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Migrações e liberdade de expressão

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MIGRAÇÕES E LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Danielle Mendes Thame Denny1 Monica Rugai Bastos2

Douglas Castro3

Resumo: A problemática das migrações é também uma questão comunicacional. A

globalização depende do fluxo internacional de bens, recursos e dados, mas o livre trânsito de pessoas ainda é uma utopia distante, estrangeiros têm sido vistos como ameaça e o Brasil infelizmente não é exceção. A Agenda 2030 orienta as políticas públicas a fim de promover a governança desse tipo de problema transfronteiriço e difuso. O principal argumento deste artigo é que iniciativas desse tipo têm um papel crucial para promover o envolvimento da população criando um ambiente comunicacional propício à participação, ao diálogo e à busca de melhores alternativas para solucionar problemas comuns, porém, ao mesmo tempo também trazem desafios. A metodologia utilizada foi a dedutiva com análise bibliográfica e documental como técnicas de pesquisa.

Palavras-chave: Migração. Liberdade de expressão. Pós-verdade. Agenda 2030.

Abstract: Exodus corresponds to a global humanitarian crisis and a communication problem. Globalization depends on the international flow of goods, resources and data, but the free transit of people is still a distant utopia, foreigners have been seen as a threat and Brazil is unfortunately no exception. Agenda 2030 guides public policies to promote governance of this type of cross-border and diffuse problems. The main argument of this article is that initiatives of this type have a crucial role to promote the involvement of the population by creating a

1 Professora titular do Departamento de Comunicação da Faculdade Armando Álvares Penteado e do

Departamento de Direito da Universidade Paulista, em São Paulo, Brasil. Durante 2017, ela foi Pesquisadora Associada Visitante no Whitney and Betty MacMillan Center for International and Area Studies da Universidade de Yale, EUA. De 2015 a 2017, recebeu bolsa mérito da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Escreve e leciona sobre temas jurídicos relacionados à tecnologia, comunicação, governança global e sustentabilidade em português e inglês. Ela defendeu seu doutorado em 2018 pela Universidade Católica de Santos, graduou-se em 2001 pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e nesse interregno fez mestrado e algumas pós-graduações.

2 Professora titular do Departamento de Comunicação da Faculdade Armando Álvares Penteado, possui

graduação em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1985), bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1988), mestrado em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (1995) e doutorado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (2004). Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da Cultura, atuando principalmente nos seguintes temas: Brasil, cultura, jornalismo, história e política.

3Visiting Scholar da Foundation for International Law & Affairs (Washington D.C.). Pós-Doutor pela Escola de

Direito de São Paulo (FGV) (CNPQ/PNPD). Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (2014). Mestre em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (2009). LL.M pela Brigham Young University (2001). Pesquisador em Direito Internacional e Relações Internacionais. Interesse de pesquisa em segurança hídrica e alimentar, Third World Approaches to International Law (TWAIL), metodologia qualitativa.

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communication environment conducive to participation, dialogue to search for better alternatives to solve common problems, but at the same time it also brings challenges.

Keywords: Migration. Freedom of speech. Post-truth. Agenda 2030.

Introdução

Mais de 244 milhões de pessoas vivem em países distintos do de seu nascimento, o número de migrantes forcados é o maior, desde a Segunda Guerra Mundial, uma em cada 113 pessoas 4. A migração contemporânea tem características próprias, há refugiados de guerra, "refugiados" ambientais, "autoexilados" econômicos e vítimas de tráfico de pessoas e trabalho escravo. No Brasil uma das principais formas de entrada é pelo Porto de Santos, cidade que conta com a participação efetiva de organizações da sociedade civil (a exemplo da Caritas) mas que em termos de política pública não está preparada para lidar com esse tipo de situação.

No começo de 2017, foi alterado o estatuto do estrangeiro, mas para além dessa nova lei de migração, os órgãos governamentais pouco estão cumprindo o papel de oferecer vida digna nem àqueles que entraram legalmente como os refugiados, por exemplo. E os ilegais tendem a ser submetidos à situação socioambiental perversa. A iniciativa privada – como as transportadoras em cujos navios chegam esses imigrantes – se esquiva do dever de fornecer alojamento comida, por sua vez a sociedade civil, a igreja e a academia têm ajudado, mas de forma pouco articulada.

Há uma correlação entre as migrações e as ferramentas tecnológicas, principalmente para comunicação, no sentido de que esta possui um papel importante para reportar violações, promover o monitoramento de políticas e propiciar a articulação de iniciativas multidimensionais levadas a cabo por agentes os mais variados. O ambiente comunicacional em rede supera distâncias, produz ampla gama de impactos práticos no cotidiano e favorece as relações interpessoais de públicos que, em outras situações, não teriam condições práticas de colaborar. Da dialética entre próximo e distante, real e virtual, surge a potencialidade de interações pragmáticas em rede, sincronizadas em usos técnicos que podem resultar em ações efetivas para a o desenvolvimento sustentável, mediante busca de relevância, impacto político e apropriação dos usos dos espaços públicos.

4 UNHCR, United Nations High Commissioner for Refugees, Global forced displacement

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É a colaboração da vontade dos usuários da rede que criam, transformam e encerram novas formas de relacionamento. Doreen Massey caracteriza o que acontece neste espaço com as seguintes palavras:

O espaço é mais do que a distância. É a esfera de configurações de resultados imprevisíveis, dentro de multiplicidades. Isto considerado, a questão realmente séria que é levantada pela aceleração, pela “revolução nas comunicações” e pelo ciberespaço não é se o espaço será aniquilado ou não, mas que tipos de multiplicidades (padrões de unicidade [uniquiness]) e relações serão co-construídas com esses novos tipos de configurações espaciais (MASSEY, 2008, p.15).

Fluxos humanos e de comunicação se alinham de forma indissociável, gerando também impactos reativos de preservação da cultura, da língua, dos símbolos e do imagético da população receptora. A agenda política internacional nesse sentido é marcada pelo alto nível de sensibilização dessa temática de absorção de migrantes. Se por um lado, na Reunião de Alto Nível sobre Grandes Movimentos de Refugiados e Migrantes, 193 países se comprometeram com a Declaraç ão de Nova Iorque para Refugiados e Migrantes56, por outro lado a população desses mesmos países, na maior parte das vezes, pressiona seus governantes para tomarem medidas de preservação dos valores nacionais. Esse impasse tem culminado em recusa de resgate a embarcações em perigo, negligências de prestação de atendimento humanitário, e outras constantes violações de Direitos Humanos inerentes que têm ganhado visibilidade midiática.

Para responder a tais pressões, os líderes europeus, em conferência de cúpula em dezembro de 2015, comentaram sobre a necessidade de “recuperar o controle” das fronteiras do continente 7. Tanto positivamente dando mais visibilidade, como negativamente aumentando o medo e a insegurança com estereótipos sensacionalistas. A tecnologia principalmente da foto “trouxe novas possibilidades de medir o real”, principalmente a jornalística que “congela e embalsama o passado” 8. E o uso descontextualizado ou

estigmatizado desse congelamento pode gerar ruídos de comunicação ou deliberadamente ser

5 A Declaração de NY sobre Migrantes e Refugiados é uma carta de princípios com força política MÁRQUEZ, Isabel; GODOY, Gabriel Gualano de, Perspectivas para a Proteção de Migrantes e Refugiados à Luz da Declaração de Nova, 2016. para orientar os estados a coordenar suas iniciativas principalmente no sentido de fazer campos de refugiados serem exceção, crianças migrantes ou refugiadas terem acesso à educação, o Direito Internacional ser observado pelas políticas migratórias dos Estados e de reconhecer que os grandes deslocamentos de refugiados e migrantes são fenômenos de responsabilidade comum da comunidade internacional, e demandam, portanto, abordagem e soluções globais.

6 UN, United Nations, Reunião de Alto Nível sobre Grandes Movimentos de Refugiados e Migrantes. 7 BAUMAN, Zygmunt, Estranhos à Nossa Porta, Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 2017, p. 32.

8 BUITONI, Dulcilia H. Schroeder, O REGISTRO IMAGÉTICO DO MUNDO Jornalismo, embrião narrativo e

imagem complexa, in: Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho “Estéticas da Comunicação”, do XIX Encontro da Compós, na PUC-Rio, Rio de Janeiro, RJ., Rio de Janeiro: Compós, 2010, p. 9.

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convertido em ferramenta de manipulação do que é o real, como veremos mais a frente. Mas antes é preciso contextualizar a temática como um efeito de um processo muito maior.

Desta forma, considerando as variáveis dos fluxos humanos e de comunicação, o presente artigo pretende abordar as causas e consequências da interação entre elas, considerando os níveis de análise psicológico (como o mundo é visto pelos atores) e operacional (o mundo em que uma determinada política pública deve ser implantada). A análise da interrelação entre as variáveis nestes níveis de análise propicia a explicação e entendimento de como políticas publicas e decisões são mediadas pelas metas, cálculos e percepções dos chamados decision-makers (JERVIS, 2017).

Fixado no parágrafo anterior o marco teórico, seu teste empírico será feito na dimensão econômica dos fluxos migratórios, mais especificamente nos efeitos que a globalização impõe nas cadeias de valor globais que afetam diretamente as relações de trabalho e meio ambiente.

Globalização, cadeias globais de valor e dumping socioambiental

A globalização pode ser definida como o “ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista” 9 com a “aceleração do tempo” e o “encurtamento das distâncias” 10. Mas

essas medidas de tempo e espaço são relativas. Dependem do nível de integração. Por exemplo, as distâncias cartográficas afetam os custos de mover bens, ideias e pessoas de maneiras muito diferentes. Com a Internet, o custo de mover ideias, por meio de “meios técnicos científicos informacionais” 11 é quase zero e varia pouco com a distância.

Mercadorias dependem da facilidade do acesso, dos combustíveis e de transportadores disponíveis além, claro, da distância em metros. Para as pessoas também há uma grande diferença entre os destinos que podem ser alcançados com uma viagem de um dia e outras mais distantes, com muitas escalas ou burocracias de imigração.

Isso ajuda a explicar algumas das desigualdades do processo de globalização. Como por exemplo o fato de apenas poucos países em desenvolvimento terem conseguido se beneficiar se industrializando rapidamente. Muitos apesar de terem adotado todas as políticas econômicas recomendadas, ainda estão “longe” demais “demorando” muito em comparação com outros países em desenvolvimento. Porém, pela primeira vez na evolução da espécie

9 SANTOS, Milton, Por uma outra globalização: Do pensamemto único à consciência universal, Rio de

Janeiro: Record, 2000, p. 19.

10 Ibid. 11 Ibid.

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humana uma sociedade global está emergindo 12, com o atual, incessante e crescente processo de globalização, caracterizado pela conectividade e interdependência da população do planeta

13. Por mais desigual, diversa e dividida que ela possa ser, seus membros dependem de

decisões, ações e do exercício de poder por outros. A soma desses ‘jogos de multiplicação’ é, em um determinado momento uma fotografia dessa sociedade global14.

Importante ressaltar que o período de globalização iniciado no século XIX não é o mesmo do século XXI. O capitaneado pela Revolução Industrial, beneficiou-se do poder da energia a vapor e da paz internacional para implementar uma maneira rentável e eficaz de transportar mercadorias através das fronteiras. Algumas nações estavam em melhor posição para aproveitar esse processo e estabeleceram assim sua hegemonia internacional. Esta época foi denominada de a "Era da Grande Divergência" 15. Os países de então ganhavam com a exploração de suas diferenças e potencialidades por meio das vantagens comparativas. Com o transporte intercontinental o que era abundante em um local poderia ser levado a mercados onde fosse escasso e, portanto, atingindo melhores preços.

A atual globalização, contudo, é bem diferente, seu cerne não é mais o fluxo comercial de mercadorias. Pelo contrário, é o imaterial que tem mais valor. Essa fase se impulsiona pelo poder da tecnologia da informação, que possibilita o movimento barato e preciso de ideias e dados através das fronteiras. Tal processo viabiliza que o trabalho intensivo em mão-de-obra seja realizado no exterior, onde os recursos humanos são mais baratos e a regulamentação sócio ambiental mais frágil. Os negócios passaram, com isso, a se estruturar em cadeias globais de valor impulsionando um rápido processo de industrialização de um grupo de países em desenvolvimento. Fenômeno denominado: "Era da Grande Convergência" 16. Uma das consequências dessa interdependência econômica, com transições tecnológicas aceleradas e desafios ambientais comuns é tornar o mundo mais imprevisível e difícil de controlar.

12 KOLODZIEJ, Edward A., Governing Globalization: Challenges for Democracy and Global Society,

London ; New York: Rowman & Littlefield International, 2016, p. 1.

13 Ibid.

14 O texto original em inglês é: “the outcomes of these exchanges decide who gets what, when, and why across

all these game domains; whether some win or lose; whether both lose or gain; or whether some differential distribution of winning and losing outcomes results from these continuous and relentless interdependent exchanges. The sum of this multiplying games is, at any fixed point, a snapshot of the global society. Who governs these transactions of the global society has much to say about whose values, time-bound interests, and contingent preferences in these games will be realized.” (KOLODZIEJ, 2016, p. 3).

15 BALDWIN, Richard, The Great Convergence: Information Technology and the New Globalization,

Cambridge, Massachusetts: Belknap Press: An Imprint of Harvard University Press, 2016, p. 12.

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Com as etapas de produção dispersas em países com fraca regulamentação trabalhista e ambiental e com baixo custo de mão de obra, mudou-se a globalização, não apenas porque mudou o emprego e a produção de lugar, mas principalmente porque o know-how empresarial, as técnicas de marketing e a gestão também passaram a ser movidas para o exterior. Nesse contexto os contornos da competitividade industrial são dados pelos controles da logística eficiente das redes de produção internacionais e não mais pelos limites jurídicos e políticos das nações.

Assim, as regulações para garantir livre concorrência e estimular o desenvolvimento socioambiental precisam ser repensadas para além dos limites nacionais. A empresas das nações ricas não estão enviando seu know-how para países pobres por altruísmo, mas sim para maximizar seus lucros. Inclusive demandando garantias de que seu conhecimento exportado permaneça dentro dos limites de suas redes de produção.

Uma vez que ainda continua caro mover as pessoas, até que haja substitutos tecnológicos realmente bons para o trabalho humano, viabilizando a telepresença para os serviços intelectuais e a telerobótica para os serviços manuais, a produção global pode ser pensada em hubs. Há alguns polos interconectados espalhados pelo mundo mas sob controle de polos industriais normalmente dos países desenvolvidos, especialmente na Alemanha, no Japão e nos Estados Unidos ou de alguns países em desenvolvimento impactantes globalmente como China, Brasil e Índia.

Assim, também em termos de desenvolvimento econômico nacional, a nova globalização exige ajuste de foco. Ao mesmo tempo que as cadeias globais de valor oferecem um enorme potencial econômico para os países desenvolvidos, são também fundamentais para os países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, uma vez que os integra à cadeia permitindo que importem produtos intermediários do exterior e assumam a parte do processo produtivo que melhor se adeque à sua realidade, sem ter que construir uma indústria inteira nacionalmente.

A integração das redes de produção já é bastante significativa para o volume total de comércio, para se ter uma ideia, em 2010, mais de 25% das exportações brutas globais foram contabilizadas pelo menos em dobro 17. Diante de tal interdependência, se a ameaça internacional de guerra declarada entre nações tornou-se improvável para a maioria dos

17 UNFSS, UN Forum on Sustainability Standards, POLICY BRIEF: Fostering the Sustainability of Global

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países, fora algumas poucas exceções, outras ameaças urgentes surgiram como as provenientes de forças não-estatais disruptivas, como, por exemplo, os ataques terroristas que geram medo do estrangeiro; e os problemas associados a causas difusas, de longo prazo, como as mudanças climáticas, que incentivam a migração em busca de condições ambientais melhores.

Do ponto de vista econômico trabalhista, a produção em cadeias globais gera uma competição regulatória, a legislação nacional mais condizente com os interesses do empreendedor serão em tese capazes de melhor atrair capitais. As empresas tendem assim a se instalar em países onde o custo da mão de obra é inferior, as regras são mais flexíveis e onde o controle ambiental é menos contundente. Essa busca por condições regulatórias mais favoráveis não é lesiva necessariamente, porém, num contexto de produção global e na ausência de padrões de qualidade uniformizados, os efeitos podem ser muito deletérios. Isso ocorre quando a concorrência internacional passa a ser prejudicada pelo preço artificialmente baixo dos produtos e serviços produzidos em condições de exploração da mão de obra ou de uso insustentável dos recursos naturais e se verifica casos de dumping socioambiental.

Instalar a própria empresa em países onde o custo da mão de obra é inferior ao custo do país de origem não caracteriza, por si só, ilicitude alguma. Verifica-se dumping social quando o descumprimento da legislação laboral, usado por acarretar uma redução do custo do trabalho, coloca uma empresa numa vantagem comparativa na concorrência econômica internacional. Dumping social não é sinônimo de descumprimento da legislação trabalhista, é exploração de mão de obra onde a legislação trabalhista parece menos onerosa, portanto onde o nível de tutela do trabalho é mais frágil. O fenômeno em si pressupõe a economia em escala global e a concorrência para baixo entre legislações do trabalho” 18

Assim um dos principais escopos hoje em dia tem que ser a busca por coerência, convergência e cooperação entre os sistemas regulatórios 19. As lacunas regulamentares, as articulações desequilibradas e os incentivos desalinhados arriscam a estabilidade financeira, forçam milhares a migrar e comprometem a implementação dos Direitos Humanos e dos valores de sustentabilidade. As atuais transformações empíricas tecnológicas e ambientais abruptas exigem mudanças políticas e legais condizentes, tendo em vista que monitoramento e

18 COLUMBU, Francesca, Dumping social e relações laborais, Revista dos Tribunais, v. 978/2017, p. 143–169,

2017.

19 THORSTENSEN, Vera; MESQUITA, Alebe, Coerência, Convergência e Cooperação Regulatória nos

Capítulos de Barreiras Técnicas ao Comércio e Medidas Sanitárias e Fitossanitárias do Acordo Transpacífico, Brasília, DF: IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2016, p. 34.

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formas de financiamento são indispensáveis principalmente para favorecer o "surgimento, experimentação e aperfeiçoamento" 20 de novas tecnologias e processos.

Pós verdade e liberdade de expressão: os dois lados de uma mesma moeda

Além desses regulamentos heterogêneos, uma diversidade de pontos de vista, que forma o pluralismo atual "não é uma mera condição histórica que em breve passará", é "uma característica permanente da cultura pública das democracias modernas" 21. As pessoas podem argumentar para sempre usando os mesmos argumentos e, dessa forma, o problema nunca será resolvido, porque ninguém muda seu ponto de vista e ninguém efetivamente espera que a outra parte o faça. Apesar de esses argumentos usarem razões, deduções de lógica e fatos científicos e, mesmo apresentando o argumento certo ou mais lógico, eles são insuficientes para convencer a outra parte que assume uma posição defensiva do seu ponto de vista, o que MacIntyre chama de emotivismo. Parece não haver uma maneira racional de garantir o acordo moral em nossa cultura 22.

Nesse sentido, Mandrew J Hoffman, para analisar como a cultura molda o debate sobre mudanças climáticas, estudou o porquê de algumas pessoas aceitarem os dados científicos sobre mudanças climáticas e outras não. A conclusão foi que a compreensão pública sobre as mudanças climáticas não é prejudicada pela falta de informação, mas por uma recusa intencional de compreender 23. Portanto, o debate sobre mudanças climáticas não é sobre dióxido de carbono e gases de efeito estufa, mas sobre oposição a valores culturais e a diferentes pontos de vista e visões de mundo. Esta referência axiológica serve como um filtro pelo qual a informação científica é analisada.

Além disso, no contexto comunicacional contemporâneo cada vez mais é na Internet que as pessoas se informam. Pesquisa nos 27 Estados brasileiros constatou que esse meio só perde para a TV que é a favorita de 63%, mas já ocupa o primeiro lugar para 26% e é o segundo escolhido para 49%24. Eugenio Trivinho denomina esse fenômeno de democracia cibercultural, ou seja, o tempo passa a governar a vida das pessoas, nessa fase do capitalismo

20 VINUALES, Jorge E., Foreign Investment and the Environment in International Law: The Current

State of Play, Rochester, NY: Social Science Research Network, 2015, p. 63.

21 RAWLS, John, The Idea of an Overlapping Consensus, Oxford Journal of Legal Studies, v. 7, n. 1, p. 1–25,

1987, p. 4.

22 MACINTYRE, Alasdair, After Virtue: A Study in Moral Theory, Third Edition, 3rd edition. Notre Dame,

Ind: University of Notre Dame Press, 2007, p. 7.

23 HOFFMAN, Andrew J., How Culture Shapes the Climate Change Debate, 1 edition. Stanford, California:

Stanford Briefs, 2015, p. 27.

24 SECOM, Secretaria de Comunicação Social, Relatório Final Pesquisa Brasileira de Mídia - PBM 2016,

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globalizado viabilizado pela velocidade das redes digitais. As novas tecnologias impactam a organização da vida humana, na esfera pública e nos espaços privados e a abundância de conteúdo chega até a ser uma forma de censura 25.

Além disso, como foram praticamente eliminados quaisquer formas de controle editorial ou filtros, possibilitando que qualquer um se tornasse um comunicador, influenciador e/ou fonte, um volume grande do que é circulado não é apurado, são pensamentos ilusórios e verdades subjetivas que apenas aparentam ser verdade26. A desinformação – falsidades divulgadas com o propósito de confundir ou induzir a erro – também constitui prática comum, juntamente com as diversas possibilidades de se editar a realidade. Assim, foi-se o tempo em que havia apenas verdade e mentira, hoje há eufemismos, opiniões, posicionamentos e diversas ferramentas tecnológicas para melhorar uma determinada narrativa, editar uma foto, fazer alguém ou algo parecer mais atrativo.

Essas intervenções não chegam a ser consideradas mentira, podem ser vistas como benignas e inclusive muitas vezes esperadas, mas de qualquer forma não guardam comprometimento algum com a verdade. Além disso, há muitos ganhos com essa edição, e pouca ou nenhuma consequência negativa ou penalidade, cumulados com o crescente relativismo ético e o narcisismo, principalmente nos meios eletrônicos, colaborando ainda mais para a desconstrução perigosa dos fundamentos de confiança sobre os quais se estrutura a sociedade. Para designar esse conjunto de condições Ralph Keyes cunha o termo Era da Pós Verdade 27.

Outro ponto importante a ser considerado é o contágio emocional, os sentimentos de uma pessoa se transferem para outras criando comportamento de nicho o que Yochai Benkler chama de homophilous sorting 28: pessoas que compartilham as mesmas opiniões tendem a formar grupos e não conversar com outros que tenham ideias diferentes. Pesquisadores do Facebook conseguiram provar esse fenômeno, com uma experiência alterando os algoritmos

25 TUFEKCI, Zeynep, Twitter and Tear Gas: The Power and Fragility of Networked Protest, [s.l.]: Yale

University Press, 2017.

26 Em ingês usa-se o termo cunhado por Stephen Colbert: ‘truthness’ COLBERT, Stephen, The Truthiness

Comes Out, USA: [s.n.], 2005.

27 The Post-Truth Era: Dishonesty and Deception in Contemporary Life, 1st edition. New York: St.

Martin’s Press, 2004.

28 The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Markets and Freedom, 9/23/07 edition.

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matemáticos de seu aplicativo, interferindo nos news feeds de 700.000 de seus usuários conseguindo causar diferentes respostas emocionais 29

Isso gera uma inversão de valores e uma disputa pela atenção coletiva que determina quais novas informações são geradas e consumidas. Em virtude disso, Filippo Menczer 30 identifica que pode ser lucrativo poluir a Internet com falsidades, criando uma economia da atenção e a correspondente oportunista da indústria de notícias falsas e de desinformação digital para disputar essa atenção escassa e valiosa. Por isso alguns sites fabricam iscas, caça cliques, meras fraudes para ganhar dinheiro com anúncios, enquanto os chamados sites extremistas publicam e disseminam rumores e teorias de conspiração para influenciar a opinião pública 31.

Todas as pessoas estão limitadas pelo tipo e pela quantidade de informações a que têm acesso, bem como à capacidade cognitiva que têm para processar essa informação. Seria simplesmente impossível investigar minuciosamente todos os assuntos que encontramos. Então, confiamos em certas fontes porque elas dão credibilidade para resumir os problemas para nós. Por isso, uma das maneiras de suscitar suspeitas no debate público é minar a credibilidade da fonte. Por exemplo no contexto climático, existem basicamente três tipos de discursos: ambientalistas, políticos e cientistas. Para um lado negar o outro, ao invés de fatos usa-se ideologia. Muitos opositores da ciência do clima, por exemplo, acreditam que as políticas ambientais são secretas e constituem desculpas para intervir no mercado e diminuir a liberdade dos indivíduos 32. Por outro lado, alguns extremistas temem que os ambientalistas liderem a agenda para desmantelar o capitalismo (HOFFMAN, 2015, p.8). O lugar de fala do indivíduo passa a ter mais importância que a própria mensagem e a ser usado para inibir ou interditar outros interlocutores 33.

Essa paixão dicotômica do contra ou a favor, muito característica na temática das migrações, não contribui para os avanços necessários e todos os agentes acabam se sentindo derrotados. A visão simplista é tão apaixonante quanto incompetente para resolver problemas

29 COVIELLO, Lorenzo et al, Detecting Emotional Contagion in Massive Social Networks, PLOS ONE, v. 9,

n. 3, p. e90315, 2014.

30 Misinformation on social media: Can technology save us?, The Conversation, disponível em:

<http://theconversation.com/misinformation-on-social-media-can-technology-save-us-69264>, acesso em: 24 ago. 2017.

31 CIAMPAGLIA, Giovanni Luca; FLAMMINI, Alessandro; MENCZER, Filippo, The production of

information in the attention economy, Scientific Reports, v. 5, p. srep09452, 2015.

32 HOFFMAN, How Culture Shapes the Climate Change Debate, p. 27.

33 SALGADO, Luciana Salazar; ANTONIO, Gatti Marcio, Considerações sobre o sintagma “lugar de fala”: um

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complexos. As decisões que são necessárias são cada vez mais difíceis de serem tomadas, portanto, os graus irreconciliáveis de oposição não servem a um debate construtivo. O melhor é promover um envolvimento eficaz de múltiplos atores e interessados para incitar um debate qualificado com dados empíricos e cientificamente verificados para favorecer a reconciliação entre os aspectos socioambientais e econômicos do tema. Não há solução milagrosa a ser prescrita, a sociedade tem que fazer escolhas e decidir-se informada e consciente de quais são as consequências de suas decisões. E para alcançar uma convergência, mesmo que seja precária e temporária, a divergência precisa ser organizada (HOFFMAN, 2015, p.37).

Se por um lado a percepção dos atores sobre as migrações seja distorcida pela pós-verdade, Rianne Dekker e Godfried Engbersen no trabalho How social media transform migrant networks and facilitate migration, após sopesar as variáveis intervenientes (incluindo as Fake News), concluem no sentido de que:

[…] as mídias sociais não são apenas novos canais de comunicação nas redes de migração, mas a infraestrutura virtual de contatos midiáticos, síncronos e relativamente abertos; está ativamente transformando a natureza dessas redes e, desse modo, facilitando a migração. Laços interpessoais em redes de migrantes estão reduzindo os custos e riscos da migração através da troca de informações, recursos e assistência. A teoria de que a rede de migração pressupõe que as pessoas vão a lugares onde já têm contatos é contestada no entanto, com a internet como meio social, é mais fácil reviver ou fazer novos contatos, proporcionando acesso a um amplo conjunto de informações informais e, assim, ampliando os horizontes para aspirantes a migrantes 34.35

Assim, observa-se um importante movimento discursivo no ciberespaço que contribui para os fluxos humanos, mitigação de efeitos indesejados para os imigrantes e mudança de percepção dos atores locais quanto a recepção dos imigrantes.

Neste sentido, temos muito que aprender com a experiência europeia, cujos fluxos migratórios das mais variadas causas, assumem um caráter de emergência, inclusive de segurança. Neste sentido, o mapeamento destes fluxos (causas, locais de origem, idade, status familiar, etc) via mídia sociais auxilia na obtenção de dados que possam orientar a formulação de políticas públicas, inclusive no processo de comunicação e educação da população local

34 DEKKER, Rianne; ENGBERSEN, Godfried, How social media transform migrant networks and facilitate

migration, Global Networks, v. 14, n. 4, p. 401–418, 2014, p. 16–17.

35 Tradução livre do trecho: “social media are not just new communication channels in migration networks, but

that the virtual infrastructure of media-rich, synchronous and relatively open contacts is actively transforming the nature of these networks and thereby facilitating migration. Interpersonal ties in migrant networks are reducing the costs and risks of migration through the exchange of information, resources and assistance. Migration network theory assumes that people got to go to places where they already have contacts. However, with the internet as a social medium, it is easier to revive or make new contacts, providing access to an extensive pool of informal information and thus widening the horizons for aspiring migrants” (p.16-7)

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para acolher os imigrantes. Esta é a conclusão de Spyratos et al. No trabalho Migration Data using Social Media: a European Perspective:

[…]aplicativos de mídia social podem ser uma fonte de dados oportuna, de baixo custo e quase globalmente disponível para estimar estoques de migrantes internacionais, com base em estimativas de usuários que são classificados como "expatriados". No contexto europeu, ele pode ser usado para quantificar intra -EU padrões de mobilidade de grupos demográficos específicos, como estudantes, bem como para medir os movimentos de migração que não podem ser capturados em forma oportuna pelas estatísticas oficiais. Por exemplo, nossa metodologia nos permitiu identificar um aumento de migrantes venezuelanos na Espanha, validados por estatísticas oficiais nacionais, e ainda não registrados no conjunto de dados do Eurostat. Além disso, a transmissão de dados de mídia social pode fornecer insights sobre os indicadores socioeconômicos que ainda não foram coletados pelos órgãos de estatística. Exemplos incluem interesses pessoais, habilidades, realização educacional e setor de emprego desagregado por país de residência anterior, sexo e idade, entre outros atributos. 36.37

Diante desse contexto, para tentar regular a conexão e interdependência muito profunda entre indivíduos emotivos, na era da pós verdade, é preciso concentrar em orquestrar práticas cooperativas, criando uma dependência procedimental que atenue na prática a injustiça, a violência, o abuso e evite discrepâncias irreconciliáveis, permitindo um tipo de concertação ou ajustamento dos interesses em prol da eficácia. A Agenda 2030 pode ser apontada como uma iniciativa neste sentido.

Agenda 2030

Os líderes mundiais em uma cúpula histórica da ONU em setembro de 2015 aprovaram por unanimidade a Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável 38, contendo os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs). Se comprometendo, portanto, a alinhar as prioridades nacionais com a Agenda 2030 e trabalhando em conjunto com o setor privado e a sociedade civil, os governos iniciaram uma nova forma cooperativa multilateral para mobilizar esforços para acabar com a pobreza, enfrentar as desigualdades e enfrentar as mudanças climáticas até 2030.

36 VESPE, M et al, Migration data using social media a European perspective., [s.l.: s.n.], 2018, p. 21. 37 Tradução livre do trecho: “social media applications can be a timely, low-cost, and almost globally available

data source for estimating stocks of international migrants, based on estimates of users who are classified as “expats.” In the European context, it can be used for quantifying intra-EU mobility patterns of specific demographic groups, such as students, as well as for measuring migration movements that may not be captured in as timely a fashion by official statistics. For example, our methodology allowed us to now-cast an increase of Venezuelan migrants in Spain, validated by national official statistics, and not yet recorded in the Eurostat dataset. In addition to now-casting, social media data can provide insights into socio-economic indicators that are not collected yet by statistical offices. Examples, include personal interests, skills, educational attainment, and sector of employment disaggregated by country of previous residence, gender and age among other attributes” (p.21).

(13)

146

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são os sucessores dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) 39, que estava em vigor de 2000 a 2015. E tinha um papel fundamental na estruturação de políticas públicas em torno de: redução da pobreza; universalização da educação básica; igualdade de gênero e autonomia das mulheres; menor mortalidade infantil; melhor saúde materna; combate à AIDS, malária e outras doenças; sustentabilidade ambiental e parceria global para o desenvolvimento.

Diferentemente dos ODM, o quadro normativo dos ODSs enfatiza a Economia Verde e, portanto, o envolvimento do setor privado. As empresas privadas não são mais vistas como ameaças; ou parte dos problemas, mas como partes cruciais das soluções. Desde o início, os negócios foram envolvidos na definição da agenda e são considerados indispensáveis para a implementação global dos objetivos, enfrentando os principais desafios de sustentabilidade em sua cadeia de produção e também investindo em tecnologia mais ecológica para consecução dos objetivos globais.

Assinada por todos os membros das Nações Unidas, estabelece um conjunto de metas e objetivos universais transformadores, abrangentes e centrados nas pessoas40. Acabar com a

pobreza e a fome; combater as desigualdades; construir sociedades pacíficas, justas e inclusivas; proteger os direitos humanos; promover a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres; proteger os recursos naturais. Isso tudo ao mesmo tempo em que são criadas condições para um crescimento econômico socioambientalmente sustentável para que a prosperidade seja compartilhada e promova o trabalho decente e justo 41.

A proposta de uma grande missão coletiva, comprometida em não deixar ninguém para trás, reconhecendo que a dignidade da pessoa humana é fundamental, faz com que os ODSs tenham de ser buscados para todas as nações e povos e para todos os segmentos da sociedade 42. Provavelmente o texto não poderia ser tão audacioso se fosse juridicamente vinculante. A inclusão de obrigações coercitivas, ao mesmo tempo em teriam mais força

39 UN, United Nations, United Nations Millennium Declaration ONU. Declaração do Milênio. ., 2000.

40 O texto da Agenda 2030 original é: “We resolve, between now and 2030, to end poverty and hunger

everywhere; to combat inequalities within and among countries; to build peaceful, just and inclusive societies; to protect human rights and promote gender equality and the empowerment of women and girls; and to ensure the lasting protection of the planet and its natural resources. We resolve also to create conditions for sustainable, inclusive and sustained economic growth, shared prosperity and decent work for all, taking into account different levels of national development and capacities. As we embark on this great collective journey, we pledge that no one will be left behind. Recognizing that the dignity of the human person is fundamental, we wish to see the Goals and targets met for all nations and peoples and for all segments of society. And we will endeavor to reach the furthest behind first” UN, Agenda 2030, p. 3..

41 Ibid. 42 Ibid.

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147

jurídica, poderiam inibir os Estados de participar ou, ainda pior, desmoralizar o esforço de se atingir um acordo em virtude da ausência de poder de polícia e de controle judicial, características típicas do Direito Internacional43.

Dessa maneira, processos estruturados, transparência e precisão quanto às responsabilidades, aos objetivos e metas podem fazer mais diferença, ser mais significativos na prática para regular as ações internacionais. Assim, com uma linguagem não vinculante, pretende articular a governança socioambiental global, integrando diversas arenas de autoridade transnacional, internacional, nacional e subnacional com empresas, organizações, indivíduos e outros atores. O principal é identificar os objetivos sobre os quais esta multiplicidade de agentes públicos e privados deve deliberar e estabelecer políticas ou comportamentos para buscar uma adequada preservação sócio ambiental e o desenvolvimento sustentável.

Governos, organizações internacionais, empresas privadas, academia e sociedade civil têm uma tarefa coletiva a desempenhar: identificar os caminhos para o desenvolvimento ambiental, social e econômico. Os recursos, os conhecimentos técnicos e a representação democrática devem ser combinados para tal e a resolução global de problemas exige uma rede bem orquestrada para lidar com padrões de consumo, energia, alimentação, trabalho, urbanização, mídia social, resiliência etc.

Tecnologia e redes

Avaliar o impacto dos ODS no âmbito ambiental, social e econômico é um caso complexo, para tanto, as Nações Unidas criaram o DevInfo 44 – um banco de dados de código aberto para agregar toda a informação ao redor do mundo. É uma ferramenta para organizar, registrar, comparar, elaborar gráficos, mapas, gráficos e apresentar dados de forma uniforme. Isso facilita a comparação e o compartilhamento de dados entre os países na ONU, em vários níveis hierárquicos intragovernamentais e com a sociedade em geral. O DevInfo se originou

43 Nas palavras do autor: “The actors (central state authorities), processes (formal lawmaking in IOs), and

outputs (rigid treaties or IO decisions) recognized in traditional international law are not adapted (…) [to address] (...) not only informal output but also new and informal actors and processes. Moreover, even in terms of output, there is nothing ‘soft’, i.e., vague, aspirational, or deeply contested (…) the process of their development is highly regulated and strict, based on consensus, and the expectation as to compliance with these norms is extremely high (higher than in respect of many traditional treaties). (…) the core challenge of soft law is whether it ‘works’, the most pressing problems of informal lawmaking, accountability and legitimacy, arise as a consequence of its effectiveness” PAUWELYN, Joost; WESSEL, Ramses A.; WOUTERS, Jan, When Structures Become Shackles: Stagnation and Dynamics in International Lawmaking, European Journal of International Law, v. 25, n. 3, p. 733–763, 2014, p. 743..

44 UN, United Nations High Commissioner for, DevInfo. Development Indicators Unit Institution Statistics

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148

como ChildInfo, para gerenciar os critérios monitorados pela UNICEF em 2004.

A plataforma da ONU foi atualizada muitas vezes e é difundida por vários países; por exemplo, o Brasil desenvolveu o PortalODM 45, através de uma parceria entre investimentos públicos e privados para lançar um sistema nacional para consolidar as informações de todos os 5570 municípios brasileiros e, portanto, permitir que o sistema de relatórios dinâmicos DevInfo acompanhe os progressos realizados em meio ambiente, áreas econômicas e sociais em escala global e ao mesmo tempo detalhadamente. O banco de dados permite a atualização de informações em tempo real e usa dados oficiais. Ele cria infografia que ajuda a comparação, análise, a defesa de interesses e a tomada de decisão. Como ferramenta de gestão pública, também permite a comparação entre estados e municípios.

Mas no programa, os dados são atualizados pelos próprios órgãos governamentais, portanto, há uma controvérsia considerável sobre a precisão das estatísticas e a credibilidade da linha de base escolhida para monitorar eventuais melhorias ou pioras. Além disso, os dados fornecidos pelos governos geralmente estão desatualizados, isso ocorre porque uma informação precisa, amplamente publicada de forma transparente, ainda não está disponível para a maioria dos países em desenvolvimento. Este tempo de atraso deve ser combatido pela digitalização, principalmente através do processo de coleta e monitoramento de dados diretamente digital, ampliando o uso de dispositivos móveis e eletrônicos para isso. Outro aspecto a ser considerado é o limite da infraestrutura em muitos países, especialmente a falta de banda larga sem fio e acesso remoto para permitir a coleta e monitoramento de dados digitais.

Mais recentemente, o PNUD lançou o ‘ODSs in Action’, um aplicativo de celular desenvolvido para divulgar o conhecimento sobre o SDG, destacando especialmente que eles são uma lista de objetivos para orientar as ações de todos e não algo restrito aos governos e às empresas. A iniciativa foi financiada pela indústria de telefonia móvel e desenvolvida pela GSMA, que representa os interesses de quase 800 operadores móveis em todo o mundo, juntamente com o Project Everyone, uma campanha global sem fins lucrativos para espalhar a mensagem dos ODSs. A GSMA calcula em seu relatório anual 46 que existam mais de 4,7 bilhões de usuários individuais de serviços móveis, dos quais 3,4 acessam a internet através de seus celulares. Isso representa dois terços da população mundial que poderia ser capaz de

45 PORTALODM, Relatórios Dinâmicos, Relatórios Dinâmicos - Portal ODM, disponível em:

<http://www.relatoriosdinamicos.com.br/portalodm/sobre-o-relatorios-dinamicos>, acesso em: 11 jun. 2017.

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agir através dos seus dispositivos na implementação dos ODSs, receber notícias sobre seus 4 objetivos favoritos ou simplesmente descobrir o que está sendo feito ou pode ser feito nas proximidades.

Há também o caso do uso da tecnologia da contabilidade distribuída para mitigar o processo de comunicação e implementação de políticas para acolher os imigrantes. O projeto piloto começou em 2017 no Paquistão e na Jordânia e depois de um ano já era acessível a 100 mil pessoas residindo nos campos de refugiados. A tecnologia sendo capaz de fornecer segurança e privacidade a todos os envolvidos nas ações de ajuda humanitária prestada aos refugiados sírios nesses campos.

Um dos melhores exemplos de projeto implementado na área de desenvolvimento sustentável é Building Blocks, desenvolvido pela Baltic Data Science e Parity Technologies (…) O sistema tem sido usado pelo Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP) como um meio de tornar as transferências de renda mais eficientes, transparentes e seguras; o número de pessoas que recebem transferências em dinheiro passou de 3 milhões de pessoas em 2010 para 9,3 milhões em 2015 (…)O Blockchain é uma tecnologia de contabilidade digital usada como uma maneira confiável de rastrear a propriedade de ativos sem a necessidade de uma autoridade central, o que poderia acelerar as transações e, ao mesmo tempo, diminuir as chances de fraude ou má administração de dados. Crucialmente, sua natureza de peer-to-peer elimina a necessidade de verificação de intermediários caros, como bancos ou outras instituições. Ao aproveitar o poder do blockchain, o WFP pretende reduzir os custos de pagamento associados às transferências monetárias, proteger melhor os dados dos beneficiários, controlar riscos financeiros e configurar operações de assistência mais rapidamente na sequência de emergências (…) Os primeiros pilotos foram em 2017, no Paquistão e na Jordânia, e após um ano, mais de 100.000 pessoas que residem em acampamentos redimem a assistência fornecida pelo WFP através do sistema baseado em blockchain. A tecnologia permite um registro completo de cada transação que ocorre nos varejistas, garantindo maior segurança e privacidade para os refugiados sírios e melhorando a reconciliação com uma redução significativa dos custos de terceiros 4748

47 DENNY, Danielle Mendes Thame; PAULO, Roberto Ferreira, Blockchain and the Agenda 2030, in:

Blockchain Technology and Applications, New York, NY: Nova Science Publishers, 2019, p. 230.

48 Este trecho é uma tradução livre e resumida do seguinte original: “One of the best examples of implemented

project in the area of sustainable development is the Building Blocks pilot, developed by Baltic Data Science and Parity Technologies running on a permissioned DLT using the Parity Ethereum client with a Proof-of-Authority (PoA) consensus algorithm (WFP 2017). The system has been used by the United Nations World Food Program (WFP) as a mean of making cash transfers more efficient, transparent and secure; the number of people receiving WFP cash transfers went from 3 million people in 2010 to 9.3 million in 2015 (WFP 2017).Blockchain is a digital ledger technology used as a trusted way to track the ownership of assets without the need for a central authority, which could speed up transactions while lowering the chance of fraud or data mismanagement. Crucially, its peer-to-peer nature removes the need for verification from costly intermediaries such as banks or other institutions. By harnessing the power of the blockchain, WFP aims to reduce payment costs associated with cash transfers, better protect beneficiary data, control financial risks, and set up assistance operations more rapidly in the wake of emergencies (…) For refugees living in camps, Building Blocks has integrated with the existing biometric authentication technology developed by IrisGuard that allows refugees to identify themselves with the blink of an eye (WFP 2017, 2). The first pilots were in 2017, in Pakistan and Jordan, and after one year, more than 100,000 people residing in camps redeem their WFP-provided assistance through the blockchain-based system (WFP 2017). The technology enables a full record of every transaction that occurs at the retailers,

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150

Mas ainda assim as iniciativas da ONU ainda estão descoordenadas e sem métricas comparáveis. A metodologia utilizada para avaliar o efeito do SDG precisa incluir as análises de longo prazo sobre o ciclo de vida dos produtos e a entrada e saída da produção. As análises de dados têm de tirar proveito da comparação de informações cruzadas, independentemente das fronteiras nacionais, para refletir os direitos humanos e as medidas ambientais sociais de toda a cadeia de suprimentos. Ivanova indica muitas melhorias nas métricas que precisam ser feitas. Para ela precisa haver uma Avaliação de Suficiência de Recursos 49 que é o uso de métricas estabelecidas para determinar se a demanda atual e projetada para recursos naturais é congruente com os recursos existentes, usando avaliação do ciclo de vida a modelagem de entrada-saída contábeis por exemplo50.

Relatórios

Outro tipo de ação contundente no combate ao dumping socioambiental é a avaliação corporativa que mede o desempenho dos negócios. Muitas iniciativas deste tipo tem surgido, mas de acordo com o WWF / ISEAL, o que torna um sistema de padronização e indexação confiável é: 1) transparência; 2) um processo de participação de várias partes interessadas, envolvendo toda a cadeia de suprimentos de empresas, sociedade civil, governos, instituições de pesquisa e ONGs, com tomada de decisão equilibrada; 3) verificação independente por auditores externos ou órgãos de certificação; e 4) melhoria contínua 51.

Esse tipo de iniciativa é utilizada sobretudo pelas multinacionais, que têm que gerenciar sua produção globalmente, comprovar melhores práticas e ter ferramentas que possibilitem a comparação de suas diversas unidades de produção de acordo com critérios uniformizados. Dessa forma há um aumento substancial na demanda por padrões confiáveis, especialmente para acompanhar o impacto que os investimentos têm. Esta é a conclusão do

ensuring greater security and privacy for the Syrian refugees and improving reconciliation with a significant reduction of third-party costs” Ibid..

49 IVANOVA, Assessing the Outcomes of Rio+20 “State of the World Governing for Sustainability., The

World Watch Institute, v. 2014, 2014, p. 150.

50 Nas palavras da autora: Resource Sufficiency Evaluation (RSE), is the use of established metrics to determine

whether the current and projected demand for natural resources is sustainable. Scientifically based accounting methodologies such as life-cycle assessment (LCA) or input-output (I-O) modeling are already available to conduct resource sufficiency evaluations in a universally applicable manner. These methodologies, and the biophysical “balance sheets” that are generated, offer policy makers and the public a clearer under-standing of ecological sustainability and what is needed to achieve it. (...) Countries that understand their natural resource assets and limitations, and reduce their reliance on scarce resources, acquire a competitive edge in a now globalized world Ibid..

51 WWF/ISEAL, SDGs mean business - How credible standards can help companies deliver the 2030

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151

relatório GIIN de 2017 que também verificou que 60% dos investidores rastreiam ativamente o desempenho financeiro de seus investimentos em relação aos ODSs ou planejam fazê-lo em breve 52.

Os padrões de sustentabilidade podem variar amplamente, especialmente no nível de desempenho que exigem, alguns são fáceis de alcançar e, portanto, geralmente utilizados como uma forma de apenas parecer sustentável sem realmente se comprometer e aplicar os esforços necessários para tornar-se realmente mais sustentável; este tipo de maquiagem é chamada de "greenwash"53. Esta prática pode ter um efeito rebote muito negativo sobre a reputação da empresa usando este truque. Outros padrões, ao contrário, são bastante consistentes, amplos e podem vir a ser muito exigentes e custosos. Alguns se concentram em evitar as piores práticas corporativas, outros estabelecem caminhos rigorosos de melhoria contínua a serem seguidos para alcançar a boa governança.

O impacto efetivo que um padrão de sustentabilidade pode ter para orientar as empresas para um caminho mais sustentável depende muito das qualidades monitoradas, do processo de conformidade e dos mecanismos de due diligence. Mas também a leitura externa do padrão é muito importante. O modo como os consumidores e outras partes interessadas valorizam esse padrão está diretamente relacionado com a capacidade de fornecer incentivos indiretos para mobilizar investimentos dos atores nas cadeias de suprimentos para implementar os padrões de qualidade. A melhoria do desempenho tem de ser visto como possibilidade de: conseguir melhor qualidade e economia na sua produção, proporcionar melhor acesso ao mercado, melhores condições do contrato e, muitas vezes, um preço direto maior (afinal os melhores produtos e serviços podem custar mais).

O uso da tecnologia, da colaboração em rede e a metodologia de avaliação de conformidade traduzida em relatórios produzem e dependem de imagens técnicas, criadas por aparelhos, cuja função seria “emancipar a sociedade da necessidade de pensar conceitualmente” mas que porém aprisiona numa “caixa preta” 54. Esses dados técnicos

podem, ao invés de informar sobre a realidade existente, criar uma percepção equivocada

52 MUDALIAR, Abhilash et al, Annual Impact Investor Survey 2017, [s.l.]: Global Impact Investing Network,

2017, p. 15.

53 BOWEN, Frances; ARAGON-CORREA, J. Alberto, Greenwashing in Corporate Environmentalism Research

and Practice: The Importance of What We Say and Do, Organization & Environment, v. 27, n. 2, p. 107–112, 2014; LYON, Thomas P.; MONTGOMERY, A. Wren, The Means and End of Greenwash, Organization & Environment, v. 28, n. 2, p. 223–249, 2015.

54 FLUSSER, Vilém, Filosofia da Caixa Preta - Ensaios para uma Futura Filosofia da Fotografia - Col.

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152

sobre ela. Um critério mal utilizado ou sobre estimado tem o potencial de distorcer toda a análise e, assim, produzir situações de desinformação pouco prováveis de contribuírem para a solução do problema complexo e multifacetado como das migrações.

A tecnologia, os conceitos, terminologias, métricas de aferição, reporte dos dados – que permitiriam perceber o quanto tem sido alcançado em termos de objetivo do desenvolvimento sustentável – são abstrações 55 que representam a lógica linear dos pensamentos humanos, sujeitos a valores éticos e intensões, e que portanto não contemplam em sua plenitude a complexidade de fatores envolvidos na questão social empírica. A atenção à cultura do ouvir busca evidenciar essa constatação de que “estamos enredados em processos comunicativos, participamos de uma teia de vínculos” 56. A comunicação, para que

seja mais fecunda e adequada aos desafios complexos da contemporaneidade, tem que envolver e contemplar a reação dialógica dos indivíduos envolvidos no processo.

Os sistemas de mediação tecnológica, via interação simbólica, têm a capacidade de viabilizar experiências concretas na mídia primária com o corpo. Isso pode ser usado para promover experiências de pertencimento a um grupo. Claro que contrario sensu pode também ser marcado por ambiguidades e favorecer o fundamentalismo e a proliferação do discurso do ódio. O emotivismo e a era da pós verdade aumentam ainda mais a tensão entre esse tipo de trocas informacionais. Dessa forma, os ambientes comunicacionais voltados a temáticas complexas precisam não ignorar esse contexto e, pelo contrário, serem capazes de se adaptar e de tirar vantagem das matrizes afetivas e dos diversos quiasmas que a interação corpos-tecnologia pode vir a propiciar. Para dessa forma ser capaz de “observar/investigar/compreender como, a partir do corpo, os processos de comunicação transbordam por diferentes capilaridades comunicacionais”, gerando efeitos positivos e negativos de maneira assimétrica e de forma dialógica e discursiva.

Considerações finais

No contexto de produção em cadeias globais de valor, a temática do fluxo de pessoas ganha central relevância, porém não há coerente tratamento regulatório, as iniciativas protetivas dos Direitos Humanos dessas pessoas são tímidas e descoordenadas, condenando muitos à clandestinidade e a viver desprotegidos da lei. A segregação jurídica é também

55 FLUSSER, Vilém, O Universo das Imagens Técnicas, Portugal: Imprensa da Universidade de Coimbra,

2012.

56 MENEZES, José Eugenio de O., CULTURA DO OUVIR E ECOLOGIA DA COMUNICAÇÃO J, São

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153

ideológica, reforçada pela estereotipia das representações dos estrangeiros nos meios de comunicação. Essas características culminadas com a era da pós verdade e do emotivismo tendem a gerar impasses e preconceitos que agravam ainda mais as dificuldades.

É fato que cada vez maiores contingentes populacionais migram em busca de segurança de diversos tipos 57. A falta de proteção jurídica mantém a situação de insegurança. Por outro lado, ainda que as pessoas não concordem com os objetivos, conceitos e valores, é perfeitamente possível que elas cheguem a um acordo sobre os procedimentos e medidas que pragmaticamente precisam ser tomadas para resolver um problema. Esses procedimentos e medidas pragmáticos precedem e sucedem os indivíduos. São atividades de cooperação muito complexas que dependem da separação entre os meios e os objetivos. Mesmo que as pessoas não concordem com os fins, elas ainda podem articular os melhores meios para lidar com uma determinada situação, neste sentido, os pontos intermediários e procedimentais podem ser tratados como objetivos possíveis, eficazes para prevenir injustiças, violência e abuso.

Uma alternativa é buscar essa articulação em torno da Agenda 2030 e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para promover a governança do problema transfronteiriço e difuso dos êxodos. A tecnologia e as melhores práticas coorporativas podem promover o melhor monitoramento e implementação dessas diretrizes, mas para tanto precisa haver um envolvimento efetivo dos agentes a fim de criar um ambiente comunicacional propício à participação, ao diálogo e à busca de melhores alternativas para solucionar problemas comuns.

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Referências

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