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A elite setecentista instruída em Sergipe Del Rey (1725-1800)

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DOUTORADO EM EDUCAÇÃO. A ELITE SETECENTISTA INSTRUÍDA EM SERGIPE DEL REY (1725 - 1800). VOLUME 1. EUGÊNIA ANDRADE VIEIRA DA SILVA. SÃO CRISTÓVÃO (SE) 2013.

(2) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DOUTORADO EM EDUCAÇÃO. A ELITE SETECENTISTA INSTRUÍDA EM SERGIPE DEL REY (1725 - 1800). EUGÊNIA ANDRADE VIEIRA DA SILVA Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Educação. Orientador: Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento. SÃO CRISTÓVÃO (SE) 2013.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Silva, Eugênia Andrade Vieira da S586e. A elite setecentista instruída em Sergipe Del Rey (17251800) / Eugênia Andrade Vieira da Silva; orientador Jorge Carvalho do Nascimento. – São Cristóvão, 2013. 2v. : il. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Sergipe, 2013. 1. Alfabetização – Séc. XVIII - Sergipe. 2. Sergipe História. 3. Família – Vida religiosa. 4. Casamento. 5. Cultura. 6. Escrita. I. Nascimento, Jorge Carvalho do, orient. II. Título.. CDU 37.014.22(813.7).

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(5) Dedicatória Aos meus pais Edezio e Regina (in memorian); meus irmãos Antonio (in memorian), João, Edésio e Heleno; aos meus sobrinhos Dayse, Regina, Leonardo, Higor, Larissa e Deborah e à minha afilhada Tainara, meus amores, alegria da minha vida..

(6) AGRADECIMENTOS. Em uma tese de doutorado agradecer é um ato público de gratidão aos familiares, amigos e professores que ajudaram de diversas formas, compreenderam as ausências, impaciências, o falar repetido acerca do único assunto em pauta durante quatro anos – a tese. Ao professor Jorge Carvalho, pela sua generosidade intelectual, desde o Mestrado, acreditando na minha capacidade intelectual, tendo paciência com minhas inseguranças. Tê-lo como orientador e amigo há mais de uma década enriqueceu minha vida profissional. Ser-lheei sempre grata. À professora Maria da Glória Santana de Almeida, pela sua ação de salvaguarda da documentação secular cartorária sergipana, sem a qual não seria possível essa tese. Ao professor Justino Pereira de Magalhães, pelo envio do seu livro e sugestões aos meus questionamentos via e-mail, pois muito contribuiu para a feitura dessa tese. Às professoras Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento e Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas pelas indicações de leituras e sugestões na banca de qualificação que deram outra dimensão ao meu trabalho. Aos membros da banca de defesa dessa tese, às professoras Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento e Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas, aos professores José Carlos de Araujo Silva e Luiz Eduardo Menezes Oliveira, pelas contribuições ao corpus dessa tese. Aos chefes do Arquivo Geral do Judiciário, Ivana Rocha Melo Resende, Yêda Silva Ribeiro, Lívia Leilah Leite Barros Rodrigues, Bruno Dantas Luduvice Navarro e Mayanna Barbosa Soares Scharff, pela compreensão, liberando-me para participar da seleção, frequentar aulas, licença prêmio, férias, eventos e revisão final da tese. A Kátia Virgínia Santos, diretora da Escola Estadual José Augusto Ferraz, que me ajudou a superar os entraves burocráticos quando da minha liberação para o doutorado, sempre eliminando problemas com sua alegria contagiante. A Raylane, pela amizade, generosidade afetiva, principalmente nos últimos oito meses de confinamento e angústia, para finalizar uma tese que, em inúmeros momentos parecia uma tarefa impossível, ouvia-me, aconselhava-me, trazia calmaria para minha mente e alma. A Vera, parceira nas fontes documentais sergipanas setecentistas, sua tese instigou-me a ampliar horizontes de investigação. A Maristela, pela presteza na coleta de informações e pelo valioso banco de dados sobre os casamentos setecentistas em Sergipe..

(7) A Jocineide Cunha, pelas proveitosas conversas, livros presenteados, documentos descobertos, trocas generosas de informações num ambiente acadêmico, na maioria das vezes hostil, mostrando assim que repartir é sempre melhor do que omitir. Ao Vlademir, pelo livro presenteado, tão importante para o meu trabalho. Ao Fábio Soares, pela sua ajuda na instalação de programas e ensino de como utilizálos, além do companheirismo profissional no Arquivo Judiciário e amizade. A Maria José e sua irmã Antonia, pelas orações. A Carla, pelas transcrições dos testamentos e demais documentos. A Assunção, pela revisão gramatical criteriosa, em cima da hora, final de ano, quando visitava a família em Fortaleza, no entanto pude contar com sua ajuda profissional e carinhosa amizade. Ao Juliano Beck pela formatação e revisão final. A Ivone pelo apoio e carinho de amiga com quem posso contar sempre. Ao Salustiano, pelas aulas sobre Estatística que enriqueceram este trabalho. À minha cunhada Marilene pelo seu zelo e carinho. À turma do sítio, Dona Helena, Maria das Graças, Francisco, Hortência, Arquimedes, Aline, Pedro, Wellington, Íris, João, Marlene, Claudi, Hellena, Iara, que com alegria e companheirismo tornaram os meus feriados e finais de semana em momentos de relaxamento e alegria. Ao meu irmão João, sem seu amor de irmão e cuidados de pai e mãe, não seria o que hoje sou. Ao meu mano Heleno, que com seu amor carinhoso e sua família alegram e tornam minha vida mais leve. Ao meu irmão Edésio, pelo silencioso amor fraterno. Dedico a minha tese aos meus pais Edezio e Regina (in memorian); meus irmãos Antonio (in memorian), João, Edésio e Heleno; aos meus sobrinhos Dayse, Regina, Leonardo, Higor, Larissa e Deborah e à minha afilhada Tainara, meus amores, alegria da minha vida..

(8) RESUMO. A percepção do nível de alfabetismo e letramento da elite do século XVIII em Sergipe deu-se mediante o estudo das assinaturas e das capacidades alfabéticas (ler e escrever) desta população, coletados nos testamentos e inventários. As assinaturas, quando utilizadas como indicadores de alfabetização nos períodos anteriores aos Censos, através do enquadramento em escalas de níveis de assinaturas, fornecem subsídios, mesmo com lacunas, permitindo identificar e quantificar quem era alfabetizado ou analfabeto e ainda perceber as relações de parentesco, amizade e/ou compadrio que interlaçava estes dois grupos. Mostra que assinar o nome não significava, no século XVIII em Sergipe, saber ler e escrever, embora o método utilizado no Antigo Regime e nas sociedades coloniais fosse primeiro aprender a ler e depois a escrever. Traz à luz, no século XXI, a presença da mulher no mundo da cultura escrita setecentista, seja ela como pessoa alfabetizada, raro na sociedade colonial, seja como assinante ou quando era analfabeta, recorrendo a quem lhe fizesse a rogo (todas recorreram a homens), refletindo a realidade educacional setecentista, o fato de a maioria ser analfabeta. Mas determinar o letramento dessa elite tendo como indicador apenas as assinaturas, sem cruzar estas informações com outras fontes como biografias, produção escrita por estes autores, é oferecer resultados equivocados. Com o levantamento das capacidades alfabéticas (ler e escrever) fica evidente que essa elite era, em maior parcela, formada por pessoas inclusas na cultura escrita, pois ao juntar os 64 alfabetizados com os 66 assinantes, a porcentagem é de 95 %, ou seja, a referida elite tinha um alto nível de alfabetização. O estudo comprova que apesar de Sergipe ser, no século XVIII, uma capitania subalterna à Bahia, e de não ser de ponta da economia colonial, nem urbana nem mineradora, cuja maioria da população morava na zona rural, havia uma elite não só econômica, política e social, mas também instruída, composta por negociantes (sitiantes, donos de engenho, fazendas, casas comerciais). Pois a elite setecentista, mesmo composta por analfabetos, teve nos mediadores da cultura escrita, cônjuges, parentes e amigos, fossem eles agentes públicos ou não, o amparo nas suas questões jurídicas, sendo irrelevante para a justiça ser ou não alfabetizado, uma vez que a lei assegurava a todos o acesso a ela quando se fazia necessário.. Palavras-chave: Alfabetismo. Cultura Escrita. Elite. Letramento. Século XVIII. Sergipe..

(9) ABSTRACT. The perception on literacy and illiteracy levels of the elite in the XVIII century in Sergipe was possible through the study on the signature and the alphabetical skills (read and write) of that population, data which had been collected from the wills and inventories. The signatures, when used as literacy indicators in previous period to the survey (Censos), by framing them into signature scales levels, provided means, even with gaps, allowing to both identify and quantify who was literate or illiterate; as well as realize what sort of family relationship, friendship and/or collusion used to bind those two groups together. It shows that signing up your name in the XVIII, in Sergipe, was not an indicator that one knew how to read and write, however the method used by the Ancient Regime and the colonial societies was first to learn how to read and only then, write. Bringing to light, in the XXI century, the women’s presence into the world of the written eighteenth culture, regardless it was a literate person, which was rare in the colonial society, or if the person was able only to sign up her name or was merely illiterate, turning to the one who would be able to help her (they would always look for men), reflecting the educational reality of the eighteenth,-the fact that the great majority was illiterate. But determining that elite literacy taking as a parameter only the signature, without crossing those pieces of information with some other sources such as biographies, written production by those authors, often offers misled results. By coming up with the alphabetical skills (read and write) it is evident that the great majority of that elite was formed by people who were inserted in that literacy culture, since when we put together 64 literate and 66 people, that were able to sign up their names, we will get 95%, at any rate, that elite used to have a high leveled literacy. This study proves that although Sergipe, in the XVIII, was a subaltern captaincy to Bahia, and also not be of economical, urban nor mining importance whose population, it vast majority, used to live in a rural area, there used to be an elite not only economical, political and social, but also instructed consisting of businesspeople (ranch people, mill, farm and commerce owners). Hence the eighteenth elite, even being composed by illiterate people, used to lie on its mediators of the written culture, spouses, relatives and friends, agents whether public or not, but they provided the support in justice issues, regardless being literate or not, provided the law allowed to everyone to reach it when necessary,. Key words: Alphabetize. Elite. Literacy. Sergipe. Written culture. XVIII Century..

(10) RESUMEN. La percepción del nivel de alfabetismo e instrucción de la elite del siglo XVIII en Sergipe se produjo gracias al estudio de las firmantes y de las capacidades alfabéticas (leer y escribir) de esta población, colectados en los testamentos e inventarios. Las firmas, cuando utilizadas como indicadores de alfabetización en los períodos anteriores a los Censos, a través del encuadramiento en escalas de niveles de firmas, fornecen subsidios, aunque con huecos, permitiendo identificar y cuantificar quien era alfabetizado o analfabeto y aún percibir las relaciones de parentesco, amistad y/o compadreo que unía estos dos grupos. Muestra que firmar su nombre no significaba, en el siglo XVIII en Sergipe, saber leer y escribir, aunque el método utilizado en el Antiguo Régimen y en las sociedades coloniales fuera primero aprender a leer y después a escribir. Bajo la luz, en el siglo XXI, de la presencia de la mujer en el mundo de la cultura escrita duodécima, sea como persona alfabetizada, raro en la sociedad colonial, sea como firmante o cuando era analfabeta, recorriendo a quien le hiciera a rogo (todas recorrieran a hombres), reflejando la realidad educacional duodécima, el hecho de la mayoría ser analfabeta. Pero determinar la instrucción de esa elite teniendo como indicador apenas las firmas, sin comparar estas informaciones con otras fuentes como biografías, producción escrita por estos autores, es ofrecer resultados equivocados. Con la averiguación del levantamiento de las capacidades alfabéticas (leer y escribir) resulta evidente que esa elite era, mayoritariamente, formada por personas inclusas en la cultura escrita, pues, luego de juntar los 64 alfabetizados con los 66 firmantes, el porcentaje es del 95 %, o sea, la referida elite tenía un alto nivel de alfabetización. El estudio comprueba que a pesar de Sergipe ser, en el siglo XVIII, una capitanía bajo el poder de la Bahía, y de no ser de punta de la economía colonial, tampoco urbana ni de minería, cuya mayoría de la población vivía en la zona rural, había una elite no sólo económica, política y social, sino también instruida, compuesta por negociantes (caudillos, latitudinarios de caña de azúcar, haciendas y casas comerciales). Pues la elite duodécima, aunque compuesta por analfabetos, tuvo en los mediadores de la cultura escrita, cónyuges, parientes y amigos, fueran ellos agentes públicos o no, el amparo en sus cuestiones jurídicas, siendo irrelevante para la justicia ser o no alfabetizado, una vez que la ley aseguraba a todos el acceso a ella cuando necesario.. Palabras-clave: Alfabetismo. Cultura Escrita. Elite. Instrucción. Sergipe. Siglo XVIII..

(11) LISTA DE GRÁFICOS. Volume 1. Gráfico 1 - Área de moradia dos setecentistas de Sergipe Del Rey ................................. 43. Gráfico 2 - Estado civil dos testadores/inventariados ....................................................... 44.

(12) LISTA DE FIGURAS Volume 1 Figura 1 – Capa do inventário do português, Domingos Lopes Ferreira ........................... 85. Figura 2 – Procissão do viático – Debret ............................................................................ 100. Figura 3 – Folha de rosto do manual “Breve aparelho e modo fácil para ensinar a bem morrer um cristão” – Estevam de Castro – 1627 .............................................................. 101. Figura 4 – Sobrado do Engenho do Retiro ......................................................................... 109 Figura 5 – Cartinha.... - Lisboa : João Pedro Bonhomini de Cremona, ca 1502 ................ 116. Figura 6 – Folha de rosto do livro “Grammatica da lingoagem portuguesa”, de Fernando Oliveira, 1536 ..................................................................................................... 117. Figura 7 – Folha de rosto do livro “Grammatica da lingua Portuguesa”, de João de Barros, em 1539/1540 ........................................................................................................ 117. Figura 8 – Folha de rosto do livro “Regras qve ensinam a maneira de escrever a orthographia da lingua Portuguesa”, de Pero de Magalhães de Gandavo, 1574................. 118. Figura 9 – Folha de rosto do livro “Orthographia da lingoa portvgvesa”, de Duarte Nunes de Leão, 1576 .......................................................................................................... 119. Figura 10 – Folha de rosto do livro “Vocabulário Portuguez e Latino”, de Rafael Bluteau, em 1789 ................................................................................................................ 120. Figura 11 – Folha de rosto do livro “Nova Escola para aprender a ler, escrever, e contar”, de Manuel de Andrade de Figueiredo, 1722 ......................................................... 122. Figura 12 – Livro “Nova Escola para aprender a ler, escrever, e contar”, de Manuel de Andrade de Figueiredo, 1722 ............................................................................................. 123. Figura 13 – Livro “Nova Escola para aprender a ler, escrever, e contar”, de Manuel de Andrade de Figueiredo, 1722 ............................................................................................. 124. Figura 14 – Livro “Nova Escola para aprender a ler, escrever, e contar”, de Manuel de Andrade de Figueiredo, 1722 ............................................................................................. 125. Figura 15 – Provisão Régia – Vila Nova Real do Rey do Rio São Francisco..................... 126. Figura. 16. –. Provisão. Régia. –. Vila. de. Santo. Antonio. e. Almas. de. Itabaiana......................................................................................................................... 127. Figura 17 – Provisão Régia – Povoação da Estância, Termo da Vila Real de Santa Luzia .............................................................................................................................. 128. Figura 18 – Provisão Régia – São Cristóvão ...................................................................... 129. Figura 19 – Traço caligráfico do Juiz de Órfãos, Capitão Jozé Antonio dos Santos e do.

(13) escrivão Joaquim Joze de Souza Silva ............................................................................... 131. Figura 20 – Assinatura do escrivão Joaquim Joze de Souza Silva ..................................... 132. Figura 21 – Folha rosto do “Diccionario da lingua geral do Brasil que se falla Em todas as Villas, Lugares, e Aldeias deste vastissimo Estado” ...................................................... 133. Figura 22 – “Diccionario da lingua geral do Brasil que se falla Em todas as Villas, Lugares, e Aldeias deste vastissimo Estado” ................................................................. 134. Figura 23 – Exemplo de um sinete e cera vermelha para lacrar documentos .................... 139. Figura 24 – Lacre utilizando cera vermelha, feito com sinete do tabelião Francisco Jozê do Borral, selando formalmente o testamento do Coronel Manoel Joze Nunes Coelho de Vasconcellos e Figueiredo, 1777 ................................................................................... 140. Figura 25 – Assinatura de Braz Martins da Costa. 141. Volume 2 Figura 26 – Reconhecimento de letra e firma .................................................................... 161. Figura 27 – Sinal costumado .............................................................................................. 163. Figura 28 – Sinal assinatura ............................................................................................... 163. Figura 29 – Palavra “cruz” acima do sinal ......................................................................... 164. Figura 30 – Palavra “sinal” após o nome ........................................................................... 164. Figura 31 – “Sinal” cruz após primeiro nome ................................................................... 165. Figura 32 – Assinatura com o uso de abreviaturas ............................................................. 165. Figura 33 – Assinatura sem o uso de abreviaturas ............................................................. 165. Figura 34 – Cruz antes do primeiro nome .......................................................................... 166. Figura 35 – Cruz depois do primeiro nome ........................................................................ 166. Figura 36 – Assinatura da testadora em cruz, sem rogo ..................................................... 166. Figura 37 – Assinatura da testadora em cruz, mas com rogo ............................................. 167. Figura 38 – Assinatura em cruz, com rogo ......................................................................... 167. Figura 39 – Recibo assinado com uma cruz pela escrava Vitoria ...................................... 168. Figura 40 – Assinatura de Joze de Souza Vieira, marido de Thereza da Motta ................. 169. Figura 41 – Assinatura de Antonio Alves da Silveira, assinante a rogo da inventariante Roza Maria do Sol .............................................................................................................. 170. Figura 42 – Assinatura do Doutor Antonio Josê Pereira Barrozo, Ouvidor Geral do Crime e Civil Corregedor da Comarca de São Cristóvão em 1766 .................................... 170. Figura 43 – Assinatura do testador no testamento de Domingos Salgado de Araujo ...... 170.

(14) Figura 44 – Assinatura do escrivão Joze Caetano da Silveira Nollete ............................... 171. Figura 45 – Declaração de débito de dote de Alexandre Lopes do Valle ........................ 172. Figura 46 – Assinaturas sinais de profissões em Portugal ............................................. 174. Figura 47 – Assinaturas sinais cuja base, em Portugal, era a cruz...................................... 174. Figura 48 – Sinal público do tabelião Antonio Rodrigues Vieira – 1758 ....................... 175. Figura 49 – Sinal público do tabelião Manoel Francisco da Conceição – 1763 ................ 175. Figura 50 – Assinatura sinal (cruz) de Faustino Domingos ............................................... 176. Figura 51 – Assinatura do avaliador Jose Pereira Lima ..................................................... 176. Figura 52 – Assinatura de Antonio Teixeira de Souza ................................................... 177. Figura 53 – Assinatura de Joze Joaquim de Souza ............................................................. 177. Figura 54 – Assinatura do Juiz de órfãos Felippe de Mello Pereira ................................... 178. Figura 55 – Arabesco da assinatura do Alferes Joze Cardozo de Vasconsellos .............. 178. Figura 56 – Arabesco da assinatura do Sargento-mor Antonio Gomes Ferrão Castelobranco .................................................................................................................... 179. Figura 57 – Arabescos na assinatura e rubrica do Juiz de Órfãos trienal Sargento-mor Manoel Jose Soares ............................................................................................................ 179. Figura 58 – Atesto de dívidas feito por Francisca Catharina Solto Fraga .......................... 180. Figura 59 – D. Francisca Catharina Solto Fraga .............................................................. 180. Figura 60 – Assinatura de Antonio Soares Dias a rogo de sua irmã Jozefa Maria de Vasconcellos ....................................................................................................................... 183. Figura 61 – Assinatura de D. Jozefa Maria de Vasconcellos .......................................... 184. Figura 62 – Assinaturas de Ignacia Joaquina de Loyola Braque e Anna Cecilia Braque, filhas de Joaquim Joze Braque ........................................................................................... 184. Figura 63 – O ensino do ofício de sapateiro ....................................................................... 202. Figura 64 – Termo de entrega do menor Antonio .......................................................... 204. Figura 65 – Procuração feita por Maria Francisca de Freitas ............................................. 211. Figura 66 – Assinatura de Maria Francisca de Freitas ....................................................... 212. Figura 67 – Assinatura de Maria Francisca de Freitas ....................................................... 212. Figura 68 – Procuração de Bernardo Nunes da Mota ......................................................... 212. Figura 69 – Assinatura de Bernardo Nunes da Mota ....................................................... 213. Figura 70 – Escrito de dote ................................................................................................. 214. Figura 71 – Carta de Antonia Maria Ramos ....................................................................... 216. Figura 72 – Recibo do enterro de Francisco Cardozo de Souza ......................................... 217.

(15) LISTA DE QUADROS. Volume 1 Quadro 1 – População sergipana 1707 - 1888 ...................................................................... 38. Quadro 2 – Freguesias da Capitania de Sergipe Del Rey – 1775 ......................................... 39. Quadro 3 – Naturalidade dos testadores ............................................................................ 40. Quadro 4 – Residência dos testadores quando fizeram testamento ...................................... 41. Quadro 5 – Cargos ocupados pelos inventariantes ............................................................... 45. Quadro 6 – Montante mor ..................................................................................................... 47. Quadro 7 – Relação dos portugueses moradores em Sergipe Del Rey ................................. 57. Quadro 8 – Movimento migratório dos 23 portugueses moradores em Sergipe Del Rey .... 59. Quadro 9 – Testadores que eram filhos ilegítimos ........................................................... 73. Quadro 10 – Testadores beneficiadores de expostos/enjeitados ........................................... 79. Quadro 11 – Testadores que tiveram filhos naturais ........................................................ 80. Quadro 12 – Testadores que tiveram filhos ilegítimos ......................................................... 82. Quadro 13 – Nº de filhos legítimos declarados pelos inventariantes e testadores ................ 86. Quadro 14 – Nº de filhos legítimos declarados pela elite setecentista em Sergipe Del Rey. 89. Quadro 15 – Nº de filhos legítimos declarados pelos 23 testadores e inventariados portugueses ........................................................................................................................... 90. Volume 2 Quadro 16 – Testadores assinantes ....................................................................................... 159. Quadro 17 – Uso de tratamento nobiliárquico das mulheres setecentistas de Sergipe ......... 181. Quadro 18 – Ano e nível de assinaturas ........................................................................... 186. Quadro 19 – Escrevente de testamento Joam Alvares do Valle Guimaraens .................... 192. Quadro 20 – Escreventes que redigiram mais de um testamento ......................................... 194. Quadro 21 – Escreventes que redigiram testamentos de casais ............................................ 195. Quadro 22 – Relação dos escreventes de testamento por localidade .................................... 197. Quadro 23 – Testadores possuidores de livros de conta e/ou livros de razão .................... 206. Quadro 24 – Práticas de leituras nos testamentos ................................................................. 208. Quadro 25 – Ocupantes de cargos ........................................................................................ 220. Quadro 26 – Capacidades alfabéticas dos portugueses moradores em Sergipe Del Rey ..... 222.

(16) Quadro 27 – Agentes judiciários com maior letramento ...................................................... 224. Quadro 28 – Juízes Trienais de Órfãos e Ordinário .............................................................. 225. Quadro 29 – Residência da elite setecentista de Sergipe Del Rey ........................................ 226. Quadro 30 – Maiores fortunas setecentistas de Sergipe Del Rey ......................................... 227. Quadro 31 – Capacidades alfabéticas da elite por localidade ............................................... 228.

(17) LISTA DE TABELAS. Volume 1 Tabela 1 – Cargos ocupados pelos inventariados/testadores .............................................. 45. Tabela 2 – Estado civil da elite setecentista ....................................................................... 66. Tabela 3 – Situação jurídica da filiação dos testadores ...................................................... 72. Tabela 4 – Estado físico do testador ................................................................................... 99. Volume 2 Tabela 5 – Tipos de assinaturas da elite setecentista de Sergipe Del Rey ....................... 181. Tabela 6 – Capacidades alfabéticas dos testadores ......................................................... 188. Tabela 7 – Testadores alfabetizados/analfabetos/indefinidos ........................................... 188. Tabela 8 – Inventariantes alfabetizados/analfabetos/indefinidos ...................................... 189. Tabela 9 – Testadores e inventariantes alfabetizados/analfabetos/indefinidos ................. 189. Tabela 10 – Cargo/parentesco dos escreventes de testamento ........................................... 191.

(18) MAPA. VOLUME 1 Mapa 1 – Regiões das quais procediam os portugueses residentes em Sergipe Colonial .......56.

(19) LISTA DE ABREVIATURAS. AGJ - Arquivo Geral do Judiciário AGJ-EST/C. 2º OF. - Arquivo Geral do Judiciário – Estância/Cartório. 1º Ofício AGJ-MAR/C. 2º OF. - Arquivo Geral do Judiciário – Maruim/Cartório. 1º Ofício AGJ-PFO/C. - Arquivo Geral do Judiciário - Porto da Folha/Cartório AGJ-SCR/C. 1º OF. - Arquivo Geral do Judiciário - São Cristóvão/Cartório. 1º Ofício AGJ-SCR/C. 2º OF. - Arquivo Geral do Judiciário - São Cristóvão/Cartório. 2º Ofício. APES - Arquivo Público do Estado de Sergipe APES - Coleção Sebrão Sobrinho = Arquivo Público do Estado de Sergipe - Coleção Sebrão Sobrinho..

(20) SUMÁRIO. VOLUME 1 .................................................................................................................... 21-153. 1 – INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 21. 2 – A PESQUISA ........................................................................................................... 24. 2.1 – O PERCURSO DA PESQUISA .......................................................................... 24. 2.2 – METODOLOGIA ................................................................................................ 25. 2.3 – HIPÓTESE .......................................................................................................... 26. 2.4 – FONTES: TESTAMENTOS E INVENTÁRIOS ................................................. 30. 2.4.1 – Os testamentos ................................................................................................... 30. 2.4.2 – Os inventários .................................................................................................... 33. 2.5 – ESTRUTURA DA TESE ...................................................................................... 33. 3 – O COTIDIANO FAMILIAR DA ELITE SETECENTISTA EM SERGIPE DEL REY ............................................................................................................................... 35. 3.1 – A COMPOSIÇÃO DA ELITE .............................................................................. 36. 3.2 – A FAMÍLIA ........................................................................................................... 60. 3.2.1 – Casamento ......................................................................................................... 60. 3.2.2 – Filhos legítimos, naturais, expostos/enjeitados ................................................. 69. 3.2.3 – Dote ................................................................................................................... 92. 3.3 – RELIGIOSIDADE ................................................................................................ 96. 3.4 – VIDA DOMÉSTICA ............................................................................................ 107. 4 – A CULTURA ESCRITA .......................................................................................... 115. 4.1 – A LÍNGUA DO PRÍNCIPE .................................................................................. 115. 4.2 – ARTEFATOS DA CULTURA ESCRITA ......................................................... 137. 4.3 – ELEMENTOS DA CULTURA ESCRITA .......................................................... 142. 4.3.1 – O livro ................................................................................................................ 142. 4.3.2 – O texto da lei ...................................................................................................... 146. 4.3.3 – A epistolografia .................................................................................................. 147.

(21) 4.3.4 – As fontes notariais ............................................................................................. 149. 4.3.5 – Os registros paroquiais ...................................................................................... 150. 4.3.6 – Os registros de foro privado .................................................................... 151. VOLUME 2 .................................................................................................................... 154-379. 5 – VESTÍGIOS DE ALFABETISMO E LETRAMENTO NA CAPITANIA DE SERGIPE DEL REY .................................................................................... 154. 5.1 – AS ASSINATURAS COMO VESTÍGIOS DE ALFABETIZAÇÃO ................... 158. 5.2 – LER E ESCREVER .............................................................................................. 187. 5.3 – OS REDATORES DE TESTAMENTOS: mediadores de um saber específico ... 190. 5.4 – INDÍCIOS DE INSTRUÇÃO NOS TESTAMENTOS E INVENTÁRIOS ......... 200. 5.5 – LETRAMENTO ................................................................................................... 209. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 230. REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 234. FONTES JUDICIAIS ..................................................................................................... 256. GLOSSÁRIO ................................................................................................................. 263. APÊNDICES.................................................................................................................... 267. Apêndice A – Nº de filhos legítimos........................................................................... 268. Apêndice B – Testadores dotantes............................................................................... 283. Apêndice C – Escala de níveis de assinaturas da elite setecentista de Sergipe Del Rey.... 295. Apêndice D – Análise descritiva das capacidades alfabéticas dos testadores .................. 329. Apêndice E – Análise descritiva das capacidades alfabéticas dos inventariantes.............. 351. Apêndice F – Capacidades alfabéticas da elite setecentista de Sergipe Del Rey ............... 361.

(22) 21. 1 – INTRODUÇÃO Comunicando pela palavra e pela escrita, o ser humano pensa, faz leitura, interpreta, representa, (simboliza) e apropria-se do mundo e da realidade. (MAGALHÃES, 2001, p. 27-28).. A ideia de analisar o nível de alfabetismo e letramento da elite setecentista em Sergipe é o propósito deste estudo que surgiu a partir das discussões acerca dos intelectuais, que desenvolvi no trabalho de Dissertação de Mestrado intitulado “A formação intelectual da elite sergipana (1822-1889)”, defendido no Núcleo de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe, em 2004, no qual tracei o perfil de 400 intelectuais sergipanos para mostrar que com o desenvolvimento econômico de Sergipe e a política educacional do Império, a geração oitocentista sergipana investiu na educação de seus filhos, formando uma elite intelectualizada. A historiografia sergipana influenciou-me acerca da educação no século XVIII. Deduzi que a geração setecentista de Sergipe era iletrada, tomando este termo no sentido de ser analfabeta. Mas como não se escreve a História com dedução e sim com fatos, resolvi investigar esta questão de forma mais aprofundada, que é o propósito desta tese. Mas como apreender um tempo que deixou poucos vestígios escritos de sua história? Como identificar, “ver”, nas entrelinhas de uma escrita fragmentada, o nível de alfabetismo e letramento de uma população mais preocupada com a sobrevivência, envolvida ainda no processo de recolonização da capitania devastada pelas invasões holandesas ocorridas de 1637 a 1645? Estudar o século XVIII, recorte fora da cronologia política, visa, ao percorrê-lo, perceber práticas, costumes do século anterior e legados desse no posterior, pois nas longas durações encontramos vestígios do que antecedeu e do que está surgindo. Para Sirinelli “[...] uma geração dada extrai dessa gestação uma bagagem genética e desses primeiros anos uma memória coletiva [...]” (SIRINELLI, 1996, p. 2). Foi com base nesta afirmativa que decidi estudar a geração anterior desses 400 intelectuais, a fim de entender as similitudes deixadas ou não, e até que ponto essa geração era alfabetizada. Dos 400 intelectuais oitocentistas sergipanos com escolarização analisados na minha dissertação, apenas cinco1 nasceram durante o século XVIII, o que demonstra serem poucos 1. Antonio Moniz de Souza, nascido em 1782, Bento de Melo Pereira, nascido em 1780, Joaquim Martins Fontes, nascido em 1798 e José Francisco de Menezes Sobral, nascido em 1788 (GUARANÁ, 1925, p. 28-29; 48;.

(23) 22. os setecentistas sergipanos que receberam uma formação superior, fato esse ratificado por Maria Thétis Nunes ao afirmar que, até 1822, somente cinco sergipanos2 estavam registrados nos arquivos da Universidade de Coimbra recebendo diploma de bacharel, devido às precárias condições socioeconômicas de Sergipe. No final do século XVII3, Sergipe crescia econômica e socialmente, necessitava de pessoas com mais instrução para ocupar determinados cargos como o de Ouvidor, fato que comprova a representação da Câmara de São Cristóvão, em 1694, enviada ao Rei solicitando um ouvidor letrado “[...] que exercesse o cargo acima dos interesses locais, substituindo os ouvidores que, sem ciência, nem experiência, ignoravam as leis”. (NUNES, 1996, p. 85), solicitação a qual foi atendida. Para Maria Thétis Nunes (1984), as limitações no desenvolvimento da educação em Sergipe estão relacionadas às condições da população espalhada pelo interior da capitania 4, gerando assim uma sociedade basicamente rural, por isso não havia alunos a serem moldados pelos ensinamentos jesuíticos. Afirma a autora que: “Apesar da longa permanência em Sergipe, os jesuítas nunca haviam enveredado pelo ensino das Humanidades, embora tentativas houvessem sido feitas pelos habitantes da terra desde 1684 [...]” (NUNES, 1984, p. 22). Mas onde e com quem alguns destes indivíduos, aqui analisados aprenderam a ler e escrever5? Com os religiosos missionários? Professores particulares? Muitos deles nascidos no século XVII, como o caso de Duarte Moniz Barretto 6, cuja naturalidade e filiação assim declara: “[...] sou natural desta fregeusia de Itabahyanna filho legitimo de Antonio de Oliveira de Carvalho e de Donna Maria de Barros já defuntos moradores que forão nesta mesma freguesia da Itabahianna [...]”. A resposta talvez esteja na afirmação que Nunes (1996) faz sobre a educação em Sergipe no período colonial: “Suprindo a falta da atuação do poder público, funcionavam as aulas particulares, em sua maioria no interior das casas-grandes dos 166); Estacio Muniz Barreto, nascido em 1792 (SILVA, 2000, p. 349); e Manoel Fernandes da Silveira, nascido em 1754 (BITENCOURT, 1913, p. 128). 2 Lopo Gomes de Abreu Lima, matriculado em 1732, Francisco Gomes de Abreu Lima, matriculado em 1737, bacharel em Cânones, Pedro Tomás da Rocha, matriculado em 1751, Antônio Dinis Ribeiro de Siqueira e Melo, matriculado em 1793, José Nunes Barbosa Madureira Cabral, formado em 1822 ( NUNES, p. 266). 3 Encontrei diversos documentos no Arquivo do Conselho Ultramarino, dos camaristas coloniais sergipanos e demais autoridades seiscentistas tratando sobre os variados assuntos administrativos da Capitania de Sergipe Del Rey, desde o século XVII. 4 A Capitania de Sergipe foi criada em 1º de janeiro de 1590 por Cristóvão de Barros. Em 1696 teve sua autonomia judiciária com a criação da Ouvidoria de Sergipe. 5 Até o momento, não localizei as relações das aulas régias do século XVIII da Capitania de Sergipe Del Rey, contendo os nomes dos professores e alunos. Identificá-los no século XVII , parece-me uma missão impossível. 6 APES - Coleção Sebrão Sobrinho - Caixa 32..

(24) 23. engenhos e fazendas, responsáveis pela alfabetização dos filhos dos senhores de terra e agregados à sociedade patriarcal”. Concluindo Nunes que o Alvará de 28 de junho de 1759 que expulsou os jesuítas de Portugal e seus domínios e tirou o monopólio do ensino não trouxe modificações na vida educacional de Sergipe. (NUNES, 1996, p. 265-266). Apesar de São Cristóvão ser o centro das decisões político administrativas da Capitania de Sergipe, no âmbito econômico não era tão próspera, sendo mais uma cidade administrativa. Entretanto, burocratas e religiosos formavam a elite instruída de Sergipe, uma vez que para o desempenho destas funções era essencial saber ler e escrever e até mesmo ser letrado7, como no caso dos ouvidores8. Este mesmo entendimento acerca da instrução no Brasil tem Diana Gonçalves Vidal e Luciano Mendes de Faria Filho (2005) ao analisarem as casas-escola dos séculos XVIII e XIX. Concluem que “O período colonial legou-nos um número muito reduzido de escolas régias ou de cadeiras públicas de primeiras letras, constituídas, sobretudo, a partir da segunda metade do século XVIII” (VIDAL e FARIA FILHO, 2005, p. 45) e alertam para o fato de não serem apenas os alunos, frequentadores de escola, que tinham acesso às primeiras letras:. [...] ao contrário, existem indícios de que a rede de escolarização doméstica, ou seja, do ensino e da aprendizagem da leitura, da escrita e do cálculo, principalmente da primeira, atendia a um número de pessoas bem superior ao da rede pública estatal. Elas eram chamadas de escolas particulares ou domésticas. Existiam também os colégios masculinos e femininos e a preceptoria (VIDAL; FARIA FILHO, 2005, p. 45).. Recentes estudos a respeito da educação no Brasil têm lançado outros olhares acerca de algumas afirmativas cristalizadas pela historiografia tradicional, pois “[...] muitos historiadores da educação tendem (tendiam) a narrar a História que pesquisa(vam) de um modo linear, progressivo, apagando as possíveis descontinuidades, retrocessos, ambigüidades e contradições que caracterizam a História” (LOPES e GALVÃO, 2001, p. 38). Nesta perspectiva, constatar avanços e retrocessos no método educacional do Brasil e Sergipe em vários momentos não depõe contra essa memória, apenas demonstra que o processo civilizatório da humanidade é também feito de percalços.. 7. 8. Letrado no século XVIII é o termo utilizado para os indivíduos com formação superior. Ver CAVALCANTE, Berenice. Os ‘letrados’ da sociedade colonial: as academias e a cultura do Iluminismo no final do século XVIII. ACERVO, Rio de Janeiro, v. 8, n° 1-2, p. 53-66, jan/dez 1995. Com a criação da Comarca de Sergipe em 1696 ocuparam o cargo de Ouvidor 21 doutores em Direito (letrados) de 1696 a 1812. (NUNES, 1996, p. 299-300)..

(25) 24. 2 – A PESQUISA 2.1 – O PERCURSO DA PESQUISA. Ao iniciar esta pesquisa estava tudo cronometrado e posto no cronograma que apresentei no projeto de doutorado. Tinha como fonte principal os testamentos, os quais, digitalizados no Arquivo Geral do Judiciário, permitir-me-iam trabalhar em casa, facilitando o processo de transcrição. Depois era só colocar os dados em campos específicos de informação e escrever a tese. Doce engano. Descobri, juntamente com uma colega de doutorado à época, Vera Maria dos Santos, que havia dezessete inventários setecentistas no Arquivo Público Estadual de Sergipe, na Coleção Sebrão Sobrinho. Em conjunto, fotografamos este acervo e o incluímos em nossas pesquisas, mas devido estarem muito danificados e à falta de tempo para trabalhar as imagens, ler esses escritos foi bastante difícil, bem diferente dos documentos digitalizados pelo Arquivo Geral do Judiciário 9, uma vez que todas as imagens receberam tratamento digital, além de contar com um catálogo que continha os dados principais dos documentos, como data, comarca, partes identificadas, relação dos bens. As transcrições previstas para serem concluídas em um ano, adentraram o segundo e quando tudo parecia contornado, percebi que não havia transcrito os testamentos em sua íntegra, faltavam os termos de aprovação e de abertura que davam novos dados, supriam lacunas, confirmavam dúvidas. Sanados estes problemas, transcrição concluída, dados tabulados e gráficos feitos, uma pesquisadora10 encontrou alguns testamentos setecentistas na documentação do século XIX. Inventários do início dos oitocentos que tinham anexados testamentos feitos nos setecentos, prestações de contas de testamenteiros com atraso de 20 anos, livros de registros de testamentos oitocentistas com testamentos setecentistas e, assim, tive que fazer um novo levantamento nos inventários, prestações de contas de testamenteiros e livros de testamentos do século XIX indo até a década de 1830. Foram encontrados 17, alguns com inventários. Os novos testamentos11 foram transcritos e inseridos no banco de dados, anulando assim toda a tabulação antes feita. As assinaturas coletadas foram trabalhadas no. 9. A digitalização dos inventários setecentistas que estão no Arquivo Geral do Judiciário, faz parte do Projeto de Gestão Documental do Poder Judiciário de Sergipe, o qual tem como subprojeto, A memória judiciária colonial de Sergipe. Esta documentação vem sendo tratada no laboratório do Arquivo Judiciário, digitalizada e indexada objetivando torná-la acessível aos pesquisadores sem, contudo, danificá-la devido ao seu estado de fragilidade física. As séries documentais, inventários, testamentos, livros de testamentos e livros de notas já foram tratados, digitalizados e indexados, estando disponíveis em DVDs aos pesquisadores. 10 Joceneide da Cunha dos Santos. 11 Os 95 testamentos transcritos totalizaram 229 páginas..

(26) 25. fotoshop para, assim, tirar a interferência de outros traços e melhorar a visualização das mesmas. Com os novos dados inseridos e analisados fui escrever o capítulo que caracterizava esta população, a fim de facilitar para o não conhecedor da História de Sergipe, entender a alfabetização desta sociedade. Surge novo problema: como proceder para não repetir o que os outros já haviam escrito? Fiz e refiz gráficos, tabelas, quadros, li e reli os testamentos quando descobri algo a mais que apenas dados, o cotidiano familiar: religiosidade, casamento, concubinato, legitimação, filhos naturais, expostos, dotes, bens, cargos, disputas familiares, vestígios da alfabetização via assinaturas, declarações, procurações, petições, tudo entrelaçado com a legislação civil e religiosa sob o manto da cultura escrita e, assim, comecei a escrever o capítulo sobre esta elite abordando as facetas do cotidiano destes indivíduos. Mas só os testamentos não me dariam uma visão mais ampliada dessa população. Não inserir os inventários cujos inventariados faleceram sem testamento, por uma opção individual ou por prolatarem e morrerem antes de fazê-los, seria tornar essa elite não representativa de seu tempo e espaço. Neles há informações sobre educação, postas nas assinaturas dos inventariantes, parte representante dessa elite, disputas familiares, nos recibos, rol de dotes, bilhetes, cartas, tutelas. E por isso os 65 inventários de ab intestados12 foram incluídos, perfazendo assim 88 inventários13. Assim, completei um conjunto de 160 documentos que retratam a elite setecentista da Capitania de Sergipe Del Rey, quanto ao cotidiano familiar de seus membros alfabetizados ou analfabetos inseridos no mundo da cultura escrita. 2.2 – METODOLOGIA. A metodologia utilizada referente às fontes judiciais foi para os testamentos a transcrição na íntegra de todos encontrados do século XVIII, eliminando os que não continham dados suficientes a serem analisados, que resultou na seleção de 95 testamentos que compõem esta pesquisa; e para os inventários com ou sem testamentos a indexação página a página (assinaturas, bens, sentenças, pareceres, petições, declarações, procurações, partilha, monte mor, quinhões, dote, tutela, entre outros) de forma a permitir uma rápida localização dos dados quando necessário. 12. Ab intestados eram denominadas as pessoas que morriam sem testamento, uma vez que nem todos faziam testamento, como as crianças, os que morriam subitamente e os escravos. Nesta pesquisa, nenhum testamento de escravos nem de pessoas sem renda no século XVIII foi localizado. 13 No total de 5.910 páginas..

(27) 26. Para trabalhar com um grande volume, foram criados dois bancos de dados: um para os testamentos e autos com testamentos (inventário, apelação, justificação, prestação de contas de testamenteiro) e outro para os inventários sem testamento. A opção em não juntar os dois bancos se deu devido às especificidades de informações que ambos fornecem, ficando mais fácil para escrever com eles separados. Os dados da documentação judicial (inventários, testamentos, autos judiciais) foram cruzados, quando se fez necessário, com a do Conselho Ultramarino (requerimentos, consultas, cartas, representações, despachos, avisos, certidões, provisões e atestados) tendo como suporte de interpretação das informações documentais a bibliografia pertinente ao assunto. 2.3 – HIPÓTESE Considerando as leituras realizadas e o objetivo da pesquisa – analisar a elite do século XVIII, domiciliada em Sergipe, independente de ser ou não sergipana e de possuir formação acadêmica ou não, na perspectiva de verificar o nível de alfabetismo e letramento daquele grupo social – emergiu a seguinte hipótese: apesar de Sergipe ser no século XVIII uma capitania subalterna administrativamente à Bahia 14, de não ser de ponta da economia colonial, nem urbana nem mineradora, cuja maioria da população morava na zona rural, havia uma elite não só econômica, política e social, mas também instruída 15. Tal elite era composta não só por agentes judiciários (juízes, escrivães, tabeliães, avaliadores, partidores, oficiais de justiça, dentre outros), agentes administrativos (ouvidores, capitães-mores, sargentos-mores, camareiros etc.), profissionais liberais (advogados, médicos), religiosos, militares, como também negociantes, e os despossuídos desta instrução elementar (ler, escrever e contar) recorriam a eles, aos profissionais da escrita, aos escreventes, parentes e amigos para terem e fazer valer seus direitos legais, não alterando em muito o seu cotidiano social, jurídico e religioso pelo fato de não serem instruídos. Neste estudo irei trabalhar com as seguintes categorias de análise: cultura escrita e elite. A primeira categoria, cultura escrita, apoia-se no fato de que a percepção do nível de alfabetismo e letramento de um determinado grupo social, em uma específica época, não passa somente pela instrução escolar. Podemos captar este universo por meio das habilidades 14. Somente em 08 de julho de 1820, por meio de Carta Régia, D. João VI outorgou à Capitania de Sergipe a sua autonomia em relação à Capitania da Bahia. 15 Denomino de “instruídas” as pessoas que sabiam ler, escrever e contar no século XVIII, tivessem elas instrução superior ou não..

(28) 27. de ler, escrever e contar, necessárias ao exercício de atividades administrativas e judiciárias, funções religiosas e escrituração contábil dos negociantes. Mas como mensurar essas habilidades se os registros deixados fornecem apenas vestígios do escrever através das assinaturas, declarações e raros registros das práticas do ler? Vestígios esses merecedores de uma cuidadosa investigação, através de escalas de marcas autográficas (assinaturas), uma vez que, ao analisar as potencialidades das assinaturas 16, Chartier diz que uma das dimensões da história da educação reside no. [...] entrecruzamento entre a história do livro e a história da educação do ponto de vista da história da alfabetização, da transmissão da capacidade de ler e escrever. O problema para os historiadores é que não é fácil medir o resultado da transmissão dessas capacidades. A única fonte global que permite estudos quantitativos de longa duração [sic] é a que oferecem as assinaturas, principalmente dos arquivos de cartórios ou os registros paroquiais. (CHARTIER, 2001, p. 74).. O referido questionamento quanto às potencialidades das assinaturas é também realizado por Magalhães:. Qual o indicador básico sobre o desempenho de tais capacidades? Como medir o nível de alfabetização? Se os processos de alfabetização variam de acordo com as circunstâncias históricas, como medir a capacitação alfabética de determinado grupo social? Como comparar os processos de alfabetização de grupos sociais diferentes? Qual o nível de capacitação alfabética e quais as destrezas mentais adequadas a um determinado contexto histórico, ou mais especificamente adequadas a uma participação consciente e activa em circunstâncias históricas específicas? A informação sobre práticas de cultura escrita, nomeadamente sobre as suas funções, pode colher-se numa vasta panóplia de documentos históricos: testamentos, escrituras, declarações diversas, assentos de baptismos e de casamento, censos e inventários, processos diversos. Como aceder ao conhecimento das práticas e níveis de capacitação pessoal? (MAGALHÃES, 2001, p. 73).. Assim, dentro desta categoria macro, ou seja, cultura escrita, está o seu ponto central de existir – a alfabetização – e com ela todos os questionamentos acerca dos níveis apreendidos pelos indivíduos alfabetizados, como também a inserção dos analfabetos neste universo, através dos mediadores da cultura escrita, os profissionais da escrita, os escreventes e parentes instruídos. A cultura escrita é entendida:. 16. Para Justino Magalhães, “A assinatura é a marca mais universal de alfabetismo, sobretudo para o Antigo Regime”. (MAGALHÃES, 2001, p. 116)..

(29) 28. [...] por toda a materialidade construída pelos códigos linguísticos que permitem representar simbolicamente a realidade de forma inteligível e transmissível no interior das comunidades humanas (representação), por outro lado e, por outro, as práticas e capacidades de apropriação, autonomia, criatividade e sentido crítico, a leitura e a escrita (MAGALHÃES, 2001, p. 43-44).. Acerca da segunda categoria, elite, o conceito aqui estabelecido é o de Barata e Bueno (1999) que a concebe como “[...] um pequeno grupo que, num conjunto mais vasto – religioso, cultural, político, militar, econômico, social ou outro – é tido como superior pelas suas funções de mando, de direção, de orientação ou de simples representação” (BARATA; BUENO, 1999) e o de Peter Burke (BURKE, 1991) que leva em conta para pertencimento de uma elite status, poder e riqueza. O termo elite adotado é pertinente, uma vez que o grupo de indivíduos analisado nesta pesquisa é constituído por aqueles que tinham bens e faziam testamento17 dispondo de sua terça18 como lhes convinha e os “ab intestados” com bens que após a morte a justiça processava o inventário para, legalmente, distribuir os bens entre os herdeiros. Partindo da concepção de Mills (1975)19 sobre elite – de que existem várias elites que se ligam intrincadamente, formando um grupo denominado por ele de elite do poder, não sendo, portanto, nenhuma elite um bloco uniforme – neste trabalho a elite estudada não é somente a instruída, mas também a não instruída que, detentora do poder econômico, de representação social ou religiosa, apesar não ter instrução, interage com a instruída, desenvolvendo estratégias de representação quanto às habilidades de ler, escrever e contar, quando faziam-se necessário alguma ação jurídica ou comercial, e nos demais aspectos da vida em comunidade, sem que fosse preciso deixar o poder de mando. Com base neste aporte teórico e considerando as categorias de análise selecionadas, avaliarei o nível de alfabetismo e letramento a partir das fontes trabalhadas, numa perspectiva histórica. Os métodos utilizados são o prosopográfico e o paradigma indiciário de Carlo Ginzburg (1989) que possibilitam encontrar nos documentos pistas, indícios dos níveis de alfabetismo e letramento dessa elite nas entrelinhas da escrita jurídica. O método prosopográfico busca revelar as similitudes permanentes ou transitórias de um grupo social, historicamente. Para isso:. 17. Na análise de mais de cem testamentos, não encontrei um que apenas tratasse da parte religiosa. A terça parte da meiação do casal, que o cônjuge vivo pode dispor a seu querer. 19 MILLS, 1975. p. 25. 18.

(30) 29. [...] define uma população a partir de um ou vários critérios e estabelecer, a partir dela, um questionário biográfico cujos diferentes critérios e variáveis servirão à descrição de sua dinâmica social, privada, pública, ou mesmo cultural, ideológica ou política, segundo a população e o questionário em análise. [...] Uma vez que reunida a documentação, e esta é a parte mais longa do trabalho, o exame dos dados pode recorrer a técnicas múltiplas, quantitativas ou qualitativas, contagem manuais ou informatizadas, questionários estatísticos ou análises fatoriais, segundo a riqueza ou a sofisticação do questionário e das fontes (CHARLE, 2006, p. 41).. O método indiciário de Carlo Ginzburg induz a olhar os documentos de forma microscópica, mas não fantasiosa, recuperando dados embutidos na linguagem de uma época que traduz a maneira de ser e viver de uma geração. Portanto, utilizarei esse método para analisar o grupo de 160 moradores que constitui a elite setecentista de Sergipe. Seguindo o princípio explicitado acima por Christophe Charle, no método prosopográfico, a população definida para este estudo é a moradora de Sergipe Del Rey no século XVIII. O questionário biográfico necessário para a análise é um banco de dados constituído de vários campos20 que permite a percepção individual e coletiva do grupo estudado e a análise dessa elite do poder,21 com referência ao nível de alfabetismo e letramento, e às estratégias utilizadas pelos seus membros analfabetos para terem e fazer valer seus direitos legais dentro do mundo da cultura escrita. Utilizando o método prosopográfico, os documentos foram desconstruídos e fragmentados em vários campos. Os dados transformados em estatísticas, gráficos, quadros, tabelas , permitiram perceber as características do grupo. Com o método indiciário, os dados foram visualizados nas entrelinhas da escrita jurídica e neste desconstruir e voltar ao texto (testamento/inventário), o nível de alfabetismo e letramento será conhecido e entendido dentro do tempo cronológico, geográfico e histórico desta sociedade.. 20. Os campos do banco de dados são os seguintes: ano, nome do testador/inventariado, filiação do testador/inventariado, estado civil do testador/inventariado, ocupação do testador/inventariado, cargo do testador/inventariado, nome da propriedade do testador/inventariado, local e data de feitura do testamento, local e data do falecimento, local e data da aprovação do testamento, local e data de abertura do testamento, cônjuges, filhos legítimos, filhos naturais, dote, parentes do testador/inventariado, compadres do testador/inventariado, bens arrolados no testamento e no inventário, escravos declarados no testamento e no inventário, dívidas ativas declaradas no testamento e no inventário, dívidas passivas declaradas no testamento e no inventário, estado de saúde do testador, irmandades, ordens terceiras do testador, local de sepultamento do testador, vontades religiosas do testador, nível de instrução do testador/inventariado, escrevente do testador, a rogo do testador, sinal costumado do testador, testemunhas no testamento, tipo de testamento, nacionalidade do testador, naturalidade do testador, procedência do testador/inventariado, cargo e parentesco do testamenteiro, nome do inventariante, cargo e parentesco do inventariante, monte mor, comarca, data, instituição, observações e referência arquivística. 21 Formada pelos detentores de cargos e/ou bens..

(31) 30. 2.4 – AS FONTES: TESTAMENTOS E INVENTÁRIOS. As fontes quando olhadas dentro do seu tempo-espaço vão, aos poucos, descortinando o véu do esquecimento e expondo cenários e atores, cujas vozes, gravadas nos registros documentais, dizem um pouco mais do real de suas vidas, do que quando são narradas por outros que, às vezes, apenas repetem o que ouviram dizer. E foram tantas as cenas, diálogos, que por alguns momentos me perdi neste borbulhar de vidas, pois, ao serem indagadas, nem sempre diziam o que eu queria ouvir, nem sempre confirmavam o que os outros historiadores afirmavam. 2.4.1 – Os testamentos. A opção pelos testamentos como fonte principal deve-se a dois fatores: Primeiro, este estudo analisa as habilidades de ler e escrever de um grupo específico, a elite, e só deixava testamento quem tinha bens, fossem eles móveis, imóveis, semoventes (animais e escravos), dinheiro, joias etc., além do fato de que nos fornecem dados individuais (naturalidade, filiação, estado civil), como também relações parentais, de compadrio e de amizade. A fortuna registrada nos testamentos representa apenas uma terça parte da metade dos bens do testador, que poderia dispor livremente quando era casado e com filhos. Era o sistema de meação, do qual Almeida (2002) nos dá uma visão parcial dessas fortunas:. A divisão neste sistema era feita em duas partes iguais, uma dividida igualitariamente entre os herdeiros legítimos, onde também eram retiradas as despesas do funeral. Mas na existência de um testamento, a partilha era feita da seguinte maneira: somada a totalidade dos bens do falecido, e [sic] suprimido as despesas do funeral e dívidas, do restante metade iria para o cônjuge e a outra metade a terça parte iria para o legatário; e as outras terças partes, dividiam-se entre os herdeiros do defunto. (ALMEIDA, 2002, p. 9).. O segundo fator é que nos testamentos podemos captar os indícios sobre os níveis de alfabetismo e letramento, uma vez que o testador sempre informava se sabia ler e escrever, além de revelar outros dados importantes sobre a educação, como quem eram os agentes.

(32) 31. intermediários da cultura escrita, parentes e amigos ou os escreventes 22, como fez o português natural da Freguesia de Escariz, Termo da Vila de Cabeçais, no Bispado do Porto, Manoel da Rocha Rios, morador em São Cristóvão:. [...] em casa da morada da Manoel da Rocha Rios onde eu Tabeliam por elle fui chamado e sendo ahi em prezença das testemunhas adiante nomeadas e assignadas de suas mãos as de mim Tabeliam me foi dado este papel dobrado dizendo me era ser o seu solenne testamento de ultima e derradeira vontade e que a seu rogo lhe escreveu Alberto Joam de Jesus Moura elle testador ditando e o ditto escrevendo e que depois de escrito lhe lera de verbo adverbum e o achara muito a seu contento na forma em que o havia ditado o qual assignaram [ilegível] elle o testador mais tambem o dito escrevente, [...]. (grifo meu 23).. O testador também informava se possuía ou vendia livros, se tinha livro de razão, rol ou contas24, quando comerciante. Emitia recibos ou bilhetes que funcionavam, por vezes, como letras de câmbio encontradas no inventário; manifestava preocupação com a educação dos filhos ou dos netos deixando recursos financeiros e as assinaturas próprias ou a rogo de alguém com instrução25. Tudo isso são vestígios materiais capazes de fornecer um esboço do nível de alfabetismo e letramento da sociedade da época. Assim como foi exposto, os testamentos “[...] apesar de serem relatos individuais, expressam modos de viver coletivos e informam sobre o comportamento se não de toda a sociedade, pelo menos de grupos sociais.” (BIVAR, 2000, p. 4). Através desses, podemos perceber o nível de alfabetismo e letramento da elite setecentista moradora em Sergipe e a quem outorgava como seus representantes os que não o possuíam. Os testamentos utilizados neste estudo foram encontrados em livros de registro de testamento (72, todos traslados) e nos inventários (23, dos quais nove são originais e 14 traslados).. 22. Escreventes eram pessoas que desempenhavam as funções inerentes à escrita. O escrevente ou copista de repartição pública era chamado de amanuense. 23 AGJ-SCR/C.1ºOF. Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 03 - p. 01-07. 24 Eram livros onde se laçavam as transações comerciais, o que atesta o conhecimento mesmo que elementar da escrita, leitura e contabilidade. Ver testamento de Jozé Antonio Borge de Figueredo, de 23 de abril de 1786. p. 02. AGJ-SCR/C. 1º OF Livros de Testamentos Cx. 62 – Lv 07 – p. 01-09 “Declaro que devo ao meu sogro o Senhor Tenente Coronel Francisco Xavier de Oliveira Sobral o que consta do seu livro de contas e dos meos asentos”. 25 No Brasil o Censo de 1872 (primeiro a ser realizado), o índice de pessoas alfabetizadas era de 18% entre pessoas de cinco anos a mais. (GALVÃO et al., 2007, p. 11). Em Portugal o Censo de 1878, revelava que cerca de 80% dos residentes em Portugal Continental e Insular, não sabiam ler, nem escrever (MAGALHÃES, 2001, p. 80). No século XVIII, tanto em Portugal como no Brasil, certamente, o índice de analfabetos era maior..

Referências

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