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Os resultados do presente estudo revelaram que o grupo experimental, que foi sujeito a um programa de intervenção centrado na dança/movimentos rítmicos, apresentou melhorias significativas após a intervenção comparativamente ao grupo observacional. O programa de intervenção realizado durante 21 semanas produziu efeitos benéficos na função cognitiva. Estes resultados vão ao encontro da literatura existente que defende que programas de atividade física podem contribuir significativamente para a melhoria da função cognitiva em idosos institucionalizados (Cotman, 2002; Hötting & Röder, 2013; Molteni et al., 2004; Sagiv, 2011).

No teste MMSE aplicado neste estudo, verificou-se uma melhoria significativa no grupo experimental, não só no score total como nos domínios da orientação e evocação. Os domínios da retenção e linguagem registaram uma ligeira melhoria embora não tenha sido estatisticamente significativa. Nos restantes domínios cálculo e habilidade construtiva verificou-se uma ligeira redução. Em relação ao grupo observacional observou-se uma melhoria estatisticamente significativa no domínio da orientação e no domínio cálculo e no score total verificou-se uma ligeira melhoria embora não tenha sido estatisticamente significativa.

Com o avançar da idade, a função cognitiva vai-se deteriorando em praticamente todos os domínios, mas com a prática regular de atividade física pode produzir efeitos benéficos na função cognitiva como indica o estudo realizado em que os domínios orientação e evocação melhoraram significativamente. Estes resultados vão ao encontro da literatura onde a dança estimula vários processos no domínio cognitivo incluindo a perceção visual e auditiva, a capacidade de seguir instruções (Brown, et al., 2006) e na orientação (Lee, et al., 2008: Rohricht, et al., 2011; Margariti, et al., 2012).

Estudos evidenciam reduções significativas da função cognitiva (Nascimento, 2012), nomeadamente nos domínios da retenção e do cálculo, nesse sentido, o nosso estudo veio contrariar esses fatos, verificando-se no grupo experimental uma ligeira melhoria no domínio da retenção, e no domínio do cálculo regrediu ligeiramente, enquanto no grupo observacional o domínio do cálculo teve uma redução acentuada.

A caminhada, dança e a prática de exercício físico estão entre a prática de atividades físicas mais comuns utilizadas (Nahas, 2001). Neste sentido, estudos realizados sobre a

48 prática de atividade física verificaram que o BDNF é a molécula-chave envolvida na aprendizagem e memória. O exercício físico aumenta a produção desta molécula que é responsável pela génese do neurónio, pela sua sobrevivência e pela resistência ao stress, que em conjunto facilitam o processo de aprendizagem (Gligoroska & Manchevska, 2012; Hötting & Röder, 2013).

Mecanismos fisiológicos, incluindo aumento do fluxo sanguíneo cerebral, alterações na libertação de neurotransmissores, mudanças estruturais no SNC e mudanças dos níveis de excitação, são baseados nas mudanças físicas que ocorrem no corpo exposto à prática de atividade física (Gligoroska & Manchevska, 2012). O aumento do fluxo sanguíneo cerebral, que proporciona melhores irrigações e maior abastecimento de oxigénio e glicose, levando a uma melhor execução das funções cerebrais, e um aumento da aptidão aeróbia faz com que haja uma diminuição da inflamação crónica no sistema nervoso e aumenta a neuroplasticidade (Bertelli et al., 2011; Hötting & Röder, 2013; Van Boxtel et al., 1997).

Estudos realizados sugerem que o exercício físico induz mudanças funcionais e estruturais no sistema nervoso. O exercício físico pode elevar o BDNF estimular a neurogénese, movimentar a expressão de genes que beneficiam o processo de plasticidade cerebral, aumentar a resistência do cérebro ao dano, melhorar a aprendizagem e o funcionamento mental (Cotman, 2002). Estudos demonstraram o efeito do exercício sobre a regeneração de neurónios (Molteni et al., 2004), aumento na angiogênese, na densidade da espinha dendrítica, e na indução de neurogénese (Pereira et al., 2007), O exercício físico aumenta a proliferação das células precursoras na zona subgranular do giro dentado (Hötting & Röder, 2013), provocando uma melhoria na aprendizagem e no desempenho cognitivo, preservando a memória de evocação. Os resultados do nosso estudo estão em conformidades com os dos autores referidos, uma vez que foram observadas melhorias significativas na evocação no grupo experimental.

A prática de atividade física permite que as células neurais se transformem em resposta às variações ambientais e aos agentes invasores, promove o aumento de novas ligações sinápticas, estimula a produção de novos neurónios, em especial no hipocampo, sendo esta uma área do cérebro importante para a aprendizagem e para a memória (Bertelli et al., 2011; Kramer et al., 2006). O hipocampo tem vários subcampos que desempenham papéis distintos na formação de novas memórias e pode ser desproporcionalmente afetado com o exercício (Kramer et al., 2006). A capacidade do sistema nervoso de modificar a

49 sua organização de demandas e de ambientes alterados foi denominado de "neuroplasticidade” (Hötting & Röder, 2013). Estas evidências encontradas na literatura vão ao encontro dos resultados do nosso estudo, verificando-se que o grupo experimental obteve melhores resultados no domínio da orientação, evocação e no score total no teste MMSE em comparação com o grupo observacional.

De acordo com Erickson e Kramer (2009) as regiões do cérebro que estão relacionadas com o controle executivo são as mais afetadas pelo treino aeróbio, confirmando esta hipótese num estudo que utilizou idosos ativos e sedentários. Os resultados revelam que os idosos ativos apresentaram um maior volume da massa cinzenta no córtex pré-frontal, nas regiões temporais, e um maior volume da substância branca do corpo caloso, comparativamente aos idosos sedentários.

A utilização da dança como terapia é hoje em dia muito utilizada, dado que através da dança o individuo participa de forma criativa promovendo o desenvolvimento cognitivo, emocional, e a integração física e social (American Dance Therapy Association, 2009). Para além destes efeitos, a dança produz melhorias na redefinição e aperfeiçoamento da imagem do corpo, aumenta a autoestima, contribui para o alívio da tensão física, ansiedade e agressividade, provocando um reforço cognitivo, cinestésico e orientação, aumentando a felicidade e a capacidade de comunicação (Lee et al., 2008; Röhricht et al., 2011; Margariti et al., 2012).

A dança sénior é uma “atividade grupal que envolve música e atividade física, trabalhando o corpo por meio de coreografias criadas com músicas instrumentais e movimentos ritmados ” (Cassiano et al., 2009, p. 204).

A dança trabalha a função cognitiva ao exigir aos indivíduos planear e executar movimentos idealizados pelos próprios, seguir a música e sinais, ao recordar ações repetidas utilizando o seu próprio corpo. Através desta ação, a rede de gânglios basais é ativada promovendo uma melhoria na memória a curto prazo e na execução de ações (Hashimoto, et al. 2015; Takakusaki, 2009). Estes resultados estão em concordância com os do nosso estudo visto que através do programa de intervenção centrado na dança foi possível observar melhorias significativas no teste MMSE no domínio da orientação o grupo experimental em comparação ao grupo observacional.

Neste sentido, a dança coreografada é um meio de comunicação não-verbal que exige a produção de um conjunto complexo de movimentos em cadeia, com a utilização de gestos

50 que formam um conjunto coerente dos quais surge a experiência comunicativa entre o dançarino e o espectador (Bachrach, et al., 2015). Tendo em conta estas caraterísticas a dança deveria fazer parte das atividades de rotina das instituições que recebem idosos. Comparando com outros exercícios aeróbicos, a dança produz uma série de efeitos benéficos ao estimular as emoções, promover a interação social e a estimulação através de diversos temas musicais (Kattenstroth, et al., 2010). A dança pode ser uma modalidade mais eficiente de melhorar a função cognitiva (Kim et al., 2011).

Existem benefícios associados à dança e evidência de que este tipo de atividade física pode melhorar a função cognitiva, através da socialização, do desenvolvimento da coordenação motora e da estimulação cognitiva, através de tarefas espaciais, da alternância de tarefas e do processamento de estímulo (Cassiano et al., 2009; McNeely, Duncan, & Earhart, 2015).

A dança integra quer componentes motoras quer cognitivas através do planeamento e da execução de movimentos complexos (Bläsing et al., 2008). Neste sentido, Helmich e colaboradores (2007) defendem que a área parietal e as áreas pré-motoras são ativadas durante as tarefas de rotação mental, assim como o envolvimento dos gânglios basais. Estas evidências vêm realçar e justificar os resultados do nosso estudo, dado que o grupo experimental apresentou resultados significativamente superiores no domínio da orientação e evocação no pós-teste em relação ao pré-teste. Estes resultados realçam o papel importante da dança na função cognitiva, nomeadamente, as questões relativas à memorização de ritmos, cadências, passos e coreografias, assim como a execução e orientação num determinado espaço.

Na opinião de McKee & Hackney, (2013) e de Kattenstroth e colaboradores (2013) serão necessários períodos de intervenção de dança mais longos para afetar as habilidades cognitivas, tais como a função executiva, a memória visuo-espacial ou a inteligência fluída.

A dança encontra-se associada à música e esta pode ser utilizada para fins terapêuticos pelo facto de a música envolver praticamente todas as funções cognitivas (Zatorre, 2005). Uma atividade aparentemente simples, como cantarolar uma melodia conhecida, exige mecanismos complexos do processamento auditivo, atenção, memória de armazenamento

51 e recuperação, programação motora e integração sensório-motor (Zatorre, 2005; Zatorre & Halpern, 2005).

O ritmo musical induz à estrutura corporal movimento, a melodia estimula a afetividade e a estrutura musical contribui para o restabelecimento da ordem mental do ser humano (Chiarelli & Barreto, 2005; Simões, 2010).

A utilização de músicas de ritmo mais acelerado e agitadas, com tons agudos, aumenta o estado de alerta, proporcionando a evocação de emoções fortes, tendo influência na regulação do humor psicológico (Chanda & Levitin, 2013; Ferreira et al., 2006; Salimpoor et al., 2011). A audição de melodias alegres e agradáveis transportam os indivíduos para estados de alegria e felicidade fazendo com que estes respondam de forma espontânea com palmas, estalar de dedos, bater com os pés, tocando, cantando, entre outras formas (Chen, Penhume & Zatore, 2007).

Vários autores (Levitin, 2006; Zatorre & Halpern, 2005) afirmam que o processamento musical é repartido por todo o cérebro como por exemplo, pelo córtex auditivo, córtex motor pré-frontal, córtex somatossensorial, córtex visual, neocórtex, corpo caloso, amígdalas, núcleo accumbens, hipocampo e cerebelo. Os gânglios basais estão mais fortemente envolvidos na associação inicial estimulo-resposta e o cerebelo está mais envolvido nos mecanismos de correção de erro e na otimização das sequências motoras adquiridas (Penhune & Steele, 2012).

A contribuição da memória para o processamento da música é crucial não só porque a música se desenrola ao longo de grandes períodos de tempo, mas também porque a música é altamente estruturada ao longo de vários princípios que requerem a contribuição de diferentes fontes do conhecimento (Peretz & Zatorre, 2005).

No nosso estudo o estado civil viúvos teve um efeito positivo na função cognitiva, isto deve-se ao fato que 76,7% (n=23) da amostra pertencer ao estado civil dos viúvos, em comparação com os restantes idosos da amostra, em que 20% (n=6) são solteiros e 3,3% (n=1) é divorciado.

A literatura existente sobre o tema em que afirma que idosos sedentários obtêm melhores resultados a nível cognitivo em comparação com idosos fisicamente ativos neste tipo de programas de intervenção (Kramer et al., 2006; Coelho, 2014; Souto, 2012). Os nossos resultados estão em concordância com a literatura, visto que na caraterização da rotina

52 diária dos idosos, num total de 8 observações em apenas uma os idosos estavam a realizar exercício físico com o apoio das técnicas, passando a maior parte do tempo sentados a ver televisão ou a dormir. Se os idosos fossem estimulados física e cognitivamente, provavelmente os resultados obtidos teriam sido inferiores.

Os resultados positivos do nosso estudo sugerem que o programa de intervenção centrado na dança teve resultados estatisticamente significativos, realçando a importância deste tipo de atividades implementado em idosos institucionalizados, onde a maioria das vezes as atividades dinâmicas de forma a estimular a função cognitiva são escassas.

Conclusões e

Propostas Futuras

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