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Avaliação de programas de prevenção da violência: um estudo de caso no Brasil

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Avaliação de programas de

prevenção da violência: um estudo

de caso no Brasil

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Resumo

A violência atinge, de maneira cada vez mais fatal, os jovens no Brasil, o que vem estimulando diferentes ações preventivas. Dentre estas, destacam-se os programas que visam um desenvolvimento saudável. O objetivo deste trabalho é o de avaliar um programa de prevenção da violência juvenil com esta abordagem em uma área periférica do município de São Paulo/Brasil. Utilizou-se do estudo de caso, articulando métodos quantitativos e qualitativos, com adoção de um grupo controle. Obteve-se como resultado que a exposição à violência é alta tanto entre os adolescentes do projeto quanto do grupo controle. Entretanto, dentre ambos os grupos, o envolvimento em práticas de violência é baixo, sendo menor entre os adolescentes do projeto, embora esta diferença não seja estatisticamente significante. Conclui-se que o projeto não consegue incidir diretamente na diminuição da violência no bairro, porém atua positivamente na vida dos adolescentes, trazendo melhorias em seu comportamento, relações interpessoais e perspectivas sobre o futuro.

Palavras-chave: prevenção da violência, jovens, desenvolvimento saudável

Abstract

The violence is reaching, in an increasingly lethal manner, young people in Brazil. This context is fostering different kind of preventive actions. Among these actions the programs

       1

O trabalho de avaliação do Projeto RAC, do qual este artigo é decorrência, foi desenvolvido como parte do Armed Violence Prevention Program (AVPP). No Brasil, a implementação do AVPP conta com o apoio do

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), e dos Ministérios da Saúde e da Justiça, este através da Secretaria Nacional de Segurança Pública.             Maria Fernanda Tourinho Peres 1 Caren Ruotti2 Diego Vicentin3 Juliana Feliciano de Almeida4 Tais Viudes Freitas5   1 Coordenadora de Pesquisa,  Núcleo de Estudos da Violência,  Universidade de São Paulo  2 Pesquisadora, Núcleo de  Estudos da Violência,  Universidade de São Paulo  3 Pesquisador, Núcleo de Estudos  da Violência, Universidade de São  Paulo  4 Pesquisadora, Núcleo de  Estudos da Violência,  Universidade de São Paulo  5 Mestranda, Unicamp        Autor para correspondência:  mftperes@gmail.com 

Endereço  postal: Av.  Professor  Lúcio  Martins  Rodrigues.  Travessa  4  ‐  Bloco  2  ‐  Cidade  niversitária  ‐  CEP  05508‐020  ão Paulo ‐ SP ‐ Brasil  

U S

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focused on the healthy development stand out. The objective of this article is to evaluate a program of youth violence prevention with the approach of healthy development in a peripheral area of the City of São Paulo/Brazil. In this regard, a case study was carried on, with the articulation of qualitative and quantitative methods and with the presence of a control group. The result obtained was that there is a high exposure to violence in both the adolescents from the project and the ones in the control group. However, within the groups, the involvement in violence practices is low, and slightly lower among the adolescents of the project, although this difference is not statistically significant. The conclusion is that the project has not a direct influence on the decrease of the violence in the neighborhood. Nevertheless it has a positive influence on the lives of the adolescents, implying in better behavior, interpersonal relationships and perspectives about the future.

Key-words: violence prevention, youth, healthy development

Introdução

As mudanças nos padrões de violência nas últimas décadas, no Brasil, fortemente associadas ao crescimento da criminalidade violenta e à vitimização cada vez mais fatal de jovens, inclusive nos centros urbanos, vêm estimulando o desenvolvimento de programas de prevenção da violência voltados especificamente para o público juvenil. Procura-se, dessa maneira, a superação de uma postura essencialmente punitiva, a qual não é suficiente e nem apropriada para reverter os danos sociais e psicológicos causados pela violência.

Entretanto, esse ainda é um campo em construção, apresentando várias lacunas e desafios, os quais são próprios da complexidade do problema abordado, mas também das dificuldades inerentes aos processos de implementação e avaliação da eficácia dos programas de prevenção. Nesse sentido, ressalta-se, como grande entrave para ampliação e consolidação desse campo no país, a forma incipiente em que é adotada a prática de avaliação das intervenções desenvolvidas, trazendo dúvidas quanto aos programas que realmente conseguem obter resultados efetivos na prevenção da violência.

Mesmo em países em que a preocupação em avaliar os programas de prevenção da violência está mais avançada, ainda há uma série de incertezas, inclusive no que se refere às maneiras mais adequadas de se identificar o grau de eficácia e efetividade desses programas. Contudo, diversos ganhos já foram logrados. Em países como os Estados Unidos, que têm maior tradição na prática de avaliação, alguns resultados ajudam na melhor compreensão das causas da violência e das intervenções voltadas à prevenção.

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De acordo com uma revisão sistemática da literatura internacional sobre os programas de prevenção da violência juvenil cientificamente avaliados (Cardia, 2006), destaca-se como uma das vertentes mais promissoras os programas que visam promover o desenvolvimento saudável de jovens. Esta vertente é resultante de uma mudança de perspectiva que vem acompanhando o desenvolvimento dos programas e dos estudos realizados, pautada numa re-conceitualização do significado da adolescência e daquilo que se espera da prevenção. Embora promissora, a eficácia que o desenvolvimento saudável tem sobre a prevenção da violência juvenil ainda vem sendo objeto de estudo(Catalano et al, 2004, Lerner, 2005). Essa abordagem privilegia a capacidade juvenil para superação dos problemas; assim a adolescência, geralmente, tida como uma fase problemática do ciclo de vida, permeada por riscos, começa a ser tratada como uma fase de grandes possibilidades, dado o enorme potencial para a mudança. Contudo, essa abordagem considera primordiais as diferentes fases do desenvolvimento desde a infância, as quais, não sendo bem sucedidas, podem acarretar prejuízos na formação dos indivíduos. Isto significa que problemas encontrados na adolescência podem ter raízes em estágios anteriores, o que torna mais exitosos programas iniciados precocemente.

Ademais, os programas de prevenção da violência juvenil pautados nesse enfoque atuam de maneira mais abrangente, ao invés de terem como objetivo um único comportamento, passam a ter como alvo múltiplos problemas de comportamento em um contexto específico. Dessa maneira, a promoção do desenvolvimento saudável considera como essencial a vinculação dos jovens às diferentes esferas de socialização (família, escola, comunidade, grupo de pares), as quais devem suprir suas necessidades básicas e promover o desenvolvimento de suas capacidades, inclusive competências social, emocional e cognitiva. Dada a relevância que o contexto tem na promoção ou na privação de condições para este desenvolvimento, os programas de prevenção da violência que adotam esta abordagem procuram fortalecer os vínculos dos jovens com essas esferas, auxiliando-os na superação de suas dificuldades e no estabelecimento de uma perspectiva positiva em relação ao futuro. Além disso, um clima de apoio e empoderamento dos jovens é um dos fatores considerados potencializadores para se obter resultados satisfatórios.

O programa Redescobrindo o Adolescente na Comunidade (RAC), avaliado pelo NEV/USP, destinado à proteção do público juvenil em relação à violência, possui elementos condizentes com a abordagem do desenvolvimento saudável, uma vez que procura investir no desenvolvimento pessoal e social dos adolescentes e jovens bem como no de seus familiares, possibilitando a estes a construção de um projeto de vida e a sua inserção na sociedade. Este programa está localizado na Zona Sul do município de São Paulo, no distrito do Jd.

Ângela (DJA), o qual foi considerado a região mais violenta do

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parte de uma série de ações da Sociedade Santos Mártires, entidade não-governamental, com a finalidade de reduzir as taxas de violência e proporcionar uma melhor qualidade de vida à população. Em funcionamento desde 1999, o Projeto RAC acompanhava, em 2006, cerca de 270 adolescentes e jovens, de ambos os sexos, na faixa etária de 12 a 21 anos, tendo como foco de ação duas frentes específicas: o

Programa de Promoção de Direitos - PPD (oferta de cursos

semiprofissionalizantes para adolescentes em situação de vulnerabilidade social) e o Programa Sócio-Educativo em Meio

Aberto - PSE (Liberdade Assistida e Prestação de Serviço à

Comunidade), as quais são pensadas de modo articulado.

Neste artigo o nosso objetivo é analisar a efetividade do RAC, especificamente, do Programa de Promoção de Direitos, no que se refere à prevenção da violência e à promoção do desenvolvimento saudável de adolescentes.

Métodos e técnicas

A realização de uma pesquisa avaliativa é um componente indispensável no planejamento de qualquer programa destinado à prevenção da violência, como forma de produzir informações úteis que auxiliem na tomada de decisões e no aprimoramento do programa. Quando se pensa em medir a qualidade de um programa, alguns atributos devem ser considerados: disponibilidade e distribuição dos recursos, custos do programa, adequação das ações ao conhecimento técnico-científico, percepção dos usuários, efeitos e resultados do programa(Silva e Formigli, 1994).

Levando em consideração estes atributos, a estratégia adotada para a avaliação do Projeto RAC foi um estudo de caso, que buscou apreender a totalidade do programa a partir da articulação entre seus componentes (estrutura, processo e resultados). Este estudo aliou métodos quantitativos e qualitativos, a fim de analisar a relação entre o seu funcionamento e os resultados obtidos no que diz respeito, principalmente, à prevenção da violência. Assim, procura-se não apenas julgar os resultados, mas compreender o seu porquê.

É preciso destacar que, como esta avaliação trata de um programa em condições reais de funcionamento, diversos fatores podem interferir nos resultados obtidos. A impossibilidade de isolar a influência de elementos externos dos efeitos impulsionados pelas intervenções do Projeto RAC torna árdua a identificação dos fatores de proteção contra a violência. Com o intuito de contornar essa dificuldade, focamos nossa atenção nas percepções que os profissionais e adolescentes e jovens atendidos têm sobre os efeitos do programa em relação à prevenção da violência, às mudanças de comportamento e às expectativas frente ao futuro.

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Procurou-se aliar no modelo avaliativo tanto aspectos estruturais como operacionais do programa (Hartz et al, 1999). Para tanto, definiram-se como objetivos os seguintes aspectos: 1) descrição da estrutura do Projeto RAC (espaço físico, recursos humanos e materiais, tipo de intervenções realizadas e modo de gestão e financiamento); 2) descrição das características sócio-demográficas e de estrutura familiar dos adolescentes atendidos no RAC e de um grupo controle; 3) análise da percepção dos adolescentes sobre a violência e sobre o papel do RAC para sua prevenção; 4) análise da percepção dos profissionais técnicos e educadores sobre a violência e sobre o papel do RAC para sua prevenção; 5) identificação dos níveis de exposição e de prática de atos violentos pelos adolescentes atendidos no RAC e de um grupo controle; 6) avaliação dos resultados do RAC na prevenção da violência interpessoal.

Eixo quantitativo

Adotou-se um estudo com grupo controle e de medida em um só tempo. O grupo controle foi formado por adolescentes de uma escola da rede pública estadual, situada no distrito do Jd. Ângela, com faixa-etária compatível ao grupo PPD. Para ambos os grupos foi utilizado um questionário estruturado (auto-aplicável e anônimo), com o qual se procurou identificar informações sócio-demográficas, composição familiar, modelo de referência positiva, uso de álcool e drogas, exposição à violência e prática de ato violento.

A aplicação do questionário com os adolescentes do PPD foi feita no final do primeiro semestre de 2006, durante as oficinas, com 57 alunos. Nesse ponto é preciso ressaltar que esse número corresponde a cerca de 68% dos alunos que permaneceram até a conclusão dos cursos e, portanto, foram aqueles que tiveram uma maior adesão ao projeto, o que pode ser um viés na seleção da amostra.

A amostra do grupo controle foi pensada em uma escala 3:1, ou seja, uma amostra mínima de 171 adolescentes. A seleção dos alunos foi feita por meio de um sorteio simples das turmas, obtendo-se um total de 189 questionários. A aplicação do questionário com este grupo foi realizada no início do segundo semestre de 2006.

Eixo qualitativo

Os dados qualitativos foram obtidos por meio das seguintes

técnicas: observação das oficinas (visando descrever recursos disponíveis, modo de gestão e dinâmica das atividades); entrevista aberta com os coordenadores e membros da equipe de profissionais (sobre o funcionamento do projeto; principais obstáculos e pontos

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positivos; envolvimento dos adolescentes com a violência; centralidade da prevenção da violência na atuação do projeto e resultados obtidos) e grupo focal com os adolescentes do PPD (tendo como eixo central o papel do RAC na sua vida e a prevenção da violência).

Análise dos dados

Os dados quantitativos foram processados e analisados no SPSS 10.1. Realizou-se uma análise descritiva comparando os adolescentes do PPD com o grupo controle no que se refere às características sócio-demográficas, composição da estrutura familiar, uso de álcool e drogas, níveis de exposição à violência e prática de atos violentos. As diferenças encontradas foram testadas quanto à sua significância estatística com base no teste X2.

A análise dos dados qualitativos foi feita pela leitura e classificação das falas dos diversos atores sobre elementos de estrutura, processo e resultados, procurando comparar as diferentes perspectivas de acordo com grandes eixos temáticos.

Procurou-se, desse modo, articular os eixos quantitativo e qualitativo, identificando os pontos de convergência e divergência entre os resultados obtidos, pressupondo-se a sua complementaridade. Essa perspectiva se enquadra no modelo de triangulação de métodos(Minayo, Assis e Souza, 2005).

Resultados

Os adolescentes e jovens atendidos pelo Projeto RAC vivem em um contexto social no qual é grande a exposição à violência. De acordo com os resultados obtidos, verifica-se que são altas as taxas de vitimização tanto direta quanto indireta.

Ao se comparar os adolescentes e jovens do PPD com os do grupo controle nota-se uma semelhança quanto a essa vitimização, reflexo do contexto comum em que vivem. Em relação à vitimização direta destacam-se os altos níveis de violência grave encontrado em ambos os grupos, tais como ter algum parente próximo que foi ameaçado de morte (23,5% no grupo controle e 19,6% no PPD), ter algum parente próximo que foi assassinado (18,9% no grupo controle e 28,3% no PPD), ter algum parente próximo que foi ferido por arma de fogo ou faca (19,3% no grupo controle e 19,2% no PPD). No entanto, os adolescentes do PPD apresentaram maior exposição, estatisticamente significante (p<0,05), no que diz respeito a ter sido agredido com palavras de baixo calão e alguém ter lhe pedido informações sobre onde comprar drogas, de acordo com o gráfico 1.

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Gráfico 1: Vitimização direta por violência no bairro nos últimos 12 meses dos adolescentes do RAC e do grupo controle. São Paulo, 2006.

1,7 0 1,9 3,8 13,5 46,2 30,8 7,7 5,8 5,9 14,5 47,2 11,5 9,4 19,6 19,2 7,7 28,3 12,7 3,7 1,6 1,1 2,7 6,4 22,5 16,7 10,2 8 7 7 30,1 8,1 4,8 23,5 19,3 3,2 18,9 9,7 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Alguém ameaçou com revólver para roubar algo seu

Alguém o ameaçou com uma faca para roubar algo seu Você foi ferido por arma de fogo Algum policial ou autoridade o ameaçou para tirar-lhe algum dinheiro Você sofreu algum tipo de agressão ou maus tratos policiais Alguém lhe ofereceu drogas* Alguém lhe pediu informações sobre onde comprar drogas* Você sofreu agressão física de um desconhecido Você sofreu agessão física por alguém conhecido Você sofreu agressão física por colega ou amigo da mesma idade Você sofreu agessão física por membros da família Alguém o agrediu com palavras de baixo calão* Você sentiu necessidade de andar armado Você mudou de casa por medo ou ameaça de violência Você ou algum parente próximo foi ameaçado de morte Algum parente próximo foi ferido por arma de fogo ou faca Algum parente próximo foi sequestrado Algum parente próximo foi assassinado Algum parente próximo sofreu alguma agressão sexual

RAC Controle

Quanto à vitimização indireta, as maiores taxas encontradas se referem a presenciar alguém usando drogas na rua (54,3% no grupo controle e 50% no PPD) e a polícia prendendo alguém (40% no grupo controle e 43,2% no PPD). A exposição às formas graves de violência também foram altas em ambos os grupos, como ter assistido alguém levando um tiro (23,6% no grupo controle e 28,2% no PPD) e alguém sendo assassinado (26,5% no grupo controle e 39% no PPD). As diferenças entre os grupos não são estatisticamente significantes.

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Gra´fico 2: Vitimização indireta por violência no bairro nos últimos 3 meses dos adolescentes do RAC e do grupo controle. São Paulo, 2006.

16,7 25,9 28,2 43,2 39 25 34,2 13 50 18 17,6 23,6 40 26,5 29,9 33,3 9 54,3 0 10 20 30 40 50

Alguém sendo assaltado Brigas de guangues Alguém recebendo um tiro A polícia prendendo alguém Alguém que foi assassinado Tiroteios Alguém sendo agredido Alguém sendo ameaçado com uma

faca

Alguém usando drogas na rua

60 RAC Controle

O acesso a armas de fogo também é acentuado em ambos os grupos, sendo maior entre os adolescentes do PPD, embora a diferença não seja significante: 17,9% (PPD) e 11,7% (grupo controle).

A experiência da violência revela-se também no envolvimento dos adolescentes na condição de agentes. Não obstante, a proporção da violência perpetrada é muito inferior à vitimização. Nesse sentido, a semelhança com o grupo controle se mantém. Apenas no quesito sobre a participação em uma briga na escola, o grupo PPD apresentou proporções superiores as do grupo controle de forma significante (28,2% no grupo controle e 48,1% no PPD). Apesar disso, quando consideradas as doze questões formuladas, os adolescentes do grupo controle tiveram proporções mais elevadas de práticas de atos violentos em sete destas (58,3%) e os do RAC em cinco (41,7%). Estes últimos dados podem sugerir que a atuação do RAC tem proporcionado uma diminuição do envolvimento dos adolescentes em práticas de violência, atestando, embora discretamente, seu poder de prevenção. Este resultado revela o esforço do projeto em prover aos adolescentes fatores de proteção.

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Gráfico 3: Violência perpetrada por adolescentes do RAC e do grupo controle ao menos 1 vez nos últimos 12 meses. São Paulo, 2006.

48,1 3,8 7,7 30,2 3,8 3,4 0 1,9 1,9 1,9 3,8 0 28,2 6,4 8,5 21,8 8,5 1,1 1,1 3,2 0,5 2,1 1,6 2,1 0 10 20 30 40 50 6

Participou de uma briga na escola* Participou de um grupo que agrediu fisicamente uma pessoa Participou de um grupo que agrediu fisicamente outro grupo Começou uma briga com outra pessoa Roubou alguma coisa Arrombou algum lugar para roubar Foi preso por vender drogas Recebeu dinheiro por bens roubados Vendeu drogas ou trabalhou no tráfico Ameaçou alguém com arma de fogo Ameaçou alguém com qualquer tipo de arma Tentou forçar alguém a ter relações sexuais com você

0 RAC Controle

Os efeitos das intervenções do projeto RAC evidenciam-se também nas percepções dos seus participantes, os quais consideram, em grande medida, que o RAC exerce uma influência positiva em suas vidas. Dentre os adolescentes do PPD, 98% avaliaram que o RAC promoveu mudanças para melhor em suas vidas.

A melhoria nas relações interpessoais é um dos aspectos considerados importantes entre os objetivos do RAC. De acordo com as opiniões dos adolescentes, estas melhorias se fazem sentir nas diferentes esferas de sociabilidade. Entre os adolescentes do PPD ganha destaque a melhoria nas relações com os amigos (76,8%) e com a família (71,4%).

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Gráfico 4: Efeito do projeto RAC sobre os adolescentes participantes do PPD. São Paulo, 2006. 26,8 21,4 33,3 36,7 46,2 38,8 71,4 76,8 60,8 61,2 53,8 59,2 1,8 1,8 5,9 2 0 2 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0 Família Amigos Colegas na escola Professores na escola Outras pessoas do bairro Comunidade

Não teve influência Melhorou Piorou

Outras mudanças se fazem sentir por meio dos estímulos e subsídios propiciados pelo projeto na vida dos adolescentes. Desse modo, 98% dos adolescentes do PPD disseram que o RAC auxilia na construção de um projeto de vida e 96,4% na preparação para o mercado de trabalho. Para a maioria dos adolescentes, o RAC ajuda também a evitar se envolver em brigas (75%), usar álcool (80,8%) e consumir drogas (88,5%).

Gráfico 5: Efeito do RAC na vida dos adolescentes participantes do PPD. São Paulo, 2006.

3,6 1,9 25 11,5 19,2 96,4 98,1 75 88,5 80,8 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0

se preparar para o mercado de trabalho pensar em um projeto de vida

evitar se meter em brigas evitar usar drogas evitar usar álcool

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Discussão

Estes resultados indicam, por um lado, que a atuação do

Projeto RAC não consegue incidir decisivamente na dinâmica de

violência na região já que, como verificado, é alta a vitimização dos adolescentes, tanto dos que participam do projeto quanto daqueles do grupo controle. Mesmo porque essa violência remete a problemas estruturais de difícil alcance, principalmente, à sobreposição de carências sócio-econômicas e à consolidação de práticas ilegais, como o tráfico de drogas, o que torna árdua a tarefa de prevenção da violência.

Segundo a percepção dos profissionais e adolescentes do projeto, um dos principais motivadores para o envolvimento dos adolescentes com a criminalidade é a falta de dinheiro e emprego aliada à necessidade de consumo. Em um contexto propício, em que a violência se faz presente cotidianamente, a recorrência a práticas ilegais se torna uma forma imediata de conseguir dinheiro. Além disso, a ausência de opções de lazer e cultura, ainda de acordo com os entrevistados, favorece a ociosidade e a aproximação dos adolescentes com pessoas já inseridas em atividades criminosas, principalmente no comércio ilegal de drogas. Aliados a esses fatores contextuais, o distanciamento familiar e a fragilidade das relações afiguram-se como elementos que tornam os adolescentes mais vulneráveis ao envolvimento com a violência.

É tentando romper com esse ciclo que o RAC adota como estratégia a promoção de fatores de proteção para que o próprio adolescente mantenha-se distante dessa dinâmica, a partir do desenvolvimento de suas potencialidades e fortalecimento dos vínculos sociais e afetivos. A capacitação profissional, a complementação da educação formal, o estabelecimento de um espaço de sociabilidade pautado no respeito mútuo, a melhoria das relações familiares, o respeito às noções de direitos e deveres e o fomento da construção de um projeto de vida são tentativas de minimizar os efeitos negativos que afetam diretamente esses adolescentes, tão vulneráveis ao ciclo da violência. Nessa linha, o RAC se pretende fator de prevenção à violência na medida em que desenvolve um trabalho de orientação essencialmente educativa e formativa dos adolescentes.

Desse modo, diante da dificuldade em atacar problemas estruturais, como o desemprego, a renda familiar insuficiente, a má qualidade da educação pública, a violência urbana, o RAC procura atenuar os efeitos negativos dessa situação propiciando aos adolescentes a oportunidade de refletir sobre sua realidade e oferecendo subsídios para que possam melhor enfrentar os desafios cotidianos e se afastar do mundo da criminalidade. Nesse intento, o projeto oferece uma formação semiprofissionalizante, por meio dos cursos de cabeleireiro, manutenção de micros, teatro e música, hip-hop, pizzaiolo e inglês, nos quais são desenvolvidas, para além dos

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conteúdos profissionais específicos, habilidades básicas (leitura e escrita, arte e informática) e habilidades de autogestão, principalmente, noções de direitos e deveres.

Algo que se destaca não só durante as oficinas, mas ao longo de todo atendimento prestado pelo RAC, é a adoção de uma proximidade com os adolescentes, um tratamento igualitário. A formação desse espaço onde estão estabelecidas redes de amizades entre os próprios adolescentes e entre estes e os profissionais do projeto é um dos aspectos de grande relevância para a aprendizagem de uma nova forma de sociabilidade distante da violência e pautada no respeito mútuo. Nesse sentido, alguns dos profissionais acabam por figurar como modelos positivos para os adolescentes, os quais indicam seu apreço pela abertura dada ao diálogo e à compreensão nas relações estabelecidas cotidianamente. O comprometimento dos funcionários com o trabalho realizado é um fator preponderante para a concretização dessa vinculação.

A falta de perspectiva quanto ao futuro também é trabalhada de forma sistemática pelo projeto, objetivando que ao final dos cursos os adolescentes possam ter uma visão positiva e acreditar que é possível construir um projeto de vida e somar esforços para sua concretização, o que pressupõe a assunção de responsabilidade dos adolescentes perante sua trajetória. Dessa forma, o RAC procura estimular de maneira constante os adolescentes para que continuem estudando e tenham sua inserção profissional.

Contudo, é preciso ressaltar que, de acordo com a avaliação realizada, vários são os elementos, internos e externos, que agem como dificultadores para o alcance desses objetivos. Dessa maneira, o projeto nem sempre consegue atingir de maneira uniforme todos os adolescentes atendidos. Primeiramente, cabe destacar que os cursos oferecidos são de curta duração (seis meses), sendo um período muito reduzido para se obter mudanças substantivas na vida dos adolescentes. A possibilidade dada a estes de frequentar mais de um curso minimiza, de certa forma, essa limitação, mas isto não contempla todos os casos. Os estudos sobre prevenção da violência(Cardia, 2006) indicam que os programas com maior tempo de intervenção logram resultados mais positivos, assim como aqueles que se iniciam precocemente, ainda na infância. Este último aspecto torna-se também um desafio ao projeto, uma vez que atende apenas o público juvenil, fase na qual alguns valores já estão mais consolidados.

Um atendimento mais abrangente em relação às famílias, visando o desenvolvimento integral dos adolescentes é uma das metas do projeto, mas que ainda não foi alcançado. Recentemente, esforços vêm sendo feitos para conseguir o estreitamento dessa relação por meio da estratégia de atendimento familiar em grupo, o que pode resultar no fortalecimento dos vínculos dos adolescentes com o projeto.

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A adesão dos adolescentes ao PPD também é um problema, já que muitos não se mantêm até o final do curso ou apresentam frequência flutuante. A taxa de desistência no período avaliado foi de 26%. Embora algumas desistências possam sinalizar a inserção desses adolescentes no mercado de trabalho, mesmo em condições precárias, agindo dessa forma como fator protetivo, podem indicar também dificuldades de cunho mais individual dos adolescentes ou mesmo internos ao projeto.

Referente a este último item, foi constatada a carência de materiais, o que às vezes compromete a execução das atividades e o interesse dos alunos. Isto reflete a dependência de recursos financeiros provindos de instâncias, principalmente, públicas que são insuficientes e não oferecem estabilidade, uma vez que a mudança de gestão pode acarretar a extinção dos convênios firmados. Somado a este fato, tem-se uma deficiência no treinamento dos profissionais, o que afeta, em alguns casos, o planejamento das atividades e dos conteúdos ministrados.

Apesar dessas limitações, o resultado do trabalho desenvolvido pelo RAC é verificado por meio das percepções positivas, principalmente dos adolescentes em relação aos efeitos do projeto em suas vidas. Estes se referem à melhoria nas relações interpessoais (na família, com grupos de pares, na escola e na comunidade), ao menor envolvimento em situações de risco (uso de álcool e drogas e participação em brigas), à preparação para o mercado de trabalho e a melhores perspectivas frente ao futuro.

No que tange à prevenção da violência, esses resultados podem atuar como fatores de proteção, uma vez que propiciam um afastamento imediato dos adolescentes de situações de violência, o que pode explicar o menor envolvimento dos adolescentes do RAC como agentes de violência em comparação com o grupo controle. Ademais, a formação integral promovida pelo projeto, baseada na noção de direitos, amplia o alcance de suas intervenções, já que o adolescente torna-se mais preparado para enfrentar os desafios de sua inserção na sociedade e para agir também como multiplicador dos conhecimentos adquiridos. Esse último aspecto revela a possibilidade de o RAC trazer benefícios para a prevenção da violência na própria comunidade.

A ampliação desses efeitos é potencializada pelo fato de o RAC fazer parte da rede de serviços da Sociedade Santos Mártires que conta com 23 programas com diferentes intervenções no atendimento da população do DJA. Esta atuação em rede permite que ações fora do alcance do projeto sejam realizadas, oferecendo um atendimento mais completo ao adolescente e a seus familiares, essencial para o desenvolvimento saudável pretendido.

Em suma, apesar de a avaliação constatar problemas estruturais no funcionamento do projeto, os resultados revelam o seu

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potencial preventivo em relação à violência ao adotar como estratégia o desenvolvimento pleno dos adolescentes, para que estes percorram trajetórias mais promissoras e longe da criminalidade.

Referências

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CARDIA, N. G. Estado del arte de los programas de prevención de

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http://www.nevusp.org/downloads/down163.pdf. Acesso em 07 de

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CATALANO, R. F. et al. Positive Youth Development in the United States: Research Findings on Evaluations of Positive Youth Development Programs. Annals, AAPSS, 591, January 2004, p.98-124.

HARTZ, Z. M. et al. Avaliação dos programas de saúde: perspectivas teórico-metodológicas e políticas institucionais. Ciências e Saúde

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LERNER, R. M. et al. Positive Youth Development, Participation in Community Youth Development Programs, and Community Contributions of Fifth-Grade Adolescents: Findings from the First Wave of the 4-H Study of Positive Youth Development. Journal of

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MINAYO, M. C., ASSIS, S. G., SOUZA, E. R. (orgs.). Avaliação

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