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Desenvolvimento, energia e sustentabilidade : uma perspectiva do relatorio Brundtland

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

Desenvolvimento, energia e sustentabilidade:

uma perspectiva do Relatório Brundtland

Autora: Denise Ap. Soares de Oliveira Orientadora: Sônia Regina C. S. Barbosa

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

PLANEJAMENTO DE SISTEMAS ENERGÉTICOS

Desenvolvimento, energia e sustentabilidade:

uma perspectiva do Relatório Brundtland

Autora: Denise Aparecida Soares de Oliveira Orientadora: Sônia Regina da Cal Seixas Barbosa

Curso: Planejamento de Sistemas Energéticos

Dissertação de mestrado acadêmico apresentada à comissão de Pós Graduação da Faculdade de Engenharia Mecânica, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Planejamento de Sistemas Energéticos.

Campinas, 2003 S.P. – Brasil

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA ÁREA DE ENGENHARIA - BAE - UNICAMP

OL4d

Oliveira, Denise Aparecida Soares de

Desenvolvimento, energia e sustentabilidade: uma perspectiva do relatório Brundtland / Denise Aparecida Soares de Oliveira.--Campinas, SP: [s.n.], 2003.

Orientador: Sônia Regina de Cal Seixas Barbosa. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Mecânica.

1. Capitalismo. 2. Desenvolvimento econômico. 3. Desenvolvimento social. 4. Energia. 5. Mudanças globais do meio ambiente. 6. Sociedade de consumo. I. Barbosa, Sônia Regina da Cal Seixas. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Mecânica. III. Título.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

PLANEJAMENTO DE SISTEMAS ENERGÉTICOS

Dissertação de Mestrado Acadêmico

Desenvolvimento, energia e sustentabilidade:

uma perspectiva do Relatório Brundtland

Autora: Denise Aparecida Soares de Oliveira Orientadora: Sônia Regina da Cal Seixas Barbosa

_________________________________________________________________________ Profa. Dr.ª Sônia Regina da Cal Seixas Barbosa, Presidente

Universidade Estadual de Campinas

_________________________________________________________________________ Prof. Dr. Ennio Peres da Silva

Universidade Estadual de Campinas

_________________________________________________________________________ Prof. Dr.ª Lúcia da Costa Ferreira

Universidade Estadual de Campinas

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Dedicatória:

Aos meus pais, Laert e Margarida, e meus irmãos, Silvio e Deise, pelo constante apoio e carinho.

A Inaê, Ymberê, Hugo e Felipe, meus pequenos incentivadores na incansável busca por um mundo melhor.

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Agradecimentos

“Poupar-se do peso de uma tarefa, é também privar-se de colher seus benefícios.”

(Omar Ali Shah, Mestre Naqshband)

O processo de elaboração de uma dissertação de mestrado é, sem dúvida, uma empreitada que demanda dedicação, renúncia e paciência. E, justamente por isso, é fundamental a quem aceita esse desafio cercar-se do apoio de pessoas especiais com quem possa compartilhar todos os seus esforços e alegrias. Assim, aqui vai a minha sincera gratidão a todos aqueles que comigo trilharam essa estrada.

A Sônia Regina da Cal Seixas Barbosa, minha orientadora e amiga, pela generosa partilha de seus conhecimentos e experiências, pelo respeito às minhas opiniões e, principalmente, por ajudar-me no meu aprimoramento acadêmico e profissional.

Aos docentes da Área Interdisciplinar de Planejamento de Sistemas Energéticos, da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas, em particular aos Profs. Drs. Arnaldo César da Silva Walter e Ennio Peres da Silva pela leitura atenta e as valiosas sugestões quando do Exame de Qualificação e da Defesa.

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À Profª. Drª. Lúcia da Costa Ferreira, atual coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Unicamp, onde estagiei de 1989 a 1992, pelos ensinamentos, a confiança e o incentivo ao longo de todo esse processo (e por sua importante contribuição durante a Defesa).

À Profª. Drª. Leila da Costa Ferreira, do Programa de Mestrado em Sociologia, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, e aos professores do Curso de Especialização em Ética do Instituto de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, especialmente aos Profs. Drs. Vera Irma Furlan, Constança Marcondes César e João Carlos Nogueira, cujas reflexões e questionamentos foram essenciais para a realização deste trabalho.

Aos funcionários do Departamento de Energia, da Secretaria de Pós-Graduação e das Seções de Informática e de Reprografia e Serviços Gerais da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, em particular a Neusa, Rodrigues, Sônia, Ana Paula, Silvana, Rafael, Carlos, Leonardo, Raquel, Evelyn e Jonas pela infraestrutura e o apoio ao trabalho.

À equipe da Biblioteca da Área de Engenharia, especialmente à bibliotecária Raquel Cocatto Ribeiro, pelo pronto auxílio e por todos os esclarecimentos prestados ao longo do curso no que tange à pesquisa, redação científica, citações e referências bibliográficas.

A toda a equipe da Escola Fisk de Indaiatuba, pelo sólido conhecimento da língua inglesa que me propiciaram, em especial à Profª. Maria Aparecida Tancler Ambiel pela revisão do Abstract.

A CAPES, pelo apoio financeiro no decorrer do curso.

Ao Conselho Administrativo da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba e à sua Superintendente, Sônia Maria Fonseca, agradeço por permitirem o meu afastamento do trabalho, possibilitando minha dedicação integral aos estudos; aos colegas Cristiane, Izabel, João Carlos, Laércio, Meire, Raquel, Rodrigo, Rosilda e Sheila, a minha gratidão por assumirem minhas funções no decorrer dos últimos dois anos e pelo apoio que sempre me deram.

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Aos companheiros da Associação Ecológica Chico Mendes de Indaiatuba, por partilharem comigo a utopia de um mundo mais habitável.

Aos amigos e colegas, cujos nomes optei por omitir, receando um eventual esquecimento, o meu afeto pelo incentivo, apoio, companheirismo e a constante troca de idéias. Podem ter certeza, vocês ocupam um lugar muito especial em meu coração.

A Ana Maria Gedeão, amiga e confidente, o meu carinho pelo encorajamento na descoberta e aprimoramento de minhas potencialidades.

À minha família, pelo apoio, estímulo e os valores que sempre me transmitiram, todo o meu amor. Vô, vó, papai, mamãe, Silvio, Deise, tios e primos valeu a torcida.

Aos meus avós Benedito e Ana e tios Nilso, Toninho e Severiano (in memorian), uma lembrança especial. Onde estiverem, sei que vibram comigo.

Aos meus priminhos Giovanna, Inaê, Ymberê, Arthur, Amanda, André, Luan, Marcelo, Cauê e Maurício e aos meus pequenos amigos Hugo, Felipe, Rafael, Luca, Marina, Luiza, João Pedro, Nicholas, David, Matheus e tantos outros, que me fazem acreditar na permanente possibilidade de renovação, um grande e carinhoso beijo.

Por fim, agradeço a Deus por tornar real este antigo sonho e, principalmente, por permitir-me dividir esta alegria com pessoas tão especiais.

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“Talvez não exista a paz. Nem justiça. Mas há de existir sempre o pensar e o agir. Dessas propriedades do humano não se pode abrir mão. E ao desafiar a utopia, pode-se utilizá-la como guia.” (Renato Rovai)

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Resumo

OLIVEIRA, Denise Aparecida Soares de. Desenvolvimento, energia e sustentabilidade: uma perspectiva do Relatório Brundtland. Campinas: Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de Campinas, 2003. 62 p. Dissertação (Mestrado)

A presente dissertação de mestrado analisa a relação entre desenvolvimento, ambiente e energia a partir da perspectiva da sustentabilidade, destacando-se o ponto de vista do Relatório Brundtland. Para tanto, após uma breve introdução e a revisão da literatura, faz-se um balanço teórico sobre o tema, desde os primeiros debates, nos anos 60, até o referido documento, cuja análise e propostas referentes à questão energética mereceram um capítulo específico; enfoca-se, também, o modelo desenvolvimentista brasileiro implantado na década de 50. Apresenta-se, ainda, alternativas ao modelo vigente mais sustentáveis do ponto de vista ético e ambiental. Finalmente, propõe-se a implementação de mudanças estruturais no país que integrem os aspectos socioambientais e energéticos, visando ao atendimento das necessidades básicas e a melhora da qualidade de vida da maioria da população.

Palavras-Chave

Ambiente, Capitalismo, Desenvolvimento, Energia, Modernidade, Relatório Brundtland, Sustentabilidade

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Abstract

OLIVEIRA, Denise Aparecida Soares de. Development, energy and sustainability: a point of view of Brundtland Report. Campinas: Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de Campinas, 2003. 62 p. Thesis (MSc)

This MSc Thesis analyzes the relation between the development, the environment and the energy from the perspective of the sustainability, stressing the point of view of Brundtland Report. That´s why, after a brief introduction and literature revision, a theorical balance about this theme is done, from the first discussions in the sixties to that document, whose analyzes and purposes concerning the energetic question have deserved a specific chapter. The Brazilian developmental model implemented in the fifties is also focused. We present more ethical and environmentally sustainable alternatives than the existing model. Finally, we propose the implementation of structural changes in the country, that integrate the socio-environmental and energetic aspects, aiming at answering the basic necessities and improving the quality of life of most of the population.

Key Words

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Índice

Lista de Figuras ii

Lista de Quadros iii

1 Introdução 1

2 Revisão da literatura 5

2.1. Desenvolvimento, energia e sustentabilidade 5

3 Um balanço teórico sobre desenvolvimento, ambiente e energia 13

3.1 O debate sobre desenvolvimento e ambiente 13

3.2 A crítica à sociedade industrial e os desafios do desenvolvimento sustentável 18

3.3 O modelo desenvolvimentista brasileiro 20

4 A questão energética sob a ótica do Relatório Brundtland 24

4.1 Energia, economia e meio ambiente 25

4.2 Combustíveis fósseis: o dilema constante 27

4.3 Energia nuclear: problemas não-resolvidos 31

4.4 Combustíveis vegetais: um recurso que se esgota 35

4.5 Energia renovável: o potencial inexplorado 36

4.6 Rendimento energético e conservação de energia: uma mudança de atitude 38 5 As possibilidades do encontro de um caminho ambiental e ético para o desenvolvimento 41

5.1 O enfoque ético do desenvolvimento 41

5.2 Desenvolvimento, energia e sustentabilidade: à procura de novos caminhos 47

6 Considerações finais 55

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Lista de Figuras

5.1 Fontes energéticas primárias no mundo, por fonte, 1999 48 5.2 Fontes energéticas primárias nos países industrializados, por fonte, 1999 48 5.3 Fontes energéticas primárias nos países de economia em transição, por fonte, 1999 49 5.4 Fontes energéticas primárias nos países em desenvolvimento, por fonte, 1999 49

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Lista de Quadros

4.1 Consumo global de energia primária per capita, 1984 26 5.1 Indoor concentrations of health-damaging pollutants from a typical wood-fired cooking

stove 44

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Capítulo 1

Introdução

O desenvolvimento nos moldes do modo de produção capitalista coloca-nos diante de uma situação aparentemente contraditória, ou seja, quanto maior o “progresso” maior o fosso entre riqueza e pobreza, mais intensa a degradação ambiental e menor a qualidade de vida, em particular das populações de baixa renda. Para agravar ainda mais o problema, as sociedades industriais deparam-se com um desafio sem precedentes na história: a questão do risco frente a transformações tão rápidas e profundas.

Assim, no bojo do processo de modernização advindo do capitalismo começam a emergir novas forças destrutivas, destacando-se o papel desempenhado pela energia nesse contexto, seja por constituir-se em elemento básico do crescimento econômico e da qualidade de vida ou pelos impactos decorrentes de sua exploração, geração e uso final, os quais atingem desde o nível local até o global (Beck, 1986; Cohen & Tolmasquim, 2002; Giddens, 1991, apud Barbosa, 2000; Oliveira & Barbosa, 2002).

Intensificadas pelo processo de globalização, tais transformações têm suscitado debates acerca de temas presentes em nosso cotidiano, como a questão do poder local, o múltiplo uso e a preservação dos recursos hídricos, os diferentes tipos de poluição, o espaço público, o modelo de desenvolvimento e as desigualdades sociais dele decorrentes, etc.

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Além disso, por ser baseada na maximização do lucro e da produtividade e no consumismo, a sociedade capitalista tem agravado dois sérios problemas: a deposição de resíduos e o desperdício de matérias-primas e energia, gerando a “civilização do descartável”, cuja origem está atrelada ao uso intenso dos combustíveis fósseis, especialmente o petróleo, principal fonte primária da matriz energética dos EUA e motor do seu desenvolvimento econômico e tecnológico (Piunti, 2001).

Diante disso, torna-se imprescindível a busca de um novo paradigma de desenvolvimento calcado na sustentabilidade ambiental, social, cultural e política e orientado por uma nova ética do crescimento.

Nesse sentido, o presente trabalho por objetivo descrever criticamente o modelo de desenvolvimento capitalista a partir do seu aspecto energético, discutindo até que ponto as alternativas defendidas pelo Relatório Brundtland quanto a esse ponto promovem realmente as mudanças necessárias para se alcançar a sustentabilidade socioambiental.

Para tanto, além da releitura do capítulo 7 do referido documento, o qual aborda a problemática energética, faz-se um balanço teórico sobre a relação entre desenvolvimento, energia e sustentabilidade, destacando-se alguns autores que contribuíram para esse debate, seja por sua análise crítica do modelo capitalista - principalmente no que se refere à produção e consumo de energia e os problemas socioambientais dele decorrentes - seja pelas alternativas que apontam visando à superação ou, pelo menos, a minimização desse quadro. Dentre os autores selecionados, começa-se por Ignacy Sachs, formulador dos princípios básicos do ecodesenvolvimento, conceito que deu origem à proposta do desenvolvimento sustentável, passando por outros que discutiram essa questão do início da década de 90 até os dias atuais.

A escolha do Relatório Brundtland, por sua vez, deve-se, em primeiro lugar, pelo fato dele ser considerado por muitos como uma nova roupagem do ecodesenvolvimento, na medida em que se auto-denomina uma “agenda global para mudança” com o objetivo de (Nosso Futuro Comum, 1991: XI):

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• propor estratégias ambientais de longo prazo para obter um desenvolvimento sustentável por volta do ano 2000 e daí em diante;

• recomendar maneiras para que a preocupação com o meio ambiente se traduza em maior cooperação entre os países em estágios diferentes de desenvolvimento econômico e social e leve à consecução de objetivos comuns e interligados que considerem as inter-relações de pessoas, recursos, meio ambiente e desenvolvimento;

• considerar meios e maneiras pelos quais a comunidade internacional possa lidar mais eficientemente com as preocupações de cunho ambiental;

• ajudar a definir noções comuns relativas a questões ambientais de longo prazo e os esforços necessários para tratar com êxito os problemas da proteção ambiental e da melhoria do meio ambiente, uma agenda de longo prazo a ser posta em prática nos próximos decênios, e os objetivos a que aspira a comunidade mundial.

Em segundo lugar, pelas polêmicas que suscita em torno da proposta de desenvolvimento sustentável, especialmente no que tange à falta de visão crítica do documento, o qual em nenhum momento questiona a racionalidade instrumental do capitalismo baseada na maximização do lucro e na exploração econômica da natureza.

Dessa forma, o trabalho encontra-se assim estruturado:

• o capítulo 1 traz uma breve introdução, o objetivo da pesquisa e a metodologia adotada;

• o capítulo 2 apresenta a revisão da literatura sobre o tema;

• o capítulo 3 faz um balanço teórico dessa discussão, dividindo-se em três sub-itens – a) o debate sobre desenvolvimento e ambiente: da Conferência de Estocolmo ao Relatório Brundtland, b) a crítica à sociedade industrial e os desafios do desenvolvimento sustentável e c) o modelo desenvolvimentista brasileiro;

• o capítulo 4 apresenta um resumo do capítulo 7 do Relatório Brundtland, referente às relações entre energia e desenvolvimento sustentável;

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• o capítulo 5 analisa criticamente o capítulo 7 do Relatório Brundtland, discutindo a viabilidade de algumas alternativas ao modelo econômico vigente, relacionadas ao campo energético, que sejam mais sustentáveis do ponto de vista ético e socioambiental; e

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Capítulo 2

Revisão da Literatura

2.1 Desenvolvimento, energia e sustentabilidade

Beck (1986) mostra como o processo de modernização eleva a possibilidade de riscos, os quais são incorporados pela lógica capitalista a partir do maquiamento dos sintomas, ao invés da eliminação de suas fontes. Um exemplo disso são os chamados “níveis aceitáveis” de emissão de poluentes, que permitem um envenenamento parcial dos demais seres humanos e do meio ambiente, gerando uma série de questionamentos.

Sachs (1986), nesta coletânea de vários artigos traduzidos do inglês e francês, parte do questionamento dos valores vigentes para propor um novo paradigma de desenvolvimento – o ecodesenvolvimento – baseado na justiça social, na gestão racional do ambiente, na redefinição de objetivos e modalidades de ação, na interdisciplinaridade, no planejamento a longo prazo e na valorização dos recursos naturais e humanos de cada ecoregião.

Brown (1990) demonstra o caráter ilusório do progresso das sociedades modernas preconizado pelos indicadores econômicos. Tomando como exemplo a questão da segurança alimentar, ele demonstra como índices que resultam em “progresso” podem ocultar sérios

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prejuízos econômicos, sociais e ambientais. Além disso, o autor destaca o crescimento da consciência social e política diante da gravidade da situação.

O relatório Nosso Futuro Comum (1991), elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, sob a presidência da então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, tem por objetivo analisar e buscar soluções realistas para os principais problemas do meio ambiente e do desenvolvimento em âmbito planetário, tendo em vista assegurar a sustentabilidade do progresso humano sem comprometer os recursos naturais necessários às futuras gerações. Dessa forma, o documento delega aos governos e às pessoas, em geral, a responsabilidade pelos danos ambientais e pelas políticas que os causam.

Herculano (1992) faz uma análise crítica da tese do desenvolvimento sustentável, apresentando sua origem, as diversas interpretações impostas pelos diferentes atores sociais e o seu reducionismo ao campo econômico (segundo ela, a própria palavra desenvolvimento remete-nos a essa ciência). Para concluir, a autora propõe alternativas ao desenvolvimento sustentável, tendo em vista a busca de uma nova sociedade, baseada na ética, na promoção da dignidade humana, no respeito a outras formas de vida, na igualdade entre as raças, sexos e nações, ao mesmo tempo em que preserve as diversidades culturais, através da criação de espaços de decisão na sociedade civil, coexistentes com um estado mais democrático e em que a ciência deixe de ser instrumento de dominação para se reaproximar da sabedoria filosófica.

Carvalho & Jannuzzi (1994) fazem uma crítica à visão predominante no modelo de planejamento do setor elétrico brasileiro, essencialmente voltado para a expansão da oferta sem questionar o efetivo interesse social de determinados empreendimentos. Como alternativa, propõem um modelo em que “todas as etapas do processo, desde a estimativa das demandas da sociedade, até o planejamento da oferta, passando pela avaliação do futuro mercado de eletricidade, devem ser cumpridas no contexto de um referencial ético”, a fim de que “prevaleça o respeito aos verdadeiros interesses da sociedade” (Carvalho & Jannuzzi, 1994:8).

Mammana (1994) aborda, no âmbito do setor elétrico brasileiro, a evolução das políticas ambientais e de conservação de energia nas três últimas décadas e sua influência sobre a mudança

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de foco na lógica de crescimento, antes centrada na expansão da oferta. Para tanto o autor faz uma retrospectiva de três aspectos considerados básicos para a formação dessas políticas: a pressão da sociedade, os aspectos institucionais e os financiamentos externos.

Altvater (1995) discute o modo desigual, descontínuo e não simultâneo com que se dá o desenvolvimento no espaço global, ressaltando o crescente contraste entre riqueza e pobreza e o caráter não universalizável do modelo de industrialização. Segundo ele, isso se deve a três fatores: o elevado consumo de energia e material, a necessidade de sistemas energéticos e de transformação eficientes e inteligentes e a fundamentação social de cunho europeu-ocidental (aí incluídas a base ideológica e institucional).

Para o autor, a limitação dos recursos naturais, agravada pela crescente deposição de dejetos que compromete a capacidade de absorção dos ecossistemas, constituem dois empecilhos para que todas as nações venham a alcançar o “progresso” experimentado pelo primeiro mundo. Assim, podemos dizer que a desigualdade entre os países industrializados e não-industrializados é inerente à própria lógica do capitalismo.

Dessa forma, é essencial que as estratégias de desenvolvimento socioeconômico sejam encaradas como parte integrante de um modelo global de acumulação, desenvolvimento e crescimento, no qual insere-se o modo como se dá a apropriação da natureza que, no dizer de Altvater, constitui propriedade coletiva. A essa apropriação condiciona-se a possibilidade ou não de um colapso de todo o sistema ecológico, com graves conseqüências sociais, principalmente se levarmos em conta o fato de que a sua regeneração só será possível em longo prazo. Isso exige a mobilização de todas as nações na busca de novos modelos de desenvolvimento que não degradem tanto o meio ambiente.

Brüseke (1996) discute, em seu trabalho, a lógica instrumental e destrutiva do capitalismo através da retomada da evolução histórica desse modelo de desenvolvimento até chegar à tese do desenvolvimento sustentável, passando pelo estudo Limites do Crescimento, a Conferência de Estocolmo (ambos de 1972), o surgimento do conceito de ecodesenvolvimento (1973) e documentos como a Declaração de Cocoyok (1974) e os Relatórios Dag-Hammarskjöld (1975) e

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Brundtland (1987). O autor critica, ainda, a superficialidade das discussões acerca do desenvolvimento sustentável.

Por fim, ele nos coloca diante do paradoxo da dissolução das ideologias coletivas simultaneamente ao crescimento da interdependência global, ressaltando que, embora com roupagem moderna, as questões existenciais continuam a afligir o ser humano, entre elas, a própria sobrevivência.

Martinez-Alier (1997), trata da justiça ambiental e da distribuição ecológica dos conflitos, objeto de estudo da ecologia política, e do papel dos diferentes movimentos ambientalistas, analisados tanto pelas “teses pós-materialistas” como pelo “ambientalismo da pobreza”.

O autor começa definindo “distribuição ecológica dos conflitos”, que, de acordo com Franck Beckenbach e Martin O’Connor, se refere às desigualdades no uso dos recursos naturais e suas conseqüências.

Paralelamente, Martinez-Alier traça um panorama das variações do ambientalismo, apresentando suas várias correntes divididas por teses (materialistas e não-materialistas) e condições socioeconômicas dos países (ricos e pobres). Quanto a esse aspecto, no entanto, ele ressalta que não se pode reduzir esse debate à simples oposição entre “um ambientalismo pós-materialista da riqueza” e “um ambientalismo pós-materialista dos pobres”.

Outro ponto importante levantado por Martinez-Alier diz respeito ao modo como as externalidades têm sido assimiladas no âmbito internacional. Ou seja, o valor da indenização depende, na maioria das vezes, dos atores sociais atingidos – ela, provavelmente, será baixa se as vítimas, inclusive as futuras gerações, pertencerem às camadas populares.

Ferreira (1998), discute a relação entre desenvolvimento, sustentabilidade e políticas públicas, apresentando inicialmente os “anos gloriosos” da América Latina, longo período entre o fim da 2ª Guerra Mundial e o primeiro choque do petróleo, em que o continente viu-se diante de profundas transformações socioambientais seguidas de um crescente endividamento externo e da

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predominância de governos ditatoriais. Dentre estas mudanças, o intenso processo de urbanização e industrialização foi marcante e trazia em seu bojo a idéia de “progresso” e “modernização” quando, na verdade, tratava-se de um modelo imposto pelos países industrializados aos periféricos.

A seguir, Ferreira analisa esse complexo processo a partir do contexto brasileiro, caracterizando suas especificidades, contradições e conseqüências sociais, econômicas, políticas e ambientais. Feito isso, insere-se à análise a temática da sustentabilidade, retomando-se a evolução do debate ambiental, seus diferentes atores e como isso influencia a elaboração de políticas públicas.

Guimarães (1999), por sua vez, discute o esgotamento do modelo capitalista, apresentando a Agenda 21 como uma possível ferramenta na busca de um estilo de desenvolvimento sustentável capaz de satisfazer as necessidades das gerações atuais sem comprometer as gerações futuras, além de enfatizar o caráter eminentemente político do desafio da sustentabilidade.

A partir de abordagens interdisciplinares, Barbosa (2000), coloca em pauta a necessária revisão de posturas, conceitos e perspectivas de análises dos pesquisadores da área socioambiental frente aos novos desafios suscitados pela presente crise ecológica, questionando o modelo de desenvolvimento vigente, a globalização da economia e a crescente complexidade dos processos sociais.

Abordando temas como modernidade e pós-modernidade, a lógica instrumental do capitalismo e as transformações por ela provocadas, a autora toma por base a implantação do modelo desenvolvimentista brasileiro e destaca dois momentos: o pós-guerra, que propiciou o alavancamento do desenvolvimento nacional e a inserção do país no capitalismo mundial, e após a década de 70, quando os efeitos desse modelo fazem-se sentir sobre as reais condições de vida da maioria da população, especialmente no que concerne à saúde.

Ferreira (2000) discute a forte tendência de multiplicação e concentração de megacidades, nos países periféricos, agravando ainda mais os problemas existentes e a necessidade de

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mudanças na gestão urbana com medidas como o fortalecimento do poder local e a busca de novas formas de atuação. Como exemplos, cita as políticas públicas implementadas pelas cidades de Porto Alegre, Belo Horizonte, Joinville, Vitória e Curitiba, dentre outras, tendo em vista o equacionamento da relação qualidade de vida / crescimento econômico, tendo a sustentabilidade, em suas várias dimensões, como meta.

Hogan et al. (2000), traçam um perfil ambiental do Estado de São Paulo, a partir dos seguintes itens: recursos hídricos, resíduos sólidos, cobertura vegetal, uso agrícola do solo, recursos minerais e poluição do ar, utilizando o recorte territorial de Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos, dada à sua maior proximidade com a própria organização da natureza.

Holdren & Smith (2000) discutem os principais impactos ambientais e sobre a saúde humana provocados por diferentes combustíveis para a geração energia, em escala local, regional e global, abordando desde a emissão de poluentes do uso da biomassa e combustíveis fósseis até os impactos socioambientais das grandes centrais hidrelétricas, a destruição da camada de ozônio, a chuva ácida e as mudanças climáticas.

Leff (2000), por sua vez, discute conceitos como interdisciplinaridade, articulação científica, sobredeterminação, indeterminação, transcientificidade, intercientificidade, neutralidade científica, etc. e a sua relação com o saber ambiental e sua complexidade, defendendo, com isso, a instauração de uma racionalidade ambiental e a reformulação da produção do conhecimento científico através da incorporação de outros saberes.

Sen (2000) enfoca a temática do desenvolvimento como liberdade, discutindo os diferentes tipos de liberdade, suas inter-relações e suas naturezas constitutiva e instrumental. O autor também destaca o papel das instituições e valores sociais no processo de desenvolvimento e de elaboração de políticas públicas, tendo em vista a promoção do ser humano.

Camargo (2002) destaca o crescimento apresentado pelo sistema de geração distribuída, nas últimas décadas, ressaltando os fatores que têm contribuído para isso, as vantagens (redução dos custos e impactos socioambientais, atendimento às regiões isoladas, maior confiabilidade do

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serviço, etc.), dificuldades a serem superadas e o papel do governo frente a isso. O artigo traça um panorama da geração distribuída, suas características, tecnologias mais apropriadas, políticas, regulamentações e a postura das concessionárias de energia diante desta alternativa.

Cohen & Tolmasquim (2002) apresentam os padrões de consumo como um indicador importante do modelo de desenvolvimento de um país em função das oportunidades geradas ou desperdiçadas para a estruturação da sociedade e da economia. De acordo com os autores, através deles pode-se conhecer qual o grau de igualdade social no acesso aos bens, o comportamento dos agentes frente à produção e à tecnologia, além da estrutura espacial, política e educacional de um país. A fim de investigar a influência da organização espacial e dos estilos de vida sobre o desenvolvimento e o meio ambiente, Cohen & Tolmasquim analisam as relações entre oferta e demanda, no plano energético, no que tange à estrutura produtiva e às opções dos agentes, especialmente através da estrutura de transportes das regiões metropolitanas, destacando o limite da eficiência tecnológica e a influência dos padrões de consumo sobre a energia.

Por último, Oliveira & Barbosa (2002) analisam as relações existentes entre sociedade moderna, energia e ambiente, tomando por base o trabalho de Ulrich Beck sobre a sociedade de risco. De acordo com Beck, não existe mais natureza intocada; dado o caráter transfronteiriço da questão ambiental, qualquer ato de degradação afeta inclusive regiões inóspitas, gerando o fenômeno da “democratização do risco”, em que todos os grupos sociais são atingidos, ainda que de forma diferenciada. E a energia ocupa um papel central nesse contexto, tanto como motor propulsor do crescimento econômico e da qualidade de vida como pelos problemas ambientais decorrentes de sua exploração, geração e uso final.

Nota-se, pelo que foi exposto, que é grande a preocupação dos diversos autores quanto às conseqüências desse processo de modernização para o ser humano e o planeta. O atual modelo de desenvolvimento, baseado na apropriação da natureza como mais um bem econômico a ser explorado ao máximo, é, ao mesmo tempo, socialmente perverso e ambientalmente insustentável.

No caso específico da energia, e mais particularmente no cenário brasileiro, a crise do setor elétrico incita-nos a profundas reflexões: será que o atual modelo, centrado na expansão da oferta

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sem questionar a demanda, é o mais apropriado para o país? A quem ele serve, realmente? Considerando-se a relação custo x benefício, não seria este o momento de se investir em rotas alternativas, norteadas por princípios éticos e mais sustentáveis do ponto de vista socioambiental? São respostas para tais questões que os autores citados buscam e para as quais este trabalho também pretende contribuir.

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Capítulo 3

Um Balanço Teórico sobre Desenvolvimento, Ambiente e Energia

3.1 O debate sobre desenvolvimento e ambiente: da Conferência de Estocolmo ao Relatório Brundtland

Elemento essencial para o desenvolvimento de uma sociedade, especialmente aquelas altamente industrializadas, a geração de energia exige empreendimentos de pequeno a grande porte que acarretam sérios riscos ambientais.

Diante disso, é crescente a preocupação de cientistas das mais diversas áreas do conhecimento, assim como da população em geral, acerca das conseqüências a curto, médio e longo prazo, daí decorrentes. Embora tenha se intensificado bastante, nos últimos anos, essa discussão remonta aos anos 60, quando se iniciaram debates esparsos sobre os riscos de degradação ambiental, os quais gradativamente ganharam força no final desta década e início dos anos 70.

A partir daí, a discussão rompeu fronteiras, resultando na Conferência Internacional para o Meio Ambiente Humano (realizada em Estocolmo, em 1972), solicitada pela Suécia após o desastre ambiental da Baía de Minamata, no Japão, em que o mercúrio vertido pelas indústrias

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locais contaminou seriamente pescadores e trabalhadores. Dentre as propostas dominantes desta conferência, figuravam a interrupção do crescimento e a transformação do recursos naturais em patrimônio da humanidade, colocando-os sob a custódia de um fundo mundial (Herculano, 1992).

Tais propostas geraram descontentamento por parte dos países terceiro-mundistas, incluindo o Brasil, cujos representantes no Painel de Desenvolvimento e Meio Ambiente (realizado em Founex, em 1971) declararam que a prioridade do governo brasileiro era o desenvolvimento acelerado, cabendo aos países desenvolvidos a responsabilidade pela recuperação dos desequilíbrios ambientais (Herculano, 1992). Após forte pressão, a delegação brasileira conseguiu influenciar alguns princípios da Declaração de Estocolmo, como o de n.º 8, por exemplo, que defendia o desenvolvimento econômico como essencial, derrotando a proposta de crescimento zero defendida pelo Relatório Meadows e o Clube de Roma, em 1972, cujas teses e conclusões principais eram (Brüseke, 1996):

• a constatação quanto ao iminente risco de se atingir os limites de crescimento, dentro dos cem anos seguintes, uma vez mantidas as tendências de aumento populacional, industrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos naturais reinantes naquela época, o que poderia levar a um declínio súbito e incontrolável tanto da população quanto da capacidade industrial;

• a argumentação de que seria possível reverter essas tendências de crescimento, bem como criar e manter as condições de estabilidade ecológica e econômica por um longo período, desde que se planejasse o estado de equilíbrio global de modo a atender as necessidades básicas de cada habitante do planeta, dando-lhes oportunidade de realizar seu potencial humano individual; e

• a conclusão de que, uma vez escolhida a segunda opção, a humanidade deveria começar a colocá-la em prática o quanto antes a fim de lograr êxito.

Foi em 1973 que surgiu, pela primeira vez, o conceito de ecodesenvolvimento, do qual originou-se o termo desenvolvimento sustentável. Criado pelo canadense Maurice Strong, consistia numa concepção alternativa de política de desenvolvimento e seus princípios básicos,

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que integravam seis aspectos que deveriam nortear os rumos do desenvolvimento eram os seguintes (Sachs, 1986):

• satisfação das necessidades básicas;

• solidariedade com as gerações futuras;

• participação da população envolvida;

• preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral;

• elaboração de um sistema social que garantisse emprego, segurança social e respeito a outras culturas; e

• implementação de programas de educação.

Pensada inicialmente para as regiões rurais da África, Ásia e América Latina, a teoria do ecodesenvolvimento, aos poucos, ampliou sua visão das inter-relações globais entre subdesenvolvimento e superdesenvolvimento, incorporando uma crítica à sociedade industrial.

Depois da Conferência de Estocolmo muitas outras se seguiram, resultando em diversos documentos, dentre os quais podemos destacar a Declaração de Cocoyok (1974), o relatório final da Fundação Dag-Hammarskjöld (1975) e o relatório Brundtland (1987) (Brüseke, 1996).

Documento elaborado a partir de uma conferência da UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development) e do UNEP (United Nations Environment Program), a Declaração de Cocoyok destaca as seguintes hipóteses:

• a explosão populacional tem como uma de suas causas a falta de recursos de qualquer tipo; pobreza gera desequilíbrio demográfico;

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• a destruição ambiental na África, Ásia e América Latina é também o resultado da pobreza que leva a população carente à superutilização do solo e dos recursos vegetais; e

• os países industrializados contribuem para os problemas do subdesenvolvimento por causa do seu nível exagerado de consumo; não existe somente um mínimo de recursos necessários para o bem-estar do individuo, existe também um máximo; por isso, os países industrializados têm que baixar seu consumo e sua participação desproporcional na poluição da biosfera.

As hipóteses acima foram aprofundadas pelo relatório final de um projeto da Fundação Dag-Hammarskjöld que contou com a representação de pesquisadores e políticos de 48 países e a participação do UNEP e mais 13 organizações da ONU. Nesse sentido, Brüseke (1996) destaca a discussão em torno da problemática do abuso de poder e sua interligação com a degradação do meio ambiente, feita a partir da análise do sistema colonial. Segundo o relatório, foi esse sistema um dos grandes responsáveis pelo intenso processo de devastação ambiental, na medida em que promoveu a concentração dos solos agricultáveis nas mãos dos colonizadores mediante a expulsão massiva e marginalização dos habitantes originais, obrigando-os a usar solos menos apropriados. Sobre estes documentos, Brüseke (1996) ressalta, ainda, outros dois aspectos interessantes: o seu otimismo, baseado numa forte confiança na capacidade dos países em alcançarem o seu próprio desenvolvimento (self-reliance), e o seu radicalismo, expresso na exigência de mudanças nas estruturas de propriedade do campo (com o controle dos produtores sobre os meios de produção). Além disso, o relatório demonstra rejeição ou omissão por parte dos governos dos países industrializados e pelos cientistas e políticos conservadores, acentuadas ainda mais pelo fracasso de várias experiências com esse tipo de modelo de desenvolvimento.

Quanto ao relatório Brundtland, de 1987, apresenta uma visão complexa das causas dos problemas socioeconômicos e ecológicos da sociedade global, destacando as inter-relações entre economia, tecnologia, sociedade e política e apontando para a necessidade de uma nova postura ética marcada pela responsabilidade coletiva de forma a garantir o futuro das próximas gerações. No entanto, ele peca por reduzir a crítica à sociedade industrial. Em suas conclusões são definidos apenas níveis mínimos de consumo, omitindo os níveis máximos. Além disso, condiciona a superação do subdesenvolvimento do hemisfério sul ao crescimento contínuo dos

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países industrializados, estendendo-o aos países não-industrializados, o que o torna contraditório com relação à posição dos movimentos ambientalistas.

A seguir, algumas medidas propostas pelo documento em questão, tanto em âmbito nacional quanto internacional:

• limitação do crescimento demográfico;

• garantia de alimentação em longo prazo;

• preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;

• diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que admitam o uso de fontes energéticas renováveis;

• aumento da produção industrial nos países não-industrializados a partir de tecnologias ecologicamente adaptadas;

• controle da urbanização selvagem e integração entre campos e cidades menores;

• satisfação das necessidades básicas;

• adoção, pelos organismos de fomento, da estratégia do desenvolvimento sustentável;

• proteção, pela comunidade internacional, dos ecossistemas supranacionais como a Antártida, os oceanos e o espaço;

• banimento das guerras; e

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3.2 A crítica à sociedade industrial e os desafios do desenvolvimento sustentável

Ao longo da história, o modelo de desenvolvimento capitalista tem se mostrado extremamente predatório do ponto de vista ecológico – em grande parte pela excessiva demanda energética requerida pela sua sustentação – e gerador de uma série de distorções sociais, políticas, culturais e éticas.

Resultante das relações dialéticas entre países industrializados e não-industrializados, no plano global, e entre segmentos de maior e menor poder político e econômico, em termos nacionais, o capitalismo tem a desigualdade como algo inerente à sua racionalidade instrumental voltada prioritariamente para a maximização do lucro.

Em conseqüência, torna-se cada vez mais crescente o fosso entre pobreza e riqueza, a qualidade de vida vem caindo drasticamente (em especial nos grandes centros urbanos) e agrava-se a depauperação dos recursos naturais e a deposição de resíduos tóxicos, colocando em risco a sobrevivência em escala planetária.

Tal crise ecológica tem exigido novas posturas dos pesquisadores, a redefinição de conceitos como progresso, alternativas de desenvolvimento e sustentabilidade, além de novas perspectivas de análise para questões como a globalização da economia e a crescente complexidade dos processos sociais (Barbosa, 2000).

Assim, o final do século XX sinaliza para o esgotamento de um estilo de desenvolvimento que se mostrou predador dos recursos naturais, perverso na geração de pobreza e desigualdade social, concentrador de poder, culturalmente alienado em relação à natureza e eticamente censurável em relação aos direitos humanos e das demais espécies (Guimarães, 1999). Isso desafia a humanidade a transformar radicalmente seu modo de ser e estar no mundo a partir da revalorização da subjetividade e da sensibilidade - relegadas a segundo plano desde o advento do capitalismo e sua racionalidade instrumental - e da instauração de novos princípios éticos que norteiem relações sociais mais justas e solidárias dos homens entre si e com os demais seres vivos.

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As conseqüências da modernidade encontram-se de tal forma radicalizadas e universalizadas que têm colocado o homem diante da dimensão do caos, do extermínio e da finitude de uma forma sem precedentes na história, restando-lhe apenas os questionamentos colocados por Barbosa (2000): quais as conseqüências desse processo para o indivíduo? Como o mesmo se orienta a partir desse conjunto de novas referências tradicionalmente estabelecidas para o conjunto social?

Considerando que todo e qualquer processo de desenvolvimento dá-se a partir de determinadas condições materiais e sociais e levando-se em conta as especificidades da grande maioria das nações do terceiro mundo, há de se convir que é impossível para elas alcançar o patamar do primeiro mundo (Altvater, 1995).

Ademais, mesmo que isso fosse possível, o próprio meio ambiente encarregar-se-ia de obstruir esse processo, dado o grande aporte de energia e recursos naturais necessários para tal empreitada, além do volume de resíduos tóxicos que seriam despejados na natureza, comprometendo a capacidade de absorção dos ecossistemas.

É nesse contexto de distorções geradas pelo modelo capitalista que surge o que Martinez-Alier (1997) chama de “distribuição ecológica de conflitos”, ou seja, o uso indiscriminado do espaço ambiental, principalmente pelos países industrializados, e a instalação de empreendimentos degradantes e poluidores em áreas habitadas por camadas sociais de baixo poder político e econômico.

Daí os questionamentos que surgem sobre até que ponto as sociedades vêm realmente progredindo ou se não seria ilusório aquilo que comumente denomina-se progresso, uma vez que os indicadores econômicos não distingüem o uso de recursos que sustentam e aqueles que minam o crescimento dado o fato de não incorporarem aos cálculos a depreciação do capital natural, incluindo-se os recursos renováveis e não-renováveis. Nem mesmo os efeitos destrutivos das atividades econômicas sobre o meio ambiente são computados (Brown, 1990).

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Somente assim poderíamos determinar o grau de comprometimento de nosso consumo sobre as futuras gerações, uma das principais preocupações dos defensores da concepção de desenvolvimento sustentável apresentada pelo Relatório Brundtland, proposta para a qual Brüseke (1996) chama a atenção pelo fato de estar demonstrando pouca força analítica, a despeito do espaço gradativamente conquistado pela ética nas discussões em torno dela, o que denota a falta de um referencial teórico. Segundo o autor, ela não passa de uma tentativa de harmonizar crescimento econômico, diversidades sócio-políticas e possibilidades e limites do mundo biofísico sem proceder à crítica das contradições do modelo vigente.

Para se ter uma idéia, o Relatório Brundtland, porta-voz da visão eco-capitalista, defende a tese de que a pobreza seria a causa primeira da degradação do meio ambiente quando, na verdade, ambos os processos são conseqüências do modo de produção capitalista e sua racionalidade instrumental a serviço da maximização do lucro (Herculano, 1992).

Segundo Herculano, a concepção do desenvolvimento sustentável sofreu diversas distorções nas últimas décadas em função das interpretações dos diferentes atores sociais. Originariamente ambientalista, esta noção significava “mudanças-chaves na estrutura de produção e consumo, nova ética do comportamento humano e recuperação do primado dos interesses sociais coletivos”. No entanto, hoje, ela “vem sendo perversamente invertida e reinterpretada como uma estratégia de expansão do mercado e do lucro” (Herculano, 1992: 11).

Herculano critica, ainda, a própria utilização do termo “desenvolvimento” como sinônimo de sociedade, uma vez que restringe o debate ao campo da economia, ao invés de incutir-lhe um caráter mais filosófico, ético mesmo, de modo a possibilitar a discussão de questões mais profundas sobre a própria essência do ser humano e sua sobrevivência.

3.3 O modelo desenvolvimentista brasileiro

O modelo desenvolvimentista brasileiro começou a ser implementado na década de 30, ocupando o governo Dutra, a partir de 46, um papel primordial na definição de rumos através da direção conservadora e pela neutralização da ação econômica estatal. Porém, foi no governo JK

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que esse modelo generalizou-se, atingindo seu apogeu nos governos militares, os quais proporcionaram as condições necessárias do ponto de vista político-institucional, econômico e social para que o desenvolvimento, baseado na industrialização pesada, se concretizasse (Draibe, 1985; Barbosa, 1990; Ferreira, 1993).

Assim, a partir dos anos 50, consolida-se um modelo de desenvolvimento norteado por um crescimento econômico acelerado e predatório, calcado na destruição da natureza e na exploração do ser humano em nome da máxima produtividade e do lucro, aliado a um intenso processo de urbanização sem planejamento adequado, resultando na deterioração dos serviços públicos, da qualidade de vida e do ambiente gerada pela falta de infra-estrutura (Faria, 1984). Além disso, problemas de longo prazo como o intenso consumo de energia e o grande volume de esgoto agravaram-se pelos fatores de curto prazo.

Como salienta Ferreira (1998), em todo o mundo, ainda que de forma diferenciada, todas as áreas urbanas apresentam duas realidades distintas e complementares entre si: inclusão/exclusão. Por um lado, estabelece-se nelas uma rede de relações no plano da economia, política e cultura, conectando zonas rurais, pequenas, médias e grandes cidades, propiciando a uma parcela significativa da população mundial o acesso a um elevado nível de consumo e riquezas; por outro, há uma grande massa de excluídos que não consegue satisfazer nem mesmo suas necessidades materiais básicas.

Exemplo claro disso é o caso do Estado de São Paulo: detentor do “maior peso na economia brasileira, se destaca também pela quantidade de problemas ambientais ao longo de todo o seu território” (Hogan, 2000: 275), levando sua população a vivenciar, simultaneamente, problemas típicos de um país altamente industrializado e de um país em desenvolvimento. Assim, “a magnitude de sua produção econômica faz com que responda por cerca de 50% da capacidade industrial instalada do país, por 67% da produção material de transporte e por 85% da produção dos aparelhos elétricos”. Por outro lado, é sede de mais de 60.000 indústrias, das quais 1.900 respondem por 90% de sua poluição industrial, fazendo com que o Estado detenha os maiores índices de poluição do ar e das águas, de degradação do solo, etc. (Hogan, 2000: 275), sem falar na grande camada de miseráveis que vivem à margem da sociedade.

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Assim, do entendimento desse processo de urbanização acelerada e da construção de novas relações histórico-sociais depende, em grande medida, a busca de soluções para os problemas decorrentes desse quadro de mudanças tão significativas por que tem passado o país nas últimas décadas.

Nesse sentido, segundo Ferreira (1998:25), “muito importantes são as redes que integram diferentes atores e/ou incorporam em suas plataformas de luta a questão sócio-ambiental e tentam influenciar a implementação de políticas públicas”, resultando numa visão mais crítica da relação entre pobreza, deterioração ambiental e capitalismo.

No Brasil, apesar do agravamento e das feições mais globais adquiridas pela problemática ambiental nos anos 70, a consciência das questões acima explicitadas foi tomada tardiamente, em meados dos anos 80, a partir da abertura política do país que, embora incipiente, permitiu a denúncia dos principais problemas de degradação, responsáveis pela queda dos níveis de qualidade de vida e pelo conseqüente comprometimento da saúde das populações residentes nos meios urbanos e rurais brasileiros da atualidade. Na verdade, segundo Barbosa (2000), a despeito do retrocesso econômico e social, a década de 80 representou um avanço ao chamar a atenção dos cientistas e profissionais das diversas áreas do conhecimento para as profundas transformações mundiais que se processavam.

Foi do questionamento desse processo de crescimento econômico que emergiu a consciência de crise ambiental, trazendo consigo novos e complexos temas e problemas, entre eles a desigualdade socioeconômica. É interessante destacar o modo como Barbosa (2000) retrata, no caso do Brasil, o paradoxo desse processo de transformação. Ao mesmo tempo em que o país apresenta um aspecto de modernidade ao deixar para o passado uma sociedade predominantemente rural, constituindo-se numa das maiores economias contemporâneas, ele está longe de apresentar características de sociedades industriais avançadas. Ao contrário, o processo de industrialização, da forma como ocorreu no Brasil, por meio da instalação de indústrias extremamente degradantes e poluentes, agravou ainda mais o quadro já crítico das condições de saúde da população e tampouco possibilitou a geração de empregos suficientes para minimizar as diferenças sociais.

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Daí a incorporação, pela Sociologia, de temas relacionados à degradação socioambiental, a começar pelo questionamento ao capitalismo. Dentre estes temas, podemos destacar: o esgotamento dos recursos naturais, o envenenamento progressivo da biosfera, a emergência de um novo e descontrolado quadro epidemiológico devido às mudanças biológicas derivadas das atividades humanas, guerra nuclear global, modificações do clima e da atmosfera, etc. Nesse contexto, também os conceitos de qualidade de vida e de desenvolvimento sustentável foram incorporados, na tentativa de se buscar novos caminhos para o país, os quais exigirão transformações estruturais, a começar pelo estabelecimento de novas relações sociais mais democráticas e igualitárias e pelo fortalecimento do poder local.

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Capítulo 4

A questão energética sob a ótica do Relatório Brundtland

Indispensável ao desenvolvimento, a energia provém de uma variada gama de fontes primárias – petróleo, gás, carvão, reações nucleares, biomassa, vento, água e sol – cujo uso exige todo um trabalho de conversão e acarreta sérios desperdícios devido à ineficiência dos equipamentos ou a falhas de planejamento.

Considerando que o modo de produção capitalista exige cada vez mais suprimentos energéticos para sua manutenção e que cada fonte tem seus custos, benefícios e riscos econômicos e socioambientais que podem comprometer o presente e o futuro, é de suma importância que as escolhas se façam acompanhar das devidas medidas preventivas.

Esta é uma das grandes preocupações do Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, da ONU, em seu capítulo 7 - relativo à energia - o qual tem a sustentabilidade como eixo e os seguintes elementos-chaves (Nosso Futuro Comum, 1991:187):

• aumento dos suprimentos energéticos em quantidade suficiente para atender às necessidades humanas com uma elevação mínima de 3% da renda per capita dos países em desenvolvimento;

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• adoção de medidas que visem à conservação e à eficiência energética, minimizando o desperdício de recursos primários;

• cuidados com a saúde pública e os riscos inerentes às fontes energéticas;

• proteção da biosfera e prevenção de formas mais localizadas de poluição.

De acordo com o referido relatório, essas questões devem ser encaradas com urgência e a partir de uma perspectiva global.

4.1 Energia, economia e meio ambiente

Um aspecto destacado, pela Comissão, diz respeito às desigualdades na distribuição global do consumo de energia primária. Em 1984, por exemplo, as economias industriais de mercado apresentavam um consumo per capita 80 vezes superior ao da África Subsaariana (Ver quadro 4.1). O relatório ressalta, ainda, que um quarto da população mundial consumia, na época, três quartos da energia primária do mundo.

Para justificar a preocupação com o futuro energético do planeta, são apresentados vários cenários, desde os mais baixos (14,4 TW por volta de 2030, 11,2 TW em 2020 e 5,2 TW por volta de 2030) até os mais altos (18,8 TW em 2025, 24,7 TW em 2020 e 35,2 TW por volta de 2030). Os primeiros exigiriam “uma revolução no rendimento energético”, ao passo que os demais “agravariam os problemas de poluição ambiental que o mundo vem enfrentando desde a II Guerra Mundial”; além disso, ambos demandariam maiores investimentos. Para se ter uma idéia, de acordo com o Banco Mundial, um crescimento anual de 4,1% no consumo de energia, no período de 1980-1995, necessitaria um investimento médio anual de, aproximadamente, US$ 130 bilhões (em dólares de 1982) apenas nos países em desenvolvimento, o que equivaleria à duplicação da parcela de investimentos em energia em termos de produto interno bruto agregado, provindo metade desse montante de divisas e a outra metade de gastos internos com energia nos países em desenvolvimento (Nosso Futuro Comum, 1991:189).

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Quadro 4.1

Consumo global de energia primária per capita, 1984

Classificação do Banco Mundial segundo o PNB PNB per capita (dólares de 1984) Consumo de energia (kW per capita)¹ População em meados de 1984 (milhões) Consumo total (TW) Renda Baixa 260 0,41 2.390 0,99 África Subsaariana 210 0,08 258 0,02 Renda Média 1.250 1,07 1.188 1,27 Média baixa 740 0,57 691 0,39 Média alta 1.950 1,76 497 0,87 África Subsaariana 680 0,25 148 0,04 Exportadores de petróleo de renda alta 11.250 5,17 19 0,10 Economias industriais de mercado 11.430 7,01 733 5,14 Economias de planejamento centralizado do Leste Europeu -o- 6,27 389 2,44 Mundo -o- 2,11² 4.718 9,94

Fonte: Banco Mundial. Relatório sobre o desenvolvimento mundial 1986. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas,

1986. (Apud Nosso Futuro Comum, 1991: 188)

kW per capita é o consumo anual per capita em kW ano (1kW ano= 31,6 GJ).

O consumo médio de energia ponderado pela população (kW/per capita) para as três primeiras categorias principais é 0,654 e para as categorias economias industriais de mercado e Leste Europeu é 6,76.

Quanto às incertezas e riscos ambientais, o relatório destaca os seguintes pontos, preocupantes até mesmo para cenários de baixo consumo:

• as mudanças climáticas decorrentes do efeito estufa, a poluição atmosférica e a acidificação do meio ambiente, resultantes da queima de combustíveis fósseis;

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• risco de acidentes nucleares, os problemas de deposição dos rejeitos e da desativação dos reatores após seu tempo de vida útil e os perigos de contaminação associados ao uso desse tipo de energia; e

• a escassez cada vez maior de lenha nos países em desenvolvimento.

No que tange às mudanças climáticas, o documento preocupa-se especialmente com as emissões de CO2 e de óxidos de enxofre e nitrogênio que poderiam acarretar um sensível

aquecimento global até 2020 e o agravamento da chuva ácida. Segundo a Comissão, no final da década de 80, alguns países já exigiam a adoção de tecnologias para eliminar estas emissões nas instalações fabris novas e, até mesmo, em algumas mais antigas. Isso, porém, geraria um acréscimo de cerca de 15 a 20% nos investimentos, acarretando sérios problemas para várias nações do terceiro mundo.

Daí a importância da redução do consumo energético sem comprometer o PIB, redirecionando o foco para a conservação e eficiência em detrimento da geração de energia, o que exigiria profundas mudanças, inclusive políticas e institucionais, que permitissem o desenvolvimento de novas tecnologias. Diga-se, de passagem, metas difíceis de serem alcançadas plenamente pela grande maioria das economias nacionais.

Apesar das dificuldades, no entanto, esta opção tem se mostrado viável, possibilitando a estabilização do consumo de energia primária nos países industrializados e o crescimento dos países emergentes com menores custos socioambientais. Porém, como ressalta o relatório, isso não significa a queda da necessidade global de novos e maiores suprimentos de energia.

4.2 Combustíveis fósseis: o dilema constante

Com relação aos combustíveis fósseis, o Relatório Brundtland aponta dois problemas: a) a recuperação das reservas de petróleo, gás natural e carvão mineral e b) o risco de poluição. Sobre o primeiro, diz o documento que, nas décadas iniciais do século XXI, a produção de petróleo se estabilizará e declinará gradualmente com ofertas reduzidas e preços mais altos. Quanto ao gás e

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ao carvão, deverão durar, respectivamente, mais de 200 e cerca de 3 mil anos, às taxas atuais de consumo.

No que se refere ao segundo aspecto, todos os combustíveis citados apresentam três problemas de poluição atmosférica, cuja solução exige boas condições econômicas dos países, embora a eliminação dos poluentes emitidos por esse tipo de combustão (exceto o CO2),

geralmente, se dê a um custo inferior aos danos causados. São eles: o aquecimento global, a poluição urbano-industrial do ar e a acidificação do meio ambiente. Dos três, o aquecimento global tem se mostrado o mais preocupante, como salientaram cientistas de 29 países industrializados e em desenvolvimento, durante uma reunião realizada em outubro de 1985, em Villach, Áustria, promovida pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e o Conselho Internacional de Uniões Científicas (CIUC):

“Hoje, vêm sendo tomadas muitas decisões econômicas e sociais importantes sobre (...) as principais atividades relativas à gestão dos recursos hídricos, como a irrigação e energia hidrelétrica, medidas para atenuar as secas, uso de terras agricultáveis, planos estruturais e projetos de engenharia costeira e planejamento energético, todas baseadas na premissa de que os dados climáticos do passado, sem modificações, constituem uma orientação segura para o futuro. Essa já não é uma premissa válida.” (World Meteorological Organization, 1985, Apud Nosso Futuro Comum, 1991: 194-195)

Estudos do final da década de 80, apontam para uma duplicação da concentração de CO2 na

atmosfera e uma elevação das temperaturas médias da superfície terrestre da ordem de 1,5% a 4,5%, com um aquecimento mais alto durante o inverno nas latitudes mais altas do que no equador. Essa elevação, associada a um aumento de temperaturas até duas ou três vezes maior nos pólos, poderia fazer o nível do mar subir entre 25 a 140 cm. Índices maiores teriam conseqüências drásticas: inundação de cidades costeiras e áreas agrícolas situadas em nível mais baixo, desestruturando muitos países do ponto de vista econômico, social e político e desequilibrando a “máquina térmica atmosférica” (regulada pelas diferenças de temperatura entre os pólos e o equador), o que influenciaria os regimes pluviais. Além disso, desconhecem-se os efeitos do aquecimento dos oceanos sobre os ecossistemas marinhos, zonas pesqueiras e cadeias alimentares.

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Diante de tamanha complexidade e tantas incertezas, o relatório propõe as seguintes medidas a serem aplicadas em conjunto pelos governos, a Organização Meteorológica Mundial, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o Conselho Internacional de Uniões Científicas e a comunidade científica em geral; se fosse o caso, tais medidas seriam apoiadas por uma convenção global (a Rio-92 aconteceria alguns anos depois):

• um melhor acompanhamento e avaliação dos fenômenos que estão ocorrendo;

• intensificação das pesquisas com o intuito de se aprofundar o conhecimento sobre as origens, mecanismos e efeitos dos fenômenos supra-citados;

• implementação de políticas que derivem de um acordo internacional para a redução dos gases que causam poluição; e

• adoção de estratégias tendo em vista a minimização das emissões, das alterações climáticas e da elevação do nível do mar.

Dada a urgência da questão, também poderiam e deveriam ser postas em prática políticas mais imediatas, principalmente aquelas relativas à ampliação das conquistas no campo da eficiência energética e uso de fontes renováveis. Aliado a isso, seria fundamental um controle rígido sobre todos os produtos químicos agressivos ao meio ambiente, especialmente os que influenciam de alguma forma o equilíbrio da radiação na terra. Também nesse caso a Comissão propôs uma convenção sobre políticas de contenção de produtos químicos e, a curto prazo, o traçado de planos de contingência visando à adaptação às alterações climáticas além da aceleração de programas que integrem a pesquisa, acompanhamento e avaliação dos efeitos de tais produtos sobre o clima, a saúde e o meio ambiente.

Desde os anos 60, o problema da poluição urbano-industrial preocupa autoridades, cientistas e a população, resultando na implementação de ações corretivas, tais como a definição de critérios e padrões de qualidade do ar e a exigência de tecnologias de controle de poluentes eficazes em função dos custos. Entretanto, apesar de todos os esforços, o problema continua se

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agravando nos centros urbanos, a despeito dos avanços sociais e tecno-científicos, passando do âmbito local para o global e gerando um novo tipo de agressão: a chuva ácida (essa questão será melhor explicitada no próximo capítulo). Assim, a questão tornou-se muito mais complexa e envolve construções, ecossistemas e a saúde pública com altos custos socioeconômicos. Nesse sentido, o relatório defende a tese de que os governos estabeleçam e cumpram “metas e objetivos de qualidade do ar, níveis aceitáveis de descarga de poluentes na atmosfera e critérios e padrões de emissão”, iniciativas que deveriam ser apoiadas pelas organizações regionais, assim como “as agências multilaterais e bilaterais de assistência ao desenvolvimento e os bancos de desenvolvimento deveriam incentivar os governos a exigir o uso das tecnologias de maior rendimento energético sempre que indústrias e serviços de energia planejassem erguer novas instalações ou ampliar as já existentes” (Nosso Futuro Comum, 1991:198).

Para se ter uma idéia, na época de sua elaboração, em 1987, o relatório apontava que cerca de 14% de toda a área florestal européia encontrava-se comprometida e o problema começava a atingir o Japão e países recém-industrializados da Ásia, África e América Latina - com o agravante de que nessas regiões pouco se conhecia sobre os níveis de enxofre e nitrogênio lançados ao meio ambiente e tampouco sobre a capacidade de neutralização de ácidos dos solos, lagos e florestas tropicais.

Diante disso, a Comissão defende a adoção de “um conjunto de estratégias e tecnologias integradas a fim de melhorar a qualidade do ar” (Nosso Futuro Comum, 1991:200), sempre respeitando-se as especificidades locais. No que tange à acidificação, o documento propõe que os governos façam o levantamento das áreas propensas a esse risco e avaliem anualmente os danos sofridos pelas florestas e, a cada cinco anos, o empobrecimento do solo de acordo com protocolos regionais, divulgando os resultados obtidos. Além disso, deveriam apoiar o trabalho de agências regionais encarregadas do monitoramento da poluição além-fronteiras, criando-as onde não existem (ou incumbindo da tarefa qualquer outro órgão regional adequado). Seria importante, também, o estabelecimento de acordos internacionais para prevenir esse tipo de problema, principalmente considerando-se que, apesar das dificuldades, as medidas para reduzi-lo são economicamente viáveis e, pode-se dizer, baratas se comparadas à destruição dele decorrente.

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4.3 Energia nuclear: problemas não-resolvidos

Desde o fim da II Guerra Mundial, a política nuclear foi reformulada por técnicos civis com o intuito de servir a fins energéticos pacíficos e, para tanto, procedeu-se a uma intensa cooperação internacional e à negociação de diversos acordos. Porém, ao longo do tempo, muitos riscos se fizeram presentes, entre os quais podemos citar: o uso bélico da referida fonte, a contaminação radiativa e a eliminação dos rejeitos nucleares. Tudo isso exige grandes esforços e investimentos por parte dos governos, anulando “as expectativas de que esta seria uma fonte-chave para assegurar uma oferta ilimitada de energia de baixo custo” (Nosso Futuro Comum, 1991: 202).

No que tange ao risco de proliferação de armas nucleares, o relatório aponta as dificuldades da separação técnica e administrativa do acesso civil e militar, recomendando a estreita cooperação entre fornecedores, compradores e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), de modo a evitar o desvio de programas com finalidades civis, sobretudo nos países que restringem a inspeção da AIEA.

Quanto à relação custo/economia relativa das unidades geradoras de eletricidade movidas a energia nuclear, carvão, petróleo ou gás, ela é condicionada, ao longo da vida útil do empreendimento, pelos seguintes fatores, os quais variam muito de acordo com as especificidades locais (contextos institucionais, legais e financeiros):

• custo dos empréstimos para financiar a construção da usina;

• impacto da inflação;

• a duração do período de planejamento, licenciamento e construção;

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• os custos de medidas preventivas para assegurar um funcionamento seguro; e

• os custos da eliminação de rejeitos (contenção da poluição da terra, do ar e da água) e os custos da desativação no fim da vida útil.

De qualquer forma, segundo o documento, no caso das usinas nucleares, houve um aumento significativo de custos na década de 80, reduzindo drasticamente a vantagem desta fonte energética sobre as demais.

Há, ainda, outro problema associado a esse tipo de empreendimento: o risco de acidentes com graves conseqüências para a saúde e o meio ambiente. Embora ele seja mínimo, dada a rigidez das normas de segurança, o perigo existe e não pode ser descartado. Mesmo porque, apesar da Comissão Internacional de Proteção Radiológica (CIPR), desde 1928, e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) - através dos Padrões de Segurança Nuclear (PSN), instituídos em 1975 – estabelecerem uma série de recomendações relativas aos níveis máximos de exposição à dosagens radiativas e à redução das diferenças de segurança entre os Estados-membros, elas não têm caráter obrigatório. Ou seja, em caso de acidentes, cabe a cada país decidir sobre o nível de contaminação que tornará proibitivo o consumo animal ou humano de pastagens, alimentos e água potável. Em alguns casos, esta autonomia se dá, até mesmo, em âmbito local dentro de cada país (alguns sequer adotam critérios, apesar da CIPR e do PSN). Isso causa sérios transtornos comerciais e políticos entre os Estados, uma vez que aqueles com padrões mais rigorosos não hesitam em destruir grandes quantidades de alimentos ou deixam de importá-los de países vizinhos mais liberais quanto aos critérios.

Outro problema grave e que continua sem solução, apesar de todo o avanço tecnológico, é o da deposição dos rejeitos radiativos. Nesse caso, o que mais preocupa é o despejo nos oceanos ou em países pequenos e/ou pobres com pouco poder de decisão sobre sua própria segurança. Por isso, deveria determinar-se com clareza que os países geradores desse tipo de rejeito o depositassem em seus próprios territórios ou através de acordos rigidamente monitorados entre os Estados.

Referências

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