Centro
de
Estudos
Baianos
»r. .n-.\Relatório/
apresentado
pelo/
Revd.
Frei
João
Evangelista
de
Monte
Marciano/
ao/
Arcebispado
da
Bahia/
sobre/
Antonio
Conselheiro/
e/
seu
séquito
no
Arraial
de
Canudos
—1895.
Edição
Facsimilada
Apresentação
JOSÉ
CALASANS
1987
PUBLICAÇÃO
DA
UNIVERSIDADE
FEDERAL
DA
BAHIA
'V*
Toda correspondência deve ser enviada à Direção do Centro de
Estudos Baianos da Universidade Federal da Bahia antigo prédio da
Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus - Térreo - Distrito da Sé -
lo3Bd»T oa£.m*toí> ,3oi<! s»ab£,.avnU at 7oíx<iS i.í»*?£•3 I»í» .1S'(obji
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Relatório/
apresentado
pelo/
Revd.
Frei
João
Evangelista
de
Monte
Marciano/
ao/
Arcebispado
da
Bahia/
sobre/
Antonio
Conselheiro/
e/
seu
séquito
no
Arraial
de
Canudos
—1895.
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Facsimilada
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fApresentação
JOSÉ
CALASANS
:
■ r . ■c■ 7 CP oilsríI•<èiic'J ornoínA lL
_____J 5 Oi9C1987
J
1
Prof. Germano Tabacof
da Universidade Federal da Bahia Eliane Elisa de Souza Azevedo Reitor
Professora
Vice-Reitora da UFBA.
Professor Fernando da Rocha Petes Diretor do Centro de Estudos Baianos
APOIO
CULTURAL
IBM
Brasil
Marciano, João Evangelista de Monte, Frei. Relatorio apresentado pelo Revd. Frei João Evangelista de Monte Marciano ao Arce pispado da Bahia sobre Antonio Conselheiro e seu sequitr. nc Arraial de Canudos, 1895/ Joao EvangelLsta de Monte Marciano ; apre sentação de José Calasans. ---- Salvador : Centro de Estudos Baianos da Universidade Federal da Bahia, 1987.
p.20; 22cm. (Universidade Federal
da Bahia. Centro de Estudos Baianos, Publ£ cação ; 130).
His José. 1. Antonio Conselheiro. 2. Bahia -toria — Canudos, 1895, I. Calasans, IX. Titulo. III. Serie.
CDU - 92 Antonio Conselheiro 981.42
NOTA EXPLICATIVA
A Universidade Federal da Bahia, através de
seu
Centro
de
Estudos
Baianos,
ao
promover,
de
26
a 30 de outubro de 1987, o
C*.cZo
de.
ValeòtKaò
"90
anos de Euclides da Cunha na Bahia; a circunstãn^
cia de Os Sertões", com a participação de virios
docentes, pesquisadores e especialistas sobre o te
ma, com livros publicados, resolveu reeditar, em
edição facsimilada, o "Relatório/ apresentado pe^
lo/ Revd. Frei João Evangelista de Monte Marciano/
ao/ Arcebispado da Bahia/ sobre/ Antonio Conselhei^
ro/ e/ seu séquito no Arraial de Canudos/Bahia/ T^
pographia do "Correio de Noticias"/ 55- Praça Cas^
tro Alves- 55/ 1895'.'
Justifica-se a presente publicação pois o "Re
consultada
latõrio" é
ob/ia.
a.
cl/
la
e constantemente
pelos
estudantes
e
pesquisadores,
no
Núcleo
Sertão
/UFBA/CEB,
agora
acrescido
de
uma
apresentação
do
Prof. Josi Calasans.
Durante
o
"Ciclo
de
Palestras",
com
o
apoio
cultural da IMB, Metal Leve e Bahiatursa,foram 1an
São Paulo",
çados
dois
exemplares
de
"0
Estado
de
em reprodução facsimilada, datados de 17/07/1897 e
18/08/1897, com os artigos de Euclides da Cunha in
titulados
"A
Nossa
Vendêa"
e
"Canudos
(Diário de
uma expedição)", este ultimo tendo o escritor como
correspondente
do
jornal
na
frente
da
batalha
Canudo*.
de
Salvador, 29 de Setembro de 1987
Fernando da Rocha Peres
Diretor do Centro de Estudos Baianos
da Universidade Federal da Bahia
0"*iíifífeznoD o 9*ídoz oiiErpríon , 31r- M vj .ob govoq üf)? *t9UpTfiup 0"lJUO
APRESENTAÇAO
,obaie? cb oinoq E'i9nDÇ-Í9ÍT6LlP rcífnüNi obzsttsí
m9 obsxfísooí 6Tz*nrodF:>?.nod
:?;r6 91n:up ms ssníüp od , (x>oí 19.. qzs^ioo o _ . _ " <:on0 Relatorio de Frei Joio Evangelista
0 •;sJ‘■si omriiõru o tom»r{i6ji90 cobr? 6hs'
José Calasans
■JJ von9mo*> ?rtn: 9u;i m?r oJ 3piu £ ,ís>v5fo5vnr cbot
. -leíncD 9b orsm mu **tn:•ncorto •: 2 6 r, 6A fixação do Conselheiro em Canudos, no
de 1893, denominado Belo Monte pelo seu ocupante,
passou a constituir preocupação dos jornais baia^
nos. Os correspondentes interi oranos , freqüentemeii
te, enviavam suas noticias^ muitas vezes transfor
madas em apelos ao governo para adotar providen^
cias contra os abusos cometidos pelos, jagunços
nas redondezas do arraial e pelo perigo que exis
tia no crescimento daquele lugarejo,onde não eram
respeitadas as autoridades republicanas e se comb£
tia o regime vigente. Na quase totalidade das cor
respondencias,pedia-se uma medida enérgica
e
urgen
te para a extinção daquele "pernicioso" foco monar
quista. Rarissimamente se apresentava alguém na
tentativa de minimizar ã gravidade da situação, su^
gerindo medidas apazi guadoras para reduzir o pode^
rio» do Conselheiro e tranquilamente convencer seus
adeptos da necessidade de retorno as terras de ori
gem, que estavam em completo abandono, com prejuv
zos incalculáveis para a boa marcha do trabalho
e
da
produção.
Pelas
colunas
do
tres
principais
diã_
riòs de Salvador,o Jounal de Noticia*, o Vianio da Bahia *
e o
VÍÕ
aíode
Noticia*,
entre 1893 e 1895,1 ia-se, com insiji
ano
tência,
noticiário
sobre
o
Conselheiro
e
seu
povoa^
do.
De
Monte
Santo,
mais
do
que
de
qualquer
outro
ponto
do
Estado,
em
razão
de
ser
o
quartel-general
conselhei
rista
localizado
em
terras
do
Município,
o
correspondente
local,
de
quinze
em
quinze
dias,
nas
cartas
regularmente
remetidas,
chamava
a
aten.
ção
do
leitor
para
as
ocorrências
do
Belo
Monte.
Teria
sido,
certamente,
o
anônimo
rabiscador
monte
-santense
o
homem
que
mais
comentou
a
lembrando,
de
modo
invariável,
a
urgente
necessid^
de
de
se
encontrar
um
meio
de
conter
a
gente
do
"Bom
Jesus".1
Desde
os
primeiros
tempos
do
cclòoConselheiro
muitas
pessoas
acreditaram
que
competia
a
Igreja
Católica,
fazendo
valer
seu
prestigio,
interferir
visando
dissolver
o
ajuntamento
pela
palavra
de
um
missionário
habilidoso.
0
terço
em
vez
do
fuzil
era
a
solução
preconizada.
0
Governador
do
Estado,
Rodrigues
Lima,
em
1895,
resolveu
solicitar
a
cola
boração
do
Arcebispado,
embora
estivesse
muito
em
moda
proclamar
o
cumprimento
do
ato
do
Governo
Pro
visório
separando
a
Igreja
do
Estado.
0
arcebispo
da
Bahia,
D.
Jerõnimo
Tomi,
em
vésperas
de
viajar
para
Roma,
aquiesceu
ao
pedido
e
encarregou
Frei
João
Evangelista
do
Monte
Marciano
(1843-1921
),
ca^
puchinho
italiano,
de
dirigir
a
delicada
missão.
0
frade
se
fez
acompanhar
de
outro
companheiro
de
Or^
dem,
frei
Caetano
de
S.
Leo,
que
chegara
a
Bahia
um
ano
antes
da
tarefa.
Ao
missionário
juntou-se
o
vigário
do
Cumbe,
Padre
Vicente
Sabino
dos
Santos,
que
pastorava
o
rebanho
de
Canudos,
com
alguma
fre^
situação,
José. 0 VlãfUo <U blotlcZaò e a Campa
UniviJuZtaò, Bahia,n9 18, set.
1.
CALASANS,
nha
de
Canudos,
/dez.
1977.
qüincia, ali tendo casa para se alojar. A iniciativa
pacificadora veio a ser frustrada. 0 frade italiano
não possuía as qualidades essenciais para levar a
bom
termo
ação
religiosa
tão
importante.
ApÕs
uns
poucos dias de permanência em Canudos, a trindade
missioneira
teve
de
abandonar
o
local,
agravando
assim o relacionamento dos canudenses com o poder
público.
Se,
porem,
a
finalidade
do
missionário
r£
dundou em malogro, o Re
lato
filo
elaborado, impresso
e
divulgado
longamente,
passou
a
constituir
mento essencial a historia do núcleo dito
el£
"monar^
quista"
do
interior
baiano.
Disse-nos,
certa
fei
ta, frei Inocêncio, capuchinho, que conhecera pe£
soalmente
frei
João
Evangelista,
com
quem
no Convento da Piedade, Bahia, haver sido o conh£
cido
R
(Llatonío
redigido
pelo
Monsenhor
Basílio
P£
reira, (1850-1930) personalidade de relevo no cie
ro baiano, escritor e orador conceituado, irmão dos
ilustres doutores Manuel Vitorino Pereira e
nio
Pacífico
Pereira.
0
sacerdote
era
muito
ligado
morara
AntÕ
aos frades capuchinhos do convento da Piedade. R£
almente, tudo nos leva a crer haver sido de sua a£
toria o valioso documento, escrito em boa
gem.
0
chefe
da
missão
não
se
distinguia
pela
clji
ra redação. Falava de maneira desabrida, misturar^
do a língua materna com o idioma da terra de ad£
ção. Suas pregações, segundo a tradição corrente,
repletas
de
ameaças
anunciadoras
de
tremendos
1ingu£
eram
castigos celestiais. Por isto mesmo, inábil no e£.
caminhamento de problema tão significativo e
sível
como
o
episõdio
do
Belo
Monte.
Malograda
a
lo£
vavel iniciativa pacificadora, restou,
sen
como disse
evidentemen
mos, o
Re.latÕA.Á.0
informativo, embora,
pontos.Deu-nos ele, contudo, pela primeira vez, uma noticia
geral da comunidade messiânica, aspecto de sua vi_
da cotidiana, pormenores dos seus costumes, novas
de alguns cabecilhas da grei, o péssimo estado s«r
nitario do povoado, as atitudes agressivas de exa^
tados seguidores do ITder Antônio Conselheiro. Jul^
gando haver encontrado um o agrupamento* rebelado,
desrespeitador da lei, cerceador das liberdades
públicas* indicava para resolver aquele flagra^
te atentado as necessárias providências do poder
civil para o restabelecimento da lei!e do cul to ca^
tólico.
Em
resumo*<pedia
a
intervenção
do
govej^
no Estadual2» A
ml66ão
ma orientada contra a qual
se manifestou Carlos de Laet.
0 Relatório sobre Antonio Con6e.lh.e.£tio e 6zu Sé.qtuito no AsiAatal doò Canudo*, (Bahia. Tipografia
do
Conxulo
do,
NotZcicu
, 1895), com 8 paginas, en_
cerra, por assim dizer, o primeiro período da hi£
toriografia relativa a Guerra de Canudos. Ele tem
servido de base para o conhecimento da gente C£
nudense e do seu poderoso chefe antes que chega£
se a renhida e destruidora luta dos anos 96 e 97.
Sendo, como realmente ê, um relato oficial, o tra^
balho
de
Frei
Joio,
pela
circunstancia
de
sua
pas_
:o
sagem, embora rapida, por Canudos, ganhou propor,
ções de documento básico. 0 professor José Augusto
Cabral Barreto Bastos, em sua dissertação de
mes_
trado,A í.de.olog<La. do6 dÁ,6cu.A.6o6 4ob^e Ca.nu.do6, Sal_
vador, 1979, ed. mimeografada, estudou o
fuio.
Hzlatõ
tb'õ?ras c or-ioo íovTa
2. S. Mariano, Gregorio de, Frei. Os capuchinhos na Bahia, In: CONGRESSO DE HISTÓRIA DA BAHIA. 1., Salvador, s.d. Anaiò, Salvador,
573/^83. Transcreve o Relatório 1895; pelo Governo da Bahia.
1950, publicado, em
P»
?.q
b
Hã também um trabalho do general Joãt> Perei_
ra de Oliveira, de
Paz
a
Canudo
6
, Rio de Jji
neiro, 1987, Imprensa do Exercito.
'
-ANTONIO
CONSELHEIRO
RELATORIO
APRESENTADO PELO
Revd.
Frei
Joílo
Evangelista
de
Monte
Marciano
AO
ARCEBISPADO
DA
BAHIA
SOBRE
Antonio
Conselheiro
E
SEU
SÉQUITO
NO
IRRitlM.
DOS
CANUDOS
BAHIA
TYPOGRAPHLA DO «CORREIO DE NOTICIAS»
55—Praça Castro Aires —55
J V i i ■ 'j - A «i
>
grí-^wf
Hteglj
CÜI
l
EÇÂÚ1
J^sl
'C
Vilftéj.AN
é'
Relalorio
apresentado,
em
1895,
pelo
Reverendo
Frei
Joáo
Evangelista
de
Monte
Marciano,
ao
Arcebispado
da
Bahia,
sobre
Anlonio
«Conselheiro»
e
seu
séquito
no
arraial
dos
Canudos
Exm.trvm. sr.-*-Nãoignora v. ex. rvma.
mieoexm. ervm.sr.arcebispo, nasvesperas
aasuaviagempara avisita ad limtna
aposto-lorum, confiou-me a ardua missão de ir ao
povoado dos Canudos, freguezia do Cumbe,
onde se-estabeleceu o indivíduo conhecido
vulgarmente por Avtonio Conselheiro, afimde
procurarpelapregação daverdadeevangclica,
e,appellandoparaossentimentosda fé
catho-licaque esse indivíduo .diz professar,
ena-mal-oea seus infelizesasseclas aosdeveres
decatholicose de cidadãos,que de todo es
queceram eviolam habitualmentecomaspra
ticas as maisextravagantes e•condemnaveis,
offendendo areligião e perturbando aordem
publica. Comprehendendo bem as graves
dif-ficuldadesda tarefa,acceitei-a, como filhoda
obediênciaeconfiadosó namisericórdiac no
poderinfinitod’Aquelleque,parafazerobem,
serve-se dosmais fracos e humildes instru
mentos^ não cessade querer queos mais
inveterados peccadores se convertam e se
salvem.
deabril,sóa 13demaio conseguimos entrar
no povoado dos Canudos, apezar do nosso
empenho emtransportar-nos o maisdepressa
possível.Asdifficuldadesemobter conducções
,eencontrar agasalhonasestradas, eguiasco
nhecedoresdocaminho, retardarama viagem,
forçando-nos a umademorade muitos dias
no Cumbe, que aindaficaa 18 léguas dos
Canudos.
Aindatãodistantes,jádeparavamos os
pre-nunciosdainsubordinaçãoo anarchia deque
iamosser testemunhas,equesefazem sentir
por muitas léguas em derredor do referido
povoado.
Tresléguasantesdechegarao Cumbeavis
tamosuni numeroso grupo dehomens, mu
lheresemeninos quasinús, agglomeradosem
torno de fogueiras, e, acercando-nos delles,
os saudamos, perguntando-lhes eu—si era
aquellaaestradaqueconduziaaoCumbe.
Seuprimeiro movimento foilane
espingardase facões que tinham de lado, o
juníarem-so todosem altitudeaggressiva.Pen
samos acealmal-os,disse-lhes queéramos dois
missionários que se tinham perdido na es
tradaequeriamsaberseeralongeafreguezia.
Responderam: «nãosabemos; perguntemaili»,
eapontaramumacasavisinha.
Eraumaguarda avançadado Antonio Con
selheiro, essa genteque havíamosencontrado.
AnnunciadanoCumbe, á missaconvenlual
do domingo5demaio, a missão que, iamos
darnosCanudos, não foi para osnabitantes
armãode
Munido,então, defaculdades e poderes
es-peciaes,segui acompanhado
ligioso,frei CaetanodeS. Léo;e,hoje,desem
penhada,comonosfoipossivcla incumbçncia
recebida,venho relatar minuciosamente*a v.
ex.rvma.oqueobservamosequal oresultado
dosnossosesforços,em partefrustrados,para
quetenhav. ex. rvma. sciencia de tudo, c
providencie como fórconveniente,
aadedegovernadordoarcebispado.
Principiarei por dizerjque, partindo a26
de umoutro re
quali-— * quali-—
sençadeAnlonio CotuelheirOiqu« saudou-nos domesniomodo.
Vestiatúnicadeazulão,tinhaacabeçades coberta•empunhavaum bordão: os cabellos crescidos,semnenhum trato,a cahiremsobre oshombros:ashirsutasbarbasgrisalhas, mais parabrancas;osolhosfundos,raras vezes le vantadosparafitaralguém,orosto comprido, edeuma pallidez quasi cadaverica;ò porte graveear penitente,davam-lheao todo uma apparencia quenão pouco teria contribuído para enganarealtrahiropovosimpleseigno rantedosnossossertões.
Asprimeiraspalavras quetrocamos versa ramsobreasobrasquese construíam, e elle convidou-nos a examinal-as, guiando-nos a todas as divisõesdo edifício.
Chegadosaocõro,aproveiteia occasião de estarmosquasisós,eaisse-lhequeofimaque eu iaeratodo depaz, eque assim muitoes tranhavasóenxergar alli homens armados,e nãopodiadeixar de condemnarque se reu nissemnumlogartão pobre tantas famílias, entreguesáociosidadeenumabandono emi sériataes,quediariamentesedavam de 8a9 obitos.
Porisso,deordem e em nomedosr. arce bispo,iaabrirumasantamissão,e aconselhar opovoadispersar-seeavoltaraoslaresé ao trabalho,nointeressede cada um e para o bem geral.
Emquantodizia isto,a capelláeo cõro cn-chiam-se degente,eaindanãoacabava eudo falar,já cllesaumavozclamavam:«jVój que remos acompanharonossoConselheiro».Esteos fezcalar, e voltando-se paramim, disse: «E’ pararainhadefeza que tenho commigo estes homensarmados,porquev.revm.hade saber queapoliciaatacou-me e quiz matar-me no logarchamadoMaceté,onde houve mortes de umedeoutrolado.
No tempodamonarchiadeixei-me prender, porquereconhecia o governo;hoje náo, por quenáo reconheçoaRepublica».
«Senhor,repliquei eu,se écatholico, deve considerarque a egrejácondèmna asrevoltas, e,aceitando todasas formas de governo, en sina que os poderes constituídos regem os povos,emnomedcDeus.
E' assimem toda aparte: a França,queô umadasprincipacsnaçõesda Europa,foi mo narchiapormuitosséculos, mas ha maisde 20annoséRepublica; etodoopovo, sem ex-cepçãodosmonarchistasdelá,obedeceás au toridadese ásleisdogoverno.
NósmesmosaquinoBrazil,aprincipiardos bisposatéôultimo catholico, reconhecemoso governo actual;sómenlevósnáo vos quereis sujeitar?
dessepovoadouma surprezaa nossa chegada nodiai3ás10horas damanhã.
A fazenda Canudos dista duas léguasdo
Riacho dasPedras, nolado opposto á seiTa geraLA’umaleguadedistanciaoterrenoéin culto, porém optimo para& creação miuda, principalmentenascheiasdo rio Vasa-Barris. Umkilometroadiantedescobre-seumavasta planieiemuitofértil,regadapelorio,nabaixa deummonte,decujaeminenciajaseavistam acasaantiga da fazenda Canudos, a eapella edlfifeadaporAntonio Conselheiro, eas miser-rimashabitações dos seus fanatisados discí pulos.
Passadoorio,logose encontramessas ca-sinholas toscas,construídasdebarroecobertas depalha, deporta,sem janella, e náo arrua das. Ointerioré immundo, e osmoradores, que,quasinús, sahiarafóraa olhar-nos, attes-tavamnoaspecto esquálido e quasi cadave-rieoasprivações detodaaespecie, que cur tiam.Vimosdepoisapraça,deextensáo regular, ladeadadecercade dozecasas detelha,enas extremidades,emfrenteumaáoutra,aeapella eacasaderesidênciade Anfonto Conselheiro
A‘porta da eapella e em vários pontos da praçaapinhavam-seperto demil homens ar mados de bacamarte, garrucha, facão, etc., dando aosCanudosasemelhançadeumapraça d'armas ou melhor d'um acampamento de beduinos.
Usamellescamisa, calçaeblusade azuláo, gorroazulácabeça, alpercatas nospés. O ar inquietoeoolharaomesmotempo mdagador. e sinistro denunciavam consciências pertur badaseintenções hostis.
AJojamo-nos numacasa depropriedade do revm.vigáriodoCumbe,quenosacompanhava ealli nãohavia voltado desde queácercade um*dim soffreragrande desacato.Logo,após anossachegada,no decurso apenas de duas horaspudevero seguinte,que dá a medida doabandonoe desgraça emque vive aquella gente: passaram a enterrar oito cadaveres, eonduziaosporhomens armados, sem o mí nimosignalreligioso.Ouvi tambémqueissoé umespectáculodetodososdiaseque amorta lidadenunca éinferior, devido ás moléstias contrahidaspela extrema falta deasseioepe núriade meiosdevida, quedá lugar até a morreremáfome.
Refeitosum poucodanossapenosa viagem, dirigimo-nosparaa eapella onde se achava entáo Antonio Conselheiro, assistindoaos tra balhos deconstrucçáo; mal nos perceberam, osmagotesdehomens armados cerraram fi leirasjuntoáportada eapella, e ao passar mos,disseramtodos: «LouvadosejaNosso Se nhorJesus Christo»,saudaçãofrequente e
com-—
5
—
Interrompeu-meumdosda turba, gritando comarrogancia:«V.revm.équetemumadou trinafalsa,enãoonosso Conselheiro».D’esta vezaindaovelhoimporsilencio, e por unica respostamedisse:
«Eunãodesarmoaminhagente,mastambém nloestorvoaaantamissão».Nãoinsistino as-sumpto,cacompanhados damultidão,sahimos todos,indoescolher o logar para a latadae providenciarparaquenodiaseguinte princi piassem osexercicios.
Feitoisso,equandome retirava, osfana ticoslevantaramestrondososvivasáSantíssima Trindade;ao Bom Jesus,ao Divino Espirito Santoe aoAntonioConselheiro.
Missionandoem varias freguezias visinhas, euhaviajácolhido informaçõessobreAntonio Conselheiro e seus principaes sectários;mas, estandoentreelles,quizantesdedarprincipio iminhapregação,averiguar oque realmente elleserameo quefaziam.
Do quevi eouviapurei oque passo are gistrar,paraqqpseapreciemelhorooccorrido.
Antonio Conselheiro, cujonomedefamiliaé Antonio VicenteMendes Maciel, cearense, de côrbrancatostadaaosol,magro,alto deesta tura,teracercade 65 annos e pouco vigor physico,parecendosofirer algumaafTecçãoor gânica,porfrequentese violentosaccessosde tosseaqueó sujeito.
Comuma certa reputaçãodeausteridadede costumes,envolvem-notambém, c concorrem paraalimentaracuriosidadedequeéalvoeo prestigioqueexerce,umasvagas,masinsisten tessupposiçõesdaexpiação rigorosa de um crime,commettido,aliás, emcircumstancia at-tcnuantes.
Ninguémpode falar-lhea sós, porque seus pretorianos não deixam, ou receiando pela vidado chefe, ou para não lhesescapar ne nhum de seus movimentoseresoluções.
Aníoiiio Conselheiro, inculcando zelo reli gioso,disciplina e orthodoxiacatho.lica,não temnada disso/poiscontestao ensino, trans-gridcasleis e desconhece as autoridades ec-clesiasticas, sempre que de algummodolhe contrariamasidéas,ou os capricho#í
tandoporessecaminhoosseusinfelizes sequa-zes,consenteaindaqueelleslhe prestem ho menagensque importamumculto,cpropalem emseu nomedoutrinassubversivas aaordem, damoralodafé.
Osalliciadoresdaseitase occupamera per suadiropovo de quetodoaquelleque quizer sesalvarprecisavirnaraosCanudos, porque nosoutroslogarestudoestácontaminadoeper didopelaRepublica:alli,porem,nemópreciso trabalhar; éaterrada promissão,ondo corre umriodeleite,esãodecuscuzdomilhoosbar rancos.
Quemtiverbens,disponhadelles eentregue
oproduetodavendaaobom Conselheiro, não reservandoparasimaisdo que umvintémem cadacemmilreis.Sepossuirimagens,Iraga-a» paraosantuario commura.
0queseguiristoárisca, terádireitoaves tuário eração; econtam-seem taescondições paramaisde 800homens e 200mulheres no séquitodoconhecidoíanatico.
Àsmulheres seoccupamempreparara co mida, cosereenfeitarosgorros de queusam os homens;e ánoitevãocantar Bemditos na latada,accendendo fogueirasquando étempo defrio.
Os homensestão sempre armados, edia e noite,montamguardaaAntonioConselheiro;pa recemidolatraí-oecadavezqueelletranspõeo limiardacasaemque mora é logo recebido com ruidosasacclamaçõesevivasá Santíssima Trindade,aoBomJesuse ao Divino Espirito Santo.
Entreessaturbadesorientada,havárioscri minosos, segundo me aflirmaram, citando-se atéosnomes,algunsdosquaeseuretive,como odeJoãoAbbade,queéallichamadoochefe do povo,naturaldoTucano, eréodedoushomi cídios,eodeJoséYenancio,aquemattribuem dezoitomortes.
O santohomemfecha osolhos a estas
tra
vessuraseacolheosinnocentes,paraquenãoos venhaa perder aRepublicai
Quanto adeveresepraticas religiosas, Jn-íonto Conselheironãosearroganenhuma ção sacerdotal,mas lambem nãodá jamais o exemplo de aproximar-se dos sacramentos, fazendocrôrcom isto quenão carece delles, nem doministériodospadres;easceremonias docultoa quepreside,equeserepetem mais amiudeentreosseus,sãomescladasdesignaes desuperstiçãoeidolatria,comoé,porexemplo, ochamadoBeijadasimagens,aqueprocedem profundasprostraçõesecultoegualatodas, dislineçãoentreasdoDivinoCrucificado, cdaSantíssimaVirgemequaesqueroutras.
Antonio Conselhetrocostumareuniremcertos diasoseupovo,paradar-lheconselhos, que se resentemsempredoseufanatismoeraassumplo dereligiãoedasuaformalopposiçãoaoactual regimenpolítico; mas,oupara mostrar defe-renciacomomissionário,ouporter inciosde darinstrucçõessecretas,absteve-sedefalarcin publico,emquantoeu lá estive.
Abriamissãoa 14demaio,e ja nessedia concorreramnãomenosde/quatromilpessoas:, doshomens,todososquopodiam manejaruma armaláestavam,carregandobacamartes, gar ruchas, espingardas, pistolas e facões; do cartucheiraãcinta egorroácabeça,na atti-lude de quem vae á guerra. 0 Conselheiro
tambémveio,trazendoobordão: collocava-se aoladodoaltar,c ouviaattentoe impassível; mas,comoquemfiscalisa, edeixandoescapar alguma vezgestos de desapprovação, queos
íunc-com sem
arras-—
6
~
maioraes da grei confirmavam com incisivos
protestos.Succedeuislo deummodo mais no
tável,certaoccasiáo em que explicavao que
eraecomodeviafazer-seojejum,ponderando
queelletinhaporfimamortificação docorpo
eo refreiamentodas paixõespela sobriedade
etemperança, masnão o aniquilamento das
forçaspor umalonga erigorosaprivação de
alimentos,eque,porisso, aegreja parafaci
litar dispensava em muitosdias de jejuma
abstinência, e nunca prohibiu o uso dosli
quidosemmoderadaquantidade. Ouvindoque
sepodiajejuarmuitasvezescomendocarneao
jantar, e tomando pela manhanumachavena
decafé:oConselheiroestendeu olabioinferior
esacudiu negativamente a cabeça, e osseus
principaesasseclasromperamlogoemapartes,
exclamando com omphase um dentre elles:
«Ora,islonãoéjejum,écomerafartar».
Fóraessas ligeiras interrupções, a missão
correuempazatéoquartodia,cmqueeupreguei
sobreodever da obediência á autoridade,e
fizverque,sendoaRepublicagovernoconsti
tuídonoBrazil,todososcidadãos,inclusiveos
quetivessemconvicçõescorftrarias,deviam
re-conhecel-oerespeitai-o.Observquenestesen
tidojasepronunciara o SummoPontífice,
re-commendandoaconcordiadoscatholicosbrasi
leiroscomopodercivil;econclui,declarando
quesepersistissememdesobedecerehostilisar
umgovernoqueopovobrazileiroquasiuasua
tutalidade acceitara, não fizessemdareligião
pretextooucapadeseusodiosecaprichos,por
que aegrejacatholica não é nem seránunca
solidariacominstrumentosdepaixõeseinteres
sesparticularesoucomperturuadoresdaordem
publica.
Estasminhaspalavras irritaramoanimode
muitos, edesdelogo começaram a fazerpro
pagandacontra a missão e os missionários,
arredandoopovodevirassistirápregação dfr
umpadre maçou, protestante e republicano,e
dirigindo-me,quandopassavameatéaopédo
púlpito,ameaçasdecastigoeatédemorte.Es
palharam queeuera emissáriodo governoe
que,de intelligencia comeste,iaabrircami
nhoã tropa queviriade surpresaprendero
Conselheiroe exterminaratodoselles.E,pas
sandodepalavras a factos, occuparam com
gentearmadatodas asestradas do povoado'
pondo-oemestadodesitio,demodoanãopoder
ninguémentrarnem sahir semserantesreco
nhecido,como ofizeram.aopropriovigário da
freguezia.detendo-oabocca.uaestrada,quando
ás 7 horas danoite, tendo se ausentado por
justomotivo,regressavaparaosCanudos.
RogueiaDeus queamparasse aminhafra
queza,é,semmeafastar aacalma edamode
raçãocomquedeve falar uramissionário
ca-tholico,emum dosdiasseguintes occupei-me
entrej a mostrar quenãoeram homicidas só
osqueserviam-se doferrooudo venenopara
deepiboseadaoudefrentearrancaravidaaos
seussemelhantes;quetambémoeram, atécer
to ponto, aquellesque arrastavam outros a
acompanhal-osemseuserrosedesatinos, dei
xando-osdepoism°xrer, dizimadospelasmo
léstias,á minguade recursos eaté do pão,
comoaconteciaalli mesmo; e,então, pergun
tei-lhesquemeramosresponsáveispelamorte
epelofimmiseráveldevelhos,mulherese
crc-ançasquediariamentepereciam naquelle po
voadoemextremapenúriae abandono. Saniu
dentre amultidãouma vozlamuriosadizendo
assim: «£’oBom Jesu? queosmandapara o
cco».
Exasperava-osafranquezaeaenergia,com
queomissionário lhescensurava osmáusfei-.
tos,enão perdiam occasiáode rugir contra
elle,mas nãose animavam apór-lhe mãos
violentas,porquehavia maisdeseismil pes
soas assistindoa missão,eamór parte era
gente de fóraquesó a isto vierae reagiría
certamenteseellesmetocasseflT.
Limitaram-seainjurias,acenose ditosame
açadores, atéodia 20de maio, sétimo da
missão,em quejá não secontiveram nessas
manifestações isoladaseorganisaram umpro
testogeral e estrepitosodo grupo arregimen
tado.Desdeasli horasdamannan, João
Ab-bade, chamadoo chefe do povo,foivisto a
percorrerapraça apitandoimpaciente, corno
achamar asoldadescaapostoscontraalguma
aggressãoirtimigà, eagente foisereunindo,
atequeaomeio diaestavaa Praça coalhada
de homensarmados,mulherese meninos que,
aqueimarfoguetes,ecomumaalgazarrainfer
nal,dirigiram-separaacapelia, erguendovivas
ao BomJesus,aoDivinoEspiritoSantoe
ãAn-lonio Conselheiro, e de lá vieram até nossa
casa, dando fórasaòs republicanos,maçonse
protestantes,egritandoquenão precisavamde
padrespara se salvar,porque tinham oseu
Conselheiro.
Nessadesatinada passeiata, andaram acima
e abaixopelo espaço de duashoras,
disper-sando-Seafinal,semiremalém.A’tarde,
Yerbc-rando a cegueiraeinsensatez dosque, assim
haviam procedido, mostrei que tinha sido
aquillo um desacatosacrílego á religiãoeao
sagrado caracter sacerdotal, eque,portanto,
punha termoá santamissão,c,comooutr’ora
osapostolos ásportasdas cidades queos
re-pelliam,eusacuaia alli mesmoopódas
san-aalias,c retirava-me,aununciando-lhes quese
atemponãoabrissem os olhos áluzdaver
dade,sentiríamumdia o pesoesmagadorda
JustiçaDivina,áqualnãoescapamosquein
sultam osenviados doSenhoredespresamos
meios de salvação.Eosdeixei,nãovoltando
— 7 —
estrada,ao olharpelaultimavez o povoado,
condoídodasuatristesituação,comooDivino
MestrediantedeJorusalém,eu sentiumaperto
n’almaepareceo-me poder tambémdizer-lhe:
«Desconheceste os.emissários daverdadee
dapaz,repellisteavisitadasalvação;masahi
vêmtemposemqueforçasirresistíveistesitia
rão,braçopoderoso tederrubará,e arrazando
astuastrincheiras,desarmandoos teos
esbir-ros, dissolverá a seitaimpostora e maligna
quetereduzioaseojugo, odiosoe aviltante».
Hoje.longe dessa infeliz localidade,e po
dendoinformarsemresentimento e com toda
aexactidãoejustiça,eurecapitulareioexposto,
dizendoo seguinte:
Amissãodeque fui encarregado, além da
vantagem de apprehender e denunciar aim
posturae perversidade da seita fanatica no
propriocentrodesuas operações, leve ainda
um beneficoefieito.que foio de arrancar-lhe
innumerasprezas,(lesenganandoaunsdasvir
tudessuppostase premunindo outros contra
asdoutrinasepraticasabusivasereprovadasde
AntonioConselheiroedeseusfanaticosdiscípu
los. Dcscreramdelleefelizmentejáabandona
ram multidões consideráveis de povo que,
regressandoasuasterras, maldiz aahoraem
queosseguiu, evairesgataroseo erro pela
obedíenciaáslegitimas autoridadesepelotra
balho.
Asuspensãorepentinadasantamissãopro
duziunoscircumstantes oeffeito deum raio,
deixando-osattonitoseimpressionados;osque
aindanãosehaviamalistadonacompanhiado
BomJesus, que não rècebiam do Conselheiro
a comida e a roupa, e não dependiam delle
portanto,deram-meplenarazão,e,reprovando
formalmente os desvariosdetalgente,come
çaram asahirdopovoado,jaqueixososecom
pletamentedesilludidosdasvirtudesdoAntonio
Conselheiro.
Osoutros,conhecendo-se em grandemino
ria,eavaliandoqueessaretiradaemmassare
dundariaemnotoriodescrédito
delles,enviavam-meáspressasuma commisSão,em queentra
ram os mais exaltados,e queveiupedir-me
emnomedoAntonio Conselheiroacontinuação
damissão, allegandoque não deviam soflrcr
osinnocentcspelosculpados,equeassimfica
riaopovo privadodo SacramentodoChrisma
ede outros benefíciosespirituaes que sóno
fimdamissãoselucravam.Descobrindò-lhesao
mesmotempoamanhaeafraqueza,resisti aos
pedidos,edeixeiqueomeuacto,maisfelizdo
queas minhaspalavras, acabassedeoperara
aispersãodaquellasmultidões,presaimminente
do fanatismo de um insensato, servido por
imbecisouexploradoporperversos.
Haviam-sefeitojá,quandoencerreide
cho-f*eostrabalhosda missão, 55 casamentosde
amancebados, 102 baptisados, emaisde 400
confissões.
No dia em que devíamospartir, fui pela
manhanchamadoparaumaconfissãodeenfermo
e acudi sem hesitação,seguindo uns homens
armados que tinhamvindochamar-me aesse
fim.Chegadoá casa, interroguei o doentese
queria confessar-se, e,resppndendoque sim,
pedi aostaes homens armados que sahissem
paranãoouviraconfissão. EUes não semo
veram,eumperGlou-seebradou«custeoque
custar,nãosaliimos.»
.Obsprvei,então,ao doenteque nem eupo
diaouvir aconfissão, nem elle estava obri
gadoa fazel-aem taes circumstancias;e
im-tnediatamenteretirei-me, protestando emvoz
alta,daportadacasa ena rua, contra aquella
afírontosaviolaçãodas leis da religião eda
caridade.
Redobrou então a furiadaquellesdesvaira
dos,è,Yomitando insultos, imprecações eju
rasde vingança, tomaram aentrada dacasa
em queeumehospedaraeondejámeachava.
Aminhamissão terminara: aseita havia le
vadoomaior golpequeeu podia
descarregar-lhe,e conservar-me por mais temponomeio
daquellagenteousahií-lhesaindaaoencontro,
seria rematada imprudência sem a minima
utilidade.Oscompanheiros deviagem espera
vam-nos comosanimaesarreiados nosfundos
dacasa:dando costas aos miseros
provoca-dorcs,delá mesmo seguimos, e, galgando a
Ondenãochegaremasvozesdos*quecolhe
ramtão amarga experiencia, faça-se ouvira
palavra autorisadadospastoresdasalmas,de
nunciandoocaracterabominavcleainfluencia
maléficadaseita, eella decerto não logrará
fazernovosproselytos.
Entretanto,comprazendo-me em consignar
que só siconservam actualmenteao lado do
Conselheiroaquellesque já estavam
encorpo-radosnalegiãoporellesintitulada Companhia
doBomJesus, nointeressedaordem publica
pelorespeitodevido álei,garanto ainteira
veracidadedoqpeinformo eaccrescento:
Aseitapolitico-religiosa, estabelecidae
in-trincheiraaa nos Canudos,não ésó-umfoco
de superstição e fanatismo e um pequeno
schismanaegrejabahiana.é,principalmente,um
núcleo,naapparenciadespresivel,masumtanto
perigoso e funesto de ousada resistência e
hostilidade
e
ao governo constituído no paiz.
Encaradoso arrojodaspretençõesea sobe
raniados factos,pode-se dizer que éaquillo
estado noEstado: alli nãosão acceitas
asleis, nãssão reconhecidas as autoridades,
não éadmittido á circulação o proprio di
nheirodaRepublica,
Antonio Conselheiro conta a seu serviço
mais de mil companheiros decididos: entre
estesoshomens,emnumerotalvezdeoitocen
tos, semprearmados,easmulheresecreanças
dispostas de modo aformarem uma reserva
—
8
—
denciaquerestabeleça nopovoado dos Canu
dos oprestigio dalei,as garantias do culto
catholicoeosnossosfórosde povocivilisado.
Aquellasituaçáo deplorávelde fanatismoede
anarchiadevecessarpara honradopovo
brazi-leiroparaoqualétristeehumilhanteque,ainda
namaisincultanesgada terrapatria,osenti
mentoreligioso desça a taes aberraçõeseo
partidarismopoliticodesvaireemtáo estultae
baixareacção.
Releve-mev. ex.revma.arudeza das con
siderações queexpendi ea prolixidade desta
exposição,cuiôintuitoé mostraroquantoes
forçou-se o numilde missionário pordesem
penharatarefa quelhe foi confiaaa, eintei
rarav.ex.revma.doquantooccorreuporessa
occasiáoedaattituderebelde e bellicosaque
Antonio Conselheiro eos seus sequazesassu
miram emantêmcontraa egreja e oEstado;
afim deque,dando ás infonpações prestadas
o Yalor quemerecerem,deliberev.ex.revma.
sobreo"caso,comoemseualto critérioereco
nhecidozelo
Deusguar
Exmo.erevm.sr.conego Clarindode Souza
Aranha,digno governador do arcebispado da
Bahia. Frei João Evangelista de MonteMar
ciano,missionárioapostolicocapuchinho.»
oueellemobilisà.epõeempédeguerra,quan
dojulgapreciso.
Quem foi alistado na Companhia
difficil-mentepoderá libertar-se e vemasoffrervio
lências,se fizer qualguer reclamação, como
succedeudurantea ininhaestada aumpobre
coitadoque, por exigirarestituiçãodasima
gensquehaviatrazido,foipostoemprisáo.
Amiliciafanatica sódáentrada rio povoa
doa quem bemlheapraz;aos amigosdogo
vernoourepublicanosconhecidosoususpeitos,
ellafazlogoretroceder outolera queentrem,
mastrazendo-osem vistae promptaa
expul-sal-os; quanto aos indilTerentes e.quenáose
decidemaentrar naseita,‘essespodem viver
alli,etêmliberdadepara se occuparde seus
interesses, mas correndo grandes riscos, e
. entreellesodeseremalgum dia inesperada
mentesaqueadososseusbens em proveitoda
Santa Companhia: sorteestapouco invejável,
queaindarecentemente,coubeaum certone
gociantequeláseestabelecera,vindodacidade
' doBomfim.
Naquella infeliz localidade, portanto, náo
temimpérioalei,e asliberdadespublicas
es-táogrosseiramentecoarctadas.
Odesaggravo dareligião^ obemsocial ea
dignidadedopoder civil pedem uma
provi-julgar
Impresso nt
Gráfica Universitária
Thales
de.
Um momento da vida intzlzctual
a presença e influência do Pe. Luiz S.J., Salvador, C.E.B., UFBA,na
121. AZEVEDO, Bahia. 1917-1938, Gonzaga Cabral, 32p. 1986,Q^uaòz biogAafiia-i dz jagunçoò: o 6Q.qu.ito
Salvador, C.E.B. UFBA, 1986,
122. CALASANS, Josê.de Antonio Conòzlhzitio.
■ 110p.
LÍÇÕZ6 de. Etimologia Tupi.
Salva
Frederico. C.E.B., UFBA, 1986, 40p. 123. EDELWEISS, dor,
0 Papão
.
Um
KZtKato da Bahia zm 1904;
C.E.B., UFBA, 1986, 40p.Bandaó, filaAmonicaó z mz6tnz6 na
C.E.B., UFBA, 1987, 58p.Pitiaja, azllquia do hznoZòmo baiano.
C.E.B., UFBA, 1987, 42p. 124. VEIGA, Cláudio.
Salvador,
125. SCHWEBEL, Horst Karl.
Bahia. Salvador, 126. MATTOS, Wald.emar.
Salvador,
127. Protesto Contra a Demolição da Se (1928);Edição facsimi^ de Fernando da Rocha Peres.
lada, Apresentação
128. PERES, Fernando da Rocha. Gazgotiio dz Mattoò Z a In
quiòiqao. Salvador, C.E.B. UFBA, 1987, 52p.
129. BOAVENTURA, Edivaldo M. A pznznidadz dz CaòtKO AlvZ6.
Salvador, C.E.B., UFBA, 1987, 16p.
130. Relatório/apresentado pelo/ Rev. Frei Joao Evangeli^ ta de Monte Marciano/ao/Arcebispado da Bahia/sobre/
Antonio Conselheiro/e/ seu séquito no Arraial de
Edição Facsimilada. Apresentação J£ Salvador, CEB; UFBA, 1987, 20p.
Canudos - 1895. si Calasans.