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China: a bolha que nunca estoura

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Academic year: 2021

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CEBC BRIEFING - Edição 13 | Setembro de 2020 1

China: a bolha

que nunca estoura

DESTAQUES DO CEBC WEBINAR

COM

TOM ORLIK

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CEBC BRIEFING - Edição 13 | Setembro de 2020

China: a bolha que nunca estoura

Destaques do CEBC Webinar com Tom Orlik

Tom Orlik

Economista-chefe da Bloomberg e autor de China: The Bubble that Never Pops. Depois de trabalhar no Tesouro Britânico, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional, Orlik passou uma década na China. Nesse período, foi correspondente do The Wall Street Journal e economista-chefe para a Ásia da agência de notícias Bloomberg. Atualmente baseado em Washington, também é autor do livro Understanding China’s

Economic Indicators.

ABERTURA:

Embaixador Luiz Augusto de Castro Neves

Presidente do CEBC. Foi embaixador do Brasil no Japão, na China, e no Paraguai. No Itamaraty, foi secretário-geral adjunto das Relações Exteriores e diretor-geral para as Américas. Foi presidente do CEBRI e atualmente é vice-presidente emérito. É mestre em economia pelo University College da Universidade de Londres.

MODERAÇÃO:

Embaixador Marcos Caramuru de Paiva

Diplomata, é sócio e gestor da KEMU Consultoria, com sede em Xangai, e vive há dezesseis anos no Leste Asiático. Foi cônsul-geral do Brasil em Xangai, embaixador na Malásia e em Pequim, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda e diretor-executivo do Banco Mundial, em Washington.

CEBC BRIEFING

CEBC Briefing é uma publicação periódica do Conselho Empresarial Brasil-China com destaques

de eventos realizados pelo CEBC, incluindo transcrições, depoimentos, apresentações e materiais similares. Elaboração: Cláudia Trevisan, Tulio Cariello e Camila Amigo

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CEBC BRIEFING - Edição 13 | Setembro de 2020 3 á anos a China vem desafiando previsões de que mergulhará em uma grande crise financeira, tendo resistido a diversos choques internacionais. Sua rápida recuperação após os primeiros impactos da pandemia prova, mais uma vez, que o país tem características internas capazes de conter colapsos econômicos.

Orlik argumenta que o Ocidente tem uma visão pessimista sobre o futuro da economia chinesa devido a análises superficiais de que o acelerado crescimento do país nas últimas décadas não seria viável a longo prazo. O país estaria envolto por uma bolha fadada a estourar, gerada por dívidas insustentáveis e um Estado supostamente inchado e ineficiente.

Mas a realidade mostra que o país tem conseguido manter taxas de crescimento muito acima da média mundial, mesmo em momentos de crise, justamente por conta de características como a manutenção de financiamentos em bases estáveis e a capacidade do Estado chinês de promover reformas, diz o autor. Ou seja, alguns dos fatores frequentemente apontados por críticos como vulnerabilidades da China são, simultaneamente, razões que contribuem para a resiliência econômica do país.

Alta taxa de poupança e controle de capitais evitaram crises financeiras na China

Uma análise da economia chinesa com base na relação entre dívida e PIB indica um considerável aumento da proporção do endividamento, que saltou de 140% em 2008 para 260% entre 2015 e 2016. O crescimento do shadow banking e o ritmo insustentável de investimentos públicos na área imobiliária, na visão de Orlik, são as principais causas desse cenário.

Apesar disso, muitos analistas não consideram importantes fatores positivos do sistema financeiro chinês, levando a uma compreensão errônea de sua real situação. O economista defende que a sustentabilidade do financiamento no país é fruto de uma taxa de poupança muito alta e mecanismos de controle de capitais, o que confere estabilidade aos bancos chineses. Isso significa que, mesmo que os problemas do lado dos ativos continuem a crescer e que os empréstimos inadimplentes sigam aumentando, não haveria motivo para a ocorrência de uma crise financeira.

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Reformas econômicas de Hu Jintao e Xi Jinping foram fundamentais para o equilíbrio financeiro da China

Na visão ocidental, a economia chinesa precisa de reformas econômicas, mas seu governo seria incapaz de realizá-las. Hu Jintao foi visto como um líder fraco, enquanto Xi Jinping é considerado um líder forte, mas que não percebe os benefícios do mercado.

Entretanto, Orlik enxerga as duas administrações como bem sucedidas, principalmente no que tange areformas econômicas e financeiras. Essa interpretação vem da percepção de que os dois instrumentos mais importantes de controle da economia - taxas de juros e câmbio– passaram por modificações nos últimos 17 anos. No período de 2003 e 2004, a principal crítica do Ocidente à China era a de que ambas as taxas eram fixadas pelo governo e mantidas em níveis artificialmente baixos, atuando como uma fonte de ineficiência. Tanto Hu quanto Xi realizaram reformas abrangentes nessas áreas.

Um exemplo de iniciativa de Xi Jinping foi a reforma do setor financeiro a partir de 2016, com uma agenda de desalavancagem realizada pelo People's Bank of China de modo a conter riscos excessivos no sistema bancário. A estratégia era baseada na imposição de punições aos bancos, caso assumissem muitos riscos na alocação de ativos ou financiamento.

O Estado chinês como indutor de desenvolvimento

Uma das principais diferenças econômicas entre os países ocidentais -sobretudo os Estados Unidos- e a China é a questão do Estado versus propriedade privada. Enquanto nos EUA o setor privado é visto como a principal fonte de dinamismo econômico e tem-se uma visão de ineficiência e corrupção sobre a propriedade estatal, na China o Estado desempenha um papel fundamental.

Na visão chinesa, a propriedade estatal é um instrumento estratégico de desenvolvimento. O governo pode direcionar os bancos estatais para financiar a aquisição ou desenvolvimento de novas tecnologias, exercer controle sobre os bancos privados, indústria, setor de energia e comunicações, sustenta o autor.

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O caminho escolhido por Pequim provou-se bem sucedido, na avaliação de Orlik, uma vez que permitiu o desenvolvimento da indústria local. Nos anos 1980, o setor focava em manufatura de brinquedos e têxteis, na década de 1990, se baseava em aço e navios, enquanto atualmente o desenvolvimento industrial é voltado para áreas como produção de energia sustentável e trens de alta velocidade. Além disso, o investimento em tecnologias essenciais para a economia do século XXI é característica marcante do governo chinês. Ainda assim, Orlik defende que há necessidade de maior diálogo entre as esferas pública e privada na China. As áreas econômicas nas quais o Estado tem domínio, como indústria pesada, são parte da velha economia, mas as empresas que moldarão o futuro do país são privadas, como Alibaba, Tencent e Meituan. Mesmo que o governo tenha algum tipo de influência, essas empresas continuam sendo privadas e definem suas estratégias com base em termos comerciais.

Crescimento constante da China foi beneficiado pela competição com economias de escala e saltos tecnológicos

A visão ocidental sobre o futuro da expansão econômica chinesa se concentra excessivamente em problemas como redução da população economicamente ativa, armadilha da renda média e o potencial destrutivo da guerra comercial com os Estados Unidos, fatores que dificultariam a manutenção do crescimento a longo prazo.

Contudo, Orlik defende que não se pode negligenciar os aspectos positivos do crescimento chinês nos últimos 40 anos, como a competição com grandes economias de escala e os saltos tecnológicos. Esses dois fatores devem continuar atuando como vetores de crescimento, uma vez que ainda há grande espaço para expansão, que pode ser rapidamente atingida, por exemplo, com o desenvolvimento tecnológico em curso no país.

Estamos no fim da história do desenvolvimento da China? Minha resposta é não, por um motivo muito simples: o PIB per capita da China é um terço do nível dos Estados Unidos. Isso significa que há um espaço enorme para a China continuar crescendo rapidamente, apenas absorvendo as principais tecnologias estrangeiras e difundindo-as de forma ampla na economia chinesa.”

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E se a bolha estourar?

Em um cenário hipotético em que a bolha estourasse, Tom Orlik divide o mundo em três grupos: os países vizinhos da China, os grandes exportadores de commodities e os países capitalistas tradicionais.

Os países geograficamente próximos da China sofreriam um grande golpe, principalmente por conta de suas exportações, uma vez que grande parte das vendas externas de nações como Coreia, Japão, Malásia e Filipinas são direcionadas à China. Se o papel do gigante asiático como ponto central da cadeia de suprimentos global de manufaturas se quebrasse, esses países enfrentariam consequências severas.

Os grandes exportadores de commodities também se encontrariam em um cenário adverso, pois a China é a principal impulsionadora da demanda global por esses produtos. Se a economia chinesa entrasse em colapso, a demanda por commodities diminuiria significativamente, o que seria muito prejudicial a países como Brasil e Austrália.

Por fim, países capitalistas tradicionais, como Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, que não têmligações tão significativas com o sistema financeiro chinês, poderiam até mesmo se beneficiar de uma possível queda nos preços de commodities. Ou seja, esse grupo estaria em uma situação de maior estabilidade e sofreria menos em um cenário de colapso.

A pandemia como “teste de estresse” para os sistemas econômico e financeiro

Nas palavras de Orlik, a crise da Covid-19, além de uma tragédia humana, pode ser considerada um “teste de estresse” para os sistemas econômico e financeiro. No primeiro trimestre de 2020, em todo o mundo os lucros das empresas caíram drasticamente, a renda familiar diminuiu, a receita tributária encolheu e o crescimento do PIB foi pífio em comparação aos anos anteriores.

Ainda que o sistema financeiro chinês tenha enfrentado quedas em suas atividades, a situação não foi tão grave quanto a de outros países, sobretudo porque a China conseguiu passar por uma rápida recuperação.

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Esse sucesso pode ser justificado pelas fontes de resiliência da economia chinesa, como o relativo equilíbrio de seu setor financeiro e a capacidade de reformas implementadas pelo Estado, fatores que devem garantir que a China, mesmo em processo de desaceleração, seguirá crescendo em ritmo mais rápido do que o resto do mundo ao longo da próxima década.

Para além da China, a crise da Covid-19 gerará grandes consequências para as economias do mundo, principalmente países em desenvolvimento que não possuem recursos suficientes para promover estímulos econômicos. Dessa forma, Orlik defende que no pós-crise haverá uma demanda adicional de investimentos em partes do sul da Ásia, América Latina e Europa Central, e a China terá condições de promover esses aportes.

O adensamento da disputa EUA-China: da guerra comercial à rivalidade tecnológica

O surgimento da disputa tecnológica entre as duas potências formou um cenário de rivalidade muito mais complexo. Esse aspecto se tornou um foco de tensão por duas razões fundamentais: segurança nacional e o papel da tecnologia como determinante de sucesso econômico. A preocupação com o primeiro elemento dá-se principalmente por conta da possibilidade de uma empresa chinesa como a Huawei, de acordo com a visão de Washington, ter acesso irrestrito a dados e poder de influência sobre questões políticas dos Estados Unidos. A segunda, de cunho econômico, está ligada àschamadas “tecnologias do futuro”, que podem moldar, por exemplo, o domínio de ferramentas de inteligência artificial, recurso de extrema importância tanto para os EUA quanto para a China.

Suspeito que não vamos voltar a um caminho de globalização

desenfreada. A combinação da guerra comercial e do choque

da Covid-19 levou todos a pensar sobre implicações para a

segurança nacional provenientes da terceirização de uma

parte tão grande das coisas de que dependemos.”

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Além de questões ligadas ao setor tecnológico, lideranças dos EUA e de todo o mundo discutem estratégias voltadas à redução das vulnerabilidades provenientes do grande envolvimento da China com a economia global.

Com o adensamento da disputa entre Washington e Pequim, as eleições presidenciais nos Estados Unidos são aguardadas na China para definir o tom das relações entre os dois países. Os chineses esperam o restabelecimento de relações construtivas em uma eventual presidência de Biden. Na visão de Orlik, caso Trump saia vitorioso, talvez a China reaja com mais força aos ataques americanos.

Acredito que o resultado das eleições americanas será de

extrema importância para a China, os Estados Unidos e o

mundo.”

Rua Araújo Porto Alegre, 36 / sala 1202 Rio de Janeiro/RJ - CEP: 20030-902 Telefone: +55 21 3212-4350 E-mail: cebc@cebc.org.br

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SOBRE O CEBC

Fundado em 2004, o Conselho Empresarial Brasil-China é uma instituição bilateral sem fins lucrati-vos formada por duas seções independentes, uma no Brasil e outra na China, e dedicada à promoção do diálogo entre empresas nos dois países. O CEBC concentra sua atuação nos temas estruturais do relacionamento bilateral sino-brasileiro, com o objetivo de aperfeiçoar o ambiente de comércio e investimento entre os países. Em 2015, o CEBC foi reconhecido oficial-mente, no Plano de Ação Conjunta assinado entre o Brasil e a China, como o principal interlocutor dos governos na promoção das relações empre-sariais entre os dois países. Em 2019, no âmbito da Quinta Reunião Plenária da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível (COSBAN), presidida pelos vice-presidentes do Brasil e da China, as partes reconheceram novamente o papel relevante desempenhado pelo Conselho como canal de comunicação com a comunidade empresarial. COMO SE ASSOCIAR

Entre em contato com a Secretaria Executiva e conheça as atividades do Conselho e os benefícios dos associados: (21) 3212-4350 / cebc@cebc.org.br.

DIRETORIA

PRESIDENTE

Embaixador Luiz Augusto de Castro Neves

PRESIDENTE EMÉRITO

Embaixador Sergio Amaral

VICE-PRESIDENTES

Bruno Ferla (BRF)

José Leandro Borges (Bradesco) Marcio Senne de Moraes (Vale)

DIRETORES

André Clark (Siemens) Luiz Felipe Trevisan (Itaú BBA) Nelson Salgado (Embraer)

Pedro Aguiar de Freitas (Veirano Advogados) Reinaldo Guang Ruey Ma (TozziniFreire Advogados) Roberto Amadeu Milani (Comexport)

DIRETORA DE ECONOMIA

Fabiana D’Atri (Bradesco) COMITÊ CONSULTIVO

Embaixador Marcos Caramuru de Paiva; Embaixador Paulo Estivallet; Embaixador Sergio Amaral; Ivan Ramalho; Luiz Fernando Furlan; Marcos Jank; Octávio de Barros; Renato Baumann; Tatiana Rosito

SECRETARIA EXECUTIVA

Diretora Executiva

Cláudia Trevisan

Coordenador de Análise e Pesquisa

Tulio Cariello Analista de Eventos Denise Dewing Analista Financeiro Jordana Gonçalves Auxiliar Administrativo Juliana Alves Estagiária Camila Amigo ASSOCIADOS

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