número de alunos por sala; iii) a supervalorização da

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transmissão de informações, e iv) as políticas institucionais contrárias a um trabalho orientado para mudança de valores e atitudes diante da realidade.

Neste contexto, analisar as concepções dos alunos de ensino fundamental e médio que cercam as questões referentes aos Temas Transversais: Orientação Sexual e Meio Ambiente, pode trazer elucidações a respeito da formação dos professores que atuam nestes níveis.

Metodologia

Foram entrevistados 234 alunos de todas as séries do ensino fundamental e médio a respeito de suas concepções que refletem a ação docente. Foi entregue a cada aluno uma folha em branco e o professor entrevistador fez pergunta por pergunta, deixando o aluno livre para responder durante um tempo. As entrevistas foram recolhidas, analisadas e os dados levantados foram apresentados graficamente.

Resultados e discussão

Observou-se que 85,3% dos alunos ainda entendem que a orientação sexual deve ocorrer em aulas de Ciências ou de Biologia. Nenhum aluno considerou que o assunto fosse pertinente a todas as disciplinas (Figura 01).

Figura 01 – Percentuais de respostas dos alunos para a pergunta: “Em que matéria você acha que deveria aprender sobre orientação sexual?”.

7,30% 7,40%

85,30%

Não sei Outras Ciências/Biologia

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 234 alunos do ensino fundamental e médio.

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A maioria dos alunos nunca fez nenhum trabalho de orientação sexual. No entanto, observa-se que há um crescimento do percentual de alunos que realizaram trabalhos de orientação sexual de quinta série em diante (Figura 02).

Figura 02 – Percentuais de respostas dos alunos para a pergunta: “Você já fez algum trabalho sobre orientação sexual?”.

5 1, 4% 5 1, 5% 5 7, 6% 5 3, 3% 3 8, 9% 6 ,3 % 2 ,9 % 5ª 6ª 7ª 8ª 1º 2º 3º

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 234 alunos do ensino fundamental e médio.

Dos alunos que realizaram algum trabalho sobre orientação sexual, a maioria (60,1%) o fez sob orientação de professores de Ciências ou Biologia.

Apesar de ter sido verificado que a maioria dos alunos nunca realizou nenhum trabalho sobre orientação sexual, percebe-se pelos relatos dos próprios alunos que desde a quinta série são conhecidos casos de colegas que engravidam. O percentual de casos conhecidos de colegas que engravidaram, aumenta representativamente da sexta série para a sétima, atingindo 100% no final do ensino médio.

Estes dados evidenciam que o trabalho de orientação sexual deveria começar antes da quinta série e manter-se até o final do ensino médio (Figura 03).

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Figura 03 – Percentuais de respostas dos alunos para a pergunta: “Você soube de alguma colega sua que tenha engravidado?”. 1 00 ,0 % 1 00 ,0 % 9 3, 9% 9 3, 0% 9 1, 7% 4 0, 0% 3 4, 3% 5ª 6ª 7ª 8ª 1º 2º 3º

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 234 alunos do ensino fundamental e médio.

Estas observações são corroboradas pelas respostas dos alunos para o questionamento sobre a questão das tentativas de aborto realizadas pelas colegas que sabiam ter engravidado e pelos casos que conheceram de situações de DST/HIV (Figuras 04, 05 e 06).

Figura 04 – Percentuais de respostas dos alunos para a pergunta: “Você soube se esta ou estas colegas grávidas tentaram abortar?”. 5 7, 1% 4 8, 5% 2 4, 2% 2 3, 3% 1 5, 6% 1 4, 3% 8 ,3 % 5ª 6ª 7ª 8ª 1º 2º 3º

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 234 alunos do ensino fundamental e médio.

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Figura 05 – Percentuais de respostas dos alunos para a pergunta: “Você soube de algum colega que pegou alguma DST?”. 2 2, 9% 2 1, 2% 1 8, 2% 9 ,3 % 3 ,3 % 2 ,8 % 0, 0% 5ª 6ª 7ª 8ª 1º 2º 3º

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 234 alunos do ensino fundamental e médio.

Figura 06 – Percentuais de respostas dos alunos para a pergunta: “Você sabe de algum colega que seja portador do HIV?”. 0 ,0 % 2,9 % 2 ,8 % 6 ,3 % 1 2, 1% 1 2, 1% 14, 3% 5ª 6ª 7ª 8ª 1º 2º 3º

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 234 alunos do ensino fundamental e médio.

Mesmo nestas condições verificadas anteriormente, os procedimentos de práticas escolares direcionados à esta problemática, são limitados. 50,1% dos alunos nunca soube de algum projeto de orientação sexual sendo desenvolvido na escola.

Os professores que mais desenvolvem projetos de orientação sexual são os professores de Ciências ou Biologia. Foi verificado um alto percentual de profissionais de fora da escola que pretendem vender produtos e usam como

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método palestras sobre orientação sexual, o que é entendido pelos alunos como projeto realizado por profissionais de fora da escola (Figura 07).

Figura 07 – Percentuais de respostas dos alunos para a pergunta: “Estes outros projetos de orientação sexual que ocorreram na escola foram desenvolvidos por professor de que matéria?”.

11,1% 23,3%

32,2% 33,4%

Não sei Ciências/Biologia Gente de fora da escola

Outras

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 234 alunos do ensino fundamental e médio.

Em relação à educação ambiental observa-se situação semelhante, a maioria dos alunos entende que o assunto deve ser trabalhado nas disciplinas de Ciências ou Biologia (Figura 08).

Figura 08 – Percentuais de respostas dos alunos para a pergunta: “Em que matéria você acha que deveria aprender sobre Meio Ambiente?”.

69,90%

16,30% 13,80%

Ciencias/Biologia Geografia Outros Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 234 alunos do ensino fundamental e médio.

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Verificou-se que a maioria dos alunos sai do ensino fundamental sem nunca ter realizado algum trabalho sobre meio ambiente (Figura 09).

Figura 09 – Percentuais de respostas dos alunos para a pergunta: “Você já fez algum trabalho sobre Meio Ambiente?”.

8 4, 8% 8 4, 8% 4 8, 6% 2 8, 1% 2 6, 7% 2 2, 9% 1 3, 8% 5ª 6ª 7ª 8ª 1º 2º 3º

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 234 alunos do ensino fundamental e médio.

Os poucos alunos que chegaram a desenvolver trabalhos sobre meio ambiente, tiveram a maioria dos trabalhos realizados nas disciplinas de Ciências ou Biologia (Figura 10).

Figura 10 – Percentuais de respostas dos alunos para a pergunta: “Em que matéria você desenvolveu seu trabalho?”.

10,10%

66,50%

8,20%

15,10%

Não sabe Ciências/Biologia Geografia Outras

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 234 alunos do ensino fundamental e médio.

A maioria dos alunos do ensino fundamental não teve em sua escola algum evento sobre meio ambiente sendo realizado. Muitos alunos saem do ensino médio, sem ter participado de algum evento sobre meio ambiente no ambiente escolar (Figura 11).

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Figura 11 – Percentuais de respostas dos alunos para a pergunta: “Na sua escola já teve um evento sobre Meio Ambiente, como gincana?”.

5 7, 1% 3 9, 3% 2 4, 2% 1 0, 0% 9 ,4 % 8 ,3 % 5ª 6ª 7ª 8ª 1º 2º 3º

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 234 alunos do ensino fundamental e médio.

A maioria dos alunos do ensino fundamental (81,7%) não viu em sua escola algum trabalho sobre meio ambiente sendo realizado. Muitos alunos saem do ensino médio, sem ter participado ou visto algum trabalho sobre meio ambiente no ambiente escolar.

Observou-se que o maior percentual de professores a realizar gincanas nas escolas não são de Ciências ou Geografia (Figura 12).

Figura 12 – Percentuais de respostas dos alunos para a pergunta: “Professor de que matéria organizou a gincana?”.

12,20%

5,70%

20,70%

Ciências Geografia Outras

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 234 alunos do ensino fundamental e médio.

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Um percentual significativo de alunos assistiu em gincanas escolares, desfiles de roupas recicladas (Figura 13).

Figura 13 – Percentuais de respostas dos alunos para a pergunta: “Na sua escola já foi feito desfile de roupas recicladas?”.

39,00%

20,00%

40,90%

Sim Não Não respondeu

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 234 alunos do ensino fundamental e médio.

Observou-se que 44,5% dos alunos viram as roupas recicladas apresentadas em desfiles de eventos de educação ambiental sendo jogadas no lixo após o evento. Pode-se considerar um erro educacional promover desfiles de roupas recicladas para incentivar a preservação ambiental, quando as roupas são jogadas no lixo, evidenciando que não foram efetivamente recolocadas no ciclo dos materiais utilizados. Esta prática pode ser explicada pelo fato de professores que desconhecem os conteúdos de meio ambiente estarem promovendo eventos ambientais nas escolas.

Conclusão

As concepções dos alunos do ensino fundamental e médio revelam que há problemas com a formação dos professores das diversas disciplinas para o trabalho com os Temas Transversais: Orientação Sexual e Meio Ambiente. Os professores da maioria das disciplinas não trabalham estes assuntos e os que o fazem acabam cometendo erros por falta de conhecimento específico.

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Referências bibliográficas

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FISCHER, R. M. B. Adolescência em discurso: mídia e produção de subjetividade. Porto Alegre: Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Faculdade de Educação, 1996.

LOURO, G. L. Segredos e mentiras do currículo – sexualidade e gênero nas práticas escolares. In: SILVA, L. H. A escola cidadã no contexto da globalização. Petrópolis: Vozes, 1998. p. 33-47.

MEIRA, A. M. G. Jogos de adolescentes. In: Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, ano 5, n. 11, p.101-104, 1995.

ORGANIZAÇÃO PAN AMERICANA DE SAÚDE. Salud del adolescente: priodidad y estrategias nacionales y regionales. Bol Of Sanit Pan-am 1989;107(1).

ROBOTTOM, I. Two paradigns of professional development in environmental education. The Environmentalist, 7, 4, pp.291-298. 1987.

SANTOS, L. H. S. Incorporando outras representações culturais de corpo na sala de aula. In: OLIVEIRA, D. L. Ciências nas salas de aula. Porto Alegre: Mediação, 1997. p. 97-112.

TILBURY, D. Environmental Education within preservice teacher education: the priority of priorities. International Journal of Environmental Education and Information. 11, 4, pp.267-280.1992.

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UNESCO-UNEP International strategy for action in the field of environmental education and training for the 1990s. Paris: UNESCO e Nairobi. 1988.

ZAMONER, M. Ruptura: Um desafio a ser vencido por educadores e governos. Curitiba, Editora Protexto. 2004.

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