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Impacto de um programa de intervenção centrado na dança na cognição em idosos institucionalizados

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Academic year: 2021

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Impacto de um programa de intervenção centrado na dança

na cognição em idosos institucionalizados

Dissertação de Mestrado em Gerontologia: Atividade física e Saúde no

Idoso

Tânia Andreia Bártolo Martins

Orientadora: Profª Doutora Maria Isabel Martins Mourão Carvalhal

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Impacto de um programa de intervenção centrado na dança

na cognição em idosos institucionalizados

Dissertação de Mestrado em Gerontologia: Atividade física e Saúde no Idoso

Tânia Andreia Bártolo Martins Orientadora: Profª Doutora Isabel Mourão

Composição do Júri:

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“O próprio viver é morrer, porque não Temos um dia a mais na nossa vida Que não tenhamos nisso, Um dia a menos nela.”

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iv Dissertação apresentada por Tânia Andreia Bártolo Martins à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Gerontologia: Atividade Física e Saúde no Idoso, sob a orientação da Prof. ª Doutora Isabel Mourão.

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Agradecimentos

Após ter percorrido um longo e trabalhoso percurso até à realização deste trabalho, quero agradecer em primeiro lugar a todos aqueles que, direta ou indiretamente contribuíram nesta dissertação de Mestrado em Gerontologia: Atividade Física e Saúde no Idoso, realizada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, de modo a conseguir alcançar mais uma etapa importante no meu percurso académico mas também pessoal.

Em segundo lugar quero deixar um agradecimento muito especial à Professora Doutora Isabel Mourão, pela orientação desta dissertação e pelos conhecimentos e ensinamentos transmitidos ao longo deste percurso. Um muitíssimo obrigada por acreditar em mim e neste trabalho.

Quero agradecer aos meus pais e irmão pela força, incentivo, e pelo fato de estarem sempre ao meu lado. A eles um muito obrigada pela oportunidade que me deram porque sem eles era impossível ter alcançado mais uma etapa na minha vida. Quero deixar um agradecimento muito especial ao meu namorado pelo fato de não deixar de acreditar em mim. Não podia deixar de prestar o meu profundo agradecimento aos meus amigos, especialmente às minhas grandes amigas de infância e às minhas queridas amigas da universidade pelo apoio prestado, pelo incentivo, pela força e motivação nos momentos menos bons.

Quero agradecer à Santa Casa da Misericórdia de Alijó, assim como a todos os funcionários pelo acolhimento, apoio e disponibilidade prestados.

Finalmente, em especial aos idosos do lar da 3ª idade que participaram no estudo pelo carinho com que me acolheram, tornando tudo isto possível.

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vi

Resumo

Os resultados do último Censos de 2011 confirmam o aumento da população idosa, em Portugal, com fortes implicações a nível da saúde. A promoção da saúde ao longo da vida e da manutenção de um envelhecimento saudável é uma das grandes prioridades, nomeadamente a necessidade de atenuar os efeitos no declínio cognitivo que o processo de envelhecimento acarreta através da prática de atividades físicas. O declínio cognitivo, nomeadamente o surgimento de doenças, demência, depressão, Alzheimer, Parkinson, levam à perda da independência e da autonomia, comprometendo 20% da população idosa.

Neste sentido o objetivo geral desta investigação foi verificar o impacto de um programa de intervenção, centrado na dança/movimentos rítmicos, na função cognitiva em idosos institucionalizados. A amostra foi constituída por 30 idosos com idades compreendidas entre os 65 e os 93 anos (23 do sexo feminino e 7 do sexo masculino), do Lar da 3ª idade da Santa Casa da Misericórdia de Alijó, que foram divididos em dois grupos: grupo experimental (n=14, 82,43±8,07) e o grupo observacional (n=16, 86,19±7,17).

Ambos os grupos foram sujeitos a dois momentos de avaliação, pré-teste e pós-teste, tendo o grupo experimental sido sujeito a um programa de intervenção, centrado na dança/movimentos rítmicos, entre o pré-teste e o pós-teste. O programa teve a duração de 21 semanas, uma frequência de três vezes por semana, durante 45 minutos. Os instrumentos de avaliação utilizados foram o Mini Mental State Examination (MMSE) e um questionário sociodemográfico.

Inicialmente foi utilizado o teste Mann-Whitney para verificar se os dois grupos eram homogéneos. O teste Wilcoxon foi utilizado para comparar os resultados obtidos em cada grupo, no pré-teste e no pós-teste.

Os resultados da comparação dos grupos no pré-teste revelaram a não existência de diferenças significativas, indicando que os grupos eram semelhantes. 50% dos idosos que integraram o grupo experimental e o grupo observacional não manifestaram défice cognitivo e os restantes 50% apresentaram défice cognitivo. Relativamente à caraterização da rotina diária dos idosos na instituição pode-se observar que a maior parte dos idosos se encontra sentados a dormir e/ou a ver televisão.

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vii Os dados relativos ao efeito do género, da escolaridade, da idade, sexo e do estado civil na função cognitiva, demonstraram que o estado civil (p=0,014) apresentou um efeito significativo assim como pertencer ao grupo experimental ou ao grupo observacional (p=0,041).

Os resultados da comparação do pré-teste e do pós-teste revelaram que o grupo experimental apresentou melhores resultados no pós-teste evidenciando o impacto positivo do programa de intervenção na função cognitiva em comparação ao grupo observacional (p=0,002).

Este estudo demonstrou que o programa de intervenção centrado na dança e nas atividades rítmicas produziu efeitos benéficos na função cognitiva, reforçando a ideia de que a prática de atividades físicas junto da população idosa poderá prevenir/atenuar o processo de envelhecimento.

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Abstract

The final results of 2011 Census confirm the increase of the elderly population in Portugal, with strong implications at the health level. Health promotion throughout life and the maintenance of healthy aging is a top priority, especially the need to mitigate the effects on cognitive decline that the aging process causes through physical activity. The cognitive decline, particularly the appearance of diseases, dementia, depression, Alzheimer and Parkinson, lead to loss of independence and autonomy, compromising 20% of the elderly population.

So, the main purpose of this investigation was to verify the impact of an intervention program centered on dance/rhythmic movements, on cognitive function in institutionalized elderly people. The sample was composed by 30 elderly people with ages between 65 and 93 years (23 females and 7 males), of the home of the 3rd age of the "Santa Casa da Misericórdia" of Alijó, who were divided into two groups: the experimental group (n = 14, 82.43 ± 8.07) and the observational group (n = 16, 86.19 ± 7.17).

Both groups were submitted to two stages of evaluation, pre-test and post-test. The experimental group was submitted to an intervention program, centered on dance/rhythmic movements, between the pre-test and post-test. The program had the duration of 21 weeks, a frequency of three times a week, for 45 minutes. The instruments of evaluation used were the Mini Mental State Examination (MMSE) to assess cognitive function, and a sociodemographic questionnaire.

Initially, it was used the Mann-Whitney test to check if the two groups were homogeneous. To determine the effect of the sociodemographic variables in cognitive function, it was applied ANOVA. The Wilcoxon test was used to compare the results obtained in each group in the pre-test and post-test.

The results of the comparison in the pre-test revealed no significant differences, indicating that the (experimental and observational) groups were equal. In regard to cognitive function. 50% of the elderly people that integrated the experimental and observational groups do not exhibit cognitive impairment, and the remaining 50% have cognitive deficits. In relation to the activities of daily routine it was noted that the majority of elderly people spend their time sleeping or watching TV. About the effect of sociodemographic

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ix variables, gender, education, age, marital status and group, the cognitive function results showed a significant effect of marital status (p = 0.014) it was showed a significant as well as beloging to the experimental and the observational group (p = 0.041).

The results from the comparison between the pre-test and the post-test showed that the experimental group had better results in the post-test (p =0.002) demonstrating the positive impact of the intervention program on the cognitive function compared to the observational group.

This study demonstrated that the intervention program centered in dance and rhythmic activities produced beneficial effects in cognitive function, reinforcing the idea that the practice of physical activity with the elderly population will be able to prevent / mitigate the aging process.

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Índice Geral

Agradecimentos ... v Resumo ... vi Abstract ... viii Índice Geral ... x

Índice de Tabelas ... xii

Índice de Figuras ... xiii

Índice de Siglas e Abreviaturas ... xiv

1. Introdução ... 1

2. Revisão Bibliográfica ... 5

2.1. Envelhecimento ... 5

2.2. Alterações na cognição com o envelhecimento ... 8

2.3. Atividade física e Função cognitiva ... 15

2.4. Efeitos da Música e da Dança/Movimentos rítmicos na função cognitiva ... 22

2.4.1. A Música ... 22 2.4.2. Dança/Movimentos rítmicos ... 26 3. Metodologia ... 34 3.1. Desenho Experimental ... 34 3.2. Caraterização da amostra ... 34 3.3. Critérios de inclusão: ... 36 3.4. Critérios de exclusão: ... 36 3.5. Variáveis ... 36

3.6. Instrumentos e Procedimentos Utilizados ... 36

3.7. Programa de intervenção ... 37

3.8. Tratamento de dados ... 38

(11)

xi

4. Apresentação dos resultados ... 40

4.1. Análise Descritiva ... 40

4.2. Análise Comparativa ... 43

5. Discussão dos Resultados ... 47

6. Conclusão ... 54

6.1. Propostas Futuras ... 54

7. Referências ... 57

8. Anexos ... 70

Anexo 1- Plano das Sessões ... 70

Anexo 2- Questionário Sociodemográfico ... 76

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Índice de Tabelas

Tabela 1- Caraterização da amostra... 35

Tabela 2- Ponto de corte para deficit de cognição... 37

Tabela 3- Classificação da função cognitiva da amostra total no pré-teste ... 40

Tabela 4- Classificação da função cognitiva do grupo experimental e do grupo observacional no pré-teste ... 40

Tabela 5- Análise descritiva da amostra total no pré-teste ... 41

Tabela 6- Caraterização da rotina diária dos idosos ... 42

Tabela 7-Efeitos principais das variáveis independentes no MMSE ... 43

Tabela 8- Resultados do estado civil no MMSE ... 43

Tabela 9- Comparação dos resultados entre o grupo experimental e o grupo observacional no pré-teste ... 44

Tabela 10- Comparação dos resultados obtidos do pré-teste e pós-teste no grupo experimental e grupo observacional no MMSE ... 45

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xiii

Índice de Figuras

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Índice de Siglas e Abreviaturas

ATP Adenosina Trifosfato

BDNF Brain Derived Neurotrophic Factor

dB Decibéis DA Doença de Alzheimer DP Doença de Parkinson DP Desvio-padrão Freq Frequência IGF-1 Insulina 1

INE Instituto Nacional de Estatística

IOM Institute of Medicine

MMSE Mini Mental State Examination

n Numero de indivíduos numa sub-amostra

OMS Organização Mundial de Saúde

p Probabilidade

Sig Significância

SNC Sistema Nervoso Central

SPSS Statistical Package for the Social Science

VO2máx Capacidade máxima do corpo de um indivíduo em transportar e metabolizar oxigénio durante um exercício físico

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1

1. Introdução

O envelhecimento da população é um processo que tem aumentado nos países desenvolvidos, onde vários fatores contribuem para esse aumento, sendo eles, a diminuição da taxa de natalidade e melhoria das condições médicas e sanitárias, originando assim o aumento da esperança média de vida.

Em Portugal, segundo os dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatísticas 1(INE,

2013) a população residente é de 10562178 de pessoas, sendo que 19% da população pertence ao grupo com 65 anos ou mais de idade.

O envelhecimento é um processo biológico, psicológico e social, registando-se uma regressão biossocial, observável em todos os seres vivos e expressa pela perda de capacidades ao longo da vida, fruto da influência genética e do estilo de vida (Guedes & colaboradores, 2001).

A redução na velocidade de processamento da informação, da memória de trabalho e a doença cardiovascular, são algumas das alterações mais comuns associadas ao processo de envelhecimento (Rowe & Kahn, 1987).

Devido ao facto das sociedades estarem a tornarem-se cada vez mais envelhecidas, surge a necessidade de criar instituições particulares de solidariedade social com a valência de lar da 3ª idade e/ou centros de dia para colmatar as dificuldades que os idosos enfrentam, quer a nível económico, social ou de saúde. Neste sentido, segundo Pereira (2012) considera-se institucionalização do idoso quando este está todo o dia ou parte deste, sob cuidados de uma instituição.

A promoção de um envelhecimento ativo tem tido nos últimos anos um realce bastante notório devido aos efeitos benéficos que acarreta. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002) recomenda-se a inserção de idosos em programas de atividade física, pois os benefícios da atividade física podem ser relevantes para minimizar ou atenuar os declínios próprios desta faixa etária.

1 INE. (2013). Obtido em 15 de Julho de 2014, de

http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0005889contexto=pi &selTab=tab0

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2 É de realçar que o envelhecimento associado ao sedentarismo acarreta inúmeros de malefícios como a, hipertensão, diabetes tipo 2, obesidade, doença cardiovascular, acidente vascular cerebral, osteoporose, depressão, cancro da mama e do cólon, aumento de quedas, entre outras, que tornam o idoso dependente de tratamento farmacológico, que podem ser prevenidas/atenuadas através da prática regular de atividade física (Direção-Geral da Saúde, 2001; Murrock & Higging, 2009).

A prática de exercício físico conduz a vários benefícios não só a nível biológico mas também a nível cognitivo. O exercício físico pode elevar o Brain Derived Neurotrophic

Factor (BDNF), estimular a neurogénese, a plasticidade cerebral, aumentar a resistência

do cérebro ao dano, melhorar a aprendizagem e o funcionamento mental (Cotman, 2002). Estudos demonstraram o efeito do exercício sobre a regeneração de neurónios (Molteni et al., 2004) e na indução de neurogénese (Pereira et al., 2007).

Ao longo dos anos os especialistas têm tentado reforçar os benefícios da prática da atividade física na manutenção do desempenho cognitivo, como forma de atenuar/reduzir o declínio cognitivo e a demência (Hillman et al., 2008; Matsudo & Matsudo, 1993; Souto, 2012)

A dança e a música interligadas influenciam o comportamento motor (Chen, Zatorre, & Penhume, 2006). Neste sentido a música tem sido utilizada como um instrumento terapêutico na promoção do bem-estar físico e psicológico (Cuddy & Duffin, 2005; Chanda & Levitin, 2013). A literatura indica que a música recruta praticamente todas as funções cognitiva, sendo distribuída por todo o cérebro (Zatorre, 2005).

A sociedade atual encontra-se cada vez mais envelhecida sendo necessário intervir promovendo um envelhecimento ativo através da realização de atividades físicas e cognitivas. Neste sentido o objetivo geral deste estudo é verificar a influência de um programa de atividade física, centrado na dança/movimentos rítmicos, na cognição de idosos institucionalizados de modo a atenuar os efeitos do envelhecimento, tornando os idosos mais funcionais e não tão dependentes.

Como objetivos específicos definimos:  Caraterização da função cognitiva;

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3  Verificar o efeito do género, escolaridade, idade, sexo e do estado civil na função

cognitiva.

 Comparação da função cognitiva nos dois momentos de avaliação (pré-teste e pós-teste) no grupo experimental e no grupo observacional.

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(20)

5

2. Revisão Bibliográfica

2.1. Envelhecimento

Desde o nascimento, o ser humano está em constante mudança até à morte, ocorrendo alterações a nível cognitivo e biológico, sendo este “um processo universal, inerente a todos os seres vivos” (Jacob, 2007, p. 3). O envelhecimento, segundo Fernández-Ballesteros (2009) é um processo biológico onde há um declínio na eficiência e eficácia de todos os sistemas biológicos. Neste sentido, há medida que a idade avança, o organismo vai sofrendo constantes alterações que acarretam a uma limitação da capacidade funcional e adaptativa a novas situações, tornando o individuo mais dependente, incapaz de desempenhar as suas atividades de lazer e profissionais, de modo a garantir a satisfação das suas necessidades básicas e consequentemente o seu bem-estar (Souto, 2012).

O envelhecimento para Yates (1993) é definido pelo declínio da integridade funcional de um órgão, tecido ou células, quer por modo inespecífico pela falha de cooperação entre componentes biológicos, quer pelo aumento da idade, da associação entre funções que causam instabilidade dinâmica, aumentam a probabilidade do aparecimento de doenças, levando por fim à morte (Yates, 1993).

O envelhecimento é um processo de enorme complexidade, que nesta fase da vida está em causa o disfuncionamento do organismo, envolvendo fatores biológicos, psicológicos e relacionais, sendo importante compreende-lo (Agostinho, 2004). Associados a estes aspetos estão os de ordem psicológica, impossibilitando o individuo de encarar estas mudanças de modo positivo, gerando sentimentos de impotência, frustração e de solidão, em que os aspetos sociais contribuem para o afastamento do idoso da sociedade e da família, subordinando-o como um ser humano não produtivo, incapaz de adquirir bens e meios de que necessita. Deste modo o idoso deixa de se sentir amado levando a estados de desespero e abandono, perdendo o suporte social capaz de o ajudar a sentir-se amado, confiante e autorespeitar-se (Souto, 2012).

Rowe e Kahn (1987) distinguem “envelhecimento normal” de “envelhecimento bem-sucedido”. O “envelhecimento normal” refere-se a mudanças encontradas como reduções na velocidade de processamento e da memória de trabalho, e alterações patológicas

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6 comuns, como aqueles associados com doença cardiovascular. Por outro, “envelhecimento bem-sucedido” foi utilizado para referir a melhoria ou a prevenção das alterações que têm um impacto substancial negativo através da adoção de um estilo de vida saudável (IOM- Institute of Medicine, 2015).

Etiologicamente o termo Gerontologia provém do grego “Geros” que significa geronto, velho, e “Logia” que significa estudo, ou seja, designa o estudo do processo do envelhecimento sobre todos os aspetos. A gerontologia engloba quatro aspetos (Berger & Maeilloux-Poirier, 1995): envelhecimento físico, que consiste na perda progressiva da capacidade funcional do corpo para se renovar; envelhecimento psicológico, que consiste nas transformações dos processos sensoriais, percetivos e da vida afetiva do idoso; envelhecimento comportamental consiste nas modificações físicas e psicológicas, ou seja, as expectativas, motivações, a autoimagem, os papéis sociais, a personalidade e a adaptação, e por fim, o envelhecimento do contexto social que consiste na influência que o individuo e a sociedade exercem entre si (Souto, 2012).

O envelhecimento físico é caraterizado por uma diminuição do potencial biológico, particularmente das capacidades físicas, sensoriais e mentais e que consequentemente provoca alterações a nível psicológico e social (Correia, 2011). Neste sentido, o envelhecimento biológico está ligado ao envelhecimento orgânico, ou seja, cada órgão sofre modificações que diminuem o seu funcionamento ao longo da vida e a capacidade de se autorregular vai-se tornando cada vez menos eficaz. É um processo contínuo que acontece durante o decorrer da vida, não ocorrendo ao mesmo tempo e nem de igual modo para todos (Cancela, 2007).

O envelhecimento social corroborando Baixinho (2009) leva à restrição da participação da sociedade e a um estatuto social desfavorável, gerando sentimentos de desvalorização de si mesmo. O envelhecimento psicológico relaciona-se com as capacidades comportamentais que o idoso pode mobilizar em resposta às mudanças do ambiente e inclui a inteligência, memória e motivação (Cramês, 2012).

Numa forma de clarificar as fronteiras entre o que é envelhecimento patológico e envelhecimento “normal”, Birren & Schroots (1996) criam padrões de envelhecimento caraterizando-os do seguinte modo:

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7 - Envelhecimento primário: corresponde ao conceito e à imagem que tradicionalmente fazemos do envelhecimento, algo que sucede naturalmente com a passagem da idade (Fonseca, 2006);

- Envelhecimento secundário: “refere-se às mudanças causadas pela doença que estão correlacionadas com a idade mas que podem ser reversíveis ou prevenidas” (Birren & Schroots, 1996, p.10);

- Envelhecimento terciário: “refere-se às mudanças que sucedem de forma precipitada na velhice” (Birren & Schroots, 1996, p.10).

Numa sociedade onde existe um aumento substancial de idosos em relação aos jovens, a introdução das reformas veio a “inferiorizar” as pessoas idosas, pois estas deixam de puder contribuir para o desenvolvimento da sociedade, tornando-se inúteis e incapazes. Num contexto de desvalorização da velhice, a “biomedicalização do envelhecimento” (Paúl & Fonseca, 2001) é um fenómeno que leva ao ato de encarar a velhice como uma espécie de doença, olhando para o envelhecimento como um processo básico, um fenómeno biológico inevitável, ao qual a sociedade responde através de tratamentos médicos e de atitudes protecionistas, determinando assim, o aumento da institucionalização (Fonseca, 2006).

Interessado sobre as conexões entre morfologia e função, Casado (2002) propõe o termo “descognição” para definir “a alteração verificada no quadro de qualquer processo neuronal ao nível dos diferentes sinais de ‘input’, de integração, de condução ou de ‘output’”, ou seja, trata-se de um termo que pretende demonstrar tudo o que possa acontecer num cérebro doente e que se repercute no funcionamento de outros órgãos ou sistemas (Fonseca, 2006). Casado (2002) apresenta uma abordagem do envelhecimento biológico-cerebral através de quatro eixos: (1) estudo das mudanças morfológicas macro e microscópias, procurando assim separar o que é fisiológico e, em particular, especifico do envelhecimento, daquilo que podem ser as consequências de doenças ou de fatores nocivos sobre o funcionamento cerebral; (2) estudo das modificações relativas ao funcionamento dos sistemas de neuro-transmissão; (3) estudo das mudanças e dos danos de natureza bioquímica que ocorrem na velhice, e por fim (4) estudo da repercussão das mudanças fisiológicas sobre as funções neurológicas, em particular as funções sensoriais e motoras (Fonseca, 2006).

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8 Baltes & Smith (2003) fazem a distinção da 3ª idade e da 4ª idade, em que a 3ª idade consiste no “aumento da expectativa de vida, elevado potencial de manutenção de boa forma física e mental, existência de substanciais reservas cognitivo-emocionais, mais pessoas que envelhecem com sucesso e níveis elevados de bem-estar pessoal e emocional” (2003, p.126). A 4ª idade é associada a “perdas consideráveis no potencial cognitivo e na capacidade de aprendizagem, aumento do stress crónico, considerável prevalência de demências e elevados níveis de fragilidade, disfuncionalidade e multimorbilidade” (2003, p.126).

2.2. Alterações na cognição com o envelhecimento

Há medida que vamos envelhecendo vão ocorrendo alterações a nível cognitivo, que com a entrada na 3ª idade, ou seja, a partir dos 65 anos essas alterações vão sendo cada vez mais acentuadas. Com o envelhecimento aparecem com mais evidências perdas de grupos musculares e diminuição da capacidade funcional da grande parte dos sistemas bioquímicos, levando a um prejuízo cognitivo sem que necessariamente signifique doença, loucura ou demência (Souto, 2012). O termo “demência” é uma síndrome associada a uma gama de doenças que sejam caracterizadas pelo comprometimento progressivo das funções cerebrais, incluindo a linguagem, memória, perceção, personalidade e habilidades cognitivas (Mechling, 2008).

Embora haja mudanças em todas as capacidades, “os resultados dos testes de vocabulário e de informação podem permanecer estáveis ou até melhorar ao longo da maior parte da vida, declinando apenas muito tarde na velhice, enquanto outras capacidades, ligadas ao desempenho de tarefas piagetianas e à resolução de problemas, começam o seu declínio muito cedo ” (Fonseca, 2006, p. 98).

A função cognitiva é definida como o processo intelectual pelo qual uma pessoa toma conhecimento das ideias, as percebe e compreende. Envolve “todos os aspetos da perceção, pensamento, raciocínio, memória, aprendizagem, atenção, vigilância, raciocínio e solução de problemas” (Souto, 2006, p.21).

Entende-se por função cognitiva as fases do processo de informação, como perceção, aprendizagem, memória, atenção, vigilância, raciocínio e solução de problemas (Antunes et al., 2006). O funcionamento psicomotor (tempo de reação, tempo de movimento,

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9 velocidade de desempenho) tem sido frequentemente incluído neste conceito (Antunes et al., 2006).

As funções cognitivas são afetadas negativamente pela idade, pois a partir da terceira década de vida ocorre uma perda de neurônios acompanhada pelo declínio da performance cognitiva, os processos baseados em habilidades cristalizadas, como o conhecimento verbal e a compreensão continuam mantidos ou melhoram com o envelhecimento (Antunes et al., 2006).

O envelhecimento da função cognitiva ocorre em todas as pessoas e animais à medida que se vai envelhecendo e é um processo dinâmico que varia de individuo para individuo. Existem alguns domínios cognitivos que não apresentam alterações, outros que entram em declínio e outros que podem melhorar com a idade. As atividades do dia-a-dia como conduzir, tomar decisões, podem ser afetadas pelo envelhecimento da função cognitiva. Mas por outro lado, a experiência, a competência e a sabedoria podem ajudar a compensar o declínio cognitivo (IOM- Institute of Medicine, 2015).

Os motivos que levam ao surgimento do deficit cognitivo ao longo dos anos ainda não estão bem estabelecidos. Todavia, algumas propostas têm sido levantadas, entre elas a redução da velocidade no processamento de informação, o decréscimo da atenção, deficit sensorial, redução da capacidade da memória de trabalho, prejuízo na função do lobo frontal e na função neurotransmissora, além da deterioração da circulação sanguínea central e da barreira hematoencefálica (Antunes et al., 2006).

O Estudo Longitudinal de Seattle (Schaie, 1996) e o Estudo BASE (Baltes & Mayer, 1999) consideram que, sob o ponto das capacidades cognitivas, as pessoas que atualmente têm 70 anos de idade são comparáveis às pessoas que tinham 65 anos há trinta anos atrás, “havendo razão para falar-se num incremento das reservas cognitivas ao nível do pensamento entre idosos” (Fonseca, 2006, p.99). As razões para o aumento de tais reservas cognitivas encontram-se “no conjunto de forças de natureza cultural (melhor saúde, condições materiais favoráveis, instrumentos de literacia disponíveis, sistemas educacionais ao longo da vida, entre outros) que as pessoas adultas e idosas têm atualmente ao seu dispor para desenvolverem as suas capacidades cognitivas de forma quase ilimitada”, pelo menos enquanto o estado físico o permitir (Fonseca, 2006, p.99). Stern (2002) propôs que a reserva cognitiva é a capacidade de otimizar ou maximizar o desempenho por meio do recrutamento diferencial de redes cerebrais o que pode refletir

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10 no uso de estratégias cognitivas alternativas. Mais recentemente, Stern (2009) observou que a reserva cognitiva é relevante não apenas para o aparecimento de demências, mas também para o envelhecimento normal, pois pode permitir que os indivíduos lidem mais eficazmente com as mudanças típicas do cérebro relacionadas com a idade.

Na perspetiva neuropsicológica Braun e Lalonde (1990) defendem a existência de perfis de declínio cognitivo relacionados à senescência, os quais seriam independentes dos fatores sociais, da saúde e dos artefactos psicométricos usados na avaliação das capacidades cognitivas (Fonseca, 2006). Salthouse (1999) defende que a diminuição da eficiência da velocidade de processamento de informação ao nível do Sistema Nervoso Central (SNC), reflete-se num enfraquecimento cognitivo e é responsável pelos défices cognitivos relacionados com a idade. Associada ao envelhecimento, de acordo com Fonseca (2006), parece haver de facto uma diminuição da capacidade de resposta, mais em termos de velocidade do que propriamente em termos de conteúdos: os idosos continuam capazes, demoram é mais tempo a resolver as tarefas. Deste modo, “ocorre a diminuição da eficiência da velocidade de processamento de informação do Sistema Nervoso Central, que se reflete num abrandamento cognitivo, leva a um declínio da inteligência com a idade” (Fonseca, 2006, p.100).

Com o decorrer da idade verificam-se alterações a nível cognitivo nomeadamente a deterioração da substância branca e cinzenta no córtex pré-frontal, temporal e parietal (Erickson & Kramer, 2009). Esta deterioração do tecido cerebral é acompanhada pelo declínio na função cognitiva, com os maiores deficits a ocorrerem nas funções do controle executivo, tais como a coordenação de tarefas, o planeamento, manutenção do objeto, memória de trabalho e a alteração de tarefas (Erickson & Kramer, 2009).

Colcombe e colaboradores (2003) encontraram declínios importantes na densidade dos tecidos neurais em função do envelhecimento no córtex frontal, parietal e temporal. Isso pode ser justificado por uma quebra do equilíbrio entre a lesão e o reparo neuronal. De acordo com Antunes e colaboradores (2006) o cérebro é sensível a inúmeros fatores que resultam em danos às redes neurais. De forma similar aos outros tecidos, ele possui a capacidade de autorreparação/ auto adaptação, ou mesmo uma compensação pela perda de neurônios e interrupções na arquitetura neural. Quando ocorre um desequilíbrio entre a lesão neuronal e a reparação, a capacidade de plasticidade neuronal é prejudicada, estabelecendo-se o envelhecimento cerebral e a demência (Antunes et al., 2006).

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11 O córtex pré-frontal é a região do cérebro que atua nas funções executivas, como o planeamento necessário para cozinhar uma refeição. Em contraste, a memória, como está envolvida em recordar a lista de itens dos alimentos necessários no supermercado, é largamente controlada pelo hipocampo. Outras áreas do cérebro desempenham papéis importantes noutras funções (IOM- Institute of Medicine, 2015).

Neste sentido, a atenção é a capacidade do processamento de informações. Os seres humanos têm limites na quantidade de informação. A execução de tarefas em níveis próximos da plena capacidade por longos períodos de tempo pode ser cansativo, especialmente para os adultos mais velhos (Kramer & Madden, 2008; Zanto & Gazzaley, 2014). Quando os limites da capacidade são ultrapassados, o desempenho tende a diminuir e tornar-se propenso a erros (Zanto & Gazzaley, 2014).

A atenção encontra-se dividida em três tipos: a atenção seletiva, a atenção dividida e a atenção sustentada. A atenção seletiva refere-se à capacidade de filtrar informações e se concentrar em determinados itens, apesar da presença de outras informações. Os adultos mais velhos têm mais dificuldade para discriminar os estímulos relevantes e irrelevantes e localizar informações relevantes na presença de distrações (McDowd & Shaw, 2000). A atenção dividida é a capacidade de dividir um foco entre as atividades concorrentes ou múltiplas fontes de informação, é também conhecida como multitarefas e pode envolver o processamento de múltiplas peças de informação ou a realização de múltiplas tarefas simultaneamente. Geralmente, os adultos mais velhos têm mais dificuldade em realizar multitarefas do que os adultos mais jovens (McDowd & Shaw, 2000).

A atenção sustentada refere-se à capacidade de manter a concentração numa tarefa por um longo período de tempo. A literatura sugere que a atenção sustentada geralmente não apresenta decréscimos relacionadas com a idade (Berardi et al., 2001; Carriere et al., 2010).

Há medida que vamos envelhecendo o declínio cognitivo torna-se mais acentuado surgindo os primeiros lapsos de memória. A memória permanente adquirida por um indivíduo é uma rede estruturada de conceitos inter-relacionados e integrados numa estrutura cerebral. Há algumas discordâncias sobre qual o modelo mais figurativo do seu funcionamento, mas é aceite de uma forma geral que a memória, tal como referido, é um sistema formado por duas ou mais estruturas e componentes (Pinto, 1999). O modelo mais conhecido comporta três etapas: a entrada dos dados (memória sensorial), a memória

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12 a curto prazo (memória imediata) e a memória a longo prazo (memória de fixação) (Berger & Maeilloux-Poirier, 1995).

Relativamente à memória, a memória de trabalho refere-se à capacidade de reter temporariamente a informação na mente enquanto é processada ou usada. Ela engloba a manipulação ativa de informação ou a manutenção de algumas informações ao lidar simultaneamente com mais informações de entrada. A memória de trabalho desempenha um papel central em muitas atividades, tais como a adesão a um horário de medicação, e é um elemento fundamental para outras habilidades cognitivas, tais como o processamento da linguagem, a resolução de problemas e a tomada de decisões (IOM- Institute of Medicine, 2015).

A memória a longo prazo é um sistema de armazenamento da memória relativamente permanente e é o repositório do conhecimento do individuo (IOM- Institute of Medicine, 2015). A memória episódica é a memória de eventos autobiográficos, incluindo tempos, lugares, emoções associadas e outras informações contextuais. Este tipo de memória tende a diminuir com a idade, e as quedas são maiores quando os pedidos de tarefas são mais complexos ou quando há poucos apoios e estímulos ambientais disponíveis (IOM- Institute of Medicine, 2015).

A memória prospetiva é a capacidade de se lembrar de fazer algo no futuro, tais como tomar um medicamento ou ir encontrar-se com um amigo, e pode ser baseado no tempo ou com base em eventos. Os declínios parecem mais acentuados para tarefas que exigem níveis mais altos de processamento controlado (por exemplo, processamento de esforço, o que exige capacidade de atenção) do que para as que são apoiadas por processos relativamente mais automático (Henry et al., 2004).

Relativamente à memória de procedimento, também conhecida como aprendizagem de competências, refere-se à aprendizagem e a recordação de como executar uma atividade, como conduzir um automóvel, andar de bicicleta ou cozinhar uma receita favorita. Os adultos mais velhos geralmente não têm problemas para fazer os procedimentos que são automáticos ou bem aprendidos, e eles podem aprender a fazer novos procedimentos com a prática (Backman et al., 2001). Por fim, a memória de origem, relaciona-se com o contexto ou detalhes que cercam um evento, por exemplo,as pessoas podem-se lembrar de uma notícia, mas esquecem-se de quando receberam pela primeira vez a informação,

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13 se leu num jornal ou ouviu na televisão (Glisky et al., 2001; IOM- Institute of Medicine, 2015).

A função executiva refere-se às habilidades cognitivas utilizadas para regular o comportamento e modificar respostas baseadas em estímulos ambientais. Isso inclui a capacidade de planear ações para organizar a informação, de pensar abstratamente, para alocar recursos mentais (flexibilidade cognitiva), para resolver novos problemas, para se adaptar a novas situações, e para agir de forma adequada durante as interações sociais. Normalmente, as funções executivas tendem a diminuir com a idade (Zelazo et al., 2004). A capacidade de raciocínio, o que é considerado um aspeto da função executiva, também diminui com a idade. Ela reflete o pensamento lógico ou o processo de tirar conclusões a partir de informações para informar a resolução de problemas ou tomar decisões, tais como decisões médicas ou financeiras (IOM- Institute of Medicine, 2015). Há uma distinção entre raciocínio dedutivo e indutivo. O raciocínio dedutivo permite que uma pessoa possa tirar conclusões sobre eventos ou situações específicas com base em instalações ou teorias gerais assumidos para ser verdade, ao passo que o raciocínio indutivo permite que uma pessoa possa tirar conclusões gerais com base nas observações específicas, e ambos diminuem com a idade (Salthouse, 2004).

A função da linguagem consiste numa matriz de habilidades, incluindo a compreensão e produção da fala, leitura, escrita, e da nomeação. É um componente fundamental do comportamento humano e um mecanismo primário para a comunicação. O processamento da linguagem é um elemento crítico de tarefas cognitivas (por exemplo, a capacidade de compreender instruções escritas e orais) e interações sociais. Nos adultos mais velhos, cuja perda auditiva impede a sua compreensão da língua falada levando à diminuição da interação social (Mick et al., 2014).

O modelo passivo da reserva do cérebro refere-se à relação entre o tamanho do cérebro ou maior contagem neuronal e a capacidade de sustentar patologias antes de um comprometimento clínico seja observado (Stern, 2009). Em contraste, o modelo ativo da reserva do cérebro enfoca o papel das experiências, como a educação, a ocupação e a participação em atividades de lazer cognitivamente estimulantes, o que sugere que os níveis mais elevados de educação, envolvimento em ocupações mais complexas, e a participação em atividades de lazer cognitivamente estimulantes pode proporcionar uma proteção contra os efeitos dos danos cerebrais ou patologias (Stern, 2009).

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14 Em consequência às alterações cognitivas, surgem demências que põem em causa a capacidade funcional do idoso. As desordens mentais comprometem 20% da população e entre as quais destacam-se a demência, a depressão, a doença de Alzheimer, a doença de Parkinson, da demência com corpos de Lewy, entre outras (Benedetti et al., 2008). As doenças neurodegenerativas são cada vez mais comum nos idosos levando à perda de autonomia tornando-os mais dependentes de terceiros. As mais comuns entre os idosos é a Doença de Alzheimer (DA) e a Doença de Parkinson (DP).

A DA é uma doença neurodegenerativa do SNC caracterizada pela perda sináptica e pela morte neuronal observada nas regiões cerebrais responsáveis pelas funções cognitivas. São caraterísticas duas lesões: a placa senil e a degenerescência neurofibrilar. As placas de senis são consideradas estruturas esféricas, pequenas, que constituem reservatórios granulares provenientes de um processo de degeneração neuronal, a principal componente é a proteína β-amilóide. A degenerescência neurofibrilar caracteriza-se por neurofilamentos anormais organizados em pares de filamentos em hélice. A sua principal componente é a proteína Tau, que neste caso se encontra hiperfosforilada (Christofoletti, et al., 2006).

Relativamente à DP, esta foi descrita pela primeira vez por James Parkinson em 1817 como “paralysis agitans” que “identificou os sinais mais importantes: rigidez, tremor, marcha acelerada e postura inclinada” (Gouveia, 2008, p. 2). De acordo com Gil (2010, p. 5) “é uma doença neurodegenerativa progressiva, que afecta múltiplos sistemas neuronais, com principal envolvimento dos gânglios da base”. É caraterizada pela degeneração da substância negra, com perda gradual dos neurónios dopaminérgicos pigmentados e pela presença de neurónios contendo corpo de Lewy (Galhardo et al., 2009).

Atividades cognitivamente estimulantes são atividades de lazer que envolvem um esforço cognitivo, como ler, assistir a mais aulas de educação, fazer palavras cruzadas, jogar Sudoku ou jogar jogos com a ponte (Opdebeeck et al., 2015). A prática regular destas atividades produzem um efeito positivo na função cognitiva, levando a uma diminuição do declínio cognitivo e a menor incidência de demências.

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15 2.3. Atividade física e Função cognitiva

Um envelhecimento saudável é cada vez mais importante para os indivíduos e a prática de exercícios físicos e mentais é fundamental para quem quer envelhecer com saúde. A prática regular de atividade física tem a capacidade de prevenir e/ou atenuar muitos dos problemas que se encontram associados ao processo do envelhecimento. Deste modo, de acordo com a Direção-Geral da Saúde, a atividade física promove o bem-estar, a satisfação com a vida, reduz o stress, a ansiedade, a depressão, especificando que os benefícios geralmente são obtidos através de pelo menos 30 minutos de atividade física por dia, três vezes por semana e em dias alternados (Direção-Geral da Saúde, 2001). As evidências destacam um impacto positivo sobre a atividade física regular em termos cognitivos, na saúde mental e no bem-estar geral do individuo durante o processo de envelhecimento (Souto, 2012).

Uma das formas de retardar as alterações que vão ocorrendo a nível cognitivo, segundo a OMS (2002) é através da participação em atividades físicas leves e moderadas. A prática de atividades físicas pode ser incentivada pela realização de tarefas que realizamos no nosso dia-a-dia de modo a sentirmo-nos mais ativos, como por exemplo, quando trocamos o elevador pelas escadas, trocamos o carro para nos deslocarmos a pé, quando realizamos as tarefas de casa, quando tratamos do jardim, entre outras atividades. Este tipo de atividades físicas tendem a desaparecer quando o idoso é institucionalizado agravando a deterioração cognitiva. De acordo com Sagiv (2011) o idoso deve manter um elevado nível de atividade física, acima do que é necessário para a atividade diária normal. A atividade física regular juntamente com outros fatores de intervenção têm sido considerados importantes para melhorar as funções cognitivas, como por exemplo, uma alimentação especial, tratamentos farmacológicos, a estimulação cerebral, ambientes enriquecidos e estimulação cognitiva (Hötting & Röder, 2013). Outras variáveis, como por exemplo, possuir habilitações de ensino superior, nível socioeconômico acima da média, um estilo de vida consciente sobre o bem-estar e saúde e a ausência de problemas de saúde poderia ter um impacto sobre as variáveis cognitivas e sobre a probabilidade de ser fisicamente ativo (Hötting & Röder, 2013).

A caminhada, a dança, e a prática de exercícios físicos estão entre a prática de atividades físicas mais comuns. Neste sentido, a atividade física é definida como qualquer movimento corporal voluntário que resulte num gasto energético superior ao dos níveis

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16 de repouso que seja realizada através das atividades da vida diária, das atividades desportivas e de lazer, entre outros (Nahas, 2001).

Neste sentido, o exercício físico é um subconjunto da prática da atividade física que é planeado, estruturado e repetitivo, tendo como objetivo final ou intermediário a melhoria ou manutenção da aptidão física (Caspersen et al., 1985). Assim sendo, a aptidão física é um conjunto de atributos relacionados com a saúde ou com a capacidade desportiva. Deste modo, a aptidão física relacionada com a saúde envolve aspetos biofisiológicos, tais como a resistência cardiorrespiratória e muscular, a força muscular, a composição corporal e a flexibilidade. Por outro lado, a aptidão relacionada com a capacidade desportiva envolve aspetos tais como o equilíbrio, o tempo de reação, a coordenação, a agilidade, a velocidade e a potência (Caspersen et al., 1985; Simões, 2010.)

Por outro lado, o nível do condicionamento físico pode ser um verdadeiro entrave na prática de atividade física regular. A aptidão física é composta por vários componentes tais como: a capacidade cardiopulmonar, a composição corporal, a flexibilidade, a força muscular e a resistência. Com o aumento da idade, a massa muscular dos seres humanos diminui significativamente. Esta redução da massa muscular é um fator importante no declínio do consumo máximo de oxigênio, indicando a aptidão cardiopulmonar do indivíduo, trazendo uma redução no desempenho físico (Sagiv, 2011).

A prática regular de atividade física acarreta inúmeros benefícios para a saúde, que entre eles se encontram a diminuição do risco da doença cardiovascular, do acidente vascular cerebral, diminuição da diabetes tipo 2, diminuição do risco do aparecimento do cancro do cólon e da mama. Para além disto, a atividade física produz efeitos positivos sobre a hipertensão, osteoporose, peso e composição corporal, diminuição da depressão, ansiedade, stress e diminuição de quedas (Murrock, & Higging, 2009).

Hábitos de vida saudáveis, incluindo o exercício físico regular ajudam a aliviar o stress do dia-a-dia através da libertação de neurotransmissores, tais como a serotonina e norepinefrina cuja função é a de controlar as emoções (Souto, 2012).

Os principais benefícios da atividade física em idosos para Matsudo e Matsudo (1993) podem resumir-se em: Efeitos antropométricos e neuromusculares- diminuição da gordura corporal, crescimento da massa muscular; crescimento da força muscular, aumento da flexibilidade; Efeitos metabólicos- aumento do volume sistólico, diminuição da frequência cardíaca em repouso e no trabalho submáxima aumento de 10% a 30% do

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17 VO2 máx., aumento da ventilação pulmonar e diminuição da pressão arterial; Efeitos

psicológicos- melhoria do autoconceito, melhoria da autoestima, melhoria da imagem

corporal, diminuição do stress e da ansiedade, a tensão muscular e a insónia melhoram, melhoria das funções cognitivas e aumento da sociabilidade (Souto, 2012, p. 29).

Num estudo realizado com adultos normais e pacientes com os primeiros sinais da doença de Alzheimer onde a capacidade de memória ou cognitiva foi suavemente prejudicada melhoraram significativamente a cognição através da realização de atividade física (Hillman et al., 2008).

Noutro estudo realizado por Richards e colaboradores (2003) propuseram que as atividades de lazer, tais como as atividades culturais, sociais ou de cortesia podem até ser mais benéficas para as funções cognitivas do que a atividade física.

Estudos realizados sobre a prática de atividade física destacam o efeito da atividade física na diminuição do risco da doença vascular e na existência de menor declínio cognitivo naqueles com hábitos saudáveis (Souto, 2012). O exercício físico pode elevar o Brain

Derived Neurotrophic Factor (BDNF) estimular a neurogénese, movimentar a expressão de genes que beneficiam o processo de plasticidade cerebral, aumentar a resistência do cérebro ao dano, melhorar a aprendizagem e o funcionamento mental (Cotman, 2002). Estudos demonstraram o efeito do exercício sobre a regeneração de neurónios (Molteni et al., 2004) e na indução de neurogénese (Pereira et al., 2007).

Estudos mais recentes sobre a fisiologia dos processos cognitivos descobriram que o BDNF é a molécula-chave envolvida na aprendizagem e na memória. A constatação de que o exercício físico aumenta a produção desta molécula parece ser muito importante. Sugeriu-se que este fator neurotrófico mantém a saúde e o funcionamento normal dos neurónios primários, e que podem ser regulados pela atividade neural, ou seja, é responsável pela gênese do neurônio, pela sua sobrevivência e pela resistência ao stress, que todos juntos facilitam o processo de aprendizagem (Antunes et al., 2006; Gligoroska & Manchevska, 2012).

A evidência de estudos realizados em animais identificaram alterações moleculares e celulares que ocorreram sob a influência do exercício físico e que podem estar relacionadas com os efeitos exercidos do condicionamento físico na cognição (Gligoroska & Manchevska, 2012). Os mecanismos fisiológicos, incluindo o aumento do fluxo sanguíneo cerebral, alterações na libertação de neurotransmissores, mudanças estruturais

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18 no SNC e mudanças dos níveis de excitação, são baseados nas mudanças físicas que ocorrem no corpo como consequência da atividade física. Um dos mecanismos fisiológicos fundamentais que explicam a influência da atividade física sobre a cognição é o aumento do fluxo sanguíneo no cérebro (Gligoroska & Manchevska, 2012).

Estudos realizados com animais sugerem que o exercício físico induz uma diversidade de mudanças funcionais e estruturais parcialmente interdependentes no sistema nervoso. Estas alterações incluíram um aumento na angiogênese, na densidade da espinha dendrítica, melhoria na potenciação de longo prazo, e aumenta a libertação de fatores de crescimento tais como o BDNF e o fator de crescimento semelhante a insulina-1 (IGF-1) (Hötting & Röder, 2013). O exercício físico aumenta a proliferação das células precursoras na zona subgranular do giro dentado (Hötting & Röder, 2013).

Algumas evidências têm sugerido que a atividade física aumenta significativamente os níveis da proteína mitocondrial, mais precisamente, desacoplamento 2, que é um fator de proteção da homeostase da energia exercida, através da preservação da homeostase do cálcio, da produção de ATP e do controlo de radicais livres (Gligoroska & Manchevska, 2012).

A prática regular de atividade física acarreta inúmeros benefícios e alterações a nível cognitivo, entre os quais, de acordo com Bertelli e colaboradores (2011) reduz as inflamações e controla a produção de citocinas anti-inflamatórias. Corroborando os mesmos autores, a “inflamação consiste numa resposta imunitária, central em muitas doenças, já que constitui uma reação imunogénica localizada contra um agente invasor, com a finalidade de restringir e eliminar esse agente” (Bertelli et al., 2011, p. 772). Portanto a prática de atividade física, ao aumentar a aptidão aeróbia e em particular o fluxo sanguíneo cerebral, faz com que haja uma diminuição da inflamação crónica no sistema nervoso, e aumenta a neuroplasticidade. A capacidade do sistema nervoso modificar a sua organização em ambientes alterados foi denominado de “neuroplasticidade”. A neuroplasticidade ocorre através, por exemplo, da aquisição de novas competências, após a existência de danos para o sistema nervoso em que resulta a privação sensorial (Hötting & Röder, 2013).

A neuroplasticidade tem sido estudada em diferentes níveis de organização do sistema nervoso, que vão desde as sinapses, os neurónios, as colunas neuronais corticais, mapas

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19 e comportamento. Estes níveis são altamente interligados e interdependentes (Hötting & Röder, 2013).

Deste modo, a prática de atividades físicas permite que as células neurais se transformem em resposta às variações ambientais e aos agentes invasores, promove o aumento de novas ligações sinápticas, estimula a produção de novos neurónios, em especial no hipocampo, sendo esta uma área do cérebro importante para a aprendizagem e para a memória (Bertelli et al., 2011). O hipocampo tem vários subcampos que desempenham papéis distintos na formação de novas memórias e pode ser desproporcionalmente afetado com o exercício (Kramer et al., 2006). O hipocampo é conhecido pelo seu papel relevante na navegação espacial e na memória espacial. Isto pode ser observado nas alterações do hipocampo em humanos após quatro meses de treino em navegação espacial num ambiente virtual: jovens e velhos apresentaram menor perda do volume do hipocampo e tiveram melhorias nas suas habilidades de navegação espacial após o período de formação (Hötting & Röder, 2013).

Van Boxtel et al. (1997) propõem duas hipóteses responsáveis pela melhoria da função cerebral através do exercício físico, em que a primeira enfatiza que a prática de exercício físico promove maior fluxo sanguíneo para o cérebro, proporcionando melhores irrigações e maior abastecimento de oxigénio e glicose, fazendo com que o individuo execute melhor as funções cerebrais. A segunda hipótese refere que as atividades neuromusculares são responsáveis pela ocorrência de estímulos aos centros cerebrais superiores, provocando estimulação neurotrófica do cérebro e melhora o funcionamento das atividades cerebrais (Van Boxtel et al., 1997).

Recentes investigações demonstraram que a deterioração cognitiva não é inalterável em pessoas idosas em que o cérebro contenha alguma plasticidade, podendo esta ser aproveitada, a fim de reverter a deterioração que se encontra acomodada (Erickson & Kramer, 2009). Os mesmos autores concluíram que o efeito do treino aeróbio sobre a função cognitiva parece aplicar-se aos idosos com demência, sendo que os benefícios do exercício físico apresentam melhorias com as intervenções apropriadas.

Hötting e Röder (2013) sugerem que níveis baixos de atividade física, incluindo as atividades da vida diária podem afetar as variáveis cognitivas e a neuroplasticidade. De acordo com Erickson e Kramer (2009) as regiões do cérebro que estão relacionadas com o controle executivo são as mais afetadas pelo treino aeróbio. Demonstraram esta

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20 hipótese numa amostra transversal com idosos ativos e sedentários, em que os idosos ativos tiveram um maior volume da massa cinzenta no córtex pré-frontal, nas regiões temporais e um maior volume da substância branca do corpo caloso que os idosos sedentários.

Tem sido demonstrado que o exercício físico afeta os sistemas neurotransmissores, através do aumento dos níveis de serotonina, noradrenalina e acetilcolina, e do reforço da captação da colina cortical e da densidade do recetor de dopamina (Hötting & Röder, 2013).

Gligoroska e Manchevska (2012) sugerem que a atividade física melhora as funções executivas, a atenção, a velocidade cognitiva e a memória episódica. O treino cardiovascular tem sido relacionado à melhoria das funções cognitivas no envelhecimento. Idosos sedentários que participaram num protocolo com exercício aeróbio tiveram resultados significativos no volume das substâncias, branca e cinzenta em várias regiões cerebrais, tais como pré-frontal e córtex temporal.

Estudos realizados com imagens cerebrais de seres humanos mais velhos, com mais de 57 anos, foram capazes de demonstrar alterações de ativação cerebral funcionais em regiões frontais do cérebro depois de seis meses de exercício aeróbio. Essas alterações funcionais foram acompanhadas por um melhor desempenho, por um aumento do volume da substância branca e cinzenta no pré-frontal no córtex temporal (Hötting & Röder, 2013).

Num estudo realizado por Kramer e seus colaboradores (2006) descobriram que os adultos mais velhos que participaram no grupo de treino aeróbio durante 6 meses mostrou um aumento significativo no volume da matéria cinzenta nas regiões do lobo temporal frontal e superior, em comparação ao grupo de controlo. Estes resultados sugerem que exercícios de curta duração podem começar a restaurar algumas das perdas no volume do cérebro associada ao envelhecimento normal.

Tem sido sugerido que o exercício aeróbio é potencialmente importante, não só para parar/atenuar o declínio neuronal causado pelo processo do envelhecimento, mas também é um mecanismo potencialmente eficiente para o roll-back de algumas funções normais que foram perturbadas devido a reduções na estrutura cerebral relacionada com o envelhecimento. A atividade física foi sugerida para ser uma ferramenta útil para a

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21 redução do risco da disfunção cognitiva relacionada com o envelhecimento (Gligoroska & Manchevska, 2012).

De acordo com Hötting e Röder (2013) o exercício aeróbio pode induzir efeitos benéficos nas funções cerebrais que ocorre mudanças no fluxo sanguíneo e na vascularização o que levará a uma melhor oferta global de oxigênio e de nutrientes.

Num estudo realizado com idosos institucionalizados, os resultados do Mini-mental state no grupo experimental que foi implementada a prática de atividade física regular, foram significativamente melhores em relação ao grupo de controlo que não praticou em nenhuma atividade (Coelho, 2014). O mesmo autor confirma que obteve uma diminuição dos deficits cognitivos e redução da taxa de reincidência de doenças mentais.

Noutro estudo realizado por Souto (2012) onde o tema central é a prática de atividades físicas e a função cognitiva, concluiu que apenas observou melhorias no nível alto de atividade física após um ano, especialmente, “na retenção, atenção e calculo, evocação e habilidade construtiva” (Souto, 2012, p.100). Kramer et al. (2006) confirmam os resultados obtidos no estudo realizado por Souto, afirmando que a atividade física influencia uma grande variedade de processos cognitivos, onde os maiores efeitos positivos foram observados nos processos de controlo executivo. Os processos de controlo executivo incluem as componentes da cognição tais como o planeamento, a programação e a memória de trabalho. Curiosamente, estes são os processos que mostram o declínio relacionado com a idade substancial. Estes resultados indicam que uma maior quantidade de atividade física ou aptidão aeróbica são geralmente benéfico para os processos cognitivos que estão relacionados com a alocação de recursos de atenção e processamento cognitivo mais rápido durante o estímulo de codificação (Hillman et al. 2008).

Kempermann (2002) sugere que atividade física juntamente com a estimulação cognitiva pode ser particularmente eficaz em induzir efeitos benéficos sobre a estrutura e a função do cérebro. Neste sentido, Bertelli et al. (2011) afirma que possuir um estilo de vida ativo previne ou retarda a perda da função cognitiva que se encontra associada ao envelhecimento normal. Afirmam também que “pessoas com idade em boa forma física, apresentam melhor desempenho do que os seus pares sedentários em testes de raciocínio, memória de trabalho, tempo de latência e vocabulário” (Bertelli et al., 2011, p. 773).

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22 2.4. Efeitos da Música e da Dança/Movimentos rítmicos na função cognitiva

2.4.1. A Música

Para alguns autores a música é definida como uma combinação harmoniosa e expressiva de sons. O ritmo musical induz à estrutura corporal movimento, a melodia estimula a afetividade e a estrutura musical contribui para o restabelecimento da ordem mental do ser humano (Chiarelli & Barreto, 2005; Simões, 2010).

A música descrita por Weigel (1988) é composta por som, que são vibrações audíveis e regulares de corpos elásticos que se repetem com a mesma velocidade. As vibrações irregulares são designadas de ruído. O ritmo é o efeito que se origina da duração de diferentes sons, longos ou curtos. A melodia é a sucessão rítmica e ordenada dos sons. A harmonia é a combinação simultânea melódica e harmoniosa dos sons (Simões, 2010; Chiarelli & Barreto, 2005).

A expressão musical engloba variações da velocidade e da dinâmica musical em que a dinâmica, se refere à intensidade sonora ou ao volume do som, sendo esta medida em decibéis (dB), enquanto o andamento ou o tempo da música, se refere à velocidade da música, é medido em batidas por minuto (bpm) (Terry & Karageorghis, 2006; Todd, 1992; Simões, 2010).

A música pode ser usada para fins terapêuticos. A música é usada frequentemente para alterar os estados emocionais, podendo ser uma ferramenta proveitosa para a melhoria da qualidade de vida (Cuddy & Duffin, 2005; Sung et al., 2006).

A música encontra-se associada à redução da ansiedade (Loomba et al., 2012; Stuhlmiller et al., 2009), à diminuição do estado de alerta, a sensações de tranquilidade, à diminuição da frequência cardíaca, e da agitação, promovendo o relaxamento que as músicas de ritmo mais lento e melodias com tons mais graves podem desencadear. Por outro lado, se a intenção for a de ampliar o estado de alerta, as músicas mais indicadas são as de ritmos mais acelerado e agitadas, com tons mais agudos (Ferreira et al., 2006), proporcionando a evocação de emoções fortes, tendo influência sobre a regulação do humor psicológico (Chanda & Levitin, 2013; Salimpoor et al., 2011). O efeito ansiolítico da música é conhecida não só para o especialista, mas também para qualquer um que ouve uma peça de música favorita para relaxar depois de um dia tentando (Zatorre, 2005).

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23 Deste modo, alguns autores observaram uma melhoria das funções cognitivas depois da audição da música (Simões, 2010). Essa melhoria foi maior nos indivíduos que ouviram músicas de ritmo rápido, em relação a indivíduos que ouviram músicas com ritmo mais lento (Husain et al., 2002), estando possivelmente relacionado o nível de concentração com o nível da rapidez do andamento da música levando a efeitos positivos (Bernardi et al., 2006). Observou-se ainda que músicas com tempos mais acelerados suscitam estados emocionais mais agradáveis e que intensidades mais elevadas estão associadas a um melhor desempenho cognitivo (Bishop et al., 2009).

Neste sentido, músicas de ritmo rápido faz com que você se sinta animado ou querer dançar, enquanto músicas de ritmo lento leva à calma e até mesmo à tristeza. Uma possível explicação é que esses efeitos podem ser mediados através de circuitos de feedback do sensorio-motor, ou seja, através do chamado sistema neurónio-espelho (Zatorre, 2005).

Os componentes que constituem a música criam diversas facetas ou dimensões dos diferentes tipos de músicas e que têm sido usadas com diversos objetivos terapêuticos no decorrer da história (Simões, 2010).

A música oferece uma excelente oportunidade para compreendermos melhor a organização e processamento do cérebro (Kraus, Zatorre & Strait, 2014; Peretz & Zatorre, 2003; Peretz & Zatorre, 2005), destacando-se o seu contributo na integração fisiológica, psicológica e emocional do individuo (Sung, et al., 2006).

A música recruta praticamente todas as funções cognitivas (Zatorre, 2005). Especialistas nesta área (Levitin, 2006; Zatorre & Halpern, 2005) afirmam que o processamento musical é repartido por todo o cérebro como por exemplo, pelo córtex auditivo, córtex motor pré-frontal, córtex somatossensorial, córtex visual, neocórtex, corpo caloso, amígdalas, núcleo accumbens, hipocampo e cerebelo.

Ouvir e produzir música envolve uma mistura tentadora de praticamente todas as funções cognitivas humanas. Até mesmo uma atividade aparentemente simples, como cantarolar uma melodia familiar, exige mecanismos complexos do processamento auditivo, da atenção, da memória de armazenamento e recuperação, da programação motora, e da integração sensório-motora (Zatorre, 2005).

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24 Os sons musicais e todos os outros sons partilham a maior parte das fases do processamento durante todo o neuro eixo auditivo. Alguma clareza aponta para um grau de segregação das funções no processamento da música o que pode, em parte, estar relacionado com o importante papel desempenhado por passo dentro da música (Peretz & Zatorre, 2005).

A discriminação rítmica de eventos musicais pode ser prejudicada durante a extração do conteúdo do campo é poupado (Di Pietro et al., 2004; Peretz, 1990). Essa dissociação dupla entre a melódica e o processamento temporal também tem sido observada no canto e na leitura à primeira vista. Assim, as evidências sugerem que essas duas dimensões envolvem a operação de subsistemas neurais separáveis (Peretz & Zatorre, 2005). Esta interpretação é consistente com os dados de eletroencefalografia e magnetoencefalografia, indicando que o córtex auditivo responde a estas relações de passo, mesmo na ausência de atenção (Tervaniemi, 2003).

A contribuição da memória para o processamento da música é crucial não só porque a música se desenrola ao longo de grandes períodos de tempo, mas também porque a música é altamente estruturada ao longo de vários princípios que requerem a contribuição de diferentes fontes do conhecimento (Peretz & Zatorre, 2005).

Em geral, as regiões corticais auditivas são mais fortemente recrutados durante as condições de alta carga em que requerem um ensaio ativo (Gaab et al., 2003) tal como reter sons na memória, enquanto outros são apresentados, o que pode estar relacionada com interações auditivo-motoras (Hickok et al., 2003).

O processamento neurobiológico do discurso ocorre maioritariamente no lado esquerdo do cérebro, pelo que se questiona se essa assimetria é espelhado numa predominância do hemisférico direito para a música. Há relatos de casos de pessoas que perderam as funções da fala após extremos danos nas regiões da fala no hemisférico esquerdo do cérebro, e ainda assim continuam a mostrar a função de alto nível musical intacto (Zatorre, 2005). A capacidade de organizar um conjunto de palavras numa frase significativa e a capacidade de organizar um conjunto de notas numa melodia bem estruturada pode envolver mecanismos cerebrais de uma maneira similar (Zatorre, 2005).

Como as palavras na linguagem, o processo de reconhecimento da música requer acesso e seleção de potenciais candidatos num sistema de memória percetual (Dalla Bella et al.,

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Figura 1- Fases do estudo de intervenção
Tabela 1- Caraterização da amostra
Tabela 4- Classificação da função cognitiva do grupo experimental e do grupo  observacional no pré-teste
Tabela 5- Análise descritiva da amostra total no pré-teste
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Referências

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