Dispositivos e Adaptações
ANTONIO BORGESHá uma imensa quantidade de dispositivos tecnológicos que podem ser usados para auxiliar um deficiente visual e inseri‐lo no processo escolar. Os dispositivos mais usados incluem:
• Computadores. Hoje estão sendo largamente usados, tanto nas escolas como no trabalho.
• Sintetizadores de voz. Um sintetizador de voz permite ao aluno deficiente visual ouvir o que aparece na tela de computador por um alto‐falante ou um fone de ouvido.
• Linhas Braille – Uma linha Braille é um dispositivo composto por uma fila de células braille eletrônicas, que podem reproduzir dinamicamente o texto enviado por um computador, permitindo a leitura em Braille sem usar papel.
• Impressão aumentada gerada por hardware. Um processador de tela com um monitor de computador grande permite ao aluno de visão subnormal controlar tamanho, contraste e brilho do programa apresentado na tela. O aluno pode dispor a página automaticamente em determinada velocidade ou apagar partes da tela que possam perturbar a leitura.
• Impressoras Braille. São impressoras especiais de computadores pessoais comuns que produzem material em Braille. É possível imprimir em Braille praticamente qualquer arquivo, mesmo contendo figuras (que são transcritas para a forma de desenhos táteis). A impressão Braille em escala hoje é possível através de programas de impressão que fazem uso de impressoras Braille. Infelizmente o custo das impressoras ainda muito proibitivo. Isso limita seu uso em escolas e entidades assistenciais. Os principais programas usados no Brasil são o Braille Fácil (gratuito) e o Duxbury (comercial). Uma cópia do Braille Fácil pode ser obtida em
http://intervox.nce.ufrj.br/brfacil
• Impressão aumentada gerada por software. Alguns softwares permitem ao usuário produzir impressão ampliada em impressoras comuns (a laser, a jato de tinta e semelhantes).
• Gravação de textos com indexação e sincronismo – Novas tecnologias de gravação permitem que sejam introduzidas marcas no texto gravado, que serve de
índice para acesso direto a partes do textos, além de sincronização visando visualização de trechos em letras ampliadas e impressão Braille.
Recursos ópticos
Recursos ópticos são dispositivos prescritos por um especialista (oftalmologista). São compostos de uma ou mais lentes para aumentar ou ajustar a imagem visual.
1. Óculos com prescrições especiais
Óculos bifocais, prismas, lentes de contato ou outras combinações de lentes podem ser prescritos para uma criança com limitações visuais, a serem usados à toda hora ou durante atividades específicas. Lentes ligeiramente tingidas ou escuras podem ser usadas pela criança sensível à luz, em lugares fechados e ao ar livre. 2. Lentes de aumento manuais ou lentes de amplificação São usadas para aumentar o tamanho da imagem e melhoram o funcionamento visual de crianças com quase todos os distúrbios visuais. Esses ampliadores podem ser usados para tarefas como ler, escrever e estudo de arte. Essas lentes existem também na forma eletrônica (Lupa Eletrônica), na qual é possível exibir a imagem ampliada numa TV.
3. Telelupas (mini‐telescópios)
Seguros na mão ou em armações de óculos são usados por crianças para ver objetos distantes, como quadros negros e demonstrações de sala de aula, ou para identificar ônibus, sinais de rua, e assim por diante. Quando uma criança está usando um telescópio para ler o quadro negro, ela pode achar útil sentar‐se na coluna central de carteiras, na distância que lhe for mais adequada.
Recursos não ópticos
Os dispositivos não‐ópticos não envolvem lentes, e podem ou não ser especificamente projetados para pessoas deficientes da visão. Entre os recursos mais usados podemos citar réguas com marcações, material dourado Montessoriano, painéis táteis e auto‐ colantes além de sistemas para reprodução tátil em folhas plásticas (equipamentos denominados Thermoform) e papel micro‐encapsulado (capazes de produzir relevos a partir de desenhos gerados numa impressora comum).
Para saber mais sobre o material dourado Montessoriano
http://educar.sc.usp.br/matematica/m2l2.htm
Nos países desenvolvidos, existem muitas empresas que vendem tais recursos prontos para uso. No Brasil, entretanto, é quase impossível conseguir isso, pois há pouquíssimas empresas que se dedicam a este tipo de comércio, e cobram caríssimo, pois o material que vendem é quase todo importado.
Resta então ao professor produzir seu material a partir dos recursos a que tiver acesso, incluindo materiais criativos e reciclados, além de isopor, madeira, rotex, feltro, cortiça etc. Como exemplo de adaptações:
• Canetas tipo pincel atômico para produzir marcas grossas visíveis por pessoas com visão reduzida.
• Acetato – Normalmente preferido em amarelo ao ser colocado sobre a página impressa escurecerá a impressão, assim como também intensificará o contraste da impressão com o papel de fundo. • Livros com letras ampliadas, gerados a partir de impressão escalada na máquina xerox. • Papel com pautas em negrito, obtido com xerox ou mimeógrafo. • Marcadores de página e molduras de papelão (janelas de leitura) – especialmente úteis a crianças que têm dificuldade para focar uma palavra ou localizar uma linha de impressão. • Viseiras de sol e outras proteções
• Instrumentos de medida comuns (réguas, esquadros) ao qual se adiciona rotex braille (fita autocolante com texto).
Livros falados e o sistema Daisy
Historicamente a gravação de livros em fita cassete por voluntários (ledores) foi um dos grandes avanços que a tecnologia trouxe, nos anos 70, para os deficientes visuais. Diversas bibliotecas especializadas se formaram, e ainda hoje o uso deste tipo de transcrição ainda é muito comum (em particular o cassete foi substituído pelo CD ou DVD, por questões econômicas).
A leitura para estudo, entretanto, se torna complexa, na medida em que se deseje acessar a pontos específicos da gravação, com rapidez. A fita cassete não tem um índice nem permite o acesso rápido a um ponto específico, pois é um elemento tipicamente de acesso seqüencial. Visando resolver o problema da indexação, foi criado um consórcio, denominado DAISY ‐ Digital Accessible Information System ‐ que visava definir normas para: Criar livros digitais falados, com acesso direto ao conteúdo específico
Permitir a identificação de elementos dos livros impressos para permitir a navegação dentro de um livro.
Assegurar interoperabilidade entre as tecnologias assistivas e as fontes de informação, por exemplo, poder imprimir em Braille o conteúdo de um livro falado, pela inclusão de arquivo texto sincronizado com o som.
O formato Daisy foi adotado em vários países, e deve ser adotado em breve também no Brasil. Já existe um bom número de softwares e equipamentos de leitura e gravação que dão acesso a textos neste formato. A figura mostra um leitor de CD para formato Daisy, com teclas de avanço de capítulo, parágrafo, página, e outras funções específicas de navegação.
Leitor de CD no formato Daisy
Adaptação curricular
Todo esse arsenal de recursos, infelizmente, é insuficiente para promover uma ponte entre as necessidades inerentes ao currículo que é usado para as pessoas normais e pessoas com deficiência visual.
Imagine, por exemplo, uma cartilha, em que praticamente todas as páginas contêm imagens e nas quais o formato das letras que estão sendo ensinadas imita o formato da figura.
Como transcrever isso para um código puramente textual, como Braille? Descrevendo as figuras? Neste caso, a razão maior da existência das figuras perde totalmente o sentido. Já para uma criança com visão reduzida, a ampliação em xerox será suficiente? Talvez sim, talvez não. Pode ser que o desenho ampliado fique tão grande que a criança com visão lateral não consiga ter a noção do seu todo.
É necessário adaptar. A adaptação pode ser muito simples como uma descrição em palavras. Ou um completo redesenho na estratégia usada para passar o conceito.
As adaptações deverão ser efetuadas evidenciando a descrição textual e tátil do aspecto visual do mundo, e de tudo que puder traduzir o mundo na perspectiva de sua aparência exterior.
Quem faz essa adaptação? Pode ser o próprio professor, o material pode já vir adaptado de um centro de transcrição (por exemplo, o Instituto Benjamin Constant tem uma
equipe de adaptação de materiais didáticos, que transcreve muitos dos livros didáticos aprovados pelo MEC para uso nas escolas públicas).
É importante frisar: uma adaptação completa não é uma tarefa simples, e será muito demorada quando se desejar que seja bem realizada. Desta forma, é fundamental que numa classe inclusiva, a maior quantidade possível material didático, em especial os livros e apostilas que serão usados pelo aluno deficiente visual, devem ser entregue previamente com todas as adaptações ao professor, pois este não terá tempo hábil para produzi‐las.