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NACAOB: Potencialidades e alguns resultados

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Academic year: 2021

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NACAOB: Potencialidades e alguns resultados

Dario Scott (Unicamp) Ana Silvia Volpi Scott (Unicamp)

Resumo

Um dos principais problemas dos demógrafos historiadores reside no fato de que, frequentemente, utilizam em suas pesquisas fontes que não foram elaboradas com o objetivo de estudar a dinâmica demográfica das populações. Entre essas fontes, destacam-se os registros paroquiais de batizado, casamento e óbito. Visando dar uma contribuição para a coleta, organização e exploração sistematizada desse conjunto documental, esta comunicação apresenta uma ferramenta desenvolvida especificamente para o uso desses registros, o NACAOB, que alimenta um banco de dados que dá suporte para análises de cunho demográfico. Paralelamente, a apresentação do software, pretende-se discutir suas potencialidades e apresentar alguns resultados baseados na utilização desta ferramenta, que tem sido utilizada por

pesquisadores que integram o projeto integrado e interinstitucional “Além do

Centro-Sul: por uma história da população colonial nos extremos dos domínios portugueses na América”, que conta com o apoio do CNPq.

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NACAOB: Potencialidades e alguns resultados

Dario Scott (Unicamp) Ana Silvia Volpi Scott (Unicamp)

Resumo

Um dos principais problemas dos demógrafos historiadores reside no fato de que, frequentemente, utilizam em suas pesquisas fontes que não foram elaboradas com o objetivo de estudar a dinâmica demográfica das populações. Entre essas fontes, destacam-se os registros paroquiais de batizado, casamento e óbito. Visando dar uma contribuição para a coleta, organização e exploração sistematizada desse conjunto documental, esta comunicação apresenta uma ferramenta desenvolvida especificamente para o uso desses registros, o NACAOB, que alimenta um banco de dados que dá suporte para análises de cunho demográfico. Paralelamente, a apresentação do software, pretende-se discutir suas potencialidades e apresentar alguns resultados baseados na utilização desta ferramenta, que tem sido utilizada por

pesquisadores que integram o projeto integrado e interinstitucional “Além do

Centro-Sul: por uma história da população colonial nos extremos dos domínios portugueses na América”, que conta com o apoio do CNPq.

Palavra chave: Demografia histórica; banco de dados, registros paroquiais.

INTRODUÇÃO

O software NACAOB, que será apresentado e discutido nesta comunicação, tem uma trajetória que remonta aos inícios da década de 1990. Desde então, ele foi sendo constantemente aperfeiçoado para atender as demandas dos pesquisadores que atuam no campo da demografia histórica e que se valem, para seus estudos, das séries de assentos paroquiais produzidas com regularidade e uniformidade pela igreja católica, desde os inícios dos tempos modernos.

É importante situar essa etapa inicial para compreender e avaliar as atualizações subsequentes que foram integradas à ferramenta que hoje está sendo utilizada por demógrafos historiador e historiadores que integram o

Grupo de Pesquisa CNPq – Demografia & História, liderados por Sergio

Nadalin (UFPR), que estão trabalhando no projeto integrado e interinstitucional

“Além do centro-Sul”1.

1 Além do Centro-Sul: por uma história da população brasileira nos extremos da América portuguesa, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa CNPq Demografia & História. Link do grupo veja: http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0103606I5VSA6C.

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Nos inícios dos anos 1990 a lógica que informava a construção de bancos de dados, na maioria dos casos, utilizava banco de dados estruturado a partir do software Dbase e o NACAOB funcionava, obedecendo essa estrutura da base de dados, no formato “mono-usuário”.

Na lógica dos estudos de demografia histórica que eram desenvolvidos naquela época, e que se inspirava nas monografias paroquiais francesas, o

programa NACAOB trabalhava numa versão “mono-usuário”, isto é, cada

paróquia ou freguesia era tratada individualmente, estando “salva” e com seus dados armazenados em diretórios diferentes, no equipamento (hardware) pessoal de cada pesquisador ou no da instituição à qual estava vinculado. Portanto, adequava-se perfeitamente, tanto aos programas e softwares disponíveis no mercado, quanto às demandas individuais dos pesquisadores.

A ideia de desenvolver um software que atendesse pesquisadores que trabalhavam no âmbito da Demografia Histórica nasceu de uma demanda específica de um projeto que estudava os comportamentos demográficos e familiares de uma comunidade no noroeste de Portugal. Assim a versão original do NACAOB teve sua arquitetura lógica e sua estrutura de banco de dados “pensada” e desenvolvida tendo como referência a realidade dos registros paroquiais portugueses, que diziam respeito a uma população que se organizava em torno de uma sociedade muito diferente daquela que se estruturou no Brasil no período colonial e imperial. O que isso quer dizer, de um ponto de vista mais geral, é que o banco de dados não havia sido projetado inicialmente para incorporar, por exemplo, a população escrava, segmento que conformava parcela fundamental da nossa população, não apenas por conta de aspectos demográficos, como também a questões complexas ligadas às hierarquias sociais, econômicos, culturais, políticas.

Em Portugal, o contato com trabalhos desenvolvidos por Norberta Amorim, pesquisadora reconhecida no campo da demografia histórica portuguesa, e que estimulavam a produção de monografias paroquiais, utilizavam também o DBASE como banco de dados, obedecendo a mesma lógica de estudo individual, com cada pesquisador organizando e inserindo os dados da “sua paróquia”.

A inspiração para o desenvolvimento do NACAOB seguia a trilha proposta por Louis Henry, que organizava as informações a partir de fichas de

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ato para, em etapa posterior, elaboraria as conhecidas fichas de família, que permitem as análises demográficas.

Por outro lado, a proposta de Norberta Amorim era agilizar o processo

de elaboração das fichas de família, “queimando” a etapa da coleta individual

por atos (batizado, casamento e óbito), partindo diretamente dos batizados, para a elaboração da ficha de família. Esse procedimento levou ao desenvolvimento da metodologia de reconstituição de paroquiais. Anos depois, o grupo coordenado por Norberta Amorim, e que tinha a colaboração de informáticos vinculados à Universidade do Minho, desenvolveu, nos anos 2000, o “Sistema de Reconstituição de Paróquias” (SRP), inserindo as fichas de família em um banco de dados.

De lá para cá muitas mudanças ocorreram, não apenas em termos de mudanças de paradigmas científicos, que valorizam as redes colaborativas, o trabalho em equipe, e que implicaram em transformações nas relações entre pesquisadores. Hoje a palavra de ordem é a colaboração através de redes de investigação que, inclusive, apostem na internacionalização desta colaboração e parceria.

Essas alterações podem ser de grande valia para o desenvolvimento dos estudos no campo da Demografia Histórica, uma vez que não é novidade o reconhecimento do grande investimento de recursos humanos, financeiros e de tempo, para a transformação de dados não elaborados com fins demográficos em banco de dados que permita a análise da dinâmica e da estrutura demográfica das populações do passado.

A viabilização de trabalhos colaborativos, que integrem pesquisadores com formação variada e de distintas instituições (nacionais e internacionais) foi possível também graças às inovações tecnológicas que disponibilizaram recursos técnicos que operacionalizam, a custos acessíveis, bancos de dados maiores, mais potentes e com mais recursos.

O desenvolvimento das versões sucessivas do NACAOB tem procurado incorporar todas as mudanças citadas, sobretudo as de caráter tecnológico. Pretende oferecer, aos pesquisadores que se interessam em usar essa ferramenta, um software com uma arquitetura lógica reorientada para o trabalho em redes colaborativas.

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Nesse sentido, desde a implantação do projeto do Grupo de Pesquisa Demografia & História, o NACAOB foi sendo ajustado e redesenhado para atender as novas demandas do grupo de pesquisadores, liderados por Sergio Nadalin.

Assim, desde 2009 o NACAOB passou para a versão visual e multiusuário. A lógica do trabalho isolado de cada pesquisador está sendo, gradativamente, substituída pelo uso da nova versão da ferramenta que permite a alimentação simultânea das bases de dados, por distintos pesquisadores, estudantes e bolsistas, embora as bases permaneçam organizadas por paróquia/freguesia.

Esta comunicação pretende apontar as potencialidades e alguns resultados do uso do NACAOB.

Materiais e Métodos

O NACAOB (NAscimentos/CAsamentos/ÓBitos) foi desenvolvido para trabalhar com a fonte clássica utilizada pelos estudiosos da Demografia Histórica.

Uma das primeiras alterações na estrutura do programa na versão visual e multiusuário foi o ajuste para a inserção do segmento cativo da população, permitindo a “entrada” de dados relativa aos escravos e aos seus respectivos

proprietários. Nessa mudança, aproveitamos para implementar o

compartilhamento de dados padronizados entre todas as bases (freguesias) que estão sendo trabalhadas na plataforma, através da utilização de um banco de dados em SQL, hospedado em um provedor, que permite o acesso dos usuários (desde que cadastrado pelo administrador do sistema e que tenha uma senha para efetuar o login) de qualquer lugar, que tenha conexão com a internet.

No projeto de atualização do NACAOB contamos com o apoio do CNPq, através dos projetos Além do Centro Sul e Família e sociedade no Brasil

Meridional (1772 – 1872)2 e, através de reuniões com os pesquisadores de

diversas instituições envolvidos nos projetos, trabalhamos para suprir todas as

2 “Família e sociedade no Brasil Meridional (1772 – 1872)” coordenado por Ana Silvia Volpi Scott com apoio do CNPq, através de Editais, Bolsa de Produtividade e Bolsas de Iniciação Científica.

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necessidades dos demógrafos historiadores na coleta e na organização dos dados extraídos dos registros paroquiais.

Mantivemos todas as ferramentas de auxílio desenvolvidas na versão monousuário e incluímos novos campos na base procurando assim, reproduzir fielmente o documento original na plataforma digital.

A estrutura do banco de dados é relativamente simples, possui quatro tabelas principais: as tabelas de eventos (batizados, casamentos e óbitos) e a tabela de indivíduos (que permite a inserção de todos os indivíduos que foram arrolados em cada evento). Além dessas, temos tabelas de apoio que têm funções auxiliares, para ajudar os pesquisadores a incluir dados relativos a cada evento, de forma padronizada, por exemplo, naturalidade, ocupação, título ou patente, cor, causa morte. As tabelas de apoio são permanentemente atualizadas a cada nova informação que for inserida, seja uma ocupação, uma naturalidade, ou outro dado qualquer que ainda não esteja cadastrado no sistema.

Entre as melhorias incorporadas na versão visual, relativa às tabelas de apoio está no campo “nome”. Ela permite que o pesquisador efetue o registro na grafia original da fonte e a sua equivalente, padronizada (por ex. Joseph, Joze, José => padronizado para José). Esse recurso é fundamental para fontes nominativas, porque facilita o posterior cruzamento, seja entre os próprios registros paroquiais (para o caso da elaboração da ficha de família) ou para o cruzamento com fontes nominativas de outro tipo, como inventários, listas nominativas, etc. Equivale dizer que, mesmo que o nome José tenha sido escrito de formas diferentes, ele será padronizado para José.

O software também dispõe de tabelas auxiliares fixas, que padronizam informações sobre o papel que cada indivíduo desempenha no evento. As

tabelas são: “RelacaoEvento” (relação com o evento, herdeiro(a); madrinha;

procurador; padrinho; testamenteiro; testemunha), “RelacaoFamiliar” (relação

familiar conforme Tabela 1), “RelacaoCasamento” (Relação ao casal -noivo ou

noiva, somente utilizado nos registros de casamento), “Sexo” (M-masculino,

F-feminino, I-ilegível), “EstadoCivil” (estado civil, C-Casado(a); D-Divorciado(a);

F-Falecido(a); Q-Desquitado(a); S-Solteiro(a); V-Viuvo(a)); “CondicaoJuridica”

(condição jurídica do indivíduo, A-Administrado; E-Escravo; F-Forro; G-Ingênuo; L-Livre; S-Servo).

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Tabela 1 - Relação “Familiar” com o indivíduo principal do evento Cód. Descrição CA Cunhada CJ Conjuge CO Cunhado CS Consignatário ET Enteado(a) FL Filho(a) GA Sogra GN Genro GO Sogro IA Irma IO Irmão MA Mãe MD Madrasta MM Avó Materna MP Avô Materno MR Primo(a) Materno MT Tio(a) Materno NA Neta NO Neto NR Nora PA Pai PD Padrasto PM Avó Paterna PP Avô Paterno PR Primo(a) Paterno PT Tio(a) Paterno RC Receptor de exposto SA Sobrinha SO Sobrinho SR Proprietário Esc. TP Transportador Esc.

Fonte: NACAOB extração Janeiro 2018

Podemos verificar na tabela 1 que incluímos os códigos SR e TP (proprietário e transportador de escravo respectivamente) apesar de não terem relação de parentesco com o indivíduo principal do ato, assim como o RC (receptor de exposto). Essas inserções foram resultado de situações não previstas anteriormente, com as quais os pesquisadores se depararam.

Os dados inseridos por cada um dos pesquisadores são disponibilizados através de extrações periódicas ou por demanda, em formato de planilha (EXCEL). Na tabela 2 podemos observar o exemplo da estrutura da extração de indivíduos.

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Tabela 2 – Estrutura dos dados extraídos do NACAOB para indivíduos

Nome do campo Descrição do campo

CodIND Código do individuo

CodBAT Código do batizado

CodCAS Código do casamento

CodOBI Código do óbito

Codproprietario Código do indivíduo proprietário Rel Familiar Código da relação familiar Rel Evento Código da relação com o evento Rel Casamento “NO” ou “NA” nos casamentos IdAtributo Código do atributo

Atributo Descrição do atributo

Nome Nome como no original

Leg Legitimidade

Sexo Sexo

EC Estado Civil

CJ Condição jurídica

Cor Cor

IdNat Código da naturalidade

IdRes Código da residência

IdOcup Código da ocupação

IdAss Código da assinatura

Naturalidade Descrição da naturalidade Residência Descrição da residência Ocupação Descrição da ocupação

Data BAT Data do batizado

Dia semana BAT Dia da semana do batizado

Data CAS Data do casamento

Dia semana CAS Dia da semana do casamento

Data OBI Data de óbito

Consolidado Campo lógico S/N

IdIndividuoConsolidado Código do indivíduo consolidado IdFamilia Código da família

IdFamiliaOrigem Código da família de origem

IIND Número de ordem do indivíduo no ato (0, 1, 2, ...) CausaMorte Código da causa de morte

Descricao Descrição da causa de morte como no documento

IOBS Observação do indivíduo

BaseBAT Código da base de batizado BaseCAS Código da base de casamento BaseOBI Código da base de óbito IdadeOBI Idade informada ao óbito IdadeCOBI Idade calculada ao óbito FaixaObito Quinquênio dos óbitos FaixaCAS Quinquênio dos casamentos

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Nome do campo Descrição do campo

FaixaBAT Quinquênio dos batizados Data Nascimento Data de nascimento

IdadeDia Idade em dias

IdadeMes Idade em meses

IdadeAno Idade em anos

Sacramento Campo lógico S/N Testamento Campo lógico S/N

IdFamiliaConsolidada Código da família consolidada Nome padronizado Nome com a grafia padronizada

Ano BAT Ano do batizado

Mês BAT Mês do batizado

Ano CAS Ano do casamento

Mês CAS Mês do casamento

Ano OBI Ano do óbito

Mês OBI Mês do óbito

idadeInformada Idade informada

Cód classe CM Código da classificação da causa de morte Causa Morte Descrição da classificação da causa de morte

GP_idade Grupo etário

Fonte: NACAOB extração Janeiro 2018

Como podemos verificar na tabela 2, os campos utilizados são intuitivos e permitem ao pesquisador (aquele que mais conhece a fonte de dados utilizada) uma análise de diversas variáveis, de forma individual ou correlacionada.

Potencialidades e limitações

A criação de um banco de dados compartilhado entre diversos pesquisadores atua como um facilitador do trabalho no campo da demografia histórica, pelo menos em duas frentes: em primeiro lugar porque o trabalho desenvolvido por uma equipe de pesquisadores pode viabilizar a construção de bases de dados que englobem mais localidades, inclusive as maiores e que, consequentemente, incorporam população mais volumosa, dando mais consistência aos resultados, que não estariam limitados a pequenas paróquias rurais, como eram as já citadas monografias francesas e, em certa medida, foram replicados nos vários estudos desenvolvidos em Portugal, sob a direção de Norberta Amorim; em segundo lugar, bases de dados mais alargadas e que incluam diversas regiões e períodos abrem o caminho para análises comparadas, facilitadas inclusive porque os dados inseridos nas bases são

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padronizados e obedecem a procedimentos uniformizados, que foram definidos pelos integrantes do grupo.

Tabela 3 – Situação atual dos registros no NACAOB (Março 2018)

Fonte: NACAOB extração Janeiro 2018

A tabela 3 apresenta o estágio do banco de dados NACAOB em março de 2018. Por ser um trabalho colaborativo está em permanente mudança a partir da inserção de novos dados ou ajuste e correções nos dados já cadastrados. São 24 as freguesias cadastradas, que conformam um conjunto de mais de 98.000 assentos de batizado, 12.000 assentos de casamento e 54.000 registros de óbito. Neste universo a base conta com mais de 770.000

registros de indivíduos3.

Ainda no que refere à tabela 3, fica evidenciada a amplitude geográfica e temporal do banco de dados. O núcleo duro está composto pelas freguesias que integram o Grupo de Pesquisas Demografia & História e o projeto Além do

Centro-Sul 4 . Também fica claro o leque abrangente de instituições e

pesquisadores que fazem uso do NACAOB.

3 Esse número engloba os indivíduos que foram registrados nos distintos atos. É importante sublinhar que um indivíduo pode aparecer em diferentes atos. Um indivíduo que nasceu, casou uma vez, teve três filhos registrados na paróquia e lá faleceu, foi registrado, no mínimo em seis “atos”. Além disso, esse mesmo indivíduo pode ter sido registrado também como padrinho, avô, proprietário de escravo etc. A partir do cruzamento nominativo dos registros, o passo seguinte é “consolidar” toda a informação relativa a uma mesma pessoa. Isso gera uma ferramenta de análise ímpar, pois o pesquisador acompanha toda a trajetória desse indivíduo, os diversos papéis desempenhados, os atributos recebidos (de cor, condição jurídica etc) e se eles variaram ao longo de sua vida.

4 Para um panorama do projeto veja-se Nadalin & Scott (2017). Total Ano inicial Ano final Total Ano inicial Ano final Total Ano inicial Ano final

1 BR, RS, Porto Alegre, Nossa Senhora da Madre de Deus 33648 1772 1870 4618 1772 1855 32014 1772 1873 UNICAMP Ana Silvia Volpi Scott 8 BR, PA, Belém, Santana 692 1804 1895 861 1793 1869 UFPA Antonio Otaviano 12 BR, SP, Espirito Santo do Pinhal, Nova Lousã 200 1870 1888 39 1871 1888 UNICAMP Ana Silvia Volpi Scott 13 BR, PA, Belém, Sé 22686 1776 1889 335 1801 1850 UFPA Antonio Otaviano 14 BR, PA, Belem, N. S. de Nazaré 5861 1784 1889 4 1883 1883 UFPA Antonio Otaviano 15 BR, RS, Nossa Senhora da Conceição de Viamão 2449 1747 1792 184 1747 1759 1761 1748 1796 UNICAMP Ana Silvia Volpi Scott 16 BR, RS, Freguesia de São José de Taquari 131 1766 1774 284 1767 1801 IFRS Gabriel Berute 17 BR, SP, Franca, Nossa Senhora da Conceição 8 1830 1830 5 1812 1840 2 1814 1854 UNESP MARILIA Paulo Teixeira 18 BR, RS, Freg. Nossa Senhora do Rosário, Rio Pardo 581 1755 1801 1 1759 1759 UNISINOS Max Ribeiro 19 BR, CE, Quixeramobim 6797 1755 1834 UNICAMP Maísa Faleiros 20 PT, Minho, São Tiago de Ronfe 1447 1700 1877 299 1700 1861 898 1700 1883 UNICAMP Ana Silvia Volpi Scott 21 PT, Lousã 4547 1860 1889 1040 1860 1889 2589 1860 1889 UNICAMP Ana Silvia Volpi Scott 24 BR, RN, Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação 3871 1683 1874 2011 1727 1912 9593 1728 1950 UFRN Carmen Alveal / Luciana Lima 26 BR, RN, Freguesia Nossa Senhora dos Prazeres de Goianinha 2263 1832 1886 1506 1823 1885 3248 1800 1911 UFRN Carmen Alveal / Luciana Lima 27 BR, RN, Canguaretama. 107 1844 1845 UFRN Carmen Alveal / Luciana Lima 28 BR, RS, Freguesia do Senhor Bom Jesus do Triunfo 21 1757 1758 UNICAMP Ana Silvia Volpi Scott 29 Colonia Sacramento 1278 1472 1771 48 1741 1743 UFRGS Fábio Kühn 33 Picada Bom Jesus e Picada Pomerana 340 1868 1901 65 1868 1987 106 1868 1984 UFPR Sérgio Nadalin 35 BR, MA, Nossa Senhora das Dores do Itapecuru 318 1813 1821 UFMA Antônia da Silva Mota 36 BR, BA, Santiago do Iguape 5436 1704 1835 2176 1830 1855 USP Carlos Bacellar 39 BR, RN, Angicos 408 1880 1899 1063 1844 1864 UFRN Carmen Alveal / Luciana Lima 40 BR, MA, Nossa Senhora da Luz (Catedral) 369 1790 1806 UFMA Antônia da Silva Mota 42 BR, PE, Olinda, São Pedro Mártir 3779 1821 1924 434 1817 1920 UNESP MARILIA Paulo Teixeira 47 BR, MG, Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre dos Carijós 1722 1718 1762 483 1727 1758 Roberto Belisário

Pesquisador

id Localidade

Batizados Casamentos Óbitos

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Tabela 4 – Batizados e Óbitos por quinquênios Sexo e Condição Jurídica

Fonte: NACAOB extração Março 2018

A título de exemplo, a tabela 4 apresenta a distribuição dos batizados e óbitos cadastrados (para o conjunto das freguesias), no largo arco temporal que abrange os finais do século XVII e a primeira metade do XX. Se considerarmos apenas as freguesias situadas no território atual do Brasil, no

período escravista5, veremos que os dados desta tabela reúnem informações,

por exemplo, sobre 92.030 batizados, que se repartem em 76,7% de homens

5 O que implica na exclusão das paróquias 20 e 21 (São Tiago de Ronfe e Lousã), que foram objeto de estudo em projetos anteriores, que analisaram localidades portuguesas.

Livres Escravos Total Livres Escravos Total Livres Escravos Total Livres Escravos Total

- 23 5 28 49 4 53 81 26 26 31 31 57 1680-84 3 5 8 5 5 13 1685-89 17 15 32 30 14 44 76 1690-94 72 23 95 84 19 103 198 1695-99 83 25 108 72 35 107 215 1700-04 87 30 117 91 36 127 244 1705-09 117 75 192 81 88 169 361 22 22 31 31 53 1710-14 128 240 368 125 274 399 767 26 26 32 32 58 1715-19 79 136 215 61 177 238 453 11 11 16 16 27 1720-24 57 102 159 54 125 179 338 14 14 32 32 46 1725-29 74 172 246 70 162 232 478 30 23 53 41 23 64 117 1730-34 211 204 415 212 177 389 804 65 144 209 44 41 85 294 1735-39 264 134 398 244 153 397 795 55 96 151 45 10 55 206 1740-44 336 141 477 371 152 523 1000 29 32 61 26 15 41 102 1745-49 292 209 501 286 161 447 948 31 17 48 46 18 64 112 1750-54 351 132 483 328 117 445 928 46 34 80 34 39 73 153 1755-59 570 44 614 584 38 622 1236 40 32 72 24 30 54 126 1760-64 289 20 309 283 15 298 607 97 41 138 78 25 103 241 1765-69 190 3 193 212 3 215 408 143 52 195 80 40 120 315 1770-74 216 24 240 213 21 234 474 129 64 193 68 41 109 302 1775-79 156 68 224 155 76 231 455 221 85 306 73 53 126 432 1780-84 343 108 451 303 93 396 847 187 109 296 134 74 208 504 1785-89 224 113 337 209 112 321 658 208 102 310 142 65 207 517 1790-94 107 105 212 118 115 233 445 328 145 473 202 99 301 774 1795-99 106 318 424 122 289 411 835 253 197 450 180 96 276 726 1800-04 551 513 1064 581 434 1015 2079 391 286 677 243 210 453 1130 1805-09 691 508 1199 657 526 1183 2382 512 432 944 371 298 669 1613 1810-14 762 530 1292 775 500 1275 2567 639 467 1106 413 332 745 1851 1815-19 969 479 1448 911 453 1364 2812 995 673 1668 656 468 1124 2792 1820-24 2118 748 2866 2037 730 2767 5633 829 637 1466 616 419 1035 2501 1825-29 2019 765 2784 2030 675 2705 5489 1115 928 2043 923 712 1635 3678 1830-34 2629 843 3472 2595 847 3442 6914 1109 1022 2131 954 774 1728 3859 1835-39 1048 506 1554 1019 472 1491 3045 1420 1078 2498 1306 868 2174 4672 1840-44 1453 760 2213 1538 735 2273 4486 1374 988 2362 1458 713 2171 4533 1845-49 1558 816 2374 1515 764 2279 4653 919 562 1481 767 418 1185 2666 1850-54 1246 530 1776 1463 506 1969 3745 1018 455 1473 1114 378 1492 2965 1855-59 1601 481 2082 1594 490 2084 4166 677 259 936 761 235 996 1932 1860-64 1961 412 2373 1958 403 2361 4734 625 159 784 727 149 876 1660 1865-69 1743 329 2072 1826 388 2214 4286 818 157 975 847 120 967 1942 1870-74 2404 123 2527 2485 107 2592 5119 719 84 803 773 68 841 1644 1875-79 2519 2 2521 2423 6 2429 4950 1095 13 1108 1120 10 1130 2238 1880-84 2218 2218 2266 2266 4484 895 2 897 846 16 862 1759 1885-89 1175 1175 1128 1128 2303 563 563 521 1 522 1085 1890-94 24 24 21 21 45 186 186 184 184 370 1895-99 15 15 20 20 35 10 10 6 6 16 1900-04 10 10 3 3 13 113 113 94 94 207 1905-09 39 39 46 46 85 1910-14 77 77 87 87 164 1915-19 336 336 281 281 617 1920-24 1 1 1 4 4 5 5 9 1925-29 527 527 495 495 1022 1930-34 287 287 248 248 535 1935-39 137 137 189 189 326 1940-44 167 167 178 178 345 1945-49 119 119 171 171 290 1950-54 2 1 3 3 19 19 17 17 36 Homens

Período Mulheres Total

Geral

Batizados Óbitos

Homens Mulheres Total Geral

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livres, 23,3% de homens cativos; 77,1% de mulheres livres e 22, 9% de mulheres escravizadas. No que diz respeito aos óbitos, temos 46.188 assentos, que se distribuem em 63,2% de homens livres, 36,8% de escravos e, entre as mulheres, temos 66,9% de livres e 33,1% de cativas.

A análise do banco de dados por freguesia mostra que a freguesia da Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre é a que possui o conjunto de dados mais robusto, reunindo entre batizados e óbitos (de livres e escravos) 65.617 registros cadastrados.

As potencialidades de exploração dos dados inseridos no NACAOB são enormes e aumentam na medida em que as séries sejam mais completas e sem lacunas ao longo do tempo, como se vê pelo caso da Madre de Deus de Porto Alegre, que reúne registros indexados entre 1772 (criação da freguesia) até 1872 (ano do primeiro recenseamento geral da população brasileira).

De outra parte, aqui cabe lembrar mais uma potencialidade do NACAOB, que permite comparar os dados que foram transcritos e inseridos na plataforma digital e confrontá-los com a imagem do documento original (se estiver disponível). O acoplamento pode ser feito através de link com as imagens digitalizadas pelos pesquisadores e/ou disponíveis através, por exemplo, do site “Family Search”, mantido pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (mais conhecida como Mórmon).

Claro está que há limitações na utilização do NACAOB, uma delas, de

ordem técnica, uma vez que o programa só funciona com acesso à internet e

no sistema operacional Windows XP ou superior (inclusive Windows 10) com o Microsoft.NET Framework 3.5 instalado. Também é necessário lembrar que a intervenção do administrador do NACAOB na inclusão de novas freguesias e usuários (bolsistas e/ou pesquisadores) para utilizarem a ferramenta é requisito essencial para acessar o banco de dados. Para mais, atualmente ainda não está disponível a possibilidade de efetuar extrações diretas do banco de dados, que está hospedado em um provedor comercial e, por isso requer que o administrador disponibilize as extrações de dados atualizadas para os respectivos pesquisadores. As atualizações são feitas periodicamente, ou sob a demanda dos interessados.

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Resultados: aplicação do NACAOB em um estudo de caso

Aqui exploraremos a aplicação do NACAOB ao estudo da mortalidade, numa perspectiva comparada entre a população livre e escrava, a partir do caso da Madre de Deus de Porto Alegre (1772-1872). A motivação vincula-se a dois aspectos: 1) o fato do estudo da mortalidade ser um tema pouco explorado nos estudos de demografia histórica no Brasil; 2) o fato, já apontado em outros trabalhos, da qualidade dos registros de óbito desta freguesia.

Contudo, foi necessário utilizar outras fontes para podermos estimar a população total da freguesia ao longo do período selecionado, conforme podemos ver na tabela 5, para calcular, por exemplo as taxas brutas de mortalidade e natalidade.

Tabela 5 – Evolução da População da Freguesia da Madre de Deus

(1780-1872)6

Sabemos que os resultados apresentados na tabela 6 podem apresentar uma variação devido a qualidade dos dados, mas estes foram os resultados preliminares que obtivemos. Chama a nossa atenção o fato de a taxa bruta de mortalidade se, calculada por segmento da população (livre x escravo), a TBM sempre foi maior entre os escravos. Já a TBM para toda a população se

6 A redução estimada de 33% no desmembramento da freguesia foi calculada através da diferença baseada em uma média móvel de 5 anos, anterior e posterior à divisão, relativa aos assentos de batizado e de óbito.

Homens Mulheres Homens Mulheres

1780* 588 508 1096 64,0 357 261 617 36,0 1713 11,8 116 137 1798 1011 1020 2031 58,3 878 574 1452 41,7 3483 6,9 99 153 1802 1331 1179 2511 60,0 1035 637 1672 40,0 4183 6,5 113 163 1805 1453 1307 2760 63,3 1008 588 1597 36,7 4357 6,6 111 171 1807** 1910 1336 3245 64,7 1109 661 1771 35,3 5016 6,7 143 168 1810 2164 1424 3588 64,9 1141 802 1943 35,1 5531 6,4 152 142 1814 1853 1515 3368 59,3 1408 904 2312 40,7 5680 7,6 122 156 1846*** 3303 3449 6752 70,4 1729 1110 2839 29,6 9591 6,7 96 156 1847*** 2541 2653 5194 68,9 1428 917 2345 31,1 7539 6,6 96 156 1848**** 3497 3803 7300 70,8 1834 1177 3011 29,2 10311 6,6 92 156 1858***** 3470 3774 7244 71,7 1549 1312 2861 28,3 10105 6,9 92 118 1872 3653 3261 6914 84,0 558 757 1315 16,0 8229 6,8 112 74 Média 66,7 Média 33,3 Ano Livres Total % Escravos Total % Total Geral % < 1 ano Razão sexo Livres Razão sexo Escravos

Fonte: De 1780 à 1810 Mapas de população, de 1814 à 1858 relatórios do presidente de provincia e o censo de 1872. * % < 1 ano é na realidade < 7 anos em 1780

** % < 1 ano foi estimado pela média dos outros anos.

*** Mapas de 1846, 1847 e 1848 da provincia apresentam somente a população livre. População escrava foi estimada por interpolação entre os anos 1814 e 1858.

**** Mapa de 1848 da provincia apresenta 15.389 como total da população de Porto Alegre. Consideramos uma redução de 33% referente ao desmembramento de 1832 efetivado em 1844 N. S. Rosário.

***** Mapa de 1858 da provincia apresenta 29.723 como total da população de Porto Alegre. Consideramos uma resução de 66% referente ao desmembramento de 1832 efetivado em 1844 N.S. Rosário e 1859 N.S. Dores.

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mostrou crescente até 1847, partindo de 37,9 por mil em 1780 tendo seu ápice em 1810 com 70,0 por mil, mas após 1847 mostra uma tendência de redução chegando 29,2 óbitos por mil habitantes em 1872.

Quanto as taxas brutas de natalidade, as mesmas oscilaram bastante. Tabela 6 – População, TBN e TBM (por mil) da Madre de Deus de Porto Alegre

Fonte: NACAOB extração Janeiro 2018

José Eustáquio D. Alves (2008) apresenta estimativa das taxas brutas de natalidade e mortalidade para o Brasil, a partir do ano de 1872. Essa pode ser uma referência válida para cotejar com as taxas encontradas para a Madre de Deus ao longo do século XIX, ainda que se leve em consideração que os dados utilizados pelo autor partam do censo de 1872 e referem-se a todo o Brasil e os nossos dados dizem respeito apenas a uma freguesia desde sua origem, e por conseguinte uma população de pequenas proporções embora em expansão, o que pode causar oscilações bruscas, distorcendo os resultados. De todo modo, para o ano de 1872, Alves encontra para o Brasil uma TBM em torno de 30 por mil (Alves, 2008). Para a Madre de Deus os dados apontam para uma TBM de 29,2 para o mesmo ano, portanto dados compatíveis e perfeitamente aceitáveis.

No entanto, os dados dos assentos de óbitos da Madre de Deus inseridos no NACAOB nos permitiram enveredar pela discussão de crises de mortalidade que tenham afetado a sua população no período analisado.

Para o estudo das crises de mortalidade foram aplicadas as metodologias propostas por Jacques Dupâquier (Dupâquier, 1979) e Massimo Livi Bacci / Lorenzo Del Panta (Del Panta e Livi Bacci, 1979).

Podemos verificar no gráfico 1 que os dois métodos apresentam quase as mesmas curvas, exceto nas extremidades que divergem devido a diferença

Livres Escravos Total Livres Escravos Total Livres Escravos Total

1780 1096 617 1713 3,7 43,7 18,1 33,8 45,3 37,9 1798 2031 1452 3483 2,5 89,5 38,8 41,4 52,3 45,9 1802 2511 1672 4183 68,1 49,6 60,7 36,2 50,2 41,8 1805 2760 1597 4357 71,0 57,6 66,1 40,6 57,6 46,8 1807 3245 1771 5016 57,9 53,1 56,2 46,2 75,7 56,6 1810 3588 1943 5531 73,3 52,0 65,8 65,2 78,8 70,0 1814 3368 2312 5680 94,1 52,3 77,1 53,7 76,1 62,9 1846 6752 2839 9591 45,5 62,3 50,5 31,1 53,5 37,7 1847 5194 2345 7539 50,6 76,3 58,6 50,3 92,1 63,3 1848 7337 2974 10311 37,9 67,3 46,4 27,7 62,5 37,7 1858 7244 2861 10105 39,5 28,3 36,3 23,9 24,1 23,9 1872 6914 1315 8229 31,1 19,0 29,2

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na forma de cálculo das médias móveis e o ano de referência para a comparação com o desvio padrão.

Gráfico 1 – Crises de mortalidade da Madre de Deus

Fonte: NACAOB extração Janeiro 2018

Como podemos ver na tabela 7, o método de Dupâquier é mais sensível as variações ocorridas na mortalidade no período, classificando as crises por faixas (1 a 2 fraca, 2 a 4 média, 4 a 8 forte, 8 a 16 importante, 16 a 32 uma grande crise e acima de 32 considera uma catástrofe), enquanto que o método de Del Panta e Livi Bacci considera crise somente os índices que se situam acima de 50.

Como os registros de óbito da freguesia da Madre de Deus de Porto Alegre registram a informação da causa da morte, com regularidade a partir de 1800, pudemos analisar as causas de maior incidência para os anos em que os métodos apontaram crises. De qualquer forma, temos que registrar que essa informação não era feita por médicos e sim pelos párocos ou pessoas não ligadas a área da saúde.

Outra questão importante é que identificamos através dos relatórios do presidente da província, que os óbitos de Dezembro de 1855 e Janeiro de 1856 não foram registrados na freguesia. Esse dado é importante pois marca o período que a cidade de Porto Alegre sofreu com a uma epidemia de cólera

morbus. Sendo assim, para estimar o total de óbitos “perdidos” naquele

período, valemo-nos dos óbitos registrados na Santa Casa de Porto Alegre, aos quais tivemos acesso a partir de trabalho elaborado pelos pesquisadores do Centro Histórico-Cultural Santa Casa de Porto Alegre.

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Tabela 7 – Crises de mortalidade da Madre de Deus Ano Método Del Panta e Livi Bacci Método

Dupâquier Crises de mortalidade

1782 72,5 1,3

Até 1800 não eram declaradas as causas de morte

1795 45,5 5,0 1798 25,4 3,6 1799 -9,2 1,5 1800 -11,7 1,6 1801 50,5 4,6 Varíola 1803 -8,5 1,2 Varíola 1804 28,3 2,5 Varíola 1806 75,2 4,1 Sarampo 1810 17,3 1,3 Varíola / Tuberculose 1813 6,5 1,2 Varíola / Tuberculose 1815 -3,0 1,0 Tuberculose

1816 13,1 1,8 Diarreia e enterite / Tuberculose

1817 12,4 1,9 Varíola / Tuberculose

1818 13,0 1,8 Doenças do aparelho circulatório / respiratório

1824 -5,5 1,8 Diarreia e enterite

1825 10,6 4,2 Diarreia e enterite

1826 3,5 2,0 Diarreia e enterite

1827 10,3 2,2 Varíola

1828 19,0 2,3 Sarampo

1829 24,9 2,1 Diarreia e enterite / Tuberculose

1837 78,1 6,2 Escarlatina

1838 32,0 1,1 Diarreia e enterite / Varíola

1855 160,3 15,1 Cólera

1865 169,7 1,4 Diarreia e enterite

Fonte: NACAOB extração Janeiro 2018

O relatório do presidente da província aponta 1001 óbitos entre dezembro de 1855 e janeiro de 1856 para a freguesia (primeiro distrito), sendo, 263 homens e 273 mulheres livres e 250 homens e 215 mulheres escravos, esses números são compatíveis com os arrolados na documentação da Santa Casa e foram incorporados para os cálculos apresentados na tabela 7. Sem a incorporação desses dados, nenhuma das metodologias teria detectado a pior crise de mortalidade que afetou a população de Porto Alegre no século XIX.

Desconsiderando as crises de menor intensidade, comparamos o impacto delas na população livre e escrava ao longo dos meses, nos anos em que elas foram detectadas.

Uma das primeiras inferências que podem ser feitas, é que independentemente da doença, livres e escravos padeciam do mesmo mal. O gráfico 2 nos mostra as crises de 1801 (Varíola), 1806 (Sarampo), 1825

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(Diarreia e enterite), 1829 (Diarreia e enterite / Tuberculose), 1837 (Escarlatina) e 1855/56 (Cólera).

Gráfico 2 – Sazonalidade das crises de mortalidade da Madre de Deus de Porto Alegre (1801, 1806, 1825, 1829, 1837, 1855/1856)

Fonte: NACAOB extração Janeiro 2018

O gráfico nos mostra que apenas a diarreia / enterite e tuberculose atacavam livres e escravos ao longo de todo o ano.

Outra variável que é passível de ser analisada com os dados da Madre de Deus é a incidência das doenças de acordo com as faixas etárias. O que nos chama a atenção e que de certa forma era esperado, é que as crianças eram as vítimas preferenciais de doenças como varíola, sarampo, diarreia/enterite, já que aproximadamente 50% dos óbitos registrados se dava até os 4 anos de idade. A exceção fica por conta da tuberculose que incidia de maneira mais regular nos diferentes grupos de idade, como se pode observar nas tabelas seguintes.

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Tabela 8 – Óbitos por diarreia e enterite na Madre de Deus (1772-1872)

Grupo etário Livre % Escravo % Total %

< 01 360 23,7 170 12,2 530 18,2 01 - 04 454 29,9 245 17,6 699 24,0 05 - 09 120 7,9 90 6,5 210 7,2 10 - 14 31 2,0 101 7,3 132 4,5 15 - 19 32 2,1 101 7,3 133 4,6 20 - 24 43 2,8 122 8,8 165 5,7 25 - 29 47 3,1 75 5,4 122 4,2 30 - 34 52 3,4 138 9,9 190 6,5 35 - 39 24 1,6 16 1,1 40 1,4 40 - 44 56 3,7 101 7,3 157 5,4 45 - 49 22 1,4 15 1,1 37 1,3 50 - 54 48 3,2 86 6,2 134 4,6 55 - 59 23 1,5 10 0,7 33 1,1 60 - 64 58 3,8 45 3,2 103 3,5 65 - 69 12 0,8 5 0,4 17 0,6 70 - 74 43 2,8 22 1,6 65 2,2 75 ou mais 60 3,9 20 1,4 80 2,7 não informado 35 2,3 30 2,2 65 2,2 Total Geral 1520 100,0 1392 100,0 2912 100,0

Fonte: NACAOB extração Janeiro 2018

Tabela 9 – Óbitos por tuberculose na Madre de Deus (1772-1872)

Grupo etário Livre % Escravo % Total %

< 01 118 13,2 80 11,6 198 12,5 01 - 04 81 9,0 76 11,0 157 9,9 05 - 09 23 2,6 22 3,2 45 2,8 10 - 14 28 3,1 33 4,8 61 3,8 15 - 19 49 5,5 44 6,4 93 5,9 20 - 24 104 11,6 67 9,7 171 10,8 25 - 29 73 8,1 53 7,7 126 7,9 30 - 34 91 10,2 85 12,3 176 11,1 35 - 39 44 4,9 32 4,6 76 4,8 40 - 44 56 6,3 78 11,3 134 8,4 45 - 49 36 4,0 10 1,4 46 2,9 50 - 54 45 5,0 47 6,8 92 5,8 55 - 59 22 2,5 4 0,6 26 1,6 60 - 64 31 3,5 23 3,3 54 3,4 65 - 69 15 1,7 0,0 15 0,9 70 - 74 27 3,0 9 1,3 36 2,3 75 ou mais 34 3,8 11 1,6 45 2,8 não informado 19 2,1 17 2,5 36 2,3 Total Geral 896 100,0 691 100,0 1587 100,0

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Tabela 10 - Óbitos por varíola na Madre de Deus (1772-1872)

Grupo etário Livre % Escravo % Total %

< 01 209 20,6 82 13,8 291 18,1 01 - 04 364 35,9 135 22,8 499 31,0 05 - 09 153 15,1 43 7,3 196 12,2 10 - 14 48 4,7 44 7,4 92 5,7 15 - 19 47 4,6 41 6,9 88 5,5 20 - 24 63 6,2 83 14,0 146 9,1 25 - 29 34 3,3 44 7,4 78 4,9 30 - 34 32 3,2 70 11,8 102 6,3 35 - 39 14 1,4 5 0,8 19 1,2 40 - 44 15 1,5 24 4,0 39 2,4 45 - 49 2 0,2 2 0,3 4 0,2 50 - 54 2 0,2 7 1,2 9 0,6 55 - 59 1 0,1 0,0 1 0,1 60 - 64 3 0,3 4 0,7 7 0,4 65 - 69 0,0 0,0 0,0 70 - 74 1 0,1 0,0 1 0,1 75 ou mais 1 0,1 0,0 1 0,1 não informado 26 2,6 9 1,5 35 2,2 Total Geral 1015 100,0 593 100,0 1608 100,0

Fonte: NACAOB extração Janeiro 2018

Tabela 11 - Óbitos por sarampo na Madre de Deus (1772-1872)

Grupo etário Livre % Escravo % Total %

< 01 91 17,4 35 14,6 126 16,5 01 - 04 279 53,2 109 45,6 388 50,9 05 - 09 89 17,0 54 22,6 143 18,7 10 - 14 25 4,8 14 5,9 39 5,1 15 - 19 9 1,7 5 2,1 14 1,8 20 - 24 9 1,7 8 3,3 17 2,2 25 - 29 6 1,1 5 2,1 11 1,4 30 - 34 6 1,1 4 1,7 10 1,3 35 - 39 0,0 0,0 0,0 40 - 44 1 0,2 4 1,7 5 0,7 45 - 49 0,0 0,0 0,0 50 - 54 0,0 0,0 0,0 55 - 59 0,0 0,0 0,0 60 - 64 1 0,2 0,0 1 0,1 65 - 69 0,0 0,0 0,0 70 - 74 0,0 0,0 0,0 75 ou mais 0,0 1 0,4 1 0,1 não informado 8 1,5 0,0 8 1,0 Total Geral 524 100,0 239 100,0 763 100,0

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Considerações Finais

O objetivo deste trabalho foi apresentar o software NACAOB e algumas das possibilidades de exploração do banco de dados criado com as informações que podem constar nas fontes paroquiais, especialmente nos assentos de óbitos.

A base de dados colaborativa, alimentada por um conjunto cada vez maior de pesquisadores, está em continuo crescimento e possibilita um vasto leque de estudo comparativo das componentes demográficas, além da abertura para estudos no campo da história social da população, que não foram abordados nesta comunicação. O trabalho cuidadoso e apurado, que tem por princípio procedimentos padronizados, fornece um rico e quase inesgotável material para o avanço das análises da demografia e da história no Brasil.

É possível conhecer a ferramenta através não apenas dos trabalhos que

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Referências Bibliográficas

ALVES, J. E. D. (2008). A transição demográfica e a janela de oportunidade. SP: Inst. Fernand Braudel,

http://www.braudel.org.br/pesquisas/pdf/transicao_demografica.pdf (acesso em março de 2018).

DEL PANTA, L.; LIVI BACCI, M. Chronology, intensity and diffusion of mortality in Italy, 1600-1850. In: CHARBONNEAU, H.; LAROSE, A. (Ed.). The great mortalities: methodological studies of demographic crises in the past. Liège: IUSSP, 1979. p. 69–81.

DUPÂQUIER, Jacques — L'analyse statistique des crises de mortalité, in «The great mortalities: methodological studies of demographic crises in the past», ed. by Hubert Charbonneau et André Larose, Liège, Ordina Éditions, 1979, pp. 83-84.

SCOTT, A. S. V.;SCOTT, D. (2009). NACAOB: una opción informatizada para historiadores de la familia. In: Dora Celton; Mónica Ghirardi; Adrián Carbonetti. (Org.). Poblaciones históricas: fuentes, métodos y líneas de investigación. 1ed. Rio de Janeiro: ALAP Editor, p. 171-185.

SCOTT, D. (2017). A população do Rio Grande de São Pedro pelos mapas populacionais de 1780 a 1810. Revista Brasileira de Estudos de População (REBEP). Belo Horizonte, v.34, n. 3, p. 617-633.

Referências

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