• Nenhum resultado encontrado

Fatores que influenciam o ingresso dos jovens no ensino superior: Um estudo de caso

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Fatores que influenciam o ingresso dos jovens no ensino superior: Um estudo de caso"

Copied!
19
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS MULTIDISCIPLINARES OBSERVATÓRIO DA JUVENTUDE

ISABELLA CRISTINE FIGUEIREDO VIEIRA1 JULIA HAYES VIEIRA 2

RAUL HENRIQUE ATHAYDE BRAZ3

Fatores que influenciam o ingresso dos jovens no ensino superior: Um estudo de caso

Palavras-chave: Jovem, Ensino Médio. Futuro, Ensino Superior, PAS, Enem, ProUni, Sisu, Escolaridade.

Brasília 2016

1

Estudante de Estatística, Departamento de Estatística da Universidade de Brasília. 2 Graduanda em Ciência Política, Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. 3 Estudante de Estatística, Departamento de Estatística da Universidade de Brasília.

(2)

Introdução

O Observatório da Juventude da Universidade de Brasília (OJ) é um espaço de integração entre professores, pesquisadores e estudantes que trabalham com o tema juventude no ensino, na extensão e na pesquisa. Dentre os seus principais projetos, o “Novos Olhares” tem por finalidade promover uma reflexão sobre o futuro profissional junto aos jovens do ensino médio de escolas públicas do Distrito Federal e Entorno. No ano de 2014, os trabalhos realizados pelo OJ efetuaram atividades com os alunos de 3º ano dos Centro de Ensino Médio 404 de Santa Maria e Centro de Ensino Médio da Asa Norte (CEAN). É importante destacar que o primeiro se situa a 35 km do centro de Brasília e o segundo na região central, próximo à Universidade de Brasília. No momento das atividades, todos os alunos são convidados a responder um questionário sobre suas características familiares e suas pretensões para o futuro.

Tendo como base as respostas dos alunos ao questionário, o objetivo do presente artigo é identificar os fatores que influenciam estes jovens a ingressar no ensino superior. O estudo apresenta o perfil dos alunos de cada uma das escolas e as compara, relacionando as principais variáveis selecionadas: classe social, classe econômica e os fatores que influenciam o ingresso no ensino superior. A comparação entre as duas localidades das escolas tem o intuito de identificar os principais elementos que determinam a intenção de ingresso no ensino superior.

O presente artigo é composto primeiramente pela descrição de alguns aspectos do ensino superior brasileiro, tais como fatores educacionais, sociais e econômicos. Após esta descrição, apresenta-se o estudo de caso com dados comparativos entre as duas escolas situadas nas diferentes localidades. Por último, são realizadas considerações a partir dos dados obtidos.

Ensino Superior no Brasil

A juventude tem sido um foco importante na formulação de políticas públicas. O peso populacional e a alteração na configuração demográfica do grupo de jovens (15 a 29 anos) implicou em uma maior atenção e preocupação do governo com este grupo da sociedade brasileira (Camarano et al. IN Castro et al., 2009). As questões educacionais e socioeconômicas foram os principais focos dados a essas políticas. Corbucci et al (IN Castro et al., 2009) destacam o incremento na implementação de diversos tipos de políticas educacionais. Erradicação do analfabetismo entre jovens e adultos, aumento na taxa de frequência do ensino médio em idade correta, equidade de

(3)

acesso e permanência nos níveis de ensino superior e profissionalizante são os principais focos dos programas criados.

Um estudo do Ipea desenvolvido em 2009 (Castro et al., 2009) levando em consideração dados de 2006 do Instituto Internacional para a Educação Superior na América Latina e Caribe (IESALC/Unesco) e as projeções do Plano Nacional de Educação (PNE) apontam que a taxa de frequência líquida na educação superior de jovens entre 18 e 24 anos aumentou expressivamente entre os períodos comparados (1996 e 2007). No entanto o aumento auferido - que levou a taxa à 13% no fim do período – ainda remete o Brasil a um dos menores patamares da América Latina e Caribe. Além disso, a taxa de 15%, auferida por Neves (NEVES, 2013 apud Mendes, 2015) demonstra que a meta do PNE (30%) não foi alcançada.

A taxa de frequência bruta da população entre 20 e 24 anos no ensino superior apresenta uma grave relação de desigualdade de renda entre os jovens. O estudo apontou que a taxa de frequência é de 5,6% quando a renda per capta das famílias é de até um salário mínimo (SM), mas aumenta gradativamente até 55,6% quando a renda per capta atinge cinco ou mais SMs (Castro et al., 2009).

Esses dados e suas conclusões vão ao encontro dos estudos de Mendes (2015) e Rios-Neto et al (2004) que tomam como base princípios desenvolvidos por Bourdieu sobre a relação de classes sociais e educação formal dos indivíduos.

Ambos os autores descrevem o conceito de habitus de Bourdieu, assim definido por Miguel (2001):

“Habitus é o conjunto de ‘disposições para agir’ que os indivíduos interiorizam a partir de sua vivência no mundo social. Não é um ‘papel social’ a ser cumprido automaticamente, nem um conjunto de regras expressas de obediência compulsória. É uma ‘matriz de percepções, de apreciação e de ações’ [...]” (BOURDIEU, 2000 IN MIGUEL, 2001)

A partir deste conceito, pode-se compreender que a diferenciação de classe social estaria relacionada à educação formal recebida por um individuo. Por sua vez, a educação formal do individuo estaria relacionada a diversos aspectos econômicos, culturais e sociais. Entre estes aspectos podem ser destacados o gênero do indivíduo, a sua localidade de habitação, as características sociais e econômicas de sua família, os gostos e preferências culturais e a escolaridade e o trabalho de seus familiares. Assim, podemos entender a relação de classe social e escolaridade como elementos que se influenciam e se reforçam simultaneamente, em decorrência da importância e motivação que uma determinada classe delega à cultura e ao estudo formal.

(4)

Rios-Neto et al (2004) revisam o trabalho de diversos estudiosos sobre desempenho e alcance escolar no século passado. Eles destacam que estudos mais antigos em países desenvolvidos apontam que aspectos socioeconômicos das famílias eram os mais determinantes no desempenho e alcance escolar dos alunos. No entanto, com a expansão e maior investimento no ensino e educação, estes fatores passaram a ser menos determinantes em detrimento de aspectos como a motivação e habilidade do aluno e incentivo da família. No caso de países em desenvolvimento, os maiores determinantes para desempenho e alcance dos alunos sempre foram a qualidade das escolas e dos professores, mas os aspectos socioeconômicos das famílias também mantiveram uma importância expressiva e maior se comparada aos países desenvolvidos.

Particularmente no contexto brasileiro, Mendes et al (2015) desenvolveram um estudo que busca auferir a relação entre capital cultural e a possibilidade de acesso ao ensino superior. Os autores destacam que diversos estudos sociológicos apresentam a educação como elemento de diferenciação e mobilidade social. Mesmo não sendo o único elemento, a educação aporta possibilidades reais de desenvolvimento para os indivíduos, tanto em aspectos socioeconômicos, quanto culturais. No Brasil, o acesso ao ensino superior é particularmente importante, pois representa uma relação ainda mais direta com a possibilidade de ocupação profissional do indivíduo e, por consequência, a sua classe social.

O índice desenvolvido por Mendes et al (2015) identifica que alunos que se declaram brancos e alunas do sexo feminino apresentam maiores chances de ingresso ao ensino superior do que alunos declarados pardos ou negros e alunos do sexo masculino, respectivamente. No quesito classe econômica, quanto maior a renda familiar maior a chance de acesso do aluno ao ensino superior. Outros aspectos como o habito de ler, escrever e participar de eventos culturais, além da característica da composição da família como monoparental também são aspectos que influenciam positivamente na possibilidade de acesso ao ensino superior.

Outros estudos como os de Menezes-Filho (2007) e Machado (2014), destacam fatores que influenciam o desempenho escolar de alunos, também no ensino básico. O primeiro analisa o desempenho escolar de alunos no ensino fundamental e o segundo o desempenho dos alunos do ensino médio no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM.

As pesquisas efetuadas por Menezes-Filho (2007) apresentam pontos que devem ser destacados. Percebe-se que pelo menos 70% da diferença no desempenho é

(5)

determinada pelas características familiares e do próprio aluno. Entre essas características estão a idade de ingresso na escola, a etnia do aluno, escolaridade da mãe e acesso a computadores e internet. No entanto, o autor demonstrou que entre alunos de escolas públicas, entre 10 e 30% da diferença de desempenho caracteriza-se pelo ambiente da escola. Neste sentido, o autor identificou que o aspecto mais influente é a quantidade de horas em sala de aula.

Outro fator de grande relevância foi a constatação de que as escolas privadas apresentam um desempenho, em média, 50% superior às escolas públicas. No entanto, a escola pública com melhor desempenho se iguala ou supera (dependendo do estado) o desempenho da melhor escola privada. Além disso, a escola pública com o pior desempenho apresenta média de notas superior ao desempenho da pior escola privada.

As analises das notas do ENEM de 2013 efetuadas por Machado (2014) corroboram com as constatações anteriores. Nas correlações de desempenho no exame e características socioeconômicas, as escolaridades de ambos os pais e a renda familiar têm influencia direta no desempenho dos alunos. O gradual aumento da escolaridade dos pais e a renda familiar do aluno também estão fortemente relacionados com o fato de alunos estudarem em escolas privadas.

Diante do panorama da situação educacional e das implicações das condições socioeconômicas dos jovens, o Governo Federal desenvolveu diversas políticas de ampliação dos recursos destinados ao ensino superior público (Reuni), programa unificado para ingresso nas universidades públicas (SiSU) e de financiamento para o ensino superior privado (Fies e ProUni). No caso de algumas universidades federais, como no Distrito Federal, foram implementados sistemas de seleção para universidades públicas de maneira seriada ao longo do ensino médio (PAS).

O que se percebe com esta breve revisão de trabalhos efetuados sobre escolaridade dos jovens no Brasil é que praticamente todos destacam a influencia das características socioeconômicas e, em menor escala, a infraestrutura escolar no desempenho dos alunos. Alguns desses estudos apontados também relacionam estas características ao alcance educacional dos jovens brasileiros. No entanto, não constatamos nesses estudos uma análise direta e expressa sobre a intensão dos próprios jovens em cursar o ensino superior. Assim, com a aplicação dos questionários nas escolas Centro de Ensino Médio 404 de Santa Maria e Centro de Ensino Médio da Asa Norte, busca-se um novo olhar sobre estudos na educação dos jovens, em que sua percepção seja o sujeito central do estudo.

(6)

Metodologia e Hipóteses

Como descrito anteriormente, o presente estudo utiliza a metodologia do Estudo de Caso. Segundo Yin (2001), o estudo de caso é uma investigação empírica de fenômenos contemporâneos dentro de seu contexto da vida real. A partir desta definição, evidencia-se que o método de estudo de caso é apropriado para analisar situações contextuais de fenômenos da contemporaneidade. Como o objetivo do presente artigo é analisar uma possível influencia de aspectos familiares socioeconômicos na pretensão de alunos das duas escolas do ensino médio do Distrito Federal ingressarem no ensino superior, a estratégia do estudo de caso se apresenta adequada.

Os estudos de caso são usualmente guiados pela análise de informações qualitativas, no entanto, vem se tornando casa vez mais comuns estudos de caso com componentes quantitativos (YIN, 2001). O presente estudo se baseia em informações quantitativas obtidas por meio de respostas dos alunos aos questionários aplicados em ambas as escolas.

Esse questionário consiste em 21 questões, subdivididos em temas socioeconômicos, educacionais, anseios pessoais e profissionais para o futuro. Em um primeiro grupo de perguntas, abarcam-se questões sobre a cidade onde vivem, idade, auto declaração de raça ou etnia, renda familiar e classe social. Um segundo grupo aporta questionamentos sobre a escolaridade de ambos os pais e com quem o aluno conversa sobre seus planos profissionais. Por fim, o aluno é questionado acerca da intenção de cursar ensino superior e as formas preferidas de ingresso.

No CEAN, foram distribuídos questionários para 132 alunos de terceiro ano nos dias 5, 6 e 8 de maio de 2014. No CEM 404 de Santa Maria, foram 220

questionários aplicados entre os dias 14 de maio e 17 de julho de 2014. O mesmo questionário foi distribuído nas duas escolas e analisado separadamente. Foi traçado um perfil comparativo entre as duas escolas para compreender as diferenças e semelhanças entre esses dois grupos de jovens.

As análises estatísticas efetuadas de maneira descritiva, baseiam-se nos estudos e métodos publicados por Bussab et al. (2013) com vistas a correlacionar as variáveis das perguntas socioeconômicas do questionário e comparar as variáveis entre as duas escolas. Assim, a unidade de análise é cada uma das escolas analisadas e os dados são os itens respondidos por cada um dos alunos. As principais variáveis aqui analisadas e correlacionadas são: gênero, idade, escolaridade dos pais, renda familiar,

(7)

auto percepção de classe social, intensão em fazer ensino superior, preferencias de forma de ingresso (SiSU, Enem, PAS) e conversa com familiares, colegas e educadores.

As medidas de associação aqui utilizadas serão Gamma de Goodman e Kruskal para associação entre variáveis ordinais (baseado no número de pares de observações concordantes e discordantes) e Coeficiente de Contingência (baseado no Qui-Quadrado) para associação entre variáveis nominais. Dados pelas seguintes equações:

 Gama de Goodman e Kruskal: 𝛾 = 𝑃−𝑄

𝑃+𝑄, −1 ≤ 𝛾 ≤ 1

Em que P é a probabilidade de que um par de observações aleatoriamente selecionadas esteja arranjado no mesmo sentido (par concordante) e Q é a probabilidade de que este par de observações esteja arranjado em sentido contrário (par discordante)

 Coeficiente de contingência: 𝐶 = √ 𝜒2 𝜒2+𝑛 , 0 ≤ 𝐶 √𝑚−1 𝑚 ≤ 1 Em que 𝜒2 = ∑ ∑ (𝑛𝑖𝑗−𝑒𝑖𝑗) 2 𝑒𝑖𝑗 𝑗 𝑖 com 𝑒𝑖𝑗 = 𝑛𝑖.𝑛.𝑗

𝑛 e m = min(nº de linhas, nº de colunas).

É importante ressaltar que todos os resultados para medidas de associação foram obtidos através do software estatístico SAS.

O trabalho é guiado pelas seguintes hipóteses:

1. A auto percepção de classe social daqueles alunos que apresentam a intenção de ingressar no ensino superior é mais elevada que a auto percepção de classe social dos alunos que não pretendem cursar ensino superior.

2. Os alunos que apresentam intenção de ingressar no ensino superior conversam com suas famílias sobre o seu futuro.

3. O Centro de Ensino Médio da Asa Norte apresenta um percentual maior de alunos com pretensão de ingressar no ensino superior quando comparado com o Centro de Ensino Médio 404 de Santa Maria, devido a sua proximidade à Universidade de Brasília.

Além da verificação das hipóteses apresentadas, outro objetivo central do estudo é perceber qual forma de ingresso é priorizada pelos alunos, e se existe alguma característica específica para esta escolha.

(8)

Análise Descritiva

I. Perfil dos Alunos

Nesta seção são apresentadas as análises das variáveis selecionadas para o estudo, com o objetivo de descrever as condições socioeconômicas das famílias dos alunos dos Centros de Ensino Médio da Asa Norte (CEAN) e 404 de Santa Maria (CEM 404- Santa Maria).

A Tabela 1 apresenta a distribuição etária dos alunos do terceiro ano no CEAN e no CEM 404- Santa Maria no ano de 2014.

Tabela 1: Distribuição etária dos alunos por Escola

Porcentagem de alunos por idade (em anos) para CEAN e CEM 404

15 16 17 18 19 20

CEAN 0% 23,7% 55,7% 16,0% 3,8% 0,8%

CEM 404 0,5% 11,4% 68,5% 16,0% 3,6% 0%

Nas duas escolas, a faixa etária dos alunos varia de 15 a 20 anos, tendo a maior parte deles 17 anos de idade.

Considerando o sexo dos alunos, evidenciado pelo Gráfico 1, percebe-se que em ambas as escolas, a quantidade de alunas do gênero feminino é expressivamente maior, compondo 58% e 61% do total de alunos no CEAN e CEM 404, respectivamente.

Gráfico 1: Sexo dos alunos por escola

Conforme apresentado no Gráfico 2, o percentual da renda familiar dos alunos do CEAN e CEM 404, medida em salários mínimos (SM), apresenta diferenças visíveis. A renda familiar dos alunos do CEAN está mais concentrada nos maiores quantidades de SM, enquanto que no CEM 404 a renda está mais concentrada nas quantidades menores. No CEAN, mais de 50% dos alunos possuem renda familiar de mais de 3 salários mínimos, enquanto que no CEM 404 mais de 50% dos alunos possuem renda familiar de até 2 salários mínimos.

61% 39%

Porcentagem de alunos por sexo CEM 404

Feminino Masculino

58% 42%

Porcentagem de alunos por sexo CEAN

Feminino Masculino

(9)

Gráfico 1 Renda familiar dos alunos das Escolas, medido em salários mínimos

Essa diferença entre as duas escolas também é verificada na auto percepção de classe social, Gráfico 3. Se no CEAN, a maior parte dos alunos se considera de classe média, no CEM 404, a maior parte dos alunos se considera de classe média-baixa. É importante destacar que, no CEM 404, nenhum dos alunos se declarou como classe alta.

Gráfico2: Auto percepção de classe social dos alunos das Escolas

Com o intuito de verificar a relação entre a classe social e a renda familiar dos alunos das escolas, o Gráfico 4 apresenta a porcentagem de auto declaração de classe social por conjunto de renda.

Gráfico 3: Porcentagem de alunos segundo auto declaração de classe social e renda familiar, por escola Pode-se observar que a auto percepção de classe social versus renda familiar é diferente em relação às duas escolas. Analisando o caso do CEAN, nos grupos de renda familiar de 2 a 3 SM, de 3 a 4 SM e mais de 4 SM a maioria dos alunos se consideram de classe média, enquanto que no CEM 404 apenas o grupo de renda familiar de mais de 4 SM, tem essa percepção. Para os alunos do CEM 404, os grupos de renda familiar de 2 a 3 SM e de 3 a 4 SM se declaram majoritariamente de classe média-baixa.

(10)

Analisando a associação entre renda e percepção de classe social, verificou-se no CEAN uma associação moderada (Gamma de Goodman e Kruskal = 0,66) a renda e a percepção dos alunos em relação a classe social possuem uma associação positiva, quanto maior a renda, maior o nível de percepção da classe social. Para Santa Maria, a associação é no mesmo sentido, porém com uma intensidade menor, verificou-se uma associação fraca com coeficiente Gamma de Goodman e Kruskal igual a 0,1379.

Essa situação é bastante interessante já que pode indicar que a auto percepção de classe social dos alunos não está somente atrelada a renda familiar. Neste caso específico, pode-se imaginar que alguns dos outros aspectos que definem a auto percepção de classe social podem ser a localidade da escola, além da escolaridade e ocupação dos pais. Estes outros aspectos são analisados adiante e possivelmente esclarecem esta especulação.

A escolaridade das mães e dos pais dos alunos é descrita pelos Gráficos 5 e 6, respectivamente.

Gráfico 4: Escolaridade das mães dos alunos, por escola

Gráfico 6: Escolaridade dos pais dos alunos, por escola

Como pode ser visto, no CEAN, ambos os pais possuem ensino médio completo ou superior completo, sendo que os pais com ensino médio completo estão em maior quantidade. No CEM 404, a maior parte dos pais apresenta ensino fundamental incompleto ou médio completo, sendo o maior percentual aqueles que possuem fundamental incompleto.

No momento da formulação do questionário, surgiu a curiosidade de saber se os alunos conversam sobre seu futuro com familiares, amigos e educadores. Com isso, a

(11)

tabela 2, a seguir, demonstra o percentual de pessoas com as quais os alunos conversam sobre o seu futuro. A tabela apresenta o cruzamento da ocorrência de conversas simultâneas entre familiares e amigos ou familiares e professores, em cada escola.

Como pode ser observado, no CEAN, os alunos priorizam suas conversas sobre o futuro com a família e os amigos (85%). No caso do CEM 404, também conversam com familiares e amigos, embora em menor intensidade (60%). Nas duas escolas, os professores estão, de alguma forma, sendo relativamente pouco solicitados para este debate.

Tabela 2 Percentual de pessoas que os alunos conversam sobre seu futuro, por escola.

CEAN - Conversa sobre o futuro CEM 404 - Conversa sobre o futuro

Professores Professores

Família Não Sim Família Não Sim

Não 6% 1% Não 13% 5%

Sim 56% 37% Sim 47% 35%

Amigos Amigos

Família Não Sim Família Não Sim

Não 3% 4% Não 6% 12%

Sim 8% 85% Sim 22% 60%

É notável, porém, que os maiores percentuais entre o cruzamento de conversas com familiares e professores se dê quando os alunos conversam com os familiares, mas não com seus professores: no CEAN este percentual foi de 56% e no CEM 404, foi de 47%.

Assim, podemos depreender que há uma relação diretamente proporcional entre a conversa de alunos sobre seu futuro entre amigos e familiares e uma relação inversamente proporcional entre professores e familiares.

Com o intuito de verificar a estratégia de ingresso ao ensino superior, os alunos foram questionados sobre os programas de seleção (PAS, ENEM ou SiSU) que pretendem fazer. Os resultados podem ser observados na Tabela 3 a seguir, que apresenta o percentual de alunos, por escola, segundo a intenção em participar de algum programa de seleção:

(12)

Tabela 3 Percentual de alunos segundo intenção de participar de algum programa de seleção, por escola. Porcentagem de alunos segundo intenção de

participar de programa de seleção - CEAN

Porcentagem de alunos segundo intenção de participar de programa de seleção - CEM 404

Sim Não Não sabe Sim Não Não sabe

PAS 63% 36% 1% PAS 66,4% 33,6% 0%

ENEM 90% 1% 9% ENEM 97,2% 1,8% 1%

SISU 53,9% 8,6% 37,5% SISU 75,4% 3,2% 21,4%

O primeiro resultado notório é que os alunos do CEM 404 apresentam maior pretensão em participar dos programas de seleção do que os alunos do CEAN.

Percebe-se também que o ingresso por meio do SiSU é o método que obtém maior diferença de interesse quando comparamos os alunos do CEM 404 (75%) e CEAN (54%). Além disso, o SiSU é a maneira de ingresso com menor interesse por parte dos alunos do CEAN. Porém, é extremamente interessante o fato de, em ambas as escolas, o SiSU ser motivo de dúvida, uma vez que hoje é a maneira de maior acesso às universidades federais. Isto pode provavelmente decorrer da falta de informação dos alunos sobre o processo de seleção do SiSU.

Uma terceira observação interessante é que, em ambas as escolas, a maneira de seleção preferida é o ENEM, em que 90% ou mais dos alunos atestam a intenção de fazer. O curioso é que o ENEM é o único requisito para a inscrição no SiSU, com tantos alunos pretendendo fazer o ENEM ainda assim existe esse percentual baixo para os alunos que pretendem fazer o SiSU. Por ultimo, é notável que, em ambas as escolas, aproximadamente 1/3 dos alunos não pretendem fazer o PAS, que é o método considerado mais acessível de ingresso, para alunos que estão concluindo o 3º ano, na Universidade de Brasília.

II. Verificação das hipóteses do estudo de caso

A primeira hipótese delimitada foi que “a auto percepção de classe social dos alunos que apresentam a intensão de ingressar no ensino superior é mais elevada que a auto percepção de classe social dos alunos que não pretendem cursar ensino superior”.

O Gráfico 7, a seguir, aponta o percentual de alunos que pretendem ingressar no ensino superior por auto percepção de classe social e renda familiar, em cada escola.

(13)

Gráfico 7: Percentual de alunos, por escola, com intensão de ingresso ao ensino superior por auto percepção de classe social e renda familiar

A primeira observação a ser feita é que, enquanto no CEM 404 existem alunos que não pretendem ingressar no ensino superior, no CEAN, existem alunos que pretendem ingressar no ensino superior e aqueles que não sabem, nenhum deles afirmou que não pretende ingressar.

No CEM 404, somente no grupo de renda familiar de mais de 4 SM, que a maioria dos alunos se auto percebem como classe média. Nesta escola, entre os grupos de renda de 1 SM até 4 SM, a maioria dos alunos que pretendem ingressar no ensino superior se considera de classe média-baixa. Além disso, nenhum dos alunos que pretendem ingressar no ensino superior do CEM 404 se consideram de classe média-alta ou alta.

Já no CEAN, entre os alunos que pretendem ingressar no ensino superior, nos grupos de renda familiar entre 2SM até 4SM, a maioria dos alunos se considera de classe média. Além disso, entre estes grupos (de 2SM até 4M), há incidência de alunos que se consideram de classe média-alta, e no grupo de mais de 4SM existem alunos que se consideram de classe alta.

O Gráfico 8, a seguir, aponta o percentual de alunos que não pretendem ou não sabem se pretendem ingressar no ensino superior por auto percepção de classe social e renda familiar, em cada escola.

(14)

Gráfico 8: Percentual de alunos, por escola, que não sabem ou não pretendem ingressar no ensino superior por auto percepção de classe social e renda familiar

Entre os alunos que não sabem se pretendem ingressar no ensino superior, os resultados de auto percepção de classe social também são bastante distintos.

No CEM 404, a auto percepção de classe social por grupo de renda é difusa. No grupo de renda de até 1SM, os alunos se consideram de majoritariamente de classe média-baixa ou classe média. Nos grupos de 1SM até 2SM e de 3SM à 4SM, a auto percepção de classe é bastante similar àquela dos alunos que pretendem ingressar no ensino superior, os alunos se auto percebem como classe média-baixa. No grupo de 2SM à 3SM, os alunos que não sabem se ingressarão ao ensino superior se auto percebem como classe média-baixa e classe média, porém aqueles que não pretendem ingressar no ensino superior apresentam auto percepção de classe social baixa. Por fim, o grupo de renda de mais de 4SM, apresenta auto percepção de classe de classe média-baixa até classe média-alta.

Já no CEAN, o grupo de 1SM até 2SM, os alunos se auto percebem como classe social baixa. No grupo de 2SM à 4SM, a auto percepção de classe dos alunos bastante similar àquela dos que pretendem ingressar no ensino superior, se auto percebendo como classe média. Por fim, o grupo de renda de mais de 4SM, apresenta auto percepção predominantemente como classe média-baixa e classe média.

Diante das análises observadas, pode-se concluir que, no CEAN, a classe social dos alunos que pretendem ingressar no ensino superior é mais elevada do que aqueles que não sabem se pretendem ingressar no ensino superior. Este resultado, de maneira geral, atesta positivamente a hipótese inicial do trabalho.

(15)

Já no CEM 404, a hipótese de que a classe social dos alunos que pretendem ingressar no ensino superior seja mais elevada do que aqueles que não sabem ou não pretendem ingressar não se confirma. Isso se dá pelo fato de a percepção de classe social em todos os grupos ser similar ou superior na não intensão de ingresso ao ensino superior.

Porém deve-se ter em mente que a quantidade numérica dos alunos que não sabem ou não pretendem ingressar no ensino superior, em ambas as escolas, é bastante reduzida, então estas conclusões devem ser vistas com cautela.

Analisando agora pelo âmbito de associação, para o CEAN a associação entre percepção de classe social e intenção de ingressar no ensino superior apresentou um sentido positivo e uma intensidade fraca (Gama de Goodman e Kruskal = 0,2489), ou seja, os alunos que pretendem ingressar no ensino superior tendem a ser aqueles que têm auto percepção de classe social mais alta e os que não sabem ou não pretendem ingressar no ensino superior tendem a ser aqueles que se classificam em classes mais baixas. Para o CEM-404 a situação é o contrário, ainda que com intensidade fraca (Gama de Goodman e Kruskal = -0,2450), os alunos com auto percepção de classe social mais baixa tendem a ser aqueles que pretendem ingressar no ensino superior e os que se classificam em classe social mais alta são aqueles que não sabem se ingressarão em um ensino superior.

Mesmo assim, pode-se induzir que, entre os alunos que pretendem ingressar no ensino superior, a auto percepção de classe social é mais elevada nos alunos do CEAN, quando comparado com o CEM 404, levando em consideração a renda familiar dos alunos de ambas as escolas. Este resultado é importante, pois pode indicar que a localidade da escola influencia na auto percepção de classe social dos alunos, mesmo que a renda familiar seja similar.

A segunda hipótese do presente trabalho estabelecia que “os alunos que apresentam intensão de ingressar no ensino superior conversam com suas famílias sobre o seu futuro”. Assim, a partir da Tabela 4, apresenta-se o percentual de alunos que pretendem ingressar no ensino superior segundo aqueles que conversam ou não sobre seu futuro, em cada uma das escolas.

(16)

Tabela 4 Percentual de alunos que pretendem ingressar no ensino superior segundo aqueles que conversam ou não sobre seu futuro, em cada uma das escolas.

Porcentagem que pretendem ingressar no ensino superior segundo aqueles que conversam ou não

sobre seu futuro - CEAN

Porcentagem de alunos que pretendem ingressar no ensino superior segundo aqueles que conversam ou não sobre seu futuro - CEM 404

Conversa Não Sim Conversa Não Sim

Familiares 3,7% 96,3% Familiares 14,0% 86,0%

Professores 57,4% 42,6% Professores 57,6% 42,4%

Amigos 9,3% 90,7% Amigos 28,2% 71,8%

Observa-se nos resultados apresentados que, em ambas as escolas, os alunos interessados em ingressar no ensino superior conversam principalmente com seus familiares, seguidos dos amigos. Porém, com os professores os alunos atestam conversar bem menos que os outros dois grupos.

E verificando a associação confirmamos que de fato aqueles alunos que conversam com a família tendem a ser os que pretendem ingressar no ensino superior e aqueles que não conversam com sua família sobre seus planos futuros são aqueles que não pretendem ingressar no ensino superior. No CEAN e no CEM-404 essa associação foi fraca com coeficiente de contingencia igual a 0,279 e 0,1717 respectivamente.

A partir deste resultado, pode-se confirmar a hipótese de que aqueles alunos que pretendem ingressar no ensino superior, independentemente da localidade da escola, em sua maioria, conversam com suas famílias sobre o seu futuro.

Por fim, a última hipótese é analisada a partir da Tabela 5 que apresenta o percentual de alunos segundo intenção de ingressar no ensino superior, por escola. Conforme pode ser visto, 87% dos alunos do CEAN responderam que pretendem ingressar no ensino superior, enquanto que no caso do CEM 404, 77% afirmaram que pretendem cursar o nível superior. Além disso, no CEAN, 13% dos alunos não sabem se pretendem ingressar no ensino superior enquanto que no CEM 404, 22% não sabem e 1% não pretende ingressar no ensino superior.

Tabela 5 Percentual de alunos segundo intenção de ingressar no ensino superior

Porcentagem de alunos de acordo com a intenção de entrar no ensino superior por escola.

Sim Não Não sabe

CEAN 87% 0% 13%

(17)

Assim, a hipótese de que o CEAN apresenta um percentual maior de alunos com pretensão de ingressar no ensino superior quando comparado ao CEM 404 se confirma como verdadeira, mesmo a diferença entre as escolas não sendo tão expressiva.

(18)

Considerações finais

O presente estudo de caso compara os resultados obtidos de pesquisa realizada no Centro de Ensino Médio da Asa Norte e no Centro de Ensino Médio 404 da Santa Maria. O estudo teve por objetivo identificar os fatores que influenciam estes jovens a ingressar no ensino superior. O estudo apresentou o perfil dos alunos de cada uma das escolas e relacionou as principais variáveis presentes nos questionários que os alunos foram convidados a responder, como classe social, classe econômica, escolaridade dos pais e métodos de seleção ao ensino superior.

O presente artigo apresentou uma análise descritiva dos resultados em que percebeu-se uma grande diferença entre o perfil dos alunos do CEAN e do CEM 404. Estas diferenças foram bastante aparentes com relação a renda familiar e a auto percepção de classe social dos alunos de cada escola. No CEAN, a renda familiar apresenta-se, de maneira geral, como maior do que a renda familiar atestada pelos alunos do CEM 404. Ademais, os alunos do CEM 404 se auto perceberam predominantemente como classe média-baixa, enquanto que no CEAN a auto percepção predominante foi de classe média.

Outros dois aspectos bastante interessantes foram os métodos preferenciais dos alunos para ingresso no ensino superior e o diálogo com as pessoas próximas sobre seu futuro. Foi constatado que os alunos do CEM 404 apresentaram maior pretensão de participar dos programas de seleção do que os alunos do CEAN. O ingresso por meio do SiSU é o método que os alunos de ambas as escolas menos atestam saber se utilizarão ou não, mas a maneira de seleção identificada como preferida pelos alunos foi o ENEM.

Como pôde ser observado, os alunos de ambas as escolas conversam sobre o seu futuro prioritariamente com seus familiares. Porém, concluiu-se que havia uma relação diretamente proporcional entre a conversa de alunos sobre seu futuro com amigos e familiares e uma relação inversamente proporcional entre professores e familiares. Novos estudos poderiam abordar esta questão para explicar melhor a distância observada entre alunos e professores, uma vez que a escola deveria ser o fórum adequado para a complementação do diálogo entre amigos e familiares.

Por fim, constatou-se que o CEAN apresentou uma ocorrência maior de alunos com pretensão de ingressar no Ensino Superior quando comparado ao CEM 404, mesmo a diferença entre as escolas não sendo tão expressiva.

(19)

Referências bibliográficas

1. BUSSAB, Wilton de O; MORETTIN, Pedro A. Estatística básica. - 8° ed. Editora Saraiva, 2013.

2. CASTRO, Jorge Abrahão de; AQUINO Luseni Maria C. de; ANDRADE, Carla Coelho de (Orgs). Juventude e políticas sociais no Brasil. Brasília: Ipea, 2009.

3. DIAS-NETO, Eduardo Luiz G.; RIANI, Juliana de Lucena Ruas.

Introdução à Demografia da Educação. Campinas: Associação Brasileira

de Estudos Populacionais – ABEP, 2004.

4. GÖKTAŞ, Atila; İŞÇI, Öznur. “A Comparison of the Most Commonly Used

Measures of Association for Doubly Ordered Square Contingency Tables via Simulation”. Metodološki zvezki, Vol. 8, No. 1, 17-37. Turquia, 2011.

5. MACHADO, Deise Tamara dos Santos Cavalcante. Fatores associados ao

desempenho no ensino médio na AMB: uma análise com equações estruturais. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em

Estatística)—Universidade de Brasília, Brasília, 2014.

6. MENDES, Igor A. Assaf; COSTA, Bruno Lazzarotti D. Considerações Sobre o Papel do Capital Cultural e Acesso ao Ensino Superior: uma Investigação com Dados de Minas Gerais. Educação em Revista, v.31, n.03 ,p. 71-95. Belo Horizonte, 2015.

7. MENEZES-FILHO, Naércio Aquino. Os determinantes do desempenho

escolar do Brasil. IFB, 2007.

8. MIGUEL, Luis Felipe. Bourdieu e a política. VITRAIS- Textos de Politica – Publicação do Mestrado em Ciência Política da Universidade de Brasília. Nº1. Brasília, 2001.

9. YIN, Robert. Estudo de caso: planejamento e métodos. Trad. Daniel Grassil – 2º ed- Porto Alegre: Bookman, 2001.

Referências

Documentos relacionados

INCLUSÃO SOCIAL E DESEMPENHO DOS ALUNOS COTISTAS NO ENSINO SUPERIOR NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA.. Belo

Nessa situação temos claramente a relação de tecnovívio apresentado por Dubatti (2012) operando, visto que nessa experiência ambos os atores tra- çam um diálogo que não se dá

Neste tipo de situações, os valores da propriedade cuisine da classe Restaurant deixam de ser apenas “valores” sem semântica a apresentar (possivelmente) numa caixa

Percebo que um objetivo esteve sempre presente desde o princípio, sendo notadamente insistente em muitos momentos do desenvolvimento do trabalho, destacável não só porque faz parte

O modelo matemático que representa o comportamento físico do VSA é composto por equações diferenciais ordinárias cujos principais coeficientes representam parâmetros

Para estudar as obras de José de Albuquerque e saber como e quais foram as influências na construção de seu discurso sobre a necessidade da educação sexual, vimos necessário

Com base na investigação prévia do TC em homens com sobrepeso na meia- idade (LIBARDI et al., 2011) e outras que utilizaram o treinamento aeróbio ou de força de moderada

elas expressam por excelência o espaço do sujeito na sua relação com alteridade, lutando para interpretar, entender e construir o mundo (JOVCHELOVITCH, 2002, p.82). Nesse processo