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Corpo e expressividade no cinema de Charles Chaplin: notas sobre o conhecimento da Educação Física

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Academic year: 2021

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(2) MARIA LÚCIA SEBASTIÃO. CORPO E EXPRESSIVIDADE NO CINEMA DE CHARLES CHAPLIN: NOTAS SOBRE O CONHECIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. (UFRN),. como. exigência. para. obtenção de título de Mestre em Educação Física.. Orientadora: Profa. Dra. Terezinha Petrucia da Nóbrega Co-orientadora: Profa. Dra.Rosie Marie Nascimento de Medeiros. NATAL-RN 2016.

(3) CORPO E EXPRESSIVIDADE NO CINEMA DE CHARLES CHAPLIN: NOTAS SOBRE O CONHECIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como exigência parcial para obtenção de título de Mestre em Educação Física. Dissertação apresentada e qualificada em: ____/____/2016. BANCA EXAMINADORA. Profa. Dra.Terezinha Petrucia da Nóbrega (Orientadora) Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Profa. Dra. Rosie Marie Nascimento de Medeiros (Co-orientadora) Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN _______________________________________________________________ Prof. Dr. José Pereira de Melo (Suplente interno) Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Prof. Dr. Iraquitan de Oliveira Caminha (Titular externo) Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Profa. Dra. Elaine Melo e Brito Costa (Suplente externo) Universidade Federal da Paraíba – UFPB.

(4) Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Sistema de Bibliotecas Biblioteca Central Zila Mamede / Setor de Informação e Referência Sebastião, Maria Lúcia. Corpo e expressividade no cinema de Charles Chaplin: notas sobre o conhecimento da Educação Física / Maria Lúcia Sebastião. - 2016. 117 f. : il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. Natal(RN), 2016. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Terezinha Petrucia da Nóbrega. Coorientadora: Prof.ª Dr.ª Rosie Marie Nascimento de Medeiros 1. Educação física – Dissertação. 2. Corpo – Dissertação. 3. Cinema – Dissertação. 4. Expressividade – Dissertação. 5. Chaplin, Charles - Dissertação. I. Nóbrega, Terezinha Petrucia da. II. Medeiros, Rosie Marie Nascimento de. III. Título. RN/UF/BCZM. CDU 374:791.

(5) Dedico este trabalho a minha mãe, por ter me escolhido para ser sua filha. É por ela que eu vivo..

(6) AGRADECIMENTOS Inicialmente, agradeço a Deus pela força inexplicável que habita em meu corpo, a qual não me deixou cair e sempre me amparou nos momentos mais difíceis da minha vida. À Alzira, minha mãe que lutou e luta desde a primeira vez que me pegou nos braços e me escolheu para ser sua filha, me dando todo o amor e carinho que uma mãe possa dar a um filho. Aos meus amigos que eu deixei de encontrar para concretizar a escrita deste trabalho, eu só agradeço aos que continuaram ao meu lado. Às minhas amigas de estudo Isabel Batista e Paula Nunes, por me proporcionarem algumas tardes de conversa, bem como a troca de conhecimento na sala do Estesia. A uma pessoa especial que jamais quero esquecer e que sempre esteve de braços abertos para me ouvir, me aconselhar e vibrar a cada conquista, eu tenho que agradecer a Akemi Claro. À minha querida orientadora Terezinha Petrucia da Nóbrega, por ter me abraçado desde a minha graduação, quando fui conversar pedindo para entrar no grupo de pesquisa Estesia e ela simplesmente me acolheu, me dando segurança para lutar pela realização dos meus objetivos. Eu só tenho gratidão pelas contribuições valiosas em cada orientação e por ter tido paciência de me fazer ir além do que eu imaginava. Obrigada por todo investimento e confiança que foram depositados em mim. À minha co-orientadora Rosie Marie, uma pessoa linda e que eu admiro pelo conhecimento, profissionalismo e generosidade. Obrigada por cada orientação ao longo desse processo que não é fácil. Com a sua ajuda, consegui finalizar esse ciclo e sou grata por todo o apoio recebido durante a realização deste trabalho. Obrigada a todos!.

(7) RESUMO. O cinema exibe o movimento do corpo, altera a nossa percepção, nos leva à vertigem, havendo um envolvimento com a apreciação do movimento da câmera. O cinema nos transporta para outros mundos, outras emoções, realidades, momentos, e é por meio da percepção que nós como espectadores tomamos o cinema como uma possibilidade para refletir diversas situações, reais ou imaginárias. Considerando essa experiência do cinema, o objetivo da pesquisa é estabelecer relações entre corpo e expressividade, a partir de apreciações de obras de Charles Chaplin, visando compreender o conhecimento estético na Educação Física. O método de pesquisa utilizado baseia-se na atitude fenomenológica proposta pelo filósofo Maurice MerleauPonty. Assim, incorporamos à experiência vivida, a redução e a intencionalidade do movimento. Nesse sentido, realizamos apreciações de duas obras do cineasta Charles Chaplin: Tempos Modernos (1936) e O Circo (1928), na ficha de conteúdo descrevemos alguns aspectos relacionados à percepção corporal, ao esquema corporal, à motricidade e à expressividade. Nessa perspectiva, possibilitamos outros modos de pensar a Educação Física e valorizar o poder que o corpo tem de criar e recriar, interpretando o movimento nas suas mais diversas formas.. Palavras-chave: Expressividade.. Corpo.. Cinema.. Percepção.. Esquema. corporal..

(8) ABSTRACT. Cinema exhibits the movement of the body, affects our perception, takes us in a vertigo and produces an evolvement of ourselves with the camera on action. Movie has the capacity of taking us to other worlds, emotions, realities and moments; as spectators, we see cinema as a way of reflecting on several situations, be they real or imaginary. The objective of this paper is to establish relations between body and expressiveness as it appears in Chaplin‟s films as a resort to understand the aesthetic knowledge in Physical Education. The research method relies on the phenomenological attitude proposed by the French philosopher Maurice Merleau-Ponty. Thus, we enrich the living experience with reduction and movement intentionality. In this sense, we evaluated two works realized by Charles Chaplin: Modern Times (1936) and The Circus (1928). In field contents, we describe some aspects relating to corporal perception, drivability and expressiveness. In this perspective, we developed other ways of thinking Physical Education and valuing the body power of creation and re-creation while interpreting movement in its more diversified forms.. Keywords: Body. Cinema. Perception. Corporal Scheme. Expressiveness..

(9) LISTA DE IMAGENS. Imagem 1 – Charles Chaplin Fonte: Chaplin, 1992 ........................................................................................ 32 Imagem 2 – Rebanho de ovelhas Fonte: Tempos Modernos, 1936 ..................................................................... 41 Imagem 3 – Operários entrando na fábrica Fonte: Tempos Modernos, 1936 ...................................................................... 42 Imagem 4 – Presidente da fábrica sentada em sua mesa Fonte: Tempos Modernos, 1936 ...................................................................... 45 Imagem 5 – Chaplin trabalhando na máquina Fonte: Tempos Modernos, 1936 ...................................................................... 48 Imagem 6 – Um corpo descontrolado e desorganizado Fonte: Tempos Modernos, 1936 ...................................................................... 49 Imagem 7 – Chaplin serrando as unhas Fonte: Tempos Modernos, 1936 ...................................................................... 52 Imagem 8 – Chaplin é preso à máquina Fonte:Tempos Modernos, 1936 ....................................................................... 55 Imagem 9 – Chaplin é visto como louco Fonte: Tempos Modernos, 1936 ...................................................................... 59 Imagem 10 – Chaplin e o movimento intencional Fonte: Tempos Modernos, 1936 ...................................................................... 63 Imagem 11 – Chaplin se despede das reflexões feitas no filme Fonte: Tempos Modernos, 1936 ...................................................................... 66.

(10) Imagem 12 – Apanhar uma flor na mímica Fonte: A mímica total, 2014.............................................................................. 72 Imagem 13 – O teste Fonte: O circo, 1928 ......................................................................................... 75 Imagem 14 – O corpo e espaço Fonte: O circo, 1928 ......................................................................................... 77 Imagem 15 – Chaplin e a sala dos espelhos Fonte: O circo, 1928 ......................................................................................... 79 Imagem 16 – Chaplin andando na corda Fonte: O circo, 1928 ......................................................................................... 81 Imagem 17 – Glandomênico Fonte: Carmem Lucia Soares, 2013 ................................................................. 83 Imagem 18 – Georges Seurat – O circo, pintado em 1981 Fonte: Carmem Lucia Soares, 2013 ................................................................. 85 Imagem 19 – Edgar Degas – Mademoiselle Lala Fonte: Carmem Lucia Soares, 2013 ................................................................. 86.

(11) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 9. CAPÍTULO I O CINEMA DE CHARLES CHAPLIN ............................................................ 19. CAPÍTULO II TEMPOS MODERNOS – O MOVIMENTO .................................................... 34 O corpo-objeto no filme Tempos Modernos ................................................... 35 Notas sobre o esquema corporal e o movimento no cinema.......................... 53. CAPÍTULO III O CIRCO E A EXPRESSIVIDADE NA EDUCAÇÃO FÍSICA ........................ 68 A expressão do corpo e a cultura de movimento ........................................... 88. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 97 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 104 APÊNDICES .................................................................................................. 109 ANEXOS ........................................................................................................ 114.

(12) 9. INTRODUÇÃO. O olhar sobre o corpo e a expressão, tema deste estudo, teve início no período em que participei do projeto “A dança como carta do visível, do corpo e do movimento humano”1, no laboratório VER2, como bolsista de iniciação científica, no ano de 2013, no curso de Educação Física, que tematiza o corpo em várias áreas do conhecimento. Compreendemos que para a Educação Física é importante pensar o corpo de forma mais ampliada, considerando que somos corpos e que nos comunicamos a partir de diversas linguagens, inclusive a linguagem corporal. Sendo assim, entendemos que o corpo é onde habita a expressão, é um corpo vivo que mesmo em silêncio se comunica por meio do gesto. A compreensão de corpo nesta pesquisa afina-se com o corpo fenomenológico, um corpo próprio, aquele que tem sentidos e significados, o corpo da percepção diante dos objetos, do espaço e, principalmente, diante de outros corpos. Considero que é com meu corpo que percebo as coisas, é com ele que me relaciono e me movimento. Nesse sentido, sabemos que esse corpo é o corpo da expressividade, capaz de ter uma linguagem própria e assim se comunicar com o outro. Na expressão algo novo é fundado no corpo, há um sentido aderente aos movimentos, aos gestos e às posturas. São essas posturas que revelam um modo intencional de o sujeito se movimentar no mundo. A respeito da comunicação do corpo, afirma Merleau-Ponty (1999, p. 251): Obtém-se a comunicação ou a compreensão dos gestos pela reciprocidade entre minhas intenções e os gestos do outro, entre meus gestos e intenções legíveis da conduta do outro. Tudo se passa como se a intenção habitasse o seu.. Por meio desses fios intencionais, compreendemos o que quer dizer o outro corpo através do gesto e da expressão. Quando pensamos em expressão, 1. Nesta pesquisa, investigamos a natureza social da Educação Física, focando nosso olhar para as práticas corporais, o gesto e a expressão a partir da dança e do cinema. Esta pesquisa contribuiu para uma compreensão da cultura de movimento contemporânea, destacando a visibilidade do corpo e do movimento humano em seus aspectos cinestésicos, poéticos e estéticos (NÓBREGA, 2013). 2 Laboratório de Imagem do Corpo e da Cultura de Movimento. Situa-se no Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Vinculado ao Grupo de Pesquisa Estesia..

(13) 10. pensamos nas diversas maneiras de se movimentar, nas diversas formas que o corpo tem para se comunicar, por exemplo, andar, correr, pular, girar, dançar, ou até mesmo pensar no corpo em silêncio. E é exatamente nesse silêncio que nascem o gesto e a expressão. Esses sentidos, gestos, vêm nos revelar o movimento intencional do sujeito e reconhecer no corpo um núcleo de significações. Assim: “pode-se então admitir que o que é expresso e a expressão são recíprocos e indistinguíveis, que se reciprocam assim como o sentido da poesia se recíproca com a expressão poética” (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 557). Portanto, a expressão se dá por meio dos gestos. É pensando na expressividade do corpo, na maneira como o corpo desenha seus movimentos, que lançamos o olhar para a arte cinematográfica para ampliar nossos estudos e perceber a expressão do corpo na Educação Física. Portanto, para tratarmos essas questões, consideramos que o cinema é uma imagem com vários significados, e por isso está sempre narrando uma história e convencendo ou não o público. No cinema usamos nossa imaginação de forma subjetiva e pensando no seu contexto histórico, por exemplo, as crenças, a classe social, a época e a cultura. Além do mais, o filme nos afeta a ponto de mudar nossa postura. Nesta pesquisa, o cinema é considerado como estratégia para refletir sobre o corpo, a expressividade e o conhecimento estético da Educação Física. É pensando no nosso esquema corporal que o corpo para MerleauPonty é o veículo do ser no mundo, que experimenta suas intenções em ações. O corpo comunica-se com o mundo através do movimento sem que precise calcular, por exemplo, que distância irá percorrer, que direção irá tomar, diante de um objeto ou mesmo outro corpo. Além disso, o próprio corpo se movimenta projetando sua expressão e dando sentido aos acontecimentos exteriores. Enfim, o corpo fenomenal é o ser paradoxal do mundo, são corpos de várias faces, vários sentidos, do visível e invisível. Para Merleau-Ponty (2010, p. 12), “o corpo fenomenal ou corpo próprio, que a um só tempo é „eu‟ e „meu‟”. Nesse contexto cinematográfico, ampliamos o nosso olhar reflexivo acerca do corpo e sua expressividade nas obras de Chaplin, desenhando horizontes de significações sobre o movimento expressivo. É pelo movimento expressivo que o corpo realiza não somente os gestos necessários à conservação da vida, mas suas manifestações constroem uma rede de.

(14) 11. significados que dão sentido aos movimentos cotidianos ou expressivos como a dança ou o esporte. Sendo assim, para articular nossa dissertação, formulamos as seguintes questões de pesquisa: Como se configura a expressão do corpo e do movimento nos filmes de Charles Chaplin? Como esses elementos podem contribuir para o conhecimento do corpo e da expressividade na Educação Física? Diante dessas questões, pode-se afirmar que o cinema desperta a imaginação, cria novos sentidos, além de abrir as portas para novos olhares significativos para a Educação Física, por exemplo, a expressividade do corpo e do movimento partindo do personagem fílmico, ampliando o conhecimento estético e a sensibilidade nessa área. Após as questões de estudos, considerando a experiência do cinema, o objetivo da pesquisa é estabelecer relações entre corpo e expressividade a partir de apreciações de obras cinematográficas de Charles Chaplin visando compreender o conhecimento estético na Educação Física. Este estudo é justificado por apresentarmos o cinema como fonte de conhecimento que amplia o nosso olhar sobre o corpo, podendo ser tematizado em várias áreas de conhecimento, por exemplo, consciência corporal, atividades rítmicas expressivas e cultura de movimento. Nesse sentido, em pesquisa realizada no banco de teses intitulada Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), não encontramos nenhum trabalho sobre a arte cinematográfica de Charles Chaplin relacionando o corpo e a expressividade sob o prisma da Educação Física. No entanto, é imprescindível reconhecer alguns trabalhos sobre a temática no banco de dados do Grupo de Pesquisa Corpo, Fenomenologia e Movimento (Estesia) em parceria com o Laboratório VER, a saber: Corpo, percepção e cultura de movimento no cinema (LOPES, 2015); No caminho das artes marciais: a relação mestre e discípulo como educação sensível (SILVA, 2014); O corpo em Michael Onfray (OLIVEIRA, 2015); Esporte como experiência estética e educativa: uma abordagem fenomenológica (SILVA, 2014); Corpo e aprendizagem em Boris Cyrulnik e Merleau-Ponty (SILVA JÚNIOR, 2014); e O corpo do Grupo Corpo: os movimentos da obra Benguelê Lecuona e Onqotô (SILVA, 2013). Todos os trabalhos citados evidenciam o cinema como horizonte que amplia o nosso olhar e os conceitos do corpo fenomenológico. Nesse.

(15) 12. sentido, relacionamos o conhecimento cinematográfico com o conhecimento da Educação Física, haja vista que o cinema ainda é pouco relacionado com essa área. É necessário reconhecer o Projeto de Extensão CINESTESIA3, o qual tem como objetivo fomentar e discutir temas diversos, como, por exemplo, o corpo, a expressividade, a motricidade, o esquema corporal e a sexualidade, possibilitando outros modos de ver e pensar por meio do cinema, uma arte que desperta a dimensão poética do corpo para fazer deste uma obra de arte e relacioná-lo com a Educação Física. Para tanto, precisamos levar em consideração a relação do corpo na Educação Física a partir da relação corpo e mundo no sentido que pertencemos ao mundo e nessa relação o corpo vai se modificando, criando e recriando, sendo percebido e adquirindo novos significados. Quando digo que meu corpo é sempre percebido por mim, essas palavras não devem então ser entendidas em um sentido simplesmente estatístico e deve haver na apresentação do corpo próprio algo que torne impensável na ausência ou mesmo sua variação (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 135).. Para esta investigação temos como referência metodológica a atitude fenomenológica. proposta. pelo. filósofo. Maurice. Merleau-Ponty.. Assim,. incorporamos à experiência vivida, a redução e a intencionalidade do movimento, considerando, enquanto resultado de nossa experiência no mundo, o mundo vivido. Sobre a fenomenologia Merleau-Ponty (1999, p. 1) afirma: É o estudo das essências, e todos os problemas, segundo ela, resumem-se em definir essências: a essência da percepção, a essência da consciência, por exemplo. Mas a fenomenologia é também uma filosofia que repõe as essências na existência, e não pensa que se possa compreender o homem e o mundo de outra maneira senão a partir de “facticidade”. É uma filosofia transcendental que coloca em suspenso, para compreendê-las, as afirmações da atitude natural, mas é também uma filosofia para a qual o mundo já está sempre “ali”, antes da reflexão, como uma presença inalienável, e cujo esforço todo consiste em reencontrar este contato ingênuo com o mundo, para darlhe enfim um estatuto filosófico.. 3. O Cinestesia é um projeto de extensão realizado pelo Grupo de Pesquisa Estesia, no Auditório do Laboratório VER, no Departamento de Educação Física da UFRN. O projeto foi criado no ano de 2014 e se realiza a partir de encontros destinados a fomentar e discutir temas diversos nos quais as conexões entre o corpo, a expressividade, a estética e o movimento humano se fazem presentes..

(16) 13. Na fenomenologia, é preciso destacar a redução enquanto caminho de busca e ampliação para a pesquisa. Nesse sentido, para Merleau-Ponty (1999), é preciso romper com nossa familiaridade para uma melhor compreensão. É porque somos do começo ao fim relação ao mundo que a única maneira, para nós, de apercebermo-nos disso é suspender este movimento, recusar-lhe nossa cumplicidade, ou ainda colocá-lo fora de jogo. Não porque se renuncie às certezas do senso comum e da atitude natural – elas, são, ao contrário, o tema constante da filosofia -, mas porque, justamente enquanto pressupostos de todo pensamento, elas são “evidentes”, passam despercebidas e porque, para despertálas e fazê-las aparecer, precisamos abster-nos delas por um instante (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 10).. Percebemos em nossas leituras que a fenomenologia não tem o objetivo de explicar ou analisar, mas sim de descrever a partir de uma experiência nossa pensando no espaço e tempo vivido de cada corpo. Diante disso, Merleau-Ponty (1999, p. 3) aponta que: “Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o seu a partir de uma visão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não poderiam dizer nada”. Essa experiência com o mundo fenomenológico nos leva a pensar não de forma isolada, mas de forma que existe a relação do corpo com os objetos, e com outros corpos, ou seja, uma relação com o mundo. Sobre isso MerleauPonty (1999, p. 19) assevera: “o mundo fenomenológico não é a explicitação de um ser prévio, mas a função do ser; a filosofia não é o reflexo de uma verdade prévia, mas, assim como a arte, é a realização de uma verdade”. Portanto, a arte de assistir a um filme nos leva a sentir inúmeras sensações corporais. Esse convite às imagens nos faz pensar, sobretudo, nos enigmas do corpo, do movimento e na percepção que temos do corpo pensando no cinema, portanto, afirmamos que o cinema nos dá o movimento. Segundo Nóbrega e Neto (2014, p. 86), “o cinema nos dá a conduta, os comportamentos, as fisionomias que nos abrem um campo de estudo sobre a expressividade do corpo de modo amplo e criativo”. Assim, compreendemos que o cinema não é um emaranhado de cenas, e que, ao final, somando-as, podemos dizer que é arte cinematográfica, pois, conforme Nóbrega e Neto (2014, p. 87), “uma imagem cinematográfica é um alinhamento de certas relações do mundo diante de nós, do nosso olhar”. Esse.

(17) 14. alinhamento é um conjunto de imagens que devemos apreciar, e é preciso fazêlo com inúmeras interpretações. Todas as cenas analisadas exigem do pesquisador um olhar, uma relação de organização, pensamentos, e julgamentos diante da cena escolhida para ser analisada, e que em cada cena o nosso pensamento venha a se construir, se organizar, e que futuras relações venham se formar. Nota-se que o nosso trabalho de analisar cena por cena, é perceber o corpo em movimento e a relação com o mundo, ou seja, o nosso entorno configurado no campo visual. Nesse sentido: A atitude do pesquisador não será a de libertar ou interpretar os sentidos escondidos, formando a unidade da percepção por meio de sua inteligência. Seu esforço será o de, dirigindo-se à imagem, perceber que a tendência de todos os seus objetos é a constância e a estabilidade, que se dá pela configuração do próprio campo visual (NÓBREGA; NETO 2014, p. 88).. É por isso que quando tomamos o cinema como forma de ampliar nossas percepções, não pensamos simplesmente que seja uma soma de imagens. O sentido do cinema depende de uma sequência de imagens que se completam a todo o momento, e que cria cenas reais ou imaginárias. Sobre isso, Nóbrega e Neto (2014, p. 89) afirmam: Olhar o filme a partir desta perspectiva nos faz lembrar que ele não pode ser reduzido, simplesmente, a uma sequência de imagens. Estar atento ao tempo exigirá considerar a duração de cada imagem, e essa só poderá ser bem analisada caso seja visualizada a partir de sua inserção no ritmo do filme, isto é, em união com as imagens que a precederam, com seus próprios ritmos, e as que lhe sucederão. Nesse sentido, prestar atenção à montagem enquanto síntese dos vários elementos nos planos filmados é importante.. Com essa mesma perspectiva, buscamos fazer apreciações dos filmes de Charles Chaplin, logo após as confecções de fichas de conteúdos dos filmes elaboradas no laboratório VER. Em seguida, selecionamos as cenas de forma intencional e subjetiva. Ao tomar a arte cinematográfica como estratégia metodológica, podemos encontrar um campo significativo com inúmeras interpretações, diálogos, um campo que mesmo explorado ainda esconde várias faces e enigmas. Nóbrega e Neto (2014, p. 91) ampliam a nossa discussão com a seguinte reflexão:.

(18) 15 Nota-se, portanto, que as imagens cinematográficas ampliam nosso olhar, alteram nossa percepção, nos retiram da paisagem comum para nos permitir ver de outras maneiras, encantados com a magia do cinema e o poder de suas imagens em movimento. Mergulhamos num universo em que histórias são contadas em um tempo e em um espaço dilatados da percepção cotidiana.. Nas fichas de conteúdos dos filmes elaboradas nesta pesquisa (ver Anexo), podemos observar três categorias: ficha de análise (título original e em português, ano e país de produção, direção, gênero, duração, e idioma); técnica cinematográfica (argumento, foco narrativo, cenário e figurino, trilha sonora, se houver, fotografia e câmera); e argumento, que diz respeito ao sumário da história, motivação dos personagens e enredo. Já o foco narrativo, refere-se à perspectiva a partir da qual a história é contada, sendo uma visão subjetiva. Em relação ao cenário, envolve o lugar onde o filme foi gravado, se foi num estúdio ou em um ambiente natural ou se o filme é real ou figurado. No que diz respeito à trilha sonora, é a parte musical, por exemplo, efeitos sonoros, ruídos, diálogos ou silêncios. Já a fotografia diz respeito às cores, tons predominantes, contrastes (luz ou sombra), os efeitos de iluminação (o foco, a penumbra). Embora eu não tenha explorado a movimentação da câmera nos capítulos, eu trago na ficha a explicação do movimento da câmera envolvendo o enquadramento e os planos, a animação, efeitos gráficos, trucagem e fusão. Em relação aos planos, tem-se o plano geral; o plano médio (pessoas, objetos); o primeiro plano (rosto) o plongée, o contraplongée e o travelling. E, por fim, iremos discutir as percepções do corpo e do movimento no cinema, pensando nas categorias (corpo e movimento, corpo e expressão, corpo e olhar e por fim corpo e espaço). A partir dessas categorias, selecionamos as cenas, e a partir destas, iremos observar e descrever o que faz sentido pensando nas percepções do corpo e do movimento expressivo na Educação Física. Diante disso, sabemos que a obra é aberta a inúmeras interpretações, por isso não pretendemos trazer todas as cenas para nossa pesquisa, mas destacar as que consideramos as mais emblemáticas. Pensando nas fichas de análise de conteúdo, elencamos as categorias de estudo: Corpo, Movimento e Expressividade. Os critérios de escolha fundamse nas percepções do corpo e do movimento. Além disso, iremos destacar e descrever cenas que permitem refletir sobre o corpo e a expressividade..

(19) 16. A elaboração das categorias de estudo constitui-se em ampliar os pensamentos para a Educação Física num olhar fenomenológico, abrindo novos horizontes de reflexão. Assim, este trabalho irá contribuir com as percepções do corpo e do movimento, abrangendo diversos aspectos para ampliar as concepções de corpo na Educação Física, pelo viés de um corpo expressivo, um corpo estesiológico4, ou seja, em Merleau-Ponty, é um corpo que afeta e é afetado. Lançamos nosso olhar tendo como base a fenomenologia para dois filmes de Charles Chaplin: Tempos Modernos (1936) e O Circo (1928). Trata-se de filmes emblemáticos de Chaplin que nos levam a pensar na intencionalidade do movimento, além de refletir as concepções corporais, como, por exemplo, a percepção, a imagem corporal, o esquema corporal, a motricidade e a expressividade. A dissertação está organizada em três capítulos. No primeiro capítulo, intitulado “O cinema de Chaplin,” dialogamos com a arte cinematográfica não como um recurso apenas visual, ou algo ilustrativo, mas pensando o cinema como uma linguagem indireta e que possibilita diversas maneiras de perceber e interpretar uma cena. Corroborando esse pensamento, Nóbrega e Neto (2014, p. 81) afirmam: As imagens cinematográficas, no universo da pesquisa, precisam ser vislumbrados de outro modo: não como meras estratégias metodológicas, mas como linguagem indireta que faz o pesquisador ver e pensar de outro modo.. Nesse sentido, pensamos na arte cinematográfica, na linguagem do corpo, e no deslumbramento que essa arte proporciona de forma indireta, através das imagens fascinantes que se formam na tela e que prendem a nossa atenção, assim ampliando as nossas compreensões de movimento. Sobre isso, Lopes (2015, p. 212) afirma: A cinematografia, portanto, nos dá mais do que uma pura diversão, um momento de lazer. As suas imagens móveis excedem a tela pela sua 4. Nóbrega (2008) traz a referência de estesiologia de acordo com o livro A Natureza, do filósofo Maurice Merleau-Ponty, onde ele dedica um capítulo ao tema da estesiologia, definido como a ciência dos sentidos. Sua característica abre o corpo para o exterior, transformando-o em um corpo poroso, que permite a comunicação do meu corpo e dos outros corpos. A sensorialidade é um investimento que configura a estesia, a capacidade fisiológica, simbólica, efetiva de impressão dos sentidos..

(20) 17 linguagem indireta e fazem brolhar outros sentidos e significados sobre as relações advindas da cultura e da natureza, do individual e do coletivo, do nosso corpo e o dos outros. A partir disso, temos que o cinema possibilita que ampliemos a compreensão de movimento para além das práticas corporais, produzindo, por meio da experiência perceptiva, novas formas de vermos, de nos relacionarmos com o mundo e, ao mesmo tempo, aponta os caminhos para que nós também nos recriemos.. A partir da descrição envolvendo reflexões sobre o cinema, partimos para a descrição do personagem Carlito, que nos leva a transitar do mundo real ao mundo imaginário, dando-nos a possibilidade de conhecer fatos vividos pelo próprio Chaplin e que são passados de forma engraçada, mas que denunciavam as injustiças sociais em cada filme. Esse grande artista sabia como fazer rir e também chorar seus espectadores. No segundo capítulo, Tempos Modernos – O movimento, há um ensejo de resgatar o corpo que revela uma unidade primordial entre o corpo-objeto e o corpo-sujeito. Essa noção de corpo sujeito concebida por Merleau-Ponty nos permite compreender o corpo não como um mero organismo, cujas funções podem ser explicadas por leis causais, mas pensando na perspectiva fenomenológica. Com isso trazemos o pensamento reflexivo de um corpo para além do materialismo, que conhece o mundo e as coisas em seu entorno por meio da experiência vivida.. Cabe agora dizer que não é um corpo puramente físico que se move, mas, na verdade, um corpo que mantém sua natureza integrada em toda a sua história e cultura. A partir disso, os significados que emergem dessa relação desvelam os objetos do mundo por se encontrarem imersos no mesmo universo, bem como na experiência perceptiva (LOPES, 2015, p. 81).. Apresentaremos algumas reflexões considerando as percepções do movimento humano no cinema e que nos revelam um corpo com inúmeras linguagens expressivas. No terceiro capítulo, intitulado O circo e a expressão na Educação Física, almejamos compreender a linguagem ressaltada por Merleau-Ponty, esse será o ponto de partida para investigar o gesto e o movimento expressivo. Tal entendimento da expressão corporal nos faz entender que ela está imbricada no próprio corpo, “a expressão corporal pertence a todos” (PUJADE-RENAUD,.

(21) 18. 1990, p. 93). Nesse sentido, a expressão corporal é entendida como uma espécie de estilo pessoal de cada indivíduo através do movimento, posição e atitude. Com o propósito de entender a expressividade, no terceiro capítulo mergulhamos na obra de Chaplin e descrevemos o fenômeno do corpo e do gesto e a expressividade. O desenvolvimento desse capítulo nos proporciona o descobrimento do movimento expressivo do corpo circense do palhaço Carlito no filme O circo (1928), de Chaplin, para poder exprimir a noção de expressividade na Educação Física. Noção essa que julgamos de extrema relevância para a Educação Física, pensando na contribuição que iremos trazer ao descrever o conceito de expressividade, pois a expressão engaja o gesto, o movimento, e com isso o corpo cria novos esquemas corporais, novas maneiras de se expressar no mundo, metamorfoseando o movimento corporal, ou seja, o movimento passa por significativas mudanças. Nesse caminho expressivo do corpo, “O movimento ganha, assim, uma autonomia, pois ele deixa o terreno mimético para entrar no mundo simbólico” (NÓBREGA, 2015, p. 119). Convido-lhe, então, a fazer algumas reflexões a respeito do cinema e a obra de Charles Chaplin, no primeiro capítulo, de maneira sensível, permeando a todo instante o corpo, o espaço e o tempo. Ao convocar a nossa sensibilidade, continuamos a apreciação do tema corpo numa cumplicidade filosófica..

(22) 19.

(23) 20. E então, vislumbramos a essência estética do cinema, não como evidência transcendente, mas relativa à magia. (MORIN, 2014, p. 250).. O cinema e sua linguagem conquistam a sociedade, ele tem o caráter mágico de poder levar as pessoas a imaginar cada cena, com sua iluminação, ângulos, planos, focos e expressões corporais. Cada movimento que a câmera faz é um convite aos nossos olhos e ao nosso corpo, para percorrer cada detalhe visto, seja em câmera lenta ou rápida. Portanto, o cinema é uma arte que leva o corpo ao devaneio, à magia, e assim nos faz perceber as relações do sujeito com o mundo de um modo amplo, criativo e poético. Ressaltamos as palavras de Langer (1980, p. 427) em uma nota sobre o filme: Eis uma nova arte. Por algumas décadas ela não pareceu ser mais do que recurso técnico da esfera do drama, uma nova maneira de preservar e recontar desempenhos dramáticos. Mas, hoje, seu desenvolvimento já desmentiu essa suposição. A tela não é um palco, e o que é criado na concepção e realização de um filme não é mais uma peça. É cedo demais para sistematizar qualquer teoria sobre essa nova arte, mas mesmo em seu presente estado primitivo, ela exibe – penso que muito além de qualquer dúvida – não apenas uma nova técnica, mas um novo modo poético.. Percebemos que no cinema existe uma linguagem poética que traz um sentido para o público capaz de reverberar emoções em cada corpo. Portanto, “a linguagem significa quando, em vez de copiar pensamento, deixa-se desfazer e refazer por ele. Traz seu sentido como o rastro de um passo significa o movimento e o esforço de um corpo” (MERLEAU-PONTY, 2004, p. 73). Nesse sentido, é preciso decifrar essa linguagem poética, essa arte que nos afeta e que nos provoca um estado de ânimo, percorrendo concepções de sentimento, envolvendo a nossa realidade e provocando emoções inspiradas nas palavras, nos gestos, nas linguagens, nas movimentações que cada cena pode trazer, para compreender a arte cinematográfica, isto é, percorremos emoções no cinema mudo. É interessante pensar que o cinema pode suscitar sensações diversas no espectador, desde as sensações agradáveis até as mais desagradáveis vistas.

(24) 21. nas cenas, ele também consegue mascarar as nossas percepções. Sendo assim, existem algumas imagens que implicam a perda da imagem, no sentido de confundir as nossas ideias, tornando-se confusa a imagem. Logo, no cinema sempre haverá ambiguidades. Assim, é preciso lembrar que explicar as ambiguidades do cinema, é entender que ele tem o poder de esconder por um lado e revelar por outro as ideias dos filmes através das lentes mágicas, das projeções feitas ao longo das cenas. Nesse sentido, essas lentes mágicas, ou seja, esse ato de esconder e revelar são percebidos através das luminosas imagens mostrando vários truques mágicos que são capazes de aguçar a nossa percepção. A imagem é percebida, quase de modo automático, por uma interpretação em termos espaciais e tridimensionais. As ilusões elementares do tipo que mencionamos manifestam espetacularmente, de um modo particular que é o da percepção „imposta‟, essa capacidade (AUMONT, 1993, p. 68).. A percepção é muito importante para entender o espaço, o tempo, o ritmo, a relação do corpo e o deslocamento que a câmera faz diante dos nossos olhos. Segundo Aumont (1993, p. 77), “o sujeito não pode ser definido de forma simples, pois sua relação com a imagem é definida pela capacidade de percepção, pelo conhecimento prévio, pelos valores e gostos e por sua vinculação num contexto”. Isto é, usamos a percepção para compreender as diversas maneiras do corpo se movimentar diante da câmera, além disso, todas as vezes que assistimos a um filme temos que aceitar um tipo de jogo e nos deixarmos transportar nas imagens. Portanto, percebemos que as imagens são feitas para serem vistas e apreciadas, é através do olhar que conseguimos captar as movimentações de cada corpo, de cada objeto e da história que é passada ao longo do filme. Em cada filme percebemos uma preocupação com as imagens e seus significados, essa imersão que o filme proporciona nos faz pensar naquele momento e o que está acontecendo com os nossos sentidos, a ponto de nos afetar e de desviar os nossos olhares. Diante disso, Nóbrega (2013, p. 185) afirma:.

(25) 22 O cinema desvia o olhar, convoca nossa sensibilidade para ver, sentir, imaginar, conhecer. A apreciação de imagens cinematográficas, ver um filme, apresenta-se como possibilidade para se perceber os usos e investimentos do corpo, as fisionomias, o esquema corporal, a gestualidade e o modo como vivemos a nossa corporeidade, sentimos, existimos.. Então, a imagem é feita para olhar convocando a nossa sensibilidade, nos prendendo àquele mundo virtual e mágico. É certo que o cinema abre possibilidades e investimentos cerca do corpo no sentindo de perceber as fisionomias, o esquema corporal e a gestualidade. Tais conceitos são de extrema importância, mas não iremos aprofundar nesse momento, e sim em capítulos posteriores. Enfim, nossos olhares percorrem os espaços, os tempos, os objetos, as paisagens e os corpos se movimentando, portanto, o nosso olhar se cruza com o olhar do cineasta, recuperando situações já vividas. O entrelaçamento do olhar vem para garantir a forma como interpretamos cada imagem, portanto, a imagem é para ser vista de forma que possamos compreender algumas funções, e para isso recorremos à escrita de Aumont (1993, p. 81) ao afirmar que “a imagem tem por função primeira garantir, reforçar, reafirmar e explicar nossa relação com o mundo visual: ela desempenha papel de descoberta do visual”. Essa reflexão parte do ponto de vista de como se olha uma imagem e nos permite pensar a nossa relação com o mundo visual, pois o espectador constrói a imagem e a imagem constrói o espectador. Sabemos que existe uma relação do espectador com a imagem, e é como se fosse uma parceria ativa do cinema. Reconhecer alguma coisa em uma imagem é identificar, pelo menos em parte, o que nela é visto com alguma coisa que se vê ou se pode ver no real. É pois, um processo, um trabalho, que emprega as propriedades do sistema visual (AUMONT, 1993, p. 91).. O espectador quando assiste a um filme reconhece as imagens, consegue identificar em partes algumas cenas, sendo um processo com três aspectos a se pensar, segundo Aumont (1993, p. 103): “o espectador começa a pensar na representação, na ilusão e no realismo”. De acordo com esse teórico, na representação o espectador consegue ver uma realidade ausente. Já na ilusão, entra o fenômeno psicológico que, em determinadas condições psicológicas e culturais, é provocado pela representação. Para concluir o nosso.

(26) 23. pensamento, partamos para o realismo um conjunto de regras sociais que gera a relação entre representações e o real de modo aceitável. O cinema como obra resulta nas percepções corporais, mas também resulta no exercício de uma espécie de linguagem, que, em particular, a linguagem cinematográfica é vista numa sequência de imagens fazendo compreender qual o sentido do filme. Portanto, no cinema usamos a nossa imaginação, a nossa interpretação de forma subjetiva, e pensando no seu contexto histórico, o cinema pode ser muita coisa, por exemplo, ele pode remeter a crenças, à classe social, à época e à cultura. Além do mais, o filme nos afeta a ponto de mudar nossa postura e nosso esquema corporal. Sentar-se diante de uma tela e assistir um filme é algo tão simples e tão prazeroso que na maioria das vezes somos tocados ao assistir uma cena e assim provocando processos emocionais, tais como: alegria, tristeza, raiva, espanto, curiosidade, satisfação, medo, entre outros. Podemos até sair de uma sessão amando ou odiando tal filme, porque cada filme nos leva a pensar assim como a obra de arte. Segundo Martin (2003, p. 15): O cinema produziu suficientes obras-primas para que se possa afirmar que o cinema é uma arte, uma arte que conquistou seus meios de expressão específicos e libertou-se plenamente da influência de outras artes (em particular o teatro) para fazer desabrochar suas possibilidades próprias com toda a autonomia.. Pensar no cinema é pensar numa obra de arte, numa forma de se expressar e ver corpos em movimento, sendo assim, seu sentido está ligado à comunicação e à apreciação. Na verdade, o cinema é arte, é abertura, transparência, contraposição, imagem, decepção, o cinema permeia a imaginação daqueles que assistem. Nesse sentido, o cinema faz desabrochar várias possibilidades de leitura com toda a liberdade e autonomia. Mergulhar no mundo das câmeras, no mundo do cinema, na arte de um bom filme, é entender a importância dessa arte ilusória, pois “um bom filme é uma obra de arte por todos os padrões aplicáveis à arte como tal” (LANGER, 1980, p. 430). Além de tudo isso, o cinema tem a poderosa ilusão de brincar com o real e o imaginário, usando o meio industrial e a tecnologia para transformar a obra de arte apreciada por todos nós e que nos transporta para outros lugares..

(27) 24. Nesse sentido, o cinema é capaz de construir um mundo novo usando todos os recursos de organização que impulsionam para a imaginação, proporcionando prazer e satisfação. Diante disso, Jullier (2009, p. 15) discorre: Muitas razões podem ser invocadas para comprar uma entrada de cinema ou ficar diante da televisão durante todo o tempo em que ela transmite um filme. Mas a mais comum, aquela que justifica que milhares de pessoas fiquem duas horas sentadas sem se mexer com os olhos fixados em fantasias animados e tagarelas, é o prazer. Os grandes sucessos da história do cinema sem dúvida se prestam à reflexão, instruem acerca da situação do mundo, mas antes de tudo dão satisfação.. O cinema, além de ser industrial, ele também é arte. Além disso, é um fenômeno social, poético, estético e cultural e nos remete à modernidade e a tempos passados. No cinema existem o deslumbramento, a fantasia e o encantamento, portanto, é assistindo um filme que nossa imaginação brinca e nossos olhos percorrem o corpo sobre a tela em preto e branco. O mistério do cinema começa quando o sinal sonoro nos convida a entrar na sala. Sobre isso Morin (2014, p. 19) afirma: O sinal sonoro nos convida. Uma lojinha entre outras oferece seus balcões enormes rostos pintados, fotografias, beijos, abraços, cavalgadas. Entramos na escuridão de uma gruta artificial. Uma poeira luminosa se lança e dança sobre uma tela; nossos olhos se saciam; ela toma corpo e vida; ela nos leva a uma aventura errante: atravessamos tempos e espaços, até que uma música solene dissolva as sombras sobre a tela que volta a ficar branca. Saímos e falamos das qualidades e dos defeitos de um filme.. Ao atravessar tempos e espaços passamos pela experiência de entrar numa sala de cinema, ou até mesmo assistir um filme em casa, tanto uma quanto a outra situação faz acender nossas experiências vividas no sentido de alimentar as nossas paixões pelo cinema, pela história e pelos atores, pois o cinema consiste em sugerir emoções. Nesse sentido, Morin (2014, p. 25) afirma: “o cinema é a realidade talvez, mas também é outra coisa: gerador de emoções e sonhos”. E é precisamente essas reflexões que trazemos nos filmes de Charles Chaplin e que tanto nos inspiram, pensando nos desejos, nas obsessões e nos temores projetados na tela. Sendo assim, o cinema é verdadeiramente um fluxo mágico que nós telespectadores vagamos na imagem. Pensando assim, Morin.

(28) 25. (2014, p. 41) afirma: “a imagem é uma presença vivida e uma ausência real, uma presença-ausência”. O cinema toma corpo em nossa pesquisa a partir da imagem em preto e branco nos filmes de Charles Chaplin com características sensíveis em cada filme. Os filmes de Chaplin nos levam ao devaneio, à imaginação, a uma viagem natural que pode ser real ou fictícia. Esse deslumbramento que acontece através do movimento no cinema nos permite dar sentido a própria imagem vista, e por isso Morin (2014, p. 101) ressalta: “cinema é sonho... é um sonho artificial”. Eis aqui uma nova arte, o cinema, que de forma tímida vem sendo valorizado no âmbito acadêmico a fim de ampliar vários conceitos, além de estimular a percepção e não pensar que o cinema é apenas um recurso técnico, mas um modo poético, uma arte expressiva, isso acontece porque a câmera salta de um plano a outro, avança, recua, amplia e diminui a imagem, tudo vira de cabeça para baixo, e tudo isso mantendo em sintonia os movimentos. Segundo Morin (2014, p. 159): “O movimento é a alma do cinema, sua subjetividade e sua objetividade. Atrás da câmera, navegadora do tempo e do espaço, desenha-se até o infinito o duplo sulco da vida e do sonho”. O cinema talvez seja a arte mais jovem e a mais familiar ao nosso cotidiano. Para Langer (1980, p. 416): “acima de tudo, entretanto, a arte penetra profundamente na vida pessoal porque, ao dar forma ao mundo, ela articula a natureza humana: sensibilidade, energia, paixão e mortalidade”. Além de ser essa arte complexa, nela encontramos o movimento e a expressão em cada imagem, em cada sessão, em cada movimento corporal, e é no movimento da câmera que nossas percepções são arrebatadas. O filme nos convoca a vivenciar sua história, sua força e seu movimento, a partir disso, falar de um filme é revelar e convidar a entrar em um mundo imaginário, com efeitos e montagens, criando imagens significativas através do movimento. A arte do cinema requer uma apreciação completa que revela sentimento de satisfação. Conforme Langer (1980, p. 412): O que ela provoca em nós é uma formulação de nossas concepções de sentimentos e nossas concepções da realidade visual, factual e audível, em conjunto. Ela nos dá formas de imaginação e formas de sentimento, inseparavelmente; quer dizer, clarifica e organiza a própria intuição..

(29) 26. Ainda segundo a autora supracitada, a arte nos convida à imaginação, formulando vários sentimentos, e, nesse sentido, o cinema desperta e revela identificações vergonhosas, secretas que só interessam a nós mesmos. Por isso, o cinema nos dá abertura de criar uma nova maneira de se relacionar com o mundo, além disso, é no cinema que percebemos a expressão corpórea necessária para pensar no entrelaçamento do corpo com o mundo e em cada cena é despertado um interesse pelo movimento que a câmera faz. Alguns processos são percebidos em cada cena, por exemplo, experiências vividas, interpretações, ideias e comparações. Ademais, ao assistir a um filme, conseguimos sentir as batidas do coração quando a cena nos prende, ou seja, sentimos uma infinidade de significados que são gerados naquele momento, despertando uma sensação de prazer e satisfação, é este o caminho percorrido ao assistir um filme.. No momento, o cinema está prestes a abrir um novo caminho para a nossa cultura. Milhões de pessoas frequentam os cinemas todas as noites e unicamente através da visão vivenciamos acontecimentos, personagens, emoções, estados de espírito e até pensamentos, sem a necessidade de muitas palavras. Pois as palavras não atingem o conteúdo espiritual das imagens e são meros instrumentos passageiros de formas de arte ainda não desenvolvidas. A humanidade ainda está aprendendo a linguagem rica e colorida do gesto, do movimento e da expressão facial. Esta não é uma linguagem de signos substituindo as palavras, como seria a linguagem-signo do surdo-mudo – é um meio de comunicação visual sem a mediação de almas envoltas em carne. O homem tornou-se novamente visível (BALÀZS, 1983, p. 77).. Nesse sentido, frequentar o cinema é vivenciar acontecimentos dos personagens, é sentir as emoções vividas pelo corpo diante da tela sem a necessidade de palavras, pois a expressão corporal fala mais do que as palavras. Segundo Balazs (1983), ainda estamos aprendendo a linguagem rica do gesto, do movimento e da expressão corporal, e é essa linguagem vista no gesto que iremos discutir durante todo o nosso percurso. A linguagem do gesto é vista em algumas expressões, o não falar muitas vezes está transbordando de emoções vistas nas imagens e nos movimentos. A expressão do nosso rosto, do gesto e do movimento é estimulada pela movimentação da câmera quando ela mostra os ângulos, o tempo que cada cena vai durar e assim tudo muda incessantemente..

(30) 27. No cinema, a câmera carrega o espectador para dentro mesmo do filme. Vemos tudo como se fosse do interior, e estamos rodeados pelos personagens. Estes não precisam nos contar o que sentem, uma vez que nós vemos o que eles veem e da forma em que veem (BALÁZS, 1983, p. 85).. Nessa trajetória percorremos o cinema mudo, um termo que aponta alguns mal-entendidos, pois não se ia ao “cinema mudo”, se ia ao cinema, nele ouvimos sons, a câmera era imóvel, existiam sequências de imagens e algumas decisões teriam que ser tomadas em relação o local que a câmera ia ser colocada, pois não existiam muitos recursos nessa época. Alguns recursos são usados para compor a cena, como por exemplo, o close-up, que é uma técnica muito usada no cinema, em especial no cinema mudo. O close-up é usado para aproximar o ator à tela e assim o telespectador entra em intimidade com o ator, isso é visto tomando como referência os olhares para a câmera. No momento que o personagem olha para a câmera, parece que ele está olhando para o telespectador, buscando uma cumplicidade. O cinema também trabalha com ângulos dando visibilidade ao corpo, por exemplo, o plongée, nesse caso a câmera está posicionada acima do corpo ou objeto, em um ângulo superior. E o contra-plongée, quando a câmera é colocada abaixo do objeto, fazendo com que o espectador veja a cena de baixo para cima, podemos visualizar essa técnica no filme O Ditador (1940), a câmera é colocada de baixo para cima, dando um ar de superioridade. Outra técnica bastante usada nas obras de Charles Chaplin são os planos fixos nessa técnica não se tem movimento para acompanhar o ator, o que demonstra uma filiação com a fotografia. No livro Lendo as imagens do cinema, escrito por Jullier e Marie (2009, p. 74), elas relatam: “frequentemente, é como se o girador da manivela gritasse ao ator: „Não se mexa mais!‟ – de repente, este último gesticula parado no lugar”. Foi assim que criaram várias cenas enquadrando a expressividade do corpo nas imagens móveis. O cinema é um arquivo de corpos e acontecimentos, diante da câmera, sendo ela parada ou em movimento ela explora a percepção, provocando reflexões a respeito do tema. Diante disso, Neto (2015, p. 54) afirma:.

(31) 28 O filme cinematográfico é também um arquivo de corpos e de acontecimento que nos transporta para realidade e mundos compartilhados pela presença perceptiva, despertando nossas sensações e provocando nossa reflexão sobre temas, acontecimentos, emoções, entre outros aspectos que permeiam a vida e a existência humana.. Tal pensamento nos relata a infinidade de acontecimentos envolvendo o corpo nessa mistura de realidade e mundo sendo compartilhado pela percepção e assim despertando inúmeras sensações corporais pelo simples fato de poder perceber tudo que está ao seu redor, inclusive seus próprios movimentos. O. cinema de Charles Chaplin. me. proporcionou um profundo. encantamento, e foi a partir dele que minhas pesquisas começaram a surgir, o encantamento pela pesquisa envolvendo o corpo, o movimento, a expressão e a responsabilidade discutir o corpo e as diversas maneiras de expressão para a Educação Física. Para contextualizar o percurso deste trabalho, iremos conhecer quem foi Charles Chaplin na história do cinema. Gomes (2015, p. 39) evidencia em sua fala: “convenhamos pois que Chaplin é cinema, já que foi através da película impressa que entrou em comunicação conosco”. Sem dúvida, Charles Chaplin foi uma das mais importantes figuras do cinema que empolgou com sua arte, sua filosofia e seus julgamentos no mundo moderno. A seguir, trazemos por escrito a poesia de Carlos Drummond de Andrade presente na obra Minha vida, de Charles Chaplin, poesia transcrita do livro Lição de coisas. Velho Chaplin: as crianças do mundo te saúdam. Não adiantou te esconderes na casa de areia dos setenta anos refletida ao lago suíço. Nem trocares tua roupa e sapatos heroicos pela comum indumentária mundial. Um guri te descobre e diz: Carlito CARLITOS – ressoa o coro em primavera. Homens apressados estacam. E readquirem-se. Estavas enrolado neles como bola de gude de quinze anos, concentração do lúdico infinito. Pulas intacto da algibeira. Uma guerra e outra guerra não bastaram para secar em nós a eterna linfa em que, peixe, modulas teu bailado. O filme de 16 milímetros entra em casa por um dia alugado e com ele a graça de existir mesmo entre os equívocos, o medo, a solitude mais solita. Agora é confidencial o teu ensino, pessoa por pessoa, ternura por ternura, e desligado de ti e da rede internacional de cinemas, o mito cresce. O mito cresce. Chaplin, a nossos olhos feridos do pesadelo cotidiano..

(32) 29 O mundo vai acabar pela mão dos homens? A vida renega a vida? Não restará ninguém para pregar o último rabo de papel na túnica do rei? Ninguém para recordar que houve pelas estradas um errante poeta desengonçado, a todos resumindo em seu despojamento? Perguntas suspensas no céu cortado de pressentimentos e foguetes cedem à maior pergunta que o homem dirige às estrelas. Velho Chaplin, a vida está apenas alvorecendo e as crianças do mundo te saúdam (CHAPLIN, 2010, p. 11-12).. Charles Spencer Chaplin, conhecido como o gênio da sétima arte, nasceu no dia 16 de abril de 1889, às 20 horas, em East Lane, Londres. Filho de pais artistas e nascido em um subúrbio de Londres, aos cinco anos, ele e seu irmão Sidney, mais velho quatro anos, faziam apresentações pelas ruas. Chaplin deixou a escola aos dez anos e foi trabalhar como mímico. Em 1910, viajou para os Estados Unidos com o grupo de mímica chamado Comediantes Silenciosos, de Fred Karno, do qual foi ator, diretor e produtor. Chaplin, na história das artes, exprimiu-se sua arte no cinema, uma época em que o cinema ainda engatinhava e um emaranhado de imagens com cenas riquíssimas para guardar na memória. Atrás do silêncio, atrás da máscara e do bigode, existe algo que nos prende e que nos leva em direção aos olhares surpresos de seu rosto. Além disso, o seu silêncio permaneceria por muitos e muitos anos, mas não era preciso falar nada diante de tanta expressividade. Nesse contexto de vida e obra, Chaplin teve sua aparição com apenas cinco anos de idade, devido às falhas da voz de sua mãe, sua voz começava a criar-lhe embaraços. Ela nunca teve uma saúde forte e qualquer resfriado causava crises de laringite que duravam semanas. Mesmo assim, era obrigada a trabalhar, de modo que sua voz piorava. Em uma de suas apresentações sua voz desafinava ou desaparecia subitamente. Podemos visualizar bem essa descrição no filme Chaplin, dirigido pelo diretor Richard Attenborough, baseado nos livros Minha autobiografia e Chaplin: sua vida e arte, esse filme é uma divertida e dramática biografia de um dos maiores gênios do cinema, o filme conta desde a infância pobre na Inglaterra até seu extraordinário sucesso nos Estados Unidos e as circunstâncias de seu exílio na Suíça. Assim como o livro Minha vida, esse filme também mostra de forma clara sua biografia, seus amores e as histórias por trás dos filmes. Diante disso, recorro ao depoimento encontrado no livro Minha vida, de Charles Chaplin (2010, p. 38):.

(33) 30. Foi devido às falhas da voz de minha mãe que, na idade de cinco anos, apareci pela primeira vez num palco. Mamãe em geral me levava para o teatro à noite, de preferência a deixar-me sozinho em quartos de pensão. Estava ela então representando A cantina, no Aldershort, na época um teatrinho poeira frequentado principalmente por soldados. Estes constituíam uma plateia grosseira para a qual tudo servia de pretexto a risotas e caçoadas. Para os artistas o Aldershort significava uma semana de terror.. Diante da situação que a mãe de Chaplin estava passando, devido aos problemas relacionados a sua voz, ele teve que subir ao palco sob a luz dos refletores, diante da plateia começou a cantar acompanhando a orquestra. Foi nesse momento que uma chuva de moedas desabou sobre o palco e a atitude tomada foi apanhar as moedas que ali estavam. Em sua primeira etapa de vida, ele não tinha o humor nem a ironia com que sensibilizou o público do mundo inteiro. Felizmente, Chaplin acabou construindo a sua vida com a única coisa positiva que poderia ter herdado da sua família, a paixão pelo teatro. De fato, desde o período de criação até sua estreia, cada um dos filmes de Chaplin viu-se cercado de uma série de dificuldades, polêmicas, acordos e desacordos que ultrapassam o terreno do puramente eventual, assumindo um caráter histórico. Divertidos, delicados, às vezes melodramáticos, e sempre criativos, os filmes de Chaplin não só formam um dos trajetos mais sólidos e lúdicos da história da sétima arte, como ultrapassam esse âmbito para formar parte do patrimônio cultural da humanidade. De acordo com apreciação estética sobre a obra de Chaplin; Gomes (2015, p. 31) discorre:. Chaplin significou uma iniciação estética acadêmica e para outros a obra do cineasta tem uma significação íntima e quase secreta, em que o tecido de equívocos vivido pelo personagem é um espelho para a melancolia do espectador.. É possível realizar uma retrospectiva a respeito da biografia de Charles Chaplin em livros, imagens de filmes, buscando uma compreensão simpática e curiosa a respeito de sua vida. Embora saibamos que não é fácil explicar e interpretar muitas coisas a respeito de sua história, estamos tentando buscar uma apreciação sobre sua vida e obra, que tanto nos encanta, ao longo desta pesquisa. Gomes (2015, p. 36) afirma que “a singularidade do fenômeno.

(34) 31. chapliniano possui uma evidência concreta e indiscutível”. Por isso, pretendemos dar continuidade à presença viva de Charles Chaplin trazendo-a para a Educação Física de forma tão viva que venha a pensar nas expressões corporais. Pioneiro no cinema, desde suas primeiras incursões na tela, Chaplin utilizou Carlito5 para refletir, quase sempre pelo humor e por meio de sua inteligência e cumplicidade com o público, os fatos sociais de sua época. Foi aos dezenove anos que Chaplin criou o personagem Carlito, vejamos na Imagem 1 – Charles Chaplin. Ele se veste da seguinte maneira: calças bem largas, estilo balão, sapatos enormes, um casaco pequeno e apertado e um chapéu-coco pequeno. Além de tudo isso, ainda usa uma bengala como forma de extensão do próprio corpo. Chaplin quando criou esse personagem, queria que tudo estivesse em contradição, as calças, o casaco, os sapatos, o chapéu, e por fim adicionou um bigode para aumentar sua idade. Foi nesse momento que Chaplin (2010, p.179) afirmou: “foi assim que já havia nascido. Estava totalmente definido”. No momento em que assim me vesti, as roupas e a caracterização me fizeram compreender a espécie de pessoa que ele era. Comecei a conhecê-lo e, no momento em que entrei no palco de filmagem, ele já havia nascido. Estava totalmente definido. Quando cheguei em frente de Marck, entrei no personagem, andando em passos rápidos, girando a bengala diante dele. Incidentes e ideias cômicas vinham em tropel à minha mente (CHAPLIN, 2010, p. 179).. 5. É preciso que você saiba que esse tipo tem muitas facetas: é um vagabundo, um cavalheiro, um poeta, um sonhador, um sujeito solitário, sempre ansioso por amores e aventuras. Ele seria capaz de fazê-lo crer que é um cientista, um músico, um duque, um jogador de polo. Contudo, não está acima de certas contingências, como a de apanhar pontas de cigarros no chão, ou de furtar o pirulito de uma criança. E ainda, se as circunstâncias o exigem, será capaz de dar um pontapé no traseiro de uma dama, mas somente no auge da raiva..

(35) 32. Imagem 1 – Charles Chaplin. Fonte: Chaplin (1992).. Chaplin encanta a todos com sua liberdade de criação, ousadia e principalmente a expressão apresentada em seus filmes sutis da vossa arte. Podemos apreciar alguns filmes durante essa trajetória: A Condessa de Hong Kong (1967), Carlitos nas Trinchedeiras (1918), Casamento de Luxo (1923), Corrida de Automóveis para Meninos (1914), Em busca de ouro (1925), Luzes da Cidade (1931), Luzes da Ribalta (1952), Monsieur Verdoux (1947), O Circo (1928), O Grande Ditador (1940), O Garoto (1921), O idílio desfeito (1914), O idílio no campo (1919), O Vagabundo (1915), O Imigrante (1917), Os clássicos.

(36) 33. Vadios (1921), Pastor de Almas (1923), Tempos Modernos (1936), Um Rei em Nova Iorque (1957), Vida de Cachorro (1918), entre outros, além dos curtasmetragens. Esses filmes foram alguns dos que analisamos na pesquisa quando eu ainda cursava a graduação. Todos esses filmes dirigidos por Charles Chaplin têm o objetivo de mostrar e criticar um fato histórico, mas, além disso, ele também trabalha com o imaginário através dos personagens, o que nos permite notar que o filme incorpora o mundo dos sonhos. Sobre isso Langer (1980, p. 429) afirma: “o cinema é „como‟ o sonho no seu modo de apresentação: cria um presente virtual, uma ordem de aparição direta. Esse é o modo do sonho”. Por exemplo, nos filmes citados anteriormente, Chaplin traz sempre o personagem de um vagabundo (Carlito) para nos afetar, mas de maneira suave, pois esse jamais será igual a um vagabundo visto no mundo real, fora da tela do cinema. Pode-se dizer verdadeiramente que o cinema é uma obra de arte, poética, virtual e estética, provocando as mais diversas sensações. Medeiros (2010, p. 51), apud Langer (1980), afirma que a “arte se destaca do ambiente comum, se desliga do mundo a partir da junção das cores, das formas, dos objetos estéticos, tornando-os totalmente virtuais”. Nesse sentindo, partimos para o próximo capítulo, em busca de novas contribuições para pensar o corpo na Educação Física, a partir da descrição e reflexão sobre o filme Tempos Modernos (1936). Limitamo-nos, de forma intencional, a algumas cenas do filme a partir do corpo perceptivo e das ligações com o mundo..

(37) 34.

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