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A violência doméstica em Portugal – Prevenção e informação

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Academic year: 2021

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Relatório de Estágio apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Estudos sobre as Mulheres, realizado sob a orientação

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Dedico aos meus pais por todo o apoio e ajuda que me têm dado desde sempre e para sempre.

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AGRADECIMENTOS

Nas quatrocentas horas de estágio, no âmbito do Mestrado em Estudos Sobre a Mulher, no Núcleo de Violência Doméstica na CIG – Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género e durante a respetiva preparação, elaboração e redação deste documento, contei com o apoio de várias pessoas que, de alguma forma, direta ou indiretamente, contribuíram para a elaboração deste relatório de estágio.

Dirijo o meu sincero agradecimento à CIG e às pessoas que lá trabalham, particularmente às do N-VDVG que me integraram e estiveram presentes sempre que necessário para o esclarecimento das minhas muitas questões.

Estou especialmente grata, ao meu orientador o Prof. Doutor Manuel Lisboa, docente nesta faculdade bem como à Doutora Marta Silva, coordenadora do N-VDVG da CIG.

Não posso deixar de manifestar o meu agradecimento à minha família, em particular, à minha mãe Maria Luísa Geraldes Dionísio Paulino, ao meu pai, Manuel da Silva Paulino, às minhas três afilhadas, Mariana, Sara e Leonor, e às pessoas minhas amigas, pelo apoio e paciência com que lidaram com a minha falta de tempo, stress e mau humor, durante a elaboração deste documento.

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A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM PORTUGAL – PREVENÇÃO E INFORMAÇÃO

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RESUMO

A Violência Doméstica em Portugal – Prevenção e Informação

O presente relatório de estágio enquadra-se no método de avaliação final do Mestrado em Estudos sobre as Mulheres, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, para a obtenção do grau de Mestre.

O estágio decorreu no Núcleo de Violência Doméstica na CIG e teve a duração de 400 horas, de setembro de 2011 a março de 2012.

Neste documento encontra-se um pormenorizado relato sobre o local do estágio e as atividades desenvolvidas durante o mesmo. Os ensinamentos adquiridos no Núcleo permitiram-me obter conhecimentos teóricos e práticos aplicáveis na minha vida profissional.

Inicialmente procede-se neste relatório a uma breve descrição e contextualização da Violência Doméstica como um problema social a nível nacional.

Percorrem-se alguns documentos legais que definem o fenómeno da Violência Doméstica, bem como medidas a adotar para prevenir e combater este flagelo; como o IV Plano Nacional Contra a Violência Doméstica e a legislação sobre a mesma.

Procura-se depois clarificar os objetivos que nortearam o estágio tal como as atividades que foram desenvolvidas, a sua calendarização e as metodologias utilizadas. No final, verifica-se uma reflexão crítica, em género de avaliação, sobre a aprendizagem, dificuldades e sentidas ao longo do período de estágio.

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ABSTRACT

The present Internship Report was submitted to the Faculty of Human and Social Sciences, fulfilling part of the requirements for the Degree of Master of Women Studies, at New University of Lisbon. The internship took place at the Center for Domestic Violence, at CIG, lasting 400 hours, from September 2011 to March 2012. This report describes in detail the internship's site as well as the activities developed throughout its length. The teachings gathered at the Center enabled me to obtain theoretical and practical knowledge applicable in my professional life. It starts off with a short description and contextualization of Domestic Violence as a nationwide social problem. Some legal documents are presented to define Domestic Violence as a phenomenon, and also to address the measures that should be taken to prevent and fight this scourge - such as the Fourth National Plan Against Domestic Violence and its legislation. Then, it dwells on the goals that guided the internship, as well as its activities, schedule and methods.

The report ends with a critical observation on the process of learning during the internship term.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ... 1

I - APRESENTAÇÃO DA INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO ... 2

II - OBJETIVOS DO ESTÁGIO ... 3

III - A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL ... 6

IV - CALENDARIZAÇÃO DO ESTÁGIO e METODOLOGIA ... 13

V - DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ... 15

CONCLUSÃO ... 26

BIBLIOGRAFIA ... 32

ANEXOS ... 34

ANEXO 1 - Atribuições da CIG ... i

ANEXO 2 - IV PNCVD ... iv

ANEXO 3 - Agressores com Vida Dupla ... xvi

ANEXO 4 – Tipo de Violência Praticada (%) ... xxi

ANEXO 5 - Artº 152 – Código Penal ... xxii

ANEXO 6 - Lei nº 112/2009 de 16 de setembro ... xxiv

ANEXO 7 – Caracterização da Vitima ... xxxvii ANEXO 8 - CEDAW ... xl ANEXO 9 - Plataforma de Ação de Pequim (1995-2005) ... xliv ANEXO 10 – Convenção do Conselho da Europa... lvii ANEXO 11 - Avaliação do III PNCVD ... lxxxix ANEXO 12 - VD Açores ...xcix ANEXO 13 - Local das Agressões ... ci ANEXO 14- Questionário ... cii

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ANEXO 15- Agenda Reunião Projeto E-Maria ... civ ANEXO 16 - Casas Abrigo ... cv ANEXO 17 – Artigo VE ... cvii ANEXO 18 – Projeto Breaking the Taboo Two ... cviii ANEXO 19 - Teleassistência/Modelos ... cix ANEXO 20 – Agenda Reunião Teleassistência ... cxxvii ANEXO 21- Relatos de Vitimas ... cxxviii ANEXO 22 - Sentenças ... cxxxiii ANEXO 23 – Artigo – Revista Ordem dos Advogados ... cxxxv ANEXO 24 – Questionários GNR ... cxliii ANEXO 25 – Programa para Agressores ... cl ANEXO 26 – Simpósio Agressores Sexuais ... clxii ANEXO 27 – Certificado ...clxiv

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LISTA DE ABREVIATURAS

AMCV – Associação de Mulheres contra a Violência APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima CCF – Comissão da Condição Feminina

CIDM – Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres CIG – Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género

DGAI – Direção Geral da Administração Interna DGRS – Direção Geral de Reinserção Social

FCSH - UNL – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa GNR – Guarda Nacional Republicana

MP – Ministério Público

NIAVE – Núcleo de Investigação a Vitimas Especificas

N-VDVG – Núcleo de Prevenção da Violência Doméstica e Violência de Género ONU – Organização das Nações Unidas

PSP – Polícia de Segurança Pública

SIIC – Sistema Integrado de Informação e Conhecimento

SIVVD – Serviço de Informação a Vítimas de Violência Doméstica UMAR – União de Mulheres Alternativas e Respostas

VC – Violência Conjugal VD – Violência Doméstica VE – Vigilância Eletrónica VG – Violência de Género

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1

INTRODUÇÃO

O presente relatório surge como elemento final de avaliação, do Mestrado em Estudos Sobre as Mulheres, realizado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanos da Universidade Nova de Lisboa. O estágio cuja duração foi de 400 horas, decorreu na CIG – Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, no Núcleo da Violência Doméstica/Violência de Género.

Este período permitiu consolidar os meus conhecimentos teóricos sobre a temática da Violência Doméstica e adquirir competências práticas.

Esta experiência, que assume contornos profissionalizantes, deu-me a possibilidade de uma qualificação complementar para a minha vida profissional.

A minha escolha da CIG, mais propriamente o N-VDVG para local de estágio deve-se ao trabalho realizado pelo núcleo que vem exatamente ao encontro dos meus objetivos e pela expectativa de por em prática alguns conhecimentos já adquiridos.

Com este estágio eu pretendi atingir os seguintes objetivos: fazer atendimento/encaminhamento telefónico a vítimas de violência doméstica; elaborar planos de sensibilização/informação para jovens e adultos e perceber como é que se pode intervir/prevenir a Violência Doméstica.

Este documento divide-se em 5 capítulos. No primeiro, é feita uma apresentação da instituição de acolhimento. No segundo estão expostos os meus objetivos do estágio.

O terceiro faz um enquadramento conceptual da temática a ser tratada neste documento. O quarto capítulo contém uma calendarização/planificação do estágio e a metodologia utilizada.

O quinto capítulo é composto pela descrição das atividades desenvolvidas, tendo sempre o cuidado de as enquadrar teoricamente.

O documento será finalizado com uma reflexão conclusiva acerca do tempo passado nesta instituição.

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2

I - APRESENTAÇÃO DA INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO

1. A CIG – Apresentação Geral1

Integrada na Presidência do Conselho de Ministros e atualmente sob a tutela da Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, a CIG é um dos mecanismos governamentais para a Igualdade de Género.

A CIG, criada pelo Decreto-Lei nº 164/2007, de 3 de maio, alterado pelo Decreto Regulamentar n.º 1/2012 de 6 de janeiro, sucede nas atribuições da CIDM2 e da Estrutura de Missão contra a Violência Doméstica e integra as atribuições relativas para a promoção da igualdade da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego.

A CIG tem por missão garantir a execução das políticas públicas no âmbito da cidadania e da promoção e defesa da igualdade de género.

Atribuições da CIG – Ver Anexo 1.

2. N- VDVG – Núcleo de Prevenção da Violência Doméstica e Violência de Género

Competências:

A ação do N-VDVG concretiza-se, essencialmente, através da implementação das medidas previstas no PNCVD – Plano Nacional Contra a Violência Doméstica, cuja elaboração, execução e dinamização se encontra a seu cargo. Esta equipa é constituída por três técnicas e um técnico da área de psicologia e de serviço social.

Entre as várias competências do N-VDVG, destacam-se as seguintes:

a. Promover medidas que contribuam para a diminuição da tolerância social a todas as formas de violência doméstica e violência de género, sensibilizando e mobilizando a comunicação social e a sociedade civil para a necessidade de alterar tais práticas e comportamentos no meio familiar, escolar e social;

1

www.cig.gov.pt 2

CIDM, criada pelo Decreto-Lei n.º 166/91, de 9 de maio, sucedeu à Comissão da Condição Feminina, institucionalizada pelo Decreto-Lei n.º 485/77, de 17 de novembro, a qual, no entanto, já anteriormente se encontrava em atividade.

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3 b. Promover a articulação e a cooperação entre os serviços da Administração Pública e entidades públicas e privadas responsáveis por estratégias sectoriais de combate à violência doméstica e à violência de género;

c. Promover medidas de proteção ds vítimas de V.D. e Violência de Género e de redução dos efeitos negativos da vitimização;

d. Promover medidas de prevenção da revitimização que reforcem a eficácia e a credibilidade dos procedimentos e dos mecanismos de responsabilização dos agressores;

e. Promover medidas de capacitação das vítimas de V.D e V.G., mediante o incremento do seu empoderamento da sua autodeterminação e da sua reinserção social;

f. Promover medidas de prevenção e combate ao assédio sexual no local de trabalho e à V.G. nos espaços públicos.

g. Apoiar a CIG em reuniões internacionais.

II - OBJETIVOS DO ESTÁGIO

Após ter feito alguns cursos de formação profissional em Igualdade de Género e também algumas ações em Violência Doméstica, decidi fazer este mestrado de maneira a aprofundar os meus conhecimentos nesta área. Este mestrado contribuiu para o meu enriquecimento enquanto pessoa e enquanto profissional, pois desde há alguns anos eu própria tenho monitorizado ações de formação em Igualdade de Género. No entanto, nesta fase da minha vida, pretendo focar-me na temática da Violência de Género, particularmente da Violência Doméstica e na Violência nas Relações de Intimidade.

Antes de prosseguir parece-me pertinente fazer a destrinça entre os conceitos Violência de Género, Violência Doméstica e Violência nas Relações de Intimidade.

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Violência de Género (VG):

O Conselho da Europa em 2002 definiu como Violência de Género “.. Qualquer ato, omissão ou conduta que serve para infligir sofrimentos físicos, sexuais ou mentais indireta ou indiretamente, por meio de enganos, ameaças, coação ou qualquer outro meio, a qualquer mulher e tendo por objetivo e como efeito intimidá-la, puni-la ou humilhá-la ou mantê-la nos seus papéis estereotipados ligados ao seu sexo ou recusar-lhe a dignidade humana, a autonomia sexual, a integridade física, mental e moral ou abalar a sua segurança pessoal, o seu amor-próprio ou a sua personalidade, ou diminuir as suas capacidades físicas ou intelectuais”.

Violência Doméstica (VD):

“É um comportamento violento continuado ou um padrão de controlo coercivo exercido, direta ou indiretamente, sobre qualquer pessoa que habite no mesmo agregado familiar (e.g., cônjuge, companheira/o, filha/o, pai, mãe, avó, avô), ou que mesmo não coabitando, seja companheira/o, ex-companheira/o ou familiar. Este padrão de comportamento violento continuado resulta, a curto ou a médio prazo, em danos físicos, sexuais, emocionais, psicológicos, imposição de isolamento social ou privação económica da vitima, visa dominá-la, fazê-la sentir-se subordinada, incompetente, sem valor ou fazê-la viver num clima de medo permanente” (Manita, Ribeiro & Peixoto, 2009).

Violência Conjugal (VC):

“Constitui uma das dimensões da VD. Refere-se a todas as formas de comportamento violento, exercidas por um dos cônjuges/companheira/o ou ex-cônjuges/ex-companheira/o sobre a/o outra/o. A noção de VD é, dessa forma, mais abrangente do que a de VC” (Manita, et al., 2009).

Violência nas relações de intimidade (VRI):

“A noção de VRI resulta da necessidade de alargar a noção de VD e, em particular, a de VC, de modo a abranger a violência exercida entre companheiros envolvidos em diferentes tipos de relacionamentos íntimos e não apenas na conjugalidade strictus sense (e.g., violência entre casais homossexuais, violência entre namorados ” (Manita, et al., 2009).

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5 A minha determinação em focar-me na temática da Violência Domestica, ditou a elaboração da proposta apresentada na CIG mais especificamente no N-VDVG, pedindo que me recebessem enquanto instituição de acolhimento para a realização do meu estágio.

Baseei-me no Quarto Plano Nacional Contra a Violência Doméstica – (IV PNCVD)3para a elaboração dos objetivos de modo a ir ao encontro de algumas medidas do Plano, nomeadamente, as áreas estratégicas 1, 2 e 3.

Para além de querer conhecer e trabalhar as questões relativas ao atendimento/informação de utentes do Serviço de Informação a Vítimas de Violência Doméstica, a minha vontade era que este estágio culminasse com a conceção de um projeto que fosse útil e exequível na comunidade, mais propriamente na freguesia de Corroios, concelho de Seixal.

Foram então definidos os seguintes objetivos:

1. Conhecer/perceber a problemática e o que tem sido feito em Portugal em matéria de Violência Doméstica. Fazer atendimento/encaminhamento de Vitimas de Violência Doméstica, dando-lhes a resposta certa.

2. Conhecer a forma e as condições que as forças de segurança pública têm para atuarem nesta área.

3. Elaborar planos de sensibilização/informação para adultos e jovens.

4. Conhecer os programas de intervenção em agressores de modo a prevenir a reincidência.

O estágio foi realizado entre o mês de setembro de 2011 e o mês de março de 2012, perfazendo as quatrocentas horas. É de referir que as horas não foram geometricamente divididas, uma vez que o tentava conciliar com a minha atividade profissional. Contudo, tentei sempre estar presente nas reuniões e atividades que me eram recomendadas pela minha orientadora, Marta Silva, Psicóloga e Coordenadora do N-VDVG.

3

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III - A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL

A VD, não é de todo um fenómeno recente, tem sido perpetuado ao longo dos tempos, mas, segundo Giddens (2004) só na década de 70 é que começou a ter alguma visibilidade, através das organizações dos direitos da mulher, principalmente no âmbito dos movimentos feministas, que desenvolviam trabalho em casa para abrigo de mulheres vítimas de violência.

Até finais dos anos 60, a violência contra as mulheres era uma violência institucionalizada (na família, no Estado, na medicina e na sua ética, na religião, etc.). Em todos os aspetos da sua vida (educação, conduta, sexualidade, profissão, espiritualidade, …), a mulher estava dependente de sucessivas autoridades. Da tutela dos pais passava para a tutela dos maridos. Estes poderes por sua vez eram apoiados e potenciados pela prática médica, pela jurisprudência e pela religião.

Até há bem pouco tempo o conhecimento científico postulava a existência de diferenças biológicas que justificavam a inferioridade psicológica e social da mulher (Amâncio, 1998).

A violência exercida contra as mulheres tinha assim o aval da sociedade. Era exercida tranquilamente, encarada até como algo que contribuía para a paz das famílias e para a paz social

Atualmente, e apesar da informação disponível, das ações de sensibilização existentes, do empoderamento das mulheres e da legislação, ainda continuamos a assistir à prevalência de estereótipos e crenças que desculpam a violência sobre as mulheres.

“Muitos homens e também muitas mulheres – um homem em cada quatro e uma mulher em cada seis – admitem que em certas circunstâncias e dentro de certos limites os homens lhes podem bater”. (Lisboa, Pais & Lourenço, 1997).

“Apesar dos avanços conseguido nos últimos dois séculos no Ocidente em relação aos Direitos Humanos em geral e à situação das mulheres em particular, há problemas de discriminação de género que subsistem e que contribuem para a

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7 manutenção de desigualdades de oportunidades e de poder, que também se manifestam sob a forma de violência” (Lisboa, 2003).

As teorias feministas também explicam o problema da VD como uma questão de desigualdade de género.

A violência contra as mulheres é um fenómeno universal existente em qualquer cultura, religião e classe social. No entanto, e apesar de qualquer mulher poder ser vítima de VD, existem algumas em “situações mais vulneráveis”(Echeburua & Redondo, 2010).

Segundo estes autores as mulheres em situações de maior vulnerabilidade são:

 Casam ou juntam-se muito jovens

 Têm um nível cultural baixo.

 Dependência económica do agressor.

 Tenham sido vítimas de maltrato e de abuso na infância.

 Têm carências afetivas.

 Têm baixa auto estima.

 São frágeis emocionalmente.

 Movem-se em contornos marginais.

 Contam com uma rede limitada de apoio familiar.

No entanto, como já foi dito atrás a violência não escolhe estratos sociais, habilitações académicas nem estatutos profissionais, como mostra o artigo em anexo.4

As formas de violência exercida “são principalmente a violência física, a violência psíquica e a violência sexual” (Machado & Gonçalves, 2003).

Segundo o Relatório de Monitorização da Violência Doméstica5 – 1º semestre de 2011, as formas de violência mais denunciadas são a violência física e psicológica.6

4

Anexo 3

5 Relatório de monitorização - Violência doméstica - 1º Semestre de 2011 – DGAI – Direção geral da

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8 Estes autores consideram as seguintes formas de exercício de violência doméstica:

Coagir e ameaçar:

 Ameaçar provocar lesões na pessoa da vítima;

 Ameaçar abandonar, suicidar-se, queixar-se do cônjuge á Segurança Social;

 Coagir para práticas de condutas ilícitas.

Intimidar:

 Atemorizar a propósito de olhares, atos e comportamentos;

 Partir objetos;

 Destruir pertences ou objetos do outro;

 Maltratar animais de companhia;

 Exibir armas.

Usar a Violência emocional:

 Desmoralizar;

 Fazer com que o outro se sinta mal consigo próprio;

 Insultar;

 Fazer com que o outro se sinta mentalmente diminuído ou culpado;

 Humilhar.

Isolar:

 Controlar a vida do outro: com quem fala, o que lê, as deslocações;

 Limitar o envolvimento externo do outro;

 Usar o ciúme como justificação.

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9

Minimizar, negar, condenar:

 Desvalorizar a violência e não levar em conta as preocupações do outro;

 Afirmar que a agressão ou violência nunca tiveram lugar;

 Transferir para o outro a responsabilidade do comportamento violento;

 Afirmar que a culpa é do outro.

Instrumentalizar as/os filhas/os:

 Fazer o outro sentir-se culpado relativamente aos filhos/as;

 Usar as/os filhas/os para passar mensagens

 Aproveitar as visitas de amigos para atormentar, hostilizar;

 Ameaçar levar de casa as/os filhas/os.

Utilizar “Privilégios Machistas”:

 Tratar a mulher como criada;

 Tomar sozinho todas as decisões importantes;

 Ser o que define o papel do homem e da mulher.

Utilizar a violência económica:

 Evitar que o outro tenha ou mantenha um emprego;

 Forçar o pedido de dinheiro;

 Fixar uma mesada;

 Apossar-se do dinheiro do outro;

 Impedir que o outro conheça ou aceda ao rendimento familiar.

Em Portugal, a violência doméstica é crime público7, desde 2000, tipificado no artigo 152.º do Código Penal (Lei n.º 59/2007, de 4 de setembro), bem como na Lei n.º

7 O facto de um crime ter natureza pública significa, na prática que: qualquer pessoa que tenha conhecimento deste crime pode denunciá-lo (e.g., um vizinho, um familiar) junto das autoridades competentes; não é possível retirar a queixa; que o Ministério Público promove por sua própria iniciativa o processo penal e decide com autonomia se o processo segue ou não para julgamento, bastando para tal que tenha conhecimento do crime. Este crime é de denúncia obrigatória para as

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10 112/2009, de 16 de setembro (Ver Anexo 5 e 6). A vítima, ou qualquer outra pessoa que tenha conhecimento da ocorrência do crime, pode apresentar queixa/denunciar junto da GNR, PSP ou da PJ, que a remetem ao MP, - Ministério Público - podendo também apresentar queixa diretamente ao MP, junto do tribunal da área onde ocorreram os factos.

De acordo com vários estudos, a violência doméstica é a forma mais frequente de violência sofrida pelas mulheres (Manita, Ribeiro & Peixoto, 2009). Efetivamente, na violência doméstica os agressores são maioritariamente do sexo masculino e as vítimas do sexo feminino, o que não quer dizer que todos os agressores sejam homens ou todas as vítimas mulheres8.

Em 2005 segundo dados do Conselho da Europa, a VC foi a principal causa de morte e invalidez de mulheres entre os 16 e os 44 anos na União Europeia. Uma em cada cinco mulheres foi, no mínimo, uma vez na vida vítima de violência praticada pelo seu companheiro.

O combate contra a V.D. tem sido uma das prioridades na agenda política internacional.

Quando se fala em Organismos Internacionais no combate à violência contra as mulheres não se pode deixar de mencionar a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW, 1981)9, a qual é habitualmente designada como uma carta de direitos internacional das mulheres, na medida em que estabelece as condutas que constituem atos discriminatórios contra as mulheres, estabelecendo uma agenda para orientar as ações nacionais de combate contra tais atos discriminatórios.

No Conselho da Europa, o combate contra a V.D. tem sido também uma prioridade, esforço esse que tem vindo a intensificar-se nos últimos anos, desde a terceira Conferência Ministerial Europeia sobre a Igualdade entre Mulheres e Homens realizada em Roma em 1993.

polícias (sempre) e para os funcionários que tomem dele conhecimento no exercício de funções e por causa delas.

8

Anexo 7 9 Anexo 8

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11 Também a ONU tem procurado combater este fenómeno, tendo já considerado a VD como um dos principais obstáculos ao pleno cumprimento dos direitos das mulheres e das suas liberdades fundamentais.

Em 1995, na IV Conferência Mundial sobre as Mulheres realizada em Pequim, a Violência contra as Mulheres figurou como uma das áreas críticas para atingir a igualdade entre homens e mulheres. Através da Plataforma de Acão aí adotada, os Governos assumiram o compromisso de implementar um conjunto de medidas destinadas a prevenir e eliminar este tipo de violência.10

Mais recentemente em maio de 2011, foi assinada em Istambul – Turquia, a Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate à Violência Contra as Mulheres e a Violência Doméstica, onde mais uma vez é condenado todas as formas de violência contra as mulheres e a violência doméstica e é reconhecido que a “violência contra as mulheres é uma manifestação das relações de poder historicamente desiguais entre mulheres e homens. 11

“Em Portugal, desde os finais dos anos 90 é que as políticas públicas se começaram a definir de forma estruturada, tendo sido então elaborado o I Plano Nacional contra a Violência Doméstica (1999 – 2003)” (Lisboa at al, 2009).

De acordo com a Resolução do Conselho de Ministros n.º 83/2007, os dois primeiros Planos contra a Violência Doméstica (1999-2003 e 2003-2006) funcionaram como instrumentos de sustentação da ação política para a prevenção e intervenção sobre a violência doméstica.

Por sua vez, o III Plano Nacional contra a Violência Doméstica (2007-2010), procurou alargar e melhorar a proteção das vitimas, a punição e recuperação dos agressores e a formação das/os técnicas/ que trabalham com esta problemática.

Contemplou também a consolidação de uma política de prevenção e combate efetivo à violência doméstica, através da promoção de uma cultura para a cidadania e para a igualdade, do reforço de campanhas de informação e de formação, e do apoio e

10

Anexo 9 11 Anexo 10

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12 acolhimento das vítimas, promovendo a sua reinserção e autonomia (Resolução do Conselho de Ministros n.º 83/2007).

O SIIC (Sistema Integrado de Informação e Conhecimento) e a FCSH/UNL (Faculdade de Ciência Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa) fizeram a avaliação do plano. 12

Em março de 2010 foi instituído O Plano Regional de Prevenção e Combate à Violência Doméstica dos Açores.13

O Programa do XVIII Governo Constitucional, na área das políticas sociais, preconiza o combate à VD em três domínios: na vertente jurídico – penal, na proteção integrada das vítimas e na prevenção da violência doméstica e de género.

Neste quadro surge então o IV PNCVD - 2011 – 2013 (Ver Anexo 2), estruturado com base nas políticas nacionais e em articulação com orientações internacionais às quais Portugal se encontra vinculado. O Plano prevê que sejam implementadas 50 medidas em torno de cinco áreas estratégias de intervenção.

No entanto e apesar desta condenação pública e internacional, através de todas as recomendações e legislações de vários países, este crime continua ainda a ser banalizado, legitimado, transversal a qualquer condição sócio económica e perpetuado em qualquer lugar do mundo. As medidas legais ainda não são acompanhadas pelas mudanças sociais.

A sociedade continua amarrada a estereótipos e crenças que perpetuam o papel submisso da mulher e a sua inteira responsabilidade do bem-estar da família. Contudo é no seio da família, é no próprio lar onde a maioria é agredida. Segundo Lisboa, a violência perpetrada em casa ou por familiares, afeta cerca de 55% das vítimas (2008).14

Atualmente existem leis que protegem as vítimas e condenam os/as agressores/as. Mas a proteção e a condenação a maioria ds vezes carecem de vários

12 Anexo 11 13 Anexo 12 14 Anexo 13

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13 meios para a sua prossecução, desde humanos a tecnológicos para serem bem-sucedidas e ter efetivamente o efeito desejado.

Sabe-se, no entanto, que não são só as leis que mudam os costumes e os valores. É difícil mudar algo enraizado há já vários séculos, quando a maioria das sociedades era dominada pelo sexo masculino e onde foi veiculado a propensão de determinadas atitudes negativas contra as mulheres.

“A violência é socialmente construída a partir de uma teia complexa de fatores históricos, económicos, sociais e culturais” (Lisboa, 2002, p.9).

Será então necessário um trabalho e um esforço da sociedade em geral para gradualmente mudarmos atitudes e comportamentos, equilibrarmos o poder e diluirmos os fatores históricos que, ao longo de milhares de anos, reproduziram estereótipos e crenças de que a mulher é um ser inferior relativamente ao homem, e que infelizmente prevalecem até hoje.

IV - CALENDARIZAÇÃO DO ESTÁGIO e METODOLOGIA

1. Calendarização Setembro 2011 a março de 2012 1ª Fase setembro/outubro Integração na CIG. Conhecer orientações nacionais e internacionais para problemática da Violência Doméstica. 2ª Fase novembro/dezembro Acompanhar os vários projetos (já iniciados) do Núcleo e debate-los com as respetivas responsáveis, de maneira a conseguir fazer uma análise crítica dos mesmos. 3ª Fase Janeiro/março Concretização de um projeto de intervenção local. Aplicação de questionários de diagnóstico de conhecimentos sobre Violência Doméstica e elaboração de uma ação de sensibilização/informação. Serviço de Informação a Vitimas de Violência Doméstica

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2. Metodologia

Quando iniciei o estágio a minha palavra de ordem foi rutura. Rutura, no sentido de abandono de posições que pudessem de alguma forma estar previamente condicionadas, quer por ideias preconcebidas ou por outros conhecimentos adquiridos por via académica e profissional que pudessem interferir direta ou indiretamente no meu percurso de aprendizagem.

Na recolha de informação, as fontes a que eu recorri foram documentos oficias nacionais e internacionais.

Nesta primeira fase era também muito importante o aprofundamento do conhecimento legal das questões relativas à V.D.

No que concerne então à questão legal, beneficiei de uma contextualização legal por parte da Jurista do N-VDVG, relativamente à Lei nº112/2009 de 16 de setembro, e ao Artª 152 do Código Penal.

Mantive também contactos e conversas informais com várias pessoas a trabalhar no terreno nesta temática, que me deram informações valiosas, facilitadoras da minha compreensão desta realidade, nomeadamente:

- Voluntária da UMAR (atendimento a vitimas – jurista)

- Voluntárias da APAV (atendimento a vitimas – 2 juristas e uma psicóloga) - Sargento da GNR responsável por um NIAVE.

- Psicóloga da Caritas

- Psicóloga da Cruz Vermelha (Faro)

- Técnica de Serviço Social da Cruz Vermelha (Faro) - Técnicas/os da CIG

Na última fase do estágio, apliquei 114 questionários,15que corresponde a aproximadamente 1% da população residente em Vale de Milhaços num universo de

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15 10 627 pessoas, de modo a fazer um diagnóstico de conhecimentos existentes sobre a problemática de VD.

Entrevistei 6 militares da GNR que trabalham diretamente com vítimas de VD. para ter a perceção das suas maiores dificuldades no desempenho das suas funções.

V - DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Comecei por reunir com a minha orientadora, de forma a conhecer exatamente o trabalho desenvolvido pelo núcleo, bem como para delinear um plano orientador do estágio.

De modo a facilitar a minha integração no local de estágio, a orientadora promoveu várias reuniões com diferentes elementos das várias unidades orgânicas da CIG. Assim pude familiarizar-me com as principais funções e planos de atividades de cada divisão e núcleo.

Nesta primeira fase tornou-se importante o aprofundamento do conhecimento teórico legal das questões da VD.

No que concerne à questão legal, beneficiei de uma contextualização legal por parte da Jurista do N-VDVG, relativamente à Lei nº112/2009 e ao Artª 152 do Código Penal. Analisamos este tema temos sempre em consideração também o Código do Processo Penal. Para além de saber a lei, foi importante ficar a saber quais os procedimentos a ter.

Foi-me igualmente recomendada a leitura de vários documentos, nomeadamente A Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate Contra as Mulheres e a Violência Doméstica – Istambul, 2011, bem como outros relatórios de projetos em que o VDVG, estava envolvido. A coordenadora do N-VDVG, disponibilizou-me também alguns livros desta temática, nomeadamente sobre a intervenção junto das/os agressores/as.

(25)

16

I. Conhecer/perceber a problemática e o que tem sido feito em Portugal em matéria de Violência Doméstica

Como já foi dito anteriormente tentei, através de todas as leituras recomendadas e outras fruto de investigação que fiz, informar-me sobre o que é feito em Portugal por Organizações da Administração Central e Local e outras (designadamente Organizações da Sociedade Civil).

Participei na reunião do projeto E-Maria16 onde foi apresentado o draft do Manual Europeu de Avaliação de Risco. Este projeto é da responsabilidade da AMCV – Associação de Mulheres Contra a Violência tendo várias instituições como parceiras, sendo uma delas a CIG.

No próximo dia 4 de abril, estarei presente num Workshop organizado no âmbito deste projeto - Workshop Risk Assessment and Management.

Estive também presente numa reunião realizada na Escola Superior de Enfermagem da Universidade de Évora, no âmbito do Projeto RIIDE – Rede de Intervenção Integrada do Distrito de Évora contra a Violência Doméstica. Este projeto envolve para além da CIG, entidades como as da Saúde, Forças de Segurança e a Universidade de Évora.

O Projeto RIIDE, tem como principais objetivos:

 Conhecer a representação da V.D. dos diversos atores envolvidos (população em geral, profissionais de saúde e vitimas).

 Conhecer a prevalência periódica ao longo da vida nas mulheres em idade adulta que recorrem aos serviços de saúde. (Esta recolha de informação será feita pelos profissionais de saúde - médicas/os e enfermeiras/os).

 Caracterizar a violência sofrida por mulheres que estejam em fase de recuperação em casas abrigo.17

16 Anexo 15 17 Anexo 16

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17 No âmbito do projeto de “Vigilância Eletrónica para Agressores”, participei numa reunião na Direção Geral de Reinserção Social para apresentação e discussão do Relatório de Avaliação do programa.

O Programa Experimental de Vigilância Eletrónica para Agressores de Violência Doméstica, foi cofinanciado pelo POPH do QREN, pelo eixo 7.7 – Projetos de Intervenção no combate à Violência de Género. Resultou de uma parceria entre a CIG e a DGRS. O programa teve uma duração de três anos (2 de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2011), e foi aplicado inicialmente no Porto e Coimbra. A zona de abrangência foi posteriormente alargada a todo o território nacional pela Portaria nº 63/2011 de 3 de fevereiro.

Os principais objetivos deste programa são:

 Fiscalização efetiva do cumprimento das medidas judiciais de afastamento do agressor (em contexto de violência doméstica).

 Dar cumprimento à medida 7 da área II do III PNCVD18

 Proteger as vitima e prevenir a revitimação.

Fui responsável pelo resumo do Relatório de Avaliação do Programa para ser apresentado à Sra. Presidente da CIG. Neste momento ainda não posso divulgar mais informação sobre o mesmo, pois ainda carece de aprovação dos parceiros.

Mas, segundo a imprensa nacional no dia 22 de agosto de 2011, já tinham sido aplicadas 54 pulseiras de V.E.19

Estive presente no Seminário de Disseminação do Projeto Daphne “Breaking The

Taboo 2 – Desenvolvimento e Pilotagem de Instrumentos de Formação”20, intitulado Violência Contra Mulheres Idosas – Qualificando a Intervenção, organizado pelo CESIS – Centro de Estudos para a Intervenção Social.

18

Medida 7 da Área II do IIIPNCVD – Implementar programa experimental de aplicação de meios eletrónicos de vigilância à distância aplicados ao agressor sujeito a medida judicial de afastamento. 19

Anexo 17 20 Anexo 18

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18 Foi uma experiência enriquecedora e constituiu de certa forma uma novidade para mim, pois nunca me foquei no problema da violência contra mulheres idosas em contexto familiar.

Participei na reunião de acompanhamento do projeto de Tele - Assistência21 a Vitimas de Violência Doméstica, com todos os parceiros envolvidos no mesmo que teve como objetivos principais identificar as dificuldades e constrangimentos na articulação entre os vários parceiros e sugestões de melhorias do Protocolo em atuação.

Este projeto de Tele - Assistência22 foi concebido ao abrigo da medida 7.7 do POPH até ao final de 2011.

Dia 6 de março voltei a participar numa reunião com todos os parceiros do projeto de teleassistência.23

Até ao dia 13 de março de 2012 foram aplicados 42 aparelhos de Tele – Assistência, estando 26 deles ativos.

Assisti à devolução e à entrega de um equipamento de Tele - Assistência. Devolução

Presenciei o medo que a vitima (VRI) pode ter do seu agressor, neste caso ex-companheiro, e o quanto esse medo lhe irá afetar a sua vida futura. Neste caso a vítima beneficiou deste acompanhamento durante 6 meses.

Na minha opinião este acompanhamento deveria ter sido prorrogado, tendo em consideração a proximidade da vítima com o agressor (moravam no mesmo prédio) e todas as ameaças de que a vítima ainda sofria por parte do agressor.

Entrega

Esta experiência mais uma vez veio reiterar o que tenho lido nos livros. A V.D. não escolhe idade, estado civil nem meio sócio – económico. (VRI)

21

Portaria nº 220 – A/2010 de 16 de abril . Artº 2. Ver anexo 6. 22

Anexo 19 23 Anexo 20

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19 Este equipamento foi entregue a uma adolescente com 16 anos, vinda de um meio socioeconómico dito privilegiado, que desde agosto sofre agressões de um namorado. A última levou-a ao hospital com lesões múltiplas, e levou-a também a apresentar queixa.

2. Fazer atendimento/encaminhamento de Vitimas de Violência Doméstica, dando-lhes a resposta certa

Sendo uma das atividades específicas na minha proposta de estágio, desde o primeiro dia comecei a assistir aos turnos de atendimento do SIVVD – Serviço de Informação a Vitimas de Violência Doméstica assegurados pelas técnicas do N-VDVG.

Este serviço constitui o primeiro serviço telefónico (foi criado em 1998), de âmbito nacional e gratuito, que presta informação e apoio às vítimas de violência doméstica. O SIVVD funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. A CIG assegura este serviço de 2ª a 6ª feira, das 9.00 h às 17.30 h.

Ao ouvir as histórias de vida das várias vitimas que pediram ajuda, perguntei-me diversas vezes porque é que mantinham uma relação com alguém que as maltratava, as humilhava e lhes retirava qualquer réstia de dignidade. Mas, “La respuesta a esta cuestión nos es sencilla y no se resulve proponiendo la solución más lógica y eficaz que implicaria el abandono del agresor” (Sarto, 2010, p.62).

De facto a rutura não é assim tão fácil. Existem várias teorias que tentam explicar a permanência da vítima numa relação violenta.

Tentei fazer um exercício com os dados adquiridos através do SIVVD, enquadrei algumas situações relatadas na primeira pessoa24 nas razões apresentadas por alguns autores, nomeadamente Enrique Echeburúa.

Segundo este autor existem alguns fatores que podem travar a rutura, como por exemplo:

24

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20 Depender economicamente do agressor;

 A opinião dos outros;

 A proteção dos filhos;

 A baixa autoestima;

 A culpabilização (pena do agressor)

Participei na reunião da proposta de reestruturação do SIVVD, com todo o grupo que assegura atendimento no SIVVD.

3. Conhecer a forma e as condições que as forças de segurança pública têm para atuarem nesta área

Participei no seminário:

Poder e Autoridade Policiais: O lugar das Vitimas – 18 h no Instituto Superior

de Ciências Policiais e Segurança Interna e no Instituto de Ciências Sociais. Deste seminário quero destacar duas intervenções:

a) Restorative justice. New approaches to rape in criminal justice Jennifer Brown (LSE, Department of Law)

Nesta intervenção percebeu-se que os mitos existentes em Portugal não são muito diferentes do que existem no reino Unido.

Nos casos de violação, só 11% é que são denunciados, e as razões apresentadas para não o fazer são as seguintes:

 Vergonha

 Sentimento de culpa e responsabilização

 Vulnerabilidade da vítima (classe social, educação, etnia,…)

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21 b) Direito, justiça e violência doméstica: uma análise de representações e experiências

Madalena Duarte (CES/UC) com João Paulo Dias (CES/UC) e Boaventura de Sousa Santos (CES/UC)

A investigadora Madalena Duarte também se referiu ao sistema judicial português apontando algumas falhas no que diz respeito aos casos de Violência Doméstica.

Considerando os dados do Relatório de Monitorização de Violência Doméstica – 1º semestre de 2011 da DGAI25, o que ouvi neste seminário (dados resultantes de investigações cientificas) e algumas respostas de conversas informais tidas com militares da GNR26, leva-me a pensar que ainda há um longo caminho a percorrer, no que diz respeito ao olhar das/os magistradas/os para a problemática da Violência Doméstica. Essa questão está também bem patente na entrevista da Dra. Elisabete Brasil para a revista da Ordem dos Advogados de dezembro de 201127.

As/os seis militares da GNR que entrevistei manifestaram também algumas preocupações relativamente ao modus operandi do sistema judicial.28

4. Elaborar planos de Sensibilização/Informação para jovens e pessoas adultas.

Ações de Sensibilização em Escolas

Estive com uma técnica do N-VDVG, numa ação de sensibilização na Escola de Formação Profissional de Coruche destinada a alunas/os do 10º ano. E fui convidada para estar novamente presente numa outra ação a realizar na Escola Profissional do Montijo no próximo dia 10 de abril.

25Anexo 22 26

Trabalho na Escola Prática da GNR 27

Anexo 23 28 Anexo 24

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22

Acão de Sensibilização/Informação na Freguesia de Corroios

A partir de um diagnóstico de conhecimentos feito através de questionário aplicado, à população de Vale Milhaços, freguesia de Corroios e concelho do Seixal, elaborei uma ação de sensibilização/informação com a duração de uma hora e trinta minutos a ser implementada ainda este ano com a colaboração da Junta de Freguesia de Corroios.

Os dados obtidos com os questionários (quero aqui clarificar que a aplicação destes questionários não obedece a nenhum método cientifico), são os seguintes:

Q2 M H TOTAL 5 33,33 31,58 64,91 1,3,4 3,51 5,26 8,77 1 5,26 6,14 11,40 1,4 0,88 3,51 4,39 1,2 2,63 0,88 3,51 outras 4,39 2,63 7,02 50,00 50,00 100,00 Q3 M H TOTAL 9 42,98 32,46 75,44 4,8 0,88 5,26 6,14 outras 6,14 12,28 18,42 50,00 50,00 100,00 Q4 M H TOTAL 1,2,4,5 10,53 13,16 23,69 2,5 2,63 2,63 5,26 2 5,26 8,77 14,03 2,4,5 1,75 0,88 2,63 4 3,51 4,39 7,90 3 2,63 1,75 4,38 4,5 3,51 2,63 6,14 1,2 4,39 3,51 7,90 1,4 1,75 0,88 2,63 outras 14,04 11,40 25,44 50,00 50,00 100,00

Mais de metade das pessoas identificaram corretamente o conceito de V.D., no entanto ainda existem 11,40% que só consideram V.D. as agressões ocorridas entre cônjuges ou numa situação análoga à conjugalidade.

Apesar da maioria das pessoas terem identificado todas as alíneas como comportamentos violentos, ainda existem 6,14 % que só consideram violência as relações sexuais forçadas e a bofetada. As outras respostas espalharam-se pelos vários itens, sendo que a menos considerada é a de humilhações em público.

23,69 % das respostas indicam que as pessoas estão prontas para ajudar uma vitima de V.D. utilizando todos os meios que tem ao dispor, no entanto ainda temos uns significativos 4,38 % que representam as pessoas que não se querem envolver no assunto, sendo a maioria mulheres (2,63%).

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23 Q5 M H TOTAL SIM 9,60 17,50 27,10 NÃO 40,40 32,50 72,90 50,00 50,00 100,00 Q6 M H TOTAL SIM 3,50 5,26 8,76 NÃO 46,50 42,10 88,60 50,00 47,36 97,36

A Cooperativa de Solidariedade Social “Pelo sonho é que vamos”, tem um Gabinete de Apoio à Vitima, está localizada na Rua Rodrigues Lapa, nº 2 – 2º, na Quinta da Atalaia – Amora- Seixal e é a única instituição de apoio à vítima no concelho do Seixal que consta na lista de recursos que utilizamos no SIVVD. Faz atendimentos à 2ª feira das 14.00 às 17.30 h e à 6ª feira das 9.00 às 12.30 h.

Q7 M H TOTAL SIM 44,70 32,50 77,20 NÃO 5,30 17,50 22,80 50,00 50,00 100,00 Q8 M H TOTAL 4 6,14 14,04 20,18 3 5,26 0,88 6,14 1,2,3 2,63 2,63 5,26 5 21,93 21,93 43,86 2 4,39 0,88 5,27 OUTRAS 9,65 9,64 19,29 50,00 50,00 100,00

72,90% não concordam, mas 17,50% dos homens respondem que sim (apesar de na resposta anterior mostrarem-se muito proactivos para ajudar) e 9,60% das mulheres respondem também que sim.

A maioria das pessoas respondeu que não. Existem no entanto mais respostas afirmativas do sexo masculino – 5,26% e identificaram a PSP, a GNR e a Cooperativa de Solidariedade Social “Pelo Sonho é que vamos”.

Apesar da maioria das pessoas terem respondido afirmativamente, ainda existe uma franja de 22,8% que não sabia que a V.D. pode ser denunciada anonimamente.

Os temas propostos no questionário para uma ação de sensibilização/informação forma no geral bem acolhidos, tendo no entanto que salientar o interesse demonstrado pelo enquadramento legal desta problemática.

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24 Com base neste questionário elaborei uma ação de sensibilização cuja duração é de 1 hora e 30 minutos, com os seguintes conteúdos:

1 - Enquadramento conceptual da VD – 30’

2 - Sinais e sintomas de uma situação de V.D. – 15’

3 - Respostas/serviços de apoio a vítimas existentes no concelho de Seixal – 15’ 4 - Enquadramento legal da problemática – 30’

5. Conhecer os programas de intervenção em agressores de modo a prevenir a reincidência

Este objetivo fez-me focar muito na parte teórica, pois era completamente novo para mim a questão da intervenção em agressores. Tive que me focar nas teorias explicativas da VD, para posteriormente perceber como é que com base nestas teorias se desenham os programas de intervenção. “Podemos considerar a existência dos seguintes grupos de explicações teóricas dominantes” (Manita, 2005).

A maior parte dos defensores dos programas de intervenção em agressores argumentam que “oferecer este tipo de programas é simplesmente a aceitação crescente da ideia de que o homem violento pode mudar as suas atitudes e comportamentos e aprender formas de relacionamento interpessoal não violentas ” (Manita, 2005).

Segundo esta autora as explicações consideradas, são perspetivas:

 Biológicas e psicofisiológicas;

 Psicológicas;

 Baseadas na família;

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25 Relativamente aos tipos de programas, temos:

 Os grupos de auto – ajuda;

 Os programas psico – educacionais ou socio – educativos;

 Os programas ou estratégias de gestão da raiva;

 Os modelos psicoterapêuticos.

Foi-me também facultada pela minha orientadora toda a documentação do seminário “Programa para Agressores de VD”, realizado na Universidade Fernando Pessoa, no Porto e ao qual eu não estive presente.

Este programa foi financiado de uma candidatura ao POPH (Eixo 7.7), e é fruto de uma parceria entre a CIG e a DGRS. A CIG foi a entidade promotora e responsável pela gestão global da candidatura, e a DGRS responsabilizou-se pela conceção e gestão do programa. Iniciou-se a 4 de fevereiro de 2009 e terminou a 14 de janeiro de 2012.

Anexo a apresentação do programa feita pela Dra. Isabel Batista coordenadora do projeto.29

Participei no simpósio:

Agressores sexuais – 7h – organizado pela Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica (SPSC), em parceria com o Departamento de Psicologia Criminal do Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz (ISCSEM).30

29

Anexo 25 30

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26

CONCLUSÃO

De um modo geral, é-me possível fazer um balanço positivo do estágio realizado na CIG, mais especificamente no N-VDVG. Permitiu que eu cumprisse o meu grande objetivo do Mestrado - “ estabelecer uma relação entre o saber-saber e o saber-fazer.”

A realização deste estágio, para além de me possibilitar a obtenção de um título académico, foi fundamental para o desenvolvimento e consolidação das minhas bases formativas, repercutindo-se positivamente na minha vida profissional.

Gostava também de referir o excelente acolhimento por parte de todas as pessoas que trabalham na Comissão, particularmente as que pertencem ao N-VDVG, pelo apoio, paciência e disponibilidade demonstrada ao longo de todo este período. Não posso deixar de agradecer especialmente à Marta Silva que, e apesar de estar numa fase de encerramento e avaliação de projetos, nunca deixou de me apoiar e acompanhar.

Ainda que não tenha conseguido acompanhar no terreno todos os projetos em curso, tentei manter-me sempre informada e perceber quais os objetivos e metodologias utilizadas para alcançar esses mesmos objetivos e qual o resultado daí proveniente.

Com este estágio tive a oportunidade de conhecer melhor a problemática da Violência Doméstica em Portugal e o que se tem feito neste âmbito, quer ao nível da administração pública, quer das entidades e privadas. Permitiu-me, essencialmente, conhecer e compreender o trabalho desenvolvido pela CIG e seus diferentes núcleos no que respeita à implementação das medidas dos Planos Nacionais contra a Violência Doméstica e ao incentivo das diversas instituições para ampliarem uma ação integrada na prevenção e intervenção no campo da violência doméstica. É de salientar que este trabalho é conseguido através de protocolos de atuação e de parcerias estabelecidas entre a CIG e as várias instituições.

Outra dimensão desta minha intervenção parcial tem a ver com a participação em várias reuniões relativas a projetos resultantes dessas parcerias. Conheci os

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27 projetos e tive contacto direto com as instituições, (AMCV, CESIS, Santa casa da Misericórdia de Lisboa, Caritas de Coruche, GNR, entre outras), ilustrando qual o seu papel direto na área da VD.

Toda esta praticidade requereu bastante pesquisa e trabalho paralelo (e obviamente complementar), de modo a conseguir preparar-me para as eventuais frentes de trabalho que pudesse vir a encontrar, contribuindo para o alcance dos 1º e 3º objetivos. (Perceber/conhecer a problemática da Violência Doméstica em Portugal e conhecer a forma e as condições que as forças de segurança pública têm para atuarem nesta área).

Tendo conhecimento do que se tem feito e faz em Portugal na área da VD, fiquei contudo com a noção que ainda estamos aquém de que é necessário fazer para que os números de VD registados consigam diminuir significativamente. E quando falo em números, estou só a referir-me aos apresentados no relatório de monitorização da DGAI, o que significa que estou a considerar só os casos denunciados.

Sendo Portugal um dos países que mais tem legislado nesse sentido, atrevo-me quase a dizer que é uma das melhores legislações europeias, ainda há uma grande diferença entre in jure e in facto.

Não basta mudar a legislação, tem que haver uma mudança de mentalidades. A legislação poderá estimular ou atrasar a mudança de mentalidades, mas por si só não acaba com as desigualdades.

Será então necessário um trabalho e um esforço da sociedade em geral para gradualmente mudarmos atitudes e comportamentos, equilibrarmos o poder e diluirmos os fatores históricos que, ao longo de milhares de anos, reproduziram estereótipos e crenças de que a mulher é um ser de segunda categoria, e que infelizmente prevalecem até hoje

Conclui que existem vários fatores que condicionam todo o processo desde a agressão até à queixa e consequências da mesma.

Primeiro podemos enunciar uma vertente cultural, que envolve toda esta problemática da VD. As pessoas ainda aceitam como natural existir violência nas relações, ainda consideram normal o exercício do poder do homem sobre mulher. As

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28 próprias mulheres (verifiquei isso nos questionários que apliquei), aceitam que “entre marido e mulher não se mete a colher”. Ainda vivemos amarradas/os a crenças e estereótipos sobre os papéis sociais da mulher e do homem, o que dificulta a rotura de uma relação violenta e a denúncia da mesma seja pela própria vitima ou por terceiros.

Existem vários fatores para a mulher não acabar com uma relação violenta. São assinalados fatores como:

 Medo de perder as/os filhas/os.

 Receio do impacto provocado nas/os filhas/os.

 Ausência de recursos económicos.

 Sentimento de que o agressor irá parar.

 Sentimento de culpa na relação.

 Vergonha das pessoas amigas e da família.

Estamos perante vários argumentos utilizados frequentemente pela vítima. Deparei-me muitas vezes com a questão da vergonha. Não querer admitir perante os seus pares que falhou, ter vergonha de dizer que é uma mulher vítima de violência por parte do seu companheiro/marido.

Outra situação frequente é a falta de apoio da família. Sendo a família um apoio primário, muitas vezes falha, ou por desconhecimento da situação ou por crença que o casamento é para o bem e para o mal, e que de certeza a vítima fez algo para o agressor a maltratar (é um homem tão simpático e tão bom pai).

A própria vítima arranja argumentos para desculpabilizar o agressor. O ciúme é um dos argumentos mais utilizados e mais desculpabilizados – se tem ciúme é porque me ama.

E tudo isto é visível em vários estratos sócio – económicos. A ideia de que a VD, só acontece em situações de desfavorecimento sócio – económico é um verdadeiro mito. É transversal a todas as classes sociais e assume normalmente os mesmos contornos.

Estamos perante uma cultura e tradição secular que sempre tratou a mulher como um ser humano de segunda categoria. Como um ser humano que veio à Terra para servir o homem e para lhe dar filhas/os. Ainda é atribuído ao homem um poder e uma

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29 infinidade de qualidades que o colocam acima da sociedade e o identificam ao ideal de pessoa.

Em segundo lugar temos as dificuldades que existem ao nível dos recursos materiais e humanos disponíveis. Apesar de já existir uma otimização da resposta policial, só 57%31 dos postos e esquadras, da GNR e da PSP, com competência territorial é que dispõem de uma sala de atendimento à vítima. Relativamente ao apoio que é imprescindível prestar à vítima nem sempre funciona. As associações de apoio à vítima funcionam com um horário normal de expediente, e acontece inúmeras vezes as forças de segurança após fazerem uma avaliação de risco e concluírem que a vítima não deverá voltar a casa, não terem local nenhum para onde a encaminhar, nem organização nenhuma para a apoiar. Foi-me dito que muitas vezes as vítimas acabam por passar a noite no próprio posto, pois é a única resposta imediata que conseguem dar. As casas abrigo existentes em Portugal (com um total de capacidade de 632 pessoas), também, nem sempre são em número suficiente para as solicitações o que vai prejudicar a intervenção imediata junto da vítima.

Em terceiro lugar temos depois a dificuldade em condenar, tal como já foi dito no capítulo V. Não quero com isto dizer que a única solução para esta problemática seja a condenação dos agressores, mas não sendo a única, passa também por aí. Enquanto estive no SIIVD, ouvi muitas vezes as vitimas angustiadas, pois mesmo já tendo sido feita queixa e tendo passado por tribunal o agressor ao sentir-se impune, continuava com as agressões.

No que concerne ao 2º objetivo (fazer atendimento/encaminhamento de Vitimas de Violência Doméstica, dando-lhes a resposta certa), a experiência no SIVVD constituiu, uma das atividades mais marcantes deste estágio, uma vez que, de todas as outras realizadas, foi aquela que me permitiu um contacto mais direto e imediato com os/as principais visados/as de muitos dos projetos em curso da CIG, as vítimas de violência doméstica.

Na minha opinião, a experiência de trabalho na área da violência doméstica apenas adquire um verdadeiro significado de importância e urgência após nos ser relatado na

31

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30 primeira pessoa uma situação deste tipo e ao nos ser efetuado um pedido de ajuda direto. Não obstante o facto de este ser um serviço com a finalidade de informar os/as seus/suas utentes acerca dos seus direitos e dos recursos aos quais podem recorrer, o SIVVD funciona em muitos casos como uma fonte de apoio social e psicológico, pelo que o treino de competências de escuta ativa é extremamente importante, bem como uma formação especializada na área da violência doméstica. Ao longo deste tempo para além de ter aumentado os meus conhecimentos de VD, também adquiri competências relacionais que certamente permitir-me-ão intervir cada vez melhor neste campo.

Com o acompanhamento da ação de informação/sensibilização na Escola Profissional de Coruche, senti que ainda existe um longo caminho a percorrer nesta área. Na minha opinião passa muito pela formação/sensibilização dos docentes, para poderem posteriormente envolver as/os jovens nesta problemática. A maioria das/os jovens presentes já tinham vivenciado episódios que se enquadram em comportamentos violentos e não os percecionaram como tal.

A formação/informação/sensibilização das/os jovens é para mim uma das grandes ferramentas que podemos utilizar para a prevenção da VD.

O 4º objetivo (elaborar planos de sensibilização/informação para adultos e jovens) foi atingido com a elaboração da ação de informação a ser realizada no segundo semestre deste ano na freguesia de Corroios. Com a análise das respostas dos questionários conclui que apesar da maior parte das pessoas demonstrarem que tem conhecimentos neste tema, ainda existe uma perturbadora percentagem que acha que não se deve envolver no assunto. Considero ser pertinente uma ação deste tipo, pois para além de querer “acordar” algumas mentalidades é também muito importante informar onde é que existem estruturas de apoio a vítimas de VD.

Quanto ao último objetivo (Conhecer os programas de intervenção em agressores de modo a prevenir a reincidência) e apesar de não ter estado presente no seminário, destaco o Programa para Agressores de Violência Doméstica.32 Ao investigar este programa consegui perceber as teorias explicativas do comportamento

32

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31 violento. Sempre me centrei na perspetiva feminista, deixando as outras de parte, fazendo com que um problema tão complexo tivesse uma única explicação – uma questão de género.

Este tipo de programas é também valioso para a prevenção de novos episódios de VD. Se a vítima precisa de ser reeducada e aprender a viver sem a condição de vítima, o agressor precisa também de uma intervenção de modo a aprender a viver sem violência.

Resta-me acrescentar que este estágio, ajudou-me a caracterizar, contextualizar e interpretar o fenómeno da violência doméstica em Portugal e no resto do mundo, relacionando também este conceito com outros, alguns mais abrangentes, como os de violência nas relações de intimidade e igualdade de género, e outros mais específicos, como é o caso da violência no namoro.

Quero por isso, agradecer à CIG, ao N-VDVG e a todos e todas aqueles que ao longo destes meses de duração do estágio me permitiram partilhar o seu trabalho e o seu saber.

(41)

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www.dn.pt (Consultado a, 9 de março de 2012)

www.noticias.sapo.pt(consultado a 29 de novembro de 2011) Associação Portuguesa de Apoio à Vitima

www.apav.pt (consultado a 18 de outubro de 2011) União de Mulheres Alternativa e Resposta

www.umar.pt (consultado a 18 de outubro de 2011)

www.redecivil.mj.pt

Fontes Documentais

Revista Ordem dos Advogados, dezembro de 2011 Revista Sábado, 2 de fevereiro de 2012

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34

ANEXOS

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i

ANEXO 1 - Atribuições da CIG

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a) Apoiar a elaboração e o desenvolvimento da política global e sectorial com incidência na promoção da cidadania e da igualdade de género e participar na sua execução, ao nível das políticas específicas, e na correspondente articulação ao nível das políticas integradas;

b) Contribuir para a alteração do quadro normativo, ou para a sua efetivação, na perspetiva da cidadania e da igualdade de género, elaborando propostas normativas, emitindo pareceres sobre iniciativas legislativas ou sugerindo mecanismos que promovam o cumprimento efetivo e integral das normas vigentes, designadamente nos domínios transversais da educação para a cidadania, da igualdade e não discriminação entre homens e mulheres, da proteção da maternidade e da paternidade, da conciliação da vida profissional, pessoal e familiar de mulheres e homens, do combate às formas de violência de género e do apoio às vítimas.

c) Elaborar estudos e documentos de planeamento de suporte à decisão política na área da cidadania e da igualdade de género.

d) Promover a educação para a cidadania e a realização de ações tendentes à tomada de consciência cívica relativamente à identificação das situações de discriminação e das formas de irradicação das mesmas;

e) Promover ações que facilitem uma participação paritária na vida económica, social, politica e familiar;

f) Propor medidas e desenvolver ações de intervenção contra todas as formas de violência de género e de apoio às suas vítimas.

g) Apoiar organizações não-governamentais relativamente a medidas, projetos ou ações que promovam objetivos coincidentes com os seus;

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Referências

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