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Adolescente em Liberdade Assistida e Inserção no Mundo do Trabalho: uma Análise de Ações Socioeducativas no Município de Osasco, SP

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Academic year: 2021

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Andrea Rosa Teixeiraa; Guilherme Marcondes de Oliveiraa; Thawany Carla Guidob; Rosa Elisa Mirra Baronec*

Resumo

O estudo, resultante de projeto de pesquisa de Iniciação Científica, focaliza o tema da capacitação para o trabalho e inserção laboral no contexto das medidas socioeducativas com base em programas voltados ao adolescente em cumprimento de Liberdade Assistida (LA) no município de Osasco, SP. A reconfiguração do mundo do trabalho e as novas formas de sociabilidade que impactam o viver cotidiano dos diferentes segmentos sociais, pano de fundo deste debate, articulam-se à especificidade da ação educativa com adolescentes envolvidos em delitos. Assim, o estudo objetiva contribuir para as discussões, formulação e implementação de programas e ações com eixo na capacitação e inserção socioprodutiva desses adolescentes. O estudo, com base exploratória e inserido no campo da pesquisa qualitativa apresenta, inicialmente, a revisão da literatura e a identificação e a análise de elementos do marco legal a respeito da temática proposta, aspectos que deram suporte ao levantamento dos dados empíricos junto ao CREAS-Osasco e às entrevistas com técnicos responsáveis pelo acompanhamento das medidas socioeducativas em meio aberto. Buscaram-se informações sobre programas de capacitação e/ou inserção laboral em curso nos municípios vizinhos, uma vez que as buscas referentes a esses programas, no contexto de Osasco, foram consideradas insatisfatórias. Os programas identificados têm eixo no tema da vulnerabilidade, porém neles não há destaque para a presença de adolescentes em conflito com a lei. Palavras-chave: Adolescente em Conflito com a Lei. Medida Socioeducativa. Capacitação para o Trabalho.

Abstract

This study is the result of a scientific research project and it focuses on the subject of job training and job placement in the context of socio-educational measures based on programs aimed to adolescents in probation compliance in Osasco - SP. The reconfiguration of the work world and the new forms of sociability that impact the daily living of different social segments, which is this debate background, articulate the specific nature of educational activities with adolescents involved in crime. Thus, the study aims to contribute to the discussion, formulation and implementation of programs and actions with axis on training and socio-productive inclusion of these adolescents. The study, with exploratory base and inserted in the field of qualitative research, initially presents the literature review and the identification and analysis of elements of the legal framework regarding the proposed theme, aspects that supported the survey of empirical data by the CREAS-Osasco and interviews with technicians responsible for monitoring the socio-educational measures in opened way. Information on training programs and/or ongoing labor insertion in neighboring municipalities was sought as the searches related to these programs in Osasco were considered unsatisfactory. The identified programs have axis on the subject of vulnerability, but there is no emphasis on the presence of adolescents in conflict with the law in them.

Keywords: Adolescents in Conflict with the Law. Socio-Educational Measure. Training for Work.

Adolescente em Liberdade Assistida e Inserção no Mundo do Trabalho: uma Análise de Ações

Socioeducativas no Município de Osasco, SP

Adolescent on Probation and Insertion into the Work World: Socio-Educational Actions

Analysis in Osasco, SP

aUniversidade Anhanguera de São Paulo, Curso de Pedagogia. bUniversidade Anhanguera de São Paulo, Curso de Psicologia.

cUniversidade Anhanguera de São Paulo, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Adolescente em Conflito. *E-mail: rebarone@uol.com.br

1 Introdução

A identificação e a análise de programas e práticas de capacitação para o trabalho e de inserção socioprodutiva propostas para adolescentes que cumprem medida socioeducativa em meio aberto no município de Osasco, SP estão ancoradas em dois eixos. O primeiro, parte da premissa de que a proposição de tais programas tem suas bases nas determinações legais e definidas com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil - CF, em 1988, com implicações na conformação do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente no Brasil. Outro eixo refere-se às implicações das mudanças no campo do trabalho no âmbito das medidas socioeducativas, integrando um cenário mais amplo, marcado pela reconfiguração no mundo do trabalho e pelas novas demandas do mercado de trabalho,

bem como pelos novos direcionamentos no campo das políticas públicas. Ademais, o requerimento de sujeitos mais escolarizados e melhor qualificados, bem como as demandas que dizem respeito à sua inserção e permanência no mundo produtivo, em conjunto com as novas formas de sociabilidade tecidas, impactam o cotidiano de diferentes segmentos sociais, têm desdobramentos na relação das pessoas com os outros e consigo mesmo, aspectos essenciais para que cada um se reconheça como sujeito de direito.

Inserido no campo da pesquisa qualitativa, com base exploratória, o estudo contou, inicialmente, com levantamento bibliográfico que possibilitou o contato com a temática e com o marco normativo que rege os programas de atendimento na área da infância e adolescência. Posteriormente, buscaram-se informações sobre propostas de capacitação no município de

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Osasco1 por meio da internet. Como as informações coletadas foram insuficientes para o propósito deste estudo optou-se por realizar visitas à Secretaria da Assistência Social de Osasco e ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social - Creas, situação que possibilitou entrevistar a assistente social responsável pelo acompanhamento das medidas em meio aberto, conhecer a dinâmica das ações socioeducativas no município. Outra estratégia adotada, diante da ausência de informações, foi considerar informações sobre municípios vizinhos de Osasco. 2 Desenvolvimento

2.1 Adolescente, adolescente em conflito com a lei e as medidas socioeducativas

Definir adolescência é tão complexo como as tentativas de enquadrá-la em uma determinada faixa etária. O artigo 1º da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança de 1989, promulgada pela Organização das Nações Unidas - ONU, expandiu e reconheceu como criança todos aqueles com até dezoito anos. Para a Organização Mundial de Saúde - OMS, a adolescência está situada entre dez e dezenove anos, e o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, Lei nº 8.069, de 1990, no artigo 2º, considera adolescente aquele que possui entre doze e dezoito anos incompletos.

Stanley Hall, no início do século XX, foi quem primeiro se destacou por estudar a adolescência2. Segundo ele, a adolescência deveria ser tratada de modo especial, pois a considerava um estágio importante do desenvolvimento humano, e todos aqueles em que nesta fase estivessem deveriam ter maior proteção. A adolescência, conforme Ozella (2002), tem sido vista como fase ou período crítico do desenvolvimento humano, como um “estado” que existe em si, independente das condições sócio históricas nas quais cada indivíduo está inserido. Ao mesmo tempo, há análises que articulam o período da adolescência com momentos de tormentos e conturbações que se vinculam à emergência da sexualidade, como etapa de confusões, estresse e luto causados por impulsos sexuais. Há, ainda, a emergência do conceito de moratória, presente nos estudos de Erikson3, que destacou a existência de uma “essência” adolescente para além de uma simples transição entre a infância e a idade adulta e marcada pela presença de uma mentalidade própria e psiquismo característico. Além da ausência de consenso quanto à ideia de adolescência, Ozella (2002) destaca que é preciso considerar as condições históricas e objetivas vivenciadas pelo jovem e pelo

adolescente, lembrando, nesse sentido, que um dado conceito se altera no tempo e no espaço. Ou seja,

[...] a adolescência é criada historicamente pelo homem, enquanto representação e enquanto fato social e psicológico. É constituída como significado na cultura, na linguagem que permeia as relações sociais. [ ] A adolescência não é um período natural do desenvolvimento. É um momento significado e interpretado pelo homem. [...]São características que surgem nas relações sociais, em um processo no qual o jovem se coloca inteiro, com suas características pessoais e seu corpo (OZELLA, 2002, p.21).

O adolescente em conflito com a lei, por sua vez, é aquele que tem relação específica com o sistema de justiça marcada pela transgressão à lei, mas que vivencia as questões que envolvem os adolescentes como grupo. Embora inimputável perante o Código Penal, ele não está isento de responsabilidades por atos, estando sujeito, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente, ao cumprimento de medidas socioeducativas4, definidas conforme a gravidade do ato cometido (VOLPI, 2010) pelo Juiz da Infância e da Juventude de cada município.

As medidas socioeducativas podem ser executadas em meio aberto e restritivas de liberdade ou em situação de privação de liberdade. Integram o rol das medidas em meio aberto a advertência (artigo nº 115), a obrigação de reparar o dano (artigo nº 116), a prestação de serviços à comunidade (artigo nº 117) e a liberdade assistida (artigo nº 118 e 119). Já a privação de liberdade é constituída por medidas de semiliberdade (artigo nº 120) e internação (artigo nº 121 - 125)5. O cumprimento

das medidas socioeducativas deve estar articulado ao Plano de Atendimento Individual (PIA), instrumento que prevê, registra e monitora o conjunto de atividades a serem desenvolvidas pelo adolescente, conforme previsto pelo Sinase6.

No tocante à gestão do sistema socioeducativo, os municípios são responsáveis pela execução das medidas em meio aberto e os governos estaduais respondem por aquelas que ocorrem em sistemas de privação de liberdade. O atendimento socioeducativo em meio aberto nos municípios, inserido no campo da Assistência Social, nos Centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), aos quais se vinculam os Serviços de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto, por meio da institucionalização de convênios.

No que tange à temática do trabalho, as diretrizes do Sinase (BRASIL, 2006) destacam o tema da profissionalização e do trabalho como um dos eixos do documento, comum a todas as entidades e/ou programas que executam as medidas 1 Inicialmente, o projeto de pesquisa previa que o levantamento das ações de capacitação para o trabalho e inserção laboral considerasse as proposições de organizações não governamentais, do setor produtivo e do poder público municipal. No entanto, a coleta foi redirecionada e foram contempladas cinco organizações não governamentais que mantêm parcerias quer com o poder público, quer com o setor produtivo.

2 Vale destacar que o estudo intitulado Adolescência foi publicado em 1904.

3 Erik Erikson (1902-1994), psiquiatra responsável pela Teoria do Desenvolvimento Psicossocial na Psicologia e um dos teóricos da Psicologia do Desenvolvimento, criou a expressão “crise de identidade” e foi autor do conceito de moratória psicossocial, compreendida como o tempo de espera para os compromissos adultos, um período de transição.

4 As medidas socioeducativas, aplicáveis àqueles que têm idade entre 12 e 18 anos incompletos e, excepcionalmente, àquele que tem até 21 anos incompletos, ainda que anunciem seu caráter predominantemente educativo, também estão marcadas pela punição.

5 Para detalhamento ver: Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990). 6 O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE).

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socioeducativas e, considerando o aspecto formativo do trabalho, reforça as diferentes possibilidades que se desenham a esses adolescentes. Posteriormente, a Lei nº 12.594/2012, que regulamenta o Sinase, no Capítulo VIII indica a necessária abertura de vagas para os adolescentes infratores nos programas de educação profissional desenvolvidos pelo Sistema S7.Quanto à educação escolar, ainda que haja obrigatoriedade na garantia do atendimento do adolescente que cumpre medidas socioeducativas pela rede pública de educação, em qualquer fase do período letivo e abrangendo todas as faixas etárias e níveis de instrução (Lei nº 9.394/96), aspecto também presente nas diretrizes do Sinase (BRASIL, 2006), a Lei nº 12.594/2012 não faz destaque a esse aspecto. 2.1.1 O Adolescente em Conflito com a Lei e a capacitação para o trabalho

O trabalho8, cujo conteúdo resulta do cenário histórico em que se realiza, é tema presente na agenda de diferentes segmentos da sociedade, quer na academia, nas discussões no âmbito da pesquisa científica, quer no campo das proposições políticas, com foco em ações de geração de emprego e renda. Ao mesmo tempo, diferentes são as abordagens sobre o tema do trabalho. Algumas focalizam a relação entre trabalho e sofrimento, em alusão à origem da palavra9, outras destacam o trabalho como constitutivo da identidade do sujeito, outras, ainda, enfatizam a ideia de que a sociedade e sua dinâmica são construídas como “sociedade do trabalho”. O trabalho como um direito humano, um direito social constitucionalmente previsto, está presente no artigo nº 23 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). À ideia de que “toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego” se junta, conforme o artigo 26, a garantia do acesso à instrução técnico-profissional. Portanto, o trabalho como um direito humano, é central para a sobrevivência do ser humano, não podendo ser suprimido, mas, sim, garantido e efetivado na prática.

O mundo do trabalho, no cenário contemporâneo, tem sido fortemente impactado pelas novas bases tecnológicas, situação que requer trabalhadores melhor qualificados e mais escolarizados, atendendo aos pressupostos da sociedade do conhecimento. O tripé da produtividade, qualidade e competitividade, presente nos anos de 1990 no quadro da reestruturação produtiva, ganha novas dimensões diante do enfraquecimento do estatuto do trabalho regulamentado, propiciando a diversificação e a ampliação das atividades informais, o aparecimento de novas formas de trabalho, cuja brevidade produz marcas nas trajetórias de vida. Como enfatizado por Cabanes e Georges (2011, p.13),

A antiga visão dos anos de 1960, que considerava o trabalho informal parte do desenvolvimento capitalista, ainda conserva seu valor heurístico, ou melhor, o emprego informal cresce e torna-se parte indispensável do desenvolvimento do capital, sob a forma de cooperativas de trabalho, de contratos comerciais, terceirizações, substituindo assim as formas de emprego estatutárias e regulares. Ele é planejado como elemento estruturante da concorrência internacional, a fim de facilitar a circulação de mercadorias e de pessoas por meio de migrações induzidas e, ao mesmo tempo, ilegais.

O quadro descrito, de certa forma está presente nas reflexões e nos debates sobre a inserção de adolescentes em conflito com a lei no mundo do trabalho, considerando tanto as proposições de capacitação para o trabalho como as estratégias desenhadas para sua participação no mercado de trabalho, aspectos que estão presentes nas disposições legais10 e no desenho das medidas socioeducativas, sempre em conjunto com a obrigatória frequência à escola. As ações voltadas à profissionalização e capacitação para o trabalho visam o desenvolvimento de habilidades e competências articuladas às demandas efetivas do mundo do trabalho, devendo ser orientadas pela concepção do trabalho como princípio educativo, articular o saber, o pensar ao fazer.

As questões que envolvem a inserção sócio-laboral de adolescentes em conflito com a lei integram os eixos de trabalho no âmbito do Programa Eurosocial II11, em 7 Dentre as instituições integrantes do Sistema S, o Sinase (2012) destaca o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Serviço Nacional de

Aprendizagem Comercial (Senac), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat) e seus respectivos serviços sociais (Serviço Social da Indústria – Sesi, Serviço Social do Comércio – Sesc, e o Serviço Social do Transporte – Sest). 8 O conceito de trabalho, considerado em sua dimensão ontológica, está ancorado na ideia de que o trabalho é o elemento que promove as condições

concretas e objetivas de existência, sendo, assim, essencial para a existência do homem. Assim, trabalho refere-se a toda atividade que, realizada pelo homem, transforma a natureza, tendo papel fundamental na sociedade. Ou ainda, é pelo trabalho que o homem se transforma e, ao se relacionar com outros homens na realização de uma determinada atividade, estabelece as bases das relações sociais.

9 A palavra trabalho, com origem no latim tripalium, denominação de instrumento formado por três estacas utilizadas para manter presos bois ou cavalos difíceis de ferrar, significa, no latim vulgar, pena ou servidão do homem à natureza.

10 Como anteriormente destacado, as principais referências da política de atendimento a esses adolescentes estão presentes nas Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Infância e da Juventude – Regras de Beijing (ONU, 1985) e, no cenário nacional, as ações socioeducativas têm respaldo legal na Constituição, Estatuto da Criança e Adolescente, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), nas Leis 10.097/2000 e 11.180/2005, que tratam da Aprendizagem, Resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – Conanda, no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – Sinase e, ainda, nas diretrizes do Plano Nacional de Educação (2011-2020).

11 EUROSOCIAL II é um programa de cooperação técnica promovido pela Comissão Europeia e tem como principal objetivo o estabelecimento de parcerias com países da América Latina como foco nas questões sociais, por meio de suporte a diferentes políticas públicas e promoção social. São as linhas de ação definidas no âmbito do Eurosocial II: criação de empresas públicas que chamem ao trabalho adolescentes infratores; desenvolvimento de programas de educação e formação que permitam a inserção laboral; criação de comitês interinstitucionais para a coordenação dos atores; desenvolvimento de programas de tratamento específico baseados em uma classificação de adolescentes em conflito com a lei; promover a reinserção social e laboral de grupos vulneráveis, em particular dos jovens e, ainda, o desenho e a implementação de modelos para a melhoria dos complexos penitenciários. Para detalhamento ver: http://www.eurosocial-ii.eu.

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cooperação com países latino-americanos, conforme dados do Observatório Internacional de Justiça Juvenil (2013). Ademais, é importante destacar que essa reflexão precisa considerar o contexto e as histórias de vida dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, marcado por situações de trabalho precarizado, informal e/ou ilícito, mas que, ainda assim, é trabalho uma vez que há investimento de tempo e energia física para obtenção de retorno financeiro.

Andrade (2009, p.4) trata deste tema de forma oportuna. E o que farão os adolescentes que querem participar da sociedade de consumo e querem também adquirir objetos, pois ‘ou você tem ou você não tem?’ O convite ao trabalho no tráfico é também um convite ao reconhecimento e ao mundo do consumo. Os adolescentes em conflito com a lei podem não ter experiência de trabalho com carteira assinada, mas já participaram do trabalho no tráfico com suas características insalubres muito bem conhecidas por quem compreende o mundo do crime organizado. Mesmo que consigam reconhecimento e entrada no mundo do consumo, não saem da posição vitimizada que se encontravam antes de aceitarem o mundo do crime como opção. Posição vitimizada porque se apresenta como a saída mais fácil e possível, colocando o adolescente em situação de risco iminente de morte, pelas regras impostas pelo crime organizado. Estar excluído do mundo do consumo, do reconhecimento, de um lugar na sociedade não parece ser uma opção. Assim, o que se observa é uma inclusão perversa.

A proposição de políticas públicas com foco na profissionalização e inserção no mercado de trabalho de jovens parece ser umas das respostas ao quadro descrito, destacando-se o Projovem Adolescente. Lançado em 2007 no âmbito do Projovem, e resultante do Agente Jovem, o Programa tem foco nos jovens com idade entre 15 e 17 anos, selecionados entre as famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família e visa integrar trabalho e transferência de renda. Também são beneficiários do Programa aqueles que estão em situação de risco pessoal e social, encaminhados pelos serviços de Proteção Social Especial do Sistema Único de Assistência Social (Suas) ou pelos órgãos do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente. Organizados em grupos, denominados coletivos, os jovens são acompanhados por um orientador social e supervisionados por um profissional do Creas, também responsável pelo atendimento das famílias por meio do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família. As ações estão pautadas em conteúdos que visam a compreensão da realidade e a participação social, discutidos por meio de temas transversais, com destaque para o campo da arte-cultura e do esporte-lazer.

2.1.2 Adolescente em Conflito com a Lei e a política socioeducativa no município de Osasco

Os dados históricos e demográficos sobre Osasco abaixo apresentados fazem parte do cenário no qual as medidas socioeducativas em meio aberto são executadas, presentes, portanto, no cotidiano do adolescente em conflito com a lei.

Osasco tem sua origem vinculada a Antônio Agu, imigrante italiano que no século XIX comprou uma porção de terra na região. Inicialmente identificada como um bairro do município de São Paulo, Osasco tornou-se município após sua emancipação em 1962, decorrente, provavelmente, de seu crescimento contínuo. Segundo o IBGE (2010), com dados estimados para o ano de 2014, Osasco conta com 693.271 habitantes, dos quais 587.716 (84,77%) são alfabetizados e 169.710 (24,74%) têm idade entre 10 e 24 anos12. Entre estes, 32,5% têm idade entre 10 e 14 anos, 31,6% têm entre 15 e 19 anos e 35,9% integram a faixa etária de 20 a 24 anos. Há equilíbrio quanto ao sexo da população jovem.

A gestão das ações socioeducativas em meio aberto13 é feita pela Secretaria de Assistência e Promoção Social do município e o atendimento aos adolescentes ocorre no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). Em 2008 o Creas começou a atender adolescentes em medida de Prestação de Serviço à Comunidade e, em 2010, passou a atender também aqueles que estavam em Liberdade Assistida14. Em 2012, no mesmo ano que foi instituído o

Sinase, os técnicos construíram os primeiros planos de atendimento socioeducativo de forma padronizada com o auxílio de uma consultoria externa, visando institucionalizar o atendimento e evitar metodologias de trabalho individuais. Osasco conta com dois Creas, um deles localizado no bairro Jardim Bela Vista, zona sul da cidade, e outro no bairro Jardim Baronesa, zona norte. Entretanto, o atendimento socioeducativo é realizado apenas no Creas – unidade da zona sul. Vale ressaltar, conforme o artigo 3º da Resolução nº 14, de 11 de junho de 2013, do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), que o número de unidades de Creas deve atender às necessidades da população, definindo uma unidade para cada 200 mil habitantes, regra que, no entanto, não é aplicada em Osasco.

Quinzenalmente novos adolescentes são reunidos no Creas – zona sul, ocasião em que o projeto socioeducativo é apresentado e as possíveis dúvidas são esclarecidas e é nesse momento que os técnicos do atendimento recolhem os dados sobre eles. Nessa mesma reunião os pais ou responsáveis pelos adolescentes recebem um termo de responsabilidade 12 As faixas etárias destacadas referem-se àquelas explicitadas no Censo de 2010 realizado pelo IBGE. Embora haja a contabilização daqueles com

idade a partir de 10 anos, apenas adolescentes entre 12 e 18 anos incompletos, e em casos específicos, até os 21 anos de idade, como prevê o artigo 2º do ECA, cumprem medidas socioeducativas.

13 Com o Sinase, os municípios ficaram responsáveis pela aplicação de medidas socioeducativas de meio aberto, sendo os próprios municípios responsáveis também pela criação de seus planos de atendimento socioeducativo.

14 Antes da municipalização do processo de aplicação de medidas socioeducativas, essas ações estavam sob a responsabilidade do governo do Estado de São Paulo, por meio da Fundação Casa.

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relações entre a baixa renda das famílias desses adolescentes e as infrações por eles cometidas. Há uma análise que indica que o imediatismo presente em suas vidas interfere em seus projetos de vida. Segundo sua análise, o adolescente de baixa renda que convive com uma grande contenção de consumo, em uma sociedade que parece explicitar que o pertencimento social está ligado à possibilidade e à capacidade de consumo, gera inúmeros conflitos. Além disso, como muitas vezes o tráfico de drogas é a única oferta de trabalho disponível, muitos encontram nessa atividade uma alternativa rápida para o acesso ao consumo. A essa ação se junta o envolvimento em furtos e roubos que, com o tráfico, são as infrações mais recorrentes observadas.

Entre as metas e ações do Creas em relação ao atendimento socioeducativo destacam-se a regularização dos documentos do adolescente (Certidão de Nascimento, RG, CPF etc.), inserção no ambiente escolar, desenvolvimento de alguma perspectiva profissional, além de melhorar sua convivência familiar e comunitária. As questões que se relacionam à capacitação e/ou inserção laboral estão vinculadas, ainda que indiretamente, às estratégias do governo municipal, sob a responsabilidade da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão (OSASCO, 2015), cujos programas são ofertados pelo Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda de Osasco e, conforme dados veiculados17, esses programas visam “romper com o ciclo estrutural de pobreza, por meio da geração de emprego e renda”, com ações que articulam os programas de transferência de renda e políticas de geração de trabalho e renda. Entre os programas que ocasionalmente podem contemplar o adolescente em cumprimento de medida socioeducativa destacam-se a Intermediação de Mão de Obra (IMO) e o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE)18. O Creas pode encaminhá-los a esses programas, porém, oportunidades de empregos estão atreladas a processos seletivos que consideram o nível escolar, as competências e até traços de personalidade dos candidatos.

Conforme destacado pela assistente social, tendencialmente os adolescentes que cometeram qualquer tipo de ato infracional são preteridos nos processos seletivos, dificuldade que poderia ser equacionada mediante a oferta de cursos, projetos e oficinas vinculadas às demandas do mercado de trabalho e que considerem o tempo da medida e o imediatismo desses adolescentes. Muitas vezes a duração dos cursos ofertados é longa e os adolescentes, ainda que o e participam de uma palestra sobre a importância da família

no atendimento socioeducativo e para o sucesso da medida. A ausência das famílias no acompanhamento do adolescente, segundo dados do Creas – zona sul, é atribuída ao fato de que mais de 30% delas é gerida por um único membro, dificultando o acompanhamento previsto.

No segundo semestre de 2014 estavam em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto 515 adolescentes, sendo que 50% deles cumpriam dupla medida em PSC e em LA, outros 32% cumpriam medida de LA e 11% estavam em PSC. Quanto ao local de moradia, dados do Creas – zona sul referentes a 2014 mostram que 57% desses adolescentes residiam na zona sul, enquanto 40% vinham da zona norte e 3% da região central. Quanto ao sexo, 95% dos adolescentes eram do sexo masculino e 5% do sexo feminino, o que se assemelha à estatística de distribuição de gênero apresentada por diferentes autores15. Sobre a infração cometida pelas adolescentes, segundo a assistente social, boa parte refere-se à receptação de objetos roubados ou furtados por seus respectivos namorados. Quanto à idade, 77% desses adolescentes tinham entre 15 e 17 anos (77%), outros 13% estavam entre 18 e 21 anos e 10% tinham idades entre 12 e 14 anos.

Sobre a escolaridade dos adolescentes, os dados mostram que 31% possuíam o ensino fundamental incompleto, 26% tinham o ensino médio incompleto, enquanto 16% dos adolescentes tinham o ensino fundamental completo e 3% completaram o ensino médio16. Entretanto, em 24% dos casos não foi possível levantar tal informação, situação que decorre, principalmente, de os adolescentes abandonarem o cumprimento da medida socioeducativa. O baixo nível escolar dos adolescentes não só pode influenciar no ingresso no mercado de trabalho como também pode prejudicá-los nos cursos de capacitação profissional, já que há o risco de o adolescente não conseguir acompanhar as atividades propostas pelo curso, além de não apresentar os pré-requisitos básicos para ocupar a vaga oferecida, seja por empresas, ONGs ou pela própria prefeitura.

Os dados do Creas – zona sul mostram, conforme levantamento realizado em 2014, que as famílias de 41% dos adolescentes em cumprimento de medida tinham renda familiar declarada de 1 a 3 salários mínimos, enquanto 12% tinham de 3 a 5 salários mínimos e 7% até 1 salário mínimo.

De acordo com a assistente social do Creas, embora não haja uma relação causa-efeito, é possível estabelecer 15 Para detalhamento ver: Volpi (2010) e Vieira (2011).

16 Não há dados que mostrem o último ano de estudo dos referidos adolescentes, aspecto que possibilitaria uma maior compreensão sobre a situação escolar deles.

17 O Portal do Trabalhador integra o programa SDTI, tem parceria com o Ministério do Trabalho, com duas unidades físicas no município, oferecendo serviços de emissão da Carteira de Trabalho e Previdência Social, gestão do Seguro Desemprego e Bolsa Família, acesso ao Programa Microcrédito Produtivo Orientado, Intermediação de Mão de Obra e um posto do Centro de Integração Empresa-Escola. Mais informações: www.osasco.sp.gov. br/InternaSecretaria.aspx?ID=7.

18 Intermediação de Mão de Obra (IMO), programa que visa a inserção no mercado de trabalho. Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) tem foco na formação de estudantes em tempo integral: além de inseri-los no mercado de trabalho por meio de estágios, visa capacitá-los com programas oferecidos pelo próprio CIEE.

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iniciem, não conseguem terminá-lo. Destaca-se, ainda, que o controle do número dos jovens encaminhados pelo Creas ao Portal do Trabalhador não ocorre, pois estes são incluídos na contagem sistemática de atendimento, como todos que procuram os programas citados.

Vale destacar a oferta de cursos no âmbito do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec)19, cujo objetivo é ampliar e democratizar a oferta e o acesso aos cursos de educação profissional e tecnológica e profissional no país. Embora as ações definidas considerem as especificidades dos povos indígenas, das comunidades quilombolas e dos adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas, não foram citadas matrículas ou ações concretas voltadas aos adolescentes em Osasco.

2.2 Capacitação para o trabalho e inserção laboral no contexto dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa: dados do município de Osasco

O levantamento de dados realizado junto à Secretaria da Assistência Social de Osasco e no CREAS mostrou ausência de registros sobre programas de capacitação para o trabalho e/ou inserção laboral de adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto. Como as buscas realizadas por meio da internet também não resultaram na identificação desses programas optou-se pela ampliação do levantamento considerando os territórios limítrofes de Osasco, como Barueri e Carapicuíba, com a identificação de cinco programas.

2.2.1Associação Grupo Ação de Assistência, Promoção e Integração Social - Gaapis20

A Associação Grupo Ação de Assistência, Promoção e Integração Social - Gaapis, com sede em Osasco, associação civil de direitos privados, filantrópica e sem fins lucrativos, iniciou suas atividades em 2002. Idealizada com a constatação das dificuldades enfrentadas por famílias devido à falta de condições básicas como estrutura social e educacional, o Gaapis começou sua ação com aconselhamento familiar na comunidade. Com o crescimento no número de famílias atendidas e com a necessidade de ampliar o trabalho realizado, um grupo de pessoas foi convidado pelos responsáveis pela instituição e, a partir daí, foram propostos projetos voltados à socialização e integração de adolescentes e jovens no âmbito da família, escola e comunidade, visando o desenvolvimento integral.

O Gaapis conta com parcerias com o poder público e com a iniciativa privada e recebe adolescentes e jovens encaminhados por escolas públicas da região, pelo Conselho

Tutelar, pela Vara da Infância e Juventude. São realizadas oficinas culturais e voltadas à cidadania, direitos, saúde, meio ambiente, profissionalização e trabalho, informática. Entre as ações educativas destaca-se o Projovem Adolescente que, idealizado pelo governo federal para adolescentes com idade entre 15 e 17 anos, tem parceria com a Prefeitura de Osasco e vincula-se ao Programa Bolsa Família.

Em parceria com a Fundação Abrinq/Nokia, ocorre o Projeto “Mudando a História”, que resultou na edição de um livro com as histórias contadas e ilustradas por Ziraldo. Outro projeto, denominado “Viva Cidade”, visa resgatar os pichadores, capacitando-os para trabalhos artísticos e fomentando o retorno dos jovens à sua comunidade e às escolas como agentes multiplicadores. O projeto promove oficinas de grafite e dança de rua e conta com parcerias com o Fundo Social de Solidariedade do Município de Osasco e com a empresa Colorgin. Os participantes já realizaram diversos trabalhos de grafite em muros, fachadas de escolas e, recentemente, uma reportagem do programa “Ação”, da Rede Globo de Televisão, apresentou situações que explicitam o reconhecimento do trabalho realizado pelos jovens. Há, ainda, o projeto “Plug e Use”, em parceria com a Caixa Econômica Federal e com a Avon Cosméticos, cujo eixo está na inclusão digital, proporcionando aos jovens o acesso ao universo on line por meio de realização de oficinas de informática e internet.

2.2.2 Instituto Ascender21

O Instituto Ascender - IA, com sede em Osasco, atende adolescentes com ações de capacitação para o trabalho com o Projeto Ascender pelo Trabalho, com diferentes atividades que visam garantir o acesso, a permanência e a ascensão dos jovens no mundo do trabalho. O IA é resultante de ações de jovens empresárias que dispunham do espaço de uma fábrica desativada, com toda a infraestrutura fabril e administrativa montadas, além de matéria-prima, como couro e aviamentos. O primeiro projeto desenvolvido, já com foco na construção de trajetórias profissionais, foi resultado de estudos que mostravam as condições de vida dos jovens que viviam no entorno do espaço até então ocupado por uma fábrica. As ações propostas articulam educação e trabalho por meio de uma metodologia que valoriza as características de cada jovem e, conforme apresentado no sítio22 do IA, as ações educativas estão ancoradas nos princípios da educação integral e têm apoio nos quatro pilares da educação, propostos pela Unesco23. São oferecidas aos jovens as seguintes oficinas: Projeto de Vida, Mundo do Trabalho, Jovem Empreendedor, Papo Nosso, Nossos Direitos, Nossa Cidade, Via Digital, Oficina 19 O Pronatec foi criado pelo Governo Federal em 2011 e regulamentado com a Lei nº 12.513/11 e os cursos ofertados, nos diferentes níveis, ocorrem

em instituições de educação profissional (especialmente aquelas inseridas no Sistema S) e em instituições de ensino privadas (BRASIL, 2011). 20 Gaapis: Av. Presidente Costa e Silva, 545, Jd. Helena Maria. Osasco, SP. CEP. 06253-000. Telefone (11) 3599-4636.

21 O Instituto Ascender tem sua sede na Rua da Estação, 441 - Centro, Osasco – SP. 22 Para detalhamento ver: www.institutoascender.org.br .

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de Criação. Há 20 vagas para o período da manhã e 20 vagas para o período da tarde, as oficinas e cursos duram seis meses, cinco vezes por semana, sendo que uma vez por semana as aulas são ministradas no laboratório de informática da biblioteca de Osasco, em parceria com a prefeitura. Os jovens recebem uma bolsa auxílio de R$ 341,00 mensais24 e lanche diário. No começo das atividades eles são orientados sobre as regras, sobre a necessidade de comparecer a 75% das aulas para manter a vaga e conseguir o certificado.

2.2.3 Associação para Proteção da Criança e Adolescente – Cepac

Com sede em Barueri, a Associação para Proteção da Criança e Adolescente (Cepac)25 foi fundado em 1993 por integrantes de uma comunidade religiosa. Os cursos e oficinas de aprendizagem profissional tiveram início quando foram identificadas no bairro de Alphaville formas de exploração de trabalho infantil. O Cepac cresceu acompanhando o crescimento do bairro e tornando-se parte dele. Mensalmente, conforme dados de 201426, 550 crianças e adolescentes da região são atendidos diretamente e outras 2.200 pessoas têm atendimento indireto. Três programas têm foco no tema da capacitação para o trabalho – o Semeando o Futuro, o Projeto Profissionalizante e o Programa Aprendiz Cidadão.

O Semeando o Futuro atende a 250 crianças e adolescentes, com idades entre 11 e 14 anos, e visa proporcionar a crianças e adolescentes o desenvolvimento da sociabilidade e da autonomia, com atividades voltadas à expressão, à criação e à desenvoltura. O Projeto Profissionalizante, voltado àqueles com idades entre 15 e 17 anos, atende 100 adolescentes e visa promover a capacitação profissional e a inclusão no mercado de trabalho de adolescentes, nas áreas administrativas e de logística e o convívio familiar e comunitário. O Programa Aprendiz Cidadão conta com parceiros do setor público e do setor produtivo, atende jovens com idades entre 15 e 18, oriundos do Projeto Profissionalizante e encaminhados ao mundo do trabalho. As ações são desenvolvidas, por módulos e têm eixo no desenvolvimento de habilidades e competências para o trabalho, na função de aprendiz em grandes empresas. Destacam-se os debates sobre ética e cidadania, comunicação, noções de administração, qualidade integral, logística e informática. Há, ainda, o encaminhamento de jovens oriundos desse Programa para o ensino superior.

2.2.4 Sociedade Amigos do Bem-Estar do Menor – Soabem27

Também em Barueri, a Sociedade Amigos do Bem-Estar do Menor (Soabem)28 promove cursos de complementação escolar e profissionalizante, além de atendimento a famílias, contando com parcerias com os setores público e produtivo, com contribuições de pessoas físicas, condição que permite atender a mais de 1.200 pessoas nos cursos e oficinas. Os cursos e oficinas estão distribuídos nos Núcleos de Formação e de Capacitação.

O Projeto Semeando Ideias integra o Núcleo de Formação e visa promover o desenvolvimento pessoal, afetivo, cognitivo e criativo da criança, por meio de atividades que permitam a ampliação de seu universo cultural e cotidiano, com atividades esportivas, socioculturais29 e com conteúdos lúdicos e temas do cotidiano. O Projeto beneficia no módulo I, crianças de 6 a 10 anos e, no módulo II, crianças e adolescentes, de 11 a 14 anos. No Núcleo de Capacitação estão o Projeto Agente Jovem e o Projeto Crescer. O Projeto Agente Jovem, para jovens de baixa escolaridade e renda, com idades entre 15 e 17 anos, em situação de risco social ou em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto, visa capacitá-los para inseri-los no mercado de trabalho ou para participarem de grupos cooperados. O Projeto Crescer, voltado aos jovens com idades entre 17 e 25 anos, desempregados e chefes de família, oferece cursos voltados a rotinas administrativas, telemarketing e call center, além de promover a formação integral de jovens com base em conceitos voltados ao protagonismo e autodesenvolvimento.

2.2.5 OCA – Escola Cultural30

Criada em 1996 na Aldeia de Carapicuíba, a OCA – Escola Cultural visa garantir a crianças e adolescentes o direito ao desenvolvimento integral pela arte e cultura brasileira. Localizada em uma Aldeia Jesuítica de 1580, patrimônio histórico, a OCA conta, desde sua criação, com atividades que contemplam o repertório gestual, plástico, musical e literário da cultura brasileira, além da valorização da riqueza cultural do lugar, habitado predominantemente por migrantes. Para isso, os educadores registram histórias, gestos e tradições da comunidade para favorecer o reencontro com suas raízes culturais, meio de informação e formação de crianças, adolescentes, jovens e adultos.

A OCA atende, diretamente, 180 alunos e, indiretamente, 1.000 pessoas, considerando os programas de extensão do projeto em escolas públicas. Ainda que a Oca tenha entre seus eixos a criação de possibilidades de encaminhamento profissional de 24 Valor referente ao mês de fevereiro de 2015.

25 Cepac: Rua Martim Afonso de Souza, 72, Jardim Imperial, Barueri. http://www.cepacbarueri.org.br/

26 O Cepac tem registro nas instituições de assistência social, com destaque para o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDC). 27 Soabem: Av. Capitão Francisco César, 801. Vila Engenho Novo, Barueri-SP.

28 A Soabem; Rua Guarantan, 225. Engenho Novo. Barueri-SP.

29 Entre essas atividades destacam-se os jogos, aulas de teatro, música, dança, atividade física e informática. 30 A Oca – Escola Cultural, sede na Rua Xapuri, 600, Parque da Aldeia, Carapicuíba-SP.

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jovens nos programas de extensão e quanto à capacitação para o trabalho para adolescentes, não há qualquer explicitação quanto àqueles que estão em cumprimento de medida socioeducativa. 3 Conclusão

A dificuldade encontrada para a coleta dos dados aqui expostos revela temas que devem ser objeto de novas investigações. A ausência de informações e dados, em si, expressa o lugar que a proposição de ações de capacitação para o trabalho e inserção laboral de adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa ocupa na conformação de programas e projetos socioeducativos. A despeito das determinações legais e das diretrizes formuladas no âmbito do sistema socioeducativo, as lacunas verificadas em relação à oferta de ações voltadas ao tema do trabalho podem demonstrar tanto a sua secundarização como o desconhecimento de estratégias que podem efetivamente contribuir para a formação desses adolescentes. Observou-se, de um lado, que o Creas da zona sul não dispõe de registros sobre adolescentes que realizaram cursos e/ou foram encaminhados ao mercado de trabalho. A esse dado se junta, conforme destacado, a dificuldade para encaminhar esses adolescentes a cursos profissionalizantes, uma vez que estes não corresponderiam às suas demandas e à sua realidade. Ademais, entre as organizações pesquisadas que desenvolvem programas e/ou projetos de capacitação profissional ou que promovem inserção laboral de jovens, há menção aos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa em apenas uma delas.

Os dados coletados junto ao Creas da zona sul de Osasco mostraram que os adolescentes em liberdade assistida apresentam baixo grau de escolaridade, dificuldades de aprendizagem, reiterando os dados do cenário nacional. Diante da necessidade de (re)inseri-los no mundo escolar, evidenciam-se dificuldades desde a busca por vaga, o momento da matrícula, as questões que envolvem a adaptação no espaço da escola, adequação idade e o ano a ser cursado. Essas dificuldades e o descompasso entre as demandas do adolescente e a escola contribuem para que sejam encaminhados para as classes de Educação de Jovens e Adultos - EJA. A difícil inserção na escola e as poucas oportunidades reais na vida escolar têm implicações no seu cotidiano, pois, quando encontram alguma possibilidade de inserção laboral acabam não permanecendo, seja pela distância entre as demandas do trabalho seja pela fragilidade de sua formação mais geral. Essa dificuldade tem implicações nas relações sociais estabelecidas pelo adolescente que, marcadas pelo sentimento de desamparo e pela falta de alternativas para uma vida digna, abre espaço para o subemprego, para diferentes formas de trabalho precário e, no limite, para a inserção no mercado ilegal. Destaca-se, assim, a centralidade da articulação entre programas de capacitação para o trabalho com aqueles voltados à ampliação da escolaridade dos adolescentes, situação que impõe aos processos de formação ações educativas que considerem as reais condições sociais, econômicas e culturais desse adolescente.

Embora as instituições e organizações pesquisadas

focalizem os jovens em situação de vulnerabilidade social não há destaque para adolescentes em conflito com a lei. Ademais, os encaminhamentos de adolescentes para programas, serviços e projetos, que visam garantir o acesso aos direitos de cidadania e inseri-los no sistema educacional e no mundo do trabalho, convivem com incertezas e desafios, sobretudo para a concretização das ações propostas.

Referências

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