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Histórias de Livros: Um estudo teórico e gráfico

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Academic year: 2021

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UM ESTUDO TÉORICO E GRÁFICO

HISTÓRIAS DE LIVROS:

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RELATÓRIO DE PROJETO ORIENTAÇÃO

Professor Joaquim Antero Magalhães Ferreira PROJETO PARA OBTENÇÃO DE GRAU DE MESTRE

Mestrado em Design Gráfico e Projetos Editoriais Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto Ano letivo 2018/2019

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AGRADECIMENTOS

à minha família, pelo incentivo ao Filipe, pelo apoio

ao Marco e à Catarina, pela amizade à Marta e à Elisa, pela disponibilidade à Lourdes Pereira e à Lurdes Paiva, pela ajuda ao professor Antero Ferreira, pela dedicação e a todos os que contribuiram para este projeto Abílio Bandeira

Ana Freitas João Aparício Jorge Silva José Mário Santos José Rui Teixeira

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RESUMO PALAVRAS-CHAVE

livros; histórias; design editorial; grafismos; inspiração

O objeto Livro — duradouro suporte de trans-missão de informação — tem a capacidade de contar histórias para além daquelas nele impressas. O presente projeto surge do desejo, por parte da autora, de aprofundar conheci-mentos acerca do Livro, e dos seus responsá-veis, através destas histórias. Paralelamente, e em simultâneo, é propósito da mesma, continuar a prática do design editorial no seguimento do primeiro ano de mestrado. Numa primeira fase, foram analisados livros que marcaram a história deste objeto, desde os primeiros suportes de escrita até ao livro atual, bem como considerações sobre o seu futuro. A seguir, observaram-se outros que representam uma determinada categoria como Livros Proibidos e Livros Destruídos. Por fim, fez-se um estudo sustentado na reali-zação de entrevistas, acerca dos responsáveis pelo livro tal como o encontramos nos nossos dias, começando na conceção do livro, com o Autor, e terminando no renascimento do mesmo, com o Conservador-restaurador. Na segunda fase, deu-se uso aos grafismos das obras analisadas, como inspiração, no design dos artefactos que constituem o projeto. Desta forma, este projeto pretende ser uma coletânea de histórias e uma narrativa sobre a exploração do tema Livro à luz da perspetiva

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ABSTRACT KEYWORDS

books; stories; editorial design; graphics; inspiration

The object Book — long-lasting tool for the transmission of information — has the ability to tell stories beyond the ones printed in it. The current project appears from the desire, of the author, to deepen the knowledge on the Book and those responsible for it, using these stories. In parallel, and at the same time, it’s the author’s intention to further the editorial design practice following the first year of the master’s degree. The first step was to analyze the books that define the history of this object, from the first writing tools to the present-day book, as well as considerations of its future. Then, others which represent a certain category, such as Forbidden and Destroyed Books. Finally, a study sustained on interviews, of those responsible for the book nowadays, starting from the conception of the book, with the Author, and finishing on the rebirth of it, with the Conservator-restorer. The second step was to use the graphics of the analyzed books, as inspiration, for the design of the artefacts that compose the project. Therefore, this project is a collection of stories and an investigation on the theme Book in light of the perspective of editorial design, when it comes to the content, but also the graphics.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIG. 1, p. 27

The judgement of the dead in the presence of Osiris FIG. 2, p. 31

Diamond Sutra, 868 FIG. 3, p. 35

The Book of Kells, TCD MS 58, folio 204r, Luke 4:7 – 13, Trinity College Dublin FIG. 4, p. 39

Apocalipse do Lorvão, PT-TT-MSML-B-44_m0136 FIG. 5, p. 39

Apocalipse do Lorvão, PT-TT-MSML-B-44_m0137 FIG. 6, p. 43

Biblia Latina, Gutenberg Bible or 42 Line Bible FIG. 7, p. 47

The Canterbury Tales, 2.ª ed., folio 21v FIG. 8, p. 47

The Canterbury Tales, 2.ª ed., folio 22r FIG. 9, p. 51

ThePlantin Polyglot Bible. Biblia Sacra Hebraice, Chaldaice, Graece, & Latine FIG. 10, p. 55

The Story of the Glittering Plain, 1891, University of Iowa, page 4 FIG. 11, p. 55

The Story of the Glittering Plain, 1891, University of Iowa, page 5 FIG. 12, p. 59

Leaves of Grass, Grabhorn Press, 1930 FIG. 13, p. 63

Sheila Hicks, Weaving as Metaphor, 2006 FIG. 14, p. 69

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LISTA DE ABREVIATURAS a.C. c. d.C. ed. fig. figs. m. n. prof. rest. séc. vol. BD CDU EB EUA FBAUP FLUP PSR UCP UP antes de Cristo cerca de depois de Cristo edição figura figuras morreu em nasceu em professor restauradora século volume Banda Desenhada

Classificação Decimal Universal Escola Básica

Estados Unidos da América

Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto Faculdade de Letras da Universidade do Porto Partido Socialista Revolucionário

Universidade Católica Portuguesa Universidade do Porto

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ÍNDICE Resumo Abstract Lista de Ilustrações Lista de Abreviaturas Introdução ESTADO DA ARTE

O Livro dos Mortos [c. 1250 a.C.] Sutra Diamante [868]

Livro de Kells [800 – 900] Apocalipse do Lorvão [1189] Bíblia de 42 Linhas [1456] Os Contos de Cantuária [1483] Bíblia Poliglota de Plantin [1573] História da Planícia Brilhante [1891] Folhas de Relva [1930]

Tecer como Metáfora [2010] OBRAS DE ESTUDO

O Manuscrito de Voynich [xv – xvi]

A Vida e Opiniões de Tristram Shandy, Cavalheiro [1759 – 67] Amor Casado ou Amor no Casamento [1918]

Decadência [1923] Casa de Folhas [2000] CASOS DE ESTUDO

Abílio Bandeira José Rui Teixeira

7 9 11 13 17 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 67 71 75 79 83 23 65 91 93 87 1. 2. 3. ANTES DO PAPEL ERA DO PAPEL MANUSCRITOS MEDIEVAIS MANUSCRITO PORTUGUÊS TIPOS MÓVEIS XILOGRAVURA OFICINAS TIPOGRÁFICAS PADRÕES DE BELEZA REVOLUÇÃO TIPOGRÁFICA ATUALIDADE E FUTURO LIVROS MISTERIOSOS LIVROS ÚNICOS LIVROS PROIBIDOS LIVROS DESTRUÍDOS LIVROS CURIOSOS AUTOR EDITOR

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INTRODUÇÃO

Na sequência do primeiro ano do Mestrado em Design Gráfico e Projetos Editoriais, este proje-to é uma continuação da aprendizagem acerca do objeto Livro, e da exploração da disciplina do design editorial.

Assim, o projeto tem como objetivo, numa pri-meira fase, estudar teórica e graficamente vá-rios exemplares de Livro ao longo do tempo e, numa segunda fase, dar uso aos resultados des-se estudo para a criação de um conjunto de artefactos, inspirado, visualmente, nas obras analisadas. Pretende-se contar histórias acerca dos livros do nosso passado, da nossa História, mas também ouvir histórias atuais de quem lida com livros no seu dia-a-dia, numa altura em que os formatos digitais monopolizam a sociedade, hipotecando o futuro do livro. Desta forma, o projeto divide-se em duas partes, correspondentes a dois livros: o primeiro (Rela-tório), intitulado Histórias de livros ; e o segundo (Projeto), Conversas de livros.

Ambos são um exercício de design editorial inspirado nas obras analisadas e com foco na legibilidade dos textos.

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HISTÓRIAS DE LIVROS

1.ª PARTE A primeira parte deste projeto e, portanto, o presente livro, estrutura-se da seguinte for-ma: 1. Estado da Arte, 2. Obras de Estudo e 3. Casos de Estudo. Pretende-se, no Estado da Arte, fazer uma breve introdução à história do livro ao longo do tempo, dando uso a obras que refletem importantes momentos nesta história. Começando por perceber os primeiros suportes de escrita utilizados e criados pelo Homem, ainda antes do livro ter o formato com o qual estamos familiarizados atualmente, passando pela invenção do papel por Ts’ai Lun na China, e a impressão com tipos móveis por Gutenberg na Alemanha, até ao livro atual, e reflexão sobre o seu futuro, com recurso a obras que são verdadeiros marcos da História do Livro.

O segundo capítulo, Obras de Estudo, dedica-se ao estudo e análise de obras, que, não se inserindo na História do Livro, continuam a ser relevantes para o estudo deste objeto e representam um tipo de livro: livros misteriosos, livros únicos, livros proibidos, livros destruídos e livros curiosos. Com foco na obra em si, no seu conteúdo e grafismos, no autor e nas circunstâncias.

Os títulos das obras foram traduzidos para português, pela autora, de forma a uni-formizar a leitura; no entanto, o título original de cada obra pode ser consultado nas Fichas Técnicas das Obras. Este projeto rege-se pelo Novo Acordo Ortográfico.

Para estes capítulos foram usados, como referência, livros como O Livro: Impressão e Fabrico de Douglas McMurtrie; História do Livro de Svend Dahl, O Aparecimento do Livro de Lucien Febvre e Henri-Jean Martin (livros clássicos acerca do tema), de forma a estru-turar toda a informação, complementando com livros mais recentes, como A Companion to the History of the Book, editado por Simon Eliot e Jonathan Rose e History of the Book in 100 Books de Roderick Cave e Sara Ayad, entre outros.

O último capítulo, Casos de Estudo, apresenta entrevistas (orais e escritas) que pre-tendem oferecer um panorama geral dos responsáveis pelo Livro na atualidade. Foram assim realizadas oito conversas onde cada uma representa uma fase do processo e ‘vida’ do livro, ordenadas temporalmente: 1. Autor, 2. Editor, 3. Designer, 4. Encadernador, 5. Alfarrabista, 6. Bibliotecário, 7. Consumidor e 8. Conservador-restaurador.

À exceção do editor José da Cruz Santos (editora Modo de Ler) todos os contactados no âmbito deste projeto acederam ao convite de forma positiva. Aquele foi contactado por email, declinando o convite por não poder assumir mais um compromisso; assim, 19

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Conversas de livros expõe todo o conteúdo das entrevistas realizadas, dando uso aos elementos gráficos recolhidos das obras analisadas na primeira parte do projeto. Todo o trabalho criativo produzido nos dias de hoje é inspirado ou influenciado, propositada-mente ou não, pelo que já foi realizado anteriorpropositada-mente. Tudo o que existe serve como influência na criação de um produto que está ainda por nascer. Assim, as obras estu-dadas na primeira parte são a principal inspiração, do ponto de vista gráfico, para esta segunda parte do projeto. Desta forma, as escolhas gráficas são muito importantes para o projeto, visto que refletem todo o estudo realizado e as que foram inspiradas em deter-minada obra estão devidamente discutidas e explicadas ao porme-nor na Introdução de Conversas de livros.

CONVERSAS DE LIVROS 2.ª PARTE

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ESTADO DA ARTE

O Estado da Arte relata brevemente a história do livro através de uma seleção de obras (livros) que representam um capítulo/marco, nesta história, desde a era antes do papel até ao livro atual. Assim, as obras foram selecionadas de acordo com os seguintes critérios: represen-tação de um marco na história do livro; facilidade de recolha de informação acerca do livro, autor e história; facilidade de recolha de imagens, fotografias e/ou digitalizações do livro; diversidade no género/tipo/assunto do livro (livros religiosos, livros informativos, livros de ficção); grau de popularidade do livro (livros célebres, livros menos conhecidos); história curiosa e interessante acerca do livro/ /autor/circunstâncias em que foi criado; e, pelo menos uma obra portuguesa. Certas obras selecionadas eram já do conhecimento da autora, enquanto que outras foram descobertas através de pesquisa ou por sugestão de outrem. Cada parte deste capítulo divide-se em três: 1. Contexto histórico, 2. Obra selecionada e 3. Análise gráfica. Na primeira parte são abordadas as circunstâncias históricas que envolvem a obra e o período da História em questão; na segunda, toda a atenção é focada na obra e no autor; e na terceira é feita uma análise gráfica dos elementos da obra para que sejam utilizados como inspiração no desenho dos artefactos (neste caso, estes são assinalados 1.

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Compreende-se que o primeiro esforço do ser humano para ‘tornar visíveis o pensa-mento e o sentipensa-mento de forma duradoura’ (McMurtrie, 1965) foram os desenhos e gravu-ras em pedra. Podemos ainda hoje apreciar alguns dos primeiros registos do homem feitos em pedra/rocha, metal, cerâmica e placas de argila, devido às suas propriedades de conservação. No entanto, muitos registos feitos em materiais deterioráveis como, por exemplo, peles, madeira, cascas de árvore, não duraram até aos nossos dias.1

Por volta de 2900 a.C., os Egípcios criaram um suporte de escrita barato, prático e portátil, que rapidamente se tornou popular — o papiro — feito a partir da planta do mesmo nome que crescia em abundância nas margens do rio Nilo,2 mas que hoje se

encontra praticamente extinta.3

Em 1250 a.C., escreveu-se no Egito O Livro dos Mortos de Ani. Este papiro continha fórmulas mágicas e religiosas que serviam para proteger e auxiliar o morto durante a sua viagem para o Duat — o Reino dos Mortos — e em caso de sucesso, atingir a imortalidade. Este livro comprava-se já preparado, acrescentando-se apenas o nome do proprietário; no entanto, não era acessível às classes inferiores, já que custava duas vacas, um escravo, ou seis meses do pagamento de um operário.4 O papiro mais célebre representa o Tribunal

dos Mortos perante Osíris e o momento onde o coração de Ani está a ser pesado numa balança contra uma pena, que simboliza Maat, a verdade e a ordem. Se o coração fosse mais leve que a pena, a alma transcendia ao paraíso, enquanto que, se fosse mais pesado, o coração era devorado por Ammut e a alma desaparecia. ‘O coração podia falar, então os fei-tiços asseguravam que este não revelava nenhum facto condenatório acerca do dono.’ (2011)5 Assim, o livro funcionava da seguinte forma: se a fórmula cento e vinte cinco, por

exemplo, fosse lida pelo defunto no momento em que é pesado o coração, a balança equilibrava-se magicamente e o morto estava salvo e tornava-se imortal.6 Este papiro foi

adquirido pelo Museu Britânico em 1880.7

Ao papiro sucedeu o pergaminho, usado provavelmente desde 1500 a.C. e feito a partir de peles de carneiros, cabra, ovelha ou vitelos, este último de melhor qualidade e chamado velino. O rei de Pérgamo é, normalmente, creditado por esta invenção. Reza a História que quando os egípcios impediram a exportação de papiro para esta cidade, os seus habitantes tiveram de inventar uma nova superfície de escrita. O pergaminho foi aperfeiçoado e como era mais duradouro acabou por ultrapassar o papiro, tornando-se no séc. iv o principal suporte de escrita usado na Europa até ao aparecimento do papel.8

ANTES DO PAPEL

O LIVROS DOS MORTOS [c. 1250 a.C.]

1. McMURTRIE, Douglas C. 1965 (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Tradução de Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 24 – 5. 2. CAVE, Roderick, e Sara Ayad. 2014.

A History of the Book in 100 Books.

London: British Library, p. 22. 3. HUNTER, Dard. 1978 (1.ª ed.: 1943)

Papermaking: The History and Technique of an Ancient Craft. (cópia da 2.ª ed. de 1947).

New York: Dover Publications, p. 18. 4. ROSE-MARIE, e Rainer Hagen. 2006.

Egipto. Pessoas — Deuses — Faraós.

Lisboa: Taschen, p. 167.

5. Tradução da autora. Original: ‘The heart could speak and so spells ensured that it did not reveal any damning facts about its owner.’ MUSEUM, The British. 2011. ‘Journey through the afterlife Ancient Egyptian Book of the Dead’. [Consult. 17/06/2019]. https://www. britishmuseum.org/pdf/3665_BOTD_schools_ Teachers.pdf.

6. EDITORES Reunidos, S.A. 1998. Egipto: Um

Tesouro da Humanidade. Vol. 1. Lisboa: Planeta

DeAgostini, pp. 86 – 7.

7. IDEM, ibidem, nota n.º 2, p. 23. 8. IDEM, ibidem, pp. 31 – 2.

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1. MUSEUM, British. ‘Collection online: papyrus’. [Consult. 10/07/2019]. https://www.britishmuseum.org/research/ collection_online/collection_object_details. aspx?objectId=113335&partId=1. FIG. 1 ANTES DO PAPEL

O LIVROS DOS MORTOS [c. 1250 a.C.]

DIMENSÕES 420 × 760 mm 1

TÉCNICA

manuscrito e ilustrado TINTA

preta 2 (texto), branca, vermelha, laranja,

amarela e verde (ilustrações) ANÁLISE GRÁFICA

ilustração e texto perfeitamente integrados, texto segue as formas das ilustrações e funciona como parte da imagem; margens superiores e inferiores substanciais

27

2. Características gráficas assinaladas a vermelho, usadas como inspiração para o design editorial dos artefactos

Histórias de Livros e Conversas de Livros.

Informações mais deta-lhadas acerca das esco-lhas gráficas podem ser encontradas na introdução do livro

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Diz-se que a invenção do papel foi feita no ano de 105 d.C. por Ts’ai Lun (50 – 121), um alto funcionário da corte imperial, na dinastia Han, que experimentou usar redes de pesca, farrapos, cascas de árvore, cânhamo, para criar uma nova superfície de escrita que substituísse a cara seda, e o pesado bambu, e, assim foi, o primeiro papel produzido com fibras vegetais.1 Após a sua invenção aquele fez um comunicado ao Imperador explicando

o processo de fabrico do papel, pelo qual foi muito louvado. Ts’ai Lun, foi também quem criou a primeira fábrica de papel da história na província de Honan, no Turquestão.2

Em 1900, Wang Yuanlu — sacerdote taoista — começou a restaurar uma das Caver-nas de Mil Budas (colónia de trogloditas de 366 d.C.), no deserto do Turquestão e perce-beu que por detrás de um antigo fresco nas paredes havia tijolo e não pedra. Mais tarde, descobriu-se que o tijolo tapava a entrada para uma sala cheia de rolos de manuscritos. Já em 1907, Aurel Stein [(1862 – 1943) investigador célebre na história da China] veio inves-tigar a sala secreta e descobriu mil cento e trinta maços, cada um deles com uma dúzia de rolos, ou mais. Estes documentos datavam de 406 d.C. a 997. Acredita-se que este esconderijo tivesse sido feito por volta de 1035 com o objetivo de impedir que o precioso conteúdo não fosse parar a mãos inimigas.

Entre estes rolos de papel estava um dos documentos mais valiosos da história da humanidade, o mais antigo livro impresso — uma versão chinesa do Sutra Diamante um conceituado texto budista. No final deste livro está uma declaração que indica que foi estampado em 11 de Maio de 868 por Wang Chieh. É este o primeiro impressor de livros e o primeiro livro impresso de que há notícia. Este documento e mais trezentos dos rolos encontrados naquela caverna estão agora entre os grandes tesouros do Museu Britânico.3

ERA DO PAPEL

SUTRA DIAMANTE [868]

1. ALANÍS, Luz María Ranguel. 2011. Del arte

de imprimir o la Biblia de 42 líneas: aportaciones de um estúdio crítico. Departamento de Diseño

e Imagen, Universidad de Barcelona — Facultad de Bellas Artes, p. 60.

2. IDEM, ibidem.

3. McMURTRIE, Douglas C. 1965. (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Tradução de Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 111 – 2.

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1. LIBRARY, British. ‘The Diamond Sutra’. [Consult. 10/07/2019]. https://www.bl.uk/collection-items/ the-diamond-sutra. ERA DO PAPEL FIG. 2 SUTRA DIAMANTE [868] DIMENSÕES

c. 5 m total de largura (7 secções) 1

TÉCNICA xilogravura TINTA

preta

ANÁLISE GRÁFICA

xilogravura e texto claramente separados

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MANUSCRITOS MEDIEVAIS

LIVRO DE KELLS [800 – 900]

Entretanto, na Europa, os manuscritos eram ainda copiados laboriosamente pelos escri-bas, que conservaram aquilo que possuímos da história e literatura da Antiguidade.

‘Como é grande a nossa dívida para com as gerações de escribas anónimos que co-piaram e recoco-piaram tantas vezes, durante séculos, para que pudéssemos ter a epo-peia imortal de Homero, os dramas dos grandes trágicos gregos, os diálogos de Platão, as obras científicas de célebres pensadores antigos como Aristóteles e Euclides, a poesia de Vergílio e Horácio — para só mencionar parte de um todo de valor incal-culável!’ (McMurtrie, 1965)1

O livro, tal como o conhecemos agora, foi uma invenção tardia na Europa. A transição do rolo para o códice generalizou-se só no séc. iv, quando os juristas do Baixo Império Romano perceberam que este formato era mais conveniente para os seus livros de leis. Este formato era também prático para os cristãos, que ‘transportavam de um lado para o outro, escondidos nas suas roupas, textos que eram proibidos pelas autoridades Romanas’. (Manguel, 1996)2 As folhas de pergaminho eram dobradas ao meio para formar duas

folhas, e os grupos de folhas eram ligados pelas dobras, como ainda se faz hoje em dia. Os textos primitivos eram simples, mas mudaram quando a riqueza e a procura de livros aumentaram.

A partir do séc. vi, na Irlanda, a arte do livro começou a ser aperfeiçoada e, um século depois, após a chegada de São Patrício à Ilha Verde, produziram-se, nos mosteiros irlande-ses, manuscritos de beleza inigualável, perfeitos no que toca à caligrafia e iluminura. Um dos mais belos exemplos é o famoso Livro de Kells.3 Há várias teorias acerca do local onde

foi escrito e iluminado e respetiva autoria. Alguns acreditam ter sido em Iona, Escócia, no final do séc. viii, obrigando-se aquele a ser evacuado para Kells devido a ataques Vikings. Mas também há os que acreditam que o livro foi já escrito em Kells, por monges e que, apesar dos vários ataques a esta população, se tenha mantido a salvo, até ser transferido para o Trinity College, em Dublin, em 1661.4 O livro é célebre pela sua beleza, decorações

abstratas, imagens de animais, plantas e humanos, que representam a vida e a mensagem de Jesus. Pensa-se que este livro tenha sido reproduzido por quatro escribas e por três artistas, e tinha como finalidade ser exposto e usado em celebrações especiais. Não era adequado ao uso diário visto que, ao contrário das imagens elaboradas e cuidadas, o texto continha passagens em falso ou repetidas.5

1. McMURTRIE, Douglas C. 1965. (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Traduzido por Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 99. 2. MANGEL, Alberto. 2014 (Toronto, 1996).

A History of Reading. eBook ed. New York:

Penguin Books, p. 62.

3. IDEM, ibidem, nota n.º 1, p. 95. 4. IDEM, ibidem, p. 98.

5. CAVE, Roderick, e Sara Ayad. 2014. A History

of the Book in 100 Books. London: British Library,

p. 60.

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1. DUBLIN, Trinity College. ‘The Book of Kells’. [Consult. 20/06/2019]. https://www.tcd.ie/library/ manuscripts/book-of-kells.php. MANUSCRITOS MEDIEVAIS FIG. 3 LIVRO DE KELLS [800 – 900] DIMENSÕES 330 × 255 mm (340 fólios) 1 TÉCNICA manuscrito e iluminado TINTA

preta (texto), azul, verde, amarela, laranja, lilás, vermelha (letras capitulares e decorações)

ANÁLISE GRÁFICA

letra capitular muito elaborada e decorada; letras decoradas coloridas no interior; texto alinhado à esquerda; anotações na margem exterior em certas páginas; margem inferior maior que margens restantes

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Na Idade Média, Portugal deparava-se com um clima de instabilidade devido a guerras, doenças e epidemias que amedrontavam os cristãos.1 O Apocalipse, último livro do Novo

Testamento, que simboliza o ‘fim do mundo pecador, da luta entre o bem e o mal que terminará com a vitória de Cristo’ (2010), vinha assegurar aos cristãos de que, no final, Cristo iria triunfar, devolvendo-lhes a fé. Porém, este texto precisava de ser interpretado e comentado de forma a a ser inteligível para o comum cristão. É aqui que surge o Comentário ao Apocalipse, pelo monge Beato de Liébana (m. 798), produzido nas Astúrias no séc. viii (cerca de 786). O Apocalipse do Lorvão, copiado em 1189, pelo monge Egeas (ou Egas), no Mosteiro do Lorvão, é uma cópia do original feita pelo monge Beato de Liébana.2

O Apocalipse do Lorvão é talvez uma das primeiras obras primas da arte portu-guesa que se encontra no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. Foi para lá levado pelo historiador Alexandre Herculano (1810 – 77), que em 1853 e 1854, andou pelos mosteiros de Portugal à procura de documentos que fossem importantes para a história do nosso país.3 Para além do texto gótico composto por um conjunto de citações,

este códice manuscrito contém sessenta e seis iluminuras em amarelo (cor dominante, pigmento venenoso) e vermelho. Nas suas páginas em pergaminho estão imagens de animais, humanos, elementos de decoração geométricos e abstratos, que representam cenas bíblicas e do quotidiano medieval.

Este livro foi considerado pela unesco (em 2015) um dos mais belos documentos da civilização medieval ocidental.4

MANUSCRITO PORTUGUÊS

APOCALIPSE DO LORVÃO [1189]

1. PINHEIRO, Paula Moura. 2015. ‘Visita Guiada — Mosteiro do Lorvão’. [Consult. 16/05/19]. http://ensina.rtp.pt/artigo/apocalipse-do-lorvao -raridade-do-seculo-xii/.

2. TOMBO, Arquivo Nacional da Torre do. 2010. ‘Apocalipse do Lorvão’. [Consult. 15/05/19]. https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4381091. 3. LUSA. 2015. ‘Livro do Apocalipse do Lorvão considerado memória do mundo da unesco’. [Consult. 15/05/19]. https://www.tsf.pt/cultura/ interior/livro-do-apocalipse-do-lorvao- considerado-memoria-do-mundo-da-unesco-4832097.html.

4. FERREIRA, Carolina, e Paulo José Oliveira. 2015. ‘Manuscritos medievais portugueses na Memória do Mundo: Apocalipse do Lorvão’. [Consult. 20/05/19]. http://ensina.rtp.pt/ artigo/manuscritos-medievais-portugueses-na-memoria-do-mundo/.

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1. TOMBO, Torre do. 2010. ‘Apocalipse do Lorvão’. [Consult. 16/05/2019]. https://digitarq.arquivos. pt/details?id=4381091. FIGS. 4, 5 MANUSCRITO PORTUGUÊS APOCALIPSE DO LORVÃO [1189] DIMENSÕES 345 × 245 mm (221 fólios) 1 TÉCNICA manuscrito e iluminado TINTA

preta (texto), vermelha (certas palavras, letras capitulares, iluminuras), amarela (iluminuras)

ANÁLISE GRÁFICA

letra capitular decorada e pintada a vermelho, assim como certas outras letras; ilustrações abundantes; texto justificado e em coluna dupla; numeração de página apenas nas páginas direitas; margens inferior e exterior maiores que margens superior e interior.

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TIPOS MÓVEIS

BÍBLIA DE 42 LINHAS [1456]

Não há qualquer prova que as invenções do Oriente tenham influenciado a criação de tipos móveis na Europa,1 que acabaram por surgir da necessidade de se reproduzir livros

rapida-mente e em abundância.

Tal invenção foi apenas possível porque todos os requisitos, a seguir descritos, eram já possíveis nesta altura: ‘1) uma substância abundante e fácil de obter como o papel para receber a impressão; 2) uma tinta que pudesse aplicar-se às superfícies metálicas e passasse ao papel sob pressão; 3) uma prensa para comprimir fortemente o metal tintado contra o papel; 4) todos os materiais e processos do trabalhador de metais que pudes-sem proporcionar uma liga própria para metal de tipo e que tornasse possível a gravação de tipos ou matrizes, a construção de moldes e um método conveniente de fundição.’ (McMurtrie, 1965) O que faltava era apenas alguém capaz de tornar realidade aquilo que se pretendia alcançar.2

A impressão com tipos móveis apareceu assim na Europa nos meados do séc. xv, com um processo criado por Johannes Gutenberg (c. 1400 – 68). Gutenberg nasceu por volta do ano 1400 3 na Mogúncia, Alemanha, e as suas experiências com tipografia começaram

trinta anos depois em Estrasburgo. Em 1450, de volta às suas origens, torna-se sócio de Johann Fust (1400 – 66), que financia o projeto da Bíblia; no entanto, após um processo judicial entre os dois, esta relação profissional termina (sociedade dura seis anos).4 Mais

tarde, Fust associa-se a Peter Schoeffer (1425 – 1503) e tornam-se os impressores mais ilustres da Mogúncia.

A Bíblia de 42 Linhas, foi um projeto apenas conseguido devido à combinação da mestria de técnica e produto; Gutenberg, com a invenção dos tipos móveis e Schoeffer com a fórmula gráfica.5 Esta obra é considerada o primeiro livro impresso da Europa. Foi

terminada na Mogúncia em 1456,6 e estima-se que foram produzidas cento e oitenta cópias,

das quais apenas cerca de cinquenta ainda existem.7 Visualmente, este livro é semelhante

aos manuscritos da altura e, um pormenor interessante é a 1.ª letra de cada frase ser co-lorida a vermelho de forma a guiar o leitor ao longo do texto. ‘Uma nova idade de infor-mação começava na Europa, movida pelo poder da palavra impressa’ (Fry, 2008)8 e assim

se dá a transição entre o manuscrito e o livro impresso.

Em 1457, Fust e Schoeffer terminam a impressão do famoso Saltério, usando três co-res 9 e marcando esta data como uma das mais importantes da história da tipografia, já

que foi este o primeiro livro impresso datado e assinado da Europa.

Com o aparecimento dos tipos móveis e o aumento da demanda, os encadernadores que revestiam manuscritos passaram também a revestir incunábulos. A partir de 1480, as oficinas de encadernação de convento perdem importância enquanto que as priva-das ganham e tornam-se numerosas. Entretanto, os encadernadores, de forma a corres-ponder às necessidades, modificam a sua técnica para poderem trabalhar mais depressa e começam a produzir encadernações de menor qualidade, mas que satisfazem os clientes mais vastos e menos ricos.10 ‘Depois de Gutenberg, pela primeira vez na História,

cente-nas de leitores possuíam cópias idênticas do mesmo livro, e (até que o leitor desse a um volume uma marca privada e uma história pessoal) um livro lido por alguém em Madrid era o mesmo lido por alguém em Montpellier’(Manguel, 2014).11

1. McMURTRIE, Douglas C. 1965. (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Tradução de Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 124. 2. IDEM, ibidem, p. 150.

3. ALANÍS, Luz María Ranguel. 2011. Del arte

de imprimir o la Biblia de 42 líneas: aportaciones de um estúdio crítico. Departamento de Diseño

e Imagen, Universidad de Barcelona — Facultad de Bellas Artes, p. 30.

4. IDEM, ibidem, p. 68. 5. IDEM, ibidem, pp. xxi – ii. 6. IDEM, ibidem, p. 72.

7. CAVE, Roderick, e Sara Ayad. 2014. A History

of the Book in 100 Books. London: British Library,

p. 98.

8. Tradução da autora. Original: ‘a new information age was dawning in Europe, fueled by the power of the printed word’. McGRADY, Patrick. 2018. ‘The Machine That Made Us’. min. 4:44 – 4:51. https://www.youtube.com/ watch?v=uQ88yC35NjI.

9. IDEM, ibidem, nota n.º 3, p 92.

10. FEBVRE, Lucien, e Henri-Jean Martin. 1958.

O Aparecimento do Livro. Tradução de Henrique

Tavares e Castro. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 145 – 7.

11. Tradução da autora. Original: ‘After Gutenberg, for the first time in history, hundreds of readers possessed identical copies of the same book, and (until a reader gave a volume private markings and a personal history) the book read by someone in Madrid was the same book read by someone in Montpellier. ‘

MANGEL, Alberto. 2014 (1.ª ed.: 1996).

A History of Reading. eBook ed. New York:

Penguin Books, p. 148.

(22)

1. ENCYCLOPEDIA, New World. ‘Gutenberg Bible’. [Consult. 21/06/2017]. https://www.newworld encyclopedia.org/entry/Gutenberg_Bible. TIPOS MÓVEIS FIG. 6 DIMENSÕES 445 × 307 mm (221 fólios) 1 TÉCNICA

impressão, caligrafia e iluminura TINTA

preta (texto), vermelha (certas palavras, letras capitulares, decorações), azul (letras capitulares, decorações), verde e amarelo (decorações)

ANÁLISE GRÁFICA

letra capitular decorada e elaborada; texto justificado e em coluna dupla; páginas não numeradas; margens inferiores maiores, margens exteriores, interiores e superiores semelhantes.

43 BÍBLIA DE 42 LINHAS [1456]

(23)

A impressão com xilogravura (método de gravura que utiliza madeira como matriz) já se fazia na Europa no séc. xiv e a maioria das obras produzidas nesta altura, e que se conservaram até aos dias de hoje e das quais temos conhecimento, têm um carácter reli-gioso. Isto deve-se, sobretudo, ao facto deste tipo de obras serem usadas e guardadas por adultos, ao contrário, por exemplo, dos livros escolares usados por crianças diariamente, que não chegaram aos nossos dias.1 Os primeiros livros xilogravados da Europa

produ-ziram-se na Holanda e na Alemanha desde 1430, grande parte em latim e com ilustrações feitas à mão.2 Estes primeiros livros tinham como objetivo ensinar as lições da Bíblia a

quem não sabia ler, contudo, é possível que a xilogravura tenha sido já utilizada anterior-mente em cartas de jogo.3

A impressão de livros em Inglaterra começou em 1476, lançada por William Caxton (1422– 91), o primeiro impressor inglês.4 Trabalhou como tradutor antes de iniciar o

seu trabalho como impressor e fez aprendizagens relativas à impressão em Colónia, na Alemanha. Em 1473, abriu loja como impressor em Bruges, Bélgica, e imprimiu o primeiro livro em inglês Coleções da História de Tróia, mas três anos depois mudou o seu negócio para Westminster e foi aqui que imprimiu a sua célebre edição dos Contos de Cantuária (1476), de Geoffrey Chaucer (c. 1343 – 1400).5 Vamos focar-nos, todavia,

na versão ilustrada xilogravada de 1483. Contos de Cantuária é um longo poema escrito no final do séc. xiv por Chaucer que retrata a viagem de um grupo de peregrinos desde Londres até à Catedral de Cantuária. Esta segunda versão foi impressa com tipos mais pequenos, contendo assim menos páginas e custando menos a produzir. Para além disso, era também uma versão mais apelativa, pois foram acrescentadas vinte e seis xilogravuras, cada uma no início de um novo conto; todas elas são imagens de peregrinos a cavalo, à exceção de uma, que os retrata sentados à mesa, para uma refeição.6

Wynkyn de Worde (1455 – 1534) foi o sucessor de Caxton e tomou conta do seu negócio em Westminster. Wynkyn produzia livros que, na sua visão, se poderiam tornar verdadei-ros best-sellers, como romances, livverdadei-ros de poesia, de medicina, ou guias para uma boa vida. Por outro lado, imprimia também livros dedicados a outro tipo de clientes e, em 1511, imprimiu, em Londres, o primeiro livro inglês de anedotas, Demaundes Joyous. Wynkyn chegou também a fazer a sua edição de Os Contos de Cantuária.7 Usava papel do moinho

de John Tate [(1448 – 1507), o primeiro produtor de papel da Inglaterra] e foi o primeiro impressor inglês a usar o itálico, e também, em 1495, o primeiro a usar tipos musicais.8

XILOGRAVURA

OS CONTOS DE CANTUÁRIA [1483]

1. McMURTRIE, Douglas C. 1965. (Nova Iorque, 1937).

O Livro: Impressão e Fabrico. Tradução de Maria

Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 143.

2. ALANÍS, Luz María Ranguel. 2011. Del arte

de imprimir o la Biblia de 42 líneas: aportaciones de um estúdio crítico. Departamento de Diseño

e Imagen, Universidad de Barcelona — Facultad de Bellas Artes, p. 107.

3. IDEM, ibidem, nota n.º 1, p. 137. 4. ELIOT, Simon, and Jonathan Rose. 2007.

A Companion to the History of the Book.

Blackwell Publishing Ltd, p. 213.

5. CAVE, Roderick, and Sara Ayad. 2014. A History

of the Book in 100 Books. London: British Library,

p. 102.

6. LIBRARY, British. ‘William Caxton’s illustrated second edition of The Canterbury Tales’. [Consult. 06/05/2019]. https://www.bl.uk/collection-items/ william-caxton-and-canterbury-tales.

7. IDEM, ibidem, nota n.º 3, p. 216. 8. IDEM, ibidem, nota n.º 4, p. 104.

(24)

FIGS. 7, 8 XILOGRAVURA OS CONTOS DE CANTUÁRIA [1483] DIMENSÕES ? TÉCNICA impressão e xilogravura TINTA

preta (texto e xilogravuras), vermelha (letras capitulares)

ANÁLISE GRÁFICA

texto alinhado à esquerda; letras capitulares elaboradas e pintadas a vermelho; xilogravuras entre o texto; capítulo sinalizado em cima e a meio da grelha de texto; margens inferior e exterior maiores que margens superior e interior.

(25)

No séc. xv, Veneza era o principal centro do comércio e indústria e tornou-se também nos finais do mesmo século um importante centro tipográfico.1 Entre outros, é importante

destacar o trabalho do italiano Aldo Manuzio (1449 – 1515) como relevante na história da tipografia.

Manuzio dedicava-se à tipografia com a finalidade de produzir livros de obras que considerava as melhores, mas, de forma a serem acessíveis ao maior número de leitores. ‘Com o crescimento das bibliotecas privadas, os leitores começaram a considerar volu-mes grandes não apenas difíceis de manusear e incómodos de transportar, mas também inconvenientes de armazenar.’ (Manguel, 1996)2 Manuzio criou assim métodos que

solu-cionassem estes problemas e ‘o êxito que alcançou com eles exalçaram-no como o primei-ro grande editor que fomentou a pprimei-rocura de livprimei-ros de formatos completamente novos’. (Mc Murtrie, 1965) Para que um comprador de poucos recursos pudesse pagar as suas obras, Aldo teve de reduzir o custo da produção, diminuindo o tamanho e volume dos li-vros que editava. Eram assim volumes impressos em pequenos caracteres e de tamanho manuseável. Alguns destes exemplares podemos agora encontrá-los nas grandes biblio-tecas.3 Este novo formato de livro rapidamente se tornou popular por toda a Europa.4

Outro caso célebre na constituição de uma oficina tipográfica deu-se em Antuérpia, Bélgica, por Christophe Plantin (c. 1514 – 89). Plantin nasceu em Toraine e antes de se tor-nar um grande tipógrafo trabalhou num estabelecimento onde vendia livros e estampas, mas, nos tempos livres encadernava livros. A certa altura, um homem, que o tomou por outra pessoa, aleijou-o no braço, deixando-o incapacitado e incapaz de continuar a usar instrumentos de dourador. Mudou então de rumo profissional e começou, aos poucos, a publicar livros em 1555. Depois, em 1562, foi obrigado a deixar Antuérpia por alguns meses, devido a uma acusação de impressão de um livro herético, que tinha sido impresso na sua oficina, porém, sem o seu conhecimento. Permaneceu em Paris durante um ano e alguns meses e, quando pôde finalmente regressar a Antuérpia, o seu negócio estava arruinado e a sua casa vazia de mobília. Mas, Plantin não se deu como vencido e com alguma ajuda, restabeleceu a sua tipografia, criou uma sociedade editora com alguns burgueses ricos da cidade e associou-se ao Estado e à Igreja.5 Apesar de tantas

dificul-dades, Plantin manteve sempre a força de vontade e transformou a sua oficina tipográfica numa das maiores de sempre.

A obra que celebrizou Plantin, e o seu maior projeto, foi a Bíblia Poliglota termi-nada em 1573. Esta obra foi iniciada em 1568 e comissiotermi-nada pelo rei Filipe II de Espanha (1527– 98), que lhe pediu treze cópias em velino para uso pessoal. As línguas usadas nesta Bíblia foram Latim, Hebreu, Caldeu e Siríaco.6 Mas, Plantin teve também algum azar

rela-tivamente a este livro, visto que o rei não queria autorizar a sua publicação sem que o papa concordasse, facto consumado apenas quando foi eleito um novo papa. Porém, o livro permanecia envolto em suspeitas e a Inquisição teve ainda de fazer um exame ao texto que durou anos e só em 1580 o livro pôde finalmente circular.7

OFICINAS TIPOGRÁFICAS

BÍBLIA POLIGLOTA DE PLANTIN [1573]

1. McMURTRIE, Douglas C. 1965. (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Tradução de Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 219. 2. Tradução da autora. Original: ‘As private libraries grew, readers began to find large volumes not only difficult to handle and uncomfortable to carry, but inconvenient to store.’

MANGUEL, Alberto. 2014 (1.ª ed.: 1996).

A History of Reading. eBook ed. New York:

Penguin Books, p. 147.

3. IDEM, ibidem, nota n.º 1, pp. 226 – 7. 4. ELIOT, Simon, and Jonathan Rose. 2007.

A Companion to the History of the Book.

Blackwell Publishing Ltd, p. 223. 5. IDEM, ibidem, nota n.º 1, p. 382. 6. CHRISTIE’S. 2018. ‘The Finest Bible in All Christendom’. [Consult. 09/05/2019]. https://www. christies.com/features/The-finest-Bible

-in-all-Christendom-9278-3.aspx. 7. IDEM, ibidem, nota n.º 1, p. 385.

(26)

OFICINAS TIPOGRÁFICAS

FIG. 9

BÍBLIA POLIGLOTA DE PLANTIN [1573]

DIMENSÕES ? TÉCNICA impressão TINTA preta ANÁLISE GRÁFICA

letra capitular elaborada; texto justificado e em coluna dupla; colunas separadas por linha; texto e notas separados por linhas; margens inferior e exterior maiores que margens superior e interior; margem interior mínima.

(27)

Quando William Morris (1834 – 96) se começou a dedicar à impressão do livro, em 1888, os padrões de beleza da imprensa inglesa não eram elevados e a tipografia era descuidada e sem encanto. O percurso no mundo do livro para Morris começou quando este estava a preparar uma exposição e se apercebeu que todos os livros, que tinha escrito e que tinham sido impressos, não se relacionavam visualmente com a exposição e não eram dignos de ser expostos. Acreditava que esta degradação dos padrões de beleza se devia ao uso dos processos mecânicos para uma impressão mais rápida e vasta. Morris tomou então medidas pelas próprias mãos e participou numa conferência acerca da arte de imprimir.1

Com a ajuda de Emery Walker (1851 – 1933), Morris começou a experimentar a cria-ção de tipos que fizessem justiça às suas obras. Arranjou uma casa em Hammersmith, que pudesse usar para a impressão de livros perto da sua residência e, em 1891, criou a Imprensa Kelmscott.2 A História da Planície Brilhante, um romance de fantasia escrito

pelo próprio, foi o primeiro livro editado pela tipografia e Morris tinha planeado impri-mir apenas vinte exemplares para presentear aos seus amigos mas, quando saiu um anún-cio sobre o seu trabalho, houve muitos pedidos e acabaram por ser impressos cerca de duzentos exemplares.3 Este livro é um perfeito exemplar do estilo que tanto caracteriza

Morris, extremamente rico em ornamentos e decorações. História da Planície Brilhante foi o único livro impresso duas vezes pela Kelmscott, já que, em 1894 o livro teve uma 2.ª edição com um formato maior, um tipo de letra diferente e novas ilustrações pelo artista Walter Crane (1845 – 1915).4

Em 1895 Morris já se tinha mudado pela segunda vez para uma tipografia maior e impresso vários outros livros. Morris dedicou-se a elevar os padrões de beleza na arte de imprimir e procurou melhorar os materiais e processos de produção, mas teve várias críti-cas acerca da legibilidade das suas obras. Diziam que os livros impressos pela Kelmscott eram ricos em decoração e beleza, mas os caracteres não eram legíveis, nem as obras de formato manuseável. Ainda assim, os livros de Morris marcam o renascimento da arte tipográfica e da arte de imprimir, sejam eles de fácil ou difícil leitura.

Desde a sua morte, várias imprensas particulares têm usado as suas ideias, pondo em prática processos de fabrico mais manual e vários prelos particulares começaram tam-bém a aparecer com o entusiasmo crescente pela manufatura de livros. Um dos mais im-portantes discípulos de Morris foi Charles Ricketts (1866 – 1931), com a sua Imprensa Vale. Ricketts desenhava tipos, dava grande uso a ornamentos e decorava, maioritariamente, sob a influência de Morris. Uma das grandes publicações desta tipografia foi a Trabalhos de Shakespeare (1900 – 03). Em 1904, Ricketts terminou a sua atividade, atirando ao rio Tamisa as punções e as matrizes e derretendo as letras, com medo que fossem cair em mãos inaptas.5

PADRÕES DE BELEZA

HISTÓRIA DA PLANÍCIE BRILHANTE [1891]

1. McMURTRIE, Douglas C. 1965. (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Tradução de Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 473 – 6. 2. ELIOT, Simon, e Jonathan Rose. 2007.

A Companion to the History of the Book.

Blackwell Publishing Ltd, p. 346. 3. IDEM, ibidem, nota n.º 1, p. 477. 4. WHITE, Andrew. 2018. ‘The Story of the Glittering Plain’. [Consult. 13/05/2019]. https://rosenbach.org/blog/the-story-of-the-glittering-plain/.

5. IDEM, ibidem, nota n.º 1, p. 485.

(28)

1. GALLERY, William Morris. ‘The Story of the Glittering Plain (1891)’. [Consult. 22/06/2019]. https://www.wmgallery.org.uk/collection/ artists-64/kelmscott-press-1891-1898/initial/ k/page/3/object/the-story-of-the-glittering-plain-k8-1891. PADRÕES DE BELEZA FIGS. 10, 11

HISTÓRIA DA PLANÍCIE BRILHANTE [1891]

DIMENSÕES 207 × 146 mm 1

TÉCNICA impressão TINTA

preta (texto, letras capitulares, decorações), vermelha (títulos)

ANÁLISE GRÁFICA

texto justificado; letra capitular no início de cada capítulo elaborada e decorada; nome de capítulo a letras maiúsculas; parágrafos assinalados por símbolo; margens inferior e exterior maiores que margens superior e interior.

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REVOLUÇÃO TIPOGRÁFICA

FOLHAS DE RELVA [1930]

A imprensa de William Morris não era apenas influente na Europa, mas também nos eua e várias imprensas seguiam os seus ideais. Por volta dos anos 20, houve um crescimento no que diz respeito à impressão mais precisa e a certa altura foi comissionada à imprensa Grabhorn Press, de São Francisco, uma edição do clássico americano Folhas de Relva, de Walt Whitman (1819 – 92).1 Esta imprensa era formada pelos irmãos Edwin (1889 – 1968)

e Robert Grabhorn (1885 – 1965). Estes eram considerados aventureiros e as suas obras não seguiam apenas um género, visto que ali foram editados livros com a maior variedade de formas e estilos, que se adequavam ao conteúdo do livro. Durante esta altura as edi-ções limitadas tinham bastante sucesso; a produção terminou em 1930, e foram impres-sas quatrocentas cópias. A fonte usada para esta obra foi a Goudy Newstyle, desenhada pelo americano Frederic W. Goudy (1865 – 1947).2 Inicialmente, os irmãos Grabhorn

planearam usar apenas texto, sem ilustração, decorando apenas algumas iniciais, mas ficaram desiludidos com o resultado final e então contrataram o artista Valenti Angelo (1897 – 1982) para produzir ilustrações simples a preto e branco. O tipo de letra de Goudy e as ilustrações xilogravadas de Valenti Angelo foram a combinação perfeita para esta edição do épico de Whitman, que é reconhecida como a melhor publicação da tipografia Grabhorn Press.3

Outra imprensa particular de grande importância foi a Ashendene de C.H. St. John Hornby (1867 – 1946), que começou por imprimir livros como forma de distração na casa de verão do pai, em Ashendene. A sua primeira publicação foi em 1895, O Jornal de Joseph Hornby e, tal como a primeira publicação de Kelmscott, destinava-se apenas a amigos, sendo apenas impressos trinta e três exemplares. Em 1901, já tinha criado um novo tipo, Subiaco, que usou na impressão de O Inferno de Dante, em 1902.4

Podemos também referenciar outra tipografia. Em 1923, foi fundada em Londres a Tipografia Nonesuch, por Francis Meynell (1891 – 1975) e os seus sócios, que queriam aperfeiçoar a arte da impressão com dispositivos mecânicos, satisfazendo a demanda em termos de quantidade, mas também qualidade, o que falhava nesta altura. Meynell tinha como objetivo criar bons livros, sem a pressão de adotar apenas um estilo, assim, impri-miam-se ali obras de grande variedade de formatos, estilos tipográficos e assuntos. Queria que fossem livros produzidos à ‘máquina, mas bem feitos, atraentes e até excelentemente impressos; muita gente os compra não como peças de museu ou objetos de colecionador, mas como livros para se usarem…’. (McMurtrie, 1965) Talvez a maior obra prima desta Imprensa tenha sido a edição das obras de Shakespeare, publicada ente 1929 e 1933.5

Por esta altura ocorriam grandes alterações nas áreas da pintura, escultura, arquitetura, marcando uma revolução de liberdade artística e o mesmo aconteceu com a tipografia. No séc. xx o fabrico do livro seguia ideais de engenheiros, e a forma deveria corresponder à função. Aqui desapareceram os ornamentos e decorações e reduziram-se os tipos à sua forma mais simplificada, correspondendo à finalidade de serem de fácil leitura. Na Alemanha pós-guerra (1914 – 18) faziam-se ‘esforços tenazes para romper os laços da tra-dição tipográfica’ (McMurtie, 1965) e apareceram imensos novos criativos, a célebre Bau-haus e o tipo Futura.6

1. CAVE, Roderick, e Sara Ayad. 2014. A History

of the Book in 100 Books. London: British Library,

p. 126. 2. IDEM, ibidem. 3. IDEM, ibidem.

4. McMURTRIE, Douglas C. 1965. (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Tradução de Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 486. 5. IDEM, ibidem, p. 518.

6. IDEM, ibidem, pp. 522 – 5 (citação p. 523).

(30)

1. BONHAMS. ‘Lote 50 — Grabhorn Press’. [Consult. 22/06/2019]. https://www.bonhams. com/auctions/21845/lot/50/?category=list. FIG. 12 REVOLUÇÃO TIPOGRÁFICA FOLHAS DE RELVA [1930] DIMENSÕES 365 × 247 mm 1 TÉCNICA impressão TINTA

preta (texto, xilogravuras), vermelha (títulos) ANÁLISE GRÁFICA

títulos em maiúsculas; xilogravuras entre o texto; texto alinhado à esquerda; numeração de página na margem interior; margem inferior enorme, margens exterior e superior semelhantes, margem interior mínima.

(31)

TECER COMO METÁFORA [2006]

Com a invenção da Internet e a posterior criação de novos métodos de leitura, há quem acredite que o fim do livro tradicional está a chegar. Mas há quem seja dono de outra opinião. Umberto Eco (1923 – 2016) declara que ‘para ler, é necessário um suporte. Esse suporte não pode ser exclusivamente o computador. Se passares duas horas no computa-dor a ler um romance, os teus olhos irão tornar-se bolas de ténis (...). Além disso, o computador depende da presença da eletricidade e não pode ser lido numa banheira, nem mesmo deitado de lado na cama (...) o livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não se pode fazer melhor.’ (Eco, 2009)1 Grande parte dos

suportes criados, como os discos, CD’s, disquetes, etc ...(suportes muito mais recentes que o livro) já caíram em desuso, e estão agora esquecidos em caixas nas nossas gara-gens. As invenções atuais estarão apenas em uso até à próxima inovação tecnológica, e o ciclo repete-se. Mas o livro continua.2 O livro ‘capaz de guardar memória e experiência,

é um instrumento verdadeiramente interativo, que nos permite começar e terminar um texto onde quisermos, anotar nas margens,...’. (Manguel, 1996)3 Enquanto que o formato

e-book tem vantagens, como a sua forma compacta de armazenar informação, a grande desvantagem é o facto de apenas se limitar a conter texto.4 No entanto, ler, apresenta

muitas mais variáveis, o papel, o toque, o tamanho e o peso do livro, o cheiro, a ação de virar as páginas, ... , impossível de transferir para um aparelho tecnológico. E é aqui que se situa a designer do Tecer como Metáfora, Irma Boom (n. 1960).

Irma Boom é uma designer gráfica holandesa conhecida como ‘rainha dos livros’, já que, durante a sua carreira, o seu foco principal tem sido o design de livros. Já teve clientes (ou comissários, como a Irma prefere chamar-lhes), como Chanel, Ferrari, Rijksmuseum, e cinquenta dos seus livros fazem parte da Coleção do MoMA, em Nova Iorque. Em cada novo projeto ‘Boom procura um ponto de partida editorial muito específico para traduzir para uma forma excecional. E com cada nova publicação ela parece reinventar o livro.’ 5

Tecer como Metáfora, acerca do trabalho da designer de têxteis, Sheila Hicks, foi publi-cado em 2006 e esteve envolto em imensas dificuldades para Irma já que o editor do livro de Londres e o comissário de Nova Iorque não conseguiam perceber a sua ideia para o livro. Irma pediu ‘confiem em mim e deem-me liberdade para criar este livro’. Sheila não queria comprometer o seu conceito e estavam em desacordo acerca da capa do livro. O editor insistia que o trabalho de Sheila deveria estar na capa, mas Irma sabia que se colocasse uma fotografia de um têxtil na capa, apenas pessoas interessadas em design de têxteis (poucas) se iriam interessar pelo livro. Após quatro anos, o livro finalmente foi publicado, tal como Irma Boom queria e foi um enorme sucesso, (já foi reimpresso quatro vezes) e tornou-se o manifesto para o livro da designer.6 Entre outros interessantes pormenores, o

livro apresenta um texto de Arthur C. Danto (1924 – 2013) que se inicia com um tamanho de letra grande e, a cada virar de página, o tamanho diminui até atingir o tamanho nor-mal do texto para o resto do livro; as bordas das páginas do livro são desiguais e apre-sentam uma textura que remete também para o trabalho com tecido de Sheila.

Não sabemos qual será o futuro do livro, mas entendemos que certos livros nunca poderão ser transferidos ou traduzidos para um formato e-book. Irma Boom respondeu da seguinte forma a uma pergunta acerca do fim do Livro: ‘...o livro impresso não precisa ATUALIDADE E FUTURO

1. ECO, Umberto; Claude Carrière; Jean-Philippe de Tonnac. 2017 (Paris, 2009). Não

Contem com o Fim dos Livros. Tradução de Joana

Chaves. 1.ª ed. Lisboa: Gradiva Publicações, p. 16. 2.IDEM, ibidem, pp. 22 – 32.

3. MANGUEL, Alberto. 2014 (Toronto, 1996).

A History of Reading. eBook ed. New York:

Penguin Books, p. 14.

4. CAVE, Roderick, e Sara Ayad. 2014. A History

of the Book in 100 Books. London: British Library,

p. 245.

5. MILTENBURG, Anne. 2014. ‘Reputations: Irma Boom’. Eye Magazine 88. [Consult. 18/06/2019]. http://www.eyemagazine.com/feature/article/ reputations-irma-boom.

6. CHANNEL, Louisiana. 2014. ‘Irma Boom — My Manifesto for a Book.’ Entrevista por Christian Lund. [Consult. 18/06/2019]. https://channel.louisiana.dk/video/irma -boom-my-manifesto-book.

7. Tradução da autora. Original ‘...the printed book does not need any defender. It has survived 600 years or so. The way information spreads depends on the inventions of that time; paintings have survived, photos, and the book...’

IDEM, ibidem, nota n.º 4.

(32)

1. AMAZON. ‘Sheila Hicks: Weaving as Metaphor’. [Consult. 22/06/2019]. https://www.amazon.com/ Sheila-Hicks-Metaphor-Graduate-Decorative/ dp/0300116853. ATUALIDADE E FUTURO FIG. 13

TECER COMO METÁFORA [2006]

DIMENSÕES

c. 210 × 150 mm 1

TÉCNICA impressão TINTA

preta (texto), cores (fotografias) ANÁLISE GRÁFICA

texto alinhado à esquerda; título enorme e sem entrelinha; imagens separadas de texto, página ou páginas dedicadas apenas a imagem; texto começa com corpo grande e vai diminuindo em cada página até atingir o corpo de texto usado no resto do livro; numeração de página alinhada à esquerda, mas mais interior que a grelha do texto.

(33)

2.

OBRAS DE ESTUDO

Este capítulo dedica-se ao estudo e análise de obras, que não fazendo sentido serem coloca-das no Estado da Arte de forma a representar uma fase da História do Livro, são interessantes e curiosas. Portanto, merecem ser apreciadas, e contribuem, cada uma de forma diferente para este estudo acerca do Livro. Sendo assim, cada uma representa uma categoria de livro: livros misteriosos, livros únicos, livros proibidos, livros destruídos e livros curiosos, e o foco está no livro em si, no autor, e nas circunstâncias envolventes da obra.

Quanto aos critérios de escolha das obras, seguiu-se um processo semelhante ao do Estado da Arte. Assim, os critérios foram os seguintes: representação de determinado tipo de livro; facilidade de recolha de informação acerca do livro, autor e circunstâncias; facili-dade de recolha de imagens, fotografias e/ou digitalizações do livro; diversidade no género/ /tipo/assunto do livro; grau de popularidade do livro (livros célebres, livros menos conhecidos); história curiosa e interessante acerca do livro/ /autor/circunstâncias em que foi criado; e, pelo menos uma obra portuguesa.

(34)

LIVROS MISTERIOSOS

1. BLUMBERG, Naomi. 2016. ‘Voynich

Manuscript’. Encyclopaedia Britannica. [Consult. 30/05/2019]. https://www.britannica.com/topic/ Voynich-manuscript.

2. THOMAS, Scarlett. 2016. ‘The Voynich manuscript: the unbreakable encryption?’. The Guardian. [Consult. 04/06/2019]. https:// www.theguardian.com/books/booksblog/2016/ aug/27/voynich-manuscript-unbreakable-encryption.

3. UNIVERSE, Fractal. 2017. ‘Terence McKenna — The Voynich Manuscript (Lecture)’. [Consult. 04/06/2019]. min. 1:03 –1:29. https://www. youtube.com/watch?v=WTBOaaeTxm8. 4. UNIVERSITY, Yale. ‘Voynich Manuscript’. Beinecke Rare Book and Manuscript Library. [Consult. 07/06/2019]. https://beinecke.library. yale.edu/collections/highlights/voynich-manuscript.

5. BAX, Stephen. 2017. ‘The world’s most mysterious book — Stephen Bax.’ [Consult. 07/06/2019]. https://ed.ted.com/lessons/the-world-s-most-mysterious-book-stephen-bax. 6. IDEM, ibidem, nota n.º 1.

O MANUSCRITO DE VOYNICH [xv – xvi]

O Manuscrito de Voynich é um códice escrito em pergaminho entre o séc. xv e xvi,1

deco-rado com imensas gravuras curiosas que acompanham um texto, até agora indecifrável, e que ilustram ‘coisas’ que parecem familiares, mas, na realidade, não existem,2 mantendo,

durante décadas, a reputação do manuscrito mais misterioso de sempre.

O livro é ‘escrito em escrita cursiva, cuidadosamente ilustrado com bizarros desenhos lineares pintados com aguarelas. Desenhos de plantas, desenhos de pequenas mulheres nuas a tomar banho num estranho sistema de canalização, que foi identificado de forma variada, como representando vários órgãos do corpo humano ou até fontes primitivas.’ (McKenna)3 E não só. O manuscrito divide-se em seis secções: botânica, astronomia,

bio-logia, cosmobio-logia, farmacêutica e culinária.

Acredita-se, até ao momento, que aquele foi descoberto por Wilfrid Michael Voynich (1865 – 1930), num convento em 1912. Foi escrito na Europa e chegou a pertencer ao impera-dor Rudolf II (1562 – 1612), da Alemanha, que o comprou a John Dee (1572 – 1608), um místico que praticava alquimia e divinação, acreditando ser um trabalho de Roger Bacon (1214 – 92), filósofo inglês. Desde 1969 está guardado na Beinecke Rare Book and Manus-cript Library, na Universidade de Yale.4

Todo ele é escrito num alfabeto que à primeira vista parece familiar e que apresenta todas as características para que seja real, mas nunca foi visto antes. Existem várias teorias acerca deste texto: uma é que foi escrito em cifra, e, portanto, foi desenhado com o propósito de esconder o seu verdadeiro significado; outra diz que não passa de uma farsa, sem qualquer sentido, orquestrada por um charlatão na tentativa de enriquecer. A última, e talvez a mais plausível, dadas as características dos caracteres e da forma como se organizam, é que o manuscrito tenha sido escrito numa língua real, mas numa escrita desconhecida, ou seja, talvez se trate de um alfabeto criado para representar uma língua que era, na altura, apenas falada, e não ainda escrita.

Acerca do significado do livro em si e do seu autor, há também imensas teorias: há quem diga que se trata de uma espécie de enciclopédia acerca da cultura do povo que o escreveu; há quem acredite que foi escrito por um grupo de bruxas italianas ou que foi trazido para a Terra por marcianos; há também a teoria de que foi escrito por Roger Bacon, por John Dee, ou até pelo próprio Voynich.5

Criptologistas, historiadores, estudiosos de química, matemática, filosofia medieval, 67

(35)

1. SHAILOR, Barbara A. ‘Beinecke MS 408 – Cipher Manuscript’. Yale University. https://pre1600ms. beinecke.library.yale.edu/docs/pre1600.ms408. HTM.

LIVROS MISTERIOSOS

FIGS. 14, 15

O MANUSCRITO DE VOYNICH [xv – xvi]

DIMENSÕES 225 × 160 mm 1

TÉCNICA

manuscrito e ilustrado TINTA

preta (texto), azul, verde, vermelha, amarela (ilustrações)

ANÁLISE GRÁFICA

texto e ilustrações integrados; margens variam de página para página; páginas sem numeração; ilustrações com legendas.

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LIVROS ÚNICOS

1. MULLAN, John. 2018. ‘The Life and Opinions of Laurence Sterne: the first unapologetic literary celebrity’. The Guardian. [Consult. 11/06/2019]. https://www.theguardian.com/books/booksblog/ 2018/mar/18/the-life-and-opinions-of-laurence-sterne-the-first-unapologetic-literary-celebrity. 2. GOODREADS. ‘The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gentleman’. GoodReads. [Consult. 11/06/2019]. https://www.goodreads. com/book/show/76527.The_Life_and_Opinions_

of_Tristram_Shandy_Gentleman.

3. McCRUM, Robert. 2013. ‘The 100 best novels: No 6: The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gentleman by Laurence Sterne (1759)’. The Guardian. [Consult. 11/06/2019]. https://www. theguardian.com/books/2013/oct/28/100-best-novels-tristram-shandy-sterne.

4. IDEM, ibidem, nota n.º 1.

5. IDEM. ‘The ‘stuff’ of Tristram Shandy’. British Library. [Consult. 11/06/2019]. https://www.bl.uk/ restoration-18th-century-literature/articles/the-stuff-of-tristram-shandy#.

6. LIBRARY, British. ‘Laurence Sterne’. British Library. [Consult. 11/06/2019]. https://www.bl.uk/ people/laurence-sterne.

7. Cave, Roderick, and Sara Ayad. 2014. A History of

the Book in 100 Books. London: The British Library,

pp. 166 – 7.

8. IMDb. 2005. ‘A Cock and Bull Story (2005)’. IMDb. [Consult. 11/06/2019]. https://www.imdb. com/title/tt0423409/.

9. DICTIONARY, Cambridge. ‘cock-and-bull story’. Cambridge Dictionary. [Consult. 11/06/2019]. https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/

A VIDA E OPINIÕES DE TRISTRAM SHANDY, CAVALHEIRO [1759 – 67]

Em 1759 Laurence Sterne (1713 – 68) publica os dois primeiros volumes do seu romance mais célebre A Vida e Opiniões de Tristram Shandy, Cavalheiro. Foi com esta obra prima original que Sterne se tornou uma das primeiras celebridades literárias, ainda hoje reco-nhecido e influente pelo seu estilo narrativo e visual.1 ‘(Tristram Shandy) … é um dos

mais inventivos, idiossincráticos, divertidos e deliciosamente conversativos romances de sempre.’ (Mullan, 2018) Este estranho romance, de texto irregular e singulares elementos visuais, celebra as possibilidades infinitas da arte da ficção.2

Sterne nasceu na Irlanda em 1713 e foi, durante grande parte da sua vida, membro da igreja perto de Iorque, Inglaterra. Inicialmente, Tristram Shandy foi rejeitado por um editor londrino, mas assim que foi publicado independentemente, em 1759, esgotou num instante. Para além dos primeiros dois volumes, foram ainda publicados mais sete, ao longo de sete anos.3 Tristram é o narrador desta história e começa, desde o momento da

sua conceção, a tentar contar a história da sua vida, mas vê-se, constantemente, inter-rompido pelo desejo de descrever as muitas peculiaridades da sua família.

Os truques visuais são talvez a maior característica deste romance e auxiliam na progressão da narrativa da história.4 Cada página é uma experiência: desde traços que

variam em comprimento e que dividem frases do texto, quase como se o narrador estivesse a fazer pausas para decidir o que contar a seguir ; às páginas em preto, representando a morte de certa personagem; aos capítulos desaparecidos propositadamente; às páginas em branco onde o leitor deve desenhar uma das personagens tal como a imagina, às linhas retas ou curvas e ondulantes, aos asteriscos para omitir certas cenas, e muito mais.5

Em 1768, Sterne começa a escrever o seu segundo romance, Uma Viagem Sentimen-tal por França e Itália, por Mr. Yorick (o seu alter-ego), mas morreu com cinqueta e quatro anos, em Londres, sem o conseguir terminar.6 A sua ficção foi elogiada por Voltaire (1694 –

– 1778) e Goethe (1749 – 1816), e serviu como inspiração a autores como Diderot (1713 – – 84), Virginia Woolf (1882 – 1941) e James Joyce (1882 – 1941).7 Em 2005, foi feita uma

adaptação deste livro, um romance essencialmente impossível de filmar, para o cinema; ‘Tristram Shandy: A Cock and Bull Story’, realizada por Michael Winterbottom e prota-gonizada por Steve Coogan.8 A expressão ‘A Cock and Bull Story’ presente no romance de

Sterne, significa uma história fantasiosa, obviamente uma mentira, mas contada como se se tratasse de uma história real.9

(37)

LIVROS ÚNICOS

FIG. 16

A VIDA E OPINIÕES DE TRISTRAM SHANDY, CAVALHEIRO [1759 – 67]

DIMENSÕES ? TÉCNICA impressão TINTA preta ANÁLISE GRÁFICA

letra capitular no início de cada capítulo; numeração de página ao centro e em cima; capítulo a maiúsculas; texto justificado; diversos elementos gráficos interessantes, sempre com um propósito, exemplos: asteriscos, traços, linhas retas

e curvas, ...; margens inferior, superior, interior e exterior semelhantes.

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LIVROS PROIBIDOS

1. CAVE, Roderick, e Sara Ayad. 2014. A History of the Book in 100 Books. London: British Library, pp. 230 – 1.

2. FALCON-LANG, Howard. 2010. ‘The secret life of Dr. Marie Stopes’. BBC News. [Consult.30/05/2019]. https://www.bbc.com/news/science-environment-11040319.

3. IDEM, ibidem, nota n.º 1.

4. DEBENHAM, Marian Clare. 2018. ‘Married Love: the 1918 book by Marie Stopes that helped to launch the birth-control movement’. Independent. [Consult. 30/05/2019]. https://www.independent.co.uk/arts- entertainment/books/marie-stopes-birth-control-married-love-book-sex-eugenics-a8274036.html. 5. BBC. ‘Marie Stopes (1880 – 1958)’. [Consult. 30/05/2019]. http://www.bbc.co.uk/history/ historic_figures/stopes_marie_carmichael.shtml.

AMOR CASADO OU AMOR NO CASAMENTO [1918]

Os livros de bem-estar e de autodesenvolvimento já não eram uma ideia nova, quando, no séc. xx, a repressão da mulher resultou no movimento sufragista, e, em muitos casos também, no interesse das mulheres concentrarem-se mais na sua vida pessoal e, conse-quentemente, em tudo o que envolve a gravidez e a saúde sexual feminina.1

Marie Stopes (1880 – 1958), filha de arqueólogo e de uma estudiosa de Shakespeare e sufragista, desde pequena dizia que a sua carreira se iria dividir em duas vertentes, uma científica e uma humanitária. E assim foi. Dois anos após a sua graduação na University College London, já com uma medalha de ouro na área da Biologia, participou numa des-coberta muito importante acerca da evolução das plantas, e doutorou-se, em Munique, nos hábitos sexuais de certas plantas primitivas. Nesta altura a Universidade de Manches-ter convidou-a a dar uma palestra, pensando que, devido ao seu estatuto como a mais nova doutorada em ciência e conhecida pelo nome Dr. Stopes, se tratava de um homem. Quando perceberam que Stopes era uma mulher, tentaram cancelar, em vão, a palestra. Marie teve ajuda de amigos e apoiantes de alto estatuto que lutaram para que a palestra, de facto, se realizasse. Em 1907, Marie foi numa expedição para o Japão e fez uma desco-berta monumental acerca do dilema de Charles Darwin relacionado com a origem evo-lutiva das flores.

Continuou a trabalhar como cientista, até que um dia se deparou, na Biblioteca Britânica, com um armário cheio de livros dedicados à sexualidade humana. Por volta desta altura, Marie estava insatisfeita com o seu casamento com o botânico canadiano Reginald Gates, (divorciados em 1915, o caso foi a tribunal onde Marie afirmava que Reginald era impotente e que o casamento deveria ser anulado, já que nunca tinha sido consumado) e começou cada vez mais a interessar-se por questões relacionadas com a vida sexual no casamento.2

Em 1918, escreveu Amor Casado ou Amor no Casamento, um manual sexual para casais, numa tentativa de demonstrar como melhorar um casamento e evitar o sofrimento. Até 1931 foi proibida a distribuição do livro nos Estados Unidos, por ser considerado obsceno, e até escandaloso, tendo em conta a mentalidade da altura. Foi condenado pela igreja católica, pela imprensa e pelo estabelecimento médico. No entanto, em Londres, foi imediatamente publicado por Fifield & Co. com ajuda de Humphrey Roe (1878 – 1949), um empresário de Manchester. Amor Casado esgotou rapidamente e muitas mulheres 75

(39)

LIVROS PROIBIDOS

FIG. 17

AMOR CASADO OU AMOR NO CASAMENTO [1918]

DIMENSÕES ? TÉCNICA impressão TINTA preta ANÁLISE GRÁFICA

texto justificado; nome do capítulo sinalizado alinhado ao meio e em cima; numeração de página no canto superior e exterior.

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