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AO JUÍZO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE SÃO PAULO - SP

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Academic year: 2021

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Rua Teixeira da Silva, 217 – 4.º andar – Paraíso – São Paulo – SP – CEP 04002-030. E-mail: idosoepcd@defensoria.sp.def.br

Rua Boa Vista, 150, mezanino – Centro - São Paulo – SP – CEP 01014-000. E-mail: nudecon@defensoria.sp.def.br

Rua Líbero Badaró, 616, 3º andar – Centro - São Paulo – SP - CEP 01502-000 E-mail: nucleo.hu@defensoria.sp.def.br

AO JUÍZO DA __ VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE SÃO PAULO - SP

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, pelos/as

Defensores/as Públicos/as que esta subscreve, vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 134, caput da Constituição da República, artigo 1º, inciso VI c/c artigo 5º da Lei 7.347/85, artigo 4º inciso VII da Lei Complementar nº 80/94 e artigo 5º, inciso VI, alínea ‘g’ da Lei Complementar Estadual 988/06, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

com pedido de antecipação dos efeitos da tutela

em face da SÃO PAULO TRANSPORTE S/A – SPTRANS (CNPJ 60.498.417/0001-58), a ser citada na pessoa do seu presidente, na Rua Boa Vista, 236 - Centro - São Paulo/SP, CEP: 01014-000, FAZENDA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO (CNPJ 46.395.000/0001-39), pessoa jurídica de direito público, a ser citado na pessoa da Procuradora Geral do Município, Doutora Marina Magro Beringhs Martinez, no Viaduto do Chá, 15 – 10.º andar, CEP 01002-900, São Paulo, SP, e FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO (CNPJ 46.379.400/0001-50), pessoa jurídica de direito público, a ser citada na pessoa da Procuradora Geral do Estado, Doutora Maria Lia Pinto Porto Corona, na Rua Pamplona, 227, 17.º andar, CEP 01405-902, São Paulo, SP, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:

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I - DOS FATOS

Chegou ao conhecimento da Defensoria Pública e especificamente do Núcleo Especializado de Direitos da Pessoa Idosa e da Pessoa com Deficiência por meio da Presidência do Grande Conselho Municipal do Idoso, que a Lei Municipal n.º 17.542/2020 revogou a Lei Municipal 15.912/2013, que dispunha sobre a gratuidade na tarifa nas linhas urbanas de ônibus às pessoas com idade igual ou maior que 60 (sessenta) anos, no âmbito do Município de São Paulo.

Chegou, ainda, ao conhecimento daquele Núcleo por meio do Conselho Estadual do Idoso e por lideranças do Coletivo dos Direitos da Pessoa Idosa, que o Decreto Estadual 65.414/20 revogou o Decreto 60.595/14, o qual regulamentava a Lei 15.187/13 que autorizava o Poder Executivo a implementar a gratuidade na tarifa nos transportes públicos de passageiros às pessoas maiores de 60 (sessenta) anos.

Ambas as revogações ocorreram no apagar das luzes do ano de 2020 e de forma a não permitir a participação dos usuários e usuárias do serviço de transporte público, tampouco e especificamente das pessoas idosas, no processo legislativo e, também, a não respeitar a situação daqueles que já possuem bilhete válido por 5 (cinco) anos e que o obtiveram na vigência da regulamentação anterior.

Conforme noticiado em diversos veículos de jornal impresso e eletrônico1 e de acordo com o relato2 de um dos membros do Conselho Municipal de Transporte e

1

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/12/29/impacto-economico-e-baixo-e-social-e-grande-diz-especialista-sobre-fim-de-transporte-gratuito-para-idosos-abaixo-de-65-anos.ghtml

https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2021-01/sao-paulo-barra-gratuidade-de-transporte-para-idoso-ate-65-anos

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Trânsito3, essa alteração nunca foi posta à discussão naquele colegiado. Uma reunião que iria acontecer no dia 22 de dezembro não ocorreu e ainda que tivesse ocorrido a decisão já estava tomada, tendo em vista a data de publicação da Lei e do Decreto.

Assim, as pessoas idosas foram pegas de surpresa, justamente elas que são grupo de risco neste momento de pandemia, que precisam do transporte para comparecer a consultas e exames médicos ou trabalhar, porque ou não conseguiram ainda se aposentar por não ter emprego formal ou recebem uma pequena aposentadoria. E isso em meio a uma crise sem precedentes - crise sanitária e crise econômica - na qual o número de desempregados aumenta e a inflação alcançou números mais altos que os anteriores4.

E, o que se verá adiante, é que este quadro reforça a legítima argumentação, ora defendida nesta ação, de que admitir a retroatividade da lei para impor à cobrança das tarifas de ônibus, metrô e trem àqueles cidadãos que já haviam preenchido os requisitos para a fruição da gratuidade do transporte, sob a vigência das normativas anteriores, representa inaceitável insegurança jurídica, em afronta ao Estado Constitucional de Direito.

Importante esclarecer que a lei municipal e decreto estadual, que revogaram a gratuidade dos transportes ao grupo populacional de pessoas idosas com idade entre 60 e 64 anos, já estão sendo alvo de impugnação em diversas ações judiciais, que questionam especialmente o processo legislativo e a forma de revogação da lei

3 De acordo com o Decreto nº 54.058/2013, o CMTT “é órgão colegiado de caráter consultivo, propositivo

e participativo em questões relacionadas às ações de mobilidade urbana executadas pela Secretaria Municipal de Transportes, diretamente ou por intermédio da São Paulo Transporte S/A – SPTrans e da

Companhia de Engenharia de Tráfego – CET”. Disponível em:

http://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/decreto-54058-de-01-de-julho-de-2013

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municipal e decreto estadual, cujos argumentos não se reproduz nesta ação, que tem objeto diverso e pretende garantir o direito adquirido pelas pessoas idosas sob a égide da legislação anterior. Assim, a presente ação não se mostra contrária ao requerido em outras ações, mas possui pedido mais restrito e subsidiário.

Diante do exposto, não restou alternativa a não ser a propositura da presente ação civil pública, visando garantir a manutenção do direito à gratuidade nos veículos integrantes do Sistema de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros do Município de São Paulo e nos transportes públicos de passageiros quando operados pela Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) e Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e gerenciados pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo S/A (EMTU/SP) para as pessoas idosas entre 60 e 64 anos que tenham adquirido o direito na vigência da Lei Municipal n.º 15.912/13 e do Decreto Estadual 60.595/14, bem como o não bloqueio ou desbloqueio dos Bilhetes Únicos Especiais de Idosos adquiridos e expedidos na vigência da Lei e Decreto e ainda válidos.

II - DA LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO E DA PERTINÊNCIA DO OBJETO DA PRESENTE AÇÃO COM A SUA MISSÃO CONSTITUCIONAL

Evidentemente, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo guarda legitimidade para ajuizar a presente demanda, eis que, como instituição essencial à função jurisdicional, a qual incumbe a defesa dos necessitados (art. 134 da CF/88 e art. 103 da CESP/89) é órgão da administração pública, pelo qual se concretizam objetivos fundamentais da República, como o de construir uma sociedade livre, justa e solidária, e mais especialmente o de erradicar a pobreza e a marginalidade, reduzindo as

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desigualdades sociais e regionais (art. 3º, incisos I e III da CF/88 c/c art. 3º da Lei Complementar Estadual 988/06).

Nesse tocante, cumpre rememorar que as alterações introduzidas pela Lei nº 11.448, de 15 de janeiro de 2007, na Lei de Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), sepultaram de vez quaisquer dúvidas acerca da legitimidade da Defensoria Pública para propor ação civil pública na defesa de interesses metaindividuais, sobretudo quando a ação envolva o interesse de grupo de hipossuficientes econômicos, conforme verificado no presente caso.

É que, de acordo com o artigo 5º da Lei 7.347/85, inciso II, com a redação alterada pela citada lei, tem legitimidade para propor a ação (civil pública) principal e ação cautelar a Defensoria Pública. Não é só. Consoante os termos do art. 4º, inciso VII da Lei Complementar nº 80/94 e do art. 5º, inciso VI, alínea 'g' da Lei Complementar Estadual nº 988/06, constitui atribuição institucional da Defensoria Pública do Estado de São Paulo a promoção de ação civil pública para a tutela de interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos - por fim, reitera a Lei Complementar Estadual n.º 988/06 que é atribuição da Defensoria Pública paulista a promoção de ação civil pública de interesse difuso, coletivo e individual (art. 5.º, VI, g, corroborado pelo art. 50 da mesma legislação).

Posto isso, também é indiscutível a pertinência temática do objeto desta ação com a missão constitucional da Defensoria Pública, voltada à proteção da população necessitada (CF, art. 134).

Os serviços de transporte público coletivo, segundo dicção do art. 30, inciso V, da Carta Magna, possuem caráter essencial, pois além de garantir a mobilidade

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urbana para as camadas menos favorecidas, permite o acesso da população aos demais direitos sociais, tais como o trabalho, saúde, educação, cultura e lazer. Além disso, a EC 90/2015 inseriu o transporte no rol do art. 6º da CF, de maneira a exigir que o Poder Público adote uma nova postura no tocante a esse direito social.

A insuficiente ou má prestação de tal serviço público produz reflexos diretos e mais nocivos nas camadas da população hipossuficiente, totalmente dependentes de tal modal de transporte para manutenção de suas atividades diárias, donde exsurge o interesse da Defensoria Pública do Estado de São Paulo em questionar judicialmente a prestação de tais serviços, em especial das alterações implementadas pelo Município de São Paulo e pelo Estado de São Paulo.

Não se pode imaginar, que em um período de recessão econômica, caracterizado pela adoção de medidas de austeridade e de redução de direitos sociais, o Poder Executivo tenha cessado a gratuidade no transporte para pessoas idosas que ainda não possuem 65 (sessenta e cinco) anos de idade.

Ademais, considerando o momento atual de recessão não só no país, como também na cidade, essa alteração nas regras toma a todos de surpresa, pois é exatamente nesse momento de crise que diversas famílias mais precisam do transporte público, mormente a população idosa, para quem é sabidamente mais difícil obter emprego.

De acordo com os Indicadores Sociodemográficos da População Idosa Residente na Cidade de São Paulo de 20195, elaborado com base em pesquisas de 2010,

5https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/direitos_humanos/IDOSO/PUBLICACOES/I

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há 116 (cento e dezesseis) idosos pra cada 1000 (mil) habitantes que vivem na pobreza ou extrema pobreza, na cidade de São Paulo; a proporção de idosos passou de 11,9 em 2010 para 15,2 em 2019; a média de idade dos idosos é de 70,1 anos de idade; a proporção de idosos com 75 anos ou mais caiu de 28,2 em 2010 para 24,6 em 2019.

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O mesmo relatório também aponta que 53% dos idosos residentes em Marsilac, por exemplo, no extremo sul paulista, não tem acesso de forma simultânea a todos os bens indispensáveis ao bem-estar, e na cidade de São Paulo a porcentagem é de 22,6% (o que significa quase ¼ dessa população).

No mesmo documento consta que a expectativa média de vida na capital é de 76,8 anos, porém que a diferença entre o distrito com a pior (São Miguel Paulista) e a melhor (Alto de Pinheiros) expectativa de vida ao nascer é de 14 anos.

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Ora, é justamente a população residente nos bairros como São Miguel Paulista que a Defensoria Pública atende, pois é um bairro distante do centro e dos equipamentos públicos, além de ser um dos mais pobres da capital, onde as pessoas necessitam mais do transporte público.

Com efeito, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo é órgão estatal, que, haja vista suas próprias funções institucionais, representa adequadamente os interesses dos necessitados no âmbito do processo coletivo, legitimando sua atuação no presente caso.

Assim, por todo o exposto, está cabalmente demonstrado que a atuação desta Instituição é um dever e possui legitimidade para propor a presente demanda coletiva, com o objetivo de resguardar os direitos e interesses das pessoas idosas que já possuíam 60 (sessenta) anos na data da alteração da Lei municipal e do Decreto estadual e que utilizam ou que queiram utilizar o transporte público.

Destarte, compete à Defensoria Pública do Estado de São Paulo ingressar em juízo com a presente medida em cumprimento ao ordenamento jurídico pátrio, respaldado pelo consolidado entendimento jurisprudencial de nossos Tribunais.

III - DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

III.I DO DIREITO ADQUIRIDO À GRATUIDADE NO TRANSPORTE COLETIVO PARA PESSOAS IDOSAS ENTRE 60 E 64 ANOS NA VIGÊNCIA DA LEI MUNICIPAL 15.912/13 E DO DECRETO ESTADUAL 60.595/14

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De acordo com a Lei Municipal 15.912/13, as pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, usuárias dos veículos integrantes do Sistema de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros do Município de São Paulo, a partir de 16 de dezembro de 2013, passaram a ter direito à gratuidade da tarifa.

Com o Decreto Estadual 60.595/14, a partir do dia 02 de julho de 2014, as pessoas maiores de 60 (sessenta) anos passaram a ter direito à gratuidade de tarifa instituído pela Lei Estadual 15.187/2013 nos transportes públicos de passageiros quando operados pela Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) e Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e gerenciados pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo S/A (EMTU/SP).

Como se verifica, para exercício do direito à gratuidade da tarifa no Sistema de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros do Município de São Paulo ou nos transportes públicos de passageiros operados pelo Metrô e pela CPTM e gerenciados EMTU/SP era necessário o preenchimento de apenas um requisito, qual seja, ter idade igual ou maior de 60 anos.

Este direito à gratuidade de tarifa estava sendo concedido às pessoas idosas maiores de 60 anos desde 2013/2014 até a data da entrada em vigor da Lei 17.542/20 que revogou a Lei Municipal 15.912/13 e do Decreto Estadual 65.414/20 que revogou o Decreto 60.595/14 (22 de dezembro de 2020 e 1 de janeiro de 2021, respectivamente)6.

6 O que fez a Prefeitura foi apenas postergar o cancelamento do Bilhete Único Especial para o dia 1 de

fevereiro de 2021, por meio do Decreto nº 60.037/2020:

“Art. 2º As pessoas idosas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos e inferior a 65 (sessenta e cinco) anos usuárias do Serviço de Transporte Coletivo Público de Passageiros na Cidade de São Paulo deverão providenciar a substituição do Bilhete Único Especial da Pessoa Idosa até o dia 1º de fevereiro de 2021, inclusive.

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Assim, nesse período, todos que preenchessem o requisito de ter idade igual ou maior de 60 anos adquiriam o direito à gratuidade de tarifa nos veículos integrantes do Sistema de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros do Município de São Paulo e nos transportes públicos de passageiros operados pelo Metrô, CPTM ou gerenciados pela EMTU/SP.

No entanto, com a revogação absolutamente repentina da Lei e do Decreto, milhares de pessoas idosas que já tinham adquirido o direito à gratuidade de tarifa por preencherem o requisito etário não podem ser privadas, ainda mais de forma abrupta e subreptícia, do exercício destes direitos nos sistemas de transporte municipal ou estadual da capital e da região metropolitana.

O princípio da segurança jurídica trata de princípio geral do direito, que decorre da própria essência do Estado Democrático de Direito. Não se encontra insculpido em nenhum dispositivo constitucional específico, mas seu conteúdo é consagrado na doutrina. A esse respeito, cite-se o professor Celso Antônio Bandeira de Mello:

Ora bem, é sabido e ressabido que a ordem jurídica correspondente a um quadro normativo proposto precisamente para que as pessoas possam se orientar, sabendo, pois, de antemão, o que devem ou o que podem fazer, tendo em vista as ulteriores consequências imputáveis a seus atos. O Direito propõe-se a ensejar uma certa estabilidade, um mínimo de certeza na regência da vida social. Daí o chamado princípio da ‘segurança jurídica’, o qual, bem por isto, se não é o mais

§ 1º Os usuários que completarem a idade mínima de 65 (sessenta e cinco) anos até o dia 1º de fevereiro de 2021, inclusive, manterão o benefício, sem necessidade de substituição do cartão.

§ 2º Os cartões de pessoas que não completarem 65 (sessenta e cinco) anos até o dia 1º de fevereiro de 2021, inclusive, serão cancelados a partir de então.

§ 3º Durante o período de transição, os usuários mencionados no “caput” deste artigo poderão utilizar o Bilhete Único Especial da Pessoa Idosa, sem prejuízo da ativação de outro, conforme o perfil solicitado.”

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importante dentro todos os princípios gerais de Direito, é, indisputadamente, um dos mais importantes entre eles7.

Um direito à segurança jurídica abrange o direito contra medidas de cunho retrocessivo, como a redução ou supressão de posições jurídicas já implementadas.8

Nesse sentido, a Constituição, em seu art. 5º, XXXVI, determina que ‘a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada’. Desse modo, visa garantir um mínimo de estabilidade das relações jurídicas. A norma constitucional veda que as leis produzam efeitos retroativos às situações pretéritas já consumadas.

Também é o que determina o art. 6º da Lei de Introdução às Normas do Direito brasileiro (Lei nº 12376/2010): “a lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada” (art. 6.º).

Segundo Elival da Silva Ramos9:

Os direitos adquiridos são aquelas situações subjetivas de vantagem surgidas a partir de determinado fato jurídico que “passam a se vincular de modo tão próximo e intenso ao seu titular que o sistema jurídico lhes atribui um novo status, o de direito adquirido, para, com isso, torná-los imunes, em seus aspectos nucleares ou essenciais, aos efeitos da legislação posterior àquela sob a qual se constituíram. (grifos no original)

7 Celso Antônio Bandeira de Mello. Curso de Direito Administrativo. 34 ed. São Paulo: Malheiros, 2019,

p. 127.

8 André Ramos Tavares, Curso de Direito Constitucional. 18 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. 9 Elival da Silva Ramos, A proteção aos Direitos Adquiridos no Direito Constitucional Brasileiro, p.

144-5, in André Ramos Tavares, Curso de Direito Constitucional. 18 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

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Por fim, é cabível a menção ao Agravo Regimental no Recurso Extraordinário com Agravo 644.801 / RJ, julgado por unanimidade na 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal, em 24.11.2015, no qual o Relator Ministro Marco Aurélio bem explica que:

1. Não procedem os argumentos sustentados pelo agravante. O Tribunal de origem assentou terem logrado os agravados o direito à pensão, considerada a legislação vigente à época do óbito do instituidor, na forma do Enunciado nº 340 do Superior Tribunal de Justiça, afastando a incidência de lei nova. Resguardou, isso sim, o direito adquirido, consignando a não-retroatividade da norma quanto a pensionista.

É hora de perceber-se não haver espaço para empolgar-se a máxima segundo a qual não existe direito adquirido a regime jurídico. Vivem-se ares democráticos e essa visão é incompatível com o verdadeiro Estado Democrático de Direito.

Desta forma, a despeito das mudanças ocorridas nos âmbitos municipal e estadual, a cobrança da tarifa apenas pode atingir aqueles que completarem 60 anos a partir da entrada em vigor, ou seja, 22 de dezembro de 2020 (municipal) e 01 de janeiro de 2021 (estadual), devendo ser resguardado o direito das as pessoas idosas entre 60 e 64 anos que tenham adquirido o direito na vigência da Lei Municipal n.º 15.912/13 e do Decreto Estadual 60.595/14, inclusive para requerimento do Bilhete Único Especial do Idoso.

III.II DO BLOQUEIO ILEGAL DE BILHETE ÚNICO ESPECIAL DE PESSOA IDOSA DENTRO DA VALIDADE

Como dito, consta de sítio eletrônico da SPTRANS10 que: conforme Decreto nº 60.037/2020, a partir de 01/02/2021, os bilhetes únicos especiais de pessoa idosa de quem contar com menos de 65 (sessenta e cinco) anos não completos serão bloqueados.

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A novel norma municipal, em seu art. 7º, revoga a Lei Municipal 15.912/13, que expandiu a gratuidade dos transportes coletivos municipais – postura acompanhada pelo Estado de São Paulo, com lei e decreto neste sentido – para pessoas idosas acima de 60 anos, conforme previsto no Estatuto do Idoso, em seu art. 39, § 3º.

Ocorre, todavia, que o bloqueio de bilhete único válido é ilegal, seja porque viola ato jurídico perfeito, seja porque carece de legalidade.

a) Da violação a ato jurídico perfeito e o princípio da proteção à confiança:

De acordo com a lição de Carvalho Filho:

(...) a tutela da confiança legítima abrange, inclusive, o poder

normativo da Administração, e não apenas os atos de natureza

concreta por ela produzidos. Cuida-se de proteger expectativas dos indivíduos oriundas da crença de que disciplinas jurídico-administrativas são dotadas de certo grau de estabilidade. Semelhante tutela demanda dois requisitos: (1º) a ruptura inesperada da disciplina vigente; (2º) a imprevisibilidade das modificações. Em tais hipóteses, cabe à Administração adotar algumas soluções para mitigar os efeitos das mudanças: uma delas é a exclusão do administrado do novo

regime jurídico; outra, o anúncio de medidas transitórias ou de um

período de vacatio; outra, ainda, o direito do administrado a uma indenização compensatória pela quebra da confiança decorrente de alterações de atos normativos que acreditava sólidos e permanentes.11 (grifo nosso).

A alteração legislativa ocorreu sem qualquer debate prévio ou anúncio de que havia intenção de reduzir a gratuidade no transporte das pessoas idosas. Além disso, transformou uma realidade que já contava com 07 (sete) anos de vigência, obtida depois

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das jornadas de junho de 2013 e das grandes manifestações nacionais por transporte público a preço justo e com qualidade.

Desta forma, houve uma ruptura inesperada da legislação vigente, violando o princípio da confiança ou da segurança jurídica, impondo à Administração a adoção de medidas aptas a mitigar seus efeitos.

No caso, o que se pretende nesta ação coletiva é a exclusão do novo regime jurídico dos Administrados que já contavam com 60 anos ou mais na data da alteração legislativa e, especificamente em relação às pessoas idosas que possuíam o bilhete único com validade não expirada, que estes cartões não sejam bloqueados.

Aliás, tal pretensão vem ao encontro com o fato de que a concessão do bilhete único especial é ato jurídico perfeito.

O ato de concessão do bilhete único especial aos cidadãos idosos entre 60 e 64 anos do Estado e do Município de São Paulo é ato administrativo já aperfeiçoado na vigência da lei antiga e que não pode ser afetado pela nova lei que revogou a gratuidade do transporte aos idoso com idade entre 60 e 64 anos. Dessa forma, ainda que se considere a revogação da Lei Municipal n.º 15.912/13 e do Decreto Estadual 60.595/14 como válida, todos os efeitos previstos no momento do aperfeiçoamento do requisito etário previsto nessas normas devem ser mantidos, inclusive os que se projetariam no futuro.

A concessão do bilhete único especial de pessoa idosa compete à SPTRANS, conforme o Decreto Municipal 58.639/19, que o faz mediante a comprovação de idade

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e de residência na capital ou região metropolitana, e é concedido com validade de 05 (cinco) anos.

A redação original, alterada apenas para ajustar a idade mínima à nova política municipal, era:

Seção I - Do Bilhete Único Especial Da Pessoa Idosa

Art. 36. As pessoas idosas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos usuárias do Serviço de Transporte Coletivo Públicos de Passageiros na Cidade de São Paulo ficam dispensadas do pagamento da tarifa, nos termos da Lei nº 15.912, de 16 de dezembro de 2013. Parágrafo único. Para fazer jus ao benefício, a pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos poderá:

I – embarcar pela porta dianteira, utilizando-se do Bilhete Único Especial da Pessoa Idosa, transpor a catraca e desembarcar pela porta traseira, ou efetuar o giro da catraca e desembarcar pela porta dianteira;

II – embarcar pela porta dianteira, apresentar ao operador ou à fiscalização qualquer documento oficial dotado de fotografia que permita sua identificação e comprove sua idade e desembarcar pela mesma porta.

Art. 37. O Bilhete Único Especial da Pessoa Idosa poderá ser obtido mediante cadastramento na SPTrans, pelos usuários com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, que comprovadamente residam nos municípios que compõem a Região Metropolitana de São Paulo ou nos municípios constantes de portaria da SMT.

Sendo assim, o bilhete único especial de pessoa idosa não é obrigatório para valer-se da gratuidade garantida, mas é recomendável, conforme informação também do sítio eletrônico da SPTRANS, inclusive para que a pessoa idosa possa utilizar assentos preferenciais depois da catraca, já que se não tiver o BUE, tem que embarcar e desembarcar pela porta dianteira.

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Todavia, a concessão do bilhete único com validade determinada é um ato administrativo vinculado, já que todos aqueles que possuíam 60 anos completos e fossem residentes da cidade de São Paulo ou Região Metropolitana possuíam direito ao bilhete único especial (os serviços estaduais de transporte coletivos valem-se também do bilhete único), perfazendo-se ato jurídico perfeito, que é protegido constitucionalmente (art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal de 1988).

Dessa forma, considerando o princípio da segurança jurídica ou da confiança, bem como a proteção constitucional do ato jurídico perfeito, requer-se a determinação de obrigação de não fazer consistente no não bloqueio dos bilhetes únicos especiais de pessoa idosa já concedidos e válidos.

b) Da ilegalidade do bloqueio do bilhete único especial de pessoa idosa:

Insta considerar, igualmente, que eventual bloqueio dos bilhetes únicos válidos é ilegal.

Dispensável o debate acerca do conteúdo do princípio da legalidade quando se trata da Administração Pública. Ocorre que não há autorização legal para o bloqueio de bilhetes vigentes.

A Lei Municipal 17.542/20 apenas revogou a disposição que garantia a gratuidade para idosos entre 60 e 64 anos incompletos, mas nada dispõe acerca de bloqueio ou revogação de bilhete já concedido.

Nesse sentido, não há amparo legal para o bloqueio do bilhete único especial de pessoa idosa.

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A rigor, o ato administrativo sequer é revogável, exceto como penalidade prevista em decreto. Isso porque, novamente na lição de Carvalho Filho:

O poder de revogação da Administração Pública não é ilimitado. Ao contrário, existe determinadas situações jurídicas que não rendem ensejo à revogação, em alguns casos por força da própria natureza do ato anterior, em outros pelos efeitos que produziu na ordem jurídica. São insuscetíveis, pois, de revogação:

(...)

2. os atos vinculados, porque em relação a estes o administrador não tem liberdade de atuação.

(...)12

Desta forma, o ato administrativo que concede o bilhete único especial é vinculado e, por isso, não é revogável.

c) Em síntese

A informação de que a Municipalidade pretende bloquear os bilhetes únicos especiais de pessoas idosas entre 60 e 64 anos incompletos a partir de 01/02/2021 viola vários diplomas legislativos e princípios do direito administrativo.

O ato administrativo é vinculado, não pode ser revogado e é juridicamente perfeito, por isso protegido constitucionalmente e não pode ser invalidado.

A conduta de bloquear a bilhete único especial demanda previsão legal expressa, em sintonia com o princípio da legalidade estrita, que não existe e, por isso, a Administração Pública está impedida de fazê-lo.

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Por conta do exposto é que se pretende a condenação das administrações estadual e municipal e da SPTRANS, rés neste feito, em obrigação de não fazer consistente no não bloqueio de bilhetes únicos já expedidos e válidos, enquanto não expirado o prazo de validade de 05 anos.

IV - DA LIMINAR

À luz do art. 12 da Lei 7.347/1985, poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.

Consoante os ensinamentos de Egon Buckmann Moreira, Andrea Cristina Baragatin, Sérgio Cruz Arenhart e Marcella Pereira Ferraro13:

Não há no artigo em comento referência a quais requisitos seriam necessários para a concessão do mandado liminar, de modo que a aplicar-se, então, o regime geral (nessa linha: TRF-4R, AG 5006809-15.2013.404.0000/RS, 3.ª Turma, rel. Des. Federal Fernando Quadros da Silva, j. 05.06.2013, a. 06.06.2013). Assim, conta-se, basicamente, com dois requisitos: a probabilidade e o perigo – ou, conforme o caso, uma espécie de perigo.

Deveras, a tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência (art. 294, caput, CPC/2015).

A tutela de urgência, nos termos do artigo 300, caput, do CPC, será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

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A probabilidade do direito, leciona Cassio Scarpinella Bueno14:

Deve ser entendida no sentido de que as alegações daquele que formula o pedido de tutela provisória fundamentada na urgência, somadas aos

meios de prova pré-constituídos apresentados com a petição respectiva

(ou, se for o caso, ‘após a justificação prévia’), são suficientes para que o magistrado desenvolva cognição sumária suficiente para antever o requerente como merecedor da tutela jurisdicional (g.n.).

Já Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira15 ensinam:

A probabilidade do direito a ser provisoriamente satisfeito/realizado ou acautelado é a plausibilidade de existência desse mesmo direito. O bem conhecido fumus boni juris (ou fumaça do bom direito).

O magistrado precisa avaliar se há ‘elementos que evidenciem’ a probabilidade de ter acontecido o que foi narrado e quais as chances de êxito do demandante 9art. 300, CPC).

Inicialmente, é necessariamente a verossimilhança fática, com a constatação de que há considerável grau de plausibilidade em torno da narrativa dos fatos trazida pelo autor. É preciso que se visualize, nessa narrativa, uma verdade provável sobre os fatos, independentemente da produção de prova.

Junto a isso, deve haver uma plausibilidade jurídica, com a verificação de que é provável a subsunção dos fatos à norma invocada, conduzindo os efeitos pretendidos (g.n.)

Conforme demonstrado ao longo deste arrazoado, a obstrução ao exercício de um direito adquirido, ou mesmo a sua eliminação, traz grave violação ao direito dos usuários idosos do serviço de transporte coletivo público.

14 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. Volume 1. 9.ª ed. São

Paulo: Saraiva, 2018, p. 690.

15DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, Volume 2 (teoria da Prova, Direito probatório,

Decisão, Precedente, Coisa Julgada e Tutela provisória). 10.ª ed. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 595/596.

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A demora não desejada, mas esperada, pelo provimento final, penalizará a população carente e hipervulnerável de pessoas idosas entre 60 e 64 anos que tenham adquirido o direito à gratuidade da tarifa no transporte na vigência da Lei Municipal n.º 15.912/13 e do Decreto Estadual 60.595/14, que foram revogadas, e que terão ou já tiveram seus bilhetes únicos especiais bloqueados.

Assim, é flagrante a probabilidade do direito que emana das teses ora sustentadas, não só à luz da Constituição Federal como da lei que estabelece a garantia do direito adquirido e do respeito ao ato jurídico perfeito.

Também se encontra presente o segundo requisito para a concessão da tutela provisória de urgência, qual seja, o perigo de dano.

Retomando o magistério de Cassio Scarpinella Bueno16:

(...) Sem prejuízo da probabilidade do direito, o requerente da tutela provisória tem o ônus de demonstrar também o ‘perigo de dano ou o risco ao resultado útil de processo’.

As expressões merecem ser entendidas no sentido de que a tutela provisória deve ser concedida como forma de obviar as consequências deletérias que o tempo do processo e, até mesmo, do estabelecimento do contraditório prévio podem acarretar ao direito que o requerente afirma ser titular. É situação que se amolda com perfeição ao inciso XXXV do art. 5.º da Constituição Federal e à situação de ameaça lá referida, buscando aquele que requer a tutela provisória imunizá-la evitando que ela se torne lesão, ou, quando menos, minimizando e sustando seus efeitos.

Nesta perspectiva, a cognição sumária do magistrado deve conduzi-lo ao convencimento suficiente de que, além da probabilidade do direito, a

16 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. Volume 1. 9.ª ed. São

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hipótese reclama intervenção urgente do Estado-juiz para evitar o perigo e o risco indicados.

O risco é evidente, já que a Lei Municipal 17.542/2020 e o Decreto Estadual 65.414/2020 já entraram em vigor, respectivamente, nos dias 22 de dezembro de 2020 e no dia 01 de janeiro de 2021, e os bilhetes únicos especiais dos idosos entre 60 e 64 anos serão bloqueados no dia 01 de fevereiro de 2021.

V - DOS PEDIDOS

Pelo exposto, requer a Defensoria Pública do Estado:

1- A concessão de tutela provisória de urgência para, in limine, e com base nos fundamentos acima para que as rés:

a) Mantenham o direito à gratuidade de tarifa nos veículos integrantes do Sistema de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros do Município de São Paulo e nos transportes públicos de passageiros quando operados pela Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) e Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e gerenciados pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo S/A (EMTU/SP) das pessoas idosas entre 60 e 64 anos que tenham adquirido o direito na vigência da Lei Municipal n.º 15.912/13 e do Decreto Estadual 60.595/14, facultando inclusive o requerimento de bilhete único especial do idoso; E

b) Suspendam o bloqueio de bilhetes únicos especiais dos idosos já expedidos e válidos, enquanto não expirado o prazo de validade de 05 anos; E

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c) Caso tenham bloqueado os bilhetes únicos especiais dos idosos expedidos e válidos, enquanto não expirado o prazo de validade de 05 anosque os desbloqueiem para utilização, sob pena de, não o fazendo, serem condenadas a multa diária no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), ou outro valor que entender Vossa Excelência adequado, nos termos do artigo 461, § 4°, do Código de Processo Civil, sem prejuízo de medidas outras que visem o resultado prático equivalente (art. 461, § 5°, CPC), para a manutenção da saúde e do bem estar do grupo de necessitados.

2 - A citação das Rés para que, no prazo legal, apresente a defesa que tiver, sob pena de revelia;

3 - Ao fim, seja julgada a ação procedente, confirmando-se a tutela antecipada, para:

a) condenar as Rés a manter o direito à gratuidade da tarifa nos veículos integrantes do Sistema de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros do Município de São Paulo e nos transportes públicos de passageiros quando operados pela Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) e Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e gerenciados pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo S/A (EMTU/SP) para as pessoas idosas entre 60 e 64 anos que tenham adquirido o direito na vigência da Lei Municipal n.º 15.912/13 e do Decreto Estadual 60.595/14, obrigando a confecção do bilhete único especial do idoso se a pessoa beneficiária da gratuidade o requerer; E

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b) condenar as Rés à obrigação de não fazer consistente no não bloqueio de bilhetes únicos já expedidos e válidos, enquanto não expirado o prazo de validade de 05 anos, E

c) condenar as Rés à obrigação de fazer consistente em desbloquear os bilhetes únicos especiais dos idosos expedidos e válidos, enquanto não expirado o prazo de validade de 05 anos para que voltem a ser utilizados, sob pena de, não o fazendo, ser condenada a multa diária no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), ou outro valor que entender Vossa Excelência adequado, nos termos do artigo 461, § 4°, do Código de Processo Civil, sem prejuízo de medidas outras que visem o resultado prático equivalente (art. 461, § 5°, CPC), para a manutenção da saúde e do bem estar do grupo de necessitados.

4- A manifestação regular da D. Promotoria de Justiça deste Município;

5- A condenação das Rés ao pagamento de honorários advocatícios à Defensoria Pública, sendo que os valores destinados a esta serão revertidos ao FUNDEPE.

Em atenção ao art. 319, VII, do atual Código de Processo Civil, informa ter interesse na realização de audiência de conciliação ou mediação.

Outrossim, informa da previsão legal contida no artigo 186 § 1º, do atual Código de Processo Civil, bem como artigo 128, inciso I, da Lei Complementar Federal nº 80/1994, quanto a necessidade de intimação pessoal, bem como da contagem em dobro dos prazos, devendo ser observadas ainda todas as demais prerrogativas previstas na referida lei orgânica da Defensoria Pública.

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Protesta pela produção de todos os meios de prova admitidos em direito, em especial pela prova documental suplementar, além de outras provas que se fizerem necessárias.

Atribui-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Termos em que,

Pede deferimento.

São Paulo, 25 de janeiro de 2021.

RENATA FLORES TIBYRIÇÁ Defensora Pública Coordenadora Núcleo Especializado de Direitos da Pessoa Idosa e da Pessoa com Deficiência

RODRIGO GRUPPI CARLOS DA COSTA Defensor Público Coordenador Núcleo Especializado de Direitos da Pessoa

Idosa e da Pessoa com Deficiência ESTELA WAKSBERG GUERRINI

Defensora Pública Coordenadora Núcleo Especializado de Defesa do

Consumidor

LUIZ FERNANDO BABY MIRANDA Defensor Público Coordenador Núcleo Especializado de Defesa do

Consumidor RAFAEL NEGREIROS DANTAS DE LIMA

Defensor Público Coordenador Núcleo Especializado de Habitação e

Urbanismo

VANESSA CHALEGRE DE ANDRADE FRANÇA Defensora Pública Coordenadora Núcleo Especializado de Habitação e

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