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Quarta-feira, 20 de janeiro de 2021 I Série Número 40 XIV LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA ( ) REUNIÃO PLENÁRIA DE 19 DE JANEIRO DE 2021

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XIV LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2020-2021)

REUNIÃO PLENÁRIA DE 19 DE JANEIRO DE 2021

Presidente: Ex.mo Sr. Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues

Secretárias: Ex.mas Sr.asMaria da Luz Gameiro Beja Ferreira Rosinha Ana Cristina Cardoso Dias Mesquita

S U M Á R I O

O Presidente declarou aberta a sessão às 15 horas e 6 minutos.

Ao abrigo da alínea a) do n.º 2 do artigo 224.º do Regimento, procedeu-se a um debate com o Governo sobre

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política geral, tendo o Primeiro-Ministro (António Costa) e os Ministros da Administração Interna (Eduardo Cabrita) e da Saúde (Marta Temido) dado resposta às perguntas formuladas pelos Deputados Adão Silva (PSD), Catarina Martins (BE), Jerónimo de Sousa (PCP), Telmo Correia

(CDS-PP), André Silva (PAN), José Luís Ferreira (PEV),

João Cotrim de Figueiredo (IL), Ana Catarina Mendonça Mendes (PS), Mónica Quintela e Clara Marques Mendes

(PSD), Porfírio Silva, João Paulo Correia e Maria Antónia de Almeida Santos (PS), João Oliveira (PCP) e Inês de Sousa Real (PAN).

Deu-se conta dos Deputados que estiveram presentes, por videoconferência, na reunião plenária.

O Presidente encerrou a sessão eram 18 horas e 36 minutos.

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O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas, Sr.as e Srs. Agentes da autoridade, vamos dar início à nossa sessão plenária.

Eram 15 horas e 6 minutos.

Srs. Deputados, como sabem, a nossa ordem do dia de hoje consiste num debate com o Governo, sobre política geral, com a presença do Primeiro-Ministro, ao abrigo da alínea a) do n.º 2 do artigo 224.º do Regimento da Assembleia da República.

Tem a palavra, em primeiro lugar, pelo Grupo Parlamentar do PSD, o Sr. Deputado Adão Silva.

O Sr. Adão Silva (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, vivemos hoje tempos duros, tempos difíceis, tempos tristes, talvez dos mais tristes e mais duros desde o 25 de Abril de 1974.

O PSD quer, no início deste debate, tornar pública a sua solidariedade para com todas as famílias que já sofreram na carne as mortes provocadas por esta pandemia.

Por outro lado, o PSD quer também elogiar os milhares e milhares de profissionais da saúde que, sem medida, de forma pronta, generosa, voluntária, procuram salvar vidas, muitas vezes de pessoas que nem sequer conhecem, correm riscos, riscos ingentes da própria vida, com generosidade, com altruísmo e com abnegação. Os portugueses ficarão devedores, durante muitos anos, a esses profissionais de saúde. Isto nunca é demais sublinhar.

É com muita honra e com muito orgulho, Sr. Presidente e Sr.as e Srs. Deputados, que o PSD tem, na sua bancada, um Deputado que, nos seus tempos fora do Parlamento, reassume as suas funções de médico, médico infeciologista, para salvar vidas, amenizar o sofrimento e trazer esperança aos cidadãos que buscam a salvação nos hospitais, particularmente no hospital de Cascais.

Ali, na linha da frente, ali, no covidário, é onde se encontra o Deputado Ricardo Baptista Leite quando não está no Parlamento.

Aplausos do PSD.

É um prazer Ricardo, é uma honra! Obrigado, Ricardo Baptista Leite, Dr. Ricardo Baptista Leite, pela generosidade e pelo altruísmo perante aqueles que sofrem e que vês morrer no hospital de Cascais.

Nos hospitais de Cascais, de Santa Maria, de São José, dos Covões, em Coimbra, de Garcia de Orta, de Torres Vedras, neste momento vivem-se horas dramáticas por ser cada vez mais difícil responder não apenas aos cidadãos com COVID, mas também a outros cidadãos que procuram salvar as suas vidas, combater a sua doença e que já não têm a possibilidade que se esperava e que deviam ter. Como, aliás, demonstra o despacho da Sr.ª Ministra da Saúde. Estamos a deixar pessoas para trás.

Ontem, Portugal era o pior país do mundo em relação ao número de infeções por milhão de habitantes. Ontem, Portugal era o segundo pior país da União Europeia em relação ao número de mortes, depois da República Checa, estando a República Checa a diminuir e Portugal ainda a aumentar — hoje, mais 218 cidadãos faleceram. Portanto, a sensação que há é a de que longe vão os tempos do tão propalado, e correto, «milagre português».

Por isso, Sr. Primeiro-Ministro, a primeira pergunta que lhe faço é a seguinte: como é que chegámos a esta situação? Sr. Primeiro-Ministro, como foi possível acontecer esta catástrofe humana, depois de tudo ter corrido tão bem nos meses de março e de abril do ano passado?

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro (António Costa): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Adão Silva, muito obrigado. Sr. Deputado, acho que fez uma excelente síntese daquele que é o sentimento partilhado por todos os portugueses. Vivemos, seguramente, um dos momentos mais tristes, de maior dor e sofrimento, e a

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solidariedade que devemos ter para com cada uma das famílias enlutadas, para com cada um dos doentes infetados, para com aqueles que estão, neste momento, isolados profilaticamente é o que nos deve impelir a todos a procurar encontrar as melhores respostas para enfrentar esta pandemia.

Esta pandemia tem tido, nos diferentes países do mundo, fases diversas. Quando a imprensa estrangeira, e até o nosso Presidente da República, se referia ao «milagre português», eu sempre disse que era preciso ter a serenidade para se ver o que iria acontecer a seguir, porque esta pandemia não tinha vindo para 15 dias, não tinha vindo para três meses, era mesmo uma maratona — é a expressão que tenho utilizado. E é uma maratona muito dura, que vai exigir sempre que, simultaneamente, trabalhemos em duas dimensões fundamentais, sendo uma a de continuarmos a aumentar a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde, que é uma capacidade de resposta flexível, extensível, que tem conseguido, até agora, responder aos momentos de maior necessidade e de forma progressiva em função das necessidades.

Em meados de outubro, quando o Governo declarou o estado de calamidade, tínhamos 1424 camas afetas à COVID; em final de novembro, tínhamos alargado esse número para 3545 camas; hoje, temos 5795 camas ocupadas com doentes COVID e ainda temos capacidade de extensão.

Se me pergunta se a capacidade de extensão é ilimitada, dir-lhe-ei que todos sabemos que a capacidade de extensão não é ilimitada, porque ter camas para cuidados COVID não é só pôr camas, não é só pôr ventiladores, que felizmente tivemos a capacidade de duplicar, praticamente, desde março até agora; é fundamental o trabalho e a disponibilidade dos recursos humanos.

O Sr. Deputado referiu o Dr. Ricardo Baptista Leite, mas podemos, seguramente, referir todos os profissionais de saúde deste País que não têm virado a cara ao esforço que é necessário fazer para enfrentar e travar esta pandemia.

Aplausos do PS.

Há algo de que é absolutamente essencial termos consciência: podemos confiar nos profissionais de saúde, mas a maior ajuda que podemos dar aos profissionais de saúde é evitar sermos mais um doente ou criarmos mais um doente que eles tenham de tratar.

Ora, isso não depende nem dos médicos, nem dos enfermeiros, nem de nenhum outro profissional de saúde; isso depende de cada um de nós, na forma como adotamos as medidas de proteção individual e na forma como asseguramos o distanciamento físico e cumprimos as regras para travarmos esta pandemia.

É necessário endereçar uma palavra de louvor aos portugueses que foram, de facto, extraordinários nessa primeira vaga em março, que foram também extraordinários naquelas 19 freguesias que, em junho, resistiam à pandemia na Área Metropolitana de Lisboa e que voltaram a ser extraordinários quando, depois do verão, foi necessário quebrar a segunda vaga. E conseguimos fazê-lo de forma significativa até ao Natal.

Apesar do cansaço acumulado, apesar da dor acumulada, apesar das dificuldades acrescidas, porque há mais pessoas que perderam o emprego, porque há mais pessoas que perderam o rendimento, porque há mais empresas que estão mais frágeis, apesar disso tudo, tenho a certeza que os portugueses, de novo, vão mobilizar-se para travar esta terceira vaga e vão, de novo, conseguir superar, em conjunto, esta terceira vaga.

Aplausos do PS.

É nesse objetivo, Sr. Deputado, que o Governo está focado e é nesse objetivo que todos, estou certo, estamos focados.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Continua no uso da palavra o Sr. Deputado Adão Silva.

O Sr. Adão Silva (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, a importância dos profissionais de saúde é desmedida, e eu deixei-a aqui bem sublinhada. A questão da responsabilidade e da solidariedade individuais é absolutamente incontornável e eu diria, até, que esta é a circunstância, este é o momento em que todos

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somos postos à prova na necessidade de sentirmos o outro e de nos sentirmos membros de uma coletividade, de um grupo, de uma nação.

Mas, Sr. Primeiro-Ministro, quero dizer-lhe que, para que tudo isto funcione bem, é preciso que as regras sejam claras, sejam rigorosas, sejam regras bem explicadas. E no momento a que chegámos, como chegámos, à necessidade de um segundo confinamento, a sensação com que ficamos é a de que não foi isso que aconteceu.

O Governo não cumpriu o seu papel, o Governo, nesta matéria, foi vago, anunciou um confinamento de faz-de-conta, com tantas e tantas exceções sobre regras que deviam ser claras, límpidas, entendíveis. Aliás, o próprio Governo foi o primeiro a reconhecer que as regras não estavam bem desenhadas, não estavam bem delimitadas, não eram facilmente entendíveis. Por isso, o Sr. Primeiro-Ministro sabe que, de sexta para segunda-feira, foi preciso corrigir o que tinha ficado imperfeito e errado nessas instruções e nessas regras do confinamento. Ficámos perplexos!

Por isso, pergunto-lhe, Sr. Primeiro-Ministro: há aqui falta de planeamento por parte do Governo? Há aqui um exercício demasiado improvisador por parte do Governo? Há aqui falta de credibilidade de V. Ex.ª e da parte do Governo em relação aos portugueses, ou, ao contrário, há falta de confiança, neste momento, dos portugueses em relação ao Governo?

Deixo-lhe estas perguntas, Sr. Primeiro-Ministro.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Adão Silva, muito obrigado pelas perguntas, parte das quais deixarei para os analistas.

No que me diz respeito, direi sempre o seguinte: em setembro, o Governo declarou o estado de contingência; em 15 de outubro, declarámos o estado de calamidade; em 2 de novembro, pedimos a Sua Excelência o Presidente da República que decretasse o estado de emergência.

Como sabe, o Governo bateu-se, com grande consenso nacional, para que evitássemos, a todo o custo, um novo confinamento geral, porque todos temos bem a consciência de qual é o custo do confinamento geral.

Mas, em abril, quando começámos a preparar o desconfinamento para o mês de maio, eu também disse que nunca teria o menor rebuço ou a menor vergonha em dar um passo atrás se as circunstâncias o impusessem.

O que aconteceu ontem não foi termos de acrescentar ao que tínhamos dito na quinta-feira passada, foi termos em conta aquilo que estávamos a ver acontecer e que exigia uma resposta imediata. Quando permitimos a um restaurante que continue a funcionar em takeaway não estamos a abrir a porta para que se monte uma esplanada improvisada para as pessoas lá estarem a beber café ou a beber uma cerveja.

Aplausos do PS.

Foi esse sinal claro que quisemos dar.

Daremos sempre os sinais claros e tomaremos sempre as medidas que, em cada momento, se justificarem, com uma regra de bom senso e de equilíbrio que acho ser absolutamente essencial, que é a seguinte: fazer tudo o que é necessário, mas nada mais do que é necessário.

A Sr.ª Maria Antónia de Almeida Santos (PS): — Sabendo que é difícil!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Estamos a bater-nos, neste momento, por manter as escolas abertas, porque sabemos bem o enorme custo social que representa fechá-las. Amanhã, vamos iniciar uma campanha de testes rápidos em todas as escolas para aí se reforçar a segurança.

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Mas, Sr. Deputado, se para a semana, se amanhã, se depois de amanhã ou se daqui a 15 dias soubermos, por exemplo, que a estirpe inglesa se tornou dominante no nosso País, muito provavelmente iremos mesmo ter de fechar as escolas. Nesse caso, farei o que tenho de fazer, que é fechar as escolas.

Aplausos do PS.

Sr. Deputado, nessa altura, poderá vir dizer que recuei, mas com muito orgulho lhe direi que recuei porque farei sempre, em cada momento, o que, em minha consciência, for adequado fazer.

Neste momento, é adequado proteger e garantir a educação desta geração. Quando a sobrevivência desta geração depender do encerramento das escolas, isso será feito, se for necessário.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Continua no uso da palavra o Sr. Deputado Adão Silva, do Grupo Parlamentar do PSD.

O Sr. Adão Silva (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, vai, então, começar agora nas escolas a realização de testes rápidos. Vendo, como se está a ver, que os grupos etários mais afetados são os dos jovens entre os 13 e os 25 anos, pergunto: porque é que não começou mais cedo a realização de testes rápidos?

Aplausos do PSD.

Já agora, Sr. Primeiro-Ministro, porque é que não começou no princípio do ano a distribuição de computadores e a instalação de redes informáticas que V. Ex.ª prometeu em abril de 2020?

Aplausos do PSD.

Vou recordar-lhe, Sr. Primeiro-Ministro, aquilo V. Ex.ª disse em abril de 2020 e que, seguramente, não esqueceu. Foi o seguinte: «Assumimos um objetivo muito claro. Vamos iniciar o próximo ano letivo assegurando o acesso universal à rede e aos equipamentos a todos os alunos dos ensinos básico e secundário». Mas, Sr. Primeiro-Ministro, até ao final do primeiro trimestre, só um décimo dos computadores necessários tinha sido distribuído! Um décimo!

Sr. Primeiro-Ministro, se V. Ex.ª vier a encontrar, tecnicamente, razões — aliás, os técnicos estão a dizer que as há — para o encerramento das escolas, o PSD nunca dirá que V. Ex.ª recuou; o PSD dirá que, finalmente, V. Ex.ª tomou a decisão certa!

Aplausos do PSD.

Sr. Primeiro-Ministro, vou terminar.

V. Ex.ª disse que o que estávamos a ver a acontecer exigia uma resposta imediata e, como ainda tem alguns segundos para me responder, pergunto-lhe: vendo o que estava a ver, tal como eu estava a ver, na sexta-feira, no sábado e no domingo, em que a redução de circulação tinha sido de apenas 30% em relação ao fim de semana anterior, porque é que não foi aos noticiários da noite de domingo fazer um apelo instante aos portugueses, fazer pedagogia e exigir que cumprissem o que estava determinado no plano de confinamento? Porque é que V. Ex.ª não fez isso?!

Foi noticiado que ia fazer um Conselho de Ministros na segunda-feira, com novas medidas a serem aplicadas sabe-se lá quando e cujo efeito não se conhece. Mas, Sr. Primeiro-Ministro, na minha perspetiva, V. Ex.ª deveria ter ido, na noite de domingo, falar aos portugueses.

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O Sr. Adão Silva (PSD): — Sr. Presidente, concluo já.

É disso que o País precisa, de um Primeiro-Ministro presente, que lidere e atue no momento em que é preciso.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Primeiro-Ministro, António Costa.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Adão Silva, quem me dera que a única dúvida que eu tivesse na minha consciência fosse a de saber se deveria falar aos portugueses no domingo à noite ou reunir o Conselho de Ministros na segunda-feira à hora de almoço.

O Sr. Adão Silva (PSD): — As duas coisas!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Quem me dera que essa fosse a única dúvida na minha consciência!

Quanto ao mais, tem razão, não cumprimos os objetivos. Distribuímos, até agora, 100 000 computadores, que cobriram todos os alunos dos escalões A e B, e temos já adjudicados os 350 000 computadores restantes. Há pouco expressei-me mal. Disse que íamos começar a campanha dos testes de antigénio porque agora o vamos fazer de uma forma sistemática e como campanha, mas, felizmente, já temos feito testes de antigénio.

Sr. Deputado, posso dizer-lhe que o Sr. Presidente da República já promulgou o nosso decreto-lei, que será publicado ainda hoje e entrará em vigor às 0 horas de amanhã.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins, do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, permita-me que comece por dar nota da enorme preocupação pelo número de pessoas infetadas no País, pelo número de mortos — hoje, 218! — e é bom não naturalizarmos o que está a acontecer.

Queria expressar o meu pesar por todas as vidas que se perderam prematuramente por causa da COVID, bem como um enorme agradecimento para com os profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que têm sido incansáveis, e também para com os trabalhadores dos lares e de todos os serviços essenciais, da segurança, dos transportes, da limpeza, aqueles que garantem que não falta nada nas prateleiras dos supermercados, aqueles que estão todos os dias nas escolas, aqueles que todos os dias fazem com que não falte nada ao País em circunstâncias tão difíceis.

Temos de pensar em quem está a assegurar o País e de ter a enorme humildade de compreender a dificuldade que vivemos.

Sr.as e Srs. Deputados, tivemos divergências, nos vários momentos — e a democracia não para! —, sobre o que fazer, mas é uma imensa hipocrisia tentarmos atirar culpas de um lado para o outro, como se alguém aqui tivesse uma solução milagrosa para o que está a acontecer.

Vozes do PSD: — Oh!…

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Isso não aconteceu.

Temos divergências? Sim. Devemos debatê-las? Sim. E assim farei. Mas o que a responsabilidade nos pede neste momento não é o passa-culpas, mas sim o debater das soluções. Esta situação é, seguramente, das mais graves que já vivemos e a nossa solidariedade para com as famílias, para com quem perdeu os seus entes queridos, para com quem está doente, para com quem está na linha da frente é no sentido de discutir soluções de uma forma clara e da forma solidária como o País tem de enfrentar esta pandemia.

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O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Primeiro-Ministro, o Bloco de Esquerda tem critérios simples, os quais têm ditado a nossa atuação e aquilo que vamos propondo, em solidariedade com o que as autoridades de saúde vão decretando e contribuindo, a cada momento, com o que achamos que podem ser ideias e soluções. Achamos fundamental que pare aquilo que possa parar e cuja paragem trave contágios e que os setores afetados tenham o apoio de que precisam, porque as famílias têm de sobreviver. Já estamos no 11.º mês da pandemia e a situação social é muito dura. Sim, parar o que tiver de ser parado para travar contactos e contágios, com os apoios necessários, num País que já sofre há 11 meses com a pandemia.

Deve continuar tudo o que é essencial que se mantenha, garantindo, naturalmente, as condições de segurança de quem trabalha, garantindo as condições de segurança nos postos de trabalho e também as condições de segurança de conhecermos melhor o risco. Por isso, temos vindo a propor que haja mais testagem, rastreios e conhecimento do que está a acontecer no terreno.

Em terceiro lugar, defendemos que se reforce o Serviço Nacional de Saúde — que se reforce o Serviço Nacional de Saúde, repito! —, que, neste momento, está sob uma pressão inaudita e que tem de ser capaz de responder aos cuidados prioritários, COVID e não-COVID. O País depende do Serviço Nacional de Saúde e, portanto, é essa a nossa maior preocupação, sendo por aqui que queria começar o debate.

Sr. Primeiro-Ministro, a Ministra da Saúde anunciou, na semana passada, face à pressão no Serviço Nacional de Saúde, que se passava ao plano máximo de contingência, pelo que cuidados prioritários e até cirurgias prioritárias que não pusessem o doente em risco de vida ou de grave prejuízo seriam adiados. Temos os hospitais do SNS a adiar tudo, até cirurgias oncológicas, desde que não ponham vidas em risco imediato, para que seja possível responder à COVID e temos profissionais no SNS verdadeiramente exaustos. Exaustos, e eu diria que fazem milagres, mas não sei se lhes poderemos pedir mais. E como precisam de apoio!

Temos dito que é importante reforçar o Serviço Nacional de Saúde requisitando a capacidade instalada de saúde no País, social e privada. O Governo tem dito que prefere fazê-lo por acordo.

Sr. Primeiro-Ministro, na semana passada, os hospitais públicos passaram a contingência máxima e começaram a adiar cirurgias prioritárias, até oncológicas, porque o SNS já estava nos seus limites. De lá para cá, os casos de internamentos têm crescido em mais de 200 por dia e o que sabemos dos acordos que são feitos com os privados é que, na verdade, as camas que os privados disponibilizaram para COVID não chegam, sequer, para os novos infetados de hoje. São 80 camas e, só hoje, há mais 126 internados; ontem, houve mais 276, julgo eu, quase 300.

O que os privados estão, por acordo, a pôr à disposição do País para doentes COVID é uma gota de água no meio de um tsunami. E quando olhamos para tudo quanto os privados puseram à disposição, vemos que só disponibilizaram mais 800 camas para doentes não-COVID. A associação dos hospitais privados diz-nos que têm 1300 camas de internamento, mas o que estão a pôr ao serviço do País, por acordo, não chega a 8% da sua capacidade. São apenas 800 camas não-COVID e 80 camas COVID. Não chega, Sr. Primeiro-Ministro, não chega!

Se não é agora, quando será? O Governo disse que só iria requisitar os privados se e quando fosse preciso. Quando chegamos a números recordistas de vítimas e de internados, não é agora?! Quando os privados, depois de meses de negociação, não são capazes de disponibilizar ao Estado 10% sequer da sua capacidade, não é agora que os requisitamos? Se não é agora, quando será? Temos hospitais de campanha do SNS que não podem abrir porque não têm profissionais suficientes, mas há profissionais e instalações no privado e não as requisitamos. Se não é agora, quando será? Quando?

A nossa responsabilidade é cuidar deste País, cuidar dos doentes COVID e não-COVID, e é por isso que lhe deixo este apelo, Sr. Primeiro-Ministro: coloquemos toda a capacidade instalada de saúde do País, privada e social, sob a alçada e a articulação do SNS. Este momento não é o de cada um estar a remar para o seu lado, este momento é de articulação e de se responder, de uma forma disciplinada, às maiores necessidades do País.

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O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, como disse, e bem, o País tem conseguido enfrentar esta crise, mesmo em estado de emergência e sem suspender a democracia. E é muito importante que assim seja, porque do debate e do confronto de ideias resultam, em regra, melhores soluções, desde que o debate seja efetivamente dirigido à procura de soluções e não na lógica da confrontação.

Todos sabemos que a doença resulta do vírus e que ele não está sentado em nenhuma destas bancadas. Quem se senta nestas bancadas são os representantes dos portugueses que, legitimamente, têm diferentes opções políticas e diferentes soluções e ideias para o País. E temos conseguido, ao longo destes meses, um razoável consenso nos diferentes momentos em que tem sido necessário decretar o estado de emergência, em que tem sido necessário decretar medidas restritivas dos direitos, liberdades e garantias.

Já há muito tempo que não temos unanimidade, mas há, apesar de tudo, um consenso muito alargado. Esse debate é importante. Por exemplo, quando foi a altura de saber o que se fazia no Natal ou no Ano Novo, estabeleceu-se um bom consenso de equilíbrio entre maior oportunidade para as famílias se juntarem no Natal e o encerramento das oportunidades de encontro no período do Ano Novo. E assim devemos prosseguir.

Sr.ª Deputada, os instrumentos da lei devem ser utilizados sempre e quando necessários. Quer ao abrigo do estado de emergência, quer ao abrigo da própria Lei de Bases da Proteção Civil, é possível ao Estado requisitar quer meios humanos, quer meios materiais, quer, inclusive, estabelecimentos para desenvolver atividades que sejam imprescindíveis e que não seja possível desenvolver por outro via. Portanto, nós fá-lo-emos, mas entendemos que, neste momento, é absolutamente necessário não criar conflitos onde eles não se justificam e podermos chegar a acordo sempre que possível e tanto quanto necessário.

Perguntar-me-á se gostaria que tivéssemos um acordo mais amplo com o setor social e com o setor privado. Com certeza que sim! Estamos hoje melhor do que estávamos no passado: hoje, há cerca de 38 convenções que já estão assinadas, há já várias camas disponibilizadas, quer pelo setor social, em particular, mas também pelo setor privado, e o Governo não prescinde de utilizar, se e quando necessário, a medida da requisição quando ela se justificar. Ainda não chegámos a esse ponto e espero bem que nunca cheguemos a esse ponto!

E mais uma vez insisto: temos de olhar para a capacidade de resposta, mas o nosso foco tem mesmo de ser na nossa determinação na prevenção desta pandemia; na capacidade de cortar as cadeias de transmissão, e, por isso, é tão importante aumentar o número de camas em cuidados intensivos, mas é tão ou mais importante aumentar o número de rastreadores que, rapidamente, nos permitam acelerar os inquéritos epidemiológicos; na identificação dos casos a isolar, porque esta é a única forma de fazermos os cortes das cadeias de transmissão.

É, por isso, essencial darmos um novo impulso, ainda mais forte, à testagem. Desde o início desta pandemia, Portugal tem sido um dos países que mais testes tem realizado. Isso até nos deixou expostos, de uma forma difícil, num momento crítico para a nossa indústria turística, que foi o início do verão. Mas também não tivemos dúvidas de que, entre a proteção do turismo e a identificação dos casos que tínhamos de identificar para isolar e quebrar as cadeias de transmissão, não havia escolha a fazer: tínhamos mesmo de investir na testagem.

Agora, estamos a dar tudo por tudo para podermos manter o nosso sistema educativo em pleno funcionamento, para não perturbar, num segundo ano letivo consecutivo, a formação destas novas gerações. Sabemos hoje aquilo que já suspeitávamos em março, mas hoje podemos ter a certeza: é que o encerramento da escola pública, a ausência do ensino presencial agrava as desigualdades e prejudica, de modo irreversível, os processos de aprendizagem. Portanto, temos de ir até ao limite das nossas forças para proteger a escola pública. Por isso, vamos lançar uma nova campanha fundamental, já a partir de amanhã, começando nos concelhos de risco extremo, para aumentar a segurança nas escolas.

Felizmente, as escolas têm tido um número limitado de casos. Nenhum surto surgiu, até agora, essencialmente, no espaço escolar e temos, por isso, de continuar a acompanhar esse esforço para que este seja coroado com sucesso.

Por isso, Sr.ª Deputada, o que lhe quero assegurar é que, se e quando o Governo entender que é mesmo necessário proceder à requisição, iremos proceder à requisição, seja ao abrigo do estado de emergência, se ele o permitir, seja ao abrigo da Lei de Bases da Proteção Civil, porque essa, seguramente, o permite.

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Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Pelo Grupo Parlamentar do PCP, tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa. O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, permitam-me que também comece por subscrever a saudação que inicialmente aqui foi feita a todos os trabalhadores da saúde e também, se me permitirem, alargar essa saudação aos 2 milhões de trabalhadores portugueses, que, seja nas escolas, seja nos transportes, seja nas grandes superfícies, seja na produção agrícola, seja em tantos e tantos setores, conseguem trabalhar com risco para que muitos outros possam ficar confinados.

Aplausos do PCP e de Deputados do PS.

A situação sanitária, económica e social que o País atravessa exige do Governo medidas de emergência que vão ao cerne dos problemas e que assegurem as soluções necessárias e que não se limitem a medidas já tomadas de proteção sanitária.

É preciso reforçar o SNS em profissionais, em equipamentos, mobilizar todos os serviços de saúde existentes no País, sob a direção do Serviço Nacional de Saúde. É preciso garantir a proteção sanitária de quem continua, todos os dias, a trabalhar nos serviços essenciais, incluindo nas escolas. Os trabalhadores que estão a fazer falta nos lares têm de ser contratados. É preciso garantir aos bombeiros o acesso à vacinação e ao financiamento adequado das suas associações.

Os problemas do País são amplos e profundos e a resposta também tem de o ser. O Governo tem no Orçamento de Estado a base de que precisa para essa resposta, e é preciso que a dê.

Quero, por isso, Sr. Primeiro-Ministro, começar por questioná-lo sobre a área da saúde, em especial a área da vacinação. As farmacêuticas que produzem as vacinas aprovadas pela União Europeia não têm capacidade de produção suficiente e não aceitam suspender ou partilhar as patentes para que as vacinas sejam produzidas por outros laboratórios. Portugal não pode ficar refém da União Europeia e limitado às vacinas dessas farmacêuticas.

O que é que vai vencer, Sr. Ministro? O que é que vai vencer neste braço de ferro, Sr. Primeiro-Ministro? O valor do lucro ou o valor da vida humana?

Quanto ao reforço do SNS, insistimos em algumas soluções que continuam a ser urgentes e necessárias. Vai, ou não, o Governo reforçar os serviços de saúde pública com a contratação de técnicos para as equipas de saúde pública e a contratação de profissionais de saúde reformados para fazerem inquéritos e contactos telefónicos, que estão a demorar, em alguns casos, semanas? Vai, ou não, o Governo avançar com o pleno aproveitamento do Hospital Militar de Belém, do Hospital Pulido Valente e de outras instalações de que o Estado dispõe para reforçar a reposta hospitalar?

Sabemos que não chega haver mais camas, mais hospitais de campanha, são necessários profissionais de saúde correspondentes. Qual é o ponto da situação relativamente à medida inscrita no Orçamento do Estado para 2021 quanto ao reforço de profissionais de saúde ou de investimento em cuidados de saúde primários? Quantas dessas medidas inscritas foram já concretizadas e que perspetiva tem o Governo para a sua concretização a curto prazo?

Aplausos do PCP e do PEV.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro, António Costa.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, em primeiro lugar, relativamente à vacinação, o que a ciência proporcionou foi algo de absolutamente extraordinário, que foi conseguir, em menos de um ano, criar uma vacina que a capacidade industrial tem vindo a produzir.

A decisão da União Europeia de proceder a uma compra conjunta para os 27 Estados-Membros, cobrindo a totalidade da população dos mesmos e assegurando a distribuição simultânea em função da sua população,

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foi uma decisão da maior importância para toda a Europa, mas, seguramente, foi sobretudo importante para os países que têm menor dimensão e que têm menores recursos.

O facto de Portugal não ter tido de concorrer com os grandes países da Europa para garantir a disponibilidade de vacinas para toda a sua população foi algo de absolutamente extraordinário. O facto de a União Europeia, entretanto, já ter conseguido reforçar o número de doses a disponibilizar e permitir que, em conjunto, os diferentes Estados-Membros, e Portugal também, possam contribuir para o esforço global da erradicação internacional da COVID-19, através do apoio, designadamente, aos países africanos, e, no nosso caso, muito em especial, aos nossos irmãos dos países africanos de língua oficial portuguesa, é algo da maior importância.

Aplausos do PS.

Quebrar esse sentido de unidade, como alguns ameaçaram fazer, é mesmo um perigo e uma ameaça à garantia do princípio fundamental de equidade entre todos nós.

Felizmente, temos tido, com um único caso de 24 horas de atraso, o acesso às vacinas que nos permitem executar o programa nacional de vacinação. E assim o iremos fazer, cumprindo, a par e passo, o plano definido pela task force.

O Orçamento do Estado entrou em vigor há poucos dias e estamos agora a iniciar a sua implementação, designadamente com medidas que entraram imediatamente em vigor, como o layoff a 100%, como o aumento extraordinário das pensões, e estão em curso, também, os processos que permitirão continuar a reforçar os recursos humanos do Serviço Nacional de Saúde.

Se formos ver agora, em janeiro, o número, por exemplo, de médicos e o compararmos com o número de médicos de janeiro do ano passado, vamos verificar que, agora, que se eliminou a variação trimestral, temos hoje, já, mais médicos no Serviço Nacional de Saúde do que tínhamos há um ano atrás.

Aplausos do PS.

É esse esforço que iremos prosseguir na execução do Orçamento do Estado, que contou com o contributo decisivo do Partido Comunista Português, não só para poder ser aprovado, mas, mais do que isso, ao conter as medidas justas e necessárias para responder à crise que o País atravessa.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Continua no uso da palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Muito obrigado, Sr. Presidente, e muito obrigado, Sr. Primeiro-Ministro, pelas explicações, que não são totalmente convincentes.

Risos de Deputados do PSD.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Já não é mau!

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Queremos ainda falar de outras medidas inscritas no Orçamento do Estado para 2021.

O PCP bateu-se para que fossem inscritas no Orçamento medidas de valorização dos trabalhadores dos serviços essenciais, medidas de apoio às micro, pequenas e médias empresas, do pagamento dos salários a 100%, de apoio a quem ficou sem salário, sem emprego, de aumento do valor dos subsídios de desemprego e de apoio ao setor da cultura. A importância destas propostas do PCP já era reconhecida, mas tornam-se agora centrais face à situação que vivemos.

Qual é o ponto da situação relativamente à sua concretização?

Quando é que os trabalhadores dos serviços essenciais vão começar a receber o suplemento de risco que ficou inscrito no Orçamento? Qual a situação em relação ao acesso dos micro, pequenos e médios

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empresários aos apoios públicos? Que medidas foram tomadas para eliminar as restrições que existiam e que resultados pode o Governo apresentar sobre a abrangência desses apoios? Que concretização está a ser feita do pagamento dos salários a 100% e dos apoios às micro, pequenas e médias empresas (MPME) para esse efeito, não deixando ninguém de fora e garantindo a devida atenção a setores novamente atingidos por medidas restritivas, designadamente a hotelaria, o turismo e a restauração?

Em relação à situação dos trabalhadores a recibo verde, dos sócios-gerentes, dos trabalhadores com vínculo precário ou informais e outros que ficaram sem salário nem atividade, quando é que a segurança social vai começar a pagar a prestação social extraordinária que foi criada no Orçamento do Estado para 2021?

E o aumento do subsídio de desemprego, Sr. Primeiro-Ministro? Já começou a ser pago o montante do valor mínimo de 504 €, ou ficou adiado?

Por último, em relação à cultura, insistimos que a proposta do PCP que ficou inscrita no Orçamento do Estado tem de ser concretizada em pleno, não pode ser apenas com metade da verba que estava estimada.

O Sr. Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Faltam duas linhas, Sr. Presidente.

É preciso que esse apoio chegue aos agentes culturais, aos criadores e artistas, de forma a fazer face a novas limitações que foram impostas à sua atividade mas também tendo a perspetiva da retoma do trabalho artístico e cultural.

Insistimos, Sr. Primeiro-Ministro: os problemas do País são amplos e profundos e a resposta do Governo também tem de o ser, mesmo percebendo que ninguém aqui tem as respostas todas.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Foram duas linhas «gordas», Sr. Deputado.

Risos.

Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, para tentar cumprir o tempo de que disponho, vou responder telegraficamente.

Há medidas que entraram automaticamente em vigor, como o pagamento dos salários a 100%, pelo que todas as pessoas que estão em layoff têm direito a receber o salário a 100%, sem encargos acrescidos para as empresas.

Relativamente a este novo pacote de apoios que foi aprovado para responder a esta nova crise, o mesmo foi assegurado não só para as micro, pequenas e médias empresas, mas também para as empresas sem contabilidade organizada que deixaram de sofrer qualquer tipo de discriminação.

O pagamento extraordinário das pensões está assegurado.

O pagamento dos subsídios de desemprego prolongados vai entrar em vigor e será feito já em fevereiro. A prestação social extraordinária também entrará em vigor e será paga em fevereiro.

Quanto aos subsídios de penosidade e de risco nos serviços essenciais, estão a ser trabalhados entre o Ministério da Administração Pública e o Ministério das Finanças e, no quadro do processo negocial que está em curso ainda relativamente à valorização salarial, isso está a ser devidamente encarado.

Finalmente, quanto ao setor da cultura, como a Sr.ª Ministra da Cultura teve oportunidade de dizer, o Programa Garantir Cultura é a primeira fase do programa que foi aprovado no Orçamento do Estado por proposta do Partido Comunista Português e que se junta às outras medidas também adotadas, a saber, as resultantes da prorrogação dos apoios dos concursos da DGArtes (Direção-Geral das Artes), do reforço que foi feito para o concurso do apoio ao cinema, da introdução da quota de 30% para a música portuguesa nas rádios e das medidas específicas adotadas para as bolsas de criação literária de apoio às editoras, de apoio às livrarias e também relativamente aos museus.

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Portanto, no conjunto destas medidas, umas adotadas pelo Governo, outras constantes do Orçamento do Estado por proposta do Partido Comunista Português, o que foi anunciado é que esta é a primeira fase, e é isso que iremos executar ao longo de todo o ano.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado Telmo Correia, do Grupo Parlamentar do CDS-PP.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, o sentimento de emergência, de solidariedade e de pesar é comum. Dito isto, tenho de lhe fazer uma pergunta. Num momento em que tudo aquilo que, desde o início, desejámos que não acontecesse está a acontecer, num momento em que Portugal, em termos da pandemia, é um dos piores países do mundo, independentemente do ranking que seguirmos, o que lhe pergunto, Sr. Primeiro-Ministro, em consciência, é se, sabendo o que sabe hoje, teria tomado as mesmas medidas que adotou no período das festas e do Natal. É uma pergunta dirigida à sua consciência e também à sua humildade.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Telmo Correia, há uma coisa que lhe posso assegurar: hoje, nas circunstâncias em que estamos, jamais algum de nós teria defendido aquelas medidas. As medidas são tomadas em função das circunstâncias e dos dados que temos. Procurámos sempre que as decisões fossem tomadas com base na melhor informação científica. Veja o exemplo da atual circunstância: nós temos renovado sempre o estado de emergência de 15 em 15 dias. Contudo, em janeiro, entendemos que era de bom senso só prorrogar cautelarmente, por sete dias, o estado de emergência, de forma a podermos decretar o atual estado de emergência tendo em conta uma informação mais consolidada sobre qual era a realidade do País após o período das festas.

E bem fizemos, bem fizemos! É que se tivéssemos tido a reunião no Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde) no dia previsto inicialmente, teríamos adotado medidas para uma realidade em que tínhamos cerca de 4000 novos casos — creio que, nesse dia, houve 4950 novos casos —, quando, dois dias depois, o número de novos casos era superior a 10 000. E assim nos temos mantido desde então.

Portanto, felizmente, as medidas que viemos a adotar já foram ajustadas à realidade que tínhamos presente, que é esta, que é a de estarmos com mais de 10 000 novos casos por dia, e não à realidade ilusória que teríamos tido naquela altura, que era de 4000 casos.

Se o Sr. Deputado acha que resolve os problemas do País dizendo que a culpa da forma como as famílias celebraram o Natal foi minha e que é por isso que estamos na situação em que estamos, Sr. Deputado, ofereço-me, desde já, a esse sacrifício e deixo à sua consciência o achar mesmo que fui eu o responsável por estarmos na situação em que estamos.

Aplausos do PS.

Mas aquilo que nunca farei é refugiar-me no exemplo de outros que, naquela altura e naquelas circunstâncias, defenderam precisamente aquilo que eu fiz.

Aplausos do PS.

É assim que vivo com a minha consciência, e assumindo plena responsabilidade pelas circunstâncias em que o País está hoje.

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O Sr. Presidente: — Continua no uso da palavra o Sr. Deputado Telmo Correia, do CDS-PP. Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, já lá vamos ao confinamento e àquilo que cada um defendeu — estou muito à vontade nessa matéria.

Antes disso, queria fazer-lhe uma pergunta muito concreta. Sr. Primeiro-Ministro, nós devíamos ter recebido nesta semana 96 000 doses da vacina da Pfizer. Recebemos, tanto quanto sei, 47 000 e estaria previsto recebermos, penso, mais 96 000 no início da próxima semana. Não sei quantas doses receberemos.

Pergunto-lhe: tem garantias de quantas doses receberemos na próxima semana, ou não?

Outra pergunta muito concreta, Sr. Primeiro-Ministro, é esta: por outro lado, esta falha no fornecimento, Sr. Primeiro-Ministro, deve-se a quê? A compras bilaterais de algum Estado-Membro? Sim ou não? E, se sim, de quem? Sendo o senhor, neste momento, também Presidente do Conselho Europeu, certamente poderá sabê-lo.

Disse ainda o Sr. Primeiro-Ministro que iria fazer uma gestão de stock. Pergunto-lhe o que é que isso quer dizer concretamente. Pergunto-lhe se, como noticiava designadamente um órgão de comunicação social, isso significa ou não adiamento da segunda toma da vacina e para quando. É que a comunicação social noticiou que a segunda toma se faria passados 40 dias da primeira, havendo, assim, um adiamento. E a informação que tenho é a de um comunicado da Pfizer — não sei se haverá algum posterior ou não — que diz não haver qualquer garantia de eficácia dessa mesma vacina se a segunda toma for feita passados mais de 21 dias. É isto que diz um comunicado da Pfizer, a que tenho acesso, mas não sei se haverá algum posterior, se haverá alguma informação diferente desta. Contudo, a ser assim, qualquer adiamento implicaria um risco muito grande, Sr. Primeiro-Ministro.

Por isso, pergunto-lhe se vai fazê-lo ou não. E, caso admita fazê-lo, pergunto-lhe se tem algum documento que contrarie este documento que referi da Pfizer.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Telmo Correia, telegraficamente, porque o Sr. Deputado ainda tem tempo para fazer outra pergunta e eu ainda queria ter tempo para responder, devo dizer-lhe, em primeiro lugar, que a quebra na entrega das vacinas desta semana se deve, como a Pfizer explicou, a obras que está a fazer na sua fábrica, o que levou à redução da distribuição para todos os países da União Europeia. Em segundo lugar, aquilo que a task force propôs foi que houvesse uma aceleração da vacinação, da primeira toma, nos lares, porque está provado que a primeira toma, por si só, aumenta o grau de imunização, sem que haja risco de adiamento da segunda toma. Em terceiro lugar, aquilo que a Agência Europeia do Medicamento e a Pfizer informaram foi que o período de atribuição da segunda dose pode ser entre 21 e 42 dias.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Continua no uso da palavra o Sr. Deputado Telmo Correia, do CDS-PP. Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, essa referência a que o período de atribuição da segunda dose pode ser entre 21 e 42 dias contraria o comunicado da própria Pfizer, mas obviamente tenho de aceitar a sua resposta.

Quanto à questão do confinamento, fui sempre favorável ao estado de emergência, continuo a ser e serei sempre, independentemente da posição de cada um — isso é sabido e é público.

Mas há algo que não faz muito sentido, Sr. Primeiro-Ministro. Em março, quando iniciámos o confinamento geral, tínhamos 642 casos por dia, 2 óbitos e 20 internados em UCI (unidade de cuidados intensivos). Neste momento, comparando com março, não temos 642, mas mais de 10 000 casos por dia, ultrapassámos hoje as 200 mortes, infelizmente, e as UCI estão, pelas notícias que conhecemos, à beira de esgotar.

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Por isso, aquilo que não faz sentido, não só a mim como seguramente a muitos portugueses, é como é que o confinamento é mais light, digamos, agora do que aquilo que foi em março. Não parece fazer nenhum sentido. Aliás, isto até cria a ideia de que nós, em vez de seguirmos aquilo que devia ser um princípio geral de precaução, de estarmos sempre à frente dos acontecimentos, estamos a seguir um princípio de experimentação, um pouco a ver se resulta, se não resulta e o que é que dá, correndo sempre atrás do prejuízo.

Isto tem a ver, quando falava das primeiras medidas, com o seguinte exemplo: antes do confinamento, tínhamos horários reduzidos, até às 13 horas, o que concentrava pessoas e originou uma das críticas; agora, temos horários mais alargados e, entretanto, desde há três dias, também já mudou.

Em relação às escolas, quero colocar-lhe uma questão com muita sinceridade, sem qualquer exercício para além disso, e que tem a ver com o seguinte: quantos alunos temos no País? Cerca de 2 milhões de alunos. Além desses 2 milhões de alunos, temos seguramente, sobretudo em relação aos mais jovens, os seus pais, que têm de se deslocar para ir pô-los e buscá-los à escola. Ora, a pergunta que lhe deixo é esta: como é que o Sr. Primeiro-Ministro quer ter um confinamento eficaz, rigoroso, quando tem 2 ou 3 milhões de pessoas a circular todos os dias? Não é possível, porque isso, depois, cria todo o contexto da tal circulação, que leva a que o confinamento não seja eficaz.

Diz o Sr. Primeiro-Ministro, primeiro, que não há grandes contágios nas escolas. Mas disse-nos também hoje que vai começar os testes nas escolas amanhã. Então, pergunto-lhe: se só vai começar os testes nas escolas amanhã, como é que sabe que não há contágios significativos? É que um dos especialistas que temos ouvido diz precisamente…

O Sr. Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Estou mesmo a terminar, Sr. Presidente, sem prejuízo até de gastar agora tempo da segunda ronda, se me permitir.

O Sr. Presidente: — Então, a partir de agora, o tempo gasto a mais desconta na segunda ronda, Sr. Deputado.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito obrigado, Sr. Presidente.

Como dizia, um dos especialistas que temos ouvido diz precisamente que os alunos dos 13 aos 17 anos de idade podem constituir casos complicados em termos de contágios.

Diz ainda o Sr. Ministro que não podemos sacrificar a educação de uma geração. Sr. Primeiro-Ministro, não posso estar mais de acordo. Mas para não sacrificarmos um mês que seja, no máximo, de aulas, podemos estar a sacrificar vidas noutras gerações?! Não me faz sentido, Sr. Primeiro-Ministro! Até porque o senhor tem outros mecanismos a que pode recorrer. Por exemplo, porque é que não prolonga o ano escolar, compensando esse mês, depois, quando a situação estiver mais controlada e a vacinação mais avançada e tiver até, se calhar, vacinado os próprios professores? Porque é que não usa outros mecanismos, Sr. Primeiro-Ministro?

Digo-lhe, sinceramente, Sr. Primeiro-Ministro, sem medidas de confinamento geral, dificilmente iremos ultrapassar esta situação.

O Sr. Primeiro-Ministro apelava a um sobressalto cívico. Aceito, porque há situações de irresponsabilidade e a irresponsabilidade é coletiva. Mas, mais do que sobressalto cívico, é preciso coragem política para determinar um confinamento sério, porque a situação é, de facto, muito grave.

Protestos da Deputada do PS Maria Antónia de Almeida Santos.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Telmo Correia, o mais fácil, como decisor político, era mesmo encerrar as escolas,…

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A Sr.ª Maria Antónia de Almeida Santos (PS): — Exato!

O Sr. Primeiro-Ministro: — … porque o custo do encerramento das escolas não é imediato, ao contrário do custo do encerramento do café, do restaurante ou do pequeno comércio. O problema é que o custo do encerramento da escola, hoje, vai pagá-lo daqui a 10 ou daqui a 20 anos.

Portanto, politicamente, o que era cómodo era fechar a escola, mas o que é responsável politicamente é batermo-nos por manter as escolas abertas. É por isso que vamos fazer tudo para poder manter as escolas abertas.

Aplausos do PS.

Sr. Deputado, temos um total de 5400 escolas públicas — estou só a falar das públicas —, no País todo. Neste momento, só 13 em 5400 — só 13, neste momento! — estão encerradas por surtos identificados pelas autoridades de saúde. E sempre que houver um surto, a autoridade de saúde irá encerrar.

Temos um total de 1 140 000 alunos; neste momento, temos 39 000 alunos confinados.

O que é que isto significa? Isto significa que a vigilância médica é feita. Pergunta-me: «Então como é que sabe?». Por uma razão simples; cada vez que há alguém infetado, há um inquérito epidemiológico e, portanto, sabe-se quem está infetado e qual é o contexto. Eis os números que sabemos.

Mas há um preço. Lembra-se que, no ano passado, tomámos essa decisão. Eu tomei essa decisão. O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — E gabou-se disso!

O Sr. Primeiro-Ministro: — E, igualmente, perante a mesma ausência de consenso científico que hoje existe.

O Sr. Deputado esteve na mesma sessão em que eu estive, no Infarmed. O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — E viu, aliás, que, sobre esse tema, houve até um debate bastante vivo entre os diferentes especialistas.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Houve uma única opinião discordante!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Ouça, era muito mais confortável para todos nós, seguramente, que temos de tomar decisões, podermos ter o conforto de todos os cientistas.

Infelizmente, ao longo desta pandemia, raros foram os momentos em que isso foi possível, o que, aliás, é natural, porque cada cientista pensa pela sua cabeça e essa liberdade científica é fundamental. E é também natural que, perante algo que é novo, haja incerteza sobre a posição científica.

O Sr. Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, tem de concluir.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas, Sr. Deputado, isto é como quando vamos a conduzir: é fácil para quem está ao lado opinar, mas quem vai a conduzir tem o dever de responsabilidade de saber ouvir, de estar atento aos sinais, saber quando é que pode acelerar, quando é que tem de travar, quando é que tem de pôr outra mudança e quando é que tem de mudar de sentido.

Aplausos do PS.

É isso que procuro fazer todos os dias.

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O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para fazer perguntas, o Sr. Deputado André Silva, do Grupo Parlamentar do PAN.

O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, começo por saudar todos aqueles e todas aquelas que estão na linha da frente enquanto o País confina novamente.

Sr. Primeiro-Ministro, somos hoje um dos países com maior número de novos casos COVID por milhão de habitantes e o terceiro com o maior número de mortos.

Temos filas de espera de ambulâncias e pessoas que morrem enquanto esperam para ser atendidas. Por isso, precisamos de medidas inteligentes e coerentes.

Sabemos, através de um estudo de análise científica de dados, que a mobilidade explica 99,5% da expansão territorial da pandemia, estudo esse que aponta para uma combinação de quatro medidas que minimizam o impacto na economia e maximizam o controlo da transmissão do vírus: a limitação da lotação de transportes públicos e o reforço da sua oferta; a obrigatoriedade do teletrabalho; aulas online a partir do 3º ciclo; e restrições horárias de compras por segmentos etários.

O teletrabalho deve ser obrigatório, mas, Sr. Primeiro-Ministro, se a ACT (Autoridade para as Condições do Trabalho) tem meios e admite, inclusivamente, entrar em greve, como pensa concretizar a fiscalização?

O reforço da oferta nos transportes públicos devia ter sido planeado desde março, só em setembro se avançou com o concurso, estamos em janeiro e nada mudou. Ora, quem tem viatura própria aumenta os gastos e quem não tem sujeita-se ao contágio.

Quanto às escolas, o grupo etário dos 13 aos 17 anos é aquele em que mais tem aumentado a incidência da infeção nas últimas duas semanas. Sabemos que a escola é fundamental na redução das desigualdades sociais e que, para assumir o ensino online, seria necessário cumprir as promessas do Sr. Ministro da Educação. O que lhe pergunto Sr. Primeiro-Ministro, é se o facto de o 3º ciclo não estar a ter aulas à distância não estará relacionado com a prometida transição digital que ainda não ocorreu.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado André Silva, o reforço de transportes públicos tem existido desde o início da pandemia, quer na oferta, quer acompanhando a redução da lotação.

Relativamente ao teletrabalho, ainda ontem adotámos mais medidas, exigindo, por um lado, que todos os trabalhadores que estão em teletrabalho disponham de uma credencial passada pela entidade patronal atestando a sua indispensabilidade e, por outro lado, relativamente às grandes empresas, ou seja, as que têm mais de 250 trabalhadores, do setor dos serviços, que comuniquem à ACT, dentro de 48 horas, a lista nominal dos trabalhadores que consideram imprescindíveis, de forma a que a ACT possa fazer a devida fiscalização.

Quanto ao ensino, sim, e já tive oportunidade de o dizer, o processo de aquisição de material informático demorou mais tempo do que desejávamos. Só temos 100 000 computadores distribuídos, o que assegura o cumprimento de todos os escalões A e B; temos, neste momento, mais 350 000 já contratados e temos de abrir um concurso para os restantes.

Mas não é isso que justifica o não encerramento da escola. O que justifica o não encerramento da escola é aquilo que todos aprendemos, sobre o qual hoje nenhum de nós pode ter dúvidas: é que não há ensino à distância, por melhor que ele seja, que assegure a qualidade do ensino presencial.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Continua no uso da palavra o Sr. Deputado André Silva.

O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Primeiro-Ministro, um cidadão ucraniano foi cruelmente assassinado pelo SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), um atentado aos mais básicos valores da dignidade humana e uma página negra no nosso Estado de direito democrático.

Governo e Presidente da República falharam e é imperioso que se tomem medidas firmes para que o caso não se repita.

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O Governo — e muito bem! — processou com rapidez a indemnização à família de Homeniuk. Mas, Sr. Primeiro-Ministro, não basta. Temos de falar sobre o direito de regresso, uma medida dissuasora de comportamentos indevidos dos agentes públicos que, no fundo, obriga o Estado a recuperar junto dos responsáveis o valor das indemnizações pagas.

A colocação de uma ação judicial pelo Estado para assegurar a efetiva responsabilização de quem assassinou Homeniuk, mais do que uma imposição legal, é uma obrigação moral e política de um Estado que quer realmente demarcar-se destes crimes.

Sr. Primeiro-Ministro, vai ou não o Estado português intentar esta ação judicial? O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado, todo o homicídio é bárbaro e quando é cometido por uma força policial é intolerável num Estado de direito democrático.

Aplausos do PS.

Por isso, o Estado agiu do ponto de vista criminal e, mais, também do ponto de vista da Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI), que foi, aliás, mais longe na identificação dos responsáveis do que a própria investigação criminal tinha ido.

Mas o Estado foi ainda mais longe porque, assim que teve apurado o relatório da IGAI, imediatamente acionou, através da Sr.ª Provedora de Justiça, os mecanismos de indemnização, por acordo com a família da vítima, cuja ordem de pagamento já foi emitida.

E, tal como acontece sempre, foi transmitida à Sr.ª Procuradora Geral da República a instrução necessária — porque em matérias de direito cível podemos dar instruções — para poder exercer o direito de regresso.

Fizemo-lo para este caso, como fizemos relativamente às indemnizações para as vítimas de Borba ou para as vítimas dos incêndios florestais e nunca prescindiremos do exercício do direito de regresso, porque os verdadeiros responsáveis têm de pagar aquilo que os contribuintes adiantam, num esforço solidário. Mas quem é responsável tem mesmo de pagar, no final do dia.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Continua no uso da palavra o Sr. Deputado André Silva, do PAN.

O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Primeiro-Ministro, a propósito do projeto de construção do Douro Marina Hotel, um hotel de luxo no concelho de Mesão Frio, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) avisa o Estado português de que a sua aprovação vai colocar a paisagem do Douro Vinhateiro na lista dos bens classificados em perigo, «abrindo caminho para uma futura exclusão da lista de património mundial». Sabemos, o Sr. Primeiro-Ministro também sabe, que as avaliações de impacto ambiental no nosso País são uma fantasia e que permitem, tantas vezes, quase tudo a quem tem dinheiro.

Dr. António Costa, o que pensa deste projeto? Como vai querer ficar conhecido na História? Como o Primeiro-Ministro que defendeu o nosso património natural e cultural ou como o Primeiro-Ministro que permitiu desclassificar o Alto Douro Vinhateiro de património mundial?

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado André Silva, há uma coisa que lhe posso assegurar: a última preocupação que tenho é a minha relação com a História.

Sobre o tema, está, de facto, a decorrer a consulta pública de um estudo de impacto ambiental, até ao dia 29 de janeiro. A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional Norte enviará, oportunamente, a documentação final da avaliação de impacte ambiental, para audiência prévia, até ao dia 12 de março e, em função disso, haverá as decisões competentes por parte das autoridades competentes que, neste caso, não passam pelo Primeiro-Ministro.

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A fase em que já tive competências para licenciar obras foi uma fase anterior da minha vida, mas, neste momento, já não tenho competência para licenciar obras.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Para formular perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.

O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, queria começar por saudar também os profissionais de saúde, mas também todos os trabalhadores, que continuam a permitir que o País não pare de todo. Uns e outros, mesmo correndo riscos, continuam a assegurar o essencial neste combate, que é coletivo.

Sr. Primeiro-Ministro, num momento em que o SNS está a chegar — se não chegou já — ao limite da sua capacidade de resposta, nomeadamente a nível hospitalar, urge tomar medidas que contribuam, efetivamente, para solucionar o problema e não para o agravar.

Todos os dias é anunciada a criação de novas camas, novos hospitais de campanha, etc. Talvez não seja demais, mas todos sabemos que a questão crucial reside na falta de pessoal de saúde, nomeadamente de enfermeiros e médicos.

Como sabemos, em termos hospitalares, a resposta à COVID recai, sobretudo, sobre certas especialidades médicas e o prolongamento da pandemia no tempo, a falta de descanso, derivada da sobrecarga horária gerada pela falta de profissionais de saúde, e o risco ao qual estes profissionais estão expostos constituem grandes fatores de stress, que estão a colocar estes profissionais num estado de cansaço acima dos seus limites e num sofrimento permanente.

Mas, entre estes profissionais, existe um grupo, que não é assim tão pequeno — estamos a falar de cerca de 1000 —, que está ainda a sofrer outro fator de stress e a viver uma situação de grande injustiça.

Refiro-me aos médicos internos que chegam este ano ao fim da especialidade e que estão obrigados a fazer o exame final. Em período normal, este exame ocorre em março, mas, depois de muita pressão, a Sr.ª Ministra da Saúde marcou os exames para abril. Sucede que passar de março para abril pouco ou nada resolve, sobretudo se tivermos em conta que, no ano passado, com uma situação bem menos complicada, os exames foram adiados para junho.

Como o Sr. Primeiro-Ministro deve imaginar, muitos destes jovens médicos, nomeadamente os das especialidades, que asseguram a linha da frente na resposta à COVID-19, estão à beira da exaustão. São eles que asseguram muitas das noites — por vezes, várias na mesma semana —, fins de semana e que não conseguem usar os dias de descanso a que têm direito.

Ora, como se compreende, esta sobrecarga, somada ao próprio estado anímico gerado pela situação, não é o quadro mais favorável para elaborar o relatório final a que estão obrigados e a estudar para um exame que tem grande importância para o futuro das suas carreiras. Para além disso, durante os três dias que duram os exames, não são apenas os examinados que deixam de estar ao serviço, são também os seus médicos tutores e restantes membros do júri. Seria, portanto, sensato assegurar que o exame decorresse numa fase mais branda do contágio.

O que queríamos saber, Sr. Primeiro-Ministro, é se há alguma abertura do Governo para reconsiderar a marcação deste exame para junho, à semelhança, aliás, do que aconteceu no ano passado, quando a situação não era tão grave. Seria não só uma forma de não perturbar o combate à COVID numa fase tão crítica como esta, mas também um ato de justiça e a melhor demonstração de reconhecimento e de respeito que poderá ser feita a estes jovens médicos, que tanto têm dado de si no combate à COVID e que precisam de tempo e de tranquilidade para a preparação de um exame com tanta importância para o seu futuro.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado José Luís Ferreira, desta vez, a resposta é relativamente sintética. O Sr. Deputado recordar-se-á que, ainda muito recentemente, quando debatemos aqui

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a Lei do Orçamento do Estado para este ano, a Assembleia da República fez questão de fixar, no artigo 278.º, n.º 4, da mesma lei, o calendário concreto para todo o processo de contratação, designadamente a data dos exames. Neste momento, o Governo está obrigado a cumprir o calendário que ficou definido na Lei do Orçamento do Estado, pela Assembleia da República, que foi aprovada, como sabemos, ainda há muito pouco tempo.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — É a vez do Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal, fazer perguntas.

Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr. Primeiro-Ministro, é, de facto, com o coração pesado que aqui estamos hoje: 218 dos nossos compatriotas perderam a vida, mais de 9000 desde o início da pandemia. Mas os portugueses que não tiveram a morte próxima ou que não tiveram o sofrimento próximo também estão tristes, porque ontem viram o Sr. Primeiro-Ministro, na televisão, irritado a dizer que a culpa era deles.

A Sr.ª Maria Antónia de Almeida Santos (PS): — Não disse nada disso!

O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Eu gostava de pegar nos compromissos assumidos pelo Governo, há sete meses, no Programa de Estabilização Económica e Social para ver se, de facto, a culpa é dos portugueses.

É porque há coisas que foram feitas, Sr. Primeiro-Ministro. Foi feito o alívio das regras da contratação pública, foi feito e aprovado, aqui, na Assembleia, o regime especial de expropriações e de servidões administrativas, que aguarda promulgação, mas que é uma coisa inacreditável. Porém, computadores e redes informáticas para as escolas não foram feitos; o reforço de quadros e redução das custas judiciais na justiça, não foi feito; o incremento das soluções da Housing First para as pessoas sem-abrigo, não foi feito; os instrumentos de capitalização para as empresas, seja o Fundo de Capitalização, seja o já famoso, que nunca mais sai do papel, Banco de Fomento, não foram feitos; e no SNS não se incentivou a atividade assistencial — com as consequências que se conhecem — e não se melhoraram os sistemas de vigilância epidemiológica, o que deve estar na origem daquilo que é uma autêntica confusão na identificação dos rastos das cadeias de transmissão, e com isso uma perda do controlo da pandemia.

Também é culpa dos portugueses, Sr. Primeiro-Ministro, que nada disto tenha sido feito durante os últimos sete meses?

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, posso assegurar-lhe o seguinte: seguramente, ontem devia estar pouco sorridente, mas mesmo um otimista, nestas circunstâncias, tem poucos motivos para sorrir.

A Sr.ª Ana Catarina Mendonça Mendes (PS): — Muito bem!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas não confunda a ausência de sorriso com irritação, porque eu não estava irritado. Muito menos irritado com os portugueses e muito menos culpei os portugueses. Mas, se rever o que eu disse, verificará que estava enganado.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Para formular perguntas, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Catarina Mendes, do Grupo Parlamentar do PS.

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